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Presidenciais: entre o bocejo e o vómito, é preciso reflectir




Sumário


1 – Habemus praesidens! Gloria in excelsis Deo!

2 – Os próximos tempos, negros e frios

3 - Novamente, relembremos o carácter do PS

4 - Notas eleitorais




1 – Habemus praesidens! Gloria in excelsis Deo!


Et consumatum est! Amen

Finalmente, a pátria consagrou a veneranda figura do Pai. Podemos
todos dormir, com aquela tranquilidade que só as crianças têm pois o
Pai zela por nós. E Pai é sempre pai, mesmo que se trate de um idiota,
de um ignorante, cuja inteligência se restringiu ao chico-espertismo de
facilitar o singrar de uns amigos de confraria, cobrando,
subrepticiamente por isso, mais tarde. Uma coisa é certa, são mesmo
amigos, devotam-se mutuamente, uma fiel amizade, insensível à
passagem do tempo.

O alarido em torno das presidenciais, os temas abordados, sobretudo
pelos mais credenciados dos candidatos, que oscilaram entre um
gongórico floreado e uma disfarçada ignorância, não permitiu,
contrariamente ao sucedido na fábula, que alguém gritasse: o rei vai
nu!

E, de facto, o rei vai nu, encarregando-se os candidatos e as suas
bandas de assessores, seguranças e jornalistas, os apoiantes, os
corruptos ou tontinhos de aldeia, os distribuidores de papelada e
mirones sorridentes para as câmaras da televisão, todos eles, de
ocultarem a nudez do rei, com a opacidade possível das vestes.



Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com    2/2/2011         1
E o rei vai nu, por vários motivos, destacando-se dois:

Primeiro porque não é um rei mas um presidente da república. Chama-
se presidente, ainda que só presida a um rancho folclórico (conselho de
estado) e aos trintanários do palácio de Belém; ainda que somente
resuma a sua actividade rotineira a uma missa semanal, a sós com um
tipo a que se chama primeiro-ministro e passe o resto do tempo a ouvir
e a conversar com tontos, bajuladores e ansiosos de cunha. Por vezes, o
presidente ocupa a abertura do telejornal para proferir uma discurseta
vaga ou vazia, entre duas imagens de um pano colorido e esvoaçante
e dois periodos com uma marcha militar ridícula que, convém, por
respeito patriótico, designar por hino nacional.

Segundo, não há república nenhuma pois a res publica já foi
privatizada ou está hipotecada para pagar a dívida; exceptuando, o
que foi roubado ou está em vias de o ser.

De facto, o sistema educativo está de pantanas e resume-se à emissão
de diplomas e ao pagamento de propinas, tendo como ruido de fundo
as imbecilidades de uma ministra e a gritaria dos colégios privados com
fedor de sotaina no ar. O sistema de saúde, apontado
constitucionalmente e de modo capcioso “tendencialmente gratuito” é
uma farsa aplaudida pelas farmacêuticas, pelo baronato médico e
pelos bancos que vão financiando clínicas e hospitais, tudo longe da tal
gratuitidade. Também por aí aparece uma figura sonsa de vendedora
de vacinas, que sucedeu a uma metástase fascizante do sistema
político, colocada a banhos em Estrasburgo… mesmo que aí as praias
não sejam grande coisa.

As estradas mais utilizadas são privadas e só lá passa quem pagar as
tarifas e os aparelhómetros de contagem das mesmas. Os transportes
ditos públicos são, na realidade, pasto para barraqueiros e quejandos,
com preços a subir, de modo inversamente proporcional ao número
das carreiras.

Até mesmo as forças armadas que defendem a pátria (dizem) não
passam de oportunidades de negócio para vendedores de
armamento, ladrões de G3, incontornáveis bancos e consultores que
alimentam coxos argumentos para que uns 30000 mercenários
abocanhem o orçamento, sem fazer literalmente nada de útil para a
grei.

Não havendo res publica para garantir e zelar, para que serve o estado
dito português? Para nada, apetece dizer. Mas não, é puro engano.

Para além dos negócios específicos, da corrupção generalizada que se
conhece e, sobre a qual todos sabem os nomes colocados nas


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etiquetas, há outra função deveras relevante. É preciso alguém que
mantenha a funcionar a máquina fiscal, que garanta a
operacionalidade da seringa que, espetada no nosso braço, exerce a
punção ordenada por aquela lista de acrónimos – FMI, BCE, UE, CE, APB,
PSI20, etc – a favor dos “mercados”. E que mantenha o cacete perto da
nossa cabeça para que tenhamos as orelhas viradas para baixo.

É nos “mercados” que reside a soberania sobre este espaço de 92000
km2 com cerca de 10.5 M de pessoas. O presidente e a assembleia,
ambos da tal república que não existe são, portanto, realidades virtuais,
encenações para convencer a populaça de que existe por ali qualquer
coisa com soberania. O chamado primeiro-ministro é, na realidade, o
CEO de um regimento de intendência ao serviço dos “mercados” e
cuja autoridade reside apenas na polícia, nos tribunais e no exercício
operacional da tal punção fiscal. E, como é normal em todos os serviços
de intendência, com o tradicional desvio de víveres da dispensa. O
negócio das batatas do intendente Valentim oferece um paralelismo
interessante e conhecido.

É neste contexto que se celebrou, dia 23 de Janeiro, um ensaio do
próximo carnaval que, dada a falta de dinheiro, não promete ser
grande coisa.

Os intervenientes, por ordem alfabética, foram:

   •   O Aníbal da quinta da Coelha, emir de Boliqueime, amigo e
       protector do gang do BPN, economista de enormes méritos que
       só ele reconhece (presunção e água benta…), a não ser que se
       considere como grande feito profissional a valorização das
       acções da SLN;

   •   Defensor de Moura, autarca minhoto reformado, defendeu a
       regionalização e o fim das touradas, causas meritórias que,
       quando citadas, obrigaram a concorrência a fingir distração.
       Irritou, encurralou e emudeceu o Aníbal, apesar dos pergaminhos
       de catedrático do último;

   •   O Fernando foi trazido a estas lides pelo manhoso Mário Soares
       que o pretendeu usar para se vingar do Manuel (ver adiante)
       que, havia humilhado o patriarca, cinco anos atrás, num evento
       eleitoral homólogo. Beneficiou da sua não ligação orgânica a
       partidos, embora aqui e ali já tenha apoiado quase todos;

   •   O Francisco não se sabe bem se existe ou se é um insuflável
       preparado pelo CC do PCP, com tecnologia norte-coreana,
       muito avançada na criação de power-points em 3D. O seu
       discurso inova e é sempre o produto da combinatória de umas


Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com      2/2/2011         3
dez palavras, onde se incluem trabalhadores, direita, povo,
       Portugal, produção nacional, constituição e umas poucas mais;

   •   O Manel foi o alquimista que procurou fundir esquerda e direita,
       governo e oposição com voz de locutor de rádio e rivalizou com
       o Francisco na construção de frases ocas: este conviva usa
       amiúde, república, democracia, fascismo, pide, cavaco, “ele”,
       pátria, Portugal e vacuidades do género;

   •   Para o fim deixamos o Zé Coelho, (não da Coelha!), traquejado
       como único opositor do bokassa madeirense, o que não é tarefa
       fácil. Por isso foi o único candidato realista ao evidenciar que as
       ditas presidenciais são pouco mais que um teatro de robertos,
       que só servem para distrair crianças e outros infantes.


2 – Os próximos tempos, negros e frios


Passando ao sério.

Cavaco era o candidato da direita, já toda a gente sabia e por isso
teve o pleno dos fãs do PSD e do CDS, como também o teve do
governo PS e dos capos deste partido. É também homem dos bancos,
dos “mercados”, do FMI, do BCE, da Comissão Europeia e tem provas
dadas quando foi chefe do governo. Com essa coligação do dinheiro é
ele que ganhou, naturalmente. Logo no dia 1 de Fevereiro esteve
reunido com os banqueiros, a colher instruções (1).

Cavaco é um autómato, com um modelo macro-económico como
sistema operativo e gosta que o respeitem como veneranda figura,
como pai da pátria, que lhe batam palmas nos discursos e não o
desdigam quando evoca a sua competência e experiência. Para mais,
com esta eleição, ganha cinco anos de novas oportunidades para
entrar na sala Oval da Casa Branca, troféu que lhe falta para completar
as memórias. Pouco importa se é inculto, racista, inseguro e intolerante.
Ou rançoso como excelentemente lhe chamou Baptista-Bastos.

Porém, Sócrates é, o preferido do capital como executivo, pois é
autoritário, desavergonhado, pouco dado a escrúpulos e tem uma
experiência de vários anos de governação. Cavaco não gosta de
Sócrates mas, o capital gosta e está tudo dito; e o capital tal como
Cavaco não acredita nas qualidades da pileca Passos como
“challenger” do Sócrates. Será mais um chefe que ficará num rodapé
dos anais do PSD.




Esquerda Desalinhada     grazia.tanta@gmail.com      2/2/2011         4
Fala-se há muito de eleições legislativas para depois das presidenciais.
Ficou claro, dia 23, o que pensa a maioria das pessoas do pentapartido
que nos rouba, por acção, por arremedo ou omissão de acção.
Qualquer eleição, na actual conjuntura, é colocar a multidão perante
um baralho de cartas viciadas, envelhecidas, com aquelas típicas
marcas pretas de sujidade acumulada.

Se o governo Sócrates cumprir as prescrições do FMI, da Comissão
Europeia, dos “mercados”, aproveitando-se da benevolência com que
a multidão aceita a canga do desemprego, dos cortes salariais, etc,
Cavaco não terá argumentos nem autorização superior para promover
eleições. De nada serviria dissolver a AR para de novo o PS ter de formar
governo, só ou acompanhado… e os candidatos à parceria seriam
todos os capangas de pentapartido. Para azar nosso e do ente
Cavaco, pessoalmente, tudo indica que Sócrates está a cumprir e que
à custa do roubo da multidão e dos trabalhadores em particular, as
coisas talvez não piorem, do ponto de vista do capital, bem entendido.

Cavaco aumentará o seu poder de intervenção se Sócrates falhar e, se
a partir de novas eleições, o PSD constituir governo. Nesse caso, Cavaco
apareceria como figura tutelar de um Passos primeiro-intendente do
FMI. Cavaco, que não gosta do personagem (a sua amiga Manuela
considerava-o mesmo como uma versão beta de Sócrates) dominaria
totalmente a cena. Se entretanto, o PSD se cansar de Passos e inventar
uma nova figura, Cavaco só teria problemas se lhe caisse no prato um
moscardo como o Borges, aliás com mais notoriedade nos “mercados”
do que o próprio Cavaco.

Cavaco, sendo conservador, aprecia particularmente a estabilidade,
sobretudo a dos cemitérios; no que é aplaudido pelos capitalistas e
pelos “mercados”. Na sua (in)cultura sorvida em Salazar, considera
caber aos portugueses, trabalhar, obedecer e confiar em quem sabe.
Recordamos aqui o “deixem-nos trabalhar” com que brindou a
oposição ao seu governo, há uns vinte anos; como opinou com a
criação de uma “comissão de sábios” (onde ele se incluiria,
naturalmente) para a gestão do deficit, antes de ascender a PR; como
desvalorizou os membros do seu governo, denominando-os “seus
ajudantes”; como recentemente acenou com os custos do exercício da
democracia a haver segunda volta nas presidenciais. E, como
conservador, nada tem contra Sócrates como primeiro-ministro, como
aliás se viu no início do seu mandato como PR, fase imortalizada numa
hilariante peça criada pelos Gatos Fedorentos.


3 - Novamente, relembremos o carácter do PS




Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com      2/2/2011         5
Já por diversas vezes explicitamos a caracterização da esquerda
institucional portuguesa (2) que mais parece um embrulho de grilos
falantes. E como eles não aprendem nada com a prática da vida,
relembramos aqui a caracterização do PS já enunciada, cerca de um
ano atrás (3)

Só na cabeça dos grilos do BE ou do PC é que o PS é um partido de
esquerda e, como objectivamente nunca o terá sido – pelas origens e
pelo comportamemto de décadas – mascaram a coisa criticando as
“políticas de direita” dos governos PS. Está claro que o PS e os seus
governos também tomaram algumas posições decentes através dos
tempos mas, com base em excepções também o PSD e o CDS
certamente teriam de ser considerados como esquerda. Não aderimos
a conceitos religiosos sobre o mal absoluto, encarnações satânicas do
Mal.

O que caracteriza um partido? A fraseologia usada? Um programa (que
ninguém sabe qual é ou, sabendo, lê) a que nem os seus militantes liga?
É a prática política que conta e pouco mais; tudo o mais, os discursos, a
retórica, os slogans não passam de marketing, tão válidos como o do
detergente que “lava mais branco”.

O PS, nos tempos do PREC, liderou a direita toda, acoitou civis e militares
para ganhar o respeito e os marcos alemães que lhe caiam a rodos na
conta bancária. Reforçou aí os tiques anti-comunistas e anti-esquerda
que já Soares havia manifestado, nos seus amores secretos com
Caetano nas eleições de 1969, quando aceitou não falar da guerra
colonial para ganhar a respeitabilidade de “oposição” tolerada pelo
actor das “conversas em família”.

O primeiro governo do Soares afirmava que Portugal atingiria o nível da
então CEE em 1980 (estava-se em 1976) enquanto se afadigava em
entregar as terras a proprietários absentistas, a preparar o sector
nacionalizado para as privatizações que Cavaco viria a cumprir, a
inventar uma UGT com financiamento alemão.

Em 1977, amancebou-se com o CDS para cumprir os ditames do FMI,
adivinhem à custa de quem. Seguidamente, ainda com o tratante
Soares à cabeça (o da Emáudio, não o filho, que se estatelou num
safari aéreo e que popularizámos aqui com o epíteto de “batata com
dois olhos”) veio a unidade patriótica com o PSD que nos trouxe de
novo o FMI (1983) e uma perda de poder de compra na ordem dos 15%.

Guterres mostrou-se mais magnânimo em termos económicos devido
ao dinheiro da UE mas, tratou de chumbar os interesses das pessoas
decentes nos referendos do aborto e da regionalização, antes de se pôr
ao fresco. Finalmente e neste ciclo de empobrecimento que vivemos


Esquerda Desalinhada     grazia.tanta@gmail.com      2/2/2011          6
surge como o grande líder da direita, sem alternativa, como se viu nas
governanças de Durão e Santana e nas candidaturas falhadas que se
vêm sucedendo das várias pilecas do PSD – Mendes, Menezes, Manuela
e Passos.

Mesmo quando, com Sócrates, o PS assume descaradamente um
carácter anti-social como actualmente, para sobreviver no poder,
como capataz do conhecido escol – FMI, BCE, BES… a esquerda
portuguesa não consegue incluir o PS na direita. Mesmo quando o
mancebato com o PSD se torna um público casamento com assinatura
de convenção nupcial (escritura do PEC) e o PS se torna um partido de
actuação proto-fascista e genocida, a esquerda institucional
portuguesa permanece muda e queda sobre o vero carácter do PS.

A esquerda institucional portuguesa, talvez porque tenha pouco de
internacionalista, esquece, que branqueando o carácter de direita do
PS, solidariza-se, objectivamente com um emérito membro da
internacional dita socialista, com um partido irmão do NDP de Mubarak,
do MPLA do nosso conhecido JES e da sua rica filha, importante
investidora em Portugal, do PPP do corrupto Zardari do Paquistão, do
partido trabalhista israelita, “habitué” no governo... Todos reconhecidos
pelos pergaminhos democratas, como sabemos.

E assim, se mantém, há mais de 30 anos, estagnada, promovendo a
imobilidade social, ajudando ao conservadorismo na sociedade
portuguesa. E, através dos boiardos sindicais, o feudalismo dos seus
dirigentes, alimentando sebastianismos e combatendo qualquer laivo
de marias da fonte, qualquer pequeno movimento que escancare o
seu reaccionarismo, como se viu a propósito da cimeira da NATO, em
Novembro último (4). Se alguma coisa mexe em Portugal, ou a
conseguem controlar por estrangulamento (caso do movimento dos
professores), boicotam e combatem para tentar destruir (as acções
anti-NATO) ou destróiem mesmo (tentativa de um forum social
português).

Porque não é, a esquerda portuguesa, capaz de dizer claramente que
o PS e os seus governos fazem parte da direita? Porque são estúpidos?
Porque estão enganados? Nada disso. Trata-se de uma opção política
consciente que se prende com o seu imobilismo e oportunismo. Se
reconhecessem inequivocamente que o PS é um partido de direita,

   •   Teriam de reconhecer que há um bloqueio político
       empobrecedor com a maioria PS/PSD e, portanto, que não há
       saídas de carácter institucional, através da sucessão dos jogos
       florais parlamentares, das liturgias eleitorais, com as (sempre!)
       grandiosas manifestações nas avenidas, de Outubro a Maio, com
       férias prolongadas entre a quadra natalícia e o carnaval;


Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com      2/2/2011         7
•   Teriam de reconhecer que não há quaisquer possibilidades de
       maioria de “esquerda” pois aí nunca entrará o PS. Assim, teriam
       de assumir, para não se descredibilizarem junto da multidão, a
       rotura com as práticas actuais, meramente institucionais; e, nesse
       contexto – uma vez que ninguém acredita numa maioria
       parlamentar BE/PC - que só há combate político e social sério se
       o seu epicentro for a luta popular e não a AR. Luta que é bem
       menos fofa que as alcatifas de S. Bento;

   •   Não poderiam alimentar junto da multidão uma sebastiânica
       esperança de mudança nas políticas do PS, a probabilidade de
       um cataclismo interno dentro do gang, o surgimento de um
       salvador (um Chavez, um Lula) que conduzisse os militantes do PS
       a uma glória democrática;

   •   Não poderiam sonhar com uma participação no poder, como
       muleta do PS, em troca de umas secretarias de estado ou a
       colocação de alguns dos seus quadros, em direcções-gerais e
       empresas públicas.

Os anseios de participação no poder são antigos e começaram ainda
durante o PREC quando grupos trotskistas clamavam a unidade entre
PS, PC e… Intersindical. O PC durante anos clamou, debalde, pela
maioria de esquerda como reflexo da composição na AR… até que se
cansou. O BE veio a assumir a mesma estratégia mais tarde, de forma
implícita, por muito crispada que possa ser a encenação parlamentar.

De facto,

   •   O PS e o PC, em 1976, detinham 147 dos 263 deputados e o que
       se assistiu foi à montagem da normalização capitalista,
       decididamente encabeçada pelo PS; e Alegre já lá estava;

   •   Em 1983, o PS e o PC detinham 145 em 250 deputados e o que se
       assistiu foi ao chamado bloco central (PS/PSD) e à intervenção do
       FMI com a habitual austeridade; e Alegre já lá estava;

   •   Em 1985, mesmo com o namoro do PC com Eanes, dono do
       epifenómeno PRD, as capacidades do PS não foram além da
       preparação da maioria absoluta de Cavaco em 1987; e Alegre já
       lá estava;

   •   Seguiu-se, na primeira volta das presidenciais que vieram a eleger
       Soares, o espectáculo da tentativa de divisão do PS com o
       lançamento, pela mão do PC, do alegre que estava, então, à
       mão - Salgado Zenha. Tal como o BE, recentemente, o PC falhou


Esquerda Desalinhada     grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011         8
redondamente. Pior, pois havendo (contrariamente a 2011) uma
       candidatura verdadeiramente independente de esquerda –
       Pintasilgo - o PC preferiu abatê-la ligando-se a uma coisa dúbia
       chamada PRD. Para gáudio da direita o PC convocou, antes da
       segnda volta, um congresso à pressa para contrariar a orientação
       inicial de “nunca votarem Soares”; e, anteciparam o dilema do
       PSF e da esquerda francesa quando tiveram de apoiar o corrupto
       Chirac contra o fascista Le Pen. Curiosamente, o que se poderia
       chamar ala esquerda do PS veio a constituir a base do apoio de
       Guterres e, pormenor interessante, Alegre estava com Soares;

   •   Em 1995, no estertor do cavaquismo, o PS e o PC tiveram 127
       deputados em 230 e Guterres não se importou nada de ficar em
       minoria, declinando qualquer aliança com o PC para, com uma
       maioria, se abalançar com uma esquerdização da acção política
       portuguesa, já então fortemente condicionada pelo maná dos
       fundos comunitários;

   •   Em 1999, o PS ficou exactamente com metade do hemiciclo e
       até podia escolher entre o PC e os dois recém-chegados
       deputados do BE, para construir uma estabilidade governativa à
       esquerda. E borrifou-se nisso, claro está, desconhecendo-se
       qualquer protesto do Alegre;

   •   A nível autárquico, existe o exemplo da câmara de Lisboa. A
       maioria de esquerda, PS/PC nos anos 90 não criou raizes e foi
       destruida pelo tonto Santana que acabou por ganhar a maioria
       em 2005. O PC, que chegou a ter um enorme eleitorado em
       Lisboa, está reduzido, hoje, a um vereador de oposição. O BE,
       depois de ter escolhido um idiota para vereador, pretendeu dar
       ares de responsabilidade governativa, entrando em acordo com
       o António Costa, no primeiro mandato deste, sem que ninguém
       houvesse percebido a mais valia da experiência para o povo de
       Lisboa. Sem surpresa, Costa cooptou o “Zé que faz falta” e o BE
       perdeu a vereação, com a derrota humilhante do Fazenda.
       Estamos muito longe dos tempos em que o executivo camarário
       lisboeta dominado pelos republicanos prenunciava o fim da
       putrefacta monarquia.

   •   Depois da maioria absoluta de Sócrates em 2005, chega-se à sua
       maioria relativa de 2009, com total desprezo pelos 31 deputados
       do BE/PC para construir uma maioria estável à esquerda. As
       escolhas políticas e económicas do PS estão suficientemente
       presentes para ser aqui necessário lembrá-las.

Entretanto, durante todos estes anos, “a maioria de esquerda” foi
conseguida por aqueles ilustres caciques que se acoitaram no PS,


Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011        9
aceitando, naturalmente as regras da casa – José Magalhães, Osvaldo
Castro, Barros Moura, Pina Moura, Lino, o actual ministro Mendonça,
estando sempre na rampa de lançamento novas fornadas de
“renovadores”, em regra, fotocópias de fotocópias. De outros
quadrantes, que não passaram pelo PC, refiram-se os antigos MES –
Ferro, Sampaio, Cravinho ou o ex-UDP Jorge Coelho.

Onde está, nestes anos todos, algo onde se tenha visto o carácter de
esquerda do PS? Este aliás, para bem se demarcar do resto da direita e
manter as distâncias face à esquerda institucional (BE/PC) designa esta
como… extrema-esquerda (!), pretendendo sublinhar a sua
respeitabilidade junto dos “mercados”, apresentando-se como
esquerda “democrática”, moderna, responsável e uns epítetos vazios
ou idiotas do género, onde incluimos a criação teórica (?) de Soares, o
“socialismo em liberdade”. Assim, o PS, para ocultar o seu carácter de
direita, dá o exclusivo dessa etiqueta ao mano PSD e ao CDS e, para
não se misturar com a esquerda institucional, designa-a como extrema
esquerda. Tudo não passa de uma rábula de teatro de revista, em que
todos divertem o público.

Se havia uma relevante faixa de gente à esquerda, no PS, o seu enterro
como alternativa interna de poder, verificou-se no passado dia 23.
Mas… entre os apoiantes de Alegre do PS onde estava a gente de
esquerda? No António Costa? Na Belém? Na mulher do ilibado
Pedroso? Nos discursos trauliteiros do ministro Augustus SS? Nas claques
que aplaudiram as aparições fugazes do seu “fuhrer”, no apoio a
Alegre?

Todos os partidos têm gente com posicionamentos distintos; uns menos
reacccionários que outros, uns mais sensíveis às dificuldades da
multidão que outros. O monolitismo não existe mesmo dentro dos
partidos únicos ou abrigados no “centralismo democrático”,
designação típica do cientismo estalinista para dourar o “quem manda
são os chefes”. Assim, há no PS, como em qualquer partido da direita,
gente menos à direita e entulho mais fedorento, mais á direita.

O enterro desse rei momo como se pode chamar a essa invenção do BE
chamada “ala esquerda” do PS, veio a favorecer Sócrates que nunca a
apoiou ficando agora, claramente, dono e senhor do gang. O PSD fica
também entalado entre um Cavaco tutelar e um PS que ocupa uma
maior faixa à direita, mandando o PSD para um regresso adiado sine die
ao poder, a não ser como muleta do governo, obrigado pelos
“mercados”, pelo FMI, BCE, etc. Para mais, nem tem um lider credível,
apesar das sondagens, não tivesse Passos sido uma emanação daquela
casta de autarquetas manhosos da província que o Ruas tão bem
retrata.



Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011         10
O PC, com a “política patriótica e de esquerda”, com a defesa da
independência nacional, só evidencia o seu carácter fóssil, inalterado
com a chuva ou com o sol. Ignora a quase total perda de soberania,
que não é de agora mas, que se acelerou com a entrada (inevitável)
na UE, no contexto da globalização e da reestruturação capitalista
neoliberal, após a queda do Muro de Berlim e do fim da URSS. Se antes
de 1986, o PCP se dizia contra a adesão à UE, passou depois a silenciar
essa posição e continua a não dar esse passo actualmente por realismo
político mas, enganando as pessoas com o discurso da pátria e da
independência que mesmo os distraidos já perceberam que acabou. O
tempo das pátrias acabou, agora é o tempo da multidão mundial,
contra o capitalismo globalizado e os seus Estados.


4 - Notas eleitorais


Cavaco ganhou e todos nós melhorámos a auto-estima. Tinhamos o
CR7, agora temos também o CS23, o que revela uma mais-valia
assinalável; porém, Ronaldo tem melhores pés e mais adeptos do que
um presidente de 23% do eleitorado.

Como ponto prévio, abordemos a confusão dos cartões de cidadão;
incúria, amadorismo, eventual entrega das estruturas informáticas a
várias empresas pouco articuladas entre si. A revelação clara da
relevância e do empenho do mandarinato no funcionamento da
democracia, mesmo que de mercado. Esta não foi (ainda) suspensa
como sugerido pela Balela Ferreira Leite mas, em tempos de
“consolidação orçamental” não merece muitos cuidados.

Importante, importante é a máquina fiscal, os cruzamentos para
apanhar os pobres e os trocos, os recibos verdes (agora também
electrónicos), os biscates dos desempregados, dos trabalhadores
doentes (5). Importante é a dotação da polícia com formas de
detectar se um carro a circular na estrada já foi ou não objecto da
inspecção periódica dentro do prazo para aplicação de coima. E,
finalmente, é importante o fornecimento de dados biométricos para
alimentar a paranóia anti-terrorista dos EUA.

Este ministro, um togado que dá pelo nome de Rui Pereira, não tem
somente cara de parvo; a cara é o espelho que reflecte a sua essência.
É capaz de saltar do poleiro, como produto do fogo de artifício
parlamentar ou por jogada de antecipação de Sócrates para evitar o
espectáculo. Sem que isso se prenda minimamente com o roubo e o
empobrecimento colectiva que recai sobre a multidão.




Esquerda Desalinhada   grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011         11
Outra questão, a da actualidade do recenseamento eleitoral é
recorrente. O PS/PSD pouco liga à questão pois o excesso de 743000,
eleitores segundo cálculos nossos (6), permite aumentar os subsídios do
Estado aos partidos e até aumentar o número de vereadoresnas
câmaras. E por isso, a aldrabice vai-se mantendo.

Terceira questão prévia. Quem obtiver mais de 5% dos votos tem o
Estado a pagar os gastos de campanha – o que, naturalmente,
beneficia os candidatos apoiados pelo pentapartido, muito silencioso
sobre o tema. Todos podemos concorrer a PR mas, na realidade, só os
que têm apoios em funcionários, sedes e com dinheiro por detrás o
podem fazer; como é apanágio das democracias de mercado onde o
dinheiro é o único aferidor de tudo. Como se costuma dizer, em
democrcia de mercado há uns mais iguais que outros.

Se se aceitar como legítimo que o Estado pague papeladas, cartazes e
a sua colocação, passeios pelo país, consultores de imagem, almoços,
jantares, ceias, comícios, onde, de facto, nada há de intenção de
esclarecimento do eleitorado, porque razão um candidato com menos
de 5% dos votos terá de ser desconsiderado e penalizado? Para
beneficiar o pentapartido, avesso a outsiders desestabilizadores das
águas do pântano, é a nossa resposta.

Essa discriminação anti-democrática está bem espelhada nas
declarações de Cravinho que afirma ter a lei do financiamento dos
partidos aberto a porta à corrupção (7). A mesma lei permitiu coimas
superiores a € 5000 por uma falha processual de € 75 numa factura da
EDP paga por um partido (POUS) que tem o enorme orçamento anual
de … € 6000! Em contrapartida, a mesma lei, através de uma aplicação
retroactiva perdoa aos partidos na Madeira € 23 M de gastos indevidos ,
dos quais 80% cabem ao PSD do Jardim (8). Apenas mais um pormenor;
essa lei foi promulgada por Cavaco, em pleno periodo eleitoral…

O atraso cultural e político dos portugueses – mesmo apesar da queda
do fascismo – mantido pelo carácter elitista e sectário dos partidos,
alimenta uma delegação da acção política em profissionais da mesma
erigidos em classe, em burocracia, em mediadores e aplanadores dos
conflitos; e, cada vez menos capazes e mais ladrões.

Refira-se, relativamente ao último acto eleitoral, do dia 23 de Janeiro e,
em primeiro lugar, a parcela de votantes e a sua representatividade no
total dos eleitores. Como a existência de eleitores fantasmas é mais ou
menos permanente, o peso dos votantes tem algum significado quando
se observam os resultados de todas as eleições presidenciais.




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Votantes/Eleitorado (%)

  85

  80

  75

  70

  65

  60

  55

  50

  45

  40
        1976     1980    1986-1    1986-2     1991      1996      2001     2006      2011




A tendência é clara atingindo-se um máximo absoluto de participação
na segunda eleição de Eanes, quando o seu principal adversário era
um pouco recomendável Soares Carneiro patrocinado pela AD, do
outro Carneiro, o Sá. Para além do mínimo agora atingido e a despeito
de alguma crispação entre os candidatos, a única situação em que a
votação não atingiu os 50% dos eleitores corresponde ao passeio que
conduziu à segunda eleição de Sampaio.


                                   Inscritos e Votantes
  9.500.000
  9.000.000
  8.500.000
  8.000.000
  7.500.000
  7.000.000
  6.500.000
  6.000.000
  5.500.000
  5.000.000
  4.500.000
  4.000.000
          1976    1980    1986-1     1986-2     1991      1996      2001      2006     2011


                                        Inscritos      Votantes



Como se pode observar, é cada vez maior a distância entre os
recenseados, cujo volume cresce, em função do aumento e do
envelhecimento da população, (para além da omnipresença dos tais


Esquerda Desalinhada         grazia.tanta@gmail.com                2/2/2011                 13
eleitores fantasmas) e o número dos votantes que só sentem alguma
excitação quando há, forçosamente, uma substituição da veneranda
figura do pai da pátria. Tudo, num quadro geral de não ser muito visível
a importância da dita figura.

Dizem almas apreciadoras da democracia de mercado que as
abstenções nada significam em termos de atitude política mas, apenas
desinteresse e comodismo. Tudo isso porém, são atitudes que revelam
distanciamento da mais elementar forma de participação política e
que os agentes que pretendem monopolizar a representação não são
atrativos nem convincentes. É, na realidade uma atitude de
desinteresse, desprezo ou distanciamento mas, não é uma atitude
militante.

Por coincidência, a parcela de votantes que anularam o voto ou o
mantiveram (em branco) sem menção de escolha, foi de 0.9% para
cada uma daquelas opções, na média do periodo 1976/2006. No dia 23
de Janeiro último, os votantes que entregaram o boletim em branco
foram 4.3% do total que, somados aos 1.9% que anularam o voto,
somam 6.2%; o que é substancialmente mais do que em eleições
presidenciais anteriores.

A anulação do voto é uma acção clara e inequívoca de repúdio,
enquanto o voto branco evidencia, de modo mais brando, a não
aceitação das propostas apresentadas, em conjunto tomadas como
insatisfatórias ou inconvenientes. Se a abstenção pode resultar de
comodismo, votar branco ou nulo, pelo contrário, mostra uma atitude
bem consciente e militante, em que o repúdio está bem presente.

O crescimento dos votos brancos e nulos na última eleição presidencial
tem o significado inequívoco de que sectores significativos da multidão
não se reviu nos candidatos, nem seguiu as indicações de voto,
expressas ou implícitas, do pentapartido; os sectores de descontentes
cresceram, uma vez que já nas últimas legislativas, os votos brancos e
nulos haviam atingido 3.12% dos votantes e, nas eleições para o
parlamento europeu em 2009, 6.6%.

A evolução registada nas últimas presidenciais para o conjunto dos
votos brancos ou nulos, para todos os distritos e regiões autónomas,
revela que o aumento dos votos expressos de repúdio tem um carácter
nacional, com maior relevância em Coimbra, Leiria e Lisboa.
Curiosamente, na Madeira, aqueles tipos de votação que tinham a
maior representatividade a nível nacional, em 2006, passaram agora a
ter a menor dimensão, embora sofrendo um ligeiro acréscimo.
Entendemos que para isso contribuiu a candidatura do madeirense José
Coelho que atraiu a si as manifestações de repúdio ao imperador
bokassa, ente que há dezenas de anos vem sendo objecto de toda a


Esquerda Desalinhada    grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011         14
tolerância do mandarinato nacional. José Coelho surgiu, pois, na
Madeira, como algo de novo no ambiente mafioso e de delação que o
gauleiter local instaurou. E, já afirmou os seus propósitos de combate
declarado a Jardim, sem alianças com os partidos da rotineira oposição
local.


                           Brancos e nulos/votantes (%)              2011   2006



      madeira

       açores

         v iseu

      v ila real

        v iana

       setubal

     santarem

         porto

    portalegre

        lisboa

         leiria

       guarda

           faro

        ev ora

      coimbra

castelo branco

     bragança

        braga

          beja

       av eiro

        TOTAL


                   0   1       2      3       4      5       6       7        8




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Há contas que é preciso fazer para se compreender a ineficácia da
esquerda institucional, tomando como termo de comparação os
resultados das legislativas de 2009.

         2009 PS+BE+MRPP 2.688.541 PSD+CDS     2.247.774 PCP         446.994
         2011 Alegre       831.959 Cavaco      2.230.104 Lopes       300.840
    2009-2011   (perda)  1.856.582   (perda)      17.670   (perda)   146.154

No quadro atrás, vê-se que o PSD/CDS garantiu praticamente o
correspondente ao seu eleitorado de 2009. Mais relevante, do nosso
ponto de vista, são as enormes perdas dos chamados candidatos
institucionais do que se convencionou designar por esquerda.

Muitas conjecturas se poderão fazer mas, preferimos registar factos.
Matematicamente, Alegre teria condições para ser eleito, se fosse um
dado adquirido que os votos nos partidos apoiantes se iriam transpor
ordeiramente para os seus candidatos.

No que diz respeito ao PS não é estranho que muitos dos seus votantes
de 2009 tenham constituido em 2011, uma diáspora que terá estado
incluida nos abstencionistas (975000 segundo o jornal “Sol”), nos
apoiantes de Nobre (285000), Cavaco (280000) Coelho (85000) e Moura
(35000), para além dos 405000 que terão votado em Alegre; pelas
contas do “Sol” a diáspora não se teria estendido aos 277000 votos nulos
ou brancos. Por outro lado, de acordo com os cálculos do jornal, a
haver tanta gente do PS a votar em Cavaco teria havido um número
equivalente de habituais apoiantes do PSD/CDS em 2009 que teriam
emigrado para a abstenção, o que não parece plausível. Recorde-se
que em 2006, mesmo juntando todos os votos de Alegre e Soares isso
não ultrapassaria mais de 73.7% dos resultados de Sócrates no ano
anterior.

Sem dúvida que muita gente que votou Sócrates em 2009 o fez como
voto útil contra a jararaca Manuela e garantir o poder, questão que se
não punha agora, uma vez que a vitória de Cavaco estando
anunciada, não fomentava votos úteis. Por outro lado, toda a gente
sabe que é muito mais importante determinar o primeiro-ministro do que
um PR, permitindo-se aqui, a fantasias e criatividade. E, daí a diáspora
recente.

Sendo o PS um partido de direita, Alegre, com a sua fraseologia
formalmente de esquerda, alheia à composição actual e à história do
seu partido, não teria condições para polarizar a massa dos apoiantes
do PS, para mais, lançado este numa senda reaccionária e anti-social
que afasta qualquer um que detenha um simples neurónio de
progressismo. Essa mesma massa reaccionária não teria também
grandes atractivos para uma união de forças com o BE, ou com um


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candidato (visto por eles) como do BE, de extrema esquerda, para
muitos. E daí, nas contas do “Sol”, que somente 405000 eleitores PS
tenham apoiado Alegre.

A ser assim, os cerca de 427000 restantes votantes em Alegre, a 23 de
Janeiro, de onde vieram? Do eleitorado PC não terão vindo, decerto,
dado o antagonismo histórico daquele partido com Alegre, desde os
tempos em que o PC foi expulso do “grupo de Argel”. E, se vieram do
eleitorado BE e MRPP de 2009 – 610846 indivíduos – então, quase 184000
destes terão emigrado para outros destinos, mormente Nobre, Coelho,
votando nulo ou em branco ou, abstendo-se. Recorde-se que mesmo
Louçã, a estrela máxima do BE, em 2006, com os seus 288756 votos
somente fixou 79.1% dos votantes no partido, no ano anterior, decerto
em benefício de Alegre, então o candidato independente dos partidos,
o candidato da revolta contra o directório do PS, que havia escolhido
um candidato perdedor – o geronte Soares – pois Cavaco já então, era
o candidato, não confessado, de Sócrates.

Alegre, em 2006, era um candidato anti-partido, da novidade, da
frontalidade e daí, ter entusiasmado muita gente. Porém, a partir de
então Alegre dormiu no conforto da AR, com um ou outro sobressalto
de esquerda como prova de vida e desperdiçou completamente e
desiludiu muitos dos 1127472 que votaram nele; e esse descrédito, nem
Alegre, com o seu perfil autista de cacique nem, sobretudo o BE
souberam perceber, numa lógica de extrapolação não analitica da
realidade passada. O futuro de Alegre é a dedicação às caçadas,
entre dois poemas e uma entrevista por mês, onde começará com uma
referência anti-fascista, terminando com um arroto patriótico; é o
destino final de um “bon vivant” com um percurso irrelevante e
cinzento.

Francisco Lopes, a despeito de alguns méritos no empenho e na
imagem que acumulou, não conseguiu fixar 35.6% da votação de
Jerónimo, em 2006, nem quase um terço (32.7% dos votos da CDU em
2009. Como é óbvio, tudo isto, na linguagem delirante típica do CC do
PCP, constituiu… uma vitória (?).

Há aqui um aspecto novo. Em 2006, Jerónimo conseguiu melhorar
ligeiramente a votação do partido obtida em 2005 e, como se
observou, esse feito não foi repetido por Lopes. A passagem do tempo
e a redução do número dos apoiantes com mais idade, eivados de
uma certa religiosidade face ao partido da “classe operária” conduz a
maior relevância de um novo eleitorado do PC, mais volúvel, menos
disciplinado face às directivas da confraria dos órfãos de Brejnev (o
enorme corpo de funcionários). Tratando-se de apoiantes com maior
escolaridade e sem a vivência do fascismo, são menos sensíveis à
disciplina estalinista e mais abertos a algum diálogo com outros


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militantes de esquerda. E daí que tantos tenham desrespeitado a
disciplina, não votando em Francisco Lopes.

Há uma realidade que exige novas formas de organização e actuação
política, como vimos clamando, de base, com desobediência e mesmo
ingovernamentalização a partir de um dado nível de contestação; sem
caciques, sem controlo dos movimentos, dos sindicatos, sem sabotagem
das lutas, por acção ou omissão dos barões partidários.

Está claro que o mandarinato está atento à situação, pois a
credibilidade dos seus postos de trabalho é quase nula. E daí, irão
estudar o assunto; cheira a reforma do sistema eleitoral e que esta,
sempre latente, poderá avançar em várias frentes. Esperam em primeiro
lugar, ir ao encontro dos desejos do tal eleitorado que se contenta com
migalhas de reformas; tenderão, de permeio, a proceder a
reajustamentos que permitam um maior afunilamento no pântano
PS/PSD. Vejamos.

   •   Alterações no formato de nomeação do PR

Formalmente, para evitar custos com eleições – tema que sensibiliza a
direita, bem consciente do seu carácter cosmético – podem inventar
duas soluções. Uma é o alargamento de um mandato único do PR para
uns sete anos, reduzindo a frequência do folclore eleitoral. A outra é
elegerem a veneranda figura por votação na AR, de forma mais ou
menos concertada, semelhante à do arraial que entronizou o provedor
de justiça.

A primeira fórmula não coibiria o PR a ser manso no primeiro mandato,
para arreganhar os dentes no segundo e último; seria lobo ou cordeiro a
tempo inteiro e trabalharia apenas para ficar bem na galeria dos
presidentes.

A segunda fórmula apresenta mais conveniências; dispensa o
envolvimento da plebe, as campanhas eleitorais, a lavagem de roupa
suja com as inconveniências que descredibilizam o mandarinato, oculta
a evidência do seu descrédito perante a multidão, colocada à margem
dessas lides, entregues ao siso dos seus dignos e avisados
“representantes”.

A fórmula aumentaria o poder do executivo, mormente do primeiro-
ministro, transformando o PR numa figura (ainda) mais de berloque
democrático. Essa eleição indirecta é feita, hoje, em países como a
Alemanha ou a Itália, com resultados semelhantes e com menos folclore
eleitoral – ninguém sabe o nome dos PR italiano ou alemão mas, todos
conhecem o Berlusconi e a Merkel. Este sistema é o adoptado pela UE
que assim nomeou um tal van qualquer coisa para uma decorativa


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presidência, aumentando, consequentemente, o poder dos conselhos
de ministros que tudo decidem, depois de, numa primeira fase, terem
colocado como primeiro comissário europeu uma figura de fraco
gabarito, ocasionalmente nascido em Almada. Em outros países
europeus – escandinavos, Grã-Bretanha, Benelux e Espanha
mantiveram-se figuras folclóricas equiparadas, com a designação de
reis e cujas famílias contribuem largamente para o fomento do
mercado da literatura cor-de-rosa e dos escândalos de alcova.

A democracia de mercado controlando a multidão de modo mais
subtil, colocaria como PR um indivíduo emanado do poder pois,
nenhum real independente teria essa possibilidade. Nesse contexto, o
poder manteria a fachada democrática sem sobressaltos e, nas
condições sociológicas da população portuguesa, manteria ainda o
culto da figura de um pai protector e distante, como Salazar ou
Cavaco; a imagem do mago capaz de olhar e confortar a plebe pelas
misérias do momento. Trabalhar, obedecer, confiar é o lema do
autoritarismo, exigente da submissão total, tão diligentemente
trabalhada por Salazar.

Salazar depois de 1958 e do susto Delgado acabou também com a
eleição directa do PR, passando a fazê-lo através dos deputados da
assembleia nacional fascista. Quanto a PR’s saiba-se que:

              Salazar deixou na História o impagável Tomaz
                O PS/PSD criou Aníbal, das finanças um ás


   •   Redução do número de deputados

Uma vez que todo o sistema político converge na manutenção do
putrefacto PS/PSD, a composição da AR nunca deixará de permitir o
seu simultâneo funcionamento, como válvula de exibição da
diversidade política que baste e da estabilidade que faz a alegria dos
mercados.

Por mais criatividade que o mandarinato tenha, é o PS/PSD que poderá
reduzir o número de deputados e, naturalmente, aproveitará o ensejo
para que isso seja feito a expensas da esquerda institucional. Aliás, é
sabida a grande desigualdade já hoje existente no sistema eleitoral
actual e sobre a qual procedemos a um exercício, recentemente (9)

   •   O voto obrigatório

Há também quem defenda o voto obrigatório para acabar com as
abstenções, sabendo que, a priori, muitos dos votantes obrigados iriam
ter um perfil pouco diferenciado dos habituais voluntariamente


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votantes. Porém, o aumento forçado dos participantes nos escrutínios,
aumentando a participação, iria ser exibida pelo mandarinato como
atestado da sua legitimidade e da sua profunda (?) ligação ao povo.
Na Bélgica, na Itália, na Grécia, o voto é obrigatório; no primeiro caso,
não ajuda em nada à formação de governos duradouros, no segundo,
não impede a existência de Berlusconis, Bossis e Finis e, finalmente, na
Grécia, são claras as diferenças entre o que sai do poder Pasok e os
desejos da multidão, acossada e roubada.

Em Portugal, só nos recordamos da frenética eurodeputada Ana Gomes
como defensora do voto obrigatório. A sua existência, nas condições
culturais da lusolândia iria promover a indústria dos atestados médicos e
mais umas centenas de burocratas para aferir das causas das não
comparências, com a aplicação e cobrança das incontornáveis
coimas. Se explicarem isto ao Teixeira dos Santos ele descobrirá aqui
mais uma forma de angariar dinheiro para entregar aos “mercados” ou
pagar submarinos.

------------------------------------

Notas:

(1)http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Cavaco-Silva-reuniu-se-com-
      banqueiros.rtp&headline=20&visual=9&article=412297&tm=6

(2) O sistema partidário português
      http://www.slideshare.net/durgarrai/o-sistema-partidrio-portugus

      A democracia de mercado e a actuação da esquerda
      http://www.slideshare.net/durgarrai/a-democracia-de-mercado-e-a-actuao-da-
      esquerda

(3) esquerda,PS,Alegre – confusões e premeditações eleitorais
   http://www.scribd.com/doc/24681888/Esquerda-PS-e-Alegre-%E2%80%93-
      Confusoes-e-premeditacoes-eleitorais

(4) A miséria da esquerda que anda por aí. Um “case study”, a Cimeira da NATO
    http://www.slideshare.net/durgarrai/a-misria-da-esquerda-que-anda-por-a-um-
      case-study-a-cimeira-da-nato

(5) Democracia, democracia das empresas e Wikileaks
      http://www.slideshare.net/durgarrai/documents?order=latest


(6)       http://www.scribd.com/doc/16494875/Eleicoes-europeias-2009-limitacoes-e-
oportunidades



(7)     ttp://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/financiamento-dos-
        partidos-lei-e-nodoa-negra-na-democracia




Esquerda Desalinhada               grazia.tanta@gmail.com     2/2/2011            20
(8)     http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/quiosque-jornal-noticias-expresso-tvi24-revista-
        de-imprensa/1210734-4071.html



(9)   Um sistema eleitoral falsificado e enganador
      http://www.slideshare.net/durgarrai/um-sistema-eleitoral-falsificado-e-enganador




Este e outros textos em:

http://www.scribd.com/group/16730-esquerda-desalinhada

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt




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  • 1. Presidenciais: entre o bocejo e o vómito, é preciso reflectir Sumário 1 – Habemus praesidens! Gloria in excelsis Deo! 2 – Os próximos tempos, negros e frios 3 - Novamente, relembremos o carácter do PS 4 - Notas eleitorais 1 – Habemus praesidens! Gloria in excelsis Deo! Et consumatum est! Amen Finalmente, a pátria consagrou a veneranda figura do Pai. Podemos todos dormir, com aquela tranquilidade que só as crianças têm pois o Pai zela por nós. E Pai é sempre pai, mesmo que se trate de um idiota, de um ignorante, cuja inteligência se restringiu ao chico-espertismo de facilitar o singrar de uns amigos de confraria, cobrando, subrepticiamente por isso, mais tarde. Uma coisa é certa, são mesmo amigos, devotam-se mutuamente, uma fiel amizade, insensível à passagem do tempo. O alarido em torno das presidenciais, os temas abordados, sobretudo pelos mais credenciados dos candidatos, que oscilaram entre um gongórico floreado e uma disfarçada ignorância, não permitiu, contrariamente ao sucedido na fábula, que alguém gritasse: o rei vai nu! E, de facto, o rei vai nu, encarregando-se os candidatos e as suas bandas de assessores, seguranças e jornalistas, os apoiantes, os corruptos ou tontinhos de aldeia, os distribuidores de papelada e mirones sorridentes para as câmaras da televisão, todos eles, de ocultarem a nudez do rei, com a opacidade possível das vestes. Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 1
  • 2. E o rei vai nu, por vários motivos, destacando-se dois: Primeiro porque não é um rei mas um presidente da república. Chama- se presidente, ainda que só presida a um rancho folclórico (conselho de estado) e aos trintanários do palácio de Belém; ainda que somente resuma a sua actividade rotineira a uma missa semanal, a sós com um tipo a que se chama primeiro-ministro e passe o resto do tempo a ouvir e a conversar com tontos, bajuladores e ansiosos de cunha. Por vezes, o presidente ocupa a abertura do telejornal para proferir uma discurseta vaga ou vazia, entre duas imagens de um pano colorido e esvoaçante e dois periodos com uma marcha militar ridícula que, convém, por respeito patriótico, designar por hino nacional. Segundo, não há república nenhuma pois a res publica já foi privatizada ou está hipotecada para pagar a dívida; exceptuando, o que foi roubado ou está em vias de o ser. De facto, o sistema educativo está de pantanas e resume-se à emissão de diplomas e ao pagamento de propinas, tendo como ruido de fundo as imbecilidades de uma ministra e a gritaria dos colégios privados com fedor de sotaina no ar. O sistema de saúde, apontado constitucionalmente e de modo capcioso “tendencialmente gratuito” é uma farsa aplaudida pelas farmacêuticas, pelo baronato médico e pelos bancos que vão financiando clínicas e hospitais, tudo longe da tal gratuitidade. Também por aí aparece uma figura sonsa de vendedora de vacinas, que sucedeu a uma metástase fascizante do sistema político, colocada a banhos em Estrasburgo… mesmo que aí as praias não sejam grande coisa. As estradas mais utilizadas são privadas e só lá passa quem pagar as tarifas e os aparelhómetros de contagem das mesmas. Os transportes ditos públicos são, na realidade, pasto para barraqueiros e quejandos, com preços a subir, de modo inversamente proporcional ao número das carreiras. Até mesmo as forças armadas que defendem a pátria (dizem) não passam de oportunidades de negócio para vendedores de armamento, ladrões de G3, incontornáveis bancos e consultores que alimentam coxos argumentos para que uns 30000 mercenários abocanhem o orçamento, sem fazer literalmente nada de útil para a grei. Não havendo res publica para garantir e zelar, para que serve o estado dito português? Para nada, apetece dizer. Mas não, é puro engano. Para além dos negócios específicos, da corrupção generalizada que se conhece e, sobre a qual todos sabem os nomes colocados nas Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 2
  • 3. etiquetas, há outra função deveras relevante. É preciso alguém que mantenha a funcionar a máquina fiscal, que garanta a operacionalidade da seringa que, espetada no nosso braço, exerce a punção ordenada por aquela lista de acrónimos – FMI, BCE, UE, CE, APB, PSI20, etc – a favor dos “mercados”. E que mantenha o cacete perto da nossa cabeça para que tenhamos as orelhas viradas para baixo. É nos “mercados” que reside a soberania sobre este espaço de 92000 km2 com cerca de 10.5 M de pessoas. O presidente e a assembleia, ambos da tal república que não existe são, portanto, realidades virtuais, encenações para convencer a populaça de que existe por ali qualquer coisa com soberania. O chamado primeiro-ministro é, na realidade, o CEO de um regimento de intendência ao serviço dos “mercados” e cuja autoridade reside apenas na polícia, nos tribunais e no exercício operacional da tal punção fiscal. E, como é normal em todos os serviços de intendência, com o tradicional desvio de víveres da dispensa. O negócio das batatas do intendente Valentim oferece um paralelismo interessante e conhecido. É neste contexto que se celebrou, dia 23 de Janeiro, um ensaio do próximo carnaval que, dada a falta de dinheiro, não promete ser grande coisa. Os intervenientes, por ordem alfabética, foram: • O Aníbal da quinta da Coelha, emir de Boliqueime, amigo e protector do gang do BPN, economista de enormes méritos que só ele reconhece (presunção e água benta…), a não ser que se considere como grande feito profissional a valorização das acções da SLN; • Defensor de Moura, autarca minhoto reformado, defendeu a regionalização e o fim das touradas, causas meritórias que, quando citadas, obrigaram a concorrência a fingir distração. Irritou, encurralou e emudeceu o Aníbal, apesar dos pergaminhos de catedrático do último; • O Fernando foi trazido a estas lides pelo manhoso Mário Soares que o pretendeu usar para se vingar do Manuel (ver adiante) que, havia humilhado o patriarca, cinco anos atrás, num evento eleitoral homólogo. Beneficiou da sua não ligação orgânica a partidos, embora aqui e ali já tenha apoiado quase todos; • O Francisco não se sabe bem se existe ou se é um insuflável preparado pelo CC do PCP, com tecnologia norte-coreana, muito avançada na criação de power-points em 3D. O seu discurso inova e é sempre o produto da combinatória de umas Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 3
  • 4. dez palavras, onde se incluem trabalhadores, direita, povo, Portugal, produção nacional, constituição e umas poucas mais; • O Manel foi o alquimista que procurou fundir esquerda e direita, governo e oposição com voz de locutor de rádio e rivalizou com o Francisco na construção de frases ocas: este conviva usa amiúde, república, democracia, fascismo, pide, cavaco, “ele”, pátria, Portugal e vacuidades do género; • Para o fim deixamos o Zé Coelho, (não da Coelha!), traquejado como único opositor do bokassa madeirense, o que não é tarefa fácil. Por isso foi o único candidato realista ao evidenciar que as ditas presidenciais são pouco mais que um teatro de robertos, que só servem para distrair crianças e outros infantes. 2 – Os próximos tempos, negros e frios Passando ao sério. Cavaco era o candidato da direita, já toda a gente sabia e por isso teve o pleno dos fãs do PSD e do CDS, como também o teve do governo PS e dos capos deste partido. É também homem dos bancos, dos “mercados”, do FMI, do BCE, da Comissão Europeia e tem provas dadas quando foi chefe do governo. Com essa coligação do dinheiro é ele que ganhou, naturalmente. Logo no dia 1 de Fevereiro esteve reunido com os banqueiros, a colher instruções (1). Cavaco é um autómato, com um modelo macro-económico como sistema operativo e gosta que o respeitem como veneranda figura, como pai da pátria, que lhe batam palmas nos discursos e não o desdigam quando evoca a sua competência e experiência. Para mais, com esta eleição, ganha cinco anos de novas oportunidades para entrar na sala Oval da Casa Branca, troféu que lhe falta para completar as memórias. Pouco importa se é inculto, racista, inseguro e intolerante. Ou rançoso como excelentemente lhe chamou Baptista-Bastos. Porém, Sócrates é, o preferido do capital como executivo, pois é autoritário, desavergonhado, pouco dado a escrúpulos e tem uma experiência de vários anos de governação. Cavaco não gosta de Sócrates mas, o capital gosta e está tudo dito; e o capital tal como Cavaco não acredita nas qualidades da pileca Passos como “challenger” do Sócrates. Será mais um chefe que ficará num rodapé dos anais do PSD. Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 4
  • 5. Fala-se há muito de eleições legislativas para depois das presidenciais. Ficou claro, dia 23, o que pensa a maioria das pessoas do pentapartido que nos rouba, por acção, por arremedo ou omissão de acção. Qualquer eleição, na actual conjuntura, é colocar a multidão perante um baralho de cartas viciadas, envelhecidas, com aquelas típicas marcas pretas de sujidade acumulada. Se o governo Sócrates cumprir as prescrições do FMI, da Comissão Europeia, dos “mercados”, aproveitando-se da benevolência com que a multidão aceita a canga do desemprego, dos cortes salariais, etc, Cavaco não terá argumentos nem autorização superior para promover eleições. De nada serviria dissolver a AR para de novo o PS ter de formar governo, só ou acompanhado… e os candidatos à parceria seriam todos os capangas de pentapartido. Para azar nosso e do ente Cavaco, pessoalmente, tudo indica que Sócrates está a cumprir e que à custa do roubo da multidão e dos trabalhadores em particular, as coisas talvez não piorem, do ponto de vista do capital, bem entendido. Cavaco aumentará o seu poder de intervenção se Sócrates falhar e, se a partir de novas eleições, o PSD constituir governo. Nesse caso, Cavaco apareceria como figura tutelar de um Passos primeiro-intendente do FMI. Cavaco, que não gosta do personagem (a sua amiga Manuela considerava-o mesmo como uma versão beta de Sócrates) dominaria totalmente a cena. Se entretanto, o PSD se cansar de Passos e inventar uma nova figura, Cavaco só teria problemas se lhe caisse no prato um moscardo como o Borges, aliás com mais notoriedade nos “mercados” do que o próprio Cavaco. Cavaco, sendo conservador, aprecia particularmente a estabilidade, sobretudo a dos cemitérios; no que é aplaudido pelos capitalistas e pelos “mercados”. Na sua (in)cultura sorvida em Salazar, considera caber aos portugueses, trabalhar, obedecer e confiar em quem sabe. Recordamos aqui o “deixem-nos trabalhar” com que brindou a oposição ao seu governo, há uns vinte anos; como opinou com a criação de uma “comissão de sábios” (onde ele se incluiria, naturalmente) para a gestão do deficit, antes de ascender a PR; como desvalorizou os membros do seu governo, denominando-os “seus ajudantes”; como recentemente acenou com os custos do exercício da democracia a haver segunda volta nas presidenciais. E, como conservador, nada tem contra Sócrates como primeiro-ministro, como aliás se viu no início do seu mandato como PR, fase imortalizada numa hilariante peça criada pelos Gatos Fedorentos. 3 - Novamente, relembremos o carácter do PS Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 5
  • 6. Já por diversas vezes explicitamos a caracterização da esquerda institucional portuguesa (2) que mais parece um embrulho de grilos falantes. E como eles não aprendem nada com a prática da vida, relembramos aqui a caracterização do PS já enunciada, cerca de um ano atrás (3) Só na cabeça dos grilos do BE ou do PC é que o PS é um partido de esquerda e, como objectivamente nunca o terá sido – pelas origens e pelo comportamemto de décadas – mascaram a coisa criticando as “políticas de direita” dos governos PS. Está claro que o PS e os seus governos também tomaram algumas posições decentes através dos tempos mas, com base em excepções também o PSD e o CDS certamente teriam de ser considerados como esquerda. Não aderimos a conceitos religiosos sobre o mal absoluto, encarnações satânicas do Mal. O que caracteriza um partido? A fraseologia usada? Um programa (que ninguém sabe qual é ou, sabendo, lê) a que nem os seus militantes liga? É a prática política que conta e pouco mais; tudo o mais, os discursos, a retórica, os slogans não passam de marketing, tão válidos como o do detergente que “lava mais branco”. O PS, nos tempos do PREC, liderou a direita toda, acoitou civis e militares para ganhar o respeito e os marcos alemães que lhe caiam a rodos na conta bancária. Reforçou aí os tiques anti-comunistas e anti-esquerda que já Soares havia manifestado, nos seus amores secretos com Caetano nas eleições de 1969, quando aceitou não falar da guerra colonial para ganhar a respeitabilidade de “oposição” tolerada pelo actor das “conversas em família”. O primeiro governo do Soares afirmava que Portugal atingiria o nível da então CEE em 1980 (estava-se em 1976) enquanto se afadigava em entregar as terras a proprietários absentistas, a preparar o sector nacionalizado para as privatizações que Cavaco viria a cumprir, a inventar uma UGT com financiamento alemão. Em 1977, amancebou-se com o CDS para cumprir os ditames do FMI, adivinhem à custa de quem. Seguidamente, ainda com o tratante Soares à cabeça (o da Emáudio, não o filho, que se estatelou num safari aéreo e que popularizámos aqui com o epíteto de “batata com dois olhos”) veio a unidade patriótica com o PSD que nos trouxe de novo o FMI (1983) e uma perda de poder de compra na ordem dos 15%. Guterres mostrou-se mais magnânimo em termos económicos devido ao dinheiro da UE mas, tratou de chumbar os interesses das pessoas decentes nos referendos do aborto e da regionalização, antes de se pôr ao fresco. Finalmente e neste ciclo de empobrecimento que vivemos Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 6
  • 7. surge como o grande líder da direita, sem alternativa, como se viu nas governanças de Durão e Santana e nas candidaturas falhadas que se vêm sucedendo das várias pilecas do PSD – Mendes, Menezes, Manuela e Passos. Mesmo quando, com Sócrates, o PS assume descaradamente um carácter anti-social como actualmente, para sobreviver no poder, como capataz do conhecido escol – FMI, BCE, BES… a esquerda portuguesa não consegue incluir o PS na direita. Mesmo quando o mancebato com o PSD se torna um público casamento com assinatura de convenção nupcial (escritura do PEC) e o PS se torna um partido de actuação proto-fascista e genocida, a esquerda institucional portuguesa permanece muda e queda sobre o vero carácter do PS. A esquerda institucional portuguesa, talvez porque tenha pouco de internacionalista, esquece, que branqueando o carácter de direita do PS, solidariza-se, objectivamente com um emérito membro da internacional dita socialista, com um partido irmão do NDP de Mubarak, do MPLA do nosso conhecido JES e da sua rica filha, importante investidora em Portugal, do PPP do corrupto Zardari do Paquistão, do partido trabalhista israelita, “habitué” no governo... Todos reconhecidos pelos pergaminhos democratas, como sabemos. E assim, se mantém, há mais de 30 anos, estagnada, promovendo a imobilidade social, ajudando ao conservadorismo na sociedade portuguesa. E, através dos boiardos sindicais, o feudalismo dos seus dirigentes, alimentando sebastianismos e combatendo qualquer laivo de marias da fonte, qualquer pequeno movimento que escancare o seu reaccionarismo, como se viu a propósito da cimeira da NATO, em Novembro último (4). Se alguma coisa mexe em Portugal, ou a conseguem controlar por estrangulamento (caso do movimento dos professores), boicotam e combatem para tentar destruir (as acções anti-NATO) ou destróiem mesmo (tentativa de um forum social português). Porque não é, a esquerda portuguesa, capaz de dizer claramente que o PS e os seus governos fazem parte da direita? Porque são estúpidos? Porque estão enganados? Nada disso. Trata-se de uma opção política consciente que se prende com o seu imobilismo e oportunismo. Se reconhecessem inequivocamente que o PS é um partido de direita, • Teriam de reconhecer que há um bloqueio político empobrecedor com a maioria PS/PSD e, portanto, que não há saídas de carácter institucional, através da sucessão dos jogos florais parlamentares, das liturgias eleitorais, com as (sempre!) grandiosas manifestações nas avenidas, de Outubro a Maio, com férias prolongadas entre a quadra natalícia e o carnaval; Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 7
  • 8. Teriam de reconhecer que não há quaisquer possibilidades de maioria de “esquerda” pois aí nunca entrará o PS. Assim, teriam de assumir, para não se descredibilizarem junto da multidão, a rotura com as práticas actuais, meramente institucionais; e, nesse contexto – uma vez que ninguém acredita numa maioria parlamentar BE/PC - que só há combate político e social sério se o seu epicentro for a luta popular e não a AR. Luta que é bem menos fofa que as alcatifas de S. Bento; • Não poderiam alimentar junto da multidão uma sebastiânica esperança de mudança nas políticas do PS, a probabilidade de um cataclismo interno dentro do gang, o surgimento de um salvador (um Chavez, um Lula) que conduzisse os militantes do PS a uma glória democrática; • Não poderiam sonhar com uma participação no poder, como muleta do PS, em troca de umas secretarias de estado ou a colocação de alguns dos seus quadros, em direcções-gerais e empresas públicas. Os anseios de participação no poder são antigos e começaram ainda durante o PREC quando grupos trotskistas clamavam a unidade entre PS, PC e… Intersindical. O PC durante anos clamou, debalde, pela maioria de esquerda como reflexo da composição na AR… até que se cansou. O BE veio a assumir a mesma estratégia mais tarde, de forma implícita, por muito crispada que possa ser a encenação parlamentar. De facto, • O PS e o PC, em 1976, detinham 147 dos 263 deputados e o que se assistiu foi à montagem da normalização capitalista, decididamente encabeçada pelo PS; e Alegre já lá estava; • Em 1983, o PS e o PC detinham 145 em 250 deputados e o que se assistiu foi ao chamado bloco central (PS/PSD) e à intervenção do FMI com a habitual austeridade; e Alegre já lá estava; • Em 1985, mesmo com o namoro do PC com Eanes, dono do epifenómeno PRD, as capacidades do PS não foram além da preparação da maioria absoluta de Cavaco em 1987; e Alegre já lá estava; • Seguiu-se, na primeira volta das presidenciais que vieram a eleger Soares, o espectáculo da tentativa de divisão do PS com o lançamento, pela mão do PC, do alegre que estava, então, à mão - Salgado Zenha. Tal como o BE, recentemente, o PC falhou Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 8
  • 9. redondamente. Pior, pois havendo (contrariamente a 2011) uma candidatura verdadeiramente independente de esquerda – Pintasilgo - o PC preferiu abatê-la ligando-se a uma coisa dúbia chamada PRD. Para gáudio da direita o PC convocou, antes da segnda volta, um congresso à pressa para contrariar a orientação inicial de “nunca votarem Soares”; e, anteciparam o dilema do PSF e da esquerda francesa quando tiveram de apoiar o corrupto Chirac contra o fascista Le Pen. Curiosamente, o que se poderia chamar ala esquerda do PS veio a constituir a base do apoio de Guterres e, pormenor interessante, Alegre estava com Soares; • Em 1995, no estertor do cavaquismo, o PS e o PC tiveram 127 deputados em 230 e Guterres não se importou nada de ficar em minoria, declinando qualquer aliança com o PC para, com uma maioria, se abalançar com uma esquerdização da acção política portuguesa, já então fortemente condicionada pelo maná dos fundos comunitários; • Em 1999, o PS ficou exactamente com metade do hemiciclo e até podia escolher entre o PC e os dois recém-chegados deputados do BE, para construir uma estabilidade governativa à esquerda. E borrifou-se nisso, claro está, desconhecendo-se qualquer protesto do Alegre; • A nível autárquico, existe o exemplo da câmara de Lisboa. A maioria de esquerda, PS/PC nos anos 90 não criou raizes e foi destruida pelo tonto Santana que acabou por ganhar a maioria em 2005. O PC, que chegou a ter um enorme eleitorado em Lisboa, está reduzido, hoje, a um vereador de oposição. O BE, depois de ter escolhido um idiota para vereador, pretendeu dar ares de responsabilidade governativa, entrando em acordo com o António Costa, no primeiro mandato deste, sem que ninguém houvesse percebido a mais valia da experiência para o povo de Lisboa. Sem surpresa, Costa cooptou o “Zé que faz falta” e o BE perdeu a vereação, com a derrota humilhante do Fazenda. Estamos muito longe dos tempos em que o executivo camarário lisboeta dominado pelos republicanos prenunciava o fim da putrefacta monarquia. • Depois da maioria absoluta de Sócrates em 2005, chega-se à sua maioria relativa de 2009, com total desprezo pelos 31 deputados do BE/PC para construir uma maioria estável à esquerda. As escolhas políticas e económicas do PS estão suficientemente presentes para ser aqui necessário lembrá-las. Entretanto, durante todos estes anos, “a maioria de esquerda” foi conseguida por aqueles ilustres caciques que se acoitaram no PS, Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 9
  • 10. aceitando, naturalmente as regras da casa – José Magalhães, Osvaldo Castro, Barros Moura, Pina Moura, Lino, o actual ministro Mendonça, estando sempre na rampa de lançamento novas fornadas de “renovadores”, em regra, fotocópias de fotocópias. De outros quadrantes, que não passaram pelo PC, refiram-se os antigos MES – Ferro, Sampaio, Cravinho ou o ex-UDP Jorge Coelho. Onde está, nestes anos todos, algo onde se tenha visto o carácter de esquerda do PS? Este aliás, para bem se demarcar do resto da direita e manter as distâncias face à esquerda institucional (BE/PC) designa esta como… extrema-esquerda (!), pretendendo sublinhar a sua respeitabilidade junto dos “mercados”, apresentando-se como esquerda “democrática”, moderna, responsável e uns epítetos vazios ou idiotas do género, onde incluimos a criação teórica (?) de Soares, o “socialismo em liberdade”. Assim, o PS, para ocultar o seu carácter de direita, dá o exclusivo dessa etiqueta ao mano PSD e ao CDS e, para não se misturar com a esquerda institucional, designa-a como extrema esquerda. Tudo não passa de uma rábula de teatro de revista, em que todos divertem o público. Se havia uma relevante faixa de gente à esquerda, no PS, o seu enterro como alternativa interna de poder, verificou-se no passado dia 23. Mas… entre os apoiantes de Alegre do PS onde estava a gente de esquerda? No António Costa? Na Belém? Na mulher do ilibado Pedroso? Nos discursos trauliteiros do ministro Augustus SS? Nas claques que aplaudiram as aparições fugazes do seu “fuhrer”, no apoio a Alegre? Todos os partidos têm gente com posicionamentos distintos; uns menos reacccionários que outros, uns mais sensíveis às dificuldades da multidão que outros. O monolitismo não existe mesmo dentro dos partidos únicos ou abrigados no “centralismo democrático”, designação típica do cientismo estalinista para dourar o “quem manda são os chefes”. Assim, há no PS, como em qualquer partido da direita, gente menos à direita e entulho mais fedorento, mais á direita. O enterro desse rei momo como se pode chamar a essa invenção do BE chamada “ala esquerda” do PS, veio a favorecer Sócrates que nunca a apoiou ficando agora, claramente, dono e senhor do gang. O PSD fica também entalado entre um Cavaco tutelar e um PS que ocupa uma maior faixa à direita, mandando o PSD para um regresso adiado sine die ao poder, a não ser como muleta do governo, obrigado pelos “mercados”, pelo FMI, BCE, etc. Para mais, nem tem um lider credível, apesar das sondagens, não tivesse Passos sido uma emanação daquela casta de autarquetas manhosos da província que o Ruas tão bem retrata. Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 10
  • 11. O PC, com a “política patriótica e de esquerda”, com a defesa da independência nacional, só evidencia o seu carácter fóssil, inalterado com a chuva ou com o sol. Ignora a quase total perda de soberania, que não é de agora mas, que se acelerou com a entrada (inevitável) na UE, no contexto da globalização e da reestruturação capitalista neoliberal, após a queda do Muro de Berlim e do fim da URSS. Se antes de 1986, o PCP se dizia contra a adesão à UE, passou depois a silenciar essa posição e continua a não dar esse passo actualmente por realismo político mas, enganando as pessoas com o discurso da pátria e da independência que mesmo os distraidos já perceberam que acabou. O tempo das pátrias acabou, agora é o tempo da multidão mundial, contra o capitalismo globalizado e os seus Estados. 4 - Notas eleitorais Cavaco ganhou e todos nós melhorámos a auto-estima. Tinhamos o CR7, agora temos também o CS23, o que revela uma mais-valia assinalável; porém, Ronaldo tem melhores pés e mais adeptos do que um presidente de 23% do eleitorado. Como ponto prévio, abordemos a confusão dos cartões de cidadão; incúria, amadorismo, eventual entrega das estruturas informáticas a várias empresas pouco articuladas entre si. A revelação clara da relevância e do empenho do mandarinato no funcionamento da democracia, mesmo que de mercado. Esta não foi (ainda) suspensa como sugerido pela Balela Ferreira Leite mas, em tempos de “consolidação orçamental” não merece muitos cuidados. Importante, importante é a máquina fiscal, os cruzamentos para apanhar os pobres e os trocos, os recibos verdes (agora também electrónicos), os biscates dos desempregados, dos trabalhadores doentes (5). Importante é a dotação da polícia com formas de detectar se um carro a circular na estrada já foi ou não objecto da inspecção periódica dentro do prazo para aplicação de coima. E, finalmente, é importante o fornecimento de dados biométricos para alimentar a paranóia anti-terrorista dos EUA. Este ministro, um togado que dá pelo nome de Rui Pereira, não tem somente cara de parvo; a cara é o espelho que reflecte a sua essência. É capaz de saltar do poleiro, como produto do fogo de artifício parlamentar ou por jogada de antecipação de Sócrates para evitar o espectáculo. Sem que isso se prenda minimamente com o roubo e o empobrecimento colectiva que recai sobre a multidão. Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 11
  • 12. Outra questão, a da actualidade do recenseamento eleitoral é recorrente. O PS/PSD pouco liga à questão pois o excesso de 743000, eleitores segundo cálculos nossos (6), permite aumentar os subsídios do Estado aos partidos e até aumentar o número de vereadoresnas câmaras. E por isso, a aldrabice vai-se mantendo. Terceira questão prévia. Quem obtiver mais de 5% dos votos tem o Estado a pagar os gastos de campanha – o que, naturalmente, beneficia os candidatos apoiados pelo pentapartido, muito silencioso sobre o tema. Todos podemos concorrer a PR mas, na realidade, só os que têm apoios em funcionários, sedes e com dinheiro por detrás o podem fazer; como é apanágio das democracias de mercado onde o dinheiro é o único aferidor de tudo. Como se costuma dizer, em democrcia de mercado há uns mais iguais que outros. Se se aceitar como legítimo que o Estado pague papeladas, cartazes e a sua colocação, passeios pelo país, consultores de imagem, almoços, jantares, ceias, comícios, onde, de facto, nada há de intenção de esclarecimento do eleitorado, porque razão um candidato com menos de 5% dos votos terá de ser desconsiderado e penalizado? Para beneficiar o pentapartido, avesso a outsiders desestabilizadores das águas do pântano, é a nossa resposta. Essa discriminação anti-democrática está bem espelhada nas declarações de Cravinho que afirma ter a lei do financiamento dos partidos aberto a porta à corrupção (7). A mesma lei permitiu coimas superiores a € 5000 por uma falha processual de € 75 numa factura da EDP paga por um partido (POUS) que tem o enorme orçamento anual de … € 6000! Em contrapartida, a mesma lei, através de uma aplicação retroactiva perdoa aos partidos na Madeira € 23 M de gastos indevidos , dos quais 80% cabem ao PSD do Jardim (8). Apenas mais um pormenor; essa lei foi promulgada por Cavaco, em pleno periodo eleitoral… O atraso cultural e político dos portugueses – mesmo apesar da queda do fascismo – mantido pelo carácter elitista e sectário dos partidos, alimenta uma delegação da acção política em profissionais da mesma erigidos em classe, em burocracia, em mediadores e aplanadores dos conflitos; e, cada vez menos capazes e mais ladrões. Refira-se, relativamente ao último acto eleitoral, do dia 23 de Janeiro e, em primeiro lugar, a parcela de votantes e a sua representatividade no total dos eleitores. Como a existência de eleitores fantasmas é mais ou menos permanente, o peso dos votantes tem algum significado quando se observam os resultados de todas as eleições presidenciais. Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 12
  • 13. Votantes/Eleitorado (%) 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 1976 1980 1986-1 1986-2 1991 1996 2001 2006 2011 A tendência é clara atingindo-se um máximo absoluto de participação na segunda eleição de Eanes, quando o seu principal adversário era um pouco recomendável Soares Carneiro patrocinado pela AD, do outro Carneiro, o Sá. Para além do mínimo agora atingido e a despeito de alguma crispação entre os candidatos, a única situação em que a votação não atingiu os 50% dos eleitores corresponde ao passeio que conduziu à segunda eleição de Sampaio. Inscritos e Votantes 9.500.000 9.000.000 8.500.000 8.000.000 7.500.000 7.000.000 6.500.000 6.000.000 5.500.000 5.000.000 4.500.000 4.000.000 1976 1980 1986-1 1986-2 1991 1996 2001 2006 2011 Inscritos Votantes Como se pode observar, é cada vez maior a distância entre os recenseados, cujo volume cresce, em função do aumento e do envelhecimento da população, (para além da omnipresença dos tais Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 13
  • 14. eleitores fantasmas) e o número dos votantes que só sentem alguma excitação quando há, forçosamente, uma substituição da veneranda figura do pai da pátria. Tudo, num quadro geral de não ser muito visível a importância da dita figura. Dizem almas apreciadoras da democracia de mercado que as abstenções nada significam em termos de atitude política mas, apenas desinteresse e comodismo. Tudo isso porém, são atitudes que revelam distanciamento da mais elementar forma de participação política e que os agentes que pretendem monopolizar a representação não são atrativos nem convincentes. É, na realidade uma atitude de desinteresse, desprezo ou distanciamento mas, não é uma atitude militante. Por coincidência, a parcela de votantes que anularam o voto ou o mantiveram (em branco) sem menção de escolha, foi de 0.9% para cada uma daquelas opções, na média do periodo 1976/2006. No dia 23 de Janeiro último, os votantes que entregaram o boletim em branco foram 4.3% do total que, somados aos 1.9% que anularam o voto, somam 6.2%; o que é substancialmente mais do que em eleições presidenciais anteriores. A anulação do voto é uma acção clara e inequívoca de repúdio, enquanto o voto branco evidencia, de modo mais brando, a não aceitação das propostas apresentadas, em conjunto tomadas como insatisfatórias ou inconvenientes. Se a abstenção pode resultar de comodismo, votar branco ou nulo, pelo contrário, mostra uma atitude bem consciente e militante, em que o repúdio está bem presente. O crescimento dos votos brancos e nulos na última eleição presidencial tem o significado inequívoco de que sectores significativos da multidão não se reviu nos candidatos, nem seguiu as indicações de voto, expressas ou implícitas, do pentapartido; os sectores de descontentes cresceram, uma vez que já nas últimas legislativas, os votos brancos e nulos haviam atingido 3.12% dos votantes e, nas eleições para o parlamento europeu em 2009, 6.6%. A evolução registada nas últimas presidenciais para o conjunto dos votos brancos ou nulos, para todos os distritos e regiões autónomas, revela que o aumento dos votos expressos de repúdio tem um carácter nacional, com maior relevância em Coimbra, Leiria e Lisboa. Curiosamente, na Madeira, aqueles tipos de votação que tinham a maior representatividade a nível nacional, em 2006, passaram agora a ter a menor dimensão, embora sofrendo um ligeiro acréscimo. Entendemos que para isso contribuiu a candidatura do madeirense José Coelho que atraiu a si as manifestações de repúdio ao imperador bokassa, ente que há dezenas de anos vem sendo objecto de toda a Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 14
  • 15. tolerância do mandarinato nacional. José Coelho surgiu, pois, na Madeira, como algo de novo no ambiente mafioso e de delação que o gauleiter local instaurou. E, já afirmou os seus propósitos de combate declarado a Jardim, sem alianças com os partidos da rotineira oposição local. Brancos e nulos/votantes (%) 2011 2006 madeira açores v iseu v ila real v iana setubal santarem porto portalegre lisboa leiria guarda faro ev ora coimbra castelo branco bragança braga beja av eiro TOTAL 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 15
  • 16. Há contas que é preciso fazer para se compreender a ineficácia da esquerda institucional, tomando como termo de comparação os resultados das legislativas de 2009. 2009 PS+BE+MRPP 2.688.541 PSD+CDS 2.247.774 PCP 446.994 2011 Alegre 831.959 Cavaco 2.230.104 Lopes 300.840 2009-2011 (perda) 1.856.582 (perda) 17.670 (perda) 146.154 No quadro atrás, vê-se que o PSD/CDS garantiu praticamente o correspondente ao seu eleitorado de 2009. Mais relevante, do nosso ponto de vista, são as enormes perdas dos chamados candidatos institucionais do que se convencionou designar por esquerda. Muitas conjecturas se poderão fazer mas, preferimos registar factos. Matematicamente, Alegre teria condições para ser eleito, se fosse um dado adquirido que os votos nos partidos apoiantes se iriam transpor ordeiramente para os seus candidatos. No que diz respeito ao PS não é estranho que muitos dos seus votantes de 2009 tenham constituido em 2011, uma diáspora que terá estado incluida nos abstencionistas (975000 segundo o jornal “Sol”), nos apoiantes de Nobre (285000), Cavaco (280000) Coelho (85000) e Moura (35000), para além dos 405000 que terão votado em Alegre; pelas contas do “Sol” a diáspora não se teria estendido aos 277000 votos nulos ou brancos. Por outro lado, de acordo com os cálculos do jornal, a haver tanta gente do PS a votar em Cavaco teria havido um número equivalente de habituais apoiantes do PSD/CDS em 2009 que teriam emigrado para a abstenção, o que não parece plausível. Recorde-se que em 2006, mesmo juntando todos os votos de Alegre e Soares isso não ultrapassaria mais de 73.7% dos resultados de Sócrates no ano anterior. Sem dúvida que muita gente que votou Sócrates em 2009 o fez como voto útil contra a jararaca Manuela e garantir o poder, questão que se não punha agora, uma vez que a vitória de Cavaco estando anunciada, não fomentava votos úteis. Por outro lado, toda a gente sabe que é muito mais importante determinar o primeiro-ministro do que um PR, permitindo-se aqui, a fantasias e criatividade. E, daí a diáspora recente. Sendo o PS um partido de direita, Alegre, com a sua fraseologia formalmente de esquerda, alheia à composição actual e à história do seu partido, não teria condições para polarizar a massa dos apoiantes do PS, para mais, lançado este numa senda reaccionária e anti-social que afasta qualquer um que detenha um simples neurónio de progressismo. Essa mesma massa reaccionária não teria também grandes atractivos para uma união de forças com o BE, ou com um Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 16
  • 17. candidato (visto por eles) como do BE, de extrema esquerda, para muitos. E daí, nas contas do “Sol”, que somente 405000 eleitores PS tenham apoiado Alegre. A ser assim, os cerca de 427000 restantes votantes em Alegre, a 23 de Janeiro, de onde vieram? Do eleitorado PC não terão vindo, decerto, dado o antagonismo histórico daquele partido com Alegre, desde os tempos em que o PC foi expulso do “grupo de Argel”. E, se vieram do eleitorado BE e MRPP de 2009 – 610846 indivíduos – então, quase 184000 destes terão emigrado para outros destinos, mormente Nobre, Coelho, votando nulo ou em branco ou, abstendo-se. Recorde-se que mesmo Louçã, a estrela máxima do BE, em 2006, com os seus 288756 votos somente fixou 79.1% dos votantes no partido, no ano anterior, decerto em benefício de Alegre, então o candidato independente dos partidos, o candidato da revolta contra o directório do PS, que havia escolhido um candidato perdedor – o geronte Soares – pois Cavaco já então, era o candidato, não confessado, de Sócrates. Alegre, em 2006, era um candidato anti-partido, da novidade, da frontalidade e daí, ter entusiasmado muita gente. Porém, a partir de então Alegre dormiu no conforto da AR, com um ou outro sobressalto de esquerda como prova de vida e desperdiçou completamente e desiludiu muitos dos 1127472 que votaram nele; e esse descrédito, nem Alegre, com o seu perfil autista de cacique nem, sobretudo o BE souberam perceber, numa lógica de extrapolação não analitica da realidade passada. O futuro de Alegre é a dedicação às caçadas, entre dois poemas e uma entrevista por mês, onde começará com uma referência anti-fascista, terminando com um arroto patriótico; é o destino final de um “bon vivant” com um percurso irrelevante e cinzento. Francisco Lopes, a despeito de alguns méritos no empenho e na imagem que acumulou, não conseguiu fixar 35.6% da votação de Jerónimo, em 2006, nem quase um terço (32.7% dos votos da CDU em 2009. Como é óbvio, tudo isto, na linguagem delirante típica do CC do PCP, constituiu… uma vitória (?). Há aqui um aspecto novo. Em 2006, Jerónimo conseguiu melhorar ligeiramente a votação do partido obtida em 2005 e, como se observou, esse feito não foi repetido por Lopes. A passagem do tempo e a redução do número dos apoiantes com mais idade, eivados de uma certa religiosidade face ao partido da “classe operária” conduz a maior relevância de um novo eleitorado do PC, mais volúvel, menos disciplinado face às directivas da confraria dos órfãos de Brejnev (o enorme corpo de funcionários). Tratando-se de apoiantes com maior escolaridade e sem a vivência do fascismo, são menos sensíveis à disciplina estalinista e mais abertos a algum diálogo com outros Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 17
  • 18. militantes de esquerda. E daí que tantos tenham desrespeitado a disciplina, não votando em Francisco Lopes. Há uma realidade que exige novas formas de organização e actuação política, como vimos clamando, de base, com desobediência e mesmo ingovernamentalização a partir de um dado nível de contestação; sem caciques, sem controlo dos movimentos, dos sindicatos, sem sabotagem das lutas, por acção ou omissão dos barões partidários. Está claro que o mandarinato está atento à situação, pois a credibilidade dos seus postos de trabalho é quase nula. E daí, irão estudar o assunto; cheira a reforma do sistema eleitoral e que esta, sempre latente, poderá avançar em várias frentes. Esperam em primeiro lugar, ir ao encontro dos desejos do tal eleitorado que se contenta com migalhas de reformas; tenderão, de permeio, a proceder a reajustamentos que permitam um maior afunilamento no pântano PS/PSD. Vejamos. • Alterações no formato de nomeação do PR Formalmente, para evitar custos com eleições – tema que sensibiliza a direita, bem consciente do seu carácter cosmético – podem inventar duas soluções. Uma é o alargamento de um mandato único do PR para uns sete anos, reduzindo a frequência do folclore eleitoral. A outra é elegerem a veneranda figura por votação na AR, de forma mais ou menos concertada, semelhante à do arraial que entronizou o provedor de justiça. A primeira fórmula não coibiria o PR a ser manso no primeiro mandato, para arreganhar os dentes no segundo e último; seria lobo ou cordeiro a tempo inteiro e trabalharia apenas para ficar bem na galeria dos presidentes. A segunda fórmula apresenta mais conveniências; dispensa o envolvimento da plebe, as campanhas eleitorais, a lavagem de roupa suja com as inconveniências que descredibilizam o mandarinato, oculta a evidência do seu descrédito perante a multidão, colocada à margem dessas lides, entregues ao siso dos seus dignos e avisados “representantes”. A fórmula aumentaria o poder do executivo, mormente do primeiro- ministro, transformando o PR numa figura (ainda) mais de berloque democrático. Essa eleição indirecta é feita, hoje, em países como a Alemanha ou a Itália, com resultados semelhantes e com menos folclore eleitoral – ninguém sabe o nome dos PR italiano ou alemão mas, todos conhecem o Berlusconi e a Merkel. Este sistema é o adoptado pela UE que assim nomeou um tal van qualquer coisa para uma decorativa Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 18
  • 19. presidência, aumentando, consequentemente, o poder dos conselhos de ministros que tudo decidem, depois de, numa primeira fase, terem colocado como primeiro comissário europeu uma figura de fraco gabarito, ocasionalmente nascido em Almada. Em outros países europeus – escandinavos, Grã-Bretanha, Benelux e Espanha mantiveram-se figuras folclóricas equiparadas, com a designação de reis e cujas famílias contribuem largamente para o fomento do mercado da literatura cor-de-rosa e dos escândalos de alcova. A democracia de mercado controlando a multidão de modo mais subtil, colocaria como PR um indivíduo emanado do poder pois, nenhum real independente teria essa possibilidade. Nesse contexto, o poder manteria a fachada democrática sem sobressaltos e, nas condições sociológicas da população portuguesa, manteria ainda o culto da figura de um pai protector e distante, como Salazar ou Cavaco; a imagem do mago capaz de olhar e confortar a plebe pelas misérias do momento. Trabalhar, obedecer, confiar é o lema do autoritarismo, exigente da submissão total, tão diligentemente trabalhada por Salazar. Salazar depois de 1958 e do susto Delgado acabou também com a eleição directa do PR, passando a fazê-lo através dos deputados da assembleia nacional fascista. Quanto a PR’s saiba-se que: Salazar deixou na História o impagável Tomaz O PS/PSD criou Aníbal, das finanças um ás • Redução do número de deputados Uma vez que todo o sistema político converge na manutenção do putrefacto PS/PSD, a composição da AR nunca deixará de permitir o seu simultâneo funcionamento, como válvula de exibição da diversidade política que baste e da estabilidade que faz a alegria dos mercados. Por mais criatividade que o mandarinato tenha, é o PS/PSD que poderá reduzir o número de deputados e, naturalmente, aproveitará o ensejo para que isso seja feito a expensas da esquerda institucional. Aliás, é sabida a grande desigualdade já hoje existente no sistema eleitoral actual e sobre a qual procedemos a um exercício, recentemente (9) • O voto obrigatório Há também quem defenda o voto obrigatório para acabar com as abstenções, sabendo que, a priori, muitos dos votantes obrigados iriam ter um perfil pouco diferenciado dos habituais voluntariamente Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 19
  • 20. votantes. Porém, o aumento forçado dos participantes nos escrutínios, aumentando a participação, iria ser exibida pelo mandarinato como atestado da sua legitimidade e da sua profunda (?) ligação ao povo. Na Bélgica, na Itália, na Grécia, o voto é obrigatório; no primeiro caso, não ajuda em nada à formação de governos duradouros, no segundo, não impede a existência de Berlusconis, Bossis e Finis e, finalmente, na Grécia, são claras as diferenças entre o que sai do poder Pasok e os desejos da multidão, acossada e roubada. Em Portugal, só nos recordamos da frenética eurodeputada Ana Gomes como defensora do voto obrigatório. A sua existência, nas condições culturais da lusolândia iria promover a indústria dos atestados médicos e mais umas centenas de burocratas para aferir das causas das não comparências, com a aplicação e cobrança das incontornáveis coimas. Se explicarem isto ao Teixeira dos Santos ele descobrirá aqui mais uma forma de angariar dinheiro para entregar aos “mercados” ou pagar submarinos. ------------------------------------ Notas: (1)http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Cavaco-Silva-reuniu-se-com- banqueiros.rtp&headline=20&visual=9&article=412297&tm=6 (2) O sistema partidário português http://www.slideshare.net/durgarrai/o-sistema-partidrio-portugus A democracia de mercado e a actuação da esquerda http://www.slideshare.net/durgarrai/a-democracia-de-mercado-e-a-actuao-da- esquerda (3) esquerda,PS,Alegre – confusões e premeditações eleitorais http://www.scribd.com/doc/24681888/Esquerda-PS-e-Alegre-%E2%80%93- Confusoes-e-premeditacoes-eleitorais (4) A miséria da esquerda que anda por aí. Um “case study”, a Cimeira da NATO http://www.slideshare.net/durgarrai/a-misria-da-esquerda-que-anda-por-a-um- case-study-a-cimeira-da-nato (5) Democracia, democracia das empresas e Wikileaks http://www.slideshare.net/durgarrai/documents?order=latest (6) http://www.scribd.com/doc/16494875/Eleicoes-europeias-2009-limitacoes-e- oportunidades (7) ttp://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/financiamento-dos- partidos-lei-e-nodoa-negra-na-democracia Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 20
  • 21. (8) http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/quiosque-jornal-noticias-expresso-tvi24-revista- de-imprensa/1210734-4071.html (9) Um sistema eleitoral falsificado e enganador http://www.slideshare.net/durgarrai/um-sistema-eleitoral-falsificado-e-enganador Este e outros textos em: http://www.scribd.com/group/16730-esquerda-desalinhada http://www.slideshare.net/durgarrai/documents www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt Esquerda Desalinhada grazia.tanta@gmail.com 2/2/2011 21