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O Estado
                           Moderno
       “O caso é de um príncipe bem desempenhar o seu papel e de saber, oportunamente,
  fingir e dissimular. Os homens são tão simples e tão fracos que quem os quer enganar,
                                  facilmente os engana.”
                                                                O Príncipe - Maquiavel - 1532




       A
                 maioria dos filmes ambientados na              O Estado Moderno ou Antigo Regime, substi-
                Idade Moderna exibe cenários exube      tuiu a fragmentação política da época feudal. Para que
                rantes das cortes européias. Mostram    a centralização se efetivasse, foi preciso um longo pro-
palácios freqüentados por uma elite educada e fina,     cesso de transformações e mudanças. A demora se deu
que exala charme e elegância, sugerindo que nessa       pela reação de muitos nobres que não admitiam perder
época não havia pobreza e miséria. Nessas histórias     seus privilégios. Analisando o contexto geral, podemos
os monarcas parecem identificados com o povo, go-       identificar que a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e
vernando em harmonia e prosperidade. No filme “Os       as inúmeras revoltas camponesas e urbanas provocaram
Três Mosqueteiros”, o jovem D’Artagnan junta-se a       um clima favorável à guinada em favor das monarquias.
Athos, Pathos e Aramis no intuito de defender a famí-   No início da época moderna vários Esta-
lia real, ameaçada pelas intrigas do esperto cardeal    dos          estavam
Richelieu. As cenas de aventura misturam ficção e re-   consolidados e o
alidade, levando os espectadores a uma ponta de in-     mapa do continente já
veja, por não terem vivido as situações emocionantes    apresentava o con-
do filme. Esse lado da Idade Moderna encanta e          torno de inúmeras
fascina, mas há o outro lado, marcado pela realidade    fronteiras territoriais.
das monarquias absolutas, que usaram e abusaram da              Dentre as mu-
imposição política como forma de garantir a ordem.      danças mais marcan-
                                                        tes, destacam-se: a
                                                        França incorporando
                                                        no século XVI, o du-
      “Todo poder, toda                                 cado de Borgonha e
                                                        o ducado da Breta-
    autoridade residem na                               nha, a Espanha con-
    mão do rei e não pode                               solidada em 1492
                                                        após a derrota dos
   haver outra autoridade                               árabes, e a Inglaterra
                                                        juntando-se ao País
   no reino a não ser a que                             de Gales, logo após o
                                                        fim da Guerra das
     o rei aí estabelece”.                              Duas Rosas. Também
                                                        nasceu do antigo Sacro Império uma constelação
                   Luís XIV                             de vários reinos e a Holanda despontou como o grande       Coroação de
                                                                                                                   Luís XII. Quadro
                                                        paraíso dos banqueiros. Lembrando-se ainda de Portu-       de Rubens.
                                                        gal que efetivara a consolidação política muito antes
                                                        das outras nações.
“AQUELE QUE DEU REIS
                                   AOS HOMENS QUIS QUE OS
                                   RESPEITASSEM COMO SEUS
                                  LUGARES-TENENTES, RESER-
                                 VANDO APENAS A SI PRÓPRIO O
                                  DIREITO DE EXAMINAR A SUA
                                 CONDUTA. SUA VONTADE É QUE
                                 QUALQUER UM NASCIDO SÚDITO
      O Estado Moderno




                                 OBEDEÇA SEM DISCERNIMENTO;
                                  E ESTA LEI TÃO EXPRESSA E
                                 TÃO UNIVERSAL NÃO FOI FEITA
                                    EM FAVOR DOS PRÍNCIPES
                                  APENAS, É SALUTAR AO PRÓ-
                                     PRIO POVO AO QUAL É
                                          IMPOSTA”.3




                                  Os novos Estados nasceram em meio a várias           oportunidades, os burgueses foram socorridos pelos
                          contestações, porém a motivação pela união acomoda-          monarcas, que abriam os cofres reais drenando capital
                          va os conflitos, adequando a sociedade à nova realida-       para os banqueiros e mercadores. Na concessão de
                          de política. A época admitia certos sacrifícios naciona-     monopólios sempre havia um burguês favorecido, na
                          listas onde se agruparam alguns povos com razoáveis          obtenção de permissão de venda de mercadorias.
                          diferenças culturais. O poder centralizado revelou-se               Os reis também serviram de “guarda-chuva”,
                          eficaz na manutenção da unidade, impedindo as defec-         que protegia os burgueses das investidas da Igreja. A
                          ções e a volta ao particularismo. As monarquias uni-         idéia eclesiástica que o lucro através de empréstimos
                          formizaram o sistema de pesos e medidas, implantaram         seria punido por Deus, era um obstáculo para a total
                          a moeda única e a cobrança regular de impostos. O            expansão dos negócios. Com a proteção real os
                          desdobramento dessas medidas permitiu ao continente          burgueses conseguiam uma blindagem contra as
                          europeu assegurar um lugar preponderante na época            perseguições do clero.
                          moderna, através da conquista de vastas regiões do                  Os aspectos psicológicos também devem ser
                          Novo Mundo.                                                  levados em conta, pois os burgueses buscavam a as-
                                                                                       censão social e o status de nobreza. Muito raramente
                          BURGUESIA E NOBREZA                                          conseguiam, pois a nobreza togada obtida pelos bur-
                                                                                       gueses era uma clonagem da nobreza de sangue azul.
                                 O processo de centralização contou com o apoio        A expectativa de conseguir as vantagens econômicas
                          integral da burguesia, que temia o regresso da               levou a burguesia a suportar as imposições políticas
                          descetralização feudal. Na formação dos exércitos foi        do absolutismo, o controle das corporações e as
                          muito importante a participação do investimento              rigorosas regras de mercado.
                          burguês, utilizado na compra da pólvora, que tinha um
                          valor muito alto. A burguesia teve como retorno desse
                          apoio, a possibilidade de maior enriquecimento,
                          beneficiada que foi pela economia centralizada. Em várias



 O Tempo da História


                         SÉCULO XVI                                                               SÉCULO XVII

    1516                                          1588                          1618                 1648
                                                                                        GUERRA
 MAQUIAVEL                         1534           DESTRUIÇÃO                            DOS 30         1661              1715
  PUBLICA                                         DA INVENCÍVEL                         ANOS                   REINADO
“O PRÍNCIPE”                 HENRIQUE VIII        ARMADA                                                      DE LUÍS XIV
                             ROMPE COM A
                           IGREJA CATÓLICA
No absolutismo a nobreza tinha o direito de co-
                                                            brar impostos, que tilintava primeiro no bolso dos no-
                                                            bres, para depois chegar aos cofres reais. A precarieda-
                                                            de dos meios de comunicação impedia a monarquia de
  ”Tudo que se encontra                                     organizar um sistema eficiente de arrecadação, deixan-
                                                            do os monarcas à mercê da nobreza. De olho no aumen-
  na extensão dos nossos                                    to do prestígio, os nobres disputavam nomeações de
                                                            títulos hereditários, indicados diretamente pelo rei.
   estados, de qualquer                                     Duques, marqueses, condes e barões lotavam as cortes,
                                                            desfrutando fantásticas regalias.
  natureza que seja nos                                             A pompa real servia para distinguir os integran-




                                                                                                                               O Estado Moderno
                                                            tes da corte do resto do povão. Nem a burguesia tinha
        pertence”.                                          acesso ao “fechado clube real”, salvo honrosas exce-
                                                            ções. Os códigos de etiqueta aprendidos com esmero,
                                                            integravam a educação formal, assim como as aulas de
                   Luís XIV                                 Filosofia e Teologia. Nesse teatro o rei era o astro prin-
                                                            cipal do espetáculo.
                                                                     Os monarcas do Estados Modernos, em maior
                                                            ou menor grau, concentraram em suas mãos poderes
        Entretanto, o crescimento posterior dos negó-       ilimitados. Reis famosos, como Henrique VIII, Felipe
cios e o acúmulo de capital, colocaria burgueses e          II, Luís XIV e tantos outros povoaram o imaginário de
monarquia absoluta em posições antagônicas, deto-           várias gerações e a produção de histórias fantásticas.
nando as incendiárias jornadas revolucionárias da In-       Inúmeros palácios e castelos foram construídos, códi-
glaterra e na França.                                       gos exigentes de etiqueta foram elaborados.
        Na hierarquia política os nobres estavam em
melhor condição que os ricos burgueses. Os monarcas
que despontavam no seio da nobreza, agiam em sintonia
com a classe à qual pertenciam. Na prática, era até
contraditório imaginar um monarca rejeitando a no-
breza, para governar com a burguesia. A aceitação in-
condicional da autoridade real permitiu aos nobres vi-
verem uma lua-de-mel de interesses com a monarquia
absoluta.
        A nobreza foi premiada com isenção de impos-
tos e o favorecimento nos assuntos judiciais, num cli-
ma de união quase nunca abalado. Viver num palácio
real era equivalente a viver no paraíso. O luxo e riqueza
ofuscavam os “pobres mortais” que não tinham essas
regalias. Os motivos mais banais eram comemorados
em festas que reuniam centenas de pessoas. Nessas
comemorações, a elite se amontoava ao redor das
mesas, deglutindo “elegantemente” os suculentos ban-
quetes.




                                                                                                                         Ao mesmo
                                                                                                                         tempo, cena de
                                                                                                                         interior e retrato
        “A corte toda assiste às refeições do rei: ele come só, ou com a família real,                                   de família que
  muito raramente convida alguém à sua mesa. Luís quer beber: O nobre que o                                              ilustra o novo
  serve proclama: Bebida para el-rei. Faz uma reverência, vaiao bufê tomar de um                                         modelo de vida
                                                                                                                         adotado pela
  cortesão a bandeja de ouro com o copo e as garrafas d’água e vinho, retorna                                            aristocracia e
  entre dois domésticos. Depois de nova reverência, os servidores provam as bebi-                                        pela burguesia.
  das em taças de vidro (velho hábito, para ver se não há veneno); o fidalgo inclina-                                    Willian Hogarth.
                                                                                                                         Reunião de
  se, apresenta o copo e as garrafas. O próprio serve-se da bebida (Luís XIV nunca                                       Família. londres.
  tomava puro o vinho). E o fidalgo, depois de curvar-se pela quarta vez, devolve a
  bandeja ao doméstico que a repõe no bufê. Este cerimonial leva uns dez minu-
  tos; comer e beber, de funções banais do dia-a-dia, se elevam a gestos espetacu-
  lares, que seduzem e se exibem.” 2
As carruagens da nobreza despertavam olhares                 A literatura da época inspirou-se nesse contex-
                         curiosos das pessoas excluídas das grandes festas e         to político para resgatar as glórias do passado. Várias
                         banquetes. Com efeito, esse conturbado período legou        publicações francesas ressaltavam a vitória de Carlos
                         para o mundo atual, vários padrões de comportamento         Martel, na batalha de Poitiers, em 732. As batalhas
                         e códigos de etiquetas, que teimam em sobreviver ape-       vencidas por Carlos Magno serviam como exemplo de
                         sar das inúmeras mudanças da história.                      bravura e coragem. A lembrança dos antepassados
                                                                                     gauleses honrava as tradições guerreiras do povo fran-
                         AS NAÇÕES E O PATRIOTISMO                                   cês. Os escritores italianos exaltavam o período de
                                                                                     glória da Pax Romana. Em Portugal, Camões escreveu
                                 A luta pela definição do espaço territorial das     Os Lusíadas, glorificando as façanhas dos navegado-
                         nações deixou o continente em estado de guerra, pro-        res conterrâneos que conquistaram o Novo Mundo,
      O Estado Moderno




                                        vocando o despertar do sentimento na-        enquanto Shakespeare utilizaria o mito de Henrique V
                                                 cionalista mesclado com a obri-     e a vitória inglesa na batalha de Azincourt como tema
                                                 gação de fidelidade à autorida-     de uma grande obra.
                                                 de real. Os laços de suserania e            Os juristas dos Estados Modernos recorreram
                                                 vassalagem transformaram-se         ao antigo Direito Romano para elaborar as leis das no-
                                                 em acordo coletivo da nação         vas nações. O contato ostensivo com o Oriente per-
                                                com o rei. O particularismo feudal   mitiu um conhecimento mais amplo do Corpus Juris
                                                foi substituído pela crença de       Civilis, disseminando a sua influência em todo o Oci-
                                                que o Estado era mais poderoso       dente. Os antigos romanos tinham por hábito glorifi-
                                                quanto mais forte era o rei. As      car os imperadores, vinculando-os às grandes conquis-
                                               guerras de perfil nacional contri-    tas, mitificando-os como magníficos heróis. O estilo
                         buí-                  ram para aumentar o prestígio dos     romano de exaltação da ordem e do poder se adequa-
                         reis, associando-os à imagem de estabilidade e segu-        va perfeitamente ao contexto de consolidação das mo-
                         rança. O interesse comum sobrepujou a necessidade par-      narquias nessa fase.
                         ticular, alçando os monarcas à condição de líderes na-
                         cionais.
                                                                                     A IGREJA E O ABSOLUTISMO

                                                                                             Depois de muita briga a autoridade real se im-
                                                                                     pôs à Igreja Católica. Na inversão dos papéis, os bis-
                                                                                     pos e padres tornaram-se vassalos dos reis. Ficou para
                                                                                     trás a época em que reis se ajoelhavam diante dos
                                                                                     papas implorando privilégios. No final da Idade Média
                                                                                     tornou-se comum, a nomeação de bispos e abades sob
                                                                                     interferência direta dos reis, que escolhiam os clérigos
                                                                                     de acordo com a conveniência política. A Reforma Pro-
                                                                                     testante no século XVI acentuou o recuo da Igreja, e
                                                                                     deu vantagens aos monarcas que se mostravam fiéis
                                                                                     ao catolicismo. Especialmente na Itália, França,
                                                                                     Espanha e Portugal, viu-se uma atitude de submissão
                                                                                     privilegiada em relação à autoridade real. O casamen-
                                                                                     to de interesses entre monarquia e clero permitiu à Igre-
                                                                                     ja desfrutar de invejáveis mordomias, tal qual a nobre-
                                                                                     za.




Festa de
camponeses.
Quadro de
1650. David                          “O progresso da monarquia absoluta não se deve apenas ao desejo, natural nos reis, de
Teniers                     aumentarem o seu poder. O Direito Romano já contribuíra, no século XIII, com a idéia do Príncipe
                                Absoluto que concentra na sua pessoa todos os poderes e cuja vontade faz lei. A voga da
                            Antigüidade dá, no século XVI, novo surto ao Direito Romano, acrescentando-lhe a idéia antiga do
                            herói, do semideus dominador e benfazejo. Contudo, não são apenas as representações mentais
                             que se impõem ao indivíduo e lhe determinam doravante os seus atos. O Direito Romano deveu
                             seu êxito ao fato de ter apresentado fórmulas cômodas para exprimir as tendências profundas
                               dos contemporâneos. O herói é o modelo do ser a quem os povos tem a necessidade de se
                            entregar. A doutrina do absolutismo corresponde às necessidades dominantes desta sociedade
                                                        e como que a um desejo do corpo social.” 4
As mudanças políti-
cas da Baixa Idade Média já                                                                    Tudo isso levou a
apontavam para esse cami-                                                              Igreja a aceitar o seu pa-
nho. Nunca é demais lembrar                                                            pel de coadjuvante na hie-
as dificuldades enfrentadas                                                            rarquia do Estado, o que
pela Igreja durante o proces-                                                          não excluía as inúmeras
so de formação da monar-                                                               vantagens desfrutadas,
quia francesa. O seqüestro                                                             face à condição de inte-
do papa Bonifácio VIII no                                                              grante das cortes européi-
século XIV, inverteu a ordem                                                           as. Para sua sorte, em di-
(não tão natural) das coisas.                                                          versas oportunidades de




                                                                                                                     O Estado Moderno
Na cidade de Avignon, por                                                              crise, os monarcas termi-
três mandatos os papas fo-                                                             navam recorrendo ao au-
ram obrigados a governar a                                                             xílio da Igreja, buscando
cristandade sob influência do                                                          suporte ideológico, na su-
rei francês Felipe IV. O ve-                                                           posta vontade divina dos
xame eclesiástico inspirou a                                                           reis governarem. A propa-
elaboração de obras políticas                                                          ganda religiosa em defesa
que defendiam uma nova                                                                 dos monarcas católicos
postura da Igreja Católica.                                                            ajudou a consolidar a au-
        O livro “Do poder                                                              toridade real, vinculando o
Real e do Poder Papal”, es-                                                            pecado à contestação da
crito por João de Paris, em              “O Estado sou eu”.                            ordem pública.
1302, indicava que o clero                              Luís XIV
deveria se limitar ao poder                                                            A NATUREZA DO
espiritual. Defendia que o                                                             ESTADO
poder temporal tinha de ser
exercido pelo rei, no papel de administrador das ques-

                                                                 A
                                                                          definição política do Estado Moderno
tões políticas na Terra. Dizia que o papa era superior                    provocou polêmicos debates entre os
em dignidade, mas isso não lhe dava o direito de inter-                   historiadores. Uma corrente defende a
ferir nos assuntos do Estado. Em outra obra, O essência burguesa, alegando a presença de ministros
Defensor da Paz, de Marsiglio de Pádua, publicada em burgueses em funções importantes no Estado. Os de-
1324, afirmava-se que o clero deveria se ocupar do fensores dessa idéia ressaltam o apoio incondicional dos
mundo espiritual, deixando para o governo a burgueses, na época de formação das monarquias. Ou-
preocupação com o mundo natural e secular. Acredita- tro grupo de historiadores defende a neutralidade do
va Marsiglio, que o Estado não precisava da instrução Estado Moderno, alegando uma postura que estaria
do papa para governar os súditos.                         acima dos grupos sociais. Uma terceira corrente defende
        A conduta dos integrantes da Igreja ajudava a o caráter feudal do Estado destacando os privilégios
aumentar o clima de animosidade, como provam inú- concedidos à nobreza e ao clero. Analisando-se as três
meros relatos que descrevem situações absurdas, ocor- visões encontramos falhas em todas as concepções.
ridas em mosteiros e conventos. A propagação da im-              Os defensores do caráter burguês esquecem que
prensa e a efervescência do Renascimento Cultural o número de ministros burgueses era irrelevante, quan-
ajudaram a difundir essas obras, colocando a Igreja do comparado a quantidade exagerada de ministros
em postura defensiva. Bocaccio, ao escrever Deca- nobres e eclesiásticos. Além do mais, o apoio incondi-
meron, denunciava “a vida devassa e sórdida do cle- cional da burguesia foi suplantado em importância, na
ro” e os pecados “naturais e sodomíticos” de monges integração da nobreza com os monarcas, após as su-
e padres.                                                 cessivas crises que abalaram o
        “Não causa surpresa, quando as altas cama- século XIV. Além disso, os ri-
das do clero se encontravam em tal estado, que, entre gores do mercantilismo agi-
as ordens regulares e o clero secular, os vícios e as ram como camisa de força,
irregularidades de toda espécie se tivessem tornado impedindo a livre expansão
cada vez mais comuns. (...) Não é de se admirar, con- dos negócios burgueses.
forme depõem tristemente os escritores contemporâ-               Para a nobreza e o
neos, que se haja demonstrado pouco respeito para clero os reis asseguraram
com os sacerdotes. A imoralidade deles era tão cho- a participação no aparelho
cante que já se começavam a ouvir sugestões de se do Estado. A escolha dos
permitir que se casassem.(...) Muitos dos mosteiros nobres que preenchiam
encontravam-se em condições deploráveis. Os três es- cargos burocráticos cobria
senciais votos de pobreza, obediência e castidade, uma lacuna importante,
eram, em alguns conventos, quase inteiramente des- substituin
prezados.” 5
As regalias obtidas pelos grupos detentores
                            do as rendas feudais que diminuíram com o passar do      do poder invalidavam a opção de neutralidade, diante
                            tempo. Os nobres que permaneceram em suas terras         de uma realidade em que classes parasitas sugavam a
                            tiveram dos reis a conivência e permissão para a co-     riqueza produzida pelo restante da sociedade.
                            brança de extorsivos impostos, como se ainda estives-             A defesa do caráter feudal perde sustentação
                            sem no auge da época feudal. Na véspera da revolução     quando se constata que apesar de submeter a burgue-
                            em 1789, camponeses da França imploravam ao rei que      sia, os reis procuravam barganhar um mínimo de van-
                            abolisse a corvéia e outras terríveis imposições. Como   tagens que lhes permitissem em troca, desfrutar do ca-
                            a nobreza não pagava impostos, vivia do sustento pro-    pital burguês. Além da já citada uniformidade de im-
                            porcionado pelas outras classes - burguesia e campo-     postos, taxas e leis, os reis desenvolveram o mundo
                            neses, desfrutando das mordomias e regalias garanti-     dos negócios, incentivando a abertura de bancos e o
         O Estado Moderno




                            dos pelo Antigo Regime.                                  crescimento das manufaturas. O Estado Moderno, de
                                   A segunda teoria, da posição neutra do Estado,    um lado, restringia os negócios burgueses através das
                                                                                     inúmeras regras burocráticas do mercantilismo mas,
                                                                                     de outro, não sobrevivia sem a força do capital burgu-
                                                                                     ês. O círculo vicioso na esfera do capital tornava a
                               “Os reis são senhores                                 burguesia dependente dos reis para se estabelecer com
                                                                                     uma certa tranqüilidade, enquanto que aos reis sosse-
                                  absolutos e têm                                    gava a possibilidade recorrer à burguesia nos momen-
                                                                                     tos de dificuldade.
                             naturalmente a disposição                                        Mas se as três teorias não têm sustentação, que
                                                                                     tipo de Estado é o Absolutismo? “Seria inútil, além
                             plena e inteira de todos os                             de errôneo, tentar definir esse tipo de Estado a partir
                                                                                     de caracterizações mais ou menos unilaterais como
                              bens que são possuídos                                 feudal, capitalista ou neutro. A rigor, ele não é exata-
                               tanto pelas pessoas da                                mente nenhuma dessas coisas. Trata-se do tipo de
                                                                                     Estado que caracteriza a transição, impossível de ser
                                 igreja como pelos                                   reduzido a mero epifenômeno da estrutura econômi-
                                                                                     ca, ou seja, do modo de produção dominante.
                                     seculares”.                                              Trata-se de uma relação essencialmente con-
                                                                                     traditória: o apoio ao capital comercial e, pelo me-
                                                                    Luís XIV         nos de início, ao capital industrial não se opõe, ne-
                                                                                     cessariamente, à defesa e manutenção dos interesses
                                                                                     senhoriais ou feudais da aristocracia dominante. Para
                            despreza a própria origem do monarca, identificado de    compensar o declínio da renda feudal, o Estado ab-
                            antemão, com os interesses da classe à qual pertence.    solutista necessita cada vez mais aumentar seus pró-
Carnaval “o rei             A aristocracia escolhida para compor o governo era,      prios rendimentos e isso só se torna possível prote-
bebe”, do pintor            em sua imensa maioria, oriunda da nobreza e do clero     gendo e estimulando ao máximo as atividades produ-
belga David                 passando a exercer, daí em diante, o papel de classe     tivas em geral. O Estado absolutista tende a expres-
Teniers
                            dominante.                                               sar a busca de um equilíbrio precário, a longo prazo
                                                                                     impossível, entre classes e frações de classe cujos in-
                                                                                     teresses são em parte complementares e em parte an-
                                                                                     tagônicos.” 7

                                                                                     AS MONARQUIAS E OS REIS

                                                                                             Cada nação desenvolveu ao longo do Antigo
                                                                                     Regime, uma ordem política que variava de acordo
                                                                                     com as circunstâncias, não havendo no continente
                                                                                     europeu, um modelo único de monarquia absoluta. A
                                                                                     rigor, pode se dizer que França e Espanha foram os
                                                                                     exemplos mais contundentes de monarquia absoluta.
                                                                                     As duas tiveram sua época de glória nos séculos XVI
                                                                                     e XVII. Os dois países serviram de referência para as
                                                                                     outras cortes européias. Cada uma, no seu tempo,
                                                                                     serviu de modelo de prosperidade e grandeza.
                                                                                             No apogeu das conquistas nas regiões ultra-
                                                                                     marinas, a monarquia espanhola se tornou um império
                                                                                     intercontinental.
“Em seus graus de dignidade
   e poder, os nobres do século XVII
     assemelhavam-se às cartas do
         baralho, que era um dos
   passatempos prediletos da época.
   Na categoria mais alta estavam os
     reis, que chefiavam as grandes




                                                                                                                       O Estado Moderno
     casas reinantes da Europa; seu
    jogo era o poder, seu tabuleiro o
            mapa da Europa.” 6




                                  A família de Filipe V. Quadro de Louis Michel de Toulon. 1743




       O
                      rei Filipe II se gabava que           várias confusões, a começar pela revolta da nobreza - a
                  a Espanha possuía regiões, de onde o      Fronda, colocando a monarquia em situação muito deli-
                  sol nascia, até onde o sol se punha”.     cada. Entretanto, Mazarino saiu-se muito bem, neutrali-
Exageros à parte, em 1580 a dominação espanhola             zando os nobres descontentes.
consistia no controle de várias regiões da Europa -                 O sucesso deu-lhe fôlego para conduzir a mo-
Portugal, Holanda, Sacro Império Romano-Germânico           narquia até que Luís XIV tivesse idade para assumir o
e alguns reinos italianos, mais as regiões colonizadas      trono. Em 1661, o cardeal transmitia ao jovem monarca,
na América e pontos de comércio no continente asiáti-       um país embalado pela ascensão econômica e estável
co.                                                         politicamente. A história conspirava em favor dos
        Com o apoio da Igreja, em 1520, o rei espa-         franceses, pois a Espanha tinha sido esmagada na Guerra
nhol Carlos V assumiu o controle do gigantesco Im-          dos 30 Anos e a Inglaterra não era concorrente para
pério Romano- Germânico. A região era um vasto              disputar a hegemonia política da Europa.
complexo feudal correspondendo, nos dias de hoje, à
junção territorial da Alemanha, Áustria e uma parte            “O rei vê de mais longe e
do território polonês. Para azar de Carlos V, nesse exato
momento, começavam os protestos de Lutero,                         de mais alto; deve
desencadeando a Reforma Protestante. Agindo sob
pressão o monarca topou uma briga que no final lhe              acreditar-se que ele vê
traria grandes dores de cabeça.
        O ouro e a prata obtidos na América não basta-         melhor, e deve obedecer-
ram para financiar as guerras contra os rebeldes pro-
testantes. Em 1555, o rei espanhol foi obrigado a assinar
                                                                 se-lhe sem murmurar,
a Paz de Augsburgo, permitindo aos príncipes alemães            pois o múrmurio é uma
optarem pela religião protestante. Além disso, a política
negligente da monarquia relegava a produção de                     disposição para a
manufaturas a um plano secundário.
        Desenrolou-se então, uma situação completa-                     revolta”.
mente inusitada. A Espanha ostentava a condição de
nação mais poderosa, mas mendigava empréstimos aos                                                  Bousset
banqueiros europeus. O ouro da América foi
insuficiente para abastecer os gastos da suntuosa cor-
te espanhola. Após a Guerra dos 30 Anos, a Espanha
perdeu a condição de monarquia mais importante,                    A morte de Mazarino deixou inicialmente a corte
substituída então pela França.                              apreensiva com o futuro da nação. Mas quando o arce-
        A França teve seu momento de glória no reina-       bispo de Paris perguntou a Luís XIV a quem deveriam
do de Luís XIV, legando para a história o exemplo           os franceses recorrer dali em diante, prontamente o rei
mais completo de autoridade real. O rei assumiu o tro-      lhe respondeu que assumiria pessoalmente o trono. No
no com cinco anos de idade, mas só veio efetivamente        seu reinado de 54 anos, o monarca exrceu o poder com
a governar após a morte do cardeal Mazarino, que havia      extrema autoridade. Ao final, seria lembrado como o Rei-
sido o seu tutor. A regência do cardeal foi marcada por     Sol.
Logo que tomou posse, Luís XIV tratou de or-               Após a renovação militar organizou-se na
                   ganizar um ministério e um corpo de auxiliares que lhe     França, um exército absolutamente profissional, revo-
                   devotassem total lealdade. Os monarcas anteriores dis-     lucionando os padrões militares da época.
                   tribuíam cargos entre a nobreza, na proporção direta               O exército foi submetido a uma rígida hierar-
                   da influência que eles exerciam na corte. Esse prece-      quia, imitada mais tarde por outros países. Todos os
                   dente tinha provocado sérios problemas, porque os no-      oficiais eram controlados pessoalmente pelo rei, que
                   bres não se sentiam ligados ao rei. Normalmente, inte-     indicava os intendentes de armas para se misturar com
                   ressavam-se apenas em defender seus interesses pes-        a tropa, na tentativa de identificar possíveis proble-
                   soais. Desarticulando o esquema, o rei escolheu seus       mas.
                   principais assessores nas classes mais intermediárias.              Estratégias eram decididas meticulosamente
O Estado Moderno




                            “Mas mesmo contando com homens que eram           pelos comandantes graduados, sempre em sintonia com
                   exclusivamente instrumentos seus, Luís decidiu con-        a vontade real. O único (e grande) defeito do exército
                   servar firmemente nas mãos as rédeas do governo. Em-       de Luís XIV era a utilização excessiva de mercenários
                   bora não fosse um homem de inteligência extraordiná-       que, obviamente, não lutavam com o mesmo ardor
                   ria, compensava essa deficiência com a dedicação ao        patriótico dos soldados identificados com a nação.
                   trabalho. Todas as decisões, insistiam sempre, tinham
                   de ser decisões suas. Nenhum detalhe, por ínfimo que
                   fosse, escapava à sua atenção. “Nunca, enquanto vivo




                                              “Como é importante que
                                              o público seja governado
                                                 por um só, também
                                                 importa que quem
                                             cumpra esta função esteja
                                              de tal forma elevado que
                                                  ninguém se possa
                                               confundir ou comparar
                                                       com ele”.
                                                                         Luís XIV



                   fores, despaches em nome do rei sem sua aprovação                  A economia foi conduzida com extrema habili-
                   expressa”, escreveu Colbert, um dos ministros mais tra-    dade por Colbert - o incansável defensor da balança
                   balhadores e mais dignos da confiança de Luís, a seu       de comércio favorável. O mago da economia na corte
                   filho e sucessor”. 8                                       de Luís XIV`, entrou para a história ao fazer milagres
                           Para compor a sua corte o rei convocou cerca       num país que esbanjava riqueza construindo palácios
                      de 10 000 pessoas que viviam devotadas ao gover-        suntuosos. Antes de Colbert, a desordem econômica
                               no do Estado. As províncias distantes eram     beirava o caos. A maioria das regiões agia por conta
                                         freqüentemente visitadas pelos       própria. Os impostos eram cobrados sem o menor cri-
                                           intendentes, que transmitiam ao    tério e boa parte ficava nas mãos de funcionários
                                            monarca um relato dos proble-     corruptos que enriqueciam as custas da omissão do
                                            mas a serem resolvidos. O exér-   Estado.
                                             cito foi renovado eliminando-            Em várias regiões os nobres, aleatoriamente,
                                              se os vícios da época feudal.   cobravam impostos embolsando uma boa parte, por
                                               Havia inúmeros casos de no-    conta dos serviços prestados ao rei. Até a nomeação
                                               bres que desobedeciam à au-    do superministro Colbert, o rei não havia controlado
                                               toridade real pelos motivos    as finanças e os gastos da corte. Basta se observar,
                                               mais banais. Quando não es-    que as corporações de comércio e ofício agiam como
                                              tavam satisfeitos, os nobres    se estivessem ainda na época feudal.
                                             demonstravam uma atitude
                                  hostil que enfraquecia as monarquias.
“O ballet moderno resultou
                                                           principalmente da paixão da corte fran-
                                                           cesa do século XVII pela dança e pelas
                                                            representações teatrais de amadores.
                                                             Várias noites da semana podiam ser
                                                             dedicadas a tais divertimentos, e os
                                                          aristocráticos intérpretes passavam dias
                                                             ensaiando seus papéis. Como parte
                                                           fundamental da educação de todos os




                                                                                                                   O Estado Moderno
                                                                 nobres, esses espetáculos,
                                                           caracterizados por trajes requintados e
                                                            cená-rios fantásticos, pouco a pouco
                                                             assumiram a forma da moderna arte
                                                                        coreográfica”.9




       A
                 fórmula mágica aplicada por Colbert,            Em Versalhes todos os detalhes adquiriam uma
                 não tinha grandes mistéri               característica especial. Os jardins impressionavam pela
                 os. O ministro implantou um esquema     simetria e pela organização racional dos elementos da
regular de verificação das contas da corte, colocando    natureza. Nos aposentos não faltavam objetos de ouro,
a nobreza na “corda curta”. Afastou os funcionários      candelabros de cristal, tapetes orientais e vasos de
corruptos e criou um grupo de fiscais, responsáveis      mármore. Vários nobres viviam no palácio ou nos seus
pela inspeção minuciosa das finanças reais. Além dis-    arredores. Para distraí-los organizavam-se festas
so, derrubou todas as barreiras que existiam para a      magníficas, além de apresentações de balé e teatro.
realização do comércio entre as regiões francesas. Di-            Tanto poder e tanta glória sumiram na fumaça
versas estradas foram construídas, permitindo um aces-   das varias guerras, que sugaram as finanças e drena-
so mais fácil aos locais mais distantes.                 ram recursos para o exército real. Teimosamente o rei
        As companhias de comércio que apresentaram       caía na armadilha e se embrenhava em conflitos inú-
um perfil mais moderno tiveram o incentivo do Estado     teis e desnecessários. Já no final do seu reinado, a
na forma de empréstimos e concessões. Colbert foi        derrota na Guerra de Sucessão Espanhola, frustrou a
atrás dos principais mestres artesãos, levando-os para   pretensão de Luís XIV coroar seu neto como rei da
a França, em troca de prestígio e compensação finan-     Espanha. O conflito terminou com a vitória inglesa que
ceira. Mas apesar de todas estas mudanças, Colbert       se afirmaria como potência continental.
não conseguiu acabar com o “câncer” responsável                  O rei Luís XIV morreu esquecido e doente, em
pela corrosão da economia - a moleza da nobreza e do     1715. Sua última frase - “Eu amei demais a guerra; não
clero. As classes parasitas eram isentas de impostos e   me imite nisso, nem nos gastos exagerados” - foi ouvi-
sugavam boa parte das rendas do Estado.                  da pelo delfim Luís XV, que parece não ter levado mui-
        No auge da monarquia o Palácio de Versalhes      to a sério os conselhos do pai. Seu futuro governo
tornou-se o símbolo desse imenso poder. Para cons-       seria uma repetição dos mesmos erros e problemas. Os
truí-lo foram reunidos os melhores artesãos, jardinei-   nobres vendo que o rei estava perto de morrer,
ros, arquitetos e artistas. O custo de meio bilhão de    deixaram-no abandonado à própria sorte (ou azar!).
dólares é bem modesto aos padrões contemporâneos,        Ninguém na Europa tinha governado tanto tempo, afi-
mas para a época significava uma soma absurda. .         nal, foram 54 anos de reinado. Dizia-se em Paris que já
                                                         era hora de terminar. A suntuosidade de Versalhes
                                                         contrastava com 80% da população que vivia pratica-
                                                         mente na miséria.



               “Como ninguém era digno de comer ao lado do rei, Luís jantava só; os validos da corte olhavam
    fascinados - em parte porque Luís dispensava o uso do garfo, então uma invenção moderna. Seus casos de
   amor e suas reais amantes eram o tópico mais importante da conversação palaciana; seus comentários mais
      triviais eram fielmente repetidos e interminavelmente discutidos. Viver na temerosa presença do Rei Sol,
          observou um contemporâneo, era como viver na presença de Deus. Mas, como nada é perfeito! As
     instalações hidráulicas no palácio eram insuficientes e incômodas; até os nobres mais luxentos preferiam
         urinar nas escadas. Como se vê, o nível de limpeza pessoal era baixíssimo, e os banhos eram quase
    desconhecidos. Em vez disso, homens e mulheres, sem distinção, encharcavam-se de perfume, empoavam
                        as grandes cabeleiras, e procuravam dar uma falsa idéia de limpeza”. 10
O Mercantilismo
         O Estado Moderno




                                   D
                                             eu-se o nome de Mercantilismo ao con                “Ao findar o século XVII, a população espa-
                                             junto de práticas econômicas adotadas       nhola fora reduzida em 1 milhão de habitantes (to-
                                             pelas monarquias absolutistas do An-        mando-se, para comparação, os primeiros anos da-
                            tigo Regime. Essas medidas variavam com o tempo,             quele século); por volta de 1715, enfim, a população
                            dependendo do contexto em que foram aplicadas. Ini-          espanhola voltara à marca de 1514: 7,5 milhões. Essa
                            cialmente, no século XVI, o ouro e prata obtidos pela        redução populacional pode ser explicada como o re-
                            Espanha nas colônias americanas motivaram o                  sultado de causas naturais e de causas decorrentes
                            surgimento do metalismo. Essa concepção associava a          da ação humana: as pragas e epidemias agiram na
                            riqueza das nações à quantidade de metais preciosos          mesma escala em que o fizeram no restante da Euro-
                            acumulados nos cofres reais. Segundo a crença, quan-         pa, a conquista e o desenvolvimento coloniais absor-
                                                                 to mais ouro e pra-     veram um número maior de vidas do que o indicado
                                                                 ta, mais rica era uma   pelos registros oficias. (...) Por fim, a expulsão dos
                                                                 nação.              A   judeus e dos árabes e a fuga dos cristãos-novos e dos
                                                                 hegemonia espa-         últimos árabes representaram um êxodo de importan-
                                                                 nhola no continen-      tes contingentes populacionais. O declínio da popu-
                                                                 te contribuiu para      lação, não obstante, constituiu apenas um dos aspec-
                                                                 reforçar a tese me-     tos de um fenômeno muito mais generalizado e de
                                                                 talista, servindo de    particular significação face ao desenvolvimento eco-
                                                                 modelo para outras      nômico: a contração econômica.” 11
                                                                 nações européias.               Ironicamente, a circulação intensa de ouro e
                                                                 Na Inglaterra o         prata por todo o continente provocou, no final do sé-
                                                                 metalismo era co-       culo XVI, uma queda brutal no valor dos metais preci-
                                                                 nhecido como bu-        osos, ocasionando a primeira grande inflação da histó-
                                                                 lionismo, da pala-      ria. A “Revolução dos Preços”, como ficou conhecido
                                                                 vra bullion - ouro e    o episódio, mostrou a fraqueza das concepções
                                                                 prata, em inglês.       metalistas. A obsessão pelo acúmulo de metais gerou
                                                                          Depois de      nos países europeus um processo inflacionário de lon-
                                                                 evidenciado no sé-      ga duração. A Espanha foi a mais prejudicada pois era
                                                                 culo       XVI      o   a principal patrocinadora da orgia metalista.
                                                                 metalismo entrou                Portugal, por razões diferentes, também teve o
                                                                 em decadência. O        mesmo destino. Depois de um início promissor, quan-
                                                                 exemplo            da   do lucraram bastante no comércio com as Índias, os
                                                                 Espanha se revelou      portugueses esgotaram os recursos disponíveis com
A auto-suficiência          o pior possível, pois a abundância de metais provocou        os gastos excessivos da monarquia. Os portugueses
econômica e a
produção de                 a letargia da economia espanhola, prejudicando o de-         cometeram o mesmo erro dos espanhóis, achando que
excedentes para a           senvolvimento das atividades produtivas. Em                               a riqueza nunca se acabaria. A exploração
exportação                  contrapartida, cometiam o absurdo de impor-                                  do açúcar não alterou esse quadro, pois
constituíam                 tar palitos e cordões. A Espanha gastou                                       dependiam da Holanda para refinar o
importantes
metas da política           milhões para sustentar o luxo da corte, es-                                   produto. Tanto Espanha como Portu-
econômica                   quecendo que um dia, o ouro e a prata pode-                                    gal descuidaram da produção de ma-
mercantilista,              riam terminar. A ambição pelo ouro levou                                       nufaturas. O desleixo tornou-os de-
colocada em                 milhares de espanhóis a uma louca aventura                                      pendentes dos países efetivamente
prática pelo
Estado absolutista          na América. Muitas regiões de produção                                          ricos do continente europeu.
da Era Moderna.             agrícola foram abandonadas, em troca da
Na gravura, o               riqueza fácil em terras americanas.
porto de Toulon
na França.
lho, num país inundado de produtos estrangeiros e
                                                             depois de economia estagnada, ele estaria na miséria,
                                                             e o Estado perdendo sua força, ficaria exposto aos
Balança de Comércio                                          piores males, à invasão e ao domínio estrangeiro”. 13


     Favorável      O INTERVENCIONISMO

                                                                     As monarquias do Antigo Regime se destaca-
                                                             ram pela rigorosa intervenção na economia. O Estado
                                                             foi o agente fiscalizador das companhias de comércio,




                                                                                                                              O Estado Moderno
       O
                   fiasco das concepções metalistas exi      adotando severa fiscalização nas manufaturas e a co-
                  giu                 a                for   brança de inúmeras taxas e impostos. Os fiscais reais
                  mulação de um meio mais consistente        não deixavam a burguesia em paz, averiguando desde a
e seguro de garantir a riqueza das nações. Dentre as         quantidade das mercadorias produzidas, até o cumpri-
varias concepções, destacou-se o ministro Colbert –          mento das normas de qualidade.
mago da economia na corte de Luís XIV. Sua política                  Na França de Colbert houve um abrandamento
consistia em produzir o máximo de manufaturas e im-          do controle real, permitindo-se algumas regalias à bur-
portar o mínimo de mercadorias. Com essa fórmula             guesia. Investimentos foram liberados para o incentivo
evitava a drenagem de ouro e prata para os cofres das        de novas manufaturas, com prazo elástico de carência
outras nações. A França de sua época o país de maior         para o pagamento dos empréstimos. As manufaturas
protecionismo alfandegário, visando afastar a concor-        mais qualificadas recebiam isenções fiscais, instalações
rência estrangeira e fortalecer a produção interna. Além     gratuitas e prêmios pela produção.
disso, a proteção das manufaturas francesas foi vin-                 O Estado no absolutismo agia em benefício do
culada à valorização da mão-de-obra especializada,           seu próprio desenvolvimento. O crescimento da bur-
como forma de aprimorar a produção. O objetivo final         guesia era sob intenso controle estatal. As razões polí-
de Colbert era conseguir um saldo positivo para o Es-        ticas preponderavam em relação aos fatores econômi-
                              tado e o equilíbrio das fi-    cos e o fortalecimento da autoridade real dependia dire-
                                nanças, em suma, a ba-       tamente do sucesso das medidas econômicas. A mo-
                                  lança de comércio favo-    narquia absoluta não abriu mão do controle da econo-
                                  rável.                     mia, adotando
                                         França, Ingla-      m e d i d a s
                                 terra e Holanda, apesar     protecionistas e
                                dos altos e baixos, foram    barreiras alfande-
                                capazes de assegurar a       gárias.
                               balança favorável. As ou-             Havia nas
                         tras nações não conseguiram         p r á t i c a s
sair do estágio agrícola e dependência do capital es-        mercantilistas
trangeiro. A Holanda sempre manteve as característi-         uma obsessão
cas de centro financeiro e bancário, realizando emprés-      pela qualidade
timos e financiando as monarquias debilitadas. A In-         das mercadorias.
glaterra a partir do século XVII, desenvolveu ativa pro-     Controlava-se a
dução manufatureira, abastecendo o continente intei-         p r o d u ç ã o
ro. A França desfrutou da glória no reinado de Luís          vigiando          a
XIV, onde despontaram os já citados esforços do mi-          quantidade, para
nistro Colbert.                                              que            não
        “É preciso, com efeito, exportar o máximo e,         excedesse         a
de preferência, artigos fabricados, pois o trabalho          capacidade de
neles invertido aumentou-lhes o valor. É necessário,         c o n s u m o ,
pois, dispor do maior número possível de produtores          principalmente dos produtos que não eram exportados.
e seguir uma política de aumento da natalidade. Mas,         A pequena concorrência gerava preços altos,
para vencer a concorrência, vender uma qualidade             restringindoà elite o consumo das mercadorias              Quadro do
maior a um preço menor. As taxas de juro devem, por          manufaturadas. A França terminou sendo a maior vítima      século XVII
conseguinte, ser baixas, de modo que o empresário                                                                       mostra o
                                                             dessa realidade, pois a maior parte de sua produção era    ministro Colbert
capitalista encontre capital barato. O operário deve         de artigos de luxo, em detrimento das mercadorias mais     reunido com
ganhar pouco e é preciso mantê-lo num baixo nível            simples.                                                   outros ministros
de vida.                                                             A existência das corporações beneficiava o Es-     da corte
                                                             tado absolutista, porque a sua rigidez combinava com
                                                             as intenções do rei. Com a consolidação das monarqui-
                                                             as, as eleições nas corporações tornaram-se um jogo de
       De outro modo, porém, se lhes faltasse traba-         cartas marcadas. Só os artesãos e donos das manufatu-
ras mais ricas tinham chance de conquistar os cargos       cuja contrapartida é o nível bastante baixo dos
                           mais importantes. O Estado conseguiu criar um grupo        salários. Na mentalidade da época, misturam-se, por
                           fiel a seus interesses que, sucessivamente, se revezava    isso mesmo as preocupações assistenciais para com
                           nas corporações. Os corpos municipais contavam com         os necessitados e a condenação à vagabundagem e à
                           a participação das pessoas ligadas à corporação e tam-     ociosidade, e isso de uma forma tal que,
                           bém foram monopolizados pela burocracia real. Com          freqüentemente, o auxílio tem como contrapartida o
                           isso os monarcas neutralizavam possíveis reações às        trabalho obrigatório, ao mesmo tempo que a recusa
                           medidas impopulares.                                       a trabalhar oferece a justificativa para a repressão
                                    A situação dos operários nas manufaturas era a    mais violenta e desumana.” 15
                           pior possível. O Estado exigia sacrifícios enormes vin-
                           culando o trabalho ao progresso da nação. Imprimia-se      O PACTO COLONIAL
        O Estado Moderno




                           um ritmo louco de trabalho, envolvendo integralmente
                           os operários na maratona da produção.                              A exploração colonial estava diretamente vin-
                                    A Igreja Católica estimulava a obediência aos     culada ao mercantilismo. As nações absolutistas im-
                           patrões e combatia o descontentamento dos rebeldes.        puseram às colônias, o consumo de manufaturas e ou-
                           Nas manufaturas e artesanatos, celebrava-se a missa        tros artigos, exclusivamente fornecidos pelas metró-
                           diariamente. As refeições eram precedidas pela leitura     poles. O Estado vendia às suas colônias, produtos de
                           da Bíblia e os padres ensinavam cânticos religiosos vin-   alto valor e comprava mercadorias tropicais a um pre-
                           culados ao trabalho. A falta grave era punida com chi-     ço irrisório. A revenda de produtos tropicais no merca-
                           cotadas e os salários eram irrisórios. O operário rece-    do europeu objetivava a balança de comércio favorá-
                           bia, no máximo, o suficiente para o sustento da família.   vel. As colônias eram rigorosamente proibidas de pro-
                           A jornada era de doze a dezesseis horas diárias, com o     duzirem manufaturas, e até um simples alfinete podia
                           intervalo de 30 a 45 minutos para a refeição.              ser motivo de severas punições. A produção colonial
                                                                                                 era limitada a artigos rudimentares: sandálias
                                                                                                 de couro, selas de transporte, roupas para
                                                                                                 escravos e outros artigos de pequeno valor.
                                                                                                          Apesar do controle, nem sempre a
                                                                                                 metrópole lucrava com o exclusivo colonial.
                                                                                                 As monarquias sem potencial produtivo,
                                                                                                 como Portugal e Espanha, eram obrigadas a
                                                                                                 comprar mercadorias em outras nações. No
                                                                                                 final a parte do leão caía no bolso alheio, em
                                                                                                 prejuízo das nações ibéricas. A Inglaterra que
                                                                                                 se especializou em produção de manufatu-
                                                                                                 ras, deitou e rolou no comércio colonial. In-
                                                                                                 diretamente terminou sendo a maior potência
                                                                                                 colonial.
                                                                                                         O Mercantilismo se apresentou de
                                                                                      formas variadas, a depender do contexto de cada nação.
                                  “Ao focalizar a questão da quantidade maior         As particularidades se relacionavam ao potencial
                           ou menor de homens desempregados, os mercantilistas        econômico de cada Estado. A França no século XVI,
                           fazem questão de distinguir entre aqueles que não          deu ênfase à produção agrícola, visando a exportação
A sede da Cia
                           trabalham porque não têm onde, e aqueles que são           e obtenção de moedas e metais preciosos. O
das Índias
Ocidentais, em             desempregados por sua exclusiva culpa, aliás a mai-        desenvolvimento e a conquistas colônias na América,
Amsterdã.                  oria. Para estes são válidos os meios coercitivos que      mudaram essa realidade, conduzindo o Estado para o
Fundada em                 o Estado e os empresários devem utilizar para forçá-       incentivo à produção manufatureira, de olho, princi-
1621, a empresa
                           los a uma atividade digna, honrosa e produtiva. Por        palmente, no promissor mercado colonial.
holandesa
prosperou,                 detrás desse discurso, sente-se claramente toda uma
entre outras               orientação voltada para a compulsão ao trabalho,
razões, por
monopolizar o
comércio de
                                   “Se o francês soubesse conservar suas riquezas e fruir de seu bem, comandaria
açúcar na
Europa. As                  todas as nações, estando ornado em tempo de paz, e fortificado em tempo de guerra, de
dimensões de                 uma quantidade incrível de ouro e prata, pela abundância que para aí aflui de todas as
sua sede dão                                                  partes.” (Garrault)
uma idéia do
                                      “E desde que saibamos nos aproveitar das vantagens que a natureza nos
seu poderio na
época.                        concedeu, tiraremos a prata daqueles que quiserem ter nossas mercadorias que lhes
                              são necessárias e não nos sobrecarregaremos muito com seus gêneros, que nos são
                                                        tão pouco úteis.” (Richelieu) 14
A Inglaterra teve um desenvolvimento peculi-                “Na Inglaterra e na Holanda o governo defen-
ar, pois administrou sua economia em ritmo diferente       dia os interesses econômicos. Quando os espanhóis
dos outros países europeus. A necessidade de prote-        perderam o controle das províncias do norte da
ger o território gerou o incentivo da indústria naval.     Holanda, no último quartel do século XVI, o poder
Com isso se desenvolveram várias manufaturas, inter-       político foi-se transferindo, cada vez mais, para as
ligadas à construção de navios. Nos campos houve           mãos da aristocracia urbana de comerciantes e fabri-
mudanças com inserção de práticas capitalistas. Os         cantes sediados em Amsterdã. Esses interesses urba-
cercamentos, como foram chamados, transferiram para        nos adotaram políticas que atenderam às suas conve-
a burguesia várias terras, antes pertencentes à nobre-     niências. A partir de 1590, mandaram fechar o Scheldt
za. Nessas terras a criação de carneiros e ovelhas         (o rio que liga Antuérpia ao mar do Norte) ao tráfico
garantiu o fornecimento da lã – matéria prima essenci-     comercial. Essa medida representou um golpe mortal




                                                                                                                          O Estado Moderno
al para as manufaturas têxteis. A produção e exporta-      à fortuna econômica da cidade que havia dominado o
ção de artigos manufaturados estabilizaram a balança       comércio entre o norte e o sul da Europa, e entre a
de comércio. No século XVII, a Inglaterra era nação,       Inglaterra e o continente europeu, em fins do século
economicamente, mais poderosa do continente euro-          XV e parte do século XVI. A posição de Antuérpia foi
peu.                                                       perdida para Amsterdã e, mais tarde, para Londres e
                                                           Hamburgo. A criação da Companhia Holandesa das
                                                           Índias Orientais e do Banco de Amsterdã, na primeira
    “Os meios ordinários,                                  década do século XVII, também nasceu de uma alian-
                                                           ça entre os setores econômicos e o governo, na defesa
  portanto, para aumentar                                  de seus interesses mútuos”. 16
                                                                    As práticas mercantilistas tiveram, portanto,
 nossa riqueza e tesouro são                               grande influência no acúmulo de capital e no enriqueci-
                                                           mento das nações européias. Até o século XVIII, deter-
   pelo comércio exterior,                                 minaram a forma
                                                           como os reis,
     para o que devemos                                    governantes e
   obedecer sempre a esta                                  seus ministros de-
                                                           veriam administrar
      regra: vende mais                                    seus Estados. Foi aí
                                                           que apareceram as
       anualmente aos                                      primeiras contesta-
                                                           ções à forma rigo-
  estrangeiros em valor do                                 rosa de interven-
                                                           ção do Estado, que
  que consumimos deles.”                                   bloqueava as in-
                      Colbert                              tenções de cresci-
                                                           mento            da
                                                           burguesia.       As
                                                           críticas ensejadas
                                                           pelo Iluminismo
        A Holanda é o segundo exemplo bem-sucedi-          apontariam o novo
do de desenvolvimento. A região desempenhava des-          caminho da socie-
de a época do Renascimento Comercial, um ativo co-         dade burguesa e
mércio com diversas cidades européias. Dezenas de          liberal.
banqueiros se estabeleceram nas cidades holandesas,
onde existia um ambiente menos opressor, em
                                                                                                                     Neste retrato
comparação com os países católicos. A prosperidade
                                                                                                                     da metade do
teve um pequeno refluxo, quando foi submetida, no                                                                    século XVII,
século XVI, ao domínio espanhol.                                                                                     pintado por
        A dominação espanhola teve um ponto final                                                                    Pieter de
                                                                                                                     Hooch, uma
quando os holandeses enfrentaram a Espanha católi-
                                                                                                                     família
ca. Em 1610, a Holanda conseguiu a independência,                                                                    holandesa
acelerando a grande arrancada para o desenvolvimen-                                                                  sobriamente
to. A indústria naval foi o alicerce da economia, origi-                                                             vestida exala
                                                                                                                     uma
nando o domínio dos oceanos, valendo-lhes o apelido
                                                                                                                     prosperidade
de mercadores do mar. A Holanda foi ainda premiada                                                                   tranqüila da
com a incompetência dos portugueses, que transferi-                                                                  segurança de
ram para os flamengos boa parte da sua riqueza.                                                                      seu pátio bem-
                                                                                                                     varrido na
                                                                                                                     cidade de Delft.
O Estado Moderno



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Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
 

O Estado Moderno: A consolidação dos Estados nacionais

  • 1. O Estado Moderno “O caso é de um príncipe bem desempenhar o seu papel e de saber, oportunamente, fingir e dissimular. Os homens são tão simples e tão fracos que quem os quer enganar, facilmente os engana.” O Príncipe - Maquiavel - 1532 A maioria dos filmes ambientados na O Estado Moderno ou Antigo Regime, substi- Idade Moderna exibe cenários exube tuiu a fragmentação política da época feudal. Para que rantes das cortes européias. Mostram a centralização se efetivasse, foi preciso um longo pro- palácios freqüentados por uma elite educada e fina, cesso de transformações e mudanças. A demora se deu que exala charme e elegância, sugerindo que nessa pela reação de muitos nobres que não admitiam perder época não havia pobreza e miséria. Nessas histórias seus privilégios. Analisando o contexto geral, podemos os monarcas parecem identificados com o povo, go- identificar que a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e vernando em harmonia e prosperidade. No filme “Os as inúmeras revoltas camponesas e urbanas provocaram Três Mosqueteiros”, o jovem D’Artagnan junta-se a um clima favorável à guinada em favor das monarquias. Athos, Pathos e Aramis no intuito de defender a famí- No início da época moderna vários Esta- lia real, ameaçada pelas intrigas do esperto cardeal dos estavam Richelieu. As cenas de aventura misturam ficção e re- consolidados e o alidade, levando os espectadores a uma ponta de in- mapa do continente já veja, por não terem vivido as situações emocionantes apresentava o con- do filme. Esse lado da Idade Moderna encanta e torno de inúmeras fascina, mas há o outro lado, marcado pela realidade fronteiras territoriais. das monarquias absolutas, que usaram e abusaram da Dentre as mu- imposição política como forma de garantir a ordem. danças mais marcan- tes, destacam-se: a França incorporando no século XVI, o du- “Todo poder, toda cado de Borgonha e o ducado da Breta- autoridade residem na nha, a Espanha con- mão do rei e não pode solidada em 1492 após a derrota dos haver outra autoridade árabes, e a Inglaterra juntando-se ao País no reino a não ser a que de Gales, logo após o fim da Guerra das o rei aí estabelece”. Duas Rosas. Também nasceu do antigo Sacro Império uma constelação Luís XIV de vários reinos e a Holanda despontou como o grande Coroação de Luís XII. Quadro paraíso dos banqueiros. Lembrando-se ainda de Portu- de Rubens. gal que efetivara a consolidação política muito antes das outras nações.
  • 2. “AQUELE QUE DEU REIS AOS HOMENS QUIS QUE OS RESPEITASSEM COMO SEUS LUGARES-TENENTES, RESER- VANDO APENAS A SI PRÓPRIO O DIREITO DE EXAMINAR A SUA CONDUTA. SUA VONTADE É QUE QUALQUER UM NASCIDO SÚDITO O Estado Moderno OBEDEÇA SEM DISCERNIMENTO; E ESTA LEI TÃO EXPRESSA E TÃO UNIVERSAL NÃO FOI FEITA EM FAVOR DOS PRÍNCIPES APENAS, É SALUTAR AO PRÓ- PRIO POVO AO QUAL É IMPOSTA”.3 Os novos Estados nasceram em meio a várias oportunidades, os burgueses foram socorridos pelos contestações, porém a motivação pela união acomoda- monarcas, que abriam os cofres reais drenando capital va os conflitos, adequando a sociedade à nova realida- para os banqueiros e mercadores. Na concessão de de política. A época admitia certos sacrifícios naciona- monopólios sempre havia um burguês favorecido, na listas onde se agruparam alguns povos com razoáveis obtenção de permissão de venda de mercadorias. diferenças culturais. O poder centralizado revelou-se Os reis também serviram de “guarda-chuva”, eficaz na manutenção da unidade, impedindo as defec- que protegia os burgueses das investidas da Igreja. A ções e a volta ao particularismo. As monarquias uni- idéia eclesiástica que o lucro através de empréstimos formizaram o sistema de pesos e medidas, implantaram seria punido por Deus, era um obstáculo para a total a moeda única e a cobrança regular de impostos. O expansão dos negócios. Com a proteção real os desdobramento dessas medidas permitiu ao continente burgueses conseguiam uma blindagem contra as europeu assegurar um lugar preponderante na época perseguições do clero. moderna, através da conquista de vastas regiões do Os aspectos psicológicos também devem ser Novo Mundo. levados em conta, pois os burgueses buscavam a as- censão social e o status de nobreza. Muito raramente BURGUESIA E NOBREZA conseguiam, pois a nobreza togada obtida pelos bur- gueses era uma clonagem da nobreza de sangue azul. O processo de centralização contou com o apoio A expectativa de conseguir as vantagens econômicas integral da burguesia, que temia o regresso da levou a burguesia a suportar as imposições políticas descetralização feudal. Na formação dos exércitos foi do absolutismo, o controle das corporações e as muito importante a participação do investimento rigorosas regras de mercado. burguês, utilizado na compra da pólvora, que tinha um valor muito alto. A burguesia teve como retorno desse apoio, a possibilidade de maior enriquecimento, beneficiada que foi pela economia centralizada. Em várias O Tempo da História SÉCULO XVI SÉCULO XVII 1516 1588 1618 1648 GUERRA MAQUIAVEL 1534 DESTRUIÇÃO DOS 30 1661 1715 PUBLICA DA INVENCÍVEL ANOS REINADO “O PRÍNCIPE” HENRIQUE VIII ARMADA DE LUÍS XIV ROMPE COM A IGREJA CATÓLICA
  • 3. No absolutismo a nobreza tinha o direito de co- brar impostos, que tilintava primeiro no bolso dos no- bres, para depois chegar aos cofres reais. A precarieda- de dos meios de comunicação impedia a monarquia de ”Tudo que se encontra organizar um sistema eficiente de arrecadação, deixan- do os monarcas à mercê da nobreza. De olho no aumen- na extensão dos nossos to do prestígio, os nobres disputavam nomeações de títulos hereditários, indicados diretamente pelo rei. estados, de qualquer Duques, marqueses, condes e barões lotavam as cortes, desfrutando fantásticas regalias. natureza que seja nos A pompa real servia para distinguir os integran- O Estado Moderno tes da corte do resto do povão. Nem a burguesia tinha pertence”. acesso ao “fechado clube real”, salvo honrosas exce- ções. Os códigos de etiqueta aprendidos com esmero, integravam a educação formal, assim como as aulas de Luís XIV Filosofia e Teologia. Nesse teatro o rei era o astro prin- cipal do espetáculo. Os monarcas do Estados Modernos, em maior ou menor grau, concentraram em suas mãos poderes Entretanto, o crescimento posterior dos negó- ilimitados. Reis famosos, como Henrique VIII, Felipe cios e o acúmulo de capital, colocaria burgueses e II, Luís XIV e tantos outros povoaram o imaginário de monarquia absoluta em posições antagônicas, deto- várias gerações e a produção de histórias fantásticas. nando as incendiárias jornadas revolucionárias da In- Inúmeros palácios e castelos foram construídos, códi- glaterra e na França. gos exigentes de etiqueta foram elaborados. Na hierarquia política os nobres estavam em melhor condição que os ricos burgueses. Os monarcas que despontavam no seio da nobreza, agiam em sintonia com a classe à qual pertenciam. Na prática, era até contraditório imaginar um monarca rejeitando a no- breza, para governar com a burguesia. A aceitação in- condicional da autoridade real permitiu aos nobres vi- verem uma lua-de-mel de interesses com a monarquia absoluta. A nobreza foi premiada com isenção de impos- tos e o favorecimento nos assuntos judiciais, num cli- ma de união quase nunca abalado. Viver num palácio real era equivalente a viver no paraíso. O luxo e riqueza ofuscavam os “pobres mortais” que não tinham essas regalias. Os motivos mais banais eram comemorados em festas que reuniam centenas de pessoas. Nessas comemorações, a elite se amontoava ao redor das mesas, deglutindo “elegantemente” os suculentos ban- quetes. Ao mesmo tempo, cena de interior e retrato “A corte toda assiste às refeições do rei: ele come só, ou com a família real, de família que muito raramente convida alguém à sua mesa. Luís quer beber: O nobre que o ilustra o novo serve proclama: Bebida para el-rei. Faz uma reverência, vaiao bufê tomar de um modelo de vida adotado pela cortesão a bandeja de ouro com o copo e as garrafas d’água e vinho, retorna aristocracia e entre dois domésticos. Depois de nova reverência, os servidores provam as bebi- pela burguesia. das em taças de vidro (velho hábito, para ver se não há veneno); o fidalgo inclina- Willian Hogarth. Reunião de se, apresenta o copo e as garrafas. O próprio serve-se da bebida (Luís XIV nunca Família. londres. tomava puro o vinho). E o fidalgo, depois de curvar-se pela quarta vez, devolve a bandeja ao doméstico que a repõe no bufê. Este cerimonial leva uns dez minu- tos; comer e beber, de funções banais do dia-a-dia, se elevam a gestos espetacu- lares, que seduzem e se exibem.” 2
  • 4. As carruagens da nobreza despertavam olhares A literatura da época inspirou-se nesse contex- curiosos das pessoas excluídas das grandes festas e to político para resgatar as glórias do passado. Várias banquetes. Com efeito, esse conturbado período legou publicações francesas ressaltavam a vitória de Carlos para o mundo atual, vários padrões de comportamento Martel, na batalha de Poitiers, em 732. As batalhas e códigos de etiquetas, que teimam em sobreviver ape- vencidas por Carlos Magno serviam como exemplo de sar das inúmeras mudanças da história. bravura e coragem. A lembrança dos antepassados gauleses honrava as tradições guerreiras do povo fran- AS NAÇÕES E O PATRIOTISMO cês. Os escritores italianos exaltavam o período de glória da Pax Romana. Em Portugal, Camões escreveu A luta pela definição do espaço territorial das Os Lusíadas, glorificando as façanhas dos navegado- nações deixou o continente em estado de guerra, pro- res conterrâneos que conquistaram o Novo Mundo, O Estado Moderno vocando o despertar do sentimento na- enquanto Shakespeare utilizaria o mito de Henrique V cionalista mesclado com a obri- e a vitória inglesa na batalha de Azincourt como tema gação de fidelidade à autorida- de uma grande obra. de real. Os laços de suserania e Os juristas dos Estados Modernos recorreram vassalagem transformaram-se ao antigo Direito Romano para elaborar as leis das no- em acordo coletivo da nação vas nações. O contato ostensivo com o Oriente per- com o rei. O particularismo feudal mitiu um conhecimento mais amplo do Corpus Juris foi substituído pela crença de Civilis, disseminando a sua influência em todo o Oci- que o Estado era mais poderoso dente. Os antigos romanos tinham por hábito glorifi- quanto mais forte era o rei. As car os imperadores, vinculando-os às grandes conquis- guerras de perfil nacional contri- tas, mitificando-os como magníficos heróis. O estilo buí- ram para aumentar o prestígio dos romano de exaltação da ordem e do poder se adequa- reis, associando-os à imagem de estabilidade e segu- va perfeitamente ao contexto de consolidação das mo- rança. O interesse comum sobrepujou a necessidade par- narquias nessa fase. ticular, alçando os monarcas à condição de líderes na- cionais. A IGREJA E O ABSOLUTISMO Depois de muita briga a autoridade real se im- pôs à Igreja Católica. Na inversão dos papéis, os bis- pos e padres tornaram-se vassalos dos reis. Ficou para trás a época em que reis se ajoelhavam diante dos papas implorando privilégios. No final da Idade Média tornou-se comum, a nomeação de bispos e abades sob interferência direta dos reis, que escolhiam os clérigos de acordo com a conveniência política. A Reforma Pro- testante no século XVI acentuou o recuo da Igreja, e deu vantagens aos monarcas que se mostravam fiéis ao catolicismo. Especialmente na Itália, França, Espanha e Portugal, viu-se uma atitude de submissão privilegiada em relação à autoridade real. O casamen- to de interesses entre monarquia e clero permitiu à Igre- ja desfrutar de invejáveis mordomias, tal qual a nobre- za. Festa de camponeses. Quadro de 1650. David “O progresso da monarquia absoluta não se deve apenas ao desejo, natural nos reis, de Teniers aumentarem o seu poder. O Direito Romano já contribuíra, no século XIII, com a idéia do Príncipe Absoluto que concentra na sua pessoa todos os poderes e cuja vontade faz lei. A voga da Antigüidade dá, no século XVI, novo surto ao Direito Romano, acrescentando-lhe a idéia antiga do herói, do semideus dominador e benfazejo. Contudo, não são apenas as representações mentais que se impõem ao indivíduo e lhe determinam doravante os seus atos. O Direito Romano deveu seu êxito ao fato de ter apresentado fórmulas cômodas para exprimir as tendências profundas dos contemporâneos. O herói é o modelo do ser a quem os povos tem a necessidade de se entregar. A doutrina do absolutismo corresponde às necessidades dominantes desta sociedade e como que a um desejo do corpo social.” 4
  • 5. As mudanças políti- cas da Baixa Idade Média já Tudo isso levou a apontavam para esse cami- Igreja a aceitar o seu pa- nho. Nunca é demais lembrar pel de coadjuvante na hie- as dificuldades enfrentadas rarquia do Estado, o que pela Igreja durante o proces- não excluía as inúmeras so de formação da monar- vantagens desfrutadas, quia francesa. O seqüestro face à condição de inte- do papa Bonifácio VIII no grante das cortes européi- século XIV, inverteu a ordem as. Para sua sorte, em di- (não tão natural) das coisas. versas oportunidades de O Estado Moderno Na cidade de Avignon, por crise, os monarcas termi- três mandatos os papas fo- navam recorrendo ao au- ram obrigados a governar a xílio da Igreja, buscando cristandade sob influência do suporte ideológico, na su- rei francês Felipe IV. O ve- posta vontade divina dos xame eclesiástico inspirou a reis governarem. A propa- elaboração de obras políticas ganda religiosa em defesa que defendiam uma nova dos monarcas católicos postura da Igreja Católica. ajudou a consolidar a au- O livro “Do poder toridade real, vinculando o Real e do Poder Papal”, es- pecado à contestação da crito por João de Paris, em “O Estado sou eu”. ordem pública. 1302, indicava que o clero Luís XIV deveria se limitar ao poder A NATUREZA DO espiritual. Defendia que o ESTADO poder temporal tinha de ser exercido pelo rei, no papel de administrador das ques- A definição política do Estado Moderno tões políticas na Terra. Dizia que o papa era superior provocou polêmicos debates entre os em dignidade, mas isso não lhe dava o direito de inter- historiadores. Uma corrente defende a ferir nos assuntos do Estado. Em outra obra, O essência burguesa, alegando a presença de ministros Defensor da Paz, de Marsiglio de Pádua, publicada em burgueses em funções importantes no Estado. Os de- 1324, afirmava-se que o clero deveria se ocupar do fensores dessa idéia ressaltam o apoio incondicional dos mundo espiritual, deixando para o governo a burgueses, na época de formação das monarquias. Ou- preocupação com o mundo natural e secular. Acredita- tro grupo de historiadores defende a neutralidade do va Marsiglio, que o Estado não precisava da instrução Estado Moderno, alegando uma postura que estaria do papa para governar os súditos. acima dos grupos sociais. Uma terceira corrente defende A conduta dos integrantes da Igreja ajudava a o caráter feudal do Estado destacando os privilégios aumentar o clima de animosidade, como provam inú- concedidos à nobreza e ao clero. Analisando-se as três meros relatos que descrevem situações absurdas, ocor- visões encontramos falhas em todas as concepções. ridas em mosteiros e conventos. A propagação da im- Os defensores do caráter burguês esquecem que prensa e a efervescência do Renascimento Cultural o número de ministros burgueses era irrelevante, quan- ajudaram a difundir essas obras, colocando a Igreja do comparado a quantidade exagerada de ministros em postura defensiva. Bocaccio, ao escrever Deca- nobres e eclesiásticos. Além do mais, o apoio incondi- meron, denunciava “a vida devassa e sórdida do cle- cional da burguesia foi suplantado em importância, na ro” e os pecados “naturais e sodomíticos” de monges integração da nobreza com os monarcas, após as su- e padres. cessivas crises que abalaram o “Não causa surpresa, quando as altas cama- século XIV. Além disso, os ri- das do clero se encontravam em tal estado, que, entre gores do mercantilismo agi- as ordens regulares e o clero secular, os vícios e as ram como camisa de força, irregularidades de toda espécie se tivessem tornado impedindo a livre expansão cada vez mais comuns. (...) Não é de se admirar, con- dos negócios burgueses. forme depõem tristemente os escritores contemporâ- Para a nobreza e o neos, que se haja demonstrado pouco respeito para clero os reis asseguraram com os sacerdotes. A imoralidade deles era tão cho- a participação no aparelho cante que já se começavam a ouvir sugestões de se do Estado. A escolha dos permitir que se casassem.(...) Muitos dos mosteiros nobres que preenchiam encontravam-se em condições deploráveis. Os três es- cargos burocráticos cobria senciais votos de pobreza, obediência e castidade, uma lacuna importante, eram, em alguns conventos, quase inteiramente des- substituin prezados.” 5
  • 6. As regalias obtidas pelos grupos detentores do as rendas feudais que diminuíram com o passar do do poder invalidavam a opção de neutralidade, diante tempo. Os nobres que permaneceram em suas terras de uma realidade em que classes parasitas sugavam a tiveram dos reis a conivência e permissão para a co- riqueza produzida pelo restante da sociedade. brança de extorsivos impostos, como se ainda estives- A defesa do caráter feudal perde sustentação sem no auge da época feudal. Na véspera da revolução quando se constata que apesar de submeter a burgue- em 1789, camponeses da França imploravam ao rei que sia, os reis procuravam barganhar um mínimo de van- abolisse a corvéia e outras terríveis imposições. Como tagens que lhes permitissem em troca, desfrutar do ca- a nobreza não pagava impostos, vivia do sustento pro- pital burguês. Além da já citada uniformidade de im- porcionado pelas outras classes - burguesia e campo- postos, taxas e leis, os reis desenvolveram o mundo neses, desfrutando das mordomias e regalias garanti- dos negócios, incentivando a abertura de bancos e o O Estado Moderno dos pelo Antigo Regime. crescimento das manufaturas. O Estado Moderno, de A segunda teoria, da posição neutra do Estado, um lado, restringia os negócios burgueses através das inúmeras regras burocráticas do mercantilismo mas, de outro, não sobrevivia sem a força do capital burgu- ês. O círculo vicioso na esfera do capital tornava a “Os reis são senhores burguesia dependente dos reis para se estabelecer com uma certa tranqüilidade, enquanto que aos reis sosse- absolutos e têm gava a possibilidade recorrer à burguesia nos momen- tos de dificuldade. naturalmente a disposição Mas se as três teorias não têm sustentação, que tipo de Estado é o Absolutismo? “Seria inútil, além plena e inteira de todos os de errôneo, tentar definir esse tipo de Estado a partir de caracterizações mais ou menos unilaterais como bens que são possuídos feudal, capitalista ou neutro. A rigor, ele não é exata- tanto pelas pessoas da mente nenhuma dessas coisas. Trata-se do tipo de Estado que caracteriza a transição, impossível de ser igreja como pelos reduzido a mero epifenômeno da estrutura econômi- ca, ou seja, do modo de produção dominante. seculares”. Trata-se de uma relação essencialmente con- traditória: o apoio ao capital comercial e, pelo me- Luís XIV nos de início, ao capital industrial não se opõe, ne- cessariamente, à defesa e manutenção dos interesses senhoriais ou feudais da aristocracia dominante. Para despreza a própria origem do monarca, identificado de compensar o declínio da renda feudal, o Estado ab- antemão, com os interesses da classe à qual pertence. solutista necessita cada vez mais aumentar seus pró- Carnaval “o rei A aristocracia escolhida para compor o governo era, prios rendimentos e isso só se torna possível prote- bebe”, do pintor em sua imensa maioria, oriunda da nobreza e do clero gendo e estimulando ao máximo as atividades produ- belga David passando a exercer, daí em diante, o papel de classe tivas em geral. O Estado absolutista tende a expres- Teniers dominante. sar a busca de um equilíbrio precário, a longo prazo impossível, entre classes e frações de classe cujos in- teresses são em parte complementares e em parte an- tagônicos.” 7 AS MONARQUIAS E OS REIS Cada nação desenvolveu ao longo do Antigo Regime, uma ordem política que variava de acordo com as circunstâncias, não havendo no continente europeu, um modelo único de monarquia absoluta. A rigor, pode se dizer que França e Espanha foram os exemplos mais contundentes de monarquia absoluta. As duas tiveram sua época de glória nos séculos XVI e XVII. Os dois países serviram de referência para as outras cortes européias. Cada uma, no seu tempo, serviu de modelo de prosperidade e grandeza. No apogeu das conquistas nas regiões ultra- marinas, a monarquia espanhola se tornou um império intercontinental.
  • 7. “Em seus graus de dignidade e poder, os nobres do século XVII assemelhavam-se às cartas do baralho, que era um dos passatempos prediletos da época. Na categoria mais alta estavam os reis, que chefiavam as grandes O Estado Moderno casas reinantes da Europa; seu jogo era o poder, seu tabuleiro o mapa da Europa.” 6 A família de Filipe V. Quadro de Louis Michel de Toulon. 1743 O rei Filipe II se gabava que várias confusões, a começar pela revolta da nobreza - a a Espanha possuía regiões, de onde o Fronda, colocando a monarquia em situação muito deli- sol nascia, até onde o sol se punha”. cada. Entretanto, Mazarino saiu-se muito bem, neutrali- Exageros à parte, em 1580 a dominação espanhola zando os nobres descontentes. consistia no controle de várias regiões da Europa - O sucesso deu-lhe fôlego para conduzir a mo- Portugal, Holanda, Sacro Império Romano-Germânico narquia até que Luís XIV tivesse idade para assumir o e alguns reinos italianos, mais as regiões colonizadas trono. Em 1661, o cardeal transmitia ao jovem monarca, na América e pontos de comércio no continente asiáti- um país embalado pela ascensão econômica e estável co. politicamente. A história conspirava em favor dos Com o apoio da Igreja, em 1520, o rei espa- franceses, pois a Espanha tinha sido esmagada na Guerra nhol Carlos V assumiu o controle do gigantesco Im- dos 30 Anos e a Inglaterra não era concorrente para pério Romano- Germânico. A região era um vasto disputar a hegemonia política da Europa. complexo feudal correspondendo, nos dias de hoje, à junção territorial da Alemanha, Áustria e uma parte “O rei vê de mais longe e do território polonês. Para azar de Carlos V, nesse exato momento, começavam os protestos de Lutero, de mais alto; deve desencadeando a Reforma Protestante. Agindo sob pressão o monarca topou uma briga que no final lhe acreditar-se que ele vê traria grandes dores de cabeça. O ouro e a prata obtidos na América não basta- melhor, e deve obedecer- ram para financiar as guerras contra os rebeldes pro- testantes. Em 1555, o rei espanhol foi obrigado a assinar se-lhe sem murmurar, a Paz de Augsburgo, permitindo aos príncipes alemães pois o múrmurio é uma optarem pela religião protestante. Além disso, a política negligente da monarquia relegava a produção de disposição para a manufaturas a um plano secundário. Desenrolou-se então, uma situação completa- revolta”. mente inusitada. A Espanha ostentava a condição de nação mais poderosa, mas mendigava empréstimos aos Bousset banqueiros europeus. O ouro da América foi insuficiente para abastecer os gastos da suntuosa cor- te espanhola. Após a Guerra dos 30 Anos, a Espanha perdeu a condição de monarquia mais importante, A morte de Mazarino deixou inicialmente a corte substituída então pela França. apreensiva com o futuro da nação. Mas quando o arce- A França teve seu momento de glória no reina- bispo de Paris perguntou a Luís XIV a quem deveriam do de Luís XIV, legando para a história o exemplo os franceses recorrer dali em diante, prontamente o rei mais completo de autoridade real. O rei assumiu o tro- lhe respondeu que assumiria pessoalmente o trono. No no com cinco anos de idade, mas só veio efetivamente seu reinado de 54 anos, o monarca exrceu o poder com a governar após a morte do cardeal Mazarino, que havia extrema autoridade. Ao final, seria lembrado como o Rei- sido o seu tutor. A regência do cardeal foi marcada por Sol.
  • 8. Logo que tomou posse, Luís XIV tratou de or- Após a renovação militar organizou-se na ganizar um ministério e um corpo de auxiliares que lhe França, um exército absolutamente profissional, revo- devotassem total lealdade. Os monarcas anteriores dis- lucionando os padrões militares da época. tribuíam cargos entre a nobreza, na proporção direta O exército foi submetido a uma rígida hierar- da influência que eles exerciam na corte. Esse prece- quia, imitada mais tarde por outros países. Todos os dente tinha provocado sérios problemas, porque os no- oficiais eram controlados pessoalmente pelo rei, que bres não se sentiam ligados ao rei. Normalmente, inte- indicava os intendentes de armas para se misturar com ressavam-se apenas em defender seus interesses pes- a tropa, na tentativa de identificar possíveis proble- soais. Desarticulando o esquema, o rei escolheu seus mas. principais assessores nas classes mais intermediárias. Estratégias eram decididas meticulosamente O Estado Moderno “Mas mesmo contando com homens que eram pelos comandantes graduados, sempre em sintonia com exclusivamente instrumentos seus, Luís decidiu con- a vontade real. O único (e grande) defeito do exército servar firmemente nas mãos as rédeas do governo. Em- de Luís XIV era a utilização excessiva de mercenários bora não fosse um homem de inteligência extraordiná- que, obviamente, não lutavam com o mesmo ardor ria, compensava essa deficiência com a dedicação ao patriótico dos soldados identificados com a nação. trabalho. Todas as decisões, insistiam sempre, tinham de ser decisões suas. Nenhum detalhe, por ínfimo que fosse, escapava à sua atenção. “Nunca, enquanto vivo “Como é importante que o público seja governado por um só, também importa que quem cumpra esta função esteja de tal forma elevado que ninguém se possa confundir ou comparar com ele”. Luís XIV fores, despaches em nome do rei sem sua aprovação A economia foi conduzida com extrema habili- expressa”, escreveu Colbert, um dos ministros mais tra- dade por Colbert - o incansável defensor da balança balhadores e mais dignos da confiança de Luís, a seu de comércio favorável. O mago da economia na corte filho e sucessor”. 8 de Luís XIV`, entrou para a história ao fazer milagres Para compor a sua corte o rei convocou cerca num país que esbanjava riqueza construindo palácios de 10 000 pessoas que viviam devotadas ao gover- suntuosos. Antes de Colbert, a desordem econômica no do Estado. As províncias distantes eram beirava o caos. A maioria das regiões agia por conta freqüentemente visitadas pelos própria. Os impostos eram cobrados sem o menor cri- intendentes, que transmitiam ao tério e boa parte ficava nas mãos de funcionários monarca um relato dos proble- corruptos que enriqueciam as custas da omissão do mas a serem resolvidos. O exér- Estado. cito foi renovado eliminando- Em várias regiões os nobres, aleatoriamente, se os vícios da época feudal. cobravam impostos embolsando uma boa parte, por Havia inúmeros casos de no- conta dos serviços prestados ao rei. Até a nomeação bres que desobedeciam à au- do superministro Colbert, o rei não havia controlado toridade real pelos motivos as finanças e os gastos da corte. Basta se observar, mais banais. Quando não es- que as corporações de comércio e ofício agiam como tavam satisfeitos, os nobres se estivessem ainda na época feudal. demonstravam uma atitude hostil que enfraquecia as monarquias.
  • 9. “O ballet moderno resultou principalmente da paixão da corte fran- cesa do século XVII pela dança e pelas representações teatrais de amadores. Várias noites da semana podiam ser dedicadas a tais divertimentos, e os aristocráticos intérpretes passavam dias ensaiando seus papéis. Como parte fundamental da educação de todos os O Estado Moderno nobres, esses espetáculos, caracterizados por trajes requintados e cená-rios fantásticos, pouco a pouco assumiram a forma da moderna arte coreográfica”.9 A fórmula mágica aplicada por Colbert, Em Versalhes todos os detalhes adquiriam uma não tinha grandes mistéri característica especial. Os jardins impressionavam pela os. O ministro implantou um esquema simetria e pela organização racional dos elementos da regular de verificação das contas da corte, colocando natureza. Nos aposentos não faltavam objetos de ouro, a nobreza na “corda curta”. Afastou os funcionários candelabros de cristal, tapetes orientais e vasos de corruptos e criou um grupo de fiscais, responsáveis mármore. Vários nobres viviam no palácio ou nos seus pela inspeção minuciosa das finanças reais. Além dis- arredores. Para distraí-los organizavam-se festas so, derrubou todas as barreiras que existiam para a magníficas, além de apresentações de balé e teatro. realização do comércio entre as regiões francesas. Di- Tanto poder e tanta glória sumiram na fumaça versas estradas foram construídas, permitindo um aces- das varias guerras, que sugaram as finanças e drena- so mais fácil aos locais mais distantes. ram recursos para o exército real. Teimosamente o rei As companhias de comércio que apresentaram caía na armadilha e se embrenhava em conflitos inú- um perfil mais moderno tiveram o incentivo do Estado teis e desnecessários. Já no final do seu reinado, a na forma de empréstimos e concessões. Colbert foi derrota na Guerra de Sucessão Espanhola, frustrou a atrás dos principais mestres artesãos, levando-os para pretensão de Luís XIV coroar seu neto como rei da a França, em troca de prestígio e compensação finan- Espanha. O conflito terminou com a vitória inglesa que ceira. Mas apesar de todas estas mudanças, Colbert se afirmaria como potência continental. não conseguiu acabar com o “câncer” responsável O rei Luís XIV morreu esquecido e doente, em pela corrosão da economia - a moleza da nobreza e do 1715. Sua última frase - “Eu amei demais a guerra; não clero. As classes parasitas eram isentas de impostos e me imite nisso, nem nos gastos exagerados” - foi ouvi- sugavam boa parte das rendas do Estado. da pelo delfim Luís XV, que parece não ter levado mui- No auge da monarquia o Palácio de Versalhes to a sério os conselhos do pai. Seu futuro governo tornou-se o símbolo desse imenso poder. Para cons- seria uma repetição dos mesmos erros e problemas. Os truí-lo foram reunidos os melhores artesãos, jardinei- nobres vendo que o rei estava perto de morrer, ros, arquitetos e artistas. O custo de meio bilhão de deixaram-no abandonado à própria sorte (ou azar!). dólares é bem modesto aos padrões contemporâneos, Ninguém na Europa tinha governado tanto tempo, afi- mas para a época significava uma soma absurda. . nal, foram 54 anos de reinado. Dizia-se em Paris que já era hora de terminar. A suntuosidade de Versalhes contrastava com 80% da população que vivia pratica- mente na miséria. “Como ninguém era digno de comer ao lado do rei, Luís jantava só; os validos da corte olhavam fascinados - em parte porque Luís dispensava o uso do garfo, então uma invenção moderna. Seus casos de amor e suas reais amantes eram o tópico mais importante da conversação palaciana; seus comentários mais triviais eram fielmente repetidos e interminavelmente discutidos. Viver na temerosa presença do Rei Sol, observou um contemporâneo, era como viver na presença de Deus. Mas, como nada é perfeito! As instalações hidráulicas no palácio eram insuficientes e incômodas; até os nobres mais luxentos preferiam urinar nas escadas. Como se vê, o nível de limpeza pessoal era baixíssimo, e os banhos eram quase desconhecidos. Em vez disso, homens e mulheres, sem distinção, encharcavam-se de perfume, empoavam as grandes cabeleiras, e procuravam dar uma falsa idéia de limpeza”. 10
  • 10. O Mercantilismo O Estado Moderno D eu-se o nome de Mercantilismo ao con “Ao findar o século XVII, a população espa- junto de práticas econômicas adotadas nhola fora reduzida em 1 milhão de habitantes (to- pelas monarquias absolutistas do An- mando-se, para comparação, os primeiros anos da- tigo Regime. Essas medidas variavam com o tempo, quele século); por volta de 1715, enfim, a população dependendo do contexto em que foram aplicadas. Ini- espanhola voltara à marca de 1514: 7,5 milhões. Essa cialmente, no século XVI, o ouro e prata obtidos pela redução populacional pode ser explicada como o re- Espanha nas colônias americanas motivaram o sultado de causas naturais e de causas decorrentes surgimento do metalismo. Essa concepção associava a da ação humana: as pragas e epidemias agiram na riqueza das nações à quantidade de metais preciosos mesma escala em que o fizeram no restante da Euro- acumulados nos cofres reais. Segundo a crença, quan- pa, a conquista e o desenvolvimento coloniais absor- to mais ouro e pra- veram um número maior de vidas do que o indicado ta, mais rica era uma pelos registros oficias. (...) Por fim, a expulsão dos nação. A judeus e dos árabes e a fuga dos cristãos-novos e dos hegemonia espa- últimos árabes representaram um êxodo de importan- nhola no continen- tes contingentes populacionais. O declínio da popu- te contribuiu para lação, não obstante, constituiu apenas um dos aspec- reforçar a tese me- tos de um fenômeno muito mais generalizado e de talista, servindo de particular significação face ao desenvolvimento eco- modelo para outras nômico: a contração econômica.” 11 nações européias. Ironicamente, a circulação intensa de ouro e Na Inglaterra o prata por todo o continente provocou, no final do sé- metalismo era co- culo XVI, uma queda brutal no valor dos metais preci- nhecido como bu- osos, ocasionando a primeira grande inflação da histó- lionismo, da pala- ria. A “Revolução dos Preços”, como ficou conhecido vra bullion - ouro e o episódio, mostrou a fraqueza das concepções prata, em inglês. metalistas. A obsessão pelo acúmulo de metais gerou Depois de nos países europeus um processo inflacionário de lon- evidenciado no sé- ga duração. A Espanha foi a mais prejudicada pois era culo XVI o a principal patrocinadora da orgia metalista. metalismo entrou Portugal, por razões diferentes, também teve o em decadência. O mesmo destino. Depois de um início promissor, quan- exemplo da do lucraram bastante no comércio com as Índias, os Espanha se revelou portugueses esgotaram os recursos disponíveis com A auto-suficiência o pior possível, pois a abundância de metais provocou os gastos excessivos da monarquia. Os portugueses econômica e a produção de a letargia da economia espanhola, prejudicando o de- cometeram o mesmo erro dos espanhóis, achando que excedentes para a senvolvimento das atividades produtivas. Em a riqueza nunca se acabaria. A exploração exportação contrapartida, cometiam o absurdo de impor- do açúcar não alterou esse quadro, pois constituíam tar palitos e cordões. A Espanha gastou dependiam da Holanda para refinar o importantes metas da política milhões para sustentar o luxo da corte, es- produto. Tanto Espanha como Portu- econômica quecendo que um dia, o ouro e a prata pode- gal descuidaram da produção de ma- mercantilista, riam terminar. A ambição pelo ouro levou nufaturas. O desleixo tornou-os de- colocada em milhares de espanhóis a uma louca aventura pendentes dos países efetivamente prática pelo Estado absolutista na América. Muitas regiões de produção ricos do continente europeu. da Era Moderna. agrícola foram abandonadas, em troca da Na gravura, o riqueza fácil em terras americanas. porto de Toulon na França.
  • 11. lho, num país inundado de produtos estrangeiros e depois de economia estagnada, ele estaria na miséria, e o Estado perdendo sua força, ficaria exposto aos Balança de Comércio piores males, à invasão e ao domínio estrangeiro”. 13 Favorável O INTERVENCIONISMO As monarquias do Antigo Regime se destaca- ram pela rigorosa intervenção na economia. O Estado foi o agente fiscalizador das companhias de comércio, O Estado Moderno O fiasco das concepções metalistas exi adotando severa fiscalização nas manufaturas e a co- giu a for brança de inúmeras taxas e impostos. Os fiscais reais mulação de um meio mais consistente não deixavam a burguesia em paz, averiguando desde a e seguro de garantir a riqueza das nações. Dentre as quantidade das mercadorias produzidas, até o cumpri- varias concepções, destacou-se o ministro Colbert – mento das normas de qualidade. mago da economia na corte de Luís XIV. Sua política Na França de Colbert houve um abrandamento consistia em produzir o máximo de manufaturas e im- do controle real, permitindo-se algumas regalias à bur- portar o mínimo de mercadorias. Com essa fórmula guesia. Investimentos foram liberados para o incentivo evitava a drenagem de ouro e prata para os cofres das de novas manufaturas, com prazo elástico de carência outras nações. A França de sua época o país de maior para o pagamento dos empréstimos. As manufaturas protecionismo alfandegário, visando afastar a concor- mais qualificadas recebiam isenções fiscais, instalações rência estrangeira e fortalecer a produção interna. Além gratuitas e prêmios pela produção. disso, a proteção das manufaturas francesas foi vin- O Estado no absolutismo agia em benefício do culada à valorização da mão-de-obra especializada, seu próprio desenvolvimento. O crescimento da bur- como forma de aprimorar a produção. O objetivo final guesia era sob intenso controle estatal. As razões polí- de Colbert era conseguir um saldo positivo para o Es- ticas preponderavam em relação aos fatores econômi- tado e o equilíbrio das fi- cos e o fortalecimento da autoridade real dependia dire- nanças, em suma, a ba- tamente do sucesso das medidas econômicas. A mo- lança de comércio favo- narquia absoluta não abriu mão do controle da econo- rável. mia, adotando França, Ingla- m e d i d a s terra e Holanda, apesar protecionistas e dos altos e baixos, foram barreiras alfande- capazes de assegurar a gárias. balança favorável. As ou- Havia nas tras nações não conseguiram p r á t i c a s sair do estágio agrícola e dependência do capital es- mercantilistas trangeiro. A Holanda sempre manteve as característi- uma obsessão cas de centro financeiro e bancário, realizando emprés- pela qualidade timos e financiando as monarquias debilitadas. A In- das mercadorias. glaterra a partir do século XVII, desenvolveu ativa pro- Controlava-se a dução manufatureira, abastecendo o continente intei- p r o d u ç ã o ro. A França desfrutou da glória no reinado de Luís vigiando a XIV, onde despontaram os já citados esforços do mi- quantidade, para nistro Colbert. que não “É preciso, com efeito, exportar o máximo e, excedesse a de preferência, artigos fabricados, pois o trabalho capacidade de neles invertido aumentou-lhes o valor. É necessário, c o n s u m o , pois, dispor do maior número possível de produtores principalmente dos produtos que não eram exportados. e seguir uma política de aumento da natalidade. Mas, A pequena concorrência gerava preços altos, para vencer a concorrência, vender uma qualidade restringindoà elite o consumo das mercadorias Quadro do maior a um preço menor. As taxas de juro devem, por manufaturadas. A França terminou sendo a maior vítima século XVII conseguinte, ser baixas, de modo que o empresário mostra o dessa realidade, pois a maior parte de sua produção era ministro Colbert capitalista encontre capital barato. O operário deve de artigos de luxo, em detrimento das mercadorias mais reunido com ganhar pouco e é preciso mantê-lo num baixo nível simples. outros ministros de vida. A existência das corporações beneficiava o Es- da corte tado absolutista, porque a sua rigidez combinava com as intenções do rei. Com a consolidação das monarqui- as, as eleições nas corporações tornaram-se um jogo de De outro modo, porém, se lhes faltasse traba- cartas marcadas. Só os artesãos e donos das manufatu-
  • 12. ras mais ricas tinham chance de conquistar os cargos cuja contrapartida é o nível bastante baixo dos mais importantes. O Estado conseguiu criar um grupo salários. Na mentalidade da época, misturam-se, por fiel a seus interesses que, sucessivamente, se revezava isso mesmo as preocupações assistenciais para com nas corporações. Os corpos municipais contavam com os necessitados e a condenação à vagabundagem e à a participação das pessoas ligadas à corporação e tam- ociosidade, e isso de uma forma tal que, bém foram monopolizados pela burocracia real. Com freqüentemente, o auxílio tem como contrapartida o isso os monarcas neutralizavam possíveis reações às trabalho obrigatório, ao mesmo tempo que a recusa medidas impopulares. a trabalhar oferece a justificativa para a repressão A situação dos operários nas manufaturas era a mais violenta e desumana.” 15 pior possível. O Estado exigia sacrifícios enormes vin- culando o trabalho ao progresso da nação. Imprimia-se O PACTO COLONIAL O Estado Moderno um ritmo louco de trabalho, envolvendo integralmente os operários na maratona da produção. A exploração colonial estava diretamente vin- A Igreja Católica estimulava a obediência aos culada ao mercantilismo. As nações absolutistas im- patrões e combatia o descontentamento dos rebeldes. puseram às colônias, o consumo de manufaturas e ou- Nas manufaturas e artesanatos, celebrava-se a missa tros artigos, exclusivamente fornecidos pelas metró- diariamente. As refeições eram precedidas pela leitura poles. O Estado vendia às suas colônias, produtos de da Bíblia e os padres ensinavam cânticos religiosos vin- alto valor e comprava mercadorias tropicais a um pre- culados ao trabalho. A falta grave era punida com chi- ço irrisório. A revenda de produtos tropicais no merca- cotadas e os salários eram irrisórios. O operário rece- do europeu objetivava a balança de comércio favorá- bia, no máximo, o suficiente para o sustento da família. vel. As colônias eram rigorosamente proibidas de pro- A jornada era de doze a dezesseis horas diárias, com o duzirem manufaturas, e até um simples alfinete podia intervalo de 30 a 45 minutos para a refeição. ser motivo de severas punições. A produção colonial era limitada a artigos rudimentares: sandálias de couro, selas de transporte, roupas para escravos e outros artigos de pequeno valor. Apesar do controle, nem sempre a metrópole lucrava com o exclusivo colonial. As monarquias sem potencial produtivo, como Portugal e Espanha, eram obrigadas a comprar mercadorias em outras nações. No final a parte do leão caía no bolso alheio, em prejuízo das nações ibéricas. A Inglaterra que se especializou em produção de manufatu- ras, deitou e rolou no comércio colonial. In- diretamente terminou sendo a maior potência colonial. O Mercantilismo se apresentou de formas variadas, a depender do contexto de cada nação. “Ao focalizar a questão da quantidade maior As particularidades se relacionavam ao potencial ou menor de homens desempregados, os mercantilistas econômico de cada Estado. A França no século XVI, fazem questão de distinguir entre aqueles que não deu ênfase à produção agrícola, visando a exportação A sede da Cia trabalham porque não têm onde, e aqueles que são e obtenção de moedas e metais preciosos. O das Índias Ocidentais, em desempregados por sua exclusiva culpa, aliás a mai- desenvolvimento e a conquistas colônias na América, Amsterdã. oria. Para estes são válidos os meios coercitivos que mudaram essa realidade, conduzindo o Estado para o Fundada em o Estado e os empresários devem utilizar para forçá- incentivo à produção manufatureira, de olho, princi- 1621, a empresa los a uma atividade digna, honrosa e produtiva. Por palmente, no promissor mercado colonial. holandesa prosperou, detrás desse discurso, sente-se claramente toda uma entre outras orientação voltada para a compulsão ao trabalho, razões, por monopolizar o comércio de “Se o francês soubesse conservar suas riquezas e fruir de seu bem, comandaria açúcar na Europa. As todas as nações, estando ornado em tempo de paz, e fortificado em tempo de guerra, de dimensões de uma quantidade incrível de ouro e prata, pela abundância que para aí aflui de todas as sua sede dão partes.” (Garrault) uma idéia do “E desde que saibamos nos aproveitar das vantagens que a natureza nos seu poderio na época. concedeu, tiraremos a prata daqueles que quiserem ter nossas mercadorias que lhes são necessárias e não nos sobrecarregaremos muito com seus gêneros, que nos são tão pouco úteis.” (Richelieu) 14
  • 13. A Inglaterra teve um desenvolvimento peculi- “Na Inglaterra e na Holanda o governo defen- ar, pois administrou sua economia em ritmo diferente dia os interesses econômicos. Quando os espanhóis dos outros países europeus. A necessidade de prote- perderam o controle das províncias do norte da ger o território gerou o incentivo da indústria naval. Holanda, no último quartel do século XVI, o poder Com isso se desenvolveram várias manufaturas, inter- político foi-se transferindo, cada vez mais, para as ligadas à construção de navios. Nos campos houve mãos da aristocracia urbana de comerciantes e fabri- mudanças com inserção de práticas capitalistas. Os cantes sediados em Amsterdã. Esses interesses urba- cercamentos, como foram chamados, transferiram para nos adotaram políticas que atenderam às suas conve- a burguesia várias terras, antes pertencentes à nobre- niências. A partir de 1590, mandaram fechar o Scheldt za. Nessas terras a criação de carneiros e ovelhas (o rio que liga Antuérpia ao mar do Norte) ao tráfico garantiu o fornecimento da lã – matéria prima essenci- comercial. Essa medida representou um golpe mortal O Estado Moderno al para as manufaturas têxteis. A produção e exporta- à fortuna econômica da cidade que havia dominado o ção de artigos manufaturados estabilizaram a balança comércio entre o norte e o sul da Europa, e entre a de comércio. No século XVII, a Inglaterra era nação, Inglaterra e o continente europeu, em fins do século economicamente, mais poderosa do continente euro- XV e parte do século XVI. A posição de Antuérpia foi peu. perdida para Amsterdã e, mais tarde, para Londres e Hamburgo. A criação da Companhia Holandesa das Índias Orientais e do Banco de Amsterdã, na primeira “Os meios ordinários, década do século XVII, também nasceu de uma alian- ça entre os setores econômicos e o governo, na defesa portanto, para aumentar de seus interesses mútuos”. 16 As práticas mercantilistas tiveram, portanto, nossa riqueza e tesouro são grande influência no acúmulo de capital e no enriqueci- mento das nações européias. Até o século XVIII, deter- pelo comércio exterior, minaram a forma como os reis, para o que devemos governantes e obedecer sempre a esta seus ministros de- veriam administrar regra: vende mais seus Estados. Foi aí que apareceram as anualmente aos primeiras contesta- ções à forma rigo- estrangeiros em valor do rosa de interven- ção do Estado, que que consumimos deles.” bloqueava as in- Colbert tenções de cresci- mento da burguesia. As críticas ensejadas pelo Iluminismo A Holanda é o segundo exemplo bem-sucedi- apontariam o novo do de desenvolvimento. A região desempenhava des- caminho da socie- de a época do Renascimento Comercial, um ativo co- dade burguesa e mércio com diversas cidades européias. Dezenas de liberal. banqueiros se estabeleceram nas cidades holandesas, onde existia um ambiente menos opressor, em Neste retrato comparação com os países católicos. A prosperidade da metade do teve um pequeno refluxo, quando foi submetida, no século XVII, século XVI, ao domínio espanhol. pintado por A dominação espanhola teve um ponto final Pieter de Hooch, uma quando os holandeses enfrentaram a Espanha católi- família ca. Em 1610, a Holanda conseguiu a independência, holandesa acelerando a grande arrancada para o desenvolvimen- sobriamente to. A indústria naval foi o alicerce da economia, origi- vestida exala uma nando o domínio dos oceanos, valendo-lhes o apelido prosperidade de mercadores do mar. A Holanda foi ainda premiada tranqüila da com a incompetência dos portugueses, que transferi- segurança de ram para os flamengos boa parte da sua riqueza. seu pátio bem- varrido na cidade de Delft.
  • 14. O Estado Moderno Anotações