1. A Verdade e a Justiça no Brasil
(o texto é longo, mas, anime-se, se verdade e justiça são coisas que te interessa)
Não há como negar que temos vivido dias difíceis em nosso país. Temos presenciado a
"perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça" (Rm 1.18). A corrupção, a
injustiça e a violência são males que têm alcançado cada vez mais destaque em nossa
sociedade. No lugar da verdade encontramos mentira; em vez de juízo, impunidade. O direito
é distorcido, a lei é transgredida e o transgressor fica impune. O perverso é beneficiado, e os
que realmente fazem jus ao direito não o encontram. Tal situação tem atingido também a
igreja evangélica brasileira. A igreja, que na defesa do Evangelho, deveria ser sal e luz, tem se
tornado insípida e com um brilho eclipsado. Certamente, não se trata de uma situação geral.
Deus sempre tem, em todas as épocas, suas fiéis testemunhas. Contudo, aqueles, do meio do
povo de Deus, que procuram testemunhar contra a falsidade e injustiça são tratados como réus
por esta sociedade e, até mesmo, pelos de dentro da igreja.
O profeta Isaías denunciou uma situação semelhante, vivida pelo povo de Israel. No
capítulo 59, ele expõe o pecado da nação. Nenhum dentre o povo estava disposto a defender
publicamente a verdade porque eles não tinham condição moral para isto. Quando a verdade
não é defendida, não há espaço para a justiça. É exatamente o que está acontecendo com o
nosso Brasil.
A corrupção atinge todas as camadas sociais da nossa nação. Uma deficiência ética em
grandes proporções se manifesta, desde os mais pobres (os que são beneficiados pelas
políticas compensatórias, como o Bolsa Família) até à elite brasileira. Mas, o que nos deixa
perplexos é saber que, onde deveriam estar os homens da mais ilibada conduta, estão aqueles
que são alvo de muitas denúncias de corrupção. Este é o caso de Renan Calheiros, José
Dirceu, José Genoino e companhia. Do vereador do mais pobre município ao presidente da
República, são inúmeros os escândalos envolvendo políticos. São tantos desvios de conduta
que outrora se fez necessária a implantação de uma tentativa frustrada de aumentar a
idoneidade dos candidatos, aprovando a lei que ficou conhecida como "Ficha Limpa".
Há injustiça na distribuição da renda e no uso dos recursos públicos. Presenciamos
altas quantias sendo empregadas na preparação da Copa do Mundo, enquanto a situação
continua precária na educação, na saúde e na segurança pública. Na escola, com um baixo
salário, o professor enfrenta as ameaças de jovens que perderam o senso do respeito à
autoridade. Nos hospitais, ainda permanece a realidade de pessoas que morrem nos corredores
enquanto aguardam atendimento. E nas ruas, as pessoas estão cada vez com mais medo de
serem surpreendidas pela violência. Não foram sem motivos as várias manifestações que
aconteceram em nosso país neste ano.
Uma inversão de valores bastante séria em nosso país é a questão da
homossexualidade. Esta é um ataque frontal à família tradicional, a qual já vem sendo
devastada e desestruturada pelos divórcios, pelas drogas e pelo individualismo. Programas
ditos de educação sexual estão entrando nas escolas através de cartilhas que incentivam a
criança e o adolescente à uma pratica sexual cada vez mais precoce, além de defender como
certa e normal a prática homossexual. Tais programas ainda contam com o apoio da maior
agência de educação do país, o Ministério da Educação. Além disso, o órgão máximo da
justiça de nossa nação, o Supremo Tribunal Federal, tem deliberado de forma a favorecer o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que é contrário ao que Deus, o Criador,
estabeleceu. Afirmam estar pleiteando direitos para uma minoria desprivilegiada, quando na
verdade querem defender seus interesses pessoais e carnais e não serem incomodados por
nenhum postulado jurídico ou religioso. Ora, um decreto de Dario (Daniel 6) nada tem de
inocente, mas esconde um interesse diabólico levado a termo por homens movidos pela inveja
2. e pela maldade. A sexualidade e o estimulo deliberado ao uso de bebidas alcoólicas são a
marca registrada de nossa sociedade cada vez mais permissiva.
Não poderíamos esperar outra coisa de uma sociedade caída, de um mundo que jaz no
maligno. Os homens vão indo "de mal a pior, enganando e sendo enganados" (II Tm 3:13). A
igreja é quem deveria estar fazendo a diferença, mas, muitas vezes, não tem sido este o caso.
A igreja tem negligenciado sua responsabilidade social e tem sido omissa em sua
responsabilidade de batalhar diligentemente "pela fé que uma vez por todas foi entregue aos
santos" (Jd 3). A igreja parece estar voltada para si mesma e permanece inerte diante do
avanço da maldade. A iniquidade, cada dia mais organizada através de uma série de
iniciativas políticas e jurídicas, ainda conta com o apoio de uma mídia incentivadora. A igreja
tem se mostrado fraca na defesa da verdade e não tem condição moral de se impor contra a
mentira porque ela mesma está envolvida com a corrupção, a falsidade e a injustiça. Por isso,
a injustiça tem prevalecido e os ímpios têm encontrado espaço para impor suas ideias carnais,
acobertadas por um discurso social e político.
É lamentável ver o silêncio da igreja. Tal como os sátrapas intentaram fazer com
Daniel, assim, no Brasil, querem silenciar os cristãos. E muitos, há tempos, já não dizem uma
única palavra. Ainda pior é ver alguns dos que se intitulam “igreja”, advogando a favor de
ideias contrárias à verdade de Deus. Muitos cristãos estão abandonando a autoridade das
Escrituras e capitulando às posturas de uma sociedade caída, como se esta fosse a regra a ser
seguida. É isto que o Senhor disse a Israel pela boca do profeta Isaías e que se aplica à
realidade de nossa nação: "A verdade anda tropeçando na praça" (Is 59:14). A praça era o
local onde se faziam as discussões mais importantes de uma cidade. Quando o conhecimento
de Deus e sua vontade revelada não atingem o cenário político, social e religioso de uma
nação, dando-lhe a divina direção, o que resta é a perversão, a perdição e a inversão de
valores, como podemos ver em nosso país. É por isso que o direito e a justiça não prevalecem
e não há espaço para a retidão.
Foi isto também o que denunciou o profeta Jeremias ao dizer que "uma coisa horrenda
e espantosa se anda fazendo na terra; os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes
dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo" (Jr 5.30-31). Em muitos
casos, a verdade não tem sido pregada nem mesmo nos púlpitos das igrejas brasileiras. Uma
pregação superficial, humanista e liberal tem ocupado o lugar da fiel exposição das Escrituras.
Psicologia, auto-ajuda, lições de moral e a falsa teologia da prosperidade têm sido o conteúdo
da instrução de um povo que prefere uma "coceira nos ouvidos" do que ouvir a "sã doutrina"
(II Tm 4.3). A igreja tem perdido sua força porque tem se afastado da Palavra de Deus e anda
fazendo uma série de concessões, se submetendo à cultura de nossa época, numa tentativa tola
de ser atraente. Por interesse e por dinheiro, muitos na igreja têm se vendido à uma filosofia
de vida cada vez mais mundana, e ainda afirmam estar falando em o nome do Senhor. É por
isso que, lamentavelmente, ao invés de defender as Escrituras, pessoas no meio cristão estão
defendendo, por exemplo, o casamento homossexual. Tal conduta da igreja também foi alvo
das profecias de Miquéias. Eram os líderes de Israel que haviam abandonado o juízo,
pervertido o direito e, com as mãos cheias de crimes, se corrompido por dinheiro (Mq 3:9-11).
A falta da verdade e da justiça na igreja é um golpe mortal na esperança do povo de Deus e da
sociedade. Um povo que não conhece a verdade não pode sustentá-la. E, se a verdade tropeça
no púlpito, certamente não ficará de pé na praça.
Se os valores de nossa sociedade estão invertidos, é de se esperar que os justos sejam
tratados como pecadores. Aqueles que pretendem levantar a bandeira da justiça e da verdade
em nossa sociedade serão tidos por intolerantes, conservadores, retrógrados, preconceituosos
e, até mesmo, homofóbicos. Estes têm encontrado oposição até mesmo dos de dentro da
igreja.
Mas o "Senhor viu isso e desaprovou o não haver justiça" (Is 59.15). Esta situação em
3. nosso país antecede o juízo de Deus, assim como ocorreu a Israel. No capítulo 5 de Isaías há
uma série de lamentos que antecedem à condenação. Os homens têm uma grande disposição
para o prazer da carne, mas são corruptíveis e tratam a justiça com parcialidade e de acordo
com interesses próprios. Condenam o justo e absolvem ao culpado. Aprovam leis injustas e
negam a justiça. Mas Deus, cujo caminho são verdade e justiça, há de exercer juízo com seu
braço forte, salvando aqueles com os quais ele firmou uma aliança.
Podemos concluir que há uma necessidade urgente de a igreja brasileira se despertar
para o cumprimento de sua missão. Toda mudança não pode começar, senão, com um
arrependimento de seu pecado; com uma busca pela pureza e uma fervorosa volta às
Escrituras. Só há uma maneira de fazer com que a verdade não vacile em nossa sociedade:
fortalecer a igreja com a Palavra de Deus. Certamente, um povo comprometido com verdade
das Escrituras falará dela onde quer que esteja, e será capaz de firmar-se sobre a verdade e, ao
mesmo tempo, sustentá-la.
Presbítero Edson Marques