1) O Direito constituiu-se como a grande contribuição romana à Filosofia, com um sistema legal impessoal e técnico, diferentemente das leis gregas influenciadas por circunstâncias políticas.
2) A aristocracia romana pôde desfrutar do ócio graças à riqueza do Império, dedicando-se então à cultura e às artes.
3) Plotino desenvolveu uma filosofia baseada no Uno, princípio transcendente e indizível sobre o qual só se pode falar por aproxim
Aula 05 filosofia início da era cristã e patrística
1. FILOSOFIA
Aula 5 – Os Romanos, o
Início da Era Cristã e a Patrística
Prof. Ms. Elizeu N. Silva
2. O Direito constitui-se na grande contribuição romana à
Filosofia. Diferentemente dos gregos, cujas leis estavam
sujeitas a votações influenciadas pelas circunstâncias
políticas, os romanos desenvolveram um direito com caráter
impessoal e técnico. Trata-se de um sistema coerente, de
forma que cada parte não conflita com as demais.
Antes do período republicano as leis confundiam-se com os
preceitos religiosos e os costumes. No início da República, com
as contínuas revoltas dos plebeus por mais direitos, tornou-se
necessário o estabelecimento de leis básicas escritas, que
pudessem ser aplicadas a todos os casos.
3. Ao proclamar Júlio César (101–44 a.C.) como imperador, o
Senado romano lançou a ideia de concentração de poderes em
uma só pessoa, esvaziando as demais instituições políticas
atuantes em Roma.
Esta decisão interessou à aristocracia da época, pois a partir
de então esta ficava livre da onerosa participação no negotium
(negócio, que significava a administração pública) da res
publica (coisa pública, de todos).
4. A aristocracia romana pode, então, gozar o otium (ócio) da vida
sem trabalho mantida pela riqueza do Império e pela adoção de
mão-de-obra escrava. Pode, desta forma, dedicar-se à cultura
e às artes, até então valores de pequena prioridade para os
romanos.
O pensamento romano floresce, portanto, num ambiente de
ócio. Ao contrário do que ocorre na Grécia, não se trata de uma
produção original, mas de uma série de fusões e adaptações
de diversas correntes de pensamento. Desenvolvem um
pensamento eclético.
5. Marco Túlio Cícero (106–43 a.C.) foi o primeiro a produzir
filosofia em latim. Tratava-se de um político romano
importante, opositor de Júlio César – o que o levou ao exílio.
De volta a Roma após a morte de César, opôs-se também a
Otaviano e acabou assassinado.
A preocupação básica de Cícero é a convivência dos homens
em sociedade. Embora admitindo a impossibilidade de se
alcançar o conhecimento absoluto, concentra suas buscas
numa forma de conhecimento que assegure o consenso.
6. Lúcio Aneu Sêneca (4a.C. – 65d.C.), também político, foi
preceptor do imperador Nero, e conselheiro quando ele se
tornou imperador. Discordando dos métodos do antigo
discípulo, acabou sendo obrigado a suicidar-se.
Para Sêneca, a Filosofia divide-se em três partes: ética, física e
lógica. Por objetivar um conhecimento útil para a vida em
sociedade, concentra suas pesquisas na ética. A exemplo de
Cícero, busca um pensamento que ensine os homens a viver
bem.
Defende a ideia de um Deus que transcende o mundo, estando
acima do Universo. Ao homem, cabe praticar o bem, para que
possa ser ajudado por Deus.
7. Epicteto (50–130 d.C.), ex-escravo que após liberto se dedicou
à filosofia, compartilha as ideias de Sêneca quanto ao Deus
transcendente.
Ensina que é necessário separar as coisas que dependem de
nós, das que não dependem. “Dependem de nós”, afirma, “a
opinião, a tendência, o desejo, a aversão, tudo que seja obra
nossa”. Não dependem do homem o corpo, a riqueza, os altos
cargos. Trata-se, portanto, de conduzir corretamente tudo que
depende de nós e permanecer indiferentes ao resto.
Nisto residiria a felicidade da alma e a felicidade.
8. Epicteto (50–130 d.C.), ex-escravo que após liberto se dedicou
à filosofia, compartilha as ideias de Sêneca quanto ao Deus
transcendente.
Ensina que é necessário separar as coisas que dependem de
nós, das que não dependem. “Dependem de nós”, afirma, “a
opinião, a tendência, o desejo, a aversão, tudo que seja obra
nossa”. Não dependem do homem o corpo, a riqueza, os altos
cargos. Trata-se, portanto, de conduzir corretamente tudo que
depende de nós e permanecer indiferentes ao resto.
Nisto residiria a felicidade da alma e a felicidade.
9. Plotino (205–270) surge no cenário da filosofia no século
III, quando o Império já está em declínio. Em viagens à Pérsia
aprendeu sobre o pensamento místico oriental. No
entanto, será em Platão que encontrará fundamento para
construir a sua filosofia.
Busca, a exemplo de Platão, um princípio para tudo que
existe, ao qual dá o nome de Uno. No entanto, o Uno é
indizível: ou seja, sobre ele não se pode dizer nada = não pode
ser traduzido em palavras.
10. Denota, desta forma, inspirar-se em Platão que afirmava que o
Bem, a Ideia das ideias, a Virtude das virtudes, só poderia ser
alcançada pela intuição intelectual silenciosa, sendo possível
falar dele apenas por aproximações.
Sobre o Uno de Plotino só é possível falar por aproximações e
por negações. (Ao que o Uno pode ser comparado, embora em
escalas diferentes; o que não é, definitivamente, o Uno).
Para Plotino, o Belo é manifestação do Uno. No entanto, o Uno
não pode ser acessado pelos sentidos e nem mesmo pelo
intelecto. Ele está além disso tudo: é transcendente e absoluto.
11. Na tradição filosófica então predominante, o infinito era
considerado sintoma de imperfeição. Por isso, a ideia de
divindade estava sempre associada a algo finito, cuja
expressão pictórica era a esfera. A partir de Plotino, a noção de
infinitude deixa de repugnar ao pensamento.
O Uno transcendente não está no tempo: não tem
passado, nem presente, nem futuro.
Ainda para Plotino, a razão é a perfeição da alma pois lhe
permite contemplar as ideias perfeitas da inteligência. Já a
matéria, inerte e estéril, incapaz de contemplação, é
completamente imperfeita: é o mal.
12. O cristianismo, como religião nascente, não se limitou ao
terreno da fé e buscou fundamentar-se na Filosofia. Se por um
lado, a fé cristã acabou por assimilar, desta
forma, procedimentos racionais, por outro, a Filosofia ocidental
acabou encampada pela religião cristã por mais de 1.000 anos.
O encontro entre fé e razão começou no Império Romano e
prolongou-se por toda a Idade Média, quando a Igreja
predominou como instituição política e cultural.
13. A religião não apenas redefiniu a Filosofia, como alterou o lugar
desta na hierarquia das prioridades intelectuais. Dos primeiros
anos da Era Cristã até o fim da Idade Média, a Filosofia fica
sob as ordens da Teologia. Deus toma o lugar da razão como
foco do discurso dos filósofos.
O apelo à Filosofia decorre da necessidade da religião de
oferecer respostas às indagações das camadas mais
intelectualizadas da sociedade, recolhidas em mosteiros ou
habitando cidades litorâneas.
14. O cristianismo triunfa oficialmente em 313, quando o imperador
Constantino (primeiro imperador a se converter à nova religião)
concede liberdade de culto aos cristãos. As doutrinas cristãs
foram estabelecidas no Concílio de Niceia, no ano
325, convocado pelo próprio Constantino. Nesta e em outras
reuniões similares, estabeleceu-se a ortodoxia (= opinião
correta) da doutrina cristã.
No entanto, a ortodoxia precisa ser convincente para ser aceita
igualmente tanto por ignorantes como por letrados. Precisa
revestir-se duplamente de revelação (fé) e de raciocínio
(razão).
15. Para enfrentar o desafio da conciliação entre fé e razão, surge
dentro da igreja cristã uma nova corrente filosófica que irá
tornar-se predominante nos séculos seguintes: Filosofia
Patrística, ou elaborada pelos “pais” (padres) da igreja.
Santo Agostinho (354–430) é figura
central desta corrente filosófica. Embora
os pais não fossem ricos, recebeu
educação primorosa para tornar-se
advogado ou professor.
16. Os séculos IV e V, em que Agostinho vive, são uma época em
que a Filosofia perdeu a confiança na razão. O ceticismo
quanto a qualquer ideia que não fosse cristã leva à convicção
da impossibilidade de se alcançar a verdade por meio da razão.
Agostinho toma para si o encargo de restabelecer a confiança
na razão – paradoxalmente tendo a fé como padrão.
Para ele, o conhecimento da verdade é uma realidade fática –
ou seja, algo concreto, como provam as irrefutáveis
demonstrações matemáticas e lógicas. Resta descobrir como
tal conhecimento é possível, e o que os avaliza como
conhecimento.
17. O intelecto humano, mutável e perecível, não pode ser avalista
do conhecimento. A verdade não pode depender de referências
tão frágeis. A verdade só pode ser assegurada por algo que se
coloque acima dos homens e das coisas.
Deus é a referência para o conhecimento. Deus é o padrão
para a verdade.
Se a razão, na busca da certeza, se depara com a fé em
Deus, é também a fé que permite resgatar a dignidade da
razão.
“Compreender para crer, crer para compreender”, afirma Santo
Agostinho.
18. Agostinho dirá que o conhecimento é dado pela presença
íntima, em cada homem, do Verbo feito carne (Cristo), cuja
verdade e certeza o ser humano expressa por meio das
palavras.
Agostinho adota o Uno de Plotino como expressão de Deus.
Assim como Plotino, desenvolve mais negativa que afirmativa:
“Se não podeis compreender o que Deus é, compreendei ao
menos o que Ele não é...”.
19. Agostinho discutirá à exaustão a ideia de trindade.
Deus Pai = Existência
Deus Filho = Conhecimento
Espírito Santo = Vontade.
Feito à semelhança de Deus, o homem traz em si também a
tríade corpo, alma e espírito.
O mundo, criação de Deus, também constitui uma tríade:
coisas inanimadas, seres viventes e seres inteligentes.
A ordem do mundo é bela e boa, pois é criação de Deus. O mal
não existe como substância: trata-se do afastamento em
relação a Deus.
20. Fontes bibliográficas:
ABRÃO, Bernadette Siqueira. A história da filosofia. São
Paulo, Ed. Nova Fronteira, 2004
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, 13ª
edição, Ed. Ática, 2005
GHIRALDELLI JR., Paulo. Introdução à filosofia. Barueri, Ed.
Manole, 2003