O documento descreve a arte gótica na Idade Média, que surgiu após mudanças no pensamento filosófico e nas condições socioeconômicas no século XII. A arte gótica valorizava mais o mundo sensível e a natureza, e se expressava através de catedrais com vitrais coloridos e esculturas que humanizavam figuras religiosas. A arquitetura gótica também se tornou mais ousada e dinâmica em relação ao estilo românico anterior.
2. Arte Medieval – o Gótico
Em um aspecto particularmente o homem ocidental sempre se
destacou do oriental: ele nunca aceitou passivamente os
cânones. O Ocidente jamais conheceu a imobilidade. Ao
contrário, sempre demonstrou espírito irrequieto e
suficientemente ousado para experimentar novas soluções e
novas ideias.
No século XII, mudanças no pensamento filosófico e nas
condições socioeconômicas propiciam o surgimento de um
novo homem – e consequentemente, uma nova arte.
3. Arte Medieval – o Gótico
A tradução de escritos de Aristóteles levam à rejeição do
pensamento platônico então predominante. Passa-se da
abstração às sensações; da valorização do mundo das
ideias, à valorização do mundo sensível.
São Tomás de Aquino (1225–1274):
• “Deus gosta de todas as coisas, pois cada uma delas está
em harmonia com a sua essência”.
• “Tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus.
O mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência
do mal é a privação ou ausência do bem”.
4. Arte Medieval – o Gótico
• Anteriormente, a crença na transcendência absoluta de Deus
(de inspiração platônica) envolvia, necessariamente, uma
depreciação da natureza.
• Esse Deus transcendente e inacessível atendia aos
interesses da aristocracia românica do primeiro estágio da
Idade Média.
• No entanto, um Deus presente e que agia em todas as
instâncias da natureza, que surge no período gótico,
corresponde a um mundo mais liberal em que a
possibilidade de ascensão social não está totalmente
descartada.
5. Arte Medieval – o Gótico
• Na arte e em outros campos da existência, observa-se um
certo equilíbrio entre liberdade e restrição (imposta pela
igreja).
• A depreciação da natureza, como expressão do mundo
sensível, em face da superioridade da transcendência
celestial (metafísico) dá lugar ao interesse pela natureza como
fonte de traços de sua personalidade e reflexo de seus
sentimentos.
• São Francisco de Assis (1182–1226) reconhece os seres da
natureza como “irmãos”, em uma nova possibilidade de
amor/afeto que se harmoniza perfeitamente com as ideias
liberais do período.
6. Arte Medieval – o Gótico
Todas as coisas expressam, cada
uma à sua maneira, a natureza
divina, e assim, também possuem
valor e significado para a arte.
• Giotto de Bondone (1266–
1337) humaniza a figura dos
santos e introduz elementos
banais em sua pintura.
Antecipa, desta forma, uma
visão humanista do mundo, que
irá se firmando até o
Renascimento.
7. Arte Medieval – o Gótico
A arquitetura das igrejas é uma
importante expressão da estética
gótica. As antigas igrejas
românicas, consideradas
pesadas e arcaicas já no século
XII, logo foram substituídas por
construções mais ousadas e
dinâmicas.
Basília de
Saint-Sernin.
Toulouse.
Inaugurada
em 1096.
Catedral de Notre-Dame. Construída em Paris
entre os anos 1163 e 1345, em estilo gótico.
8. Arte Medieval – o Gótico
As grandes catedrais do final do século XII e início do XIII em
sua maioria foram concebidas em escala tão imponente e
arrojada que praticamente nenhuma foi concluída
exatamente como projetada. Ao longo da construção, que
facilmente avançava além dos 100 anos, inúmeras
alterações eram incorporadas – fossem pela aquisição de
novos conhecimentos técnicos ou por novas concepções
estéticas e filosóficas.
9. Arte Medieval – o Gótico
As novas catedrais davam aos fiéis o vislumbre de um mundo
diferente. Eles ouviriam falar, em sermões e cânticos, da
Jerusalém Celestial com seus portões de pérolas, suas joias de
incalculável preço, suas ruas de ouro puro e cristal transparente
(Apocalipse cap. XXI). Essa visão agora descera do Céu à Terra e
tornara-se acessível a todos.
As paredes das igrejas góticas não eram frias e intimidativas.
Eram
formadas de vitrais polícromos, que refulgiam como rubis e
esmeraldas.
10. Arte Medieval – o Gótico
Tudo o que era pesado, terreno e trivial foi eliminado. Entregues
à contemplação de toda essa beleza, os fiéis podiam sentir que
estavam mais próximos de entender os mistérios de um reino
imaterial.
12. Arte Medieval – o Gótico
O artista gótico não estava
mais preocupado com a
beleza clássica de
proporção, equilíbrio e
harmonia. Começa a
interessar-se pela expressão
dos sentimentos humanos.
Esculturas na Catedral de Chartres, França.
Construída entre 1145 e 1260.
13. Arte Medieval – o Gótico
Pinturas e esculturas fazem referência direta a personagens
e passagens bíblicas. Em conjunto, elas formam uma
consubstanciaçâo dos ensinamentos da Igreja.
Morte da Virgem.
Catedral de
Estrasburgo,
Alemanha. Por volta
de 1230.
14. Arte Medieval – o Gótico
A arte gótica se opõe radicalmente à abstração estereotipada
do período românico. Interessa-se, agora, inteiramente pelo
ser e pelas características únicas dos indivíduos.
Observa-se facilmente
o esforço do artista
para expressar os
sentimentos, a
ansiedade, o medo, a
bondade, a devoção,
de suas figuras.
Esculturas na Catedral de Chartres, França. Construída
entre 1145 e 1260.
15. Arte Medieval – o Gótico
A mudança essencial é que a arte unilateralmente espiritual
do começo da Idade Média, que rejeitava toda imitação da
realidade diretamente vivenciada e toda confirmação pelos
sentidos, deu lugar a uma arte que faz toda validade de
afirmação, mesmo acerca de matérias sobrenaturais, ideais e
divinas, depender da realização de uma absoluta
correspondência com a realidade sensível natural.
Desta forma, todo o relacionamento entre Espírito e Natureza
foi alterado.
18. Bibliografia
FERNÁNDEZ, A.; BARNECHEA, E.; HARO, J. Historia del arte.
Barcelona, Ed. Vicens-Vives, 1998
GOMBRICH, E H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo,
Martins Fontes, 2000
VENTURI, Lionello. História da crítica de arte. Lisboa, Ed. 70, 2007