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Visita às ilhas da cidade do Porto
Visita guiada pelo Antropólogo Fernando Matos Rodrigues , em
04/04/2011, às ilhas da cidade do Porto, organizada pelo Centro Novas
Oportunidades da ESAG, no âmbito do Plano Anual da Atividades.




Foto: Ana Isabel Silva


Atendendo à evolução da população do Porto, verifica-se que é na
segunda metade do século XIX que a situação habitacional da cidade se
agudiza, ou seja, a partir do momento em que o desenvolvimento
industrial, nomeadamente da indústria têxtil algodoeira, provoca um
intenso afluxo de população à cidade, associado à expansão dos meios de
transporte, quer rodoviário, quer ferroviário.
Em 1864 existiam 90 391 habitantes, em 1890 a população da cidade
atingia já as duas centenas de milhares, ou seja, um acréscimo de 64%.
A expansão crescente que a cidade conhece no século XIX traduz-se por
elevadas densidades populacionais no velho burgo central (freguesias da
Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso e Miragaia). Este aumento contínuo
da população, associado a uma política orientada para os interesses da
burguesia, originou uma subida vertiginosa do custo da habitação, devido
à especulação de terrenos e imóveis, o que tornou a oferta de
alojamentos inacessível aos estratos sociais mais baixos. Tais factos
tiveram como consequência imediata uma degradação urbanística.





 Docente da cadeira de Antropologia do Espaço do Curso de Arquitectura da Escola Superior
Artística do Porto (ESAP).
As «ilhas», que surgem, provavelmente nesta altura, como uma forma
específica de alojamento para o operariado, resultaram, em parte, do tipo
de loteamento então definido para a cidade. Na base deste loteamento
encontrava-se um lote com 25 palmos (5,5 m) e um comprimento
podendo atingir 100 m, o que permitiu uma ocupação de fileiras de
pequenas habitações, geralmente de um só piso, ao longo destes lotes
estreitos e que abriam directamente para um corredor, o qual fazia a
ligação para a rua, encontrando-se geralmente nas traseiras das
habitações da classe média.




Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG)



No século XIX os riscos de epidemia, infecção e incêndio, quer devido às
condições habitacionais existentes, quer à falta de higiene urbana
(saneamento, canalização de água e recolha de lixo), impuseram que
pouco a pouco fossem tomadas medidas para uma melhor organização do
espaço urbano, particularmente das áreas residenciais.
Estas realizações ficaram muito aquém do que seria necessário,
mantendo-se um défice importante de alojamentos, quer a construir, quer
a substituir, destinados essencialmente às classes sociais insolventes, que
se verifica até hoje.




Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências
Transversais, CNO ESAG
Os processos de transferência para o bairro foram vividos de forma
violenta. Essas populações ficaram condenadas à precariedade e, muitas
vezes, à economia informal. De facto, é o que hoje se verifica. Cerca de
20% da população vive hoje em bairros sociais e há 1300 casas em ilhas.




               Localização dos bairros sociais construídos entre 1901 e 1956


No Porto, segundo o último estudo que a autarquia disponibilizou, já lá
vão 10 anos, registam-se 1182 ilhas, com 8678 fogos, havendo entre 20 a
30mil pessoas a viver nelas.


Habitação social das ilhas e bairros do Porto não
mudou na última década
Os alunos de Arquitectura, orientados pelo Antropólogo Fernando Matos,
estão a proceder a um estudo de investigação nas ilhas e bairros do Porto
no sentido de identificar os problemas sociais que persistem. Os
resultados deste trabalho in locco têm demonstrado que a requalificação
é a melhor solução, mas não como tem vindo a ser feita na cidade do
Porto.
Para estes futuros arquitetos há uma certeza: o caminho deve ser o da
requalificação dos bairros e ilhas da cidade. Mas não da forma como está
a ser feito. "A câmara não tem um plano estratégico, tem um plano
económico", assegura Fernando Matos Rodrigues, questionado sobre a
política de habitação social adoptada pela Câmara Municipal do Porto. É
muito importante perceber que há diferenças entre os problemas dos
bairros e das ilhas que devem ser clarificados, alerta o Antropólogo, “Se
no primeiro caso, a perda de vínculos sociais e afetivos entre os
moradores é o que precipita muitos dos problemas existentes, no segundo
há ainda um sentido de comunidade e entreajuda que minimiza as
condições precárias em que os moradores habitam.”
São números redondos que não seriam um problema se as ilhas fossem
qualificadas, defende Fernando Matos Rodrigues, que vai apresentar no
início do ano um estudo sobre as ilhas enquanto espaços sustentáveis.
"Era preciso fazer das ilhas um património, como se fez em Sevilha e em
Barcelona, por exemplo. Basta juntar duas casas para ficarmos com aquilo
que, em Roma ou em Milão, é um estúdio capaz de receber um estudante
ou um empresário".

O grande problema das ilhas é que, "do ponto de vista legal, não existem",
explica ainda o Antropólogo. O que existe é a "casa senhorial à face da
rua", tudo o que está para trás, escondido, é "clandestino". É também
esse "processo de apropriação espontânea" que caracteriza as ilhas. Por
isso, "os técnicos da Câmara Municipal do Porto não gostam das ilhas,
porque fogem ao que é burocrático, e podem perfeitamente fechar os
olhos a isto". São, na verdade, "espaços em transformação permanente",
“uma espécie de ‘terra de ninguém’ onde o morador vai fazendo aquilo
que lhe dá jeito - um anexo, uma casa de banho, mais um andar. "Tudo é
possível, porque nada é fiscalizado", diz.

A população das ilhas é, maioritariamente, idosa, à semelhança, aliás, do
que acontece um pouco por todo o centro histórico do Porto. Nos últimos
anos, tem também crescido o número de emigrantes, "de Leste e do
Brasil, sobretudo", fenómeno que, "apesar de ainda ser residual, tem
tendência para aumentar". Mas este público podia alargar: "Os jovens que
fugiram para a periferia têm mostrado vontade de regressar ao Porto e as
ilhas seriam um espaço privilegiado para os receber, ou para construir
residências estudantis", acredita.




           Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG
Mais do que o problema arquitetónico, é contra um "estigma enraizado"
que se trava a grande luta, quando se fala de ilhas, diz o antropólogo
Fernando Matos Rodrigues. Há a pobreza e a miséria, sim. Mas há
também um sentido de comunidade raro que pode ser toque mágico de
varinha na minimização de problemas, dizem. Talvez por ele as ilhas
continuem a ser capazes de atrair moradores.




Fotos: Zilda Costa (coordenadora do centro, Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG




        Trabalho realizado pelos Formandos da Oficina de Competências Transversais, CNOESAG
                                                                           Matosinhos, 2011

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Relatório visita às ilhas da cidade do porto

  • 1. Visita às ilhas da cidade do Porto Visita guiada pelo Antropólogo Fernando Matos Rodrigues , em 04/04/2011, às ilhas da cidade do Porto, organizada pelo Centro Novas Oportunidades da ESAG, no âmbito do Plano Anual da Atividades. Foto: Ana Isabel Silva Atendendo à evolução da população do Porto, verifica-se que é na segunda metade do século XIX que a situação habitacional da cidade se agudiza, ou seja, a partir do momento em que o desenvolvimento industrial, nomeadamente da indústria têxtil algodoeira, provoca um intenso afluxo de população à cidade, associado à expansão dos meios de transporte, quer rodoviário, quer ferroviário. Em 1864 existiam 90 391 habitantes, em 1890 a população da cidade atingia já as duas centenas de milhares, ou seja, um acréscimo de 64%. A expansão crescente que a cidade conhece no século XIX traduz-se por elevadas densidades populacionais no velho burgo central (freguesias da Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso e Miragaia). Este aumento contínuo da população, associado a uma política orientada para os interesses da burguesia, originou uma subida vertiginosa do custo da habitação, devido à especulação de terrenos e imóveis, o que tornou a oferta de alojamentos inacessível aos estratos sociais mais baixos. Tais factos tiveram como consequência imediata uma degradação urbanística.  Docente da cadeira de Antropologia do Espaço do Curso de Arquitectura da Escola Superior Artística do Porto (ESAP).
  • 2. As «ilhas», que surgem, provavelmente nesta altura, como uma forma específica de alojamento para o operariado, resultaram, em parte, do tipo de loteamento então definido para a cidade. Na base deste loteamento encontrava-se um lote com 25 palmos (5,5 m) e um comprimento podendo atingir 100 m, o que permitiu uma ocupação de fileiras de pequenas habitações, geralmente de um só piso, ao longo destes lotes estreitos e que abriam directamente para um corredor, o qual fazia a ligação para a rua, encontrando-se geralmente nas traseiras das habitações da classe média. Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG) No século XIX os riscos de epidemia, infecção e incêndio, quer devido às condições habitacionais existentes, quer à falta de higiene urbana (saneamento, canalização de água e recolha de lixo), impuseram que pouco a pouco fossem tomadas medidas para uma melhor organização do espaço urbano, particularmente das áreas residenciais. Estas realizações ficaram muito aquém do que seria necessário, mantendo-se um défice importante de alojamentos, quer a construir, quer a substituir, destinados essencialmente às classes sociais insolventes, que se verifica até hoje. Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG
  • 3. Os processos de transferência para o bairro foram vividos de forma violenta. Essas populações ficaram condenadas à precariedade e, muitas vezes, à economia informal. De facto, é o que hoje se verifica. Cerca de 20% da população vive hoje em bairros sociais e há 1300 casas em ilhas. Localização dos bairros sociais construídos entre 1901 e 1956 No Porto, segundo o último estudo que a autarquia disponibilizou, já lá vão 10 anos, registam-se 1182 ilhas, com 8678 fogos, havendo entre 20 a 30mil pessoas a viver nelas. Habitação social das ilhas e bairros do Porto não mudou na última década Os alunos de Arquitectura, orientados pelo Antropólogo Fernando Matos, estão a proceder a um estudo de investigação nas ilhas e bairros do Porto no sentido de identificar os problemas sociais que persistem. Os resultados deste trabalho in locco têm demonstrado que a requalificação é a melhor solução, mas não como tem vindo a ser feita na cidade do Porto. Para estes futuros arquitetos há uma certeza: o caminho deve ser o da requalificação dos bairros e ilhas da cidade. Mas não da forma como está a ser feito. "A câmara não tem um plano estratégico, tem um plano económico", assegura Fernando Matos Rodrigues, questionado sobre a política de habitação social adoptada pela Câmara Municipal do Porto. É muito importante perceber que há diferenças entre os problemas dos bairros e das ilhas que devem ser clarificados, alerta o Antropólogo, “Se no primeiro caso, a perda de vínculos sociais e afetivos entre os
  • 4. moradores é o que precipita muitos dos problemas existentes, no segundo há ainda um sentido de comunidade e entreajuda que minimiza as condições precárias em que os moradores habitam.” São números redondos que não seriam um problema se as ilhas fossem qualificadas, defende Fernando Matos Rodrigues, que vai apresentar no início do ano um estudo sobre as ilhas enquanto espaços sustentáveis. "Era preciso fazer das ilhas um património, como se fez em Sevilha e em Barcelona, por exemplo. Basta juntar duas casas para ficarmos com aquilo que, em Roma ou em Milão, é um estúdio capaz de receber um estudante ou um empresário". O grande problema das ilhas é que, "do ponto de vista legal, não existem", explica ainda o Antropólogo. O que existe é a "casa senhorial à face da rua", tudo o que está para trás, escondido, é "clandestino". É também esse "processo de apropriação espontânea" que caracteriza as ilhas. Por isso, "os técnicos da Câmara Municipal do Porto não gostam das ilhas, porque fogem ao que é burocrático, e podem perfeitamente fechar os olhos a isto". São, na verdade, "espaços em transformação permanente", “uma espécie de ‘terra de ninguém’ onde o morador vai fazendo aquilo que lhe dá jeito - um anexo, uma casa de banho, mais um andar. "Tudo é possível, porque nada é fiscalizado", diz. A população das ilhas é, maioritariamente, idosa, à semelhança, aliás, do que acontece um pouco por todo o centro histórico do Porto. Nos últimos anos, tem também crescido o número de emigrantes, "de Leste e do Brasil, sobretudo", fenómeno que, "apesar de ainda ser residual, tem tendência para aumentar". Mas este público podia alargar: "Os jovens que fugiram para a periferia têm mostrado vontade de regressar ao Porto e as ilhas seriam um espaço privilegiado para os receber, ou para construir residências estudantis", acredita. Fotos: Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG
  • 5. Mais do que o problema arquitetónico, é contra um "estigma enraizado" que se trava a grande luta, quando se fala de ilhas, diz o antropólogo Fernando Matos Rodrigues. Há a pobreza e a miséria, sim. Mas há também um sentido de comunidade raro que pode ser toque mágico de varinha na minimização de problemas, dizem. Talvez por ele as ilhas continuem a ser capazes de atrair moradores. Fotos: Zilda Costa (coordenadora do centro, Ana Isabel Silva (Formanda da Oficina de Competências Transversais, CNO ESAG Trabalho realizado pelos Formandos da Oficina de Competências Transversais, CNOESAG Matosinhos, 2011