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           BIOÉTICA: um texto introdutório                                                                        1




                                                                                             João dos Santos Carmo1
                                                                                              Jusele de Souza Matos2


     RESUMO:                                                                                  De qualquer forma, por-
      Discussões em torno da Bioética estão cada vez mais em pauta                   tanto, estamos nos referindo a
     em função da crescente possibilidade de controle tecnológico                    comportamentos julgados como
     dos fenômenos vida e morte tanto sobre nossa espécie quanto                     éticos ou não-éticos. Daí, cada
     sobre outras espécies. As tomadas de decisões em torno do que                   época ser marcada por questões
     é ético ou não-ético em pesquisa, bem como a aplicação de                       e conflitos éticos que convidam
     conhecimentos oriundos de pesquisas genéticas e outras áreas                    os indivíduos a posicionarem-se
     tecnológicas abre um campo novo de discussões e preocupações                    quanto ao que deve ou não ser
     que tocam direta ou indiretamente a todos os indivíduos. O presente             aceito e tido como moral e váli-
     artigo, portanto, busca situar a Bioética dentro de um quadro                   do. Em nossa época, na socieda-
     geral, desde sua definição, sua origem contextualizada, principais              de ocidental, surgiram questões
     vertentes e questões atuais, objetivando introduzir o leitor no                 e dilemas éticos que diziam e di-
     entendimento desta disciplina.                                                  zem respeito diretamente ao
                                                                                     posicionamento diante da vida e
                                                                                     da morte. Em outras palavras, às
                                                                                     tomadas de decisões acerca do
         A Ética tem sido defini-        lar de escolhas e decisões que
                                                                                     que é vida e morte, e da autono-
da como uma disciplina da filoso-        devemos tomar acerca do que é
                                                                                     mia individual ou coletiva sobre a
fia que trata dos modos e costu-         certo ou errado, moral ou imo-
                                                                                     vida e sobre a morte. Estas ques-
mes em relação a si mesmo e ao           ral, bom ou mal, benéfico ou
                                                                                     tões formam o cimento que deu
outro. Tem como objeto a moral           nocivo. No dizer de Sarmento
                                                                                     base ao que mais tarde foi cha-
e, portanto, possui uma caracte-         (2003, p. 95), a ética pode ser
                                                                                     mado de Bioética, uma discipli-
rística fundamental que é a va-          entendida como
                                                                                     na que lida com os conflitos, de-
riabilidade cultural e temporal.                                                     cisões e dilemas em torno do par
Em outras palavras, o que cha-                                                       vida/morte.
mamos de ética poderia ser tra-                      O domínio do conheci-
                                                     mento, da crítica, e do                 Antes mesmo do
duzido por comportamentos éti-
                                                     enfrentamento social dos        surgimento do neologismo
cos ou costumes e modos de agir,                     comportamentos, da
em relação ao outro ou a si mes-                                                     Bioética, cunhado por Van
                                                     moralidade e dos valores
mo, que são moralmente aceitá-                                                       Rensselaer Potter em 1971, al-
                                                     da ação humana, sejam
veis e permitidos em uma dada                        estéticos (belo/feio), eco-     guns acontecimentos passaram a
época e cultura. Neste sentido,                      nômicos (útil/inútil),          povoar as discussões éticas da
em grande medida podemos fa-                         cognitivos (verdadeiro e        opinião pública e da academia.
                                                     o falso), políticos (justo/     Primeiramente, podemos situar
                                                     injusto) ou ainda outros.

 1
  O presente trabalho foi apresentado durante a II Semana Científica do Curso de Psicologia da Unama, de 25 a 29/08/2003.
2
  Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos e Professor Adjunto do Curso de Psicologia da Universidade da
Amazônia, responsável pela disciplina Técnica de Pesquisa em Psicologia II. E-mail: pjsc@iris.ufscar.br
3
  Monitora da disciplina Técnica de Pesquisa em Psicologia II do Curso de Psicologia da Universidade da Amazônia. E-mail:
juselematos@bol.com.br

                                                            Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.        1
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as graves repercussões das ex-                dade entre os sexos. Paralela-                      Como se vê, há todo um
periências médicas engendradas                mente, crescem na academia as             contexto no qual vão se acentu-
pelo nazismo. Os horrores prati-              reflexões e debates em torno da           ando cada vez mais as questões
cados com judeus em nome do                   ética na pesquisa com seres hu-           em torno da possibilidade de de-
conhecimento científico, através              manos e no uso aceitável da               cisão sobre a vida e a morte. Na
de experimentações de substân-                biotecnologia. Para Closet (2000,         academia, algumas publicações
cias no organismo humano, ma-                 p. 111), as idéias bioéticas surgi-       tiveram grande repercussão e
nipulações genéticas e mutilações             ram a partir:                             serviram como textos de base para
passaram a ser denunciados logo                          Dos grandes avanços da         as discussões acerca dos dilemas
após o fim da segunda grande                             biologia molecular e da        éticos na experimentação com
guerra e acentuou-se ainda mais                          biotecnologia aplicada à       seres humanos. Em 1962, Shana
nos anos 1960, culminando com                            medicina realizados nos        Alexander, uma jornalista espe-
julgamentos dos responsáveis por                         últimos anos;                  cializada em questões médicas
essas ações que foram conside-                           Da denúncia dos abusos         escreveu para a revista Life o
radas crimes contra a humani-                            realizados pela experimen-     artigo intitulado “They decide
dade. Já em 1947, foi elaborado                          tação biomédica em seres       who lives, who dies” (Eles de-
o Código de Nuremberg que tra-                           humanos;                       cidem quem vive e quem mor-
tava da conduta ética nas experi-                        Do pluralismo moral rei-       re)4 , citado por Diniz e Guilhem
mentações biomédicas com se-                             nante nos países de cul-       (2002), Sgreccia (2000) e Pessini
res humanos.                                             tura ocidental;                e Barchinfontaine (1997). Nesse
         O clima político e cultu-                       Da maior aproximação dos       artigo, Alexander relata a consti-
ral efervescente dos anos 1960                           filósofos da moral aos         tuição de um comitê formado por
foi bastante propício para o sur-                        problemas relacionados         médicos, no Centro Renal de
gimento de agrupamentos preo-                            com a vida humana, a sua       Seattle, cuja atribuição era defi-
cupados com os direitos huma-                            qualidade, o seu início e      nir prioridades na alocação de
                                                         o seu final;                   recursos na área de saúde. Uma
nos e engajados na denúncia de
maus tratos e na proposição de                           Das declarações das ins-       das questões prementes que o
alternativas de condutas voltadas                        tituições religiosas sobre     comitê encarou foi a decisão so-
ao bem estar geral ou individual.                        os mesmos temas;               bre os critérios de admissão de
O movimento hippie, por exem-                            Das intervenções dos
                                                                                        pacientes renais crônicos ao tra-
plo, abalou as tradições culturais                       poderes legislativos           tamento de hemodiálise uma vez
e os valores éticos arcaicos da                          como também dos pode-          que havia um número de pacien-
sociedade ocidental, pregando o                          res executivos em ques-        tes que ultrapassava o número
slogan “paz e amor” cuja reper-                          tões que envolvem a pro-       disponível de máquinas de
                                                         teção à vida ou os direi-      hemodiálise. Dada a repercussão
cussão passou a ser mundial. O
                                                         tos dos cidadãos sobre         da questão, o comitê decidiu por
movimento de negros organizou
                                                         sua saúde, reprodução e        constituir um grupo de pessoas,
manifestações e tomou rumos                              morte;
políticos significativos em direção                                                     todos leigos em medicina, que
à igualdade de direitos. O movi-                         Do posicionamento dos          deveria elaborar os critérios de
                                                         organismos e entidades         seleção dos pacientes renais. No
mento feminista ganhou força
                                                         internacionais.                dizer de Diniz e Guilhem (2002)
renovada naquela época, partin-
do para conquistas quanto à igual-                                                      “de uma forma inusitada, então,
                                                                                        o processo de decisão médica



4
    Reproduzido em Josen, Albert R. The birth of bioethics. Hastings Center Reports, v. 23, n. 6, 1993.
2       Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.
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passou para o domínio público”                prévios do sujeito ou de seus res-          térios para se definir a morte e a
(p. 14), o que pode ser encarado              ponsáveis. Apenas para                      vida. A morte clínica, ou morte
sob dois aspectos: ao mesmo tem-              exemplificar, Diniz e Guilhem               cerebral, passou a ser o critério
po em que ocorre um avanço no                 (2002, p. 15-6) citam algumas               definidor das decisões em casos
sentido de que há uma ruptura da              pesquisas, relacionada por                  médicos semelhantes.
visão de onipotência da medicina              Beecher como os exemplos 16 e                        Em 1971 surge a obra de
e dos médicos, novos                          17:                                         Van      Rensselaer       Potter,
questionamentos surgem acerca                         A pesquisa exigia a                 “Bioethics; bridge to the
da preparação ética da popula-                        inoculação intencional do ví-       future” (Bioética: uma ponte
ção em geral acerca da tomada                         rus da hepatite em indivídu-        para o futuro)6 , que, conforme
de decisões sobre vida e morte.                       os institucionalizados por re-      havíamos citado em parágrafo
                                                      tardo mental, para possibili-       anterior, apresenta pela primeira
         Em 1967, Henry                               tar o acompanhamento da
Beecher publica o artigo “Ethics                                                          vez o termo Bioética. Em seu li-
                                                      etiologia da doença. No exem-
and Clinical Research” (Ética                         plo 17, médicos pesquisado-
                                                                                          vro, Potter estabelece claramen-
e Pesquisa Clínica)5 , citado por                     res injetaram células vivas de      te as bases políticas da Bioética,
Diniz e Guilhem (2002) e                              câncer em 22 pacientes ido-         posição esta que é assumida até
Sgreccia (2000). Beecher enfoca                       sos e senis hospitalizados,         os dias atuais:
22 pesquisas médicas, subsidia-                       sem comunicá-los que as cé-
                                                                                                 “O que nós temos de en-
das por recursos governamentais                       lulas eram cancerígenas, com
                                                                                          frentar é o fato de que a ética
e de companhias médicas e                             o objetivo de acompanhar as
                                                      respostas imunológicas do           humana não pode estar separada
publicadas em periódicos cientí-                                                          de uma compreensão realista da
                                                      organismo.
ficos internacionais. Esses 22 re-                                                        ecologia em um sentido amplo.
latos de pesquisa foram selecio-                                                          Valores éticos não podem estar
nados a partir de uma investiga-                       Em 1967 ocorre o pri-              separados         de         fatos
ção criteriosa, feita por Beecher,            meiro transplante de coração,               biológicos...Como indivíduos nós
em 50 artigos que se caracteri-               realizado pelo cirurgião cardíaco           não podemos deixar nosso desti-
zavam pelo desrespeito ao sujei-              Christian Barnard. O que na épo-            no nas mãos de cientistas, enge-
tos humanos submetidos a pro-                 ca foi aclamado como um gran-               nheiros, tecnólogos e políticos que
cedimentos anti-éticos de pesqui-             de avanço científico e tecnológico          esqueceram ou nunca souberam
sa. Um aspecto que ligava as                  trouxe novos questionamentos                estas verdades elementares” (ci-
pesquisa era o fato de os sujeitos            acerca da possibilidade de deci-            tado por Diniz e Guilhem, 2002,
experimentais serem provenien-                dir sobre vida e morte. O cora-             p. 11)
tes de camadas pobres da popu-                ção transplantado pertencia a um
lação, excluídos sociais, deficien-                                                                Assim, a palavra Bioética
                                              paciente tido pela equipe médico            surge em 1971, mas historicamen-
tes mentais, pacientes psiquiátri-            como quase morto, enquanto o
cos institucionalizados, recém                                                            te, como temos demonstrado, as
                                              paciente que recebeu o coração              idéias e debates em torno de uma
nascidos, dentre outros. Os pro-              foi diagnosticado como paciente
cedimentos de coleta de dados                                                             ética da/para vida já vinham se
                                              cardíaco terminal. A questão era            constituindo a partir do final da
eram invasivos e não cogitavam                identificar cientificamente os cri-
do conhecimento ou anuência                                                               primeira metade do século XX.




 5
     Beecher, Henry. Ethics and clinical research. The New England Journal of Medicine, v. 274, n. 24, 1996, p. 1354-1360.
 6
     Potter, Van Rensselaer. Bioethics: bridge to the future. New Jersey: Prentice-Hall, 1971.

                                                                 Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.         3
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         Estamos, agora, em con-               de um rato de laboratório, possi-              O campo desta discipli-
dições de definir Bioética. Este               bilitando aos pesquisadores ma-        na é bastante amplo e diversifi-
neologismo é formado pelos ter-                nipular à distância, os movimen-       cado, e alguns temas tornam-se
mos gregos Bios (Vida) e Ethike                tos do animal independentemen-         mais polêmicos em determinadas
(Ética) e se configura numa dis-               te das contingências ambientais        épocas, dependendo da visibilida-
ciplina que busca discutir, refletir           a que estava exposto. Da mes-          de dada pela mídia e das reivin-
e lançar bases criteriosas para a              ma forma, está na pauta da práti-      dicações de grupos organizados
prática da ética nas pesquisas,                ca científica as discussões em         dentro ou fora da academia.
nas decisões e nas aplicações                  torno do cultivo de células-tron-      Pessini e Barchifontaine (1997)
biotecnológicas que envolvem                   co exclusivamente para o desen-        listam os principais temas atuais
seres humanos e outros seres vi-               volvimento de tecidos e órgãos         em Bioética:
ventes. Para a Encyclopedia of                 sadios em substituição a tecidos
Bioethics7 , Bioética é definida               e órgãos doentes ou incapacita-
como o “estudo sistemático das                 dos. As técnicas de clonagem em        1. Pesquisa com seres humanos;
dimensões morais – incluindo                   diferentes espécies, embora já
visão, decisão, conduta e normas               utilizadas em plantas há pelo me-
morais – das ciências da vida e                nos trinta anos, passaram a ser        2. Pesquisa com animais e ve-
da saúde, utilizando uma varieda-              discutidas a partir do nascimento         getais;
de de metodologias éticas num                  da ovelha Dolly, em 1996. Deba-
contexto interdisciplinar” e ainda             tes semelhantes ocorreram a par-
como “estudo sistemático da con-               tir de 1972 com o nascimento do        3. Direitos reprodutivos/Repro-
duta humana no âmbito das ciên-                Louise Brown, o primeiro mem-             dução medicamente assisti-
cias da vida e da saúde, enquan-               bro de nossa espécie gerado atra-         da;
to essa conduta é examinada à                  vés de fertilização in vitro, co-
luz de valores e princípios éticos”.           nhecido como “o bebê de prove-
                                                                                      4. Engenharia genética;
                                               ta”.
         A Bioética, portanto, sur-
ge a partir de questões médicas                        A Bioética, dessa forma,
e biomédicas, exclusivamente                   convida ao debate de questões          5. Aborto/Eutanásia/Suicídio/
com seres humanos, mas assu-                   prementes acerca da administra-           Solidariedade e dignidade no
me, hoje, um caráter de ética para             ção da vida e da morte em todos           adeus à vida;
a vida das espécies e para a pró-              os seus aspectos. Para Sgreccia
pria sobrevivência do planeta. O               (2000, p. 13):
avanço tecnológico em áreas que                                                       6. Dizer a verdade ao doente;
                                                          O fato é que a bioética,
se interligam, como cibernética,                          iniciada no seu primitivo
biotecnologia, biossegurança e                            terreno da biomedicina,
biologia molecular, levantam ques-                                                    7. Transplantes e doação de ór-
                                                          descobriu em pouco tem-
tões antes presentes somente em                           po campos sempre mais          gãos;
textos de ficção científica, como                         vastos, interessando a
o controle remoto das ações dos                           novas disciplinas e, aos
                                                          poucos, a novos espaços     8. Comissões de ética;
organismos. Apenas para
exemplificar, em 2002 cientistas                          culturais que nos distan-
                                                          ciavam do período do
da Universidade de Nova York                                                          9. Interfaces da medicina com
                                                          surgimento do nome, indo
implantaram um chip no córtex                                                            outras disciplinas.
                                                          para o ano 2000.


7
    Encyclopedia of Bioethics, 2. ed, V. 1, 1995, W. T. Reich – editor.

4        Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.
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        Como toda disciplina, e                   A estes três princípios         de conhecimentos (bio)tecnoló-
particularmente por tratar de            têm sido acrescentados os con-           gicos, tem recebido críticas em
questões éticas, visões diferen-         ceitos de alteridade, sacrali-           função de que seus defensores a
ciadas foram se constituindo em          dade da vida e qualidade de              confundem com a própria
torno da Bioética. Em sua con-           vida. Na alteridade considera-           Bioética. Em outras palavras, é
solidação, tornou-se hegemônica          se o outro, enquanto individuali-        preciso ficar claro que a Bioética
a abordagem conhecida como               dade e enquanto coletividade.            é uma disciplina ampla que abran-
principalista, representada por          Nesse sentido, não é possível to-        ge um conjunto variado de temas
Tom Beauchamp e James                    marem-se decisões e medidas em           e questões, enquanto o
Childress, que propõe como prin-         pesquisa e aplicação de conheci-         principalismo é uma abordagem
cípios norteadores da Bioética: a        mento sem que se leve em consi-          em Bioética, isto é, é uma forma
beneficência, a justiça e a au-          deração a quem essa pesquisa e           de ver e interpretar os debates
tonomia.                                 esses conhecimentos estão                em Bioética. Nesse sentido, ou-
         A beneficência, en-             direcionados. Dessa forma, o ou-         tras abordagens buscam ampliar
quanto conceito básico da                tro passa a ser valorizado e não         seus espaços dentro e fora da
Bioética, estabelece que as ex-          mais visto como um simples de-           academia. Uma delas, a chama-
perimentações deveriam estar             talhe. Quanto à sacralidade da           da abordagem histórico-crítica,
pautadas em fazer o bem, onde a          vida - conceito introduzido por          parte de um entendimento dife-
integridade e o direito à vida dos       vertentes religiosas, particular-        renciado do uso dos princípios
que são submetidos a estas práti-        mente católicas – tem-se que a           acima expostos e critica o uso dos
cas deveriam ser preservados.            vida, em qualquer dimensão ou            mesmos enquanto únicos critéri-
Aqui, se considera a postura éti-        contexto, é sempre sagrada e,            os de decisão nos embates
ca e profissional dos médicos e          portanto, de valor inestimável,          bioéticos. Por outro lado, os de-
de outros profissionais da saúde,        estando acima de todo e qualquer         fensores dessa abordagem bus-
como fundamentais para que o             interesse individualista ou de se-       cam descentralizar a Bioética do
princípio da beneficência seja res-      tores hegemônicos. O conceito de         seio dos países desenvolvidos,
peitado.                                 qualidade de vida é introduzido          particularmente os Estados Uni-
                                         mais recentemente e traz uma             dos. Não sendo objetivo do pre-
         O princípio da justiça          concepção diferenciada de saú-           sente artigo o aprofundamento
ganhou força a partir da necessi-        de que vai além do bem estar or-         em nenhuma dessas abordagens,
dade de conscientização acerca           gânico individual, realçando que         lembramos apenas que há um
da distribuição eqüitativa e geral       as condições de existência exi-          movimento          já    bastante
dos benefícios e avanços propor-         gem repensar e considerar os             sedimentado de criação e siste-
cionados pela biotecnologia e pe-        aspectos biológicos, psicológicos        matização de uma bioética inter-
los serviços de assistência à saú-       e sociais e, além disso, ajudam a        nacional, defendido, por exemplo,
de. Da mesma forma que os prin-          pensar a saúde em termos de              por Campbell (2000). Este autor
cípios acima chamam atenção              coletividade e não simplesmente          ressalta que na atualidade exis-
para a prática profissional, o ter-      de individualidade.                      tem diversas vertentes em
ceiro princípio, autonomia, con-                                                  Bioética, com especificidades
sidera de fundamental importân-                   A abordagem princi-
                                                                                  culturais e políticas, como: abor-
cia olharmos para a possibilidade        palista, embora tenha o mérito de
                                                                                  dagens feministas da Bioética;
e direito que os indivíduos possu-       sistematizar parâmetros para dis-
                                                                                  Bioética islâmica; Bioética
em em gerir suas existências e,          cutir bioeticamente a experimen-
                                                                                  ambiental, etc.
portanto, tomarem decisões acer-         tação com humanos e não-huma-
ca de sua vida e sua morte.              nos e a distribuição e aplicação



                                                         Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003.     5
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CONSIDERAÇÕES FI-                                    Partindo dos questiona-      rafa, V.; Costa, S. I. F. (Org.), A
NAIS.                                       mentos aqui expostos, entende-        bioética no século XXI. 25-35.
                                            se que o estudo introdutório so-      Brasília: Editora da UNB, 2000.
                                            bre a temática oportuniza momen-      p.25-35.
        O objetivo deste artigo foi         tos de reflexões e indagações         CLOSET, J. Bioética como ética
introduzir o leitor à disciplina            acerca da Bioética e suas várias      aplicada e genética. In: Garrafa,
Bioética. Para tanto, apresentou-           ramificações. Viabilizando, por-      V.; Costa, S. I. F. (Org.), A
se um panorama amplo de seu                 tanto, a busca de novas informa-      bioética no século XXI.
surgimento e desenvolvimento,               ções que envolvam discussões          Brasília: Editora da UNB, 2000.
caracterizando-a quanto aos seus            bioéticas,      referentes      ao    p.110-128.
pressupostos gerais.                        posicionamento de profissionais
         A discussão sobre                  da área da saúde quanto ao sig-       DINIZ, D.; GUILHEM, D. O
Bioética, conforme vimos, nos               nificado que estes atribuem à vida    que é bioética. São Paulo:
remete a uma série de                       e à morte e como vivenciam tais       Brasiliense, 2002.
questionamentos a respeito do               situações na prática clínica. Con-
que esta representa e em quais              figura-se, dessa forma, um novo       PESSINI, L.; BARCHIFON-
situações é aplicada. Seu estudo            cenário de discussões, permeado       TAINE, C. P. Problemas atu-
provoca interrogações acerca de             de modelos paradigmáticos que         ais de bioética. São Paulo:
suas prováveis limitações quanto            regem a prática profissional, mas     Loyola, 1997.
à possibilidade de impedir avan-            que são passíveis de redefinições.
ços científicos que favoreçam a                                                   SARMENTO, H. B. M. Ética:
cura ou melhoramento de algu-                                                     desafios, fronteiras e trilhas.
mas patologias, na medida em que
                                            REFERÊNCIAS BIBLIO-                   Trilhas,Belém, v. 3, n. 2, p. 95-
a mesma coloca-se contrária à               GRÁFICAS                              110, 2003.
utilização de determinados méto-
dos experimentais, que violem a                                                   SGRECCIA, E. A bioética e o
                                            CAMPBELL, A. V. Uma visão
integridade do indivíduo submeti-                                                 novo milênio. Bauru: EDUSC,
                                            internacional da bioética. In: Gar-
do a estes.                                                                       2000.




6     Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.

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  • 3. 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 passou para o domínio público” prévios do sujeito ou de seus res- térios para se definir a morte e a (p. 14), o que pode ser encarado ponsáveis. Apenas para vida. A morte clínica, ou morte sob dois aspectos: ao mesmo tem- exemplificar, Diniz e Guilhem cerebral, passou a ser o critério po em que ocorre um avanço no (2002, p. 15-6) citam algumas definidor das decisões em casos sentido de que há uma ruptura da pesquisas, relacionada por médicos semelhantes. visão de onipotência da medicina Beecher como os exemplos 16 e Em 1971 surge a obra de e dos médicos, novos 17: Van Rensselaer Potter, questionamentos surgem acerca A pesquisa exigia a “Bioethics; bridge to the da preparação ética da popula- inoculação intencional do ví- future” (Bioética: uma ponte ção em geral acerca da tomada rus da hepatite em indivídu- para o futuro)6 , que, conforme de decisões sobre vida e morte. os institucionalizados por re- havíamos citado em parágrafo tardo mental, para possibili- anterior, apresenta pela primeira Em 1967, Henry tar o acompanhamento da Beecher publica o artigo “Ethics vez o termo Bioética. Em seu li- etiologia da doença. No exem- and Clinical Research” (Ética plo 17, médicos pesquisado- vro, Potter estabelece claramen- e Pesquisa Clínica)5 , citado por res injetaram células vivas de te as bases políticas da Bioética, Diniz e Guilhem (2002) e câncer em 22 pacientes ido- posição esta que é assumida até Sgreccia (2000). Beecher enfoca sos e senis hospitalizados, os dias atuais: 22 pesquisas médicas, subsidia- sem comunicá-los que as cé- “O que nós temos de en- das por recursos governamentais lulas eram cancerígenas, com frentar é o fato de que a ética e de companhias médicas e o objetivo de acompanhar as respostas imunológicas do humana não pode estar separada publicadas em periódicos cientí- de uma compreensão realista da organismo. ficos internacionais. Esses 22 re- ecologia em um sentido amplo. latos de pesquisa foram selecio- Valores éticos não podem estar nados a partir de uma investiga- Em 1967 ocorre o pri- separados de fatos ção criteriosa, feita por Beecher, meiro transplante de coração, biológicos...Como indivíduos nós em 50 artigos que se caracteri- realizado pelo cirurgião cardíaco não podemos deixar nosso desti- zavam pelo desrespeito ao sujei- Christian Barnard. O que na épo- no nas mãos de cientistas, enge- tos humanos submetidos a pro- ca foi aclamado como um gran- nheiros, tecnólogos e políticos que cedimentos anti-éticos de pesqui- de avanço científico e tecnológico esqueceram ou nunca souberam sa. Um aspecto que ligava as trouxe novos questionamentos estas verdades elementares” (ci- pesquisa era o fato de os sujeitos acerca da possibilidade de deci- tado por Diniz e Guilhem, 2002, experimentais serem provenien- dir sobre vida e morte. O cora- p. 11) tes de camadas pobres da popu- ção transplantado pertencia a um lação, excluídos sociais, deficien- Assim, a palavra Bioética paciente tido pela equipe médico surge em 1971, mas historicamen- tes mentais, pacientes psiquiátri- como quase morto, enquanto o cos institucionalizados, recém te, como temos demonstrado, as paciente que recebeu o coração idéias e debates em torno de uma nascidos, dentre outros. Os pro- foi diagnosticado como paciente cedimentos de coleta de dados ética da/para vida já vinham se cardíaco terminal. A questão era constituindo a partir do final da eram invasivos e não cogitavam identificar cientificamente os cri- do conhecimento ou anuência primeira metade do século XX. 5 Beecher, Henry. Ethics and clinical research. The New England Journal of Medicine, v. 274, n. 24, 1996, p. 1354-1360. 6 Potter, Van Rensselaer. Bioethics: bridge to the future. New Jersey: Prentice-Hall, 1971. Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 3
  • 4. 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 Estamos, agora, em con- de um rato de laboratório, possi- O campo desta discipli- dições de definir Bioética. Este bilitando aos pesquisadores ma- na é bastante amplo e diversifi- neologismo é formado pelos ter- nipular à distância, os movimen- cado, e alguns temas tornam-se mos gregos Bios (Vida) e Ethike tos do animal independentemen- mais polêmicos em determinadas (Ética) e se configura numa dis- te das contingências ambientais épocas, dependendo da visibilida- ciplina que busca discutir, refletir a que estava exposto. Da mes- de dada pela mídia e das reivin- e lançar bases criteriosas para a ma forma, está na pauta da práti- dicações de grupos organizados prática da ética nas pesquisas, ca científica as discussões em dentro ou fora da academia. nas decisões e nas aplicações torno do cultivo de células-tron- Pessini e Barchifontaine (1997) biotecnológicas que envolvem co exclusivamente para o desen- listam os principais temas atuais seres humanos e outros seres vi- volvimento de tecidos e órgãos em Bioética: ventes. Para a Encyclopedia of sadios em substituição a tecidos Bioethics7 , Bioética é definida e órgãos doentes ou incapacita- como o “estudo sistemático das dos. As técnicas de clonagem em 1. Pesquisa com seres humanos; dimensões morais – incluindo diferentes espécies, embora já visão, decisão, conduta e normas utilizadas em plantas há pelo me- morais – das ciências da vida e nos trinta anos, passaram a ser 2. Pesquisa com animais e ve- da saúde, utilizando uma varieda- discutidas a partir do nascimento getais; de de metodologias éticas num da ovelha Dolly, em 1996. Deba- contexto interdisciplinar” e ainda tes semelhantes ocorreram a par- como “estudo sistemático da con- tir de 1972 com o nascimento do 3. Direitos reprodutivos/Repro- duta humana no âmbito das ciên- Louise Brown, o primeiro mem- dução medicamente assisti- cias da vida e da saúde, enquan- bro de nossa espécie gerado atra- da; to essa conduta é examinada à vés de fertilização in vitro, co- luz de valores e princípios éticos”. nhecido como “o bebê de prove- 4. Engenharia genética; ta”. A Bioética, portanto, sur- ge a partir de questões médicas A Bioética, dessa forma, e biomédicas, exclusivamente convida ao debate de questões 5. Aborto/Eutanásia/Suicídio/ com seres humanos, mas assu- prementes acerca da administra- Solidariedade e dignidade no me, hoje, um caráter de ética para ção da vida e da morte em todos adeus à vida; a vida das espécies e para a pró- os seus aspectos. Para Sgreccia pria sobrevivência do planeta. O (2000, p. 13): avanço tecnológico em áreas que 6. Dizer a verdade ao doente; O fato é que a bioética, se interligam, como cibernética, iniciada no seu primitivo biotecnologia, biossegurança e terreno da biomedicina, biologia molecular, levantam ques- 7. Transplantes e doação de ór- descobriu em pouco tem- tões antes presentes somente em po campos sempre mais gãos; textos de ficção científica, como vastos, interessando a o controle remoto das ações dos novas disciplinas e, aos poucos, a novos espaços 8. Comissões de ética; organismos. Apenas para exemplificar, em 2002 cientistas culturais que nos distan- ciavam do período do da Universidade de Nova York 9. Interfaces da medicina com surgimento do nome, indo implantaram um chip no córtex outras disciplinas. para o ano 2000. 7 Encyclopedia of Bioethics, 2. ed, V. 1, 1995, W. T. Reich – editor. 4 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.
  • 5. 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 Como toda disciplina, e A estes três princípios de conhecimentos (bio)tecnoló- particularmente por tratar de têm sido acrescentados os con- gicos, tem recebido críticas em questões éticas, visões diferen- ceitos de alteridade, sacrali- função de que seus defensores a ciadas foram se constituindo em dade da vida e qualidade de confundem com a própria torno da Bioética. Em sua con- vida. Na alteridade considera- Bioética. Em outras palavras, é solidação, tornou-se hegemônica se o outro, enquanto individuali- preciso ficar claro que a Bioética a abordagem conhecida como dade e enquanto coletividade. é uma disciplina ampla que abran- principalista, representada por Nesse sentido, não é possível to- ge um conjunto variado de temas Tom Beauchamp e James marem-se decisões e medidas em e questões, enquanto o Childress, que propõe como prin- pesquisa e aplicação de conheci- principalismo é uma abordagem cípios norteadores da Bioética: a mento sem que se leve em consi- em Bioética, isto é, é uma forma beneficência, a justiça e a au- deração a quem essa pesquisa e de ver e interpretar os debates tonomia. esses conhecimentos estão em Bioética. Nesse sentido, ou- A beneficência, en- direcionados. Dessa forma, o ou- tras abordagens buscam ampliar quanto conceito básico da tro passa a ser valorizado e não seus espaços dentro e fora da Bioética, estabelece que as ex- mais visto como um simples de- academia. Uma delas, a chama- perimentações deveriam estar talhe. Quanto à sacralidade da da abordagem histórico-crítica, pautadas em fazer o bem, onde a vida - conceito introduzido por parte de um entendimento dife- integridade e o direito à vida dos vertentes religiosas, particular- renciado do uso dos princípios que são submetidos a estas práti- mente católicas – tem-se que a acima expostos e critica o uso dos cas deveriam ser preservados. vida, em qualquer dimensão ou mesmos enquanto únicos critéri- Aqui, se considera a postura éti- contexto, é sempre sagrada e, os de decisão nos embates ca e profissional dos médicos e portanto, de valor inestimável, bioéticos. Por outro lado, os de- de outros profissionais da saúde, estando acima de todo e qualquer fensores dessa abordagem bus- como fundamentais para que o interesse individualista ou de se- cam descentralizar a Bioética do princípio da beneficência seja res- tores hegemônicos. O conceito de seio dos países desenvolvidos, peitado. qualidade de vida é introduzido particularmente os Estados Uni- mais recentemente e traz uma dos. Não sendo objetivo do pre- O princípio da justiça concepção diferenciada de saú- sente artigo o aprofundamento ganhou força a partir da necessi- de que vai além do bem estar or- em nenhuma dessas abordagens, dade de conscientização acerca gânico individual, realçando que lembramos apenas que há um da distribuição eqüitativa e geral as condições de existência exi- movimento já bastante dos benefícios e avanços propor- gem repensar e considerar os sedimentado de criação e siste- cionados pela biotecnologia e pe- aspectos biológicos, psicológicos matização de uma bioética inter- los serviços de assistência à saú- e sociais e, além disso, ajudam a nacional, defendido, por exemplo, de. Da mesma forma que os prin- pensar a saúde em termos de por Campbell (2000). Este autor cípios acima chamam atenção coletividade e não simplesmente ressalta que na atualidade exis- para a prática profissional, o ter- de individualidade. tem diversas vertentes em ceiro princípio, autonomia, con- Bioética, com especificidades sidera de fundamental importân- A abordagem princi- culturais e políticas, como: abor- cia olharmos para a possibilidade palista, embora tenha o mérito de dagens feministas da Bioética; e direito que os indivíduos possu- sistematizar parâmetros para dis- Bioética islâmica; Bioética em em gerir suas existências e, cutir bioeticamente a experimen- ambiental, etc. portanto, tomarem decisões acer- tação com humanos e não-huma- ca de sua vida e sua morte. nos e a distribuição e aplicação Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 5
  • 6. 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 65432121098765432109876543210987654321 CONSIDERAÇÕES FI- Partindo dos questiona- rafa, V.; Costa, S. I. F. (Org.), A NAIS. mentos aqui expostos, entende- bioética no século XXI. 25-35. se que o estudo introdutório so- Brasília: Editora da UNB, 2000. bre a temática oportuniza momen- p.25-35. O objetivo deste artigo foi tos de reflexões e indagações CLOSET, J. Bioética como ética introduzir o leitor à disciplina acerca da Bioética e suas várias aplicada e genética. In: Garrafa, Bioética. Para tanto, apresentou- ramificações. Viabilizando, por- V.; Costa, S. I. F. (Org.), A se um panorama amplo de seu tanto, a busca de novas informa- bioética no século XXI. surgimento e desenvolvimento, ções que envolvam discussões Brasília: Editora da UNB, 2000. caracterizando-a quanto aos seus bioéticas, referentes ao p.110-128. pressupostos gerais. posicionamento de profissionais A discussão sobre da área da saúde quanto ao sig- DINIZ, D.; GUILHEM, D. O Bioética, conforme vimos, nos nificado que estes atribuem à vida que é bioética. São Paulo: remete a uma série de e à morte e como vivenciam tais Brasiliense, 2002. questionamentos a respeito do situações na prática clínica. Con- que esta representa e em quais figura-se, dessa forma, um novo PESSINI, L.; BARCHIFON- situações é aplicada. Seu estudo cenário de discussões, permeado TAINE, C. P. Problemas atu- provoca interrogações acerca de de modelos paradigmáticos que ais de bioética. São Paulo: suas prováveis limitações quanto regem a prática profissional, mas Loyola, 1997. à possibilidade de impedir avan- que são passíveis de redefinições. ços científicos que favoreçam a SARMENTO, H. B. M. Ética: cura ou melhoramento de algu- desafios, fronteiras e trilhas. mas patologias, na medida em que REFERÊNCIAS BIBLIO- Trilhas,Belém, v. 3, n. 2, p. 95- a mesma coloca-se contrária à GRÁFICAS 110, 2003. utilização de determinados méto- dos experimentais, que violem a SGRECCIA, E. A bioética e o CAMPBELL, A. V. Uma visão integridade do indivíduo submeti- novo milênio. Bauru: EDUSC, internacional da bioética. In: Gar- do a estes. 2000. 6 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.