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Everaldo A. G. de Marcelo
Cultura de Segurança do Trabalho – Uma abordagem
Interdisciplinar
Maio/2013
Cultura de Segurança e Saúde - Uma abordagem
Interdisciplinar
Resumo
As questões que envolvem os acidentes com pessoas, seja nos ambientes
laborais ou não, perpassam por algumas disciplinas cujas contribuições
estabelecem uma abordagem interdisciplinar da matéria, onde a vertente
psicossocial norteia tais estudos, no que diz respeito às causas daqueles
eventos. Neste sentido a componente Percepção de Riscos, assume um
patamar de importância significativo, haja vista seu nível de complexidade e
subjetividade, tal qual o estado das emoções, elemento regulador dos níveis
daquela Percepção de Riscos. A formação e sedimentação de uma Cultura de
Segurança no âmbito de um determinado grupo de pessoas tem uma relação
estreita com o nível de Percepção de Risco daquele grupo, a partir de suas
experiências emotivas positivas ou negativas, constituindo-se em aprendizado,
a ser transmitido e disseminado no grupo, relação que é proposta neste Artigo.
Abstract
Issues involving accidents with people, whether or not in working environments rush on
some subjects whose contributions provide an interdisciplinary approach to the field,
where the psychosocial aspects guiding such studies, with regard to the causes of
those events. In this sense the component of Risk Perception, assumes a level of
significant importance, given its level of complexity and subjectivity, like the state of
emotions, levels of regulatory element that Perception of Risk. The formation and
sedimentation of a Safety Culture within a certain group of people has a close
relationship with the level of Risk Perception that group, from their emotional
experiences positive or negative, consisting in learning, to be broadcast and
disseminated in the group.
Palavras-Chave: cultura de segurança – comportamento – risco – acidentes –
segurança do trabalho - emoções
1- Introdução
De acordo com a OIT – Organização Internacional do Trabalho, atualmente o
Brasil ocupa uma das primeiras posições no cenário mundial, em ocorrências
de acidente do trabalho com óbito.
Segundo o estudo da OIT, o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de
mortes, com 2.503 óbitos por acidentes do trabalho. O país perde apenas para
China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090).
Na década de 1970, o Brasil registrava uma média de 3.604 óbitos para
12.428.826 trabalhadores. Nos anos 1980, o número de trabalhadores
aumentou para 21.077.804 e as mortes chegaram a 4.672. Já na década de
1990, houve diminuição: 3.925 óbitos para 23.648.341 trabalhadores.1
Em 1978, éramos os campeões na categoria, quando o então governo militar
determinou ao Ministro do Trabalho que empreendesse ações para que o Brasil
saísse daquela condição de “campeão” de acidentes do trabalho. Surgiram
então as NR´s – Normas Regulamentadoras, que estabelecem parâmetros
legais de Segurança e Saúde no trabalho para algumas atividades econômicas,
mantendo-se como diretrizes legais / mandatórias até os dias de hoje.
Por força daquelas NR´s, as empresas passaram também a ser obrigadas a
compor os SESMT´s ou Serviços Especializados em Segurança e Medicina do
Trabalho, com profissionais das disciplinas referidas, o que estimulou a
qualificação de Engenheiros, Médicos, Técnicos, Enfermeiros e Auxiliares,
naquelas áreas de atuação.
Com o advento da norma certificadora OSHAS 18000, e sua aplicação efetiva
em 2007, contribuindo com a sistematização dos controles e registros em
Segurança e Saúde no Trabalho, objetivando melhorar aquele nível de
desempenho, associada a alguns dispositivos legais como a legislação
previdenciária de 1991, a expectativa era que 35 anos após conquistado o
título de campeão, descêssemos do pódio e ocupássemos uma cadeira na
plateia, considerando que reunimos um farto arsenal de dispositivos de
combate às ocorrências indesejáveis no trabalho: uma legislação
prevencionista de ordem trabalhista e previdenciária, um contingente
considerável de profissionais qualificados, uma norma certificadora
estabelecendo diretrizes ( embora de caráter não legal), e a fiscalização do
Ministério do Trabalho, fazendo cumprir a legislação, ainda que de forma
incipiente.
Mais recentemente, em 2011 foi criado pelo governo federal, a Política
Nacional de Segurança e Saúde no trabalho, por recomendação da 187ª.
1
Fonte: Site http://meusalario.uol.com.br/main/trabalho, entrada – Direitos do trabalho/ Acidentes do
trabalho
convenção da OIT, realizada em 2006. Nesta convenção, que trata da
Estrutura de Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho, foi apontada a
necessidade continuada de uma cultura prevencionista, conforme o trecho
daquela convenção a seguir.
[...]V. Programa Nacional
...Artigo 5
1. Cada membro deve formular, implementar, monitorar e rever periodicamente
um programa nacional de segurança e saúde no trabalho, em consulta com as
mais representativas organizações de empregadores e trabalhadores.
2. O programa nacional deve:
a) promover o desenvolvimento de uma cultura nacional de prevenção em
saúde e segurança;
....I. Definições
Artigo 1
Para efeitos da presente Convenção:
...d) A expressão cultura nacional de prevenção em matéria de saúde e
segurança diz respeito a uma cultura em que o direito a um meio ambiente
seguro e saudável trabalho é respeitado em todos os níveis, em que governo,
empregadores e trabalhadores participam ativamente em iniciativas destinadas
a assegurar um meio ambiente de trabalho seguro e saudável através de um
sistema de direitos, responsabilidades e deveres, definidos e que seja atribuída
a máxima prioridade ao princípio da prevenção.2
Já a Política Nacional referida, instituída em 2011, não contempla nos seus
objetivos a formação de uma cultura da prevenção, recomendada pela OIT.
A verdade é que, em uma abordagem analítica e ponderada a respeito do
arsenal de leis, decretos, normas, políticas, programas propostos ao longo
destes 35 anos no Brasil, em nenhum daqueles dispositivos prevencionistas
legais ou não, são identificados referências que digam respeito ao
desenvolvimento e sedimentação de uma Cultura de Segurança do Trabalho
no âmbito das comunidades de trabalhadores, traçando assim uma trajetória
circular em torno da questão prevenção, não avançando na direção da efetiva
promoção da queda das primeiras posições do ranking de ocorrências de
acidentes do trabalho, ainda que recomendados pela OIT.
2
Fonte: Site Agencia Brasil de Segurança - http://www.abs.org.br
2 - Porque uma Cultura de Segurança do Trabalho?
Importante antes de estabelecer rótulos, que se filosofe a respeito da questão
cultura, para que não se incorra em erros conceituais. Por isto torna-se
essencial investigar considerações por alguns estudiosos sobre o assunto.
O dicionário Aurélio define o termo Cultura como:
1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. Cultivo. 3. O complexo dos padrões de
comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e
materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade:
civilização. 4. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é
fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores; civilização,
progresso. 5. Apuro, esmero, elegância. 6. Criação de certos animais, em
particular os microscópicos.3
Para os antropólogos, a cultura é o conjunto de padrões de comportamento
humanos aprendidos. Este termo foi usado pela primeira vez, pelo antropólogo
Inglês Edward B. Tylor, em seu livro Primitive Culture, publicado em 1871. Na
sua obra, Tylor escreveu que a cultura é "aquele todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, direito, moral, costumes e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade".
O autor José Luiz dos Santos do livro O que é Cultura, publicado pela Editora
Brasiliense, em 1987, contribui com o conceito em discussão, quando teoriza
sobre a questão da cultura como uma dinâmica do processo social, construída
ao longo da história de um grupo social e sujeita a influencias externas, sendo
assim, com o tempo, agregada por novos elementos.
Importante as considerações a respeito das dimensões biológica e
antropológica da cultura de um grupo social, quando admitem que os traços
culturais são registrados na matriz celular de cada indivíduo daquele grupo,
sendo assim hereditariamente transmitidos e manifestados. Analogicamente a
dimensão psicológica, quando se refere aos arquétipos sedimentados no
inconsciente coletivo e suas manifestações no cotidiano segundo o conceito de
psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung4
.
Assim, muitas de nossas manifestações culturais são meras repetições das
projeções arquetípicas de nossos ancestrais, o que ocorrem por processos
psicogênicos e sociogênicos. Algumas daquelas repetições são resultantes de
processos educativos não formais do meio social (familiar, etc...), quando são
3
FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
1980, p. 512.
4
JUNG C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002
instruídas, de forma a prevenir experiências emotivas negativas, ou após a
ocorrência daquelas.
Tecendo considerações sobre uma definição de Cultura de Segurança do
Trabalho, poderíamos estabelecer algumas ponderações, quais sejam:
Do ponto de vista antropológico, as manifestações e valores culturais de um
grupo social com relação à segurança de cada individuo, são aprendidas e
transmitidas mediante experiências emotivas pessoais (negativas ou positivas).
Um exemplo, são os dispositivos de defesa criados pelos homens primitivos, na
pré-história, para de enfrentamento aos riscos oferecidos por agentes da
natureza (raios, tempestades, inundações etc...) e animais selvagens, que após
experiências de perdas humanas, foram aprendidas e disseminadas para as
gerações seguintes. Um segundo exemplo, já na fase da Revolução Industrial
(1780), é o deslumbramento do homem pela máquina, associado ao
desconhecimento do risco oferecido pela máquina e suas possibilidades de
mecanização dos processos substituindo os trabalhos manuais, que
determinaram inúmeras experiências emotivas negativas com mutilações e
perdas humanas, determinando o desenvolvimento de dispositivos de
prevenção, constituindo-se em aprendizado continuado até os dias de hoje.
Interessante que em ambos os períodos da história da civilização ficam
evidentes as projeções do arquétipo do Herói nos indivíduos em seu ambiente,
seja laboral ou habitat, promovendo comportamentos de risco semelhantes
daquelas populações ao se exporem, mesmo em se tratando de riscos
mensuráveis e visíveis, como que inibindo momentaneamente o instinto de
defesa ou autopreservação. Assim, o desenvolvimento de uma Cultura da
Segurança do Trabalho, estaria associado a um processo de aprendizagem e
disseminação acerca do ambiente laboral e seus agentes que ameaçam a
integridade física dos atores. Trata-se de um processo complexo, como cita a
autora Juliana Bley em sua obra Comportamento Seguro5
:
...Da necessidade de administrar o comportamento humano para evitar os
acidentes de trabalho (e da complexidade que isso representa), originou-se a
busca por mecanismos capazes de mudar os comportamentos das pessoas de
modo que eles passassem de condutas pouco seguras para condutas muito
seguras na realização das atividades. A discussão sobre métodos eficazes de
modificar comportamentos não esteve restrita somente ao mundo do trabalho,
mas também aos movimentos sociais, políticos, religiosos e à educação dos
filhos: A palmada educa? O castigo é menos traumático? É útil passar pimenta
nos dedos para deixar de roer unhas? Esses são questionamentos que pais e
educadores fazem até hoje. Da mesma forma, acontece no campo da
5
BLEY, J. Z. Comportamento seguro: a psicologia da segurança no trabalho e a educação para a
prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Curitiba: Editora Sol, 2006.
segurança: Após quantos atos inseguros flagrados eu devo advertir um
funcionário? Se deixar de promover o acidentado a um cargo melhor, diminuem
as chances de ele sofrer outro acidente? Como fazer para que todos cumpram
as normas de segurança?
Com estes questionamentos finais, a autora nos estimula à reflexão sobre as
questões essenciais de uma educação que efetivamente promova a mudança
de comportamento do trabalhador em seu ambiente laboral, e desenvolve o
raciocínio nesta direção, nas próximas citações:
A ideia do acidente como expressão da qualidade da relação indivíduo-meio
evidencia a análise do comportamento humano como uma alternativa para
identificar e analisar aquilo que influencia na capacidade de um trabalhador
prevenir a ocorrência de danos à sua saúde. Dessa forma, passa a ser possível
organizar o ensino de forma a fazer novas sínteses comportamentais, o que
caracteriza mudança de comportamento. Se essa mudança for relativamente
permanente, é possível dizer que houve aprendizagem (CATANIA, 1999),
objetivo principal da capacitação para segurança; os trabalhadores tornaram-se
capazes de realizar suas atividades de forma mais segura. No entanto, o que
deve ser definido como aprendizagem necessária para que tal capacidade seja
desenvolvida? Cumprir regras? Seguir normas e procedimentos? Tomar
decisões seguras? Antecipar-se aos problemas? Todas as possibilidades
juntas?
Um dos grandes dilemas da educação para a prevenção consiste em encontrar
um equilíbrio saudável entre obedecer a regras e agir com autonomia.
Instrutores, gestores, educadores dividem-se nas opiniões acerca do que deve
ser aprendido pelos trabalhadores para que sejam capazes de não se
acidentar, nem contribuir para o acidente dos colegas. A maior parte dos
instrutores e participantes de treinamentos de comportamentos seguros
estudados por Bley (2004) afirma ser cumprir normas e procedimentos o
objetivo mais importante desse tipo de ação educativa.
Entretanto, ainda que se estabeleçam processos educativos realmente eficazes
para a efetiva mudança de comportamento no ambiente laboral, existirão
trabalhadores que cometerão desvios no ambiente do trabalho, levando a
acidentes ou doenças do trabalho. Por quê?
Além disto, identifica-se naquele grupo dos colaboradores recalcitrantes, um
subgrupo com um nível de formação acadêmica elevada (superior e com pós-
graduação), consequentemente com cargo hierárquico alto nas organizações
(gestores), e que teoricamente teriam melhor desempenho nos processos
educativos para prevenção de acidentes do trabalho. Entretanto estes líderes
elaboram projetos, planejam e conduzem a execução de atividades
negligenciando em alta dose a prevenção de acidentes, estimulando assim ou
induzindo seus subordinados a fazê-lo, muitas das vezes autorizando-os.
Apesar de participarem de processos educativos de Segurança do Trabalho
(treinamentos corporativos, acesso e bom entendimento a cerca dos
procedimentos, etc...), porque estes gestores negligenciam e muitas das vezes
rejeitam conscientemente a adoção das medidas preventivas no seu cotidiano?
A que poderíamos então associar tais atitudes?
A respeito desta abordagem, a autora Julian Bley comenta:
...Não há dúvida de que consciência, informação, conhecimento e troca de
experiências são meios que podem favorecer a aprendizagem para a
prevenção, não só no contexto da segurança do trabalho, mas também no
trânsito, nas propagandas contra o abuso de drogas ou contra a transmissão
da AIDS. O equívoco reside em considerá-los como sendo eficazes por si só,
como sendo sinônimos de objetivos de ensino ou de coisas que os aprendizes
precisam ser capazes de fazer após o processo ensino-aprendizagem.
Bley, na página 26 de seu livro Comportamento Seguro, ainda comenta a
respeito dos aspectos internos e internos do comportamento do trabalhador,
dos quais eu destaco um deles, de natureza interna, que merece um
aprofundamento de estudo, haja vista sua complexidade. Trata-se da
percepção de riscos e sua intrínseca relação com a Cultura de Segurança do
Trabalho como será tratado nos tópicos a seguir.
1 – Cultura de Segurança do Trabalho x Percepção de Riscos
Sob a ótica da Psicologia do Trabalho, a percepção de riscos é uma
componente que sofre interferência direta de fatores múltiplos, quais sejam
Organizacionais, Sociais, Fisiológicos, Psicológicos, Cognitivos e Culturais,
sendo assim, multifatorial. Em situações de distúrbios em um ou mais daqueles
fatores, o nível de percepção do indivíduo é alterado. E por ser dinâmico e
oscilante, pode ser considerando do como um estado do ser humano.
A percepção de risco é vista por Lima (2005, p. 203)6
como:
A forma que os não especialistas (referidos frequentemente como leigos ou
público) pensam sobre o risco e refere-se à avaliação subjetiva do grau de
ameaça potencial de um determinado acontecimento ou atividade, envolvendo
6
LIMA. Ricardo F. Compreendendo os mecanismos Atencionais. Ciências e Cognição. Ano 02 – Vol 06.
Nov 2005.
sempre uma fonte de risco, uma dimensão de incerteza e uma avaliação do
valor das perdas potenciais.
Já o Msc. em Psicologia do Trabalho e das Organizações, Diogo Borba7
, trata
sobre percepção de riscos:
Percepção de risco é o ato de avaliar as probabilidades de que algum perigo
venha a se manifestar concretamente, e estimar a magnitude dos efeitos de um
evento provável. É importante entender que o conceito é de natureza
secundária, pois se trata de aplicar conceitos primários (como a percepção e
probabilidade subjetiva) ao tema da segurança.
... Infelizmente, o conceito de percepção de risco nem sempre para por aí, pelo
menos em minha pequena experiência de trabalho ou nas pesquisas na web
sobre o assunto. Muitas vezes ele "inclui" indevidamente a ideia de
comportamento inseguro. Isso ocorre principalmente quando se recorre ao
conceito para explicar acidentes. Isso se faz, muito amiúde, com base numa
espécie de fusão entre a percepção do risco e o ato dirigido à sua mitigação.
Neste ponto está implícita a falsa suposição de uma relação automática e
necessária entre ambos.
O professor Gerald J. S. Wilde, em seu livro Target Risk, editado em 1994,
constrói a Teoria da Homeostase do Risco (THR), onde aborda sobre níveis de
risco aceitos no comportamento humano cotidiano. Nesta obra o autor realiza
pesquisas sobre os níveis de risco à saúde e sua segurança, aceitos de forma
não consciente pelo homem em qualquer atividade, em troca de satisfação de
necessidades primárias (comer, beber, sexo) e outras necessidades como
divertir-se etc.., desenvolvendo um Comportamento de Risco com base na
meta a ser atingida, na medida em que estabelece níveis de risco aceitáveis.
Trata-se de uma abordagem a ser considerada, haja vista os exemplos do dia a
dia no ambiente laboral, onde ouvimos frequentemente a assertiva de
trabalhadores, ao cometerem diversos desvios de segurança: Pode fazer desse
jeito que é rapidinho, ou ainda Não precisa nada disso, porque tem 30 anos
que faço assim e nunca aconteceu nada. Estas atitudes refletem um nível de
exposição e aceitação inconsciente do risco, projetando o arquétipo do Herói,
tal qual nós outros no cotidiano.
A síntese das tratativas anteriores sobre percepção de riscos nos aponta para
a subjetividade e complexidade dos fatores múltiplos que interferem nesta
componente de caráter transdisciplinar, bem como a questão comportamental,
ambas como resultantes do estado das emoções (prazer, desprazer, medo,
7
End. eletrônico do blog: http://psicologianotrabalho.blogspot.com.br/2012/05/percepcao-de-risco.html,
Psicologia no Trabalho e nas Organizações – Diogo Borba. Msc.
raiva) afloradas nos indivíduos em seu ambiente laboral, por conta dos
distúrbios naqueles multi fatores citados.
Sendo mais claro, os fatores múltiplos: organizacionais, cognitivos, fisiológicos,
psicológicos e sociais desencadeiam distúrbios que alteram o estado das
emoções do indivíduo, funcionando como um elemento regulador dos níveis
de percepção de risco, estes que determinam o comportamento no ambiente
laboral: Comportamento Seguro ou Comportamento de Risco, conforme
demonstrado no fluxograma abaixo:
Um exemplo clássico é de um motorista que após ingerir grande quantidade de
bebida alcoólica dirigir um veículo numa auto estrada. Neste momento o fator
fisiológico (efeito do álcool no organismo), potencializará uma emoção contida
de desprazer (tristeza, frustações, angústia, etc...) ou mesmo de prazer
(alegria), de raiva ou medo que sem controle determinará a redução do nível de
Percepção de Risco e o aumento do Comportamento de Risco, levando-o a
cometer imprudências, culminando com ocorrência indesejável - Acidente.
Importante ressaltar que poderia ainda haver uma conjunção de fatores
associados ao fisiológico promovendo alterações ainda maiores no nível de
Percepção de Riscos daquele motorista.
Geller ( 2001) em seu Manual de Psicologia da Segurança ( Psocology Safety
Handobook)8
, tratando destas questões, teoriza:
...É possível estabelecer relações interpessoais e consequências
comportamentais em local de trabalho para aumentar os sentimentos e atitudes
importantes. Eu vou te mostrar como o aumento desses sentimentos afirma
comportamentos benéficos e ajuda a atingir excelência em segurança.
Como ilustrado na Figura [..], uma atitude de frustração ou um estado interno
de angústia certamente pode influenciar comportamentos de condução, e vice-
versa.[...] Assim, é possível "pensar uma pessoa em comportamentos seguros"
(por meio da educação, treinamento e consenso construção de exercícios) ...
8
Geller, E. Scott, 2001- The psychology of safety handbook / E. Scott Geller.--2nd ed.
Fatores Organizacionais,
cognitivos, fisiológicos,
sociais, culturais e
psicológicos.
Estado das Emoções
Níveis de Percepção de
risco
Comportamento Seguro ou
Comportamento de Risco
Os níveis de controle das emoções dos indivíduos estão diretamente
condicionados à maturidade, à história de vida (experiências pessoais,
educação formal, educação doméstica, estrutura familiar), aos valores morais,
ao autoconhecimento, a oportunidades em processos psicoterapêuticos, a
fatores culturais, à motivação, e outros fatores que nos indicam o nível
complexidade destas questões, quando se trata de trabalhadores.
No exemplo anterior, ainda que a bebida tenha sido ingerida em excesso,
constituindo-se em um promotor da alteração do fator fisiológico, se o motorista
desenvolvesse algum mecanismo de controle de suas emoções, detectaria
previamente seu nível de percepção de risco reduzido para desenvolver a
atividade e adotaria a postura prevencionista de não conduzir o veículo.
Também, não se pode deixar de considerar as atitudes dos gestores de
organizações identificados em parágrafos anteriores, quando não adotam
medidas de segurança para sua equipe, constituindo-se também em um
comportamento de risco, determinado por um baixo nível de percepção de
risco, que está relacionado com o estado de suas emoções, desencadeado por
distúrbios de um ou mais fatores múltiplos. Este quadro se configura como um
dos mais comuns em organizações onde segurança do trabalho assume a
categoria de dependente ou independente se constituindo num dos maiores
conflitos e entraves da relação capital x trabalho.
3 - Conclusões
O conceito de Cultura considerado por alguns estudiosos, como um conjunto
de atitudes, hábitos, valores assimilados, manifestados e transmitidos por
gerações, pode ser sintetizado ao conceito de Cultura de Segurança, à luz da
Psicologia da Segurança do Trabalho, a partir de alguns pressupostos. O
primeiro pressuposto é a respeito da formação de uma Cultura de Segurança
no âmbito de grupos de pessoas associadas por mesmo objetivo, a exemplo de
uma organização, onde se torna viável o desenvolvimento de metodologias
para desenvolvimento de Percepção de Riscos, considerando o estado das
emoções dos sujeitos.
O segundo pressuposto é a necessidade da criação de métodos científicos
para desenvolvimento de Percepção de Riscos de um grupo, a partir de uma
vertente interdisciplinar, considerando a complexidade e subjetividade da
questão. O terceiro pressuposto refere-se à sedimentação e disseminação da
Cultura de Segurança, a partir de estudos científicos de Comunicação de
Massa, no âmbito daquele e de outros grupos, inclusive extramuros da
organização, o que dependeria de politicas públicas para tal.
Vale ressaltar que a questão que envolve uma Cultura de Segurança x
Percepção de Riscos, se estende também à ameaça de sobrevivência do
homem, quando empreende ações destruidoras ao meio ambiente
(contaminações e poluições), do qual depende para continuar vivo, como uma
espécie de “anulação” do instituto de preservação da espécie.

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Cultura de Segurança do Trabalho - Uma abordagem interdisciplinar

  • 1. Everaldo A. G. de Marcelo Cultura de Segurança do Trabalho – Uma abordagem Interdisciplinar Maio/2013
  • 2. Cultura de Segurança e Saúde - Uma abordagem Interdisciplinar Resumo As questões que envolvem os acidentes com pessoas, seja nos ambientes laborais ou não, perpassam por algumas disciplinas cujas contribuições estabelecem uma abordagem interdisciplinar da matéria, onde a vertente psicossocial norteia tais estudos, no que diz respeito às causas daqueles eventos. Neste sentido a componente Percepção de Riscos, assume um patamar de importância significativo, haja vista seu nível de complexidade e subjetividade, tal qual o estado das emoções, elemento regulador dos níveis daquela Percepção de Riscos. A formação e sedimentação de uma Cultura de Segurança no âmbito de um determinado grupo de pessoas tem uma relação estreita com o nível de Percepção de Risco daquele grupo, a partir de suas experiências emotivas positivas ou negativas, constituindo-se em aprendizado, a ser transmitido e disseminado no grupo, relação que é proposta neste Artigo. Abstract Issues involving accidents with people, whether or not in working environments rush on some subjects whose contributions provide an interdisciplinary approach to the field, where the psychosocial aspects guiding such studies, with regard to the causes of those events. In this sense the component of Risk Perception, assumes a level of significant importance, given its level of complexity and subjectivity, like the state of emotions, levels of regulatory element that Perception of Risk. The formation and sedimentation of a Safety Culture within a certain group of people has a close relationship with the level of Risk Perception that group, from their emotional experiences positive or negative, consisting in learning, to be broadcast and disseminated in the group. Palavras-Chave: cultura de segurança – comportamento – risco – acidentes – segurança do trabalho - emoções
  • 3. 1- Introdução De acordo com a OIT – Organização Internacional do Trabalho, atualmente o Brasil ocupa uma das primeiras posições no cenário mundial, em ocorrências de acidente do trabalho com óbito. Segundo o estudo da OIT, o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de mortes, com 2.503 óbitos por acidentes do trabalho. O país perde apenas para China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090). Na década de 1970, o Brasil registrava uma média de 3.604 óbitos para 12.428.826 trabalhadores. Nos anos 1980, o número de trabalhadores aumentou para 21.077.804 e as mortes chegaram a 4.672. Já na década de 1990, houve diminuição: 3.925 óbitos para 23.648.341 trabalhadores.1 Em 1978, éramos os campeões na categoria, quando o então governo militar determinou ao Ministro do Trabalho que empreendesse ações para que o Brasil saísse daquela condição de “campeão” de acidentes do trabalho. Surgiram então as NR´s – Normas Regulamentadoras, que estabelecem parâmetros legais de Segurança e Saúde no trabalho para algumas atividades econômicas, mantendo-se como diretrizes legais / mandatórias até os dias de hoje. Por força daquelas NR´s, as empresas passaram também a ser obrigadas a compor os SESMT´s ou Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho, com profissionais das disciplinas referidas, o que estimulou a qualificação de Engenheiros, Médicos, Técnicos, Enfermeiros e Auxiliares, naquelas áreas de atuação. Com o advento da norma certificadora OSHAS 18000, e sua aplicação efetiva em 2007, contribuindo com a sistematização dos controles e registros em Segurança e Saúde no Trabalho, objetivando melhorar aquele nível de desempenho, associada a alguns dispositivos legais como a legislação previdenciária de 1991, a expectativa era que 35 anos após conquistado o título de campeão, descêssemos do pódio e ocupássemos uma cadeira na plateia, considerando que reunimos um farto arsenal de dispositivos de combate às ocorrências indesejáveis no trabalho: uma legislação prevencionista de ordem trabalhista e previdenciária, um contingente considerável de profissionais qualificados, uma norma certificadora estabelecendo diretrizes ( embora de caráter não legal), e a fiscalização do Ministério do Trabalho, fazendo cumprir a legislação, ainda que de forma incipiente. Mais recentemente, em 2011 foi criado pelo governo federal, a Política Nacional de Segurança e Saúde no trabalho, por recomendação da 187ª. 1 Fonte: Site http://meusalario.uol.com.br/main/trabalho, entrada – Direitos do trabalho/ Acidentes do trabalho
  • 4. convenção da OIT, realizada em 2006. Nesta convenção, que trata da Estrutura de Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho, foi apontada a necessidade continuada de uma cultura prevencionista, conforme o trecho daquela convenção a seguir. [...]V. Programa Nacional ...Artigo 5 1. Cada membro deve formular, implementar, monitorar e rever periodicamente um programa nacional de segurança e saúde no trabalho, em consulta com as mais representativas organizações de empregadores e trabalhadores. 2. O programa nacional deve: a) promover o desenvolvimento de uma cultura nacional de prevenção em saúde e segurança; ....I. Definições Artigo 1 Para efeitos da presente Convenção: ...d) A expressão cultura nacional de prevenção em matéria de saúde e segurança diz respeito a uma cultura em que o direito a um meio ambiente seguro e saudável trabalho é respeitado em todos os níveis, em que governo, empregadores e trabalhadores participam ativamente em iniciativas destinadas a assegurar um meio ambiente de trabalho seguro e saudável através de um sistema de direitos, responsabilidades e deveres, definidos e que seja atribuída a máxima prioridade ao princípio da prevenção.2 Já a Política Nacional referida, instituída em 2011, não contempla nos seus objetivos a formação de uma cultura da prevenção, recomendada pela OIT. A verdade é que, em uma abordagem analítica e ponderada a respeito do arsenal de leis, decretos, normas, políticas, programas propostos ao longo destes 35 anos no Brasil, em nenhum daqueles dispositivos prevencionistas legais ou não, são identificados referências que digam respeito ao desenvolvimento e sedimentação de uma Cultura de Segurança do Trabalho no âmbito das comunidades de trabalhadores, traçando assim uma trajetória circular em torno da questão prevenção, não avançando na direção da efetiva promoção da queda das primeiras posições do ranking de ocorrências de acidentes do trabalho, ainda que recomendados pela OIT. 2 Fonte: Site Agencia Brasil de Segurança - http://www.abs.org.br
  • 5. 2 - Porque uma Cultura de Segurança do Trabalho? Importante antes de estabelecer rótulos, que se filosofe a respeito da questão cultura, para que não se incorra em erros conceituais. Por isto torna-se essencial investigar considerações por alguns estudiosos sobre o assunto. O dicionário Aurélio define o termo Cultura como: 1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. Cultivo. 3. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade: civilização. 4. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso. 5. Apuro, esmero, elegância. 6. Criação de certos animais, em particular os microscópicos.3 Para os antropólogos, a cultura é o conjunto de padrões de comportamento humanos aprendidos. Este termo foi usado pela primeira vez, pelo antropólogo Inglês Edward B. Tylor, em seu livro Primitive Culture, publicado em 1871. Na sua obra, Tylor escreveu que a cultura é "aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, direito, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade". O autor José Luiz dos Santos do livro O que é Cultura, publicado pela Editora Brasiliense, em 1987, contribui com o conceito em discussão, quando teoriza sobre a questão da cultura como uma dinâmica do processo social, construída ao longo da história de um grupo social e sujeita a influencias externas, sendo assim, com o tempo, agregada por novos elementos. Importante as considerações a respeito das dimensões biológica e antropológica da cultura de um grupo social, quando admitem que os traços culturais são registrados na matriz celular de cada indivíduo daquele grupo, sendo assim hereditariamente transmitidos e manifestados. Analogicamente a dimensão psicológica, quando se refere aos arquétipos sedimentados no inconsciente coletivo e suas manifestações no cotidiano segundo o conceito de psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung4 . Assim, muitas de nossas manifestações culturais são meras repetições das projeções arquetípicas de nossos ancestrais, o que ocorrem por processos psicogênicos e sociogênicos. Algumas daquelas repetições são resultantes de processos educativos não formais do meio social (familiar, etc...), quando são 3 FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980, p. 512. 4 JUNG C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002
  • 6. instruídas, de forma a prevenir experiências emotivas negativas, ou após a ocorrência daquelas. Tecendo considerações sobre uma definição de Cultura de Segurança do Trabalho, poderíamos estabelecer algumas ponderações, quais sejam: Do ponto de vista antropológico, as manifestações e valores culturais de um grupo social com relação à segurança de cada individuo, são aprendidas e transmitidas mediante experiências emotivas pessoais (negativas ou positivas). Um exemplo, são os dispositivos de defesa criados pelos homens primitivos, na pré-história, para de enfrentamento aos riscos oferecidos por agentes da natureza (raios, tempestades, inundações etc...) e animais selvagens, que após experiências de perdas humanas, foram aprendidas e disseminadas para as gerações seguintes. Um segundo exemplo, já na fase da Revolução Industrial (1780), é o deslumbramento do homem pela máquina, associado ao desconhecimento do risco oferecido pela máquina e suas possibilidades de mecanização dos processos substituindo os trabalhos manuais, que determinaram inúmeras experiências emotivas negativas com mutilações e perdas humanas, determinando o desenvolvimento de dispositivos de prevenção, constituindo-se em aprendizado continuado até os dias de hoje. Interessante que em ambos os períodos da história da civilização ficam evidentes as projeções do arquétipo do Herói nos indivíduos em seu ambiente, seja laboral ou habitat, promovendo comportamentos de risco semelhantes daquelas populações ao se exporem, mesmo em se tratando de riscos mensuráveis e visíveis, como que inibindo momentaneamente o instinto de defesa ou autopreservação. Assim, o desenvolvimento de uma Cultura da Segurança do Trabalho, estaria associado a um processo de aprendizagem e disseminação acerca do ambiente laboral e seus agentes que ameaçam a integridade física dos atores. Trata-se de um processo complexo, como cita a autora Juliana Bley em sua obra Comportamento Seguro5 : ...Da necessidade de administrar o comportamento humano para evitar os acidentes de trabalho (e da complexidade que isso representa), originou-se a busca por mecanismos capazes de mudar os comportamentos das pessoas de modo que eles passassem de condutas pouco seguras para condutas muito seguras na realização das atividades. A discussão sobre métodos eficazes de modificar comportamentos não esteve restrita somente ao mundo do trabalho, mas também aos movimentos sociais, políticos, religiosos e à educação dos filhos: A palmada educa? O castigo é menos traumático? É útil passar pimenta nos dedos para deixar de roer unhas? Esses são questionamentos que pais e educadores fazem até hoje. Da mesma forma, acontece no campo da 5 BLEY, J. Z. Comportamento seguro: a psicologia da segurança no trabalho e a educação para a prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Curitiba: Editora Sol, 2006.
  • 7. segurança: Após quantos atos inseguros flagrados eu devo advertir um funcionário? Se deixar de promover o acidentado a um cargo melhor, diminuem as chances de ele sofrer outro acidente? Como fazer para que todos cumpram as normas de segurança? Com estes questionamentos finais, a autora nos estimula à reflexão sobre as questões essenciais de uma educação que efetivamente promova a mudança de comportamento do trabalhador em seu ambiente laboral, e desenvolve o raciocínio nesta direção, nas próximas citações: A ideia do acidente como expressão da qualidade da relação indivíduo-meio evidencia a análise do comportamento humano como uma alternativa para identificar e analisar aquilo que influencia na capacidade de um trabalhador prevenir a ocorrência de danos à sua saúde. Dessa forma, passa a ser possível organizar o ensino de forma a fazer novas sínteses comportamentais, o que caracteriza mudança de comportamento. Se essa mudança for relativamente permanente, é possível dizer que houve aprendizagem (CATANIA, 1999), objetivo principal da capacitação para segurança; os trabalhadores tornaram-se capazes de realizar suas atividades de forma mais segura. No entanto, o que deve ser definido como aprendizagem necessária para que tal capacidade seja desenvolvida? Cumprir regras? Seguir normas e procedimentos? Tomar decisões seguras? Antecipar-se aos problemas? Todas as possibilidades juntas? Um dos grandes dilemas da educação para a prevenção consiste em encontrar um equilíbrio saudável entre obedecer a regras e agir com autonomia. Instrutores, gestores, educadores dividem-se nas opiniões acerca do que deve ser aprendido pelos trabalhadores para que sejam capazes de não se acidentar, nem contribuir para o acidente dos colegas. A maior parte dos instrutores e participantes de treinamentos de comportamentos seguros estudados por Bley (2004) afirma ser cumprir normas e procedimentos o objetivo mais importante desse tipo de ação educativa. Entretanto, ainda que se estabeleçam processos educativos realmente eficazes para a efetiva mudança de comportamento no ambiente laboral, existirão trabalhadores que cometerão desvios no ambiente do trabalho, levando a acidentes ou doenças do trabalho. Por quê? Além disto, identifica-se naquele grupo dos colaboradores recalcitrantes, um subgrupo com um nível de formação acadêmica elevada (superior e com pós- graduação), consequentemente com cargo hierárquico alto nas organizações (gestores), e que teoricamente teriam melhor desempenho nos processos educativos para prevenção de acidentes do trabalho. Entretanto estes líderes elaboram projetos, planejam e conduzem a execução de atividades
  • 8. negligenciando em alta dose a prevenção de acidentes, estimulando assim ou induzindo seus subordinados a fazê-lo, muitas das vezes autorizando-os. Apesar de participarem de processos educativos de Segurança do Trabalho (treinamentos corporativos, acesso e bom entendimento a cerca dos procedimentos, etc...), porque estes gestores negligenciam e muitas das vezes rejeitam conscientemente a adoção das medidas preventivas no seu cotidiano? A que poderíamos então associar tais atitudes? A respeito desta abordagem, a autora Julian Bley comenta: ...Não há dúvida de que consciência, informação, conhecimento e troca de experiências são meios que podem favorecer a aprendizagem para a prevenção, não só no contexto da segurança do trabalho, mas também no trânsito, nas propagandas contra o abuso de drogas ou contra a transmissão da AIDS. O equívoco reside em considerá-los como sendo eficazes por si só, como sendo sinônimos de objetivos de ensino ou de coisas que os aprendizes precisam ser capazes de fazer após o processo ensino-aprendizagem. Bley, na página 26 de seu livro Comportamento Seguro, ainda comenta a respeito dos aspectos internos e internos do comportamento do trabalhador, dos quais eu destaco um deles, de natureza interna, que merece um aprofundamento de estudo, haja vista sua complexidade. Trata-se da percepção de riscos e sua intrínseca relação com a Cultura de Segurança do Trabalho como será tratado nos tópicos a seguir. 1 – Cultura de Segurança do Trabalho x Percepção de Riscos Sob a ótica da Psicologia do Trabalho, a percepção de riscos é uma componente que sofre interferência direta de fatores múltiplos, quais sejam Organizacionais, Sociais, Fisiológicos, Psicológicos, Cognitivos e Culturais, sendo assim, multifatorial. Em situações de distúrbios em um ou mais daqueles fatores, o nível de percepção do indivíduo é alterado. E por ser dinâmico e oscilante, pode ser considerando do como um estado do ser humano. A percepção de risco é vista por Lima (2005, p. 203)6 como: A forma que os não especialistas (referidos frequentemente como leigos ou público) pensam sobre o risco e refere-se à avaliação subjetiva do grau de ameaça potencial de um determinado acontecimento ou atividade, envolvendo 6 LIMA. Ricardo F. Compreendendo os mecanismos Atencionais. Ciências e Cognição. Ano 02 – Vol 06. Nov 2005.
  • 9. sempre uma fonte de risco, uma dimensão de incerteza e uma avaliação do valor das perdas potenciais. Já o Msc. em Psicologia do Trabalho e das Organizações, Diogo Borba7 , trata sobre percepção de riscos: Percepção de risco é o ato de avaliar as probabilidades de que algum perigo venha a se manifestar concretamente, e estimar a magnitude dos efeitos de um evento provável. É importante entender que o conceito é de natureza secundária, pois se trata de aplicar conceitos primários (como a percepção e probabilidade subjetiva) ao tema da segurança. ... Infelizmente, o conceito de percepção de risco nem sempre para por aí, pelo menos em minha pequena experiência de trabalho ou nas pesquisas na web sobre o assunto. Muitas vezes ele "inclui" indevidamente a ideia de comportamento inseguro. Isso ocorre principalmente quando se recorre ao conceito para explicar acidentes. Isso se faz, muito amiúde, com base numa espécie de fusão entre a percepção do risco e o ato dirigido à sua mitigação. Neste ponto está implícita a falsa suposição de uma relação automática e necessária entre ambos. O professor Gerald J. S. Wilde, em seu livro Target Risk, editado em 1994, constrói a Teoria da Homeostase do Risco (THR), onde aborda sobre níveis de risco aceitos no comportamento humano cotidiano. Nesta obra o autor realiza pesquisas sobre os níveis de risco à saúde e sua segurança, aceitos de forma não consciente pelo homem em qualquer atividade, em troca de satisfação de necessidades primárias (comer, beber, sexo) e outras necessidades como divertir-se etc.., desenvolvendo um Comportamento de Risco com base na meta a ser atingida, na medida em que estabelece níveis de risco aceitáveis. Trata-se de uma abordagem a ser considerada, haja vista os exemplos do dia a dia no ambiente laboral, onde ouvimos frequentemente a assertiva de trabalhadores, ao cometerem diversos desvios de segurança: Pode fazer desse jeito que é rapidinho, ou ainda Não precisa nada disso, porque tem 30 anos que faço assim e nunca aconteceu nada. Estas atitudes refletem um nível de exposição e aceitação inconsciente do risco, projetando o arquétipo do Herói, tal qual nós outros no cotidiano. A síntese das tratativas anteriores sobre percepção de riscos nos aponta para a subjetividade e complexidade dos fatores múltiplos que interferem nesta componente de caráter transdisciplinar, bem como a questão comportamental, ambas como resultantes do estado das emoções (prazer, desprazer, medo, 7 End. eletrônico do blog: http://psicologianotrabalho.blogspot.com.br/2012/05/percepcao-de-risco.html, Psicologia no Trabalho e nas Organizações – Diogo Borba. Msc.
  • 10. raiva) afloradas nos indivíduos em seu ambiente laboral, por conta dos distúrbios naqueles multi fatores citados. Sendo mais claro, os fatores múltiplos: organizacionais, cognitivos, fisiológicos, psicológicos e sociais desencadeiam distúrbios que alteram o estado das emoções do indivíduo, funcionando como um elemento regulador dos níveis de percepção de risco, estes que determinam o comportamento no ambiente laboral: Comportamento Seguro ou Comportamento de Risco, conforme demonstrado no fluxograma abaixo: Um exemplo clássico é de um motorista que após ingerir grande quantidade de bebida alcoólica dirigir um veículo numa auto estrada. Neste momento o fator fisiológico (efeito do álcool no organismo), potencializará uma emoção contida de desprazer (tristeza, frustações, angústia, etc...) ou mesmo de prazer (alegria), de raiva ou medo que sem controle determinará a redução do nível de Percepção de Risco e o aumento do Comportamento de Risco, levando-o a cometer imprudências, culminando com ocorrência indesejável - Acidente. Importante ressaltar que poderia ainda haver uma conjunção de fatores associados ao fisiológico promovendo alterações ainda maiores no nível de Percepção de Riscos daquele motorista. Geller ( 2001) em seu Manual de Psicologia da Segurança ( Psocology Safety Handobook)8 , tratando destas questões, teoriza: ...É possível estabelecer relações interpessoais e consequências comportamentais em local de trabalho para aumentar os sentimentos e atitudes importantes. Eu vou te mostrar como o aumento desses sentimentos afirma comportamentos benéficos e ajuda a atingir excelência em segurança. Como ilustrado na Figura [..], uma atitude de frustração ou um estado interno de angústia certamente pode influenciar comportamentos de condução, e vice- versa.[...] Assim, é possível "pensar uma pessoa em comportamentos seguros" (por meio da educação, treinamento e consenso construção de exercícios) ... 8 Geller, E. Scott, 2001- The psychology of safety handbook / E. Scott Geller.--2nd ed. Fatores Organizacionais, cognitivos, fisiológicos, sociais, culturais e psicológicos. Estado das Emoções Níveis de Percepção de risco Comportamento Seguro ou Comportamento de Risco
  • 11. Os níveis de controle das emoções dos indivíduos estão diretamente condicionados à maturidade, à história de vida (experiências pessoais, educação formal, educação doméstica, estrutura familiar), aos valores morais, ao autoconhecimento, a oportunidades em processos psicoterapêuticos, a fatores culturais, à motivação, e outros fatores que nos indicam o nível complexidade destas questões, quando se trata de trabalhadores. No exemplo anterior, ainda que a bebida tenha sido ingerida em excesso, constituindo-se em um promotor da alteração do fator fisiológico, se o motorista desenvolvesse algum mecanismo de controle de suas emoções, detectaria previamente seu nível de percepção de risco reduzido para desenvolver a atividade e adotaria a postura prevencionista de não conduzir o veículo. Também, não se pode deixar de considerar as atitudes dos gestores de organizações identificados em parágrafos anteriores, quando não adotam medidas de segurança para sua equipe, constituindo-se também em um comportamento de risco, determinado por um baixo nível de percepção de risco, que está relacionado com o estado de suas emoções, desencadeado por distúrbios de um ou mais fatores múltiplos. Este quadro se configura como um dos mais comuns em organizações onde segurança do trabalho assume a categoria de dependente ou independente se constituindo num dos maiores conflitos e entraves da relação capital x trabalho. 3 - Conclusões O conceito de Cultura considerado por alguns estudiosos, como um conjunto de atitudes, hábitos, valores assimilados, manifestados e transmitidos por gerações, pode ser sintetizado ao conceito de Cultura de Segurança, à luz da Psicologia da Segurança do Trabalho, a partir de alguns pressupostos. O primeiro pressuposto é a respeito da formação de uma Cultura de Segurança no âmbito de grupos de pessoas associadas por mesmo objetivo, a exemplo de uma organização, onde se torna viável o desenvolvimento de metodologias para desenvolvimento de Percepção de Riscos, considerando o estado das emoções dos sujeitos. O segundo pressuposto é a necessidade da criação de métodos científicos para desenvolvimento de Percepção de Riscos de um grupo, a partir de uma vertente interdisciplinar, considerando a complexidade e subjetividade da questão. O terceiro pressuposto refere-se à sedimentação e disseminação da Cultura de Segurança, a partir de estudos científicos de Comunicação de Massa, no âmbito daquele e de outros grupos, inclusive extramuros da organização, o que dependeria de politicas públicas para tal.
  • 12. Vale ressaltar que a questão que envolve uma Cultura de Segurança x Percepção de Riscos, se estende também à ameaça de sobrevivência do homem, quando empreende ações destruidoras ao meio ambiente (contaminações e poluições), do qual depende para continuar vivo, como uma espécie de “anulação” do instituto de preservação da espécie.