1) A oficina abordará a obra de três autores brasileiros: Ana Maria Machado, Cora Coralina e Manoel de Barros.
2) Os participantes lerão trechos das obras e farão atividades como construir perfis dos autores e desconstruir contos de fadas.
3) A oficina pretende entretecer a vida e obra dos três autores com as memórias afetivas e infâncias dos participantes.
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
Pauta da oficina sobre os escritores Ana Maria Machado, Manoel de Barros e Cora Coralina
1. Pauta da oficina
Tecer e bordar os fios de Ana, Cora e Manoel
Implementadoras: Fátima França e Patrícia Góes
1 – Acolhida
2 – Convidar os participantes para uma roda onde faremos um
Quiz e instalação literária.
3 – Entregar o baú com os livros selecionados dos três autores.
Exibir o vídeo: Histórias da unha do pé do dedão do fim do
mundo. Fazer roda de apreciação e conversa sobre os materiais
oferecidos.
A partir do material dado, construir o Perfil dos autores.
Quem são? Como retratam em suas obras a sua infância e fatos
da vida?
A) Eleger palavras para representar os autores.
B) Entregar recortes de tecido, canetas de tecido e materiais
diversos para colagens.
C)Pedir que os participantes representem nos quadrados a
(Infância, poesia, memória, obra dos três autores.) Ao término da
oficina os participantes deverão tecer uma colcha de retalhos
com a história de vida e trechos selecionados dos autores.
D)Fazer a representação da memória afetiva da infância dos
autores e entrelaçá-las com as memórias pessoais dos
participantes.
4 – “História meio ao contrário” (Ana Maria Machado)
Ler o trecho inicial da “História meio ao contrário”.
2. Falar sobre a desconstrução do modelo de contos de fadas.
Pedir que os participantes desconstruam e reescrevam um conto
de fadas.
5 - Desobjeto
Texto Motivador: Desobjeto (Manoel de Barros)
A) Ler o poema observar outros objetos e escrever de forma
poética outros poemas desconstruindo e ressignificando o objeto
escolhido.
B) Caixa com objetos diferentes e vídeo “A unha do dedão do pé
do fim do mundo”.
3. 1 - Em que obra Ana Maria Machado começa o livro
em E viveram felizes para sempre? Nesta narrativa
Ana inverte e reverte o modelo dos contos de fadas
2 - Ana Maria recebeu inúmeros prêmios
internacionais em sua trajetória como escritora.
Pelo conjunto de sua obra recebeu o que é
considerado o Oscar da Literatura e foi concedido
também a Lygia Bojunga.
3 - Ana Maria Machado é :
Baiana de Salvador?
Carioca de Santa Teresa?
Mineira de Belo Horizonte?
6 – Além da Literatura, Ana Maria dedicou-se a...
7 - Cite um livro de Ana Maria Machado.
8 - Ana como vários de seus amigos foi presa e
partiu para o exílio na Europa onde atuou como
professora na Sorbonne. Qual disciplina lecionava?
4. 9 - Fios de Ana
“A literatura é uma das mais antigas e mais duradouras
manifestações do espírito humano”.
Ana Maria Machado - 1999.
10 - Cite um dos livros infantis da autora.
Fios de Manoel
“Folhas secas me outonam. (Folhas secas que
foram o chão das tardes me transmudaram
Para outono? Eu sou meu outono.)
Gosto de viajar por palavras do que de trem.”
Manoel de Barros
11 - A menina descobre o retrato de sua bisavó, a personagem
repensa a própria realidade, encontra sua identidade. Estamos
falando do livro...
5. Para degustar:
Maré Baixa
Onde anda a onda
se a lua rotunda
se acende redonda
se brilha precisa
na calma tão lisa
da pele do mar?
Em que fenda se finda?
Em que rede se enreda?
Em que sonda se afunda?
Onde trama sua renda
De espuma tão fina
De puro luar?
Ana Maria Machado – Sinais do Mar
Fios de Ana
“Todo cidadão tem o direito de ter acesso à literatura e de
descobrir como partilhar essa herança humana comum”.
Ana Maria Machado, 2001.
6. Fios de Cora
Pedras
Os morros cantam para meus sentidos
A música dos vegetais
Que se movem ao vento
As pedras imóveis me enviam
uma bênção ancestral.
Debaixo da minha janela
se estende a pedra-mãe
Que mãos calejadas
e imensas mãos sofridas de escravos
a teriam posto ali,
para sempre?
In Villa Boa de Goyaz
Fios de Manoel
“Folhas secas me outonam. (Folhas secas que
foram o chão das tardes me transmudaram
Para outono? Eu sou meu outono.)
Gosto de viajar por palavras do que de trem.”
Manoel de Barros
7. Fios de Ana:
Essas ideias de relacionar à escrita e o tecer, fiar e
bordar já vinham girando havia muito tempo em
meu espírito, e não há nada demais nisso.
Eu apenas estava tendo consciência de algo já
perfeitamente assimilado e registrado por nossa
linguagem de todos os dias, criação anônima e
coletiva de nossa cultura pelos séculos afora.
In Texturas
12 – Ana Maria em seu romance de estreia, “Alice e
Ulisses” se vale de personagens e referências da
literatura clássica.
Ulisses como na Odisseia de Homero que parte
para uma arriscada aventura. Alice foi inspirada na
personagem de que autor inglês?
Isca de leitura:
Isca de leitura:
Isca de leitura:
8. Achadouros
Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente
só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das
coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de
ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são
sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da
intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa.
Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos
contava. Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros.
Que eram buracos que os holandeses, na fuga apressada do Brasil, faziam
no seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes
baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles
buracos. Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente
cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri
ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do
galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa.
Sou hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e
enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.
Hoje encontrei um baú cheio de punhetas.
(Barros, Manoel de. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de
Barros. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008)
9. Fraseador
Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu de treze.
Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam
na fazenda, contando que eu já decidira o que queria ser no meu
futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar nem
doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Que eu queria era
ser fraseador. Meu pai ficou meio vago depois de ler a carta. Minha
mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então,
o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota
mantimentos em casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser
fraseador. Meu irmão insistiu: Mas se fraseador não bota
mantimentos em casa, nós temos que botar uma enxada na mão
desse menino par ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um
pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não botou enxada.
(Barros, Manoel. Memórias inventadas: A infância. São Paulo:
Planeta, 2003)
10. Desobjeto
Cora Coralina
O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente.
O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estaria mais
perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia
incluído no chão que nem uma pedra um caramujo um sapo. Era
alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de
seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo.
Se é que um pente tem organismo.
O fato é que o pente estava sem costela. Não se poderia mais
dizer se aquela coisa fora um pente ou um leque. As cores a chifre
de que fora feito o pente deram lugar a um esverdeado a musgo.
Acho que os bichos do lugar mijavam muito naquele desobjeto. O
fato é que o pente perdera a sua personalidade. Estava encostado
às raízes de uma árvore e não servia mais nem para pentear
macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta,
justamente ele enxergara o pente naquele estado terminal. E o
menino deu para imaginar que o pente, naquele estado, já estaria
incorporado à natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho
que as árvores colaboravam na solidão daquele pente.