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UNIVERSIDADE SANTO AMARO
    Kátia Assis de Oliveira




  Comunicação e Expressão
          Pedagogia




            SÃO PAULO


           2007
KÁTIA ASSIS DE OLIVEIRA




COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
    Ensino a Distância — E a D
              Revisão 2




              São Paulo
                2007
SUMÁRIO


1       COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM                6
1.1     LINGUAGEM E LÍNGUAS                    6
1.2     PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO               6
1.3     ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO               6
1.3.1   Código e mensagem                      6
1.3.2   O referente                            7
1.3.3   O canal de comunicação                 7
1.3.4   O esquema da comunicação               7
1.4     AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM                8
2       TEXTO E TEXTUALIDADE                   9
2.1     COESÃO                                12
2.2     COERÊNCIA                             13
3       AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS           14
3.1     O TEXTO DESCRITIVO                    14
3.1.1   Características do texto descritivo   16
3.2      O TEXTO NARRATIVO                    18
3.2.1   Características do texto narrativo    19
3.3     O TEXTO DISSERTATIVO                  20
3.3.1   Características da dissertação        21
3.3.2   Dissertação expositiva                21
3.3.3   Dissertação Argumentativa             21
3.3.4   Organização do texto dissertativo     22
4       A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO               26
4.1     RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO          26
4.1.1   Texto e discurso                      26
4.1.2   A Intertextualidade                   27
4.1.2.1 A Paródia                             27
4.1.2.2 A Paráfrase                           30
4.1.2.3 A Estilização                         32
4.1.2.4 A Apropriação                         34
5        O TEXTO ACADÊMICO                    35
5.1      O FICHAMENTO                         35
5.2      O RESUMO                             39
5.3      A RESENHA                            41
5.3.1    Resenha crítica                      41
5.3.1.1 Requisitos básicos para se resenhar   42
5.3.2    Resenha descritiva                   42
6        O TEXTO COMERCIAL                    42
6.1      A CARTA COMERCIAL                    44
6.1.1    A composição da carta comercial      44
7        E-MAIL                               45
7.1      INTERNET                             45
7.2      O E-MAIL PROPRIAMENTE DITO           45
7.2.1    E-mails comerciais                   46
7.2.2    E-mails pessoais                     47
8        CONSIDERAÇÕES FINAIS                 48
         REFERÊNCIAS                          49
APRESENTAÇÃO

                                                              Uma língua é um lugar donde
                                                              se vê o    mundo e em que se
                                                              traçam os limites do nosso
                                                              pensar e sentir.
                                                                              Vergílio Ferreira


       Antes de iniciarmos a apresentação, propriamente dita, deste trabalho, cabe-nos
esclarecer que nosso material de apoio, elaborado especialmente para esta disciplina, foi
preparado com base em cursos anteriormente ministrados pela equipe docente da Unisa
Digital. Particularizando, dentre esse material, a apostila, esclarecemos que se trata da
reedição de uma obra assinada pela Profª Drª Márcia Antônia Guedes Molina, que foi por nós
adaptada, de acordo com os propósitos do curso de Pedagogia. Ainda no intuito de dar os
merecidos créditos à principal autora, transcrevemos abaixo, ipsis literis, o texto da
apresentação original, escrito por Márcia Molina.
       Nosso objetivo neste trabalho é sintetizar alguns conceitos relevantes de texto, para
auxiliar o processo de produção escrita dos ingressantes no curso superior, favorecendo-lhes
também uma orientação de como elaborar determinadas superestruturas textuais, por meio de
técnicas de escritura e leitura de textos modelares e competência para a produção de textos
acadêmicos, oferecendo-lhes também orientação de como elaborar determinados técnicos.
       O trabalho embasa-se em obras dos mais renomados estudiosos da Lingüística, como
Jakobson (s/d) e Vanoye (1998); dos mais importantes estudiosos da Lingüística de texto,
como Fávero (1999), Kock (1997), Guimarães (2004) e Fiorin (2003); e em trabalhos de
metodologia do trabalho científico, de autores de reconhecida competência, como Severino
(2001) e Lakatos (1992).
       Os conteúdos estão assim organizados: primeiramente, discutiremos a questão de
Língua e Linguagem; depois os elementos da comunicação e, embasados neles, as Funções da
Linguagem. Partimos depois para as noções de texto, textualidade, coesão e coerência, para,
em seguida, apresentar as superestruturas textuais tradicionalmente reconhecidas: descrição,
narração e dissertação. Num outro capítulo, depois de uma revisão de texto e textualidade,
apresentamos a noção de intertextualidade, compreendendo a de            paródia, paráfrase,
estilização e apropriação, para, então, partirmos para a discussão sobre fichamento, resumo e
resenha. Partimos na seqüência para a apresentação da redação comercial e finalizamos a
apostila com orientações de como escrever e-mails.
A seleção desses conteúdos deve-se à sua relevância como ponto de partida para os
demais textos, embora urge salientarmos que, numa obra simples como a nossa, não temos a
pretensão de traçar todas as diretrizes possíveis para o bom desenvolvimento de sua
competência escrita. Pelo contrário, apresentamos aqui apenas um roteiro, um caminho inicial
que deverá ser percorrido pelo próprio aluno e desvendado e ampliado à medida que seu
conhecimento sobre a língua for ampliado.
       Fruto de nossa experiência docente, as lições aqui apresentadas resultam do que foi
possível coletar do prazeroso convívio com nossos alunos e da observação do brilhante
trabalho de muitos colegas com quem tivemos o prazer de cruzar durante nossa jornada,
especialmente, das atividades docentes da minha orientadora de doutorado, Profª. Drª. Leonor
Lopes Fávero, umas das maiores estudiosas de Lingüística Textual no Brasil, do meu querido
Prof. Hildebrando A. André, com quem tive o prazer de aprender a ensinar redação, e das
lições sublineares a mim fornecidas pelo meu Vice-Diretor, Prof. Leo Ricino.


                                                                Profª. Kátia Assis de Oliveira
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1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM


       Muitos autores costumam definir comunicação como “transmissão voluntária de
informação” (RIEGEL, s/d, p.21). Como se procede, então, essa transmissão? Claro que por
meio da linguagem. Émile Benveniste assevera que a linguagem é um sistema de signos
socializados, remetendo-nos à sua função de comunicação.
       Vale salientar que, para que exista comunicação, as pessoas envolvidas no processo
precisam fazer uso de um código comum, quer dizer, devem “falar a mesma língua”. Isso
significa que só há comunicação quando um entende o outro.


1.1 LINGUAGEM E LÍNGUAS


       As línguas são, de acordo com Vanoye (1998, p.21), “casos particulares de um
fenômeno geral”, ou seja, a linguagem é o todo, todas as formas de comunicação e comporta
vários códigos, como cores, signos, assobios, código morse etc., já as línguas são um tipo
específico de linguagem.


1.2 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO


       A comunicação pressupõe sempre a existência de dois pólos: aquele que emite a
informação e aquele que a recebe: emissor-receptor ou locutor-alocutário ou ouvinte-leitor
etc. O veículo utilizado para a comunicação pode fazer com que esses papéis sejam
intercambiáveis ou não. É importante frisarmos que, para que haja comunicação, deve haver
sempre e, pelo menos, dois seres envolvidos, fazendo uso dos elementos da comunicação.


1.3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO


1.3.1 Código e mensagem


       O emissor e o receptor, como já foi dito, devem dispor do mesmo código, ou seja, do
mesmo sistema de signos, a fim de que a informação possa ser recebida e decodificada pelo
receptor. Essa informação decodificada é a mensagem.
7




1.3.2 O referente


             Riegel (s/d. p. 22) assevera:
                       Os signos do código remetem à realidade tal qual é percebida pelo emissor
                       e pelo receptor. O aspecto específico dessa realidade, que é evocada por
                       um signo do código, é o referente desse signo. O universo referencial,
                       exterior ao código, compreende tudo aquilo que pode ser designado pelos
                       signos e suas combinações: seres, coisas, estados, acontecimentos, idéias,
                       etc.

1.3.3 O canal de comunicação

      É necessário um meio físico para que a mensagem possa ser veiculada para o
interlocutor, a esse meio damos o nome de canal de comunicação. Constituem canais de
comunicação o ar, um CD, um cabo, um telefone, etc



1.3.4 O esquema da comunicação

             A somatória desses elementos resulta no seguinte esquema que apresenta os
      elementos indispensáveis para a comunicação:




        Esquema da Comunicação

                                    Contexto

                               Canal de Comunicação

           Emissor               MENSAGEM                      Receptor



                                    Código
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1.4 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM


       A linguagem, de acordo com Jakobson (s/d, p. 122), “tem toda a variedade de suas
funções.” Antes, porém propõe que recordemos que o remetente envia uma mensagem a um
destinatário. Para que possa ser transmitida, a mensagem requer uma contexto (ou referente),
apreensível pelo destinatário e que seja verbal ou passível de verbalização, um código
comum (parcial ou totalmente)a ambos — remetente e destinatário — e, finalmente, um
contato, ou seja, um canal físico por meio do qual possa ser veiculada.
       Cada um desses seis elementos encerra uma função da linguagem diferente:


                                          CONTEXTO

                                   1) FUNÇÃO REFERENCIAL


                                            CANAL

                                 2) FUNÇÃO FÁTICA


                EMISSOR               MENSAGEM                     RECEPTOR



      3) FUNÇÃO EMOTIVA 4) FUNÇÃO POÉTICA                      5) FUNÇÃO CONATIVA

                                            CÓDIGO


                                   6) METALINGUAGEM


       Apesar de serem seis elementos e, portanto, seis funções da linguagem, normalmente
as mensagens comportam mais de uma função, havendo uma predominante, mas não
exclusiva.
       Deve-se ressaltar que a estrutura da mensagem depende dessa função predominante.
Assim, a função referencial (também chamada de denotativa) está centrada no contexto
(referente). Tudo o que se refere aos contextos situacionais ou textuais pertencem a este
função. Por exemplo: Prefeitura libera a pista expressa da Marginal Pinheiros. (Folha de São
Paulo, 16 de janeiro de 2007)
9




       Quando a mensagem está centrada no canal, falamos da função fática. Temos nesse
caso tudo o que serve para, numa comunicação, estabelecer, manter ou encerrar o contato.
Por exemplo: Alô, alô, responde... Responde...
       Já, quando a mensagem prioriza o emissor, revelando sua personalidade, estamos à
frente da função emotiva (ou expressiva). Veja o exemplo abaixo:
                         Não serei o poeta de um mundo caduco.
                         Também não cantarei o mundo futuro.
                         Estou preso à vida e olho meus companheiros.
                         Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
                         Entre eles considero a enorme realidade.
                         O presente é tão grande, não nos afastemos.
                         Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
                                                                   Carlos Drummond de Andrade

               A função poética é aquela em que a prioridade está na própria mensagem,
colocando em destaque o “lado palpável dos signos” (JAKOBSON, s/d.), como no exemplo:
                         Vozes veladas, veludosas vozes,
                         Volúpias dos violões, vozes veladas,
                         Vagam nos velhos vórtices velozes
                         Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
                                                                 Cruz e Souza

       Quando ocorre a orientação para o receptor (destinatário) temos a função conativa. Por
isso, nessa função é comum observamos o emprego de verbos no modo imperativo e de
vocativos e ponto de exclamação. Exemplo: Assine uma TV a cabo agora e comece a pagar
somente depois do Carnaval.
       Finalmente, quando é dada especial relevância ao código, estamos à frente da função
metalingüística. Veja o exemplo: Quando falamos de funções da linguagem, queremos dizer,
da possibilidade que tem a língua de, de acordo com a intenção do falante, dar especial
destaque a determinados elementos da comunicação.
       Nesse caso, usamos a língua para explicar a própria língua.


2      TEXTO E TEXTUALIDADE


       Texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama em que se
devem enredar as palavras. Hoje, o Míni Houaiss (2001, p. 508) traz a seguinte definição para
o termo: “s.m. 1. Conjunto de palavras, frases escritas; 2. Trecho ou fragmento de obra de um
autor; 3 qualquer material escrito destinado a ser falado ou lido em voz alta [...]”
       Cumpre ressaltar que nem todos os conceitos acerca do que venha a ser texto são
válidos para o estudioso da Gramática ou da Lingüística Textual. A razão é simples, podendo
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ser subentendida a partir das palavras de KOCK (1997, p. 11), ao afirmar que a Lingüística do
Discurso procura estudar os textos como “manifestações lingüísticas produzidas por
indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção”,
entendendo-os numa situação interacionista. Do princípio de interação, em que se baseiam as
análises de texto e discurso, é que surge a divergência em relação ao conceito apresentado no
Míni Houaiss, pois, para nós, não será texto “Qualquer material escrito destinado a ser falado
ou lido em voz alta [...]” (op. cit.), mas, apenas aquele que atender a essa “exigência”. Visto
por esse ângulo, não será texto, por exemplo, uma seqüência de enunciados escrita em alemão
para um leitor que não compreenda esse idioma. Nessa hipótese, a seqüência constituirá um
não-texto.
        Ao adotar o texto como unidade de comunicação, a Lingüística Textual supõe,
naturalmente, que ele seja dotado de sentido. Conseqüentemente, conforme explicita Fávero
(1993), considera-se que sua produção e compreensão estejam ligadas à competência textual
do falante.
        Para que haja textualidade, característica que faz com que o texto seja realmente texto,
torna-se necessário que se verifiquem alguns fatores, tanto na microestrutura quanto na
macroestrutura textual, dentre os quais se destacam a coesão e a coerência.
        Para melhor compreensão do assunto tratado neste capítulo, tomo de empréstimo, na
íntegra, exemplos apresentados por Molina. (recorte da apostila editada exclusivamente para
o Curso de Letras da Universidade de Santo Amaro 2006; 2007) aos alunos das disciplinas
Técnicas de Produção Textual e Comunicação e Expressão:
Para calar a boca: Rícino                          Para a luz lá na roça: 220 volts
Pra lavar a roupa: Omo                             Para vigias em ronda: Café
Para viagem longa: Jato                            Para limpar a lousa: Apagador
Para difíceis contas: Calculadora                  Para o beijo da moça: Paladar
Para o pneu na lona: Jacaré                        Para uma voz muito rouca: Hortelã
Para a pantalona: Nesga                            Para a cor roxa: Ataúde
Para pular a onda: Litoral                         Para a galocha: Verlon
Para lápis ter ponta: Apontador                    Para ser moda: Melancia
Para o Pará e o Amazonas: Látex                    Para abrir a rosa: Temporada
Para parar na pamplona: Assis                      Para aumentar a vitrola: Sábado
Para trazer à tona: Homem - Rã                     Para a cama de mola: Hóspede
Para a melhor azeitona: Ibéria                     Para trancar bem a porta: Cadeado
Para o presente da noiva: Marzipã                  Para que serve a calota: Volkswagen
Para Adidas o Conga: Nacional                      Para quem não acorda: Balde
Para o outono a folha: Exclusão                    Para a letra torta: Pauta
Para embaixo da sombra: Guarda-Sol                 Para parecer mais nova: Avon
Para todas as coisas: Dicionário                   Para os dias de prova: Amnésia
Para que fiquem prontas: Paciência                 Pra estourar pipoca: Barulho
Para dormir a fronha: Madrigal                     Para quem se afoga: Isopor
Para brincar na gangorra: Dois                     Para levar na escola: Condução
Para fazer uma toca: Bobs                          Para os dias de folga: Namorado
Para beber uma coca: Drops                         Para o automóvel que capota: Guincho
Para ferver uma sopa: Graus                        Para fechar uma aposta: Paraninfo
11



                                                            Para a comida das orcas: Krill
Para quem se comporta: Brinde                               Para o telefone que toca
Para a mulher que aborta: Repouso                           Para a água lá na poça
Para saber a resposta: Vide - o - Verso                     Para a mesa que vai ser posta
Para escolher a compota: Jundiaí                            Para você o que você gosta
Para a menina que engorda: Hipofagi                         Diariamente

                             (http://marisa-monte.letras.terra.com.br/letras)

        Num primeiro momento, temos a impressão de que se trata de um amontoado de frases
pouco significativas. Contudo, se a inserirmos em seu contexto, passamos a entendê-la como
texto. Então, vamos lá. A seqüência acima é uma composição de Nando Reis, gravada por
Marisa Monte, intitulada Diariamente. O texto relata os fatos do cotidiano de uma pessoa que
vive numa região urbana, possivelmente, na cidade de São Paulo.
        O mesmo ocorre com a seguinte seqüência:
Por que você é Flamengo ?                                   Por que o fogo queima ?
E meu pai Botafogo ?                                        Por que a lua é branca ?
O que significa "Impávido Colosso" ?                        Por que a Terra roda ?
Por que os ossos doem ?                                     Por que deitar agora ?
Enquanto a gente dorme ?                                    Por que as cobras matam ?
Por que os dentes caem ?                                    Por que o vidro embaça ?
Por onde os filhos saem ?                                   Por que você se pinta ?
Por que os dedos murcham ?                                  Por que o tempo passa ?
Quando estou no banho ?                                     Por que que a gente espirra ?
Por que as ruas enchem ?                                    Por que as unhas crescem ?
Quando está chovendo ?                                      Por que o sangue corre ?
Quanto é mil trilhões ?                                     Por que que a gente morre ?
Vezes infinito ?                                            Do qué é feita a nuvem ?
Quem é Jesus Cristo ?                                       Do que é feita a neve ?
Onde estão meus primos ?                                    Como é que se escreve
Well, well, well Gabriel ?                                  Reveillon ?
Well, well, well Well ?                                     Well, well, well , Gabriel

                         http://vagalume.uol.com.br/adriana-calcanhoto/oito-anos.html)


        Se não reconhecermos a seqüência, inadvertidamente, podemos julgá-la um amontado
de perguntas sem nexo e, portanto, um não-texto. Contudo, novamente, temos aqui a letra de
uma composição que Paula Toler dedicou a seu filho Gabriel, com as perguntas que ele,
costumeiramente, lhe fazia. A música chama-se “Oito anos” e foi gravada por Adriana
Calcanhoto.
        Agora, prestemos atenção a este segmento:
                             La variété et la fantaisie de ma vie de Tous les jours

                             Tous les jours de la semaine, je ne me lève jamais a la même heure et ce
                             n’est jamais la mème chose.
                             Mes jours sont fous, fous, fous!
                             Lorsque je me lève, je ne suis pas pressé...
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                          Je vois et je choisis, c’est ça? Qu’il faut faire...
                          Je déjeune chaque jour à un restaurant différent.
                          L’aprés-midi je vais au cinéma, ou pour les courses, ou jouer le bowling,
                          au bien aux shoppings...
                          Je fais de promenade, promenade, promenade...
                          Naturellement, je ne peux pas travailler!
                          Les soirs je m’amuse à quelque show, ou théatre, ou rendez-vous chez un
                          ami...
                          Les personnes ne me retrouvent jamais!

                                                  http://www.sergiosakall.com.br/girafas/lingua_frances.html
       A seqüência acima só será texto para aqueles que dominam a língua em que foi
escrita: francês, os demais reconhecerão a seqüência, mas como não interagem com ela, não
conseguindo depreender-lhe o sentido, será um não-texto.
       A Profª. Márcia Molina (op. cit) fecha sua análise, citando Kock e Travaglia (1990, p.
10), para quem texto pode ser compreendido como:
                          Uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é
                          tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma
                          situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como
                          preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,
                          independentemente da sua extensão.

       Lembrando que para ser considerado texto o enunciado deve ter textualidade,
passemos, agora, ao estudo particularizado de coesão e coerência, principais fatores que
contribuem para que se atinja tal objetivo.




2.1 COESÃO


       Fávero (1999, p.10) assim define coesão: “A coesão, manifestada no nível microtextual,
refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou
vemos, estão ligados entre si dentro de uma seqüência.”
       Podemos dizer, portanto, que coesão é o nome com que designamos as estratégias de
ligação utilizadas num texto para torná-lo todo, ou seja, o uso de elementos capazes de
estabelecer elos.
       Esses elos podem “amarrar” elementos mencionados anteriormente no texto,
ocorrendo então o que os estudiosos chamam de anáfora, por exemplo: Fiz todo o dever, mas
minha amiga Carla não os fez (isto é, não fez o dever).
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       Podem também “amarrar” elementos que serão ainda mencionados no texto,
ocorrendo então a chamada catáfora, como no exemplo: Fui à feira e comprei todos os itens
de que precisava, menos estes: cebola, alho e cheiro verde.
       A utilização eficiente desses elementos auxilia bastante na boa escritura de uma
seqüência, mas não é só isso. Vejamos agora outro elemento responsável pela textualidade,
capaz de ajudar na produção textual.


2.2 COERÊNCIA


       Coerência diz respeito ao sentido do texto.
                          A coerência [...], manisfestada em grande parte macrotextualmente, refere-
                          se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os
                          conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa
                          configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a
                          coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários
                          e não mero traço dos textos. (FÁVERO, 1999, p.10)

              Então, a seguinte seqüência:

                                          VENDE-SE
        Apartamento. 3 dorms. 2 sls. coz. Área serv. Brooklin. R$220.000. Tratar com o
        proprietário: (XX)7070-7070.

constituirá texto para quem a entender como um classificado.


       Vários são os elementos responsáveis pela coerência. Unindo as informações

encontradas em FÁVERO (1993), KOCK e TRAVAGLIA (1990) e ARAÚJO (2002),

podemos apontar:

a- conhecimentos: lingüístico, de mundo,                f- intencionalidade;
   partilhado, do mundo em que o texto                  g- aceitabilidade;
   se inscreve;                                         h- informatividade;
b- inferências;                                         i- focalização;
c- fatores pragmáticos;                                 j- intertextualidade;
d- fatores de contextualização;                         k- consistência;
e- situacionalidade;                                    l- relevância.
       Resta-nos, ainda, especificar que os textos organizam-se numa hierarquia de tipos de
subtipos. Guimarães(2004, p.16) ensina que, se a intenção se volta fundamentalmente para as
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estruturas internas do texto, fica estabelecida uma tipologia de acordo com a forma de
estruturação, sua superestrutura, ou o mundo em que o texto se inscreve.
          É disso que trataremos a seguir.


3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS


          A noção de superestrutura, emprestada de Van Dijk,1 diz respeito às estruturas globais
que caracterizam alguns tipos de textos, independentemente de seu conteúdo.
          Dessa forma, relativamente ao aspecto estrutural, podemos inscrever os textos em:
descritivos, narrativos e dissertativos. Essas superestruturas têm, como afirma Guimarães
((2004, p.65), caráter convencional e são conhecidas e reconhecidas pelos falantes da língua,
ou seja: “Uma superestrutura é um tipo de esquema abstrato que estabelece a ordem global
do texto, e que se compõe de uma série de categorias, cujas possibilidades de combinação se
baseiam em regras convencionais.”
          A autora informa também que, embora haja sempre uma estrutura dominante, o texto
pode apresentar outras. Por exemplo, um texto predominantemente narrativo pode apresentar
trechos descritivos. O predominantemente dissertativo pode trazer, em alguns momentos,
trechos que caracterizam a narração e/ou a descrição. O importante para um estudante do
Curso de Letras é saber identificar no todo            trechos dessa ou daquela estrutura, cujas
características agora apresentamos.




3.1 O TEXTO DESCRITIVO


          Descrever é caracterizar com detalhes objetos, locais, pessoas e situações,
apresentando as características deles percebidas por meio dos cinco sentidos. Como é através
dos sentidos que estabelecemos contato com o mundo à nossa volta, podemos dizer que essa
estrutura textual é a mais primitiva, constituindo elementos vitais de nossa sensibilidade:
“Visão, tato, audição, paladar, olfato são os sentidos com que percebemos as coisas do
mundo que se traduzem em formas, cores, texturas, cheiros, sonoridades a serem descobertas.
(AMARAL; ANTONIO, 1991, p.19)
          Observemos agora as seguintes seqüências:

1
    VAN DIJCK, Strategies of Discourse Comprehension, Nova Iorque: Academic, 1983.
15




                          Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do
                          Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à
                          rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol
                          como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida;
                          as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam
                          ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em
                          mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas
                          para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava
                          viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam
                          as compras para o jantar ou andavam no ganho. (AZEVEDO, A. O
                          mulato. São Paulo: Ática, 1997)

                                       Trem das Cores
                                                         E a seda azul do papel
A franja na encosta                                      Que envolve a maçã
Cor de laranja                                           As casas tão verde e rosa
Capim rosa chá                                           Que vão passando ao nos ver passar
O mel desses olhos luz                                   Os dois lados da janela
Mel de cor ímpar                                         E aquela num tom de azul
O ouro ainda não bem verde da serra                      Quase inexistente, azul que não há
A prata do trem                                          Azul que é pura memória de algum lugar
A lua e a estrela                                        Teu cabelo preto
Anel de turquesa                                         Explícito objeto
Os átomos todos dançam                                   Castanhos lábios
Madruga                                                  Ou pra ser exato
Reluz neblina                                            Lábios cor de açaí
Crianças cor de romã                                     E aqui, trem das cores
Entram no vagão                                          Sábios projetos:
O oliva da nuvem chumbo                                  Tocar na central
Ficando                                                  E o céu de um azul
Pra trás da manhã                                        Celeste celestial

               (http://64.233.187.104/:tremdascoresletra.caetanovelosoletrasdemusicas.lyrics.mus.br/)



               A primeira seqüência, como se pode observar, é um trecho do romance O
mulato de Aluísio Azevedo. Podemos perceber com que precisão o autor descreve a cidade
de São Luís do Maranhão. Trechos com sinestesias como: “pedras escaldavam, as vidraças e
os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de
prata polida,” favorecem não só a leitura, como também a percepção sensorial do texto.
       O mesmo acontece com a letra da música Trem das cores, de Caetano Veloso. Em: “O
mel desses olhos luz/E a seda azul do papel/ Que envolve a maçã” temos a impressão de sentir
o gosto tanto do mel, quanto da maçã; de ver o brilho dos olhos e de sentir a maciez do papel
de seda.
       Um texto descritivo estará bem produzido, quando possibilitar essas sensações;
quando o leitor, ao proceder à sua leitura, tiver a sensação de estar vendo, presenciando,
sentindo o que se está descrevendo.
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       Vejamos então, pormenorizadamente, o que compreende um texto descritivo.


3.1.1 Características do texto descritivo


       Leia o seguinte fragmento da obra Iracema de José de Alencar:
                        Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a
                        asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
                        O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no
                        bosque como seu hálito perfumado.
                        Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as
                        matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.
                        O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a
                        terra com as primeiras águas. (ALENCAR, J. Iracema. São Paulo: Ática,
                        1990)
       Agora, atente para o seguinte:
                        Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba
                        que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do
                        gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no
                        galho próximo, o canto agreste


        O primeiro fragmento é descritivo e o segundo, narrativo. Como identificar a
descrição?
       O texto descritivo é predominantemente figurativo, ou seja, construído com termos
essencialmente concretos, evocando uma figura, um efeito de realidade: “Os textos figurativos
produzem um efeito de realidade e, por isso, representam o mundo, com seus seres, seus
acontecimentos.” (PLATÃO; FIORIN, 1997, p. 89)
       No fragmento 1 temos, como exemplos de termos concretos: a morena virgem corria
o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O
pé grácil e nu, mal roçando, etc.


       Outra característica do texto descritivo é que ele não traz mudança de situação. É
estático. Representa o mundo num determinado momento. É recorte.
              Além disso, naquela instância em que se efetua a descrição, vários fatos
simultâneos podem ser apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida pelo narrador
apresentava, simultaneamente, as seguintes características: era virgem, tinha lábios de mel;
seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira; seu
sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a
ema, etc.
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       Essas características   co-ocorriam. Estavam todas presentes na mesma instância,
podendo inclusive ser investidas no texto, como o exemplo abaixo mostra:
                         Seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era
                        ainda mais rápida que a ema; era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos
                        eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de
                        palmeira[...],
isso porque não existe relação de anterioridade, nem de posterioridade no fragmento.
       Para que se estabeleça a comparação, retomemos o segundo fragmento:
                        Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce
                        mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das
                        penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata,
                        pousado no galho próximo, o canto agreste.
       Esse é um fragmento narrativo. Existe nele uma relação de anterioridade e
posterioridade: primeiro a índia saiu do banho, depois se pôs a repousar. A inversão dos fatos
prejudicaria a seqüenciação do texto.
       Podemos perceber também, em ambos os textos, uma diferença no emprego dos
tempos verbais: no primeiro predomina o pretérito imperfeito e, no segundo, o pretérito
perfeito.
       Como a simultaneidade é a característica do texto descritivo, os tempos verbais mais
empregados são o presente do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo.
       Quanto à organização, podemos afirmar que se deve elaborar o texto descritivo
espacialmente, isto é, os elementos devem ser descritos de baixo para cima, da esquerda para
direita, de dentro para fora, etc, para que o leitor, possa, paulatinamente, ir construindo a
imagem daquilo de que se está tratando.
       Agora, reúna todas as informações dadas anteriormente a respeito do texto descritivo e
leia a seguinte poesia de Manoel Bandeira, observando nela os traços da descrição:

                                    Segunda canção do beco

Teu corpo moreno                                    Deve ter o gosto
É da cor da praia.                                  De fruta de praia.
Deve ter o cheiro                                   Deve ter o travo,
Da areia da praia.                                  Deve ter a cica
                                                    Dos cajus da praia.
Deve ter o cheiro
Que tem ao mormaço                                  Não sei, não sei, mas
A areia da praia.                                   Uma coisa me diz
                                                    Que o teu corpo magro
Teu corpo moreno                                    Nunca foi feliz.
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3.2 O TEXTO NARRATIVO


       De acordo com o Míni Houaiss (2001, p.364): “Narração: s.f. [é] exposição oral ou
escrita de um fato.”
       Narrar é, portanto, representar um acontecimento ou uma série de acontecimentos
reais ou fictícios num texto.
       Humberto Eco (1985, p.21), no Pós-Escrito a O Nome da Rosa, ensina:
                          [...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais
                          mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas
                          margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador
                          possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto:
                          pode-se começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar
                          de acontecer.[...]
       Essa citação de Eco, mesmo que indiretamente, permite-nos depreender que são cinco
os elementos da narração: narrador, personagens, ações, tempo e espaço.
       Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colassanti:
                                               Nunca descuidando do dever

                          Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a
                          roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa
                          descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava
                          caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos,
                          afiando o vinco das calças. E a poder de ferro e goma, envolta em
                          vapores, alcançava o ponto máximo de sua arte ao arrancar dos
                          colarinhos liso brilho de celulóide.
                          Impecável, transitava o marido pelo tempo. Que, embora
                          respeitando ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar
                          seu avanço na pele e no rosto. Um dia notou a mulher um leve
                          afrouxar-se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no
                          sorriso, franziam-se fundos os cantos dos olhos.
                          Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes
                          pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer
                          nada, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o
                          homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho
                          úmido e, silenciosa, ligou o ferro.

       Observemos que, no texto acima, vislumbramos os seguintes elementos da narração:
       a- narrador onisciente: de 3ª pessoa: “Jamais permitiria que seu marido fosse para
           personagens:
       b- protagonista: a esposa: “ Não dissessem os colegas que era esposa descuidada......”
       c- antagonista: o marido: “Impecável transitava o marido pelo tempo.”
       d- ações: “Debruçada sobre a tábua [...] dava caça às dobras [...]”
       e- tempo: “Jamais permitiria [...]” “Um dia notou a mulher [...]” “[...]muitos meses
           mais tarde [...]”
19



         f- espaço: Na sua casa, em uma determinada cidade.
         Além desses elementos, a narração apresenta, diferentemente da descrição,
transformação.


3.2.1 Características do texto narrativo


         No texto: “Nunca descuidando do dever”, podemos perceber, dentre outras, as
seguintes:
         a- as camisas amassadas ficavam muito bem passadas: “[...] alcançava o ponto
             máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de celulóide.”
         b- o marido foi adquirindo rugas no rosto: “[...]transitava o marido pelo tempo. Que,
             embora respeitando ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar seu
             avanço na pele e no rosto.”
         Mas a transformação mais significativa é a que não está explicitada, ou seja, ao
perceber o rosto enrugado do marido, a esposa, como um autômato, tenciona passá-lo:
“Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um
paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro.”
         Além disso, tanto quanto o texto descritivo, o narrativo é figurativo. Lembremo-nos de
que esse tipo de texto é construído com palavras concretas cuja função é representar o mundo.
Por meio das figuras empregadas podemos depreender o real sentido do texto. “No caso de
Nunca descuidando do dever, figuras como: [...] Jamais permitiria que seu marido fosse para
o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada.
Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas
[...]”
         Permitindo-nos depreender, sublinearmente, uma crítica às mulheres que, nas décadas
de 60 e 70, viviam apenas e tão somente para o lar, realizando robotizadamente as atividades
domésticas.
         Além da figurativização, na narração, a ordenação é temporal. O texto deve ter uma
seqüenciação para que o leitor possa acompanhar o desenrolar das ações. Assim, vejamos:
                          Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal
                          passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada
                          sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas,
                          aplainando punhos e peitos [...]Um dia notou a mulher um leve afrouxar-
                          se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se
                          fundos os cantos dos olhos. [...]
                          Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes pregas
                          descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer nada, ela esperou
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                          a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado
                          dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro.
       A ordenação temporal nesse texto ajuda o leitor a ir acompanhando as ações da esposa
até o inesperado desfecho e, diferentemente do texto descritivo, a disposição dessas ações não
pode ser alterada.
       Como a ordenação temporal é de extrema relevância no texto narrativo, os tempos
verbais básicos são os do subsistema do passado: pretérito perfeito, mais-que-perfeito e
imperfeito.2
       Para finalizar, leia atentamente o texto abaixo, buscando visualizar nele os elementos
da narração já discutidos:
                                          Desta água não beberás
                            — Por que Demétrio não se casa? Era a indagação geral! Demétrio
                          namorava, noivava, não casava. Sete dias antes do casamento, olha aí
                          Demétrio fugindo. As versões eram múltiplas. A noiva é que o despedira.
                          Tiveram uma briga feia. Gênios incompatíveis. Mal secreto. Intrigas.
                          Demétrio continuava a namorar, noivar e não casar. Não lhe faltavam
                          noivas, pois era agradável, tinha status. Quanto mais se desmanchavam
                          seus projetos de casamento, mais apareciam mulheres dispostas ao desafio,
                          exclamando:
                           — A mim ele não deixa na porta do Mosteiro de São Bento.
                          Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestígio crescia. Concluiu-se
                          que era sua maneira de afirmar-se.
                          Então Livaniuska decidiu enfrentá-lo. Noivou com ele e, uma semana antes
                          do casamento, deu-lhe o fora solene. Demétrio quis reagir, explicou à
                          repórter social que ele é que tomara a ìniciativa, mas a mentira foi patente.
                          Livaniuska foi contratada como atriz por uma emissora de TV e ficou
                          célebre.
                          Daí por diante ela repetiu a carreira de Demétrio, noivando e
                          desmanchando com inúmeros cavalheiros. No fim de cinco anos,
                          Livaniuska e Demétrio casaram-se para sempre, como era fácil de prever
                          mas ninguém previu. Carlos Drummond de Andrade


3.3 O TEXTO DISSERTATIVO


       No Míni Houaiss (2001, p.174), encontramos: “Dissertação: s.f. 1. Exposição oral ou
escrita; 2. Monografia. Ensaio [...]”
       Mas será que, como superestrutura textual, dissertação é só isso? Vamos ver o que
dizem alguns estudiosos do assunto.
       Magalhães (s/d., p.7) assevera que a dissertação ocorre no plano das idéias, do
conhecimento, das abstrações. Trata-se de um trabalho reflexivo que consiste, de maneira
geral, em organizar as idéias numa linha de raciocínio. Assim, ensina o autor, “todas as vezes


2
   Geralmente, mas não exclusivamente. Pode-se usar, por exemplo, o presente do indicativo, com valor
atemporal, instaurando proximidade e verossimilhança ao texto.
21



em que nos valemos da linguagem verbal para expor, defender ou contestar idéias, estaremos
utilizando o chamado discurso dissertativo.”
           Platão e Fiorin (1997, p.252) afirmam que “dissertação é o tipo de texto que analisa
interpreta, explica e avalia os dados da realidade” e relacionam algumas de suas
características, revisadas a seguir.


3.3.1 Características da dissertação

           A dissertação apresenta as características:
           a- é um texto temático, ou seja, discute um tema, operando, predominantemente, com

               termos abstratos;

           b- mostra mudança de situação, tanto quanto a narração;

           c- sua ordenação é lógica;

           d- o tempo básico empregado na dissertação é o presente do indicativo com valor

               atemporal, embora se admita o uso do pretérito perfeito e do futuro do presente.3

          Importa esclarecer que há autores que inscrevem os textos dissertativos em dois tipos:
expositivos e argumentativos.


3.3.2 Dissertação expositiva
           É aquela cujo propósito é discorrer sobre o assunto num sentido meramente
informativo. Assim, pode-se dissertar sobre a pena de morte, a juventude brasileira, etc. sem
que haja posicionamento sobre o tema.
                                            A importância de Música Popular Brasileira
                              A importância da Música Popular Brasileira no cenário de nossa cultura é
                              inegável. Pode-se constatar que a MPB, além de sua relevância como
                              manifestação estética tradutora de nossas múltiplas identidades culturais,
                              apresenta-se como uma das mais poderosas formas de preservação da
                              memória coletiva e como um espaço social privilegiado para as leituras e
                              interpretações do Brasil. (Dicionário Cravo Albim de MPB) Disponível em:
                              http://www.dicionariompb.com.br/default.asp)


3.3.3 Dissertação Argumentativa
           Diferentemente da anterior, na dissertação argumentativa revelam-se reflexões sobre o
assunto, a fim de persuadir o receptor que, acompanhando a linha de raciocínio do que é

3
    Também aqui se trata de tempos básicos, mas não exclusivos.
22



exposto, verifica se o raciocínio verbalizado é correto e, nesse sentido, passível ou não de
aceitação.


                                 Uma escolha contra a mulher

                          O aborto é freqüentemente apresentado como um problema de "direito das
                          mulheres". É visto como algo desejável para as mulheres, e como um
                          benefício ao qual elas deveriam ter tanto acesso quanto possível. Na
                          verdade, ser "pró-vida" é visto como sendo "contra os direitos da mulher".
                          Se você às vezes pensa desta forma, examine os fatos apresentados aqui.
                          Verá que, na verdade, o aborto prejudica a mulher, ignora os seus
                          direitos, e as abusa e degrada. Qualquer um que se preocupa com a
                          mulher fará bem em conhecer estes fatos.
                          Estudos de mulheres que fizeram aborto, (veja, por exemplo, o livro do Dr.
                          David Reardon, Aborted Women, Silent No More), mostram que o aborto
                          não é uma questão de dar à mulher uma "escolha". É, tragicamente, uma
                          situação em que as mulheres sentiram que não tinham NENHUMA
                          ESCOLHA, sentiram que ninguém se importava com elas e com seu bebê,
                          dando-lhes alternativa alguma a não ser o aborto. A mulher sente-se
                          rejeitada, confusa, com medo, sozinha, incapaz de lidar com a gravidez - e,
                          no meio disto tudo, a sociedade diz-lhe, "Nós eliminaremos o seu problema
                          eliminando o seu bebê. Faça um aborto. É seguro, fácil, e uma solução
                          legal".
                          O fato é que embora o aborto seja legal (nos Estados Unidos), ele NÃO é
                          seguro e fácil, nem respeita a mulher.[...]
                         http://www.comciencia.br/especial/drogas/drogas01.htm

       Podemos perceber no texto acima que, por exemplo, no trecho: na verdade, o aborto
prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada está expressa a opinião
do autor e, para que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar os motivos que o fazem
pensar assim.
       Em ambos os tipos de dissertação, importa atentar para sua organização, como veremos
a seguir.


3.3.4 Organização do texto dissertativo


      Como esse tipo de texto deve apresentar uma organização lógica, deve-se apresentar com
bastante clareza:
       a-    o assunto;
       b-    a delimitação do assunto;
       c-    o objetivo;
       d-    o tópico-frasal;
       e-    o desenvolvimento;
       f-    a conclusão.
23



       Como já falamos anteriormente, a dissertação é um texto temático, portanto, deve-se
discutir um tema. Para que o autor do texto não se perca em informações redundantes ou
desnecessárias, é importante que proceda à delimitação dele. Por exemplo: dissertação, com o
tema namoro. Terá as possíveis delimitações do tema: namoro na adolescência, namoro na
melhor idade e namoro na escola.
       Escolhida uma delimitação, deve-se propor um objetivo para que não ocorra fuga ao
tema. Se resolvêssemos escrever sobre namoro na escola, poderíamos estabelecer como
objetivo, por exemplo: mostrar ao leitor que, como a escola é o espaço onde os jovens mais se
encontram e se relacionam, é normal e saudável que ali comecem sua vida afetiva.
       O tópico frasal é aquele sobre o qual incide a essência da informação. Na delimitação
acima, poderíamos estabelecer um possível tópico-frasal:
                         É na adolescência que se começa a conhecer o mundo, a fazer amigos, a
                        descobrir as verdades e a escola é um dos ambientes mais propícios para isso.
                        Então, nada mais comum que ali ocorram flertes, o ficar e até mesmo
                        namoros nesse ambiente.

       Tendo em mente tanto a delimitação, quanto os objetivos e o tópico frasal, cabe ao
autor, então,    elaborar seu texto dissertativo. Se o seu desejo for produzir um texto
argumentativo, esses argumentos podem ser apresentados de diferentes maneiras. Seguindo
Platão e Fiorin (1997, p. 286-288), relacionamos três deles:
     a- argumento de autoridade: citam-se autores ou pessoas de prestígio que tenham
         reconhecido domínio sobre aquele saber. No caso da delimitação acima (Namoro na
         escola), poderíamos citar, por exemplo, o psicanalista Içami Tiba, autor de várias
         obras que tratam da adolescência.
     b- argumento baseado no consenso: nesse caso, valer-nos-íamos de opiniões já
         aceitas pela maioria da população.
     c- argumento baseado em            provas concretas: poderíamos, no caso de nossa
         proposta, fazer uso, por exemplo, de pesquisas que comprovassem que a maioria
         dos jovens namora na escola e que tal fato tem auxiliado em seu desenvolvimento
         emocional.
     d- Para que possamos entender melhor, leiamos Magalhães (s/d., p.16,17) que assim
         exemplifica o texto dissertativo:
                        Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do
                        Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente
                        atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência.
                        Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o fato de o patrão
                        socorrer seu empregado acidentado. Mas a desobediência a essa regra de
                        moral não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Este, entretanto,
                        observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer
24



                          seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como
                          obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. Outro
                          exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de despedir
                          seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e ao
                          romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de
                          serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela
                          preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava
                          qualquer sanção por parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente
                          transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o
                          dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado
                          despedido. O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção
                          por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.
                          (RODRIGUES, S. Direito Civil. In: MAGALHÃES, R. Técnicas de
                          Redação: a recepção e a produção de texto. São Paulo: do Brasil, s/d).
       Nesse texto temos, portanto:
       a- assunto: direito;
       b- delimitação: direito e moral;
       c- objetivo: mostrar que muitas normas morais transformaram-se em normas jurídicas
          por razão de conveniência social;
       d- tópico-frasal: “muitas normas, antes apenas do âmbito da moral, passaram ao
          campo do direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente
          atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência”.
       Desenvolvimento — argumentos baseados em provas concretas:
      a- O socorro patronal obrigatório ao empregado acidentado;
      b- A obrigação jurídica de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado
             despedido.
        Conclusão: “A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.”
       Além disso, podemos perceber que o texto dissertativo tem algumas características que
lhes são peculiares. Vejamos quais são.
       Primeiramente, como pudemos perceber, trata-se de um texto temático, ou seja, o
nosso exemplo discute uma questão jurídica, operando com, predominantemente, termos
abstratos:
                          Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do
                          Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente
                          atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua
                          desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o
                          fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. [...]

       Mostra, tanto quanto a narração, mudança de situação: no caso do texto acima, o autor
aponta para fatos que passaram de atitudes morais para deveres impostos pelo Direito:
                          [...] Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a
                          obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito,
                          impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever
                          moral. [...]
25



                         [...] O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por
                         parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.
       Sua ordenação é lógica. Como já apontado, há no texto um tópico frasal, o
desenvolvimento e a conclusão.
       Os tempos verbais empregados nessa dissertação são o pretérito perfeito e imperfeito
do indicativo, quando o autor remete o leitor ao passado, e o presente, quando aponta para o
resultado da ação pretérita:
                         [...] Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de
                         despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e
                         ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de
                         serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela
                         preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava
                         qualquer sanção por parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente
                         transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o
                         dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido.
                         O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do
                         Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.
       Para finalizar, leia atentamente o texto abaixo, buscando visualizar nele os elementos
da dissertação já discutidos:

                                    Uso de álcool na gravidez traz riscos ao bebê

              A ingestão de álcool durante a gravidez pode acarretar uma série de problemas na
     formação do feto. A manifestação mais severa é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que
     causa desde malformações craniofaciais, retardamento no crescimento até a incapacidade
     de desenvolvimento mental.
              O fato de um grande número de mulheres beberem socialmente e a maioria das
     gestações não serem planejadas aumentam o risco de ocorrer a SAF. "Pode haver um
     desconhecimento do estado gestacional nos primeiros meses. Isso implica muitas vezes a
     exposição do embrião ao etanol, principalmente no período mais crítico e sensível da
     gestação", explica Cristiana Corrêa, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas,
     da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
              Geralmente, a incidência da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 casos por 1000
     nascimentos. Entre os filhos de mães alcoólatras, estima-se que 30% a 40% dos recém
     nascidos venham a apresentar a doença. Ainda não foi definida a quantidade mínima de
     álcool ingerida capaz de afetar o feto.
              As maiores conseqüências da SAF são: restrição no crescimento, com
     decréscimo inferior a 10% no peso e no comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso
     Central, apresentando, entre outros problemas, disfunção comportamental, hiperatividade,
     dificuldade de adaptação social, e anomalias faciais.
              A prevenção da SAF, na opinião de Corrêa, só será possível através de um sistema
     articulado de intervenção terapêutica na mãe alcoólatra, programas educacionais nas
     comunidades, identificação precoce da doença e acompanhamento das crianças afetadas pela
     síndrome.
                             Liliane Castelões http://www.comciencia.br/especial/drogas/drogas01.htm
                  .
26




4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO


4.1 RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO


          Como vimos, texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma
trama em que se deve enredar as palavras.


4. 1.1 Texto e discurso


          A Lingüística do Discurso procura estudar os textos como “manifestações lingüísticas
produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de
produção” (KOCK, 1997, p.11), entendendo-os numa situação interacionista.
          Para Val (199, p.3), texto (escrito ou falado) é a “unidade lingüística comunicativa
básica”      utilizadas pelos falantes de uma língua para se comunicarem e será bem
compreendido quando comportar três aspectos fundamentais: o pragmático (atuação
informacional e comunicativa), o semântico-conceitual (relacionado à compreensão, à
cognição, portanto, da coerência) e o formal (de sua organização, ou seja, de sua coesão).
          Assim, texto pode ser compreendido como uma unidade de sentido que depende de
uma série de fatores, ligados tanto à coerência quanto à coesão.
          Por outro lado, discurso é mais abrangente e, de acordo com a Análise do Discurso de
Linha Francesa, ele é entendido como o espaço em que emergem as significações
(BRANDÃO, s/d, p. 35). Mas, o que comporta essa significação? Primeiramente, temos de
entender que o discurso de que tratamos se faz na e pela língua, ou seja, as significações serão
observadas em sua formação discursiva, somada às suas condições de produção, norteadas
pela sua formação ideológica.
          Dessa forma, a noção de discurso pode ser vista como múltipla e analisá-lo é, de
acordo com Foucault (1986, p.187), “fazer desaparecer e reaparecer as contradições é mostrar
o jogo que jogam entre si; é manifestar como pode exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar-
lhes uma fugidia aparência.”       Isso quer dizer que analisar um discurso é buscar esses
elementos de dispersão, os diversos discursos que comporta, os textos que com ele dialogam.
          E há várias maneiras de os textos conversarem entre si e com os discursos, como
veremos a seguir.
27



4.1.2 A Intertextualidade


       De acordo com Kristeva (1974, p.64) “todo texto se constrói como um mosaico de
citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto,” ou seja, como falou
Bakhtin (1922) nenhum discurso é neutro, é sempre formado por outros que lhe foram
anteriores no tempo, pois produzido por um sujeito descentrado, assumindo diferentes vozes
sociais, que o tornam um sujeito histórico e ideológico.
       Fiorin (2003, p.32) ensina: “A intertextualidade é o processo de incorporação de um
texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo.”
       Brandão (s/d., p.76) aponta dois tipos de intertextualidade: uma interna, na qual um
“discurso se define por sua relação com o discurso do mesmo campo, podendo divergir ou
apresentar enunciados semanticamente vizinhos aos que autoriza sua formação discursiva”; e
uma externa, “na qual o discurso define uma certa relação com outros campos”.
       Kock (1986, p.39) também aponta a possibilidade de se observar a intertextualidade de
duas maneiras: em sentido amplo, que ocorre implicitamente, ou seja, a identificação dos
textos em diálogo é conseguida por meio de atenta observação por parte do leitor, porque o
novo texto mantém alguns aspectos, tanto formais quanto de sentido, dos originais; em
sentido estrito, que pode aparecer tanto implicitamente – por meio da divulgação de sua
ideologia e retórica - quanto explicitamente – por meio da revelação direta do texto do qual
se origina.
       Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito possibilidades de a intertextualidade se
revelar, isto é, por meio de epígrafe, de citação, de referência, de alusão, da paráfrase, da
paródia, do pastiche e da tradução. Esses autores entendem a sociedade como uma grande
rede intertextual e dão ao espaço cultural um lugar de relevância, pois cada produção dialoga
necessariamente com outras.
       Fiorin (2003) e Sant’Anna (1988) apontam diferentes maneiras de a intertextualidade
ocorrer. O primeiro identifica três processos: a citação, a alusão e a estilização; o segundo,
quatro: a paródia, a paráfrase, a estilização e a apropriação.
       Como é a proposta de Sant’Anna que mais atente aos nossos propósitos, estudá-la- os
particularizadamente a seguir.

4. 1.2.1 A Paródia

       Fávero (2003, p. 49) vai à etimologia para conceituar o termo: “Paródia significa canto
paralelo (de para = ao lado de e ode = canto), incorporando a idéia de uma canção, cantada ao
lado de outra, como uma espécie de contracanto.”
28



       Sant’Anna (1988, p.31) completa, asseverando que ela tem uma função cartática,
funcionando como contraponto com os momentos de muita dramacidade. Além disso, o texto
paridístico faz uma re-apresentação “daquilo que havia sido recalcado. Uma nova e diferente
maneira de ler o convencional. É um processo de liberação do discurso. Uma tomada de
consciência crítica.”
       Parodia-se um texto para negá-lo, já que a linguagem nesse tipo de produção é dupla,
as vozes que dialogam nos dois discursos se cruzam tanto horizontal (produtor x receptor),
quanto verticalmente (texto x contexto) (FÁVERO, 1999, p.53).
       Temos em nossa literatura muitos exemplos de paródia.        Jô Soares, na época de
cassação do então presidente Collor de Melo, utilizando-se da mesma estrutura da nossa
Canção do Exílio, escreveu:




                                  Canção do exílio às avessas


Minha Dinda tem cascatas                         Tudo ali foi transplantado,
Onde canta o curió                               Nem parece natural.
Não permita Deus que eu tenha                    Olho a jabuticabeira
De voltar pra Maceió.                            dos tempos da minha avó.
Minha Dinda tem coqueiros                        Não permita Deus que eu tenha
Da Ilha de Marajó                                De voltar pra Maceió.
As aves, aqui, gorjeiam
Não fazem cocoricó.                              Até os lagos das carpas
                                                 São de água mineral.
O meu céu tem mais estrelas                      Da janela do meu quarto
Minha várzea tem mais cores.                     Redescubro o Pantanal.
Este bosque reduzido                             Também adoro as palmeiras
deve ter custado horrores.                       Onde canta o curió.
E depois de tanta planta,                        Não permita Deus que eu tenha
Orquídea, fruta e cipó,                          De voltar pra Maceió.
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.                            Finalmente, aqui na Dinda,
 (...)                                           Sou tratado a pão-de-ló.
No meio daquelas plantas                         Só faltava envolver tudo
Eu jamais me sinto só.                           Numa nuvem de ouro em pó.
Não permita Deus que eu tenha                    E depois de ser cuidado
De voltar pra Maceió.                            Pelo PC, com xodó,
Pois no meu jardim tem lagos                     Não permita Deus que eu tenha
Onde canta o curió                               De acabar no xilindró
E as aves que lá gorjeiam
São tão pobres que dão dó.
 Minha Dinda tem primores
De floresta tropical.
29




          Recordemo-nos do original de Gonçalves Dias:

                                        Canção do exílio

                                             Gonçalves Dias. Coimbra, julho de 1843, aos 19 anos
Minha terra tem palmeiras,                           Minha terra tem primores,
Onde canta o sabiá;                                  Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam,                          Em cismar – sozinho, à noite –
Não gorjeiam como lá.                                Mais prazer encontro eu lá;
                                                     Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas,
                                                     Onde canta o sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
                                                     Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores.
                                                     Sem que eu volte para lá;
                                                     Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite,
                                                     Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá;
                                                     Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras,
                                                     Onde canta o sabiá
Onde canta o sabiá.
          O dialogismo entre os textos é inquestionável, revelando também a característica
primordial da paródia: temos aqui cantos paralelos aos de Gonçalves Dias, mas ao mesmo
tempo em que fazem com que nossa memória textual retome o original, seu lado humorístico
faz com que eles nunca se encontrem, como imagens invertidas num espelho (SANT’ANNA,
1988).
          Num texto acadêmico, podemos fazer uso da paródia, quando, especialmente, partindo
de um texto original, inauguramos um outro paradigma, uma evolução do primeiro, numa
oposição, numa crítica tecida com humor e ironia, expondo sua contra-ideologia. Por
exemplo:
                                Salários têm melhores reajustes em 10 anos
                         Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
                         Estudos Sócio-Econômicos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes
                         salariais foram maiores do que a inflação, melhor desempenho já
                         constatado. (adaptado da página: www.pt.org.br)
                         Eles conseguem fazer com que seus salários tenham melhores reajustes em
                         10 anos.

          Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento de Infâmias, Enrolação e Embute Sem
Escrúpulos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes salariais dos políticos foram maiores do
que a inflação, maior roubalheira e sem-vergonhice já constatada.
          Como se pôde perceber, embora os dois textos mantenham um diálogo entre si, a
paródia subverte o sentido do primeiro, retoma-o para negá-lo, para ironizá-lo, caminhando
ao seu lado como se fosse sua imagem invertida. Diferente é a paráfrase, como veremos a
seguir.
30




4.1.2.2 A Paráfrase


       O dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa (2001, p. 2127) traz as seguintes
conceituações para termo:
                          Paráfrase: (1)sf. interpretação ou tradução em que o autor procura seguir
                          mais o sentido do texto que sua letra: metáfrase; (2) interpretação,
                          explicação ou nova apresentação de um texto que visa torná-lo mais
                          inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu sentido. [...]
       Sant’Anna (1988, p. 17) afirma que o termo para-phrasis (que já no grego significava
continuidade ou repetição de uma sentença) pode ser considerada, grosso modo, uma
reafirmação, por meio de outras palavras, do mesmo sentido de uma obra escrita, ou seja,
pode-se considerar a paráfrase a tradução ou a transcrição de um texto primitivo.
       Nesse sentido, Derrida (2002, p. 62) ensina que o tradutor deve resgatar, absolver,
resolver    o texto original e quando “cria” é como um pintor que “copia” seu
“modelo”Benjamin (1996, p. 108) disse que “a natureza engendra semelhanças,” bastando
para entender isso, pensar-se na mímica.
       Portanto, diferentemente da paródia, a paráfrase é a frase paralela, ou seja, uma
releitura do original. Se na primeira temos a ruptura, a crítica sutil, na segunda ficamos à
frente de uma releitura, de uma reprodução.
       Para que possamos compreendê-la melhor, tomemos como exemplo a mesma Canção
do Exílio e vamos ver algumas paráfrases elaboradas a partir dela:


                           a) Canção do Exílio (Casimiro de Abreu)

Se eu tenho de morrer na flor dos anos               E ver se apanho a borboleta branca,
Meu Deus! não seja já;                               Que voa no vergel!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!                                      Quero sentar-me à beira do riachoDas tardes
                                                     ao cair,
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava              E sozinho cismando no crepúsculo
Lá na quadra infantil;                               Os sonhos do porvir!
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!                                 Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
                                                     Meu Deus! não seja já;
Se eu tenho de morrer na flor dos anos               Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Meu Deus! não seja já!                               A voz do sabiá!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!                                      Quero morrer cercado dos perfumes
                                                     Dum clima tropical,
Quero ver esse céu da minha terra                    E sentir, expirando, as harmonias
Tão lindo e tão azul!                                Do meu berço natal!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!                                    As cachoeiras chorarão sentidas
                                                     Porque cedo morri,
Quero dormir à sombra dos coqueiros,                 E eu sonho no sepulcro os meus amores
As folhas por dossel;                                Na terra onde nasci!
33




                                                      Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,               Cantar o sabiá
Meu Deus! não seja já;


                                                              c- Canção do Exílio
       b- Canção do Exílio
                                                      Não permita Deus que eu morra
Minha terra não tem palmeiras                         Sem que volte pra São Paulo
Minha terra não tem palmeiras...                      Sem que veja a Rua 15
E em vez de um mero sabiá,                            E o progresso de São Paulo
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
                                                      Mário de Andrade
            Mário Quintana




        André (1988, p.111) assevera que muitas são as formas como utilizamos a paráfrase
no texto acadêmico: “Assim, podem ser produzidos diversos tipos de textos acadêmicos,
como fichamentos, resumos e resenhas de textos, como veremos a seguir.”


4.1.2. 3 A Estilização


        A palavra estilização deriva de estilo que, de acordo com HOUAISS 2001, p. 1254)
significa “o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos da língua para expressar,
verbalmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer declarações,
pronunciamentos, etc.”
        Então, Sant’Anna (1988) define estilização, uma forma de tomar aquele estilo de
outrem, estabelecendo um desvio tolerável, produzindo um meio do caminho entre a paródia e
a paráfrase.
       Para Fiorin (2003),
                          A estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do “discurso de
                          outrem”, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser entendidos aqui
                          como o conjunto das recorrências formais tanto no plano da expressão
                          quanto no plano do conteúdo (manifestado, é claro) que produzem um
                          efeito de sentido de individualização (DENIS BERTRAND, 1985, p.412)


        Esclarece ainda Fiorin, que a estilização pode ser polêmica ou contratual.
        Entendemos que estilização, em sentido stritus, pode ser uma forma de alusão já que
ao citar, temos uma menção ao discurso de outrem, de maneira indireta, ou seja, por meio da
utilização do estilo do texto de origem.
33




       Vamos ver agora, a estilização que Murilo Mendes elaborou a partir da Canção de
Exílio de Gonçalves Dias:
Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras das Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

       Que elementos no texto acima nos indicam tratar-se de uma estilização ? Ao aludir ao
texto de Gonçalves Dias, o autor manteve, em vários momentos, a mesma construção sintática
do texto de origem. Por exemplo:
       Sujeito + Verbo Transitivo Direto + Objeto Direto (Oração Principal):
       − Minha terra tem palmeiras
       − Minha terra tem macieiras da Califórnia.
       Oração Subordinada Adjetiva:
       − Onde canta o sabiá
       − Onde cantam gaturamos de Veneza.
               Além disso, é mantido o presente do indicativo e, quanto ao léxico,
           observamos que o texto de Murilo Mendes insere o cotidiano no esquema da
           nostalgia e o efeito poético de distanciamento do modelo que obtém, não elide,
           contudo, a reverência - irônica é verdade - à matriz da saudade nacional, tornando-
           se, ao mesmo tempo, polêmico e contratual.


4.1.2.4. A Apropriação


       Sant’Anna (1988) ensina que essa forma de intertexto é bastante recente na crítica
literária e chegou à literatura por meio das artes plásticas, especialmente pelas experiências
dadaístas. Também conhecida como Assemplage (reunião, agrupamento), é muito próxima da
colagem, ou seja, trata-se da reunião de materiais diversos para a composição de algo.
34




       Embora recente seu estudo, essa técnica é, de acordo com o autor, antiqüíssima, pois
usa de uma artifício muito conhecido na elaboração artística: o deslocamento que, por meio
do desvio, provoca um estranhamento.
       A apropriação pode ser de dois tipos:
       − de primeiro grau: quando é o próprio objeto que entra em cena;
       − de segundo grau: quando ele é representado, traduzido para um outro código.
       O chargista e humorista Caulus fez o sabiá voar dos versos saudosistas para a denúncia
ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria palmeira:




                                                   www.comcienci0a.br/carta/migracoes.

        Ou seja, o artista apropriou-se do original e o transpôs para outro código, fazendo
surgir, como disse Maserani (1995, p.94) um novo texto. Nesse sentido, podemos dizer que,
ao fazer uso da apropriação, “o artista está querendo desarrumar, inverter, interromper a
normalidade cotidiana e chamar a atenção para alguma coisa. (SANT’ANNa, 1988. p.45)
        José Paulo Paes, no melhor estilo do sintetismo anti-discursivo das grandes
vanguardas modernistas, fez o resumo da poesia, despojando-a de acessórios:
              Lá ?
              Ah !
              Sabiá...
              Papá...
              Maná...
              Sofá...
              Sinhá...
35




              Cá ?
              Bah !
       Estudando os quatro elementos revistos acima, Sant’Anna uniu-os em dois conjuntos,
chegando à seguinte co-relação.
                          Paráfrase                            Paródia


                     Estilização                            Apropriação
               (Conjunto das similaridades)            (Conjunto das diferenças)

       Agora, veremos como esses elementos interagem na construção do texto acadêmico.

5   O TEXTO ACADÊMICO


       Os textos produzidos no mundo acadêmicos podem ser feitos ora por meio da
similaridade, ora da diferença. Veremos como se comportam e como produzir: o fichamento,
o resumo e a resenha.


5.1 O FICHAMENTO


       Para que fichemos qualquer obra, é necessário, antes de tudo, uma leitura atenta
daquilo que se deseja fichar. Ruiz (1980, p.70) aconselha:
                        Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É
                        preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler, não
                        saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente,
                        não saberá estudar.
       Então para que façamos um bom fichamento, é preciso seguir algumas etapas:
         a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras
             desconhecidas e as procurando no dicionário;
         b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais
             importantes.
       Andrade e Henriques (1992) informam que é importante sublinhar um texto, para:
       a- assimilá-lo melhor;
       b- memorizá-lo;
       c- preparar uma revisão rápida do assunto;
       d- aplicar em citações;
       e- resumir, esquematizar ou fichar.
36




       De acordo com esses autores, a técnica de sublinhar compreende, depois das leituras
sugeridas,
       a- identificação da idéia-núcleo de cada parágrafo;
       b- indicação com uma linha vertical colocada à margem, nos tópicos mais
             importantes;
       c- colocação de um ponto de interrogação à margem do texto, para indicar casos de
             discordância e as passagens obscuras;
       d- leitura do que foi sublinhado para ver se há sentido;
       e- reconstrução do texto, tomando os trechos sublinhados como base.
       Os autores também recomendam que há de se sublinhar o estritamente necessário,
evitando-se argumentações, exemplificações, citações etc.
       Depois desse primeiro passo, procede-se, então, ao fichamento. Hoje, com a facilidade
do computador, podemos utilizar uma pasta especialmente aberta para salvar este tipo de
documento. Quem não dispõe desse recurso, deve usar fichas, vendidas em papelaria em três
formatos: 7,5 x 12,5; 10,5 x 15,5 e 12,5 x 20,5. A de tamanho médio, no nosso ponto de
vista, é a ideal, porque cabe numa caixa de sapatos, por exemplo, se a quisermos arquivar.
       Devemos utilizar uma ficha (ou uma página de computador) para cada tópico ou
assunto, cuidadosamente anotados. Deve-se também evitar escrever no verso das fichas, por
uma questão de praticidade.
       A estrutura da ficha deve ser a seguinte:
     a- cabeçalho, com a identificação do assunto (título geral, título específico, número di
         título, etc)
     b- indicação da fonte de onde se extrai o fichamento, de acordo com as normas da
         ABNT.
     c- corpo da ficha, compreendendo anotações ou comentários.
Exemplo:
Título geral (da obra)                 Título específico (do capítulo)         Nº(da
                                                                               ficha)
Fonte bibliográfica: (de acordo com a ABNT)
Corpo: (ASSUNTO)
37




       De acordo com os propósitos, as fichas podem ser:
     a- Bibliográfica: a que contém, além da bibliografia, um pequeno comentário da obra,
         ou de parte da obra. Exemplo:


A inter-ação pela linguagem            Introdução:                                N° 1.0
                                       As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997




  No capítulo introdutório desta obra, a autora discorre a respeito das várias concepções de
linguagem, apondo a Lingüística do Sistema com a Lingüística do Discurso.




     b- Ficha de citação: a que contém a transcrição fiel de trechos ou frases da obra
         consultada. Normalmente, aquelas grifadas como as mais importantes na instância
         da leitura.
       Na citação deve-se observar:
       a- o uso de aspas;
       b- a referência da página de onde foi retirada a citação;
       c- o uso de (...) para marcar que o trecho foi recortado.
   Exemplo:
A inter-ação pela linguagem            Introdução:                                N° 1.0
                                       As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997
“A linguagem humana tem sido concebida, no curso da História, de maneiras bastante
diversas, que podem ser sintetizadas em três principais:
   a- como representação (...)
   b- como instrumento (...)
   c- como forma (....)”

                                                                   (p.9)
38




   d- Ficha de resumo: é a que contém uma paráfrase do trecho lido. O resumo pode ser
       apresentado como esboço ou como sumário:
       − como esboço: apresenta a mesma estrutura do texto citado, com as palavras-chave,
          títulos e subtítulos, procedendo-se a um resumo dele.
       − Como sumário: topicalizam-se os itens julgados mais relevantes.
      Exemplos de fichas de resumo:
          a- como sumário:
A inter-ação pela linguagem           Introdução:                               N° 1.0
                                      As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997


Linguagem humana: História: concepção de três maneiras bastante diversas:
   a) como representação (...)
   b) como instrumento (...)
   c) como forma (....)”




                                                                  (p.9)




          b- como esboço:
A inter-ação pela linguagem           Introdução:                               N° 1.0
                                      As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997


A autora, nesta Introdução, apresenta, sintetizadas, três das principais maneiras como vem
sendo concebida a linguagem humana, na História, ou seja, como representação, como
instrumento e como forma.




                                                                  (p.9)
39




       De toda maneira, quando fazemos um fichamento, estamos fazendo uma pequena
paráfrase do texto.


5.2 RESUMO


       Resumir é, de acordo com André (1988, p.105) reproduzir em poucas palavras o que
o autor expressou amplamente. Trata-se de um treinamento essencial para quem deseja
comunicar-se de forma organizada, pois quem resume um texto é levado a depreender o que
lhe é essencial e o que lhe é secundário.
       Além disso, resumir um texto ensina a relacionar as idéias, entender com clareza o
assunto, perceber o sentido próprio do figurado que os vocábulos podem adquirir numa
produção textual.
       Para se realizar um resumo, seguem-se os mesmos passos do fichamento, isto é, antes
de tudo:
       a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras
           desconhecidas e as procurando no dicionário;
       b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais
           importantes.
   E mais:
       c- ficar atento para as palavras de ligação que organização de forma lógica o
           raciocínio, tais como: assim sendo, além do mais, pois, em decorrência, etc. e os
           que modificam os enunciados: mais que tudo, não, nunca, etc.
       Quando temos de resumir um texto, um capítulo de um livro, por exemplo, o ideal é
que o façamos por partes, ou seja, que elaboremos o resumo de cada capítulo. Quando se
tratar do resumo de um livro, o interessante seria que o procedêssemos por capítulos.
       O bom resumo deve, de acordo com André (1988, p. 106), “conservar os traços do
estilo do texto original, como por exemplo, nível de linguagem, ironia, humor, vivacidade,
etc”. Por outro lado, não devemos opinar ou criticar: o procedimento é de resumo e não de
resenha, não de interpretação.
       Quanto à extensão, normalmente essa é estabelecida por quem o faz, ou por quem o
solicita, dependendo dos objetivos visados, mas normalmente, um bom resumo contém de 10
a 15 por cento do texto original.
       Exemplo de resumo:
40




      a- Texto:
                        A escola e sua finalidade

        A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimento e experiências. “A
educação é ação formadora da personalidade humana, que faculta ao indivíduo alcançar, com sua
atividade, a meta de sua vida”.
        A educação e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o homem (no espírito e no
corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver feliz e satisfeito por saber que trilha o
melhor caminho com os melhores recursos, dentro do bem-estar da comunidade.
        Embora a função específica da escola seja ensinar, cumpre-lhe também, e por lei, educar. A
escola que não educa é perniciosa.
Hildebrando A. André

        − A leitura atenta e a técnica de sublinhar as palavras-chave:

        A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimento e
experiências. “A educação é ação formadora da personalidade humana, que faculta ao
indivíduo alcançar, com sua atividade, a meta de sua vida”.
        A educação e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o homem (no
espírito e no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver feliz e satisfeito por
saber que trilha o melhor caminho com os melhores recursos, dentro do bem-estar da
comunidade.
        Embora a função específica da escola seja ensinar, cumpre-lhe também, e por lei,
educar. A escola que não educa é perniciosa.

        − Resumo por parágrafos:

            1º) A finalidade da escola é educar: auxiliar o indivíduo alcançar seu objetivos; e
                ensinar: ministrar conhecimento e experiências.
            2º) A educação e o ensino: formar integralmente o homem.
            3º) Embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar: tem também (por
                lei), de educar. A escola que assim não age é perniciosa.

    a) Redação final:

       A finalidade da escola é educar, ou seja, auxiliar o indivíduo a alcançar seu objetivos;
e ensinar, isto é, ministrar conhecimentos e experiências. A educação e o ensino devem
formar integralmente o homem. Embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar, tem
ela também, e por lei, de educar. A escola que assim não age é perniciosa.
       Quem desejar, pode colocar introduções no resumo:

       No texto, A escola e sua finalidade, de Hildebrando A. André, publicado no livro
Curso de Redação, discute a finalidade da escola. Nele o autor afirma que [...]
       Como já dissemos, resumir um texto é fazer, também, uma pequena paráfrase dele.
41




5.3 A RESENHA

                           Várias são as definições de resenha: “É uma síntese geral, informativa e
                          avaliativa sobre livros, capítulos, artigos das mais diferentes áreas do
                          conhecimento e que serve, por conseguinte, para orientar as opções e o
                          interesse do leitor [...] (BARROS; LEHFELD, 2000, P.22)


                          [...] é uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos: é a
                          apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na
                          crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo
                          resenhista. (LAKATOS; MARCONI, 1992, p.89)

                          [...] é uma síntese ou um comentário dos livros publicados feito em
                          revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia.
                          (SEVERINO, 2000, p. 131)

       Dentre as citadas, depreendemos em comum o fato de esse tipo de trabalho tratar-se de
uma síntese, ou resumo avaliativo, não importando o nome que se dê a ela: resenha crítica
(que nos parece redundante), resenha descritiva, ou, simplesmente, resenha.
       Saber fazer uma boa resenha é bastante importante na vida acadêmica, pois é através
delas que se têm o primeiro contato com um livro, um texto, um filme, etc. Uma resenha bem
elaborada pode fazer o leitor decidir sobre a compra de uma determinada obra, a assistência
de um filme específico.
       Severino (2000) informa que há dois tipos de resenha: a informativa, aquela que
apenas expõe o conteúdo do texto; e a crítica, aquela por meio da qual manifestamos nosso
critério de valor. Já mencionamos alhures que, em vista do que foi conceituado relativamente
ao termo, julgamos ser a resenha eminentemente crítica, podendo, isso sim, somar-se uma
descrição, resultando a resenha descritiva. Vamos ver uma de cada vez.


5.3.1 Resenha crítica


       Como também já mencionamos, não julgamos ser necessário o uso de crítica à
resenha, pois lhe cabe por definição esse papel, chamemo-la simplesmente resenha.
       Então vejamos.
       Sua organização é lógica. Começa-se com um cabeçalho, onde são transcritos os
dados bibliográficos da obra. Segue-se um parágrafo com uma breve informação sobre o autor
do texto. Na seqüência, deve-se introduzir o texto, com um parágrafo que sintetize a obra,
escrito de forma bastante objetiva e contendo seus pontos principais e forma de organização.
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  • 1. UNIVERSIDADE SANTO AMARO Kátia Assis de Oliveira Comunicação e Expressão Pedagogia SÃO PAULO 2007
  • 2. KÁTIA ASSIS DE OLIVEIRA COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Ensino a Distância — E a D Revisão 2 São Paulo 2007
  • 3. SUMÁRIO 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 6 1.1 LINGUAGEM E LÍNGUAS 6 1.2 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO 6 1.3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 6 1.3.1 Código e mensagem 6 1.3.2 O referente 7 1.3.3 O canal de comunicação 7 1.3.4 O esquema da comunicação 7 1.4 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM 8 2 TEXTO E TEXTUALIDADE 9 2.1 COESÃO 12 2.2 COERÊNCIA 13 3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS 14 3.1 O TEXTO DESCRITIVO 14 3.1.1 Características do texto descritivo 16 3.2 O TEXTO NARRATIVO 18 3.2.1 Características do texto narrativo 19 3.3 O TEXTO DISSERTATIVO 20 3.3.1 Características da dissertação 21 3.3.2 Dissertação expositiva 21 3.3.3 Dissertação Argumentativa 21 3.3.4 Organização do texto dissertativo 22 4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO 26 4.1 RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO 26 4.1.1 Texto e discurso 26 4.1.2 A Intertextualidade 27
  • 4. 4.1.2.1 A Paródia 27 4.1.2.2 A Paráfrase 30 4.1.2.3 A Estilização 32 4.1.2.4 A Apropriação 34 5 O TEXTO ACADÊMICO 35 5.1 O FICHAMENTO 35 5.2 O RESUMO 39 5.3 A RESENHA 41 5.3.1 Resenha crítica 41 5.3.1.1 Requisitos básicos para se resenhar 42 5.3.2 Resenha descritiva 42 6 O TEXTO COMERCIAL 42 6.1 A CARTA COMERCIAL 44 6.1.1 A composição da carta comercial 44 7 E-MAIL 45 7.1 INTERNET 45 7.2 O E-MAIL PROPRIAMENTE DITO 45 7.2.1 E-mails comerciais 46 7.2.2 E-mails pessoais 47 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48 REFERÊNCIAS 49
  • 5. APRESENTAÇÃO Uma língua é um lugar donde se vê o mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Vergílio Ferreira Antes de iniciarmos a apresentação, propriamente dita, deste trabalho, cabe-nos esclarecer que nosso material de apoio, elaborado especialmente para esta disciplina, foi preparado com base em cursos anteriormente ministrados pela equipe docente da Unisa Digital. Particularizando, dentre esse material, a apostila, esclarecemos que se trata da reedição de uma obra assinada pela Profª Drª Márcia Antônia Guedes Molina, que foi por nós adaptada, de acordo com os propósitos do curso de Pedagogia. Ainda no intuito de dar os merecidos créditos à principal autora, transcrevemos abaixo, ipsis literis, o texto da apresentação original, escrito por Márcia Molina. Nosso objetivo neste trabalho é sintetizar alguns conceitos relevantes de texto, para auxiliar o processo de produção escrita dos ingressantes no curso superior, favorecendo-lhes também uma orientação de como elaborar determinadas superestruturas textuais, por meio de técnicas de escritura e leitura de textos modelares e competência para a produção de textos acadêmicos, oferecendo-lhes também orientação de como elaborar determinados técnicos. O trabalho embasa-se em obras dos mais renomados estudiosos da Lingüística, como Jakobson (s/d) e Vanoye (1998); dos mais importantes estudiosos da Lingüística de texto, como Fávero (1999), Kock (1997), Guimarães (2004) e Fiorin (2003); e em trabalhos de metodologia do trabalho científico, de autores de reconhecida competência, como Severino (2001) e Lakatos (1992). Os conteúdos estão assim organizados: primeiramente, discutiremos a questão de Língua e Linguagem; depois os elementos da comunicação e, embasados neles, as Funções da Linguagem. Partimos depois para as noções de texto, textualidade, coesão e coerência, para, em seguida, apresentar as superestruturas textuais tradicionalmente reconhecidas: descrição, narração e dissertação. Num outro capítulo, depois de uma revisão de texto e textualidade, apresentamos a noção de intertextualidade, compreendendo a de paródia, paráfrase, estilização e apropriação, para, então, partirmos para a discussão sobre fichamento, resumo e resenha. Partimos na seqüência para a apresentação da redação comercial e finalizamos a apostila com orientações de como escrever e-mails.
  • 6. A seleção desses conteúdos deve-se à sua relevância como ponto de partida para os demais textos, embora urge salientarmos que, numa obra simples como a nossa, não temos a pretensão de traçar todas as diretrizes possíveis para o bom desenvolvimento de sua competência escrita. Pelo contrário, apresentamos aqui apenas um roteiro, um caminho inicial que deverá ser percorrido pelo próprio aluno e desvendado e ampliado à medida que seu conhecimento sobre a língua for ampliado. Fruto de nossa experiência docente, as lições aqui apresentadas resultam do que foi possível coletar do prazeroso convívio com nossos alunos e da observação do brilhante trabalho de muitos colegas com quem tivemos o prazer de cruzar durante nossa jornada, especialmente, das atividades docentes da minha orientadora de doutorado, Profª. Drª. Leonor Lopes Fávero, umas das maiores estudiosas de Lingüística Textual no Brasil, do meu querido Prof. Hildebrando A. André, com quem tive o prazer de aprender a ensinar redação, e das lições sublineares a mim fornecidas pelo meu Vice-Diretor, Prof. Leo Ricino. Profª. Kátia Assis de Oliveira
  • 7. 6 1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM Muitos autores costumam definir comunicação como “transmissão voluntária de informação” (RIEGEL, s/d, p.21). Como se procede, então, essa transmissão? Claro que por meio da linguagem. Émile Benveniste assevera que a linguagem é um sistema de signos socializados, remetendo-nos à sua função de comunicação. Vale salientar que, para que exista comunicação, as pessoas envolvidas no processo precisam fazer uso de um código comum, quer dizer, devem “falar a mesma língua”. Isso significa que só há comunicação quando um entende o outro. 1.1 LINGUAGEM E LÍNGUAS As línguas são, de acordo com Vanoye (1998, p.21), “casos particulares de um fenômeno geral”, ou seja, a linguagem é o todo, todas as formas de comunicação e comporta vários códigos, como cores, signos, assobios, código morse etc., já as línguas são um tipo específico de linguagem. 1.2 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO A comunicação pressupõe sempre a existência de dois pólos: aquele que emite a informação e aquele que a recebe: emissor-receptor ou locutor-alocutário ou ouvinte-leitor etc. O veículo utilizado para a comunicação pode fazer com que esses papéis sejam intercambiáveis ou não. É importante frisarmos que, para que haja comunicação, deve haver sempre e, pelo menos, dois seres envolvidos, fazendo uso dos elementos da comunicação. 1.3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 1.3.1 Código e mensagem O emissor e o receptor, como já foi dito, devem dispor do mesmo código, ou seja, do mesmo sistema de signos, a fim de que a informação possa ser recebida e decodificada pelo receptor. Essa informação decodificada é a mensagem.
  • 8. 7 1.3.2 O referente Riegel (s/d. p. 22) assevera: Os signos do código remetem à realidade tal qual é percebida pelo emissor e pelo receptor. O aspecto específico dessa realidade, que é evocada por um signo do código, é o referente desse signo. O universo referencial, exterior ao código, compreende tudo aquilo que pode ser designado pelos signos e suas combinações: seres, coisas, estados, acontecimentos, idéias, etc. 1.3.3 O canal de comunicação É necessário um meio físico para que a mensagem possa ser veiculada para o interlocutor, a esse meio damos o nome de canal de comunicação. Constituem canais de comunicação o ar, um CD, um cabo, um telefone, etc 1.3.4 O esquema da comunicação A somatória desses elementos resulta no seguinte esquema que apresenta os elementos indispensáveis para a comunicação: Esquema da Comunicação Contexto Canal de Comunicação Emissor MENSAGEM Receptor Código
  • 9. 8 1.4 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM A linguagem, de acordo com Jakobson (s/d, p. 122), “tem toda a variedade de suas funções.” Antes, porém propõe que recordemos que o remetente envia uma mensagem a um destinatário. Para que possa ser transmitida, a mensagem requer uma contexto (ou referente), apreensível pelo destinatário e que seja verbal ou passível de verbalização, um código comum (parcial ou totalmente)a ambos — remetente e destinatário — e, finalmente, um contato, ou seja, um canal físico por meio do qual possa ser veiculada. Cada um desses seis elementos encerra uma função da linguagem diferente: CONTEXTO 1) FUNÇÃO REFERENCIAL CANAL 2) FUNÇÃO FÁTICA EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR 3) FUNÇÃO EMOTIVA 4) FUNÇÃO POÉTICA 5) FUNÇÃO CONATIVA CÓDIGO 6) METALINGUAGEM Apesar de serem seis elementos e, portanto, seis funções da linguagem, normalmente as mensagens comportam mais de uma função, havendo uma predominante, mas não exclusiva. Deve-se ressaltar que a estrutura da mensagem depende dessa função predominante. Assim, a função referencial (também chamada de denotativa) está centrada no contexto (referente). Tudo o que se refere aos contextos situacionais ou textuais pertencem a este função. Por exemplo: Prefeitura libera a pista expressa da Marginal Pinheiros. (Folha de São Paulo, 16 de janeiro de 2007)
  • 10. 9 Quando a mensagem está centrada no canal, falamos da função fática. Temos nesse caso tudo o que serve para, numa comunicação, estabelecer, manter ou encerrar o contato. Por exemplo: Alô, alô, responde... Responde... Já, quando a mensagem prioriza o emissor, revelando sua personalidade, estamos à frente da função emotiva (ou expressiva). Veja o exemplo abaixo: Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Carlos Drummond de Andrade A função poética é aquela em que a prioridade está na própria mensagem, colocando em destaque o “lado palpável dos signos” (JAKOBSON, s/d.), como no exemplo: Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Cruz e Souza Quando ocorre a orientação para o receptor (destinatário) temos a função conativa. Por isso, nessa função é comum observamos o emprego de verbos no modo imperativo e de vocativos e ponto de exclamação. Exemplo: Assine uma TV a cabo agora e comece a pagar somente depois do Carnaval. Finalmente, quando é dada especial relevância ao código, estamos à frente da função metalingüística. Veja o exemplo: Quando falamos de funções da linguagem, queremos dizer, da possibilidade que tem a língua de, de acordo com a intenção do falante, dar especial destaque a determinados elementos da comunicação. Nesse caso, usamos a língua para explicar a própria língua. 2 TEXTO E TEXTUALIDADE Texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama em que se devem enredar as palavras. Hoje, o Míni Houaiss (2001, p. 508) traz a seguinte definição para o termo: “s.m. 1. Conjunto de palavras, frases escritas; 2. Trecho ou fragmento de obra de um autor; 3 qualquer material escrito destinado a ser falado ou lido em voz alta [...]” Cumpre ressaltar que nem todos os conceitos acerca do que venha a ser texto são válidos para o estudioso da Gramática ou da Lingüística Textual. A razão é simples, podendo
  • 11. 10 ser subentendida a partir das palavras de KOCK (1997, p. 11), ao afirmar que a Lingüística do Discurso procura estudar os textos como “manifestações lingüísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção”, entendendo-os numa situação interacionista. Do princípio de interação, em que se baseiam as análises de texto e discurso, é que surge a divergência em relação ao conceito apresentado no Míni Houaiss, pois, para nós, não será texto “Qualquer material escrito destinado a ser falado ou lido em voz alta [...]” (op. cit.), mas, apenas aquele que atender a essa “exigência”. Visto por esse ângulo, não será texto, por exemplo, uma seqüência de enunciados escrita em alemão para um leitor que não compreenda esse idioma. Nessa hipótese, a seqüência constituirá um não-texto. Ao adotar o texto como unidade de comunicação, a Lingüística Textual supõe, naturalmente, que ele seja dotado de sentido. Conseqüentemente, conforme explicita Fávero (1993), considera-se que sua produção e compreensão estejam ligadas à competência textual do falante. Para que haja textualidade, característica que faz com que o texto seja realmente texto, torna-se necessário que se verifiquem alguns fatores, tanto na microestrutura quanto na macroestrutura textual, dentre os quais se destacam a coesão e a coerência. Para melhor compreensão do assunto tratado neste capítulo, tomo de empréstimo, na íntegra, exemplos apresentados por Molina. (recorte da apostila editada exclusivamente para o Curso de Letras da Universidade de Santo Amaro 2006; 2007) aos alunos das disciplinas Técnicas de Produção Textual e Comunicação e Expressão: Para calar a boca: Rícino Para a luz lá na roça: 220 volts Pra lavar a roupa: Omo Para vigias em ronda: Café Para viagem longa: Jato Para limpar a lousa: Apagador Para difíceis contas: Calculadora Para o beijo da moça: Paladar Para o pneu na lona: Jacaré Para uma voz muito rouca: Hortelã Para a pantalona: Nesga Para a cor roxa: Ataúde Para pular a onda: Litoral Para a galocha: Verlon Para lápis ter ponta: Apontador Para ser moda: Melancia Para o Pará e o Amazonas: Látex Para abrir a rosa: Temporada Para parar na pamplona: Assis Para aumentar a vitrola: Sábado Para trazer à tona: Homem - Rã Para a cama de mola: Hóspede Para a melhor azeitona: Ibéria Para trancar bem a porta: Cadeado Para o presente da noiva: Marzipã Para que serve a calota: Volkswagen Para Adidas o Conga: Nacional Para quem não acorda: Balde Para o outono a folha: Exclusão Para a letra torta: Pauta Para embaixo da sombra: Guarda-Sol Para parecer mais nova: Avon Para todas as coisas: Dicionário Para os dias de prova: Amnésia Para que fiquem prontas: Paciência Pra estourar pipoca: Barulho Para dormir a fronha: Madrigal Para quem se afoga: Isopor Para brincar na gangorra: Dois Para levar na escola: Condução Para fazer uma toca: Bobs Para os dias de folga: Namorado Para beber uma coca: Drops Para o automóvel que capota: Guincho Para ferver uma sopa: Graus Para fechar uma aposta: Paraninfo
  • 12. 11 Para a comida das orcas: Krill Para quem se comporta: Brinde Para o telefone que toca Para a mulher que aborta: Repouso Para a água lá na poça Para saber a resposta: Vide - o - Verso Para a mesa que vai ser posta Para escolher a compota: Jundiaí Para você o que você gosta Para a menina que engorda: Hipofagi Diariamente (http://marisa-monte.letras.terra.com.br/letras) Num primeiro momento, temos a impressão de que se trata de um amontoado de frases pouco significativas. Contudo, se a inserirmos em seu contexto, passamos a entendê-la como texto. Então, vamos lá. A seqüência acima é uma composição de Nando Reis, gravada por Marisa Monte, intitulada Diariamente. O texto relata os fatos do cotidiano de uma pessoa que vive numa região urbana, possivelmente, na cidade de São Paulo. O mesmo ocorre com a seguinte seqüência: Por que você é Flamengo ? Por que o fogo queima ? E meu pai Botafogo ? Por que a lua é branca ? O que significa "Impávido Colosso" ? Por que a Terra roda ? Por que os ossos doem ? Por que deitar agora ? Enquanto a gente dorme ? Por que as cobras matam ? Por que os dentes caem ? Por que o vidro embaça ? Por onde os filhos saem ? Por que você se pinta ? Por que os dedos murcham ? Por que o tempo passa ? Quando estou no banho ? Por que que a gente espirra ? Por que as ruas enchem ? Por que as unhas crescem ? Quando está chovendo ? Por que o sangue corre ? Quanto é mil trilhões ? Por que que a gente morre ? Vezes infinito ? Do qué é feita a nuvem ? Quem é Jesus Cristo ? Do que é feita a neve ? Onde estão meus primos ? Como é que se escreve Well, well, well Gabriel ? Reveillon ? Well, well, well Well ? Well, well, well , Gabriel http://vagalume.uol.com.br/adriana-calcanhoto/oito-anos.html) Se não reconhecermos a seqüência, inadvertidamente, podemos julgá-la um amontado de perguntas sem nexo e, portanto, um não-texto. Contudo, novamente, temos aqui a letra de uma composição que Paula Toler dedicou a seu filho Gabriel, com as perguntas que ele, costumeiramente, lhe fazia. A música chama-se “Oito anos” e foi gravada por Adriana Calcanhoto. Agora, prestemos atenção a este segmento: La variété et la fantaisie de ma vie de Tous les jours Tous les jours de la semaine, je ne me lève jamais a la même heure et ce n’est jamais la mème chose. Mes jours sont fous, fous, fous! Lorsque je me lève, je ne suis pas pressé...
  • 13. 12 Je vois et je choisis, c’est ça? Qu’il faut faire... Je déjeune chaque jour à un restaurant différent. L’aprés-midi je vais au cinéma, ou pour les courses, ou jouer le bowling, au bien aux shoppings... Je fais de promenade, promenade, promenade... Naturellement, je ne peux pas travailler! Les soirs je m’amuse à quelque show, ou théatre, ou rendez-vous chez un ami... Les personnes ne me retrouvent jamais! http://www.sergiosakall.com.br/girafas/lingua_frances.html A seqüência acima só será texto para aqueles que dominam a língua em que foi escrita: francês, os demais reconhecerão a seqüência, mas como não interagem com ela, não conseguindo depreender-lhe o sentido, será um não-texto. A Profª. Márcia Molina (op. cit) fecha sua análise, citando Kock e Travaglia (1990, p. 10), para quem texto pode ser compreendido como: Uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão. Lembrando que para ser considerado texto o enunciado deve ter textualidade, passemos, agora, ao estudo particularizado de coesão e coerência, principais fatores que contribuem para que se atinja tal objetivo. 2.1 COESÃO Fávero (1999, p.10) assim define coesão: “A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma seqüência.” Podemos dizer, portanto, que coesão é o nome com que designamos as estratégias de ligação utilizadas num texto para torná-lo todo, ou seja, o uso de elementos capazes de estabelecer elos. Esses elos podem “amarrar” elementos mencionados anteriormente no texto, ocorrendo então o que os estudiosos chamam de anáfora, por exemplo: Fiz todo o dever, mas minha amiga Carla não os fez (isto é, não fez o dever).
  • 14. 13 Podem também “amarrar” elementos que serão ainda mencionados no texto, ocorrendo então a chamada catáfora, como no exemplo: Fui à feira e comprei todos os itens de que precisava, menos estes: cebola, alho e cheiro verde. A utilização eficiente desses elementos auxilia bastante na boa escritura de uma seqüência, mas não é só isso. Vejamos agora outro elemento responsável pela textualidade, capaz de ajudar na produção textual. 2.2 COERÊNCIA Coerência diz respeito ao sentido do texto. A coerência [...], manisfestada em grande parte macrotextualmente, refere- se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos. (FÁVERO, 1999, p.10) Então, a seguinte seqüência: VENDE-SE Apartamento. 3 dorms. 2 sls. coz. Área serv. Brooklin. R$220.000. Tratar com o proprietário: (XX)7070-7070. constituirá texto para quem a entender como um classificado. Vários são os elementos responsáveis pela coerência. Unindo as informações encontradas em FÁVERO (1993), KOCK e TRAVAGLIA (1990) e ARAÚJO (2002), podemos apontar: a- conhecimentos: lingüístico, de mundo, f- intencionalidade; partilhado, do mundo em que o texto g- aceitabilidade; se inscreve; h- informatividade; b- inferências; i- focalização; c- fatores pragmáticos; j- intertextualidade; d- fatores de contextualização; k- consistência; e- situacionalidade; l- relevância. Resta-nos, ainda, especificar que os textos organizam-se numa hierarquia de tipos de subtipos. Guimarães(2004, p.16) ensina que, se a intenção se volta fundamentalmente para as
  • 15. 14 estruturas internas do texto, fica estabelecida uma tipologia de acordo com a forma de estruturação, sua superestrutura, ou o mundo em que o texto se inscreve. É disso que trataremos a seguir. 3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS A noção de superestrutura, emprestada de Van Dijk,1 diz respeito às estruturas globais que caracterizam alguns tipos de textos, independentemente de seu conteúdo. Dessa forma, relativamente ao aspecto estrutural, podemos inscrever os textos em: descritivos, narrativos e dissertativos. Essas superestruturas têm, como afirma Guimarães ((2004, p.65), caráter convencional e são conhecidas e reconhecidas pelos falantes da língua, ou seja: “Uma superestrutura é um tipo de esquema abstrato que estabelece a ordem global do texto, e que se compõe de uma série de categorias, cujas possibilidades de combinação se baseiam em regras convencionais.” A autora informa também que, embora haja sempre uma estrutura dominante, o texto pode apresentar outras. Por exemplo, um texto predominantemente narrativo pode apresentar trechos descritivos. O predominantemente dissertativo pode trazer, em alguns momentos, trechos que caracterizam a narração e/ou a descrição. O importante para um estudante do Curso de Letras é saber identificar no todo trechos dessa ou daquela estrutura, cujas características agora apresentamos. 3.1 O TEXTO DESCRITIVO Descrever é caracterizar com detalhes objetos, locais, pessoas e situações, apresentando as características deles percebidas por meio dos cinco sentidos. Como é através dos sentidos que estabelecemos contato com o mundo à nossa volta, podemos dizer que essa estrutura textual é a mais primitiva, constituindo elementos vitais de nossa sensibilidade: “Visão, tato, audição, paladar, olfato são os sentidos com que percebemos as coisas do mundo que se traduzem em formas, cores, texturas, cheiros, sonoridades a serem descobertas. (AMARAL; ANTONIO, 1991, p.19) Observemos agora as seguintes seqüências: 1 VAN DIJCK, Strategies of Discourse Comprehension, Nova Iorque: Academic, 1983.
  • 16. 15 Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; as folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho. (AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Ática, 1997) Trem das Cores E a seda azul do papel A franja na encosta Que envolve a maçã Cor de laranja As casas tão verde e rosa Capim rosa chá Que vão passando ao nos ver passar O mel desses olhos luz Os dois lados da janela Mel de cor ímpar E aquela num tom de azul O ouro ainda não bem verde da serra Quase inexistente, azul que não há A prata do trem Azul que é pura memória de algum lugar A lua e a estrela Teu cabelo preto Anel de turquesa Explícito objeto Os átomos todos dançam Castanhos lábios Madruga Ou pra ser exato Reluz neblina Lábios cor de açaí Crianças cor de romã E aqui, trem das cores Entram no vagão Sábios projetos: O oliva da nuvem chumbo Tocar na central Ficando E o céu de um azul Pra trás da manhã Celeste celestial (http://64.233.187.104/:tremdascoresletra.caetanovelosoletrasdemusicas.lyrics.mus.br/) A primeira seqüência, como se pode observar, é um trecho do romance O mulato de Aluísio Azevedo. Podemos perceber com que precisão o autor descreve a cidade de São Luís do Maranhão. Trechos com sinestesias como: “pedras escaldavam, as vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida,” favorecem não só a leitura, como também a percepção sensorial do texto. O mesmo acontece com a letra da música Trem das cores, de Caetano Veloso. Em: “O mel desses olhos luz/E a seda azul do papel/ Que envolve a maçã” temos a impressão de sentir o gosto tanto do mel, quanto da maçã; de ver o brilho dos olhos e de sentir a maciez do papel de seda. Um texto descritivo estará bem produzido, quando possibilitar essas sensações; quando o leitor, ao proceder à sua leitura, tiver a sensação de estar vendo, presenciando, sentindo o que se está descrevendo.
  • 17. 16 Vejamos então, pormenorizadamente, o que compreende um texto descritivo. 3.1.1 Características do texto descritivo Leia o seguinte fragmento da obra Iracema de José de Alencar: Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (ALENCAR, J. Iracema. São Paulo: Ática, 1990) Agora, atente para o seguinte: Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste O primeiro fragmento é descritivo e o segundo, narrativo. Como identificar a descrição? O texto descritivo é predominantemente figurativo, ou seja, construído com termos essencialmente concretos, evocando uma figura, um efeito de realidade: “Os textos figurativos produzem um efeito de realidade e, por isso, representam o mundo, com seus seres, seus acontecimentos.” (PLATÃO; FIORIN, 1997, p. 89) No fragmento 1 temos, como exemplos de termos concretos: a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, etc. Outra característica do texto descritivo é que ele não traz mudança de situação. É estático. Representa o mundo num determinado momento. É recorte. Além disso, naquela instância em que se efetua a descrição, vários fatos simultâneos podem ser apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida pelo narrador apresentava, simultaneamente, as seguintes características: era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira; seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a ema, etc.
  • 18. 17 Essas características co-ocorriam. Estavam todas presentes na mesma instância, podendo inclusive ser investidas no texto, como o exemplo abaixo mostra: Seu sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a ema; era virgem, tinha lábios de mel; seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira[...], isso porque não existe relação de anterioridade, nem de posterioridade no fragmento. Para que se estabeleça a comparação, retomemos o segundo fragmento: Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. Esse é um fragmento narrativo. Existe nele uma relação de anterioridade e posterioridade: primeiro a índia saiu do banho, depois se pôs a repousar. A inversão dos fatos prejudicaria a seqüenciação do texto. Podemos perceber também, em ambos os textos, uma diferença no emprego dos tempos verbais: no primeiro predomina o pretérito imperfeito e, no segundo, o pretérito perfeito. Como a simultaneidade é a característica do texto descritivo, os tempos verbais mais empregados são o presente do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo. Quanto à organização, podemos afirmar que se deve elaborar o texto descritivo espacialmente, isto é, os elementos devem ser descritos de baixo para cima, da esquerda para direita, de dentro para fora, etc, para que o leitor, possa, paulatinamente, ir construindo a imagem daquilo de que se está tratando. Agora, reúna todas as informações dadas anteriormente a respeito do texto descritivo e leia a seguinte poesia de Manoel Bandeira, observando nela os traços da descrição: Segunda canção do beco Teu corpo moreno Deve ter o gosto É da cor da praia. De fruta de praia. Deve ter o cheiro Deve ter o travo, Da areia da praia. Deve ter a cica Dos cajus da praia. Deve ter o cheiro Que tem ao mormaço Não sei, não sei, mas A areia da praia. Uma coisa me diz Que o teu corpo magro Teu corpo moreno Nunca foi feliz.
  • 19. 18 3.2 O TEXTO NARRATIVO De acordo com o Míni Houaiss (2001, p.364): “Narração: s.f. [é] exposição oral ou escrita de um fato.” Narrar é, portanto, representar um acontecimento ou uma série de acontecimentos reais ou fictícios num texto. Humberto Eco (1985, p.21), no Pós-Escrito a O Nome da Rosa, ensina: [...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto: pode-se começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar de acontecer.[...] Essa citação de Eco, mesmo que indiretamente, permite-nos depreender que são cinco os elementos da narração: narrador, personagens, ações, tempo e espaço. Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colassanti: Nunca descuidando do dever Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos, afiando o vinco das calças. E a poder de ferro e goma, envolta em vapores, alcançava o ponto máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de celulóide. Impecável, transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar seu avanço na pele e no rosto. Um dia notou a mulher um leve afrouxar-se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos os cantos dos olhos. Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer nada, ela esperou a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro. Observemos que, no texto acima, vislumbramos os seguintes elementos da narração: a- narrador onisciente: de 3ª pessoa: “Jamais permitiria que seu marido fosse para personagens: b- protagonista: a esposa: “ Não dissessem os colegas que era esposa descuidada......” c- antagonista: o marido: “Impecável transitava o marido pelo tempo.” d- ações: “Debruçada sobre a tábua [...] dava caça às dobras [...]” e- tempo: “Jamais permitiria [...]” “Um dia notou a mulher [...]” “[...]muitos meses mais tarde [...]”
  • 20. 19 f- espaço: Na sua casa, em uma determinada cidade. Além desses elementos, a narração apresenta, diferentemente da descrição, transformação. 3.2.1 Características do texto narrativo No texto: “Nunca descuidando do dever”, podemos perceber, dentre outras, as seguintes: a- as camisas amassadas ficavam muito bem passadas: “[...] alcançava o ponto máximo de sua arte ao arrancar dos colarinhos liso brilho de celulóide.” b- o marido foi adquirindo rugas no rosto: “[...]transitava o marido pelo tempo. Que, embora respeitando ternos e camisas, começou subrepticiamente a marcar seu avanço na pele e no rosto.” Mas a transformação mais significativa é a que não está explicitada, ou seja, ao perceber o rosto enrugado do marido, a esposa, como um autômato, tenciona passá-lo: “Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro.” Além disso, tanto quanto o texto descritivo, o narrativo é figurativo. Lembremo-nos de que esse tipo de texto é construído com palavras concretas cuja função é representar o mundo. Por meio das figuras empregadas podemos depreender o real sentido do texto. “No caso de Nunca descuidando do dever, figuras como: [...] Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas [...]” Permitindo-nos depreender, sublinearmente, uma crítica às mulheres que, nas décadas de 60 e 70, viviam apenas e tão somente para o lar, realizando robotizadamente as atividades domésticas. Além da figurativização, na narração, a ordenação é temporal. O texto deve ter uma seqüenciação para que o leitor possa acompanhar o desenrolar das ações. Assim, vejamos: Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal passada, não dissessem os colegas que era esposa descuidada. Debruçada sobre a tábua, com o olho vigilante, dava caça às dobras, desfazia pregas, aplainando punhos e peitos [...]Um dia notou a mulher um leve afrouxar- se das pálpebras. Semanas depois percebeu que, no sorriso, franziam-se fundos os cantos dos olhos. [...] Mas foi só muitos meses mais tarde que a presença de duas fortes pregas descendo dos lados do nariz tornou-se inegável. Sem dizer nada, ela esperou
  • 21. 20 a noite. Tendo finalmente certeza de que o homem dormia o mais pesado dos sonos, pegou um paninho úmido e, silenciosa, ligou o ferro. A ordenação temporal nesse texto ajuda o leitor a ir acompanhando as ações da esposa até o inesperado desfecho e, diferentemente do texto descritivo, a disposição dessas ações não pode ser alterada. Como a ordenação temporal é de extrema relevância no texto narrativo, os tempos verbais básicos são os do subsistema do passado: pretérito perfeito, mais-que-perfeito e imperfeito.2 Para finalizar, leia atentamente o texto abaixo, buscando visualizar nele os elementos da narração já discutidos: Desta água não beberás — Por que Demétrio não se casa? Era a indagação geral! Demétrio namorava, noivava, não casava. Sete dias antes do casamento, olha aí Demétrio fugindo. As versões eram múltiplas. A noiva é que o despedira. Tiveram uma briga feia. Gênios incompatíveis. Mal secreto. Intrigas. Demétrio continuava a namorar, noivar e não casar. Não lhe faltavam noivas, pois era agradável, tinha status. Quanto mais se desmanchavam seus projetos de casamento, mais apareciam mulheres dispostas ao desafio, exclamando: — A mim ele não deixa na porta do Mosteiro de São Bento. Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestígio crescia. Concluiu-se que era sua maneira de afirmar-se. Então Livaniuska decidiu enfrentá-lo. Noivou com ele e, uma semana antes do casamento, deu-lhe o fora solene. Demétrio quis reagir, explicou à repórter social que ele é que tomara a ìniciativa, mas a mentira foi patente. Livaniuska foi contratada como atriz por uma emissora de TV e ficou célebre. Daí por diante ela repetiu a carreira de Demétrio, noivando e desmanchando com inúmeros cavalheiros. No fim de cinco anos, Livaniuska e Demétrio casaram-se para sempre, como era fácil de prever mas ninguém previu. Carlos Drummond de Andrade 3.3 O TEXTO DISSERTATIVO No Míni Houaiss (2001, p.174), encontramos: “Dissertação: s.f. 1. Exposição oral ou escrita; 2. Monografia. Ensaio [...]” Mas será que, como superestrutura textual, dissertação é só isso? Vamos ver o que dizem alguns estudiosos do assunto. Magalhães (s/d., p.7) assevera que a dissertação ocorre no plano das idéias, do conhecimento, das abstrações. Trata-se de um trabalho reflexivo que consiste, de maneira geral, em organizar as idéias numa linha de raciocínio. Assim, ensina o autor, “todas as vezes 2 Geralmente, mas não exclusivamente. Pode-se usar, por exemplo, o presente do indicativo, com valor atemporal, instaurando proximidade e verossimilhança ao texto.
  • 22. 21 em que nos valemos da linguagem verbal para expor, defender ou contestar idéias, estaremos utilizando o chamado discurso dissertativo.” Platão e Fiorin (1997, p.252) afirmam que “dissertação é o tipo de texto que analisa interpreta, explica e avalia os dados da realidade” e relacionam algumas de suas características, revisadas a seguir. 3.3.1 Características da dissertação A dissertação apresenta as características: a- é um texto temático, ou seja, discute um tema, operando, predominantemente, com termos abstratos; b- mostra mudança de situação, tanto quanto a narração; c- sua ordenação é lógica; d- o tempo básico empregado na dissertação é o presente do indicativo com valor atemporal, embora se admita o uso do pretérito perfeito e do futuro do presente.3 Importa esclarecer que há autores que inscrevem os textos dissertativos em dois tipos: expositivos e argumentativos. 3.3.2 Dissertação expositiva É aquela cujo propósito é discorrer sobre o assunto num sentido meramente informativo. Assim, pode-se dissertar sobre a pena de morte, a juventude brasileira, etc. sem que haja posicionamento sobre o tema. A importância de Música Popular Brasileira A importância da Música Popular Brasileira no cenário de nossa cultura é inegável. Pode-se constatar que a MPB, além de sua relevância como manifestação estética tradutora de nossas múltiplas identidades culturais, apresenta-se como uma das mais poderosas formas de preservação da memória coletiva e como um espaço social privilegiado para as leituras e interpretações do Brasil. (Dicionário Cravo Albim de MPB) Disponível em: http://www.dicionariompb.com.br/default.asp) 3.3.3 Dissertação Argumentativa Diferentemente da anterior, na dissertação argumentativa revelam-se reflexões sobre o assunto, a fim de persuadir o receptor que, acompanhando a linha de raciocínio do que é 3 Também aqui se trata de tempos básicos, mas não exclusivos.
  • 23. 22 exposto, verifica se o raciocínio verbalizado é correto e, nesse sentido, passível ou não de aceitação. Uma escolha contra a mulher O aborto é freqüentemente apresentado como um problema de "direito das mulheres". É visto como algo desejável para as mulheres, e como um benefício ao qual elas deveriam ter tanto acesso quanto possível. Na verdade, ser "pró-vida" é visto como sendo "contra os direitos da mulher". Se você às vezes pensa desta forma, examine os fatos apresentados aqui. Verá que, na verdade, o aborto prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada. Qualquer um que se preocupa com a mulher fará bem em conhecer estes fatos. Estudos de mulheres que fizeram aborto, (veja, por exemplo, o livro do Dr. David Reardon, Aborted Women, Silent No More), mostram que o aborto não é uma questão de dar à mulher uma "escolha". É, tragicamente, uma situação em que as mulheres sentiram que não tinham NENHUMA ESCOLHA, sentiram que ninguém se importava com elas e com seu bebê, dando-lhes alternativa alguma a não ser o aborto. A mulher sente-se rejeitada, confusa, com medo, sozinha, incapaz de lidar com a gravidez - e, no meio disto tudo, a sociedade diz-lhe, "Nós eliminaremos o seu problema eliminando o seu bebê. Faça um aborto. É seguro, fácil, e uma solução legal". O fato é que embora o aborto seja legal (nos Estados Unidos), ele NÃO é seguro e fácil, nem respeita a mulher.[...] http://www.comciencia.br/especial/drogas/drogas01.htm Podemos perceber no texto acima que, por exemplo, no trecho: na verdade, o aborto prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada está expressa a opinião do autor e, para que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar os motivos que o fazem pensar assim. Em ambos os tipos de dissertação, importa atentar para sua organização, como veremos a seguir. 3.3.4 Organização do texto dissertativo Como esse tipo de texto deve apresentar uma organização lógica, deve-se apresentar com bastante clareza: a- o assunto; b- a delimitação do assunto; c- o objetivo; d- o tópico-frasal; e- o desenvolvimento; f- a conclusão.
  • 24. 23 Como já falamos anteriormente, a dissertação é um texto temático, portanto, deve-se discutir um tema. Para que o autor do texto não se perca em informações redundantes ou desnecessárias, é importante que proceda à delimitação dele. Por exemplo: dissertação, com o tema namoro. Terá as possíveis delimitações do tema: namoro na adolescência, namoro na melhor idade e namoro na escola. Escolhida uma delimitação, deve-se propor um objetivo para que não ocorra fuga ao tema. Se resolvêssemos escrever sobre namoro na escola, poderíamos estabelecer como objetivo, por exemplo: mostrar ao leitor que, como a escola é o espaço onde os jovens mais se encontram e se relacionam, é normal e saudável que ali comecem sua vida afetiva. O tópico frasal é aquele sobre o qual incide a essência da informação. Na delimitação acima, poderíamos estabelecer um possível tópico-frasal: É na adolescência que se começa a conhecer o mundo, a fazer amigos, a descobrir as verdades e a escola é um dos ambientes mais propícios para isso. Então, nada mais comum que ali ocorram flertes, o ficar e até mesmo namoros nesse ambiente. Tendo em mente tanto a delimitação, quanto os objetivos e o tópico frasal, cabe ao autor, então, elaborar seu texto dissertativo. Se o seu desejo for produzir um texto argumentativo, esses argumentos podem ser apresentados de diferentes maneiras. Seguindo Platão e Fiorin (1997, p. 286-288), relacionamos três deles: a- argumento de autoridade: citam-se autores ou pessoas de prestígio que tenham reconhecido domínio sobre aquele saber. No caso da delimitação acima (Namoro na escola), poderíamos citar, por exemplo, o psicanalista Içami Tiba, autor de várias obras que tratam da adolescência. b- argumento baseado no consenso: nesse caso, valer-nos-íamos de opiniões já aceitas pela maioria da população. c- argumento baseado em provas concretas: poderíamos, no caso de nossa proposta, fazer uso, por exemplo, de pesquisas que comprovassem que a maioria dos jovens namora na escola e que tal fato tem auxiliado em seu desenvolvimento emocional. d- Para que possamos entender melhor, leiamos Magalhães (s/d., p.16,17) que assim exemplifica o texto dissertativo: Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. Mas a desobediência a essa regra de moral não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer
  • 25. 24 seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. (RODRIGUES, S. Direito Civil. In: MAGALHÃES, R. Técnicas de Redação: a recepção e a produção de texto. São Paulo: do Brasil, s/d). Nesse texto temos, portanto: a- assunto: direito; b- delimitação: direito e moral; c- objetivo: mostrar que muitas normas morais transformaram-se em normas jurídicas por razão de conveniência social; d- tópico-frasal: “muitas normas, antes apenas do âmbito da moral, passaram ao campo do direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência”. Desenvolvimento — argumentos baseados em provas concretas: a- O socorro patronal obrigatório ao empregado acidentado; b- A obrigação jurídica de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. Conclusão: “A regra de Moral transformou-se em regra de Direito.” Além disso, podemos perceber que o texto dissertativo tem algumas características que lhes são peculiares. Vejamos quais são. Primeiramente, como pudemos perceber, trata-se de um texto temático, ou seja, o nosso exemplo discute uma questão jurídica, operando com, predominantemente, termos abstratos: Muitas normas, antes apenas do âmbito da Moral, passaram ao campo do Direito pelo fato de o legislador, num momento dado, julgar conveniente atribuir-lhes força coercitiva, impondo uma sanção para sua desobediência. Assim, por exemplo, no passado era altamente meritório o fato de o patrão socorrer seu empregado acidentado. [...] Mostra, tanto quanto a narração, mudança de situação: no caso do texto acima, o autor aponta para fatos que passaram de atitudes morais para deveres impostos pelo Direito: [...] Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito, impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever moral. [...]
  • 26. 25 [...] O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. Sua ordenação é lógica. Como já apontado, há no texto um tópico frasal, o desenvolvimento e a conclusão. Os tempos verbais empregados nessa dissertação são o pretérito perfeito e imperfeito do indicativo, quando o autor remete o leitor ao passado, e o presente, quando aponta para o resultado da ação pretérita: [...] Outro exemplo: no passado agia com humanidade o patrão que, antes de despedir seu empregado, lhe dava um prazo para procurar nova colocação, e ao romper o contrato de trabalho lhe oferecia uma indenização pelos anos de serviços prestados. Talvez isso constituísse um dever moral ditado pela preocupação de justiça. Mas o descumprimento de tal dever não provocava qualquer sanção por parte do Estado. Parecendo ao legislador conveniente transformar tal preceito de Moral em regra de Direito, impõe ao patrão o dever de dar aviso prévio e de prestar indenização ao empregado despedido. O descumprimento de tal obrigação, hoje, provoca uma sanção por parte do Estado. A regra de Moral transformou-se em regra de Direito. Para finalizar, leia atentamente o texto abaixo, buscando visualizar nele os elementos da dissertação já discutidos: Uso de álcool na gravidez traz riscos ao bebê A ingestão de álcool durante a gravidez pode acarretar uma série de problemas na formação do feto. A manifestação mais severa é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que causa desde malformações craniofaciais, retardamento no crescimento até a incapacidade de desenvolvimento mental. O fato de um grande número de mulheres beberem socialmente e a maioria das gestações não serem planejadas aumentam o risco de ocorrer a SAF. "Pode haver um desconhecimento do estado gestacional nos primeiros meses. Isso implica muitas vezes a exposição do embrião ao etanol, principalmente no período mais crítico e sensível da gestação", explica Cristiana Corrêa, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Geralmente, a incidência da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 casos por 1000 nascimentos. Entre os filhos de mães alcoólatras, estima-se que 30% a 40% dos recém nascidos venham a apresentar a doença. Ainda não foi definida a quantidade mínima de álcool ingerida capaz de afetar o feto. As maiores conseqüências da SAF são: restrição no crescimento, com decréscimo inferior a 10% no peso e no comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso Central, apresentando, entre outros problemas, disfunção comportamental, hiperatividade, dificuldade de adaptação social, e anomalias faciais. A prevenção da SAF, na opinião de Corrêa, só será possível através de um sistema articulado de intervenção terapêutica na mãe alcoólatra, programas educacionais nas comunidades, identificação precoce da doença e acompanhamento das crianças afetadas pela síndrome. Liliane Castelões http://www.comciencia.br/especial/drogas/drogas01.htm .
  • 27. 26 4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO 4.1 RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO Como vimos, texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama em que se deve enredar as palavras. 4. 1.1 Texto e discurso A Lingüística do Discurso procura estudar os textos como “manifestações lingüísticas produzidas por indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção” (KOCK, 1997, p.11), entendendo-os numa situação interacionista. Para Val (199, p.3), texto (escrito ou falado) é a “unidade lingüística comunicativa básica” utilizadas pelos falantes de uma língua para se comunicarem e será bem compreendido quando comportar três aspectos fundamentais: o pragmático (atuação informacional e comunicativa), o semântico-conceitual (relacionado à compreensão, à cognição, portanto, da coerência) e o formal (de sua organização, ou seja, de sua coesão). Assim, texto pode ser compreendido como uma unidade de sentido que depende de uma série de fatores, ligados tanto à coerência quanto à coesão. Por outro lado, discurso é mais abrangente e, de acordo com a Análise do Discurso de Linha Francesa, ele é entendido como o espaço em que emergem as significações (BRANDÃO, s/d, p. 35). Mas, o que comporta essa significação? Primeiramente, temos de entender que o discurso de que tratamos se faz na e pela língua, ou seja, as significações serão observadas em sua formação discursiva, somada às suas condições de produção, norteadas pela sua formação ideológica. Dessa forma, a noção de discurso pode ser vista como múltipla e analisá-lo é, de acordo com Foucault (1986, p.187), “fazer desaparecer e reaparecer as contradições é mostrar o jogo que jogam entre si; é manifestar como pode exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar- lhes uma fugidia aparência.” Isso quer dizer que analisar um discurso é buscar esses elementos de dispersão, os diversos discursos que comporta, os textos que com ele dialogam. E há várias maneiras de os textos conversarem entre si e com os discursos, como veremos a seguir.
  • 28. 27 4.1.2 A Intertextualidade De acordo com Kristeva (1974, p.64) “todo texto se constrói como um mosaico de citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto,” ou seja, como falou Bakhtin (1922) nenhum discurso é neutro, é sempre formado por outros que lhe foram anteriores no tempo, pois produzido por um sujeito descentrado, assumindo diferentes vozes sociais, que o tornam um sujeito histórico e ideológico. Fiorin (2003, p.32) ensina: “A intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo.” Brandão (s/d., p.76) aponta dois tipos de intertextualidade: uma interna, na qual um “discurso se define por sua relação com o discurso do mesmo campo, podendo divergir ou apresentar enunciados semanticamente vizinhos aos que autoriza sua formação discursiva”; e uma externa, “na qual o discurso define uma certa relação com outros campos”. Kock (1986, p.39) também aponta a possibilidade de se observar a intertextualidade de duas maneiras: em sentido amplo, que ocorre implicitamente, ou seja, a identificação dos textos em diálogo é conseguida por meio de atenta observação por parte do leitor, porque o novo texto mantém alguns aspectos, tanto formais quanto de sentido, dos originais; em sentido estrito, que pode aparecer tanto implicitamente – por meio da divulgação de sua ideologia e retórica - quanto explicitamente – por meio da revelação direta do texto do qual se origina. Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito possibilidades de a intertextualidade se revelar, isto é, por meio de epígrafe, de citação, de referência, de alusão, da paráfrase, da paródia, do pastiche e da tradução. Esses autores entendem a sociedade como uma grande rede intertextual e dão ao espaço cultural um lugar de relevância, pois cada produção dialoga necessariamente com outras. Fiorin (2003) e Sant’Anna (1988) apontam diferentes maneiras de a intertextualidade ocorrer. O primeiro identifica três processos: a citação, a alusão e a estilização; o segundo, quatro: a paródia, a paráfrase, a estilização e a apropriação. Como é a proposta de Sant’Anna que mais atente aos nossos propósitos, estudá-la- os particularizadamente a seguir. 4. 1.2.1 A Paródia Fávero (2003, p. 49) vai à etimologia para conceituar o termo: “Paródia significa canto paralelo (de para = ao lado de e ode = canto), incorporando a idéia de uma canção, cantada ao lado de outra, como uma espécie de contracanto.”
  • 29. 28 Sant’Anna (1988, p.31) completa, asseverando que ela tem uma função cartática, funcionando como contraponto com os momentos de muita dramacidade. Além disso, o texto paridístico faz uma re-apresentação “daquilo que havia sido recalcado. Uma nova e diferente maneira de ler o convencional. É um processo de liberação do discurso. Uma tomada de consciência crítica.” Parodia-se um texto para negá-lo, já que a linguagem nesse tipo de produção é dupla, as vozes que dialogam nos dois discursos se cruzam tanto horizontal (produtor x receptor), quanto verticalmente (texto x contexto) (FÁVERO, 1999, p.53). Temos em nossa literatura muitos exemplos de paródia. Jô Soares, na época de cassação do então presidente Collor de Melo, utilizando-se da mesma estrutura da nossa Canção do Exílio, escreveu: Canção do exílio às avessas Minha Dinda tem cascatas Tudo ali foi transplantado, Onde canta o curió Nem parece natural. Não permita Deus que eu tenha Olho a jabuticabeira De voltar pra Maceió. dos tempos da minha avó. Minha Dinda tem coqueiros Não permita Deus que eu tenha Da Ilha de Marajó De voltar pra Maceió. As aves, aqui, gorjeiam Não fazem cocoricó. Até os lagos das carpas São de água mineral. O meu céu tem mais estrelas Da janela do meu quarto Minha várzea tem mais cores. Redescubro o Pantanal. Este bosque reduzido Também adoro as palmeiras deve ter custado horrores. Onde canta o curió. E depois de tanta planta, Não permita Deus que eu tenha Orquídea, fruta e cipó, De voltar pra Maceió. Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió. Finalmente, aqui na Dinda, (...) Sou tratado a pão-de-ló. No meio daquelas plantas Só faltava envolver tudo Eu jamais me sinto só. Numa nuvem de ouro em pó. Não permita Deus que eu tenha E depois de ser cuidado De voltar pra Maceió. Pelo PC, com xodó, Pois no meu jardim tem lagos Não permita Deus que eu tenha Onde canta o curió De acabar no xilindró E as aves que lá gorjeiam São tão pobres que dão dó. Minha Dinda tem primores De floresta tropical.
  • 30. 29 Recordemo-nos do original de Gonçalves Dias: Canção do exílio Gonçalves Dias. Coimbra, julho de 1843, aos 19 anos Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores, Onde canta o sabiá; Que tais não encontro eu cá; As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar – sozinho, à noite – Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o sabiá. Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra, Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá; Mais prazer encontro eu lá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá Onde canta o sabiá. O dialogismo entre os textos é inquestionável, revelando também a característica primordial da paródia: temos aqui cantos paralelos aos de Gonçalves Dias, mas ao mesmo tempo em que fazem com que nossa memória textual retome o original, seu lado humorístico faz com que eles nunca se encontrem, como imagens invertidas num espelho (SANT’ANNA, 1988). Num texto acadêmico, podemos fazer uso da paródia, quando, especialmente, partindo de um texto original, inauguramos um outro paradigma, uma evolução do primeiro, numa oposição, numa crítica tecida com humor e ironia, expondo sua contra-ideologia. Por exemplo: Salários têm melhores reajustes em 10 anos Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes salariais foram maiores do que a inflação, melhor desempenho já constatado. (adaptado da página: www.pt.org.br) Eles conseguem fazer com que seus salários tenham melhores reajustes em 10 anos. Balanço divulgado pelo Dieese (Departamento de Infâmias, Enrolação e Embute Sem Escrúpulos) mostra que, em 2005, 72% dos reajustes salariais dos políticos foram maiores do que a inflação, maior roubalheira e sem-vergonhice já constatada. Como se pôde perceber, embora os dois textos mantenham um diálogo entre si, a paródia subverte o sentido do primeiro, retoma-o para negá-lo, para ironizá-lo, caminhando ao seu lado como se fosse sua imagem invertida. Diferente é a paráfrase, como veremos a seguir.
  • 31. 30 4.1.2.2 A Paráfrase O dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa (2001, p. 2127) traz as seguintes conceituações para termo: Paráfrase: (1)sf. interpretação ou tradução em que o autor procura seguir mais o sentido do texto que sua letra: metáfrase; (2) interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto que visa torná-lo mais inteligível ou que sugere novo enfoque para o seu sentido. [...] Sant’Anna (1988, p. 17) afirma que o termo para-phrasis (que já no grego significava continuidade ou repetição de uma sentença) pode ser considerada, grosso modo, uma reafirmação, por meio de outras palavras, do mesmo sentido de uma obra escrita, ou seja, pode-se considerar a paráfrase a tradução ou a transcrição de um texto primitivo. Nesse sentido, Derrida (2002, p. 62) ensina que o tradutor deve resgatar, absolver, resolver o texto original e quando “cria” é como um pintor que “copia” seu “modelo”Benjamin (1996, p. 108) disse que “a natureza engendra semelhanças,” bastando para entender isso, pensar-se na mímica. Portanto, diferentemente da paródia, a paráfrase é a frase paralela, ou seja, uma releitura do original. Se na primeira temos a ruptura, a crítica sutil, na segunda ficamos à frente de uma releitura, de uma reprodução. Para que possamos compreendê-la melhor, tomemos como exemplo a mesma Canção do Exílio e vamos ver algumas paráfrases elaboradas a partir dela: a) Canção do Exílio (Casimiro de Abreu) Se eu tenho de morrer na flor dos anos E ver se apanho a borboleta branca, Meu Deus! não seja já; Que voa no vergel! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Quero sentar-me à beira do riachoDas tardes ao cair, Dá-me os sítios gentis onde eu brincava E sozinho cismando no crepúsculo Lá na quadra infantil; Os sonhos do porvir! Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil! Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! não seja já; Se eu tenho de morrer na flor dos anos Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Meu Deus! não seja já! A voz do sabiá! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Quero morrer cercado dos perfumes Dum clima tropical, Quero ver esse céu da minha terra E sentir, expirando, as harmonias Tão lindo e tão azul! Do meu berço natal! E a nuvem cor-de-rosa que passava Correndo lá do sul! As cachoeiras chorarão sentidas Porque cedo morri, Quero dormir à sombra dos coqueiros, E eu sonho no sepulcro os meus amores As folhas por dossel; Na terra onde nasci!
  • 32. 33 Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Cantar o sabiá Meu Deus! não seja já; c- Canção do Exílio b- Canção do Exílio Não permita Deus que eu morra Minha terra não tem palmeiras Sem que volte pra São Paulo Minha terra não tem palmeiras... Sem que veja a Rua 15 E em vez de um mero sabiá, E o progresso de São Paulo Cantam aves invisíveis Nas palmeiras que não há. Mário de Andrade Mário Quintana André (1988, p.111) assevera que muitas são as formas como utilizamos a paráfrase no texto acadêmico: “Assim, podem ser produzidos diversos tipos de textos acadêmicos, como fichamentos, resumos e resenhas de textos, como veremos a seguir.” 4.1.2. 3 A Estilização A palavra estilização deriva de estilo que, de acordo com HOUAISS 2001, p. 1254) significa “o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos da língua para expressar, verbalmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer declarações, pronunciamentos, etc.” Então, Sant’Anna (1988) define estilização, uma forma de tomar aquele estilo de outrem, estabelecendo um desvio tolerável, produzindo um meio do caminho entre a paródia e a paráfrase. Para Fiorin (2003), A estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do “discurso de outrem”, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser entendidos aqui como o conjunto das recorrências formais tanto no plano da expressão quanto no plano do conteúdo (manifestado, é claro) que produzem um efeito de sentido de individualização (DENIS BERTRAND, 1985, p.412) Esclarece ainda Fiorin, que a estilização pode ser polêmica ou contratual. Entendemos que estilização, em sentido stritus, pode ser uma forma de alusão já que ao citar, temos uma menção ao discurso de outrem, de maneira indireta, ou seja, por meio da utilização do estilo do texto de origem.
  • 33. 33 Vamos ver agora, a estilização que Murilo Mendes elaborou a partir da Canção de Exílio de Gonçalves Dias: Canção do Exílio Minha terra tem macieiras das Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! Que elementos no texto acima nos indicam tratar-se de uma estilização ? Ao aludir ao texto de Gonçalves Dias, o autor manteve, em vários momentos, a mesma construção sintática do texto de origem. Por exemplo: Sujeito + Verbo Transitivo Direto + Objeto Direto (Oração Principal): − Minha terra tem palmeiras − Minha terra tem macieiras da Califórnia. Oração Subordinada Adjetiva: − Onde canta o sabiá − Onde cantam gaturamos de Veneza. Além disso, é mantido o presente do indicativo e, quanto ao léxico, observamos que o texto de Murilo Mendes insere o cotidiano no esquema da nostalgia e o efeito poético de distanciamento do modelo que obtém, não elide, contudo, a reverência - irônica é verdade - à matriz da saudade nacional, tornando- se, ao mesmo tempo, polêmico e contratual. 4.1.2.4. A Apropriação Sant’Anna (1988) ensina que essa forma de intertexto é bastante recente na crítica literária e chegou à literatura por meio das artes plásticas, especialmente pelas experiências dadaístas. Também conhecida como Assemplage (reunião, agrupamento), é muito próxima da colagem, ou seja, trata-se da reunião de materiais diversos para a composição de algo.
  • 34. 34 Embora recente seu estudo, essa técnica é, de acordo com o autor, antiqüíssima, pois usa de uma artifício muito conhecido na elaboração artística: o deslocamento que, por meio do desvio, provoca um estranhamento. A apropriação pode ser de dois tipos: − de primeiro grau: quando é o próprio objeto que entra em cena; − de segundo grau: quando ele é representado, traduzido para um outro código. O chargista e humorista Caulus fez o sabiá voar dos versos saudosistas para a denúncia ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria palmeira: www.comcienci0a.br/carta/migracoes. Ou seja, o artista apropriou-se do original e o transpôs para outro código, fazendo surgir, como disse Maserani (1995, p.94) um novo texto. Nesse sentido, podemos dizer que, ao fazer uso da apropriação, “o artista está querendo desarrumar, inverter, interromper a normalidade cotidiana e chamar a atenção para alguma coisa. (SANT’ANNa, 1988. p.45) José Paulo Paes, no melhor estilo do sintetismo anti-discursivo das grandes vanguardas modernistas, fez o resumo da poesia, despojando-a de acessórios: Lá ? Ah ! Sabiá... Papá... Maná... Sofá... Sinhá...
  • 35. 35 Cá ? Bah ! Estudando os quatro elementos revistos acima, Sant’Anna uniu-os em dois conjuntos, chegando à seguinte co-relação. Paráfrase Paródia Estilização Apropriação (Conjunto das similaridades) (Conjunto das diferenças) Agora, veremos como esses elementos interagem na construção do texto acadêmico. 5 O TEXTO ACADÊMICO Os textos produzidos no mundo acadêmicos podem ser feitos ora por meio da similaridade, ora da diferença. Veremos como se comportam e como produzir: o fichamento, o resumo e a resenha. 5.1 O FICHAMENTO Para que fichemos qualquer obra, é necessário, antes de tudo, uma leitura atenta daquilo que se deseja fichar. Ruiz (1980, p.70) aconselha: Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler, não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Então para que façamos um bom fichamento, é preciso seguir algumas etapas: a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras desconhecidas e as procurando no dicionário; b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais importantes. Andrade e Henriques (1992) informam que é importante sublinhar um texto, para: a- assimilá-lo melhor; b- memorizá-lo; c- preparar uma revisão rápida do assunto; d- aplicar em citações; e- resumir, esquematizar ou fichar.
  • 36. 36 De acordo com esses autores, a técnica de sublinhar compreende, depois das leituras sugeridas, a- identificação da idéia-núcleo de cada parágrafo; b- indicação com uma linha vertical colocada à margem, nos tópicos mais importantes; c- colocação de um ponto de interrogação à margem do texto, para indicar casos de discordância e as passagens obscuras; d- leitura do que foi sublinhado para ver se há sentido; e- reconstrução do texto, tomando os trechos sublinhados como base. Os autores também recomendam que há de se sublinhar o estritamente necessário, evitando-se argumentações, exemplificações, citações etc. Depois desse primeiro passo, procede-se, então, ao fichamento. Hoje, com a facilidade do computador, podemos utilizar uma pasta especialmente aberta para salvar este tipo de documento. Quem não dispõe desse recurso, deve usar fichas, vendidas em papelaria em três formatos: 7,5 x 12,5; 10,5 x 15,5 e 12,5 x 20,5. A de tamanho médio, no nosso ponto de vista, é a ideal, porque cabe numa caixa de sapatos, por exemplo, se a quisermos arquivar. Devemos utilizar uma ficha (ou uma página de computador) para cada tópico ou assunto, cuidadosamente anotados. Deve-se também evitar escrever no verso das fichas, por uma questão de praticidade. A estrutura da ficha deve ser a seguinte: a- cabeçalho, com a identificação do assunto (título geral, título específico, número di título, etc) b- indicação da fonte de onde se extrai o fichamento, de acordo com as normas da ABNT. c- corpo da ficha, compreendendo anotações ou comentários. Exemplo: Título geral (da obra) Título específico (do capítulo) Nº(da ficha) Fonte bibliográfica: (de acordo com a ABNT) Corpo: (ASSUNTO)
  • 37. 37 De acordo com os propósitos, as fichas podem ser: a- Bibliográfica: a que contém, além da bibliografia, um pequeno comentário da obra, ou de parte da obra. Exemplo: A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0 As diferentes concepções de linguagem KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997 No capítulo introdutório desta obra, a autora discorre a respeito das várias concepções de linguagem, apondo a Lingüística do Sistema com a Lingüística do Discurso. b- Ficha de citação: a que contém a transcrição fiel de trechos ou frases da obra consultada. Normalmente, aquelas grifadas como as mais importantes na instância da leitura. Na citação deve-se observar: a- o uso de aspas; b- a referência da página de onde foi retirada a citação; c- o uso de (...) para marcar que o trecho foi recortado. Exemplo: A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0 As diferentes concepções de linguagem KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997 “A linguagem humana tem sido concebida, no curso da História, de maneiras bastante diversas, que podem ser sintetizadas em três principais: a- como representação (...) b- como instrumento (...) c- como forma (....)” (p.9)
  • 38. 38 d- Ficha de resumo: é a que contém uma paráfrase do trecho lido. O resumo pode ser apresentado como esboço ou como sumário: − como esboço: apresenta a mesma estrutura do texto citado, com as palavras-chave, títulos e subtítulos, procedendo-se a um resumo dele. − Como sumário: topicalizam-se os itens julgados mais relevantes. Exemplos de fichas de resumo: a- como sumário: A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0 As diferentes concepções de linguagem KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997 Linguagem humana: História: concepção de três maneiras bastante diversas: a) como representação (...) b) como instrumento (...) c) como forma (....)” (p.9) b- como esboço: A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0 As diferentes concepções de linguagem KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997 A autora, nesta Introdução, apresenta, sintetizadas, três das principais maneiras como vem sendo concebida a linguagem humana, na História, ou seja, como representação, como instrumento e como forma. (p.9)
  • 39. 39 De toda maneira, quando fazemos um fichamento, estamos fazendo uma pequena paráfrase do texto. 5.2 RESUMO Resumir é, de acordo com André (1988, p.105) reproduzir em poucas palavras o que o autor expressou amplamente. Trata-se de um treinamento essencial para quem deseja comunicar-se de forma organizada, pois quem resume um texto é levado a depreender o que lhe é essencial e o que lhe é secundário. Além disso, resumir um texto ensina a relacionar as idéias, entender com clareza o assunto, perceber o sentido próprio do figurado que os vocábulos podem adquirir numa produção textual. Para se realizar um resumo, seguem-se os mesmos passos do fichamento, isto é, antes de tudo: a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras desconhecidas e as procurando no dicionário; b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais importantes. E mais: c- ficar atento para as palavras de ligação que organização de forma lógica o raciocínio, tais como: assim sendo, além do mais, pois, em decorrência, etc. e os que modificam os enunciados: mais que tudo, não, nunca, etc. Quando temos de resumir um texto, um capítulo de um livro, por exemplo, o ideal é que o façamos por partes, ou seja, que elaboremos o resumo de cada capítulo. Quando se tratar do resumo de um livro, o interessante seria que o procedêssemos por capítulos. O bom resumo deve, de acordo com André (1988, p. 106), “conservar os traços do estilo do texto original, como por exemplo, nível de linguagem, ironia, humor, vivacidade, etc”. Por outro lado, não devemos opinar ou criticar: o procedimento é de resumo e não de resenha, não de interpretação. Quanto à extensão, normalmente essa é estabelecida por quem o faz, ou por quem o solicita, dependendo dos objetivos visados, mas normalmente, um bom resumo contém de 10 a 15 por cento do texto original. Exemplo de resumo:
  • 40. 40 a- Texto: A escola e sua finalidade A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimento e experiências. “A educação é ação formadora da personalidade humana, que faculta ao indivíduo alcançar, com sua atividade, a meta de sua vida”. A educação e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o homem (no espírito e no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver feliz e satisfeito por saber que trilha o melhor caminho com os melhores recursos, dentro do bem-estar da comunidade. Embora a função específica da escola seja ensinar, cumpre-lhe também, e por lei, educar. A escola que não educa é perniciosa. Hildebrando A. André − A leitura atenta e a técnica de sublinhar as palavras-chave: A finalidade da escola é educar e ensinar. Ensinar é ministrar conhecimento e experiências. “A educação é ação formadora da personalidade humana, que faculta ao indivíduo alcançar, com sua atividade, a meta de sua vida”. A educação e o ensino devem ter um escopo: formar integralmente o homem (no espírito e no corpo) a fim de que consiga, na luta de todos os dias, viver feliz e satisfeito por saber que trilha o melhor caminho com os melhores recursos, dentro do bem-estar da comunidade. Embora a função específica da escola seja ensinar, cumpre-lhe também, e por lei, educar. A escola que não educa é perniciosa. − Resumo por parágrafos: 1º) A finalidade da escola é educar: auxiliar o indivíduo alcançar seu objetivos; e ensinar: ministrar conhecimento e experiências. 2º) A educação e o ensino: formar integralmente o homem. 3º) Embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar: tem também (por lei), de educar. A escola que assim não age é perniciosa. a) Redação final: A finalidade da escola é educar, ou seja, auxiliar o indivíduo a alcançar seu objetivos; e ensinar, isto é, ministrar conhecimentos e experiências. A educação e o ensino devem formar integralmente o homem. Embora a função da escola seja, antes de tudo, ensinar, tem ela também, e por lei, de educar. A escola que assim não age é perniciosa. Quem desejar, pode colocar introduções no resumo: No texto, A escola e sua finalidade, de Hildebrando A. André, publicado no livro Curso de Redação, discute a finalidade da escola. Nele o autor afirma que [...] Como já dissemos, resumir um texto é fazer, também, uma pequena paráfrase dele.
  • 41. 41 5.3 A RESENHA Várias são as definições de resenha: “É uma síntese geral, informativa e avaliativa sobre livros, capítulos, artigos das mais diferentes áreas do conhecimento e que serve, por conseguinte, para orientar as opções e o interesse do leitor [...] (BARROS; LEHFELD, 2000, P.22) [...] é uma descrição minuciosa que compreende certo número de fatos: é a apresentação do conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor do livro feitos pelo resenhista. (LAKATOS; MARCONI, 1992, p.89) [...] é uma síntese ou um comentário dos livros publicados feito em revistas especializadas das várias áreas da ciência, das artes e da filosofia. (SEVERINO, 2000, p. 131) Dentre as citadas, depreendemos em comum o fato de esse tipo de trabalho tratar-se de uma síntese, ou resumo avaliativo, não importando o nome que se dê a ela: resenha crítica (que nos parece redundante), resenha descritiva, ou, simplesmente, resenha. Saber fazer uma boa resenha é bastante importante na vida acadêmica, pois é através delas que se têm o primeiro contato com um livro, um texto, um filme, etc. Uma resenha bem elaborada pode fazer o leitor decidir sobre a compra de uma determinada obra, a assistência de um filme específico. Severino (2000) informa que há dois tipos de resenha: a informativa, aquela que apenas expõe o conteúdo do texto; e a crítica, aquela por meio da qual manifestamos nosso critério de valor. Já mencionamos alhures que, em vista do que foi conceituado relativamente ao termo, julgamos ser a resenha eminentemente crítica, podendo, isso sim, somar-se uma descrição, resultando a resenha descritiva. Vamos ver uma de cada vez. 5.3.1 Resenha crítica Como também já mencionamos, não julgamos ser necessário o uso de crítica à resenha, pois lhe cabe por definição esse papel, chamemo-la simplesmente resenha. Então vejamos. Sua organização é lógica. Começa-se com um cabeçalho, onde são transcritos os dados bibliográficos da obra. Segue-se um parágrafo com uma breve informação sobre o autor do texto. Na seqüência, deve-se introduzir o texto, com um parágrafo que sintetize a obra, escrito de forma bastante objetiva e contendo seus pontos principais e forma de organização.