[1] A sociedade vive sob a influência da ciência e tecnologia, embora existam visões contraditórias sobre seus impactos. Enquanto alguns acreditam que só trazem benefícios, outros argumentam que também podem desumanizar e destruir o meio ambiente. [2] A ciência se baseia no método científico para entender o mundo, a técnica se refere a ferramentas, e a tecnologia integra ciência, técnica e fatores sociais em sistemas complexos. [3] A supremacia da
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Ciência e tecnologia em questão: desafios e impactos
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CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM QUESTÃO
Fernando Alcoforado*
A sociedade vive, mais do que nunca, sob os auspícios e domínios da ciência e da
tecnologia. A propaganda que se faz da ciência e da tecnologia é tão intensa que uma
parcela significativa das pessoas acredita que elas só trazem apenas benefícios para a
sociedade. Para o homem, a tecnologia torna a vida mais fácil, mais limpa e mais
longa. O homem cultiva uma relação de dependência crescente em relação à ciência e
à tecnologia na era contemporânea.
É um comportamento habitual de grande parte da sociedade considerar a ciência e a
tecnologia como libertadoras da humanidade dos fardos do trabalho e das ameaças
representadas pelas forças da natureza. Somando a tudo isso, existe a visão
generalizada de que o progresso científico-tecnológico traz não apenas o avanço do
conhecimento, mas também como uma melhoria real, inexorável e efetiva em todos os
aspectos da vida humana.
No século XX, acreditava-se que os únicos meios confiáveis para o melhoramento da
condição humana provinham das novas máquinas, substâncias químicas e as mais
diversas técnicas. Inclusive os recorrentes males sociais e do meio ambiente que
acompanham os avanços tecnológicos raras vezes têm afetado esta fé. Hoje, existe a
clara percepção de que a ciência e a tecnologia têm proporcionado progresso para a
humanidade, mas que, junto com isto, possuem a capacidade de também destruí-la.
A ciência não é vista apenas como libertadora, mas sim, em determinadas situações,
como desumanizadora e escravizadora da vida humana. O crescimento descontrolado
da tecnologia tem contribuído para destruir as fontes vitais de nossa humanidade ao
criar uma cultura sem uma base moral. A tecnologia tem conformado nossas vidas
porque estamos à mercê de sistemas interconectados e, o que é grave, porque estamos
submissos à sua autoridade, moldando-nos ao seu funcionamento. A onipresença da
tecnologia no mundo atual, aliada à sua maior complexidade, dá lugar a uma situação
bastante problemática.
Na realidade, a ciência e a tecnologia não estão apenas conformando as nossas vidas
para melhor, mas também, em muitas situações, fazendo-as mais perigosas.
Percebemos a própria realidade através de máquinas e artefatos, e também tanto o
mundo externo como o que diz respeito a nossos corpos e mentes. Concebemo-nos a
nós mesmos como complexas máquinas físico-químicas com um cérebro que, segundo
investigações realizadas nas últimas décadas, tem resultado análogo a um potente e
complicado computador.
Parece que a partir da Revolução Industrial a própria construção coletiva da vida social
está sendo conformada como se ela fosse uma máquina. Há muitos anos, a ciência e a
tecnologia vêm ditando os rumos do comportamento social, tanto no plano industrial
quanto no das pessoas individualmente. O ser humano sempre investiu sua inteligência
para adquirir, fabricar e utilizar ferramentas que prolongassem e multiplicassem seu
conforto material. A ideia de que o desenvolvimento humano é função linear do
progresso técnico vem sendo sustentada há muito tempo.
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A tese de que a ciência e a tecnologia seriam os fatores primordiais responsáveis pelo
progresso humano foi colocada em xeque pelas explosões das bombas atômicas na
Segunda Guerra Mundial, em Nagasaki e Hiroshima. Passou-se a haver uma discussão
não apenas sobre o lado positivo proporcionado pela ciência e pela tecnologia. Um
clima de crise e dúvida em relação a elas veio à tona. Junto com as benesses da ciência
e da tecnologia, vinha o napalm, os desfolhantes, a radioatividade, a bomba atômica. A
ciência e a tecnologia passaram a ser encaradas também como antivida e, em
determinadas situações, como fora de controle humano.
Segundo Walter Antonio Bazzo, engenheiro mecânico, mestre em engenharia e doutor
na área de Educação, professor do departamento de Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Santa Catarina, existem diferenças entre ciência, técnica e
tecnologia (Ver o artigo Ciência, Tecnologia e Sociedade- o contexto da educação
tecnológica publicado no website <http://www.oei.es/salactsi/bazzo03.htm>). A ciência
é definida como uma acumulação de conhecimentos sistemáticos visando a
compreensão do mundo em que o homem vive, isto é, o conhecimento da realidade. A
ciência usa um método objetivo, lógico e sistemático de análise dos fenômenos para
permitir a acumulação de conhecimento fidedigno. Seu método de operação é o método
científico.
A técnica, por sua vez, diz respeito às transformações consecutivas dos diferentes
artefatos utilizados pelo homem com o sentido estrito de ferramenta. A técnica é tida
como uma entidade sujeita à sua própria dinâmica interna de desenvolvimento alheia a
qualquer tipo de intervenção social. A esfera de ação da técnica é mais reduzida e se
posiciona em um nível de menor complexidade em relação à tecnologia. Tecnologia é o
conhecimento humano que trata da criação e uso de meios técnicos e suas inter-relações
com a vida, sociedade e seu entorno, recorrendo a recursos tais como as artes
industriais, engenharia, ciência aplicada e ciência pura.
A tecnologia simboliza, segundo Walter Antonio Bazzo, uma grande complexidade e
qualquer intento por defini-la deveria considerar que:
a tecnologia tem relação com a ciência, com a técnica e com a sociedade;
a tecnologia integra elementos materiais — ferramentas, máquinas,
equipamentos — e não materiais — saber fazer, conhecimentos, informações,
organização, comunicação e relações interpessoais;
a tecnologia tem relações com fatores econômicos, políticos e culturais;
a evolução da tecnologia é inseparável das estruturas sociais e econômicas de uma
determinada sociedade.
Fica claro que nesta definição não se pode assumir a imagem de uma tecnologia neutra
e objetiva como fundamento e legitimação do desenvolvimento tecnológico. A partir
da Revolução Industrial no século XVIII, não apenas a tecnologia, mas também a
ciência tem sido utilizada pelo capitalismo para o bem e para o mal como uma das
forças a serviço de sua expansão. Nem a ciência e muito menos a tecnologia são
empreendimentos autônomos com vida própria, nem tampouco são instrumentos
neutros a serviço da humanidade.
Em sua obra A Dialética do Esclarecimento (Zahar Editora, 1985), Theodor Adorno e
Max Horkheimer, filósofos vinculados à Escola de Frankfurt, afirmam que a supremacia
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da ciência e da tecnologia preparou o caminho para o desvario político em benefício do
capitalismo de mercado. O avanço científico e tecnológico, na medida em que criou a
possibilidade técnica de eliminar a miséria, trouxe, também, seu crescimento. Sendo
global e onipresente, o capitalismo de mercado dispõe da técnica necessária, fornecida
pela ciência e pela tecnologia, para fazer dos homens engrenagens de seu motor,
anulando-os, através do princípio econômico da concorrência total. Coligadas, distantes
dos indivíduos, economia capitalista, ciência e tecnologia, fundidas agora como se
fossem uma instância única, consolidam sua supremacia sobre a sociedade
contemporânea, determinando seus rumos com a mesma desfaçatez e impessoalidade de
uma mão invisível, segundo Adorno e Horkheimer.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.