O documento discute os desafios enfrentados pelos professores no Brasil. A educação brasileira atravessa uma crise devido à falta de políticas governamentais adequadas e ao descaso com os professores. Os estudantes brasileiros tiveram desempenho insatisfatório em exames internacionais e as universidades brasileiras caíram em rankings globais. Os professores recebem baixos salários e têm que lidar com problemas como violência e indisciplina nas escolas.
Os professores não têm o que comemorar no seu dia no brasil
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OS PROFESSORES NÃO TÊM O QUE COMEMORAR NO SEU DIA NO
BRASIL
Fernando Alcoforado*
O dia 15 de outubro é considerado o Dia do Professor. Os professores no Brasil não têm
muitos motivos para comemorar o seu dia porque a educação brasileira atravessa uma
crise sem precedentes. Esta crise resulta da falta de políticas governamentais adequadas,
da existência de um ineficiente e ineficaz sistema de educação e do descaso no
relacionamento e tratamento com os professores. A falta de políticas governamentais
adequadas é evidenciada pelo desempenho insatisfatório de estudantes brasileiros nos
exames do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) que busca medir o
conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15
anos de idade tanto de países industrializados membros da OCDE como de países
parceiros e pelo medíocre desempenho das universidades brasileiras no ranking das
universidades no mundo medido pelo THE (Times Higher Education) que avalia o
desempenho dos estudantes universitários e a produção acadêmica nas áreas de engenharia e
tecnologia, artes e humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais e considera
ainda pesquisa, transferência de conhecimento e perspectiva internacional, além do ambiente
de ensino.
De acordo com dados do PISA, em 2012, o Brasil ficou com a 55ª posição do ranking
de 65 países em leitura. Em ciências, o Brasil obteve o 59° lugar do ranking.
Matemática foi a única disciplina em que os estudantes brasileiros do ensino
fundamental e médio apresentaram avanço no desempenho, ainda que pequeno. A
melhora não foi suficiente para que o País avançasse no ranking e o Brasil caiu para a
58ª posição em matemática. As universidades brasileiras também estão mal avaliadas no
ranking universitário internacional do THE (Times Higher Education), o principal da
atualidade. USP e Unicamp, por exemplo, nossas melhores universidades, decaíram no
ranking. A USP, única do Brasil que figurava entre as 200 melhores do mundo, passou
de 158º lugar em 2012 para o grupo de 226º a 250º. A Unicamp também caiu e passou
de 251º a 275º (em 2012) para 301º a 350º. O THE mostra que os Estados Unidos
continuam dominando o ranking mundial.
A avaliação do sistema de educação do Brasil medido pelo PISA e pelo THE
demonstra sua ineficiência e ineficácia. A catastrófica situação em que se encontra o
sistema de educação no Brasil demonstrada pelo PISA e THE está a exigir que se
realize uma verdadeira revolução na educação e não um plano como o PNE- Plano
Nacional de Educação elaborado pelo governo Dilma Rousseff que não é nada mais
nada menos do que uma mera carta de intenção. A construção de um futuro radioso para
o Brasil depende, em grande medida, do que seja feito no campo da educação. A
educação é o fator chave para o progresso do Brasil. Urge a eclosão de uma revolução
nos métodos ou na pedagogia do ensino fundamental e médio no Brasil levando em
conta a experiência bem sucedida de países como a Finlândia, Coreia do Sul, China e
Japão, entre outros, bem como os ensinamentos de Anisio Teixeira, Paulo Freire e
Edgar Morin, bem como no ensino universitário. Ao revolucionar os métodos de ensino
seriam criadas as condições para multiplicarmos o número de educandos no Brasil
capacitados a interpretar a realidade em que vivem e transformar o Brasil e o mundo
para melhor.
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O papel do professor é decisivo para que, através da educação, seja criado um novo tipo
de homem consciente e bem preparado para transformar o mundo em que vivemos em
seu benefício. No entanto, é muito grande o descaso no tratamento que é dado pelos
governantes aos professores no Brasil que afeta a qualidade de seu trabalho na era
contemporânea. Além de lidar com os alunos na sala de aula, o professor tem que
enfrentar o problema da indisciplina escolar, tudo isso, aliado ao baixíssimo salário que
recebe. Somado a tudo o que foi citado acima, o professor ainda se submete aos vários
tipos de violências ocorridas na sala de aula. Enfim, toda esta situação existe
fundamentalmente graças ao descompromisso dos governantes do Brasil para com a
educação que não é colocada como prioridade para o desenvolvimento nacional.
Deveríamos nos inspirar nas políticas educacionais praticadas na Finlândia, China,
Coreia do Sul e no Japão que são os países dos mais avançados em educação no mundo.
Na Finlândia, o pilar que sustenta a educação diz respeito à seleção e formação de
professores de ponta, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho.
Na Finlândia, a profissão de professor tem elevado status. O que faz o magistério
competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o reconhecimento social, a
autonomia e as boas condições de infraestrutura. O sistema de educação da China ocupa
hoje o primeiro lugar no PISA. A ascensão da China ao primeiro lugar no PISA
significou a queda da Finlândia que liderava este ranking. Para alcançar a liderança no
PISA, houve grande investimento por parte do governo chinês na melhoria das
estruturas físicas e humanas como parte da reforma necessária em busca do aumento da
qualidade na educação. O investimento nos professores foi o principal impulso para
alcançar este objetivo.
Ser professor na Coreia do Sul é digno de orgulho e de admiração. Tanto quanto na
Finlândia, há uma rigorosa seleção e formação de professores de ponta, com
reconhecimento profissional e boas condições de trabalho. A carreira docente na Coreia
do Sul está entre as mais disputadas, graças aos bons salários e às boas perspectivas
futuras. Professor no Japão é uma profissão muito respeitada, e para os japoneses o
professor é chamado de “sensei”, ou mestre em português, pois é considerado o sábio, o
centrado e orientador das crianças. O Japão tem a exata noção de que o futuro do país
depende das crianças, por isso a educação é muito valorizada, rigorosa, disciplinada. E
para que tudo isso dê certo na prática, são necessários professores competentes, que
passaram por rigorosas seleções, que possuem um alto grau de conhecimento e em
compensação são bem remunerados.
O descaso dos governantes do Brasil pela educação está contribuindo para a queda de
matrículas em licenciatura no país gerando temor de apagão na formação de
professores. Os dados do Censo de Educação Superior de 2013 divulgados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmaram uma tendência
sombria para o futuro do país: o “apagão de professores” nas escolas que ocorre pelo
quarto ano seguido sendo cada vez menor a quantidade de estudantes que procuram
cursos de licenciatura. Consequentemente, o Brasil tem formado menos docentes. Esta
situação lamentável em que se encontra o professor no Brasil está a exigir uma mudança
radical na forma como vem sendo planejado e gerido o sistema de educação no Brasil.
Valorizar e capacitar ainda mais o professor brasileiro são fatores determinantes para o
avanço da educação no Brasil. Viva o professor.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
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universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).