1) Erasmo de Rotterdam elogia a Loucura em seu livro "Elogio da Loucura" contra a Razão medieval, defendendo que a Loucura impulsiona a vida e a felicidade. 2) Ele argumenta que a Loucura reina na infância e velhice, e que permite às mulheres serem mais felizes. 3) No entanto, o autor defende que na era contemporânea a Razão deve prevalecer contra a Loucura retrógrada representada pelo capitalismo, economia, meio ambiente e relações internacionais.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Visões do confronto entre a loucura e a razão no século xvi sob a ótica de erasmo de rotterdam e na era contemporânea
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VISÕES DO CONFRONTO ENTRE A LOUCURA E A RAZÃO NO SÉCULO
XVI (SOB A ÓTICA DE ERASMO DE ROTTERDAM) E NA ERA
CONTEMPORÃNEA
Fernando Alcoforado*
Elogio da Loucura (Porto Alegre: L&PM Editores, 2013) de Erasmo de Rotterdam,
teólogo e humanista holandês, é uma sátira escrita em 1508 dirigindo críticas mordazes
à vida numa sociedade medieval impregnada de uma cultura tradicional medíocre e
hipócrita. As críticas são realizadas em defesa da personagem central, a Loucura. Nesta
obra a Loucura é personificada na forma de uma deusa que conduz as ações humanas.
Para o autor, Loucura é o estado natural do ser humano. Para Erasmo, a Loucura está
por toda parte sendo infinito o número de loucos. Entre a Loucura e a Razão, Erasmo de
Rotterdam se posiciona a favor da Loucura contra a Razão retrógrada que regulava a
vida na Idade Média. As razões de seu posicionamento estão apresentadas nos
parágrafos abaixo.
Erasmo elogia a Loucura afirmando que ela é responsável pela alegria dos homens e dos
deuses, pois é a Loucura quem expulsa a tristeza de suas almas, propõe a fuga do
sistema para buscar a felicidade como uma nova forma de viver. É a Loucura quem
impulsiona a vida, fazendo com que ela valha ser vivida da melhor forma possível. Ela
extingue os obstáculos da hesitação e do medo que acompanham a pessoa sábia e que a
impedem de ousar e agir por impulso, pois, se a razão governasse o mundo não existiria
a coragem. É sobremodo importante assinalar que Erasmo retrata-se à Loucura sã,
destituída de patologia. Erasmo apresenta algumas considerações acerca das várias
condições humanas da infância à velhice. Com relação às crianças, afirma que a
infância é regada pela Loucura, pois é nesse momento da vida que falamos e agimos
sem pensar, despreocupados com as consequências de nossos atos - e justamente por
essa desnecessidade de sabedoria é que somos tão felizes e verdadeiros.
Erasmo considera que, enquanto adultos, os seres humanos passam pela etapa mais
triste da vida, pois, orientados pelas lições e pela experiência do mundo, entram na
infeliz carreira da sabedoria científica. Erasmo afirma que, na velhice, a Loucura faz os
seres humanos de novo meninos. Na velhice, o ser humano já não tem mais o
compromisso de ser um sábio, e, sai deste mundo como as crianças, sem desejar a vida
e, sem temer a morte. Verifica-se que no paralelo que a Loucura faz entre a infância e a
velhice fica claro que ela reina em ambas. Erasmo considera que o homem é mais
racional e menos emocional, possui um humor mais áspero e triste, enquanto a mulher é
mais suave, bela e alegre e, é justamente o dom da Loucura que permite às mulheres
serem, em muitos aspectos, mais felizes do que os homens. Em seguida, diz que a
amizade, que também é considerada uma Loucura, é um bem supremo que deve ser
preferida a tudo neste mundo.
Para Erasmo, nenhum homem ou mulher de bom senso se arriscaria a casar e a ter
filhos, a não ser inspirados pela Loucura e a ela, portanto, devem a vida. Sustenta que se
as mulheres pensassem sobre o casamento veriam que não lhes é vantajoso – as dores
no parto, as dificuldades com a educação dos filhos, o dever conjugal - só a Loucura
para consentirem dessa maneira. Erasmo de Rotterdam afirma que é necessário que o
homem fique tomado pela Loucura se quiser tornar-se pai, pois somente ela justifica a
desenfreada perseguição do macho atrás da fêmea. É somente a Loucura que faz com
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que o homem se escravize pelo casamento à monogamia, que se amarre a uma mulher e
que através dela se estabilize para satisfazer um capricho tão passageiro.
É através da ironia e da finura de espírito que Erasmo de Rotterdam ridiculariza
praticamente todas as instituições, costumes, pessoas e crenças de sua época. Erasmo
afirma que sem a ajuda da Loucura, a sociedade sucumbiria. A crítica maior de Erasmo
de Rotterdam foi contra os excessos da Igreja Católica já envelhecida e conspurcada por
práticas cerimoniais vazias e sem sentido. Foi-lhe necessário um alto grau de coragem
para expor a corrupção da mais forte e poderosa organização da época. Embora sendo
cristão, Erasmo de Rotterdam era contra a hierarquia da Igreja Católica, que declara
guerras, faz cerimônias e rituais em demasia, e discutem eternamente o mistério divino,
sendo que o mandamento de Cristo é apenas a prática da humildade, caridade e
fraternidade do cristianismo primitivo.
Oportuno se torna dizer que o objetivo primordial de Erasmo de Rotterdam era
regenerar a Europa, pondo o ideal evangélico contra as guerras. Claro, que ele não foi
entendido tendo que amargar pelo resto de seus dias a acusação de herege e
escarnecedor contra os representantes da Igreja Católica. Diferentemente de Erasmo de
Rotterdam que fez o elogio da Loucura contra a Razão em sua época (século XVI), o
mesmo não pode ser feito na era contemporânea, A tese de Erasmo de Rotterdam não
se aplica à era contemporânea porque a Loucura atual extremamente retrógrada no que
diz respeito, por exemplo, ao modo de produção capitalista, à economia mundial, ao
meio ambiente global, às relações internacionais e ao Brasil no momento atual precisa
ser superada pela Razão.
A Loucura representada pelo retrógrado modo de produção capitalista em todo o mundo
resulta do fato de o capitalismo, apesar do progresso que tem proporcionado à
humanidade, se caracterizar desde suas origens, como modo de produção social, pela
selvageria, crueldade, desumanidade, incivilidade, massacres, genocídios e múltiplas
formas de degradação humana sem que prevaleça a Razão com sua substituição por
outro modo de produção racional que seja sua antítese. A Loucura representada pela
economia mundial reside no fato deste sistema retrógrado apresentar tendência à
depressão com a falência dos governos, a quebradeira de empresas, o desemprego em
massa e até mesmo a eclosão de guerras civis em vários países e a possibilidade de nova
conflagração mundial como já ocorreu no século XX com a 1ª e a 2ª Guerra Mundial e
não prevaleça a Razão com a implantação de um sistema econômico mundial que opere
em bases racionais.
A Loucura relacionada com o meio ambiente global é representada pelo esgotamento
dos recursos naturais do planeta, o crescimento desordenado das cidades e a catastrófica
mudança climática global que tende a produzir graves repercussões sobre as atividades
econômicas e o agravamento dos problemas sociais da humanidade sem que prevaleça a
Razão com o fim da exaustão dos recursos naturais do planeta, o ordenamento das
cidades e o controle efetivo das emissões dos gases do efeito estufa para a atmosfera. A
Loucura representada pelas relações internacionais resulta do fato de as Organizações
Internacionais, como a ONU, não darem conta de evitar que o Homem seja o “lobo do
próprio Homem”, chegando à borda da própria destruição civilizacional como ocorreu
no século XX com a eclosão de duas guerras mundiais e a Guerra Fria e não prevaleça a
Razão com o fim da desordem, do caos que tem caracterizado as relações internacionais
ao longo da história com a criação de uma nova ordem mundial que seja capaz de evitar
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guerras e conflitos internacionais das quais resultem crises humanitárias de grandes
proporções como as que se verificam no momento.
A Loucura relacionada com o Brasil diz respeito à permanência no poder do governo
Dilma Rousseff que é incapaz de superar a gigantesca crise econômica, a profunda crise
política, a crise de gestão e a crise ética e moral em todas as instâncias do governo
resultante da existência de corrupção sistêmica generalizada. Trata-se de uma Loucura
manter no poder um governo que enfrenta a rejeição da imensa maioria da população e
não fazer prevalecer a Razão que seria a substituição do atual governo por outro que
promova a celebração de um novo contrato social no País e una a nação brasileira em
torno de um projeto comum de desenvolvimento diferente do falido modelo neoliberal
adotado desde 1990. Portanto, ao contrário de Erasmo de Rotterdam que fez o elogio da
Loucura contra a Razão que prevalecia em sua época, defendemos a Razão contra a
Loucura que prevalece na era contemporânea.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).