1) O documento descreve várias tradições e costumes da aldeia de Felgar, como a Fogueira do Galo, a Missa do Galo, o Carnaval, a Páscoa, as festas em honra de Nossa Senhora do Amparo e a Serração da Velha.
2) Inclui também descrições de jogos tradicionais como o jogo do pião, do botão, da corda e do ferro, assim como detalhes sobre a cozedura do pão e a matança do porco.
3) Finalmente, menciona rezas
1. USOS E COSTUMES
Trabalho
Elaborado por:
Daniel Soeiro
Nº 5 T. GÁS
2. O Felgar, desde há muito tempo, sempre foi uma terra rica em tradições.
Algumas das quais ainda se vão mantendo vivas, como a Fogueira do galo;
Missa do Galo; carnaval; Páscoa. A Serração da Velha.
Os Jogos populares, como o jogo da raiola, o ferro, o fito, a macaca e o jogo do
pião.
Na noite que antecede a Páscoa é costume retirar os vasos de flores das
varandas dos moradores, para enfeitar o largo da igreja.
Mas a maior tradição de Felgar são as festas em honra de N.Srª. do Amparo.
Comemorações que fazem desta freguesia uma das mais visitadas nesses
dias de pessoas de toda a região, para cumprirem promessas.
A SERRAÇÃO DA VELHA
Esta tradição, efectuada na quarta-feira da terceira semana da Quaresma, à
noite, destina-se às pessoas que foram avós pela primeira vez nesse ano.
Grupos de rapazes percorriam as ruas da aldeia fazendo barulho, paravam à
porta das pessoas mais idosas, chamando-as pelas suas alcunhas e fazendo
troça delas. Simulavam serrar uma esquina da casa, com uma corda e diziam:
Serra a velha do cortiço,
Minha avó não diga isso.
FOGUEIRA DO GALO
Era tradição no dia 24 de Dezembro juntarem-se os rapazes solteiros e alguns
casados para juntarem a lenha para a Fogueira do Galo. Pediam a lenha mas
muitas vezes acabavam por roubá-la. À meia-noite acendia-se quando se
realizava a Missa do Galo.
Durante a noite comia-se e bebia-se à volta da fogueira.
3. PÁSCOA
Era costume fazer-se a visita Pascal. O Pároco ia a casa dos seus paroquianos
com a imagem de Cristo. Neste dia também era costume os Padrinhos darem o
folar aos seus afilhados.
JANEIRAS E REIS
Pedir as Janeiras e Reis é uma velha tradição que se transmite de geração em
geração.
Os rapazes vêm para a rua e, juntando-se em grupos cantam de porta em
porta. No dia 1 de Janeiro cantavam-se as janeiras, cantando versos e tocando
alguns instrumentos de porta em porta.
Dia 5 era o dia de Reis e celebrava-se a festa dos galheiros. Os rapazes mais
novos com um galho de uma árvore com vários ramos iam recolhendo pelas
casas, chouriças, alheiras, fruta, etc. Eram depois leiloados no adro da igreja,
para a qual lucro revertia.
Esta casa é bem alta
Forradinha a papelão
Se nos querem dar os Reis
Botem cá um salpicão.
Esta casa é bem alta
Forradinha de cortiça
Se nos querem dar os Reis
Botem cá uma linguiça.
Esta casa é bem alta
Forradinha a madeira
Se nos querem dar os Reis
Botem cá uma alheira
4. ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS
Um costume muito antigo.
Era feita na quaresma quando á noite, por grupos de homens e de mulheres
que em determinados lugares cantavam “versos” que chamam a atenção das
pessoas para o sofrimento das almas do Purgatório.
Alguns deles são assim:
Acordai, que estais dormindo,
Desse sono em que estais,
As Almas se estão queixando
Que delas vos não lembrais;
Aquelas que mais se queixam,
Serão as dos vossos pais,
Olha, Cristão, que és terra,
olha que hás-de morrer,
Olha que hás-de dar conta
Do teu bom ou mau viver.
Olha para o teu lado direito,
E para o esquerdo, também
"Ouvireis" ternos gemidos
Do teu pai ou da tua mãe.
Rezai uma Salve-rainha
À Virgem Nossa Senhora,
P'ra que, no Tribunal divino,
Seja nossa Protectora.
Com isto me vou embora,
Com isto não digo mais,
Não vos esqueçais de rezar
Por alma de vossos pais".
- In: REBELO, Joaquim Manuel, "A encomendação das almas nos concelhos de Torre
de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta", Cadernos Culturais do Núcleo Cultural
Municipal de Vila Real, nº 3, Maio de 1978.
5. O CARNAVAL
O Carnaval é uma festa dos tempos pagãos em que a juventude mais se
divertia.
As raparigas neste dia não podiam sair à rua, porque os rapazes atiravam-lhe
com farinha (por vezes com pó de arroz), para a cabeça.
6. A MATANÇA DO PORCO
Para o lavrador era o abastecimento da casa e uma das mais importantes
festas de família do ano. A carne de porco, o pão e a batata eram a sua base
de alimentação. O número de porcos que se matavam dependia da condição
financeira de cada família. A carne era racionada de modo a durar todo o ano.
Os porcos eram criados e alimentados à base de batata, legumes e farelo, e
viviam nos baixos das habitações (lojas). A matança acontecia nos meses de
Inverno, com temperaturas negativas, altura ideal para conservar as carnes.
Pela manhã ainda muito cedo era servido um mata-bicho (aguardente e figos
secos). Começava-se por agarrar o bicho, pelas orelhas, pelo rabo e pelas
pernas. O matador deitava-lhe o laço ao focinho, era deitado e amarrado num
banco de madeira. Uma faca comprida era espetada por baixo do pescoço até
chegar ao coração. o sangue era aparado por uma mulher que colocava um
alguidar, com vinho sal e vinagre para o sangue não coagular. O porco depois
de morto era chamuscado com palha a arder, era esfregado com pedras,
lavado e rapado. Era pendurado durante dois dias para a carne secar. Depois
era desmanchado e cortado em pedaços, as carnes eram salgadas e
temperadas para fazer os enchidos.
COZER O PÃO
O cozer o pão obedecia a um determinado número de regras:
Primeiro limpava-se a masseira onde o pão iria repousar. Na farinha abria-se
um buraco onde se ia deitando aos poucos a água, mexendo e envolvendo
ambas com uma pá de madeira e juntava-se o fermento. Depois de amassada,
terminava-se fazendo uma cruz desenhada com um dedo ou com a pá, em
seguida ficava a levedar num canto da masseira, durante cerca de duas horas.
Aquecia-se o forno, com lenha de pinheiro ou giestas, e as brasas eram
espalhadas no interior do forno para manter uma temperatura igual, usando-se
uma vara comprida (ranhadouro). Aquecido o forno e já com a massa
levedada, varria-se o forno com uma vassoura de giesta. Depois passava-se
para a massa, da qual era retirada uma porção que se coloca numa pá de
madeira e sobre a qual se fazia uma cruz e deitava-se um pouco de sal. Ao
colocar o pão dentro do forno dizia-se a seguinte oração:
Deus Te acrescente Dentro de forno, E fora do forno E a quem te comer.
A porta do forno era fechada, aguardando-se o tempo necessário até o pão
cozer.
7. JOGOS TRADICIONAIS
Os jogos tradicionais, eram muito praticados no passado, proporcionando o
convívio entre os habitantes. Apesar de serem hoje pouco praticados, ainda
bastante lembrados pelas pessoas mais idosas.
JOGO DO PIÃO
Material: Um pião e uma baraça por participante; um circulo, para onde todos
os participantes lançam o seu pião, por uma ordem previamente sorteada.
O movimento resulta de um cordel enrolado à volta do pião. O cordel segura-se
com a mão por uma das extremidades o qual desenrolando-se o faz girar.
Pode ser jogado por uma ou mais pessoas.
Objectivos: Deitar fora do círculo, o pião lá deixado.
O participante cujo pião ficar dentro do círculo depois do movimento de
rotação, será arredado do jogo, deixando lá o pião que todos os outros
elementos, um de cada vez, tentarão deitar fora do círculo, procurando picá-lo.
JOGO DO BOTÃO
Característica comum, à grande maioria dos jogos tradicionais, é a grande
quantidade de variantes de um mesmo jogo.
Uma das variantes do jogo do botão consiste em lançar o botão contra uma
parede, através de um toque do polegar, estando o botão apoiado no dedo
indicador. Este jogo é praticado por rapazes em número variável, também
podendo ser jogado individualmente.
Se o botão jogado ficar no chão a um palmo ou mais do botão adversário,
entretanto já lançado, ganha-o. O jogo não tem tempo limite e vencerá quem
no final tiver mais botões ganhos.
É um jogo excitante que fez com que alguns meninos arrancassem os botões
das calças e fossem para casa com elas na mão.
8. TRACÇÃO-À-CORDA
Material: 1 corda e 1 lenço (deverá estar atado a meio da corda).
Jogadores: 2 equipas com o mesmo número de jogadores cada uma.
Jogo: Num terreno plano e livre de obstáculos, duas equipas com forças
equivalentes, seguram, uma de cada lado e à mesma distância do lenço, uma
corda. Entre as equipas, antes de começar o jogo, traça-se ao meio uma linha
no chão. O jogo consiste em cada equipa puxar a corda para o seu lado,
ganhando aquela que conseguir arrastar a outra até o primeiro jogador
ultrapassar a marca no chão. É também atribuída a derrota a uma equipa se os
seus elementos caírem ou largarem a corda. Não é permitido enrolar a corda
no corpo ou fazer buracos no solo para fincar os pés.
JOGO DO BUGALHO
No jogo à cova o objectivo é introduzir o bugalho em pequenas covas
previamente escavadas no solo e que se podem apresentar em número
variável. Pode-se jogar apenas com uma cova ou com várias (ou até colocadas
em linha, em triângulo ou em quadrado). O jogador pode alternar a introdução
do bugalho nas covas ou afastar os bugalhos dos adversários através de um
embate.
JOGO DE CORRIDA DE SACOS
Corrida de Sacos - Material: Sacos de serapilheira ou plástico grosso, em
número igual ao dos participantes.
Jogadores: número variável.
Jogo: É marcado um percurso no chão com uma linha de partida e uma meta.
Todos os concorrentes se colocam atrás da linha de partida. Ao sinal de
partida, cada um entra para dentro do seu saco, segura as abas com as mãos
e desloca-se em direcção à meta. Ganha aquele que chegar primeiro.
Variantes: Equipas de três jogadores, colocando-se dois lado a lado, o terceiro
enfia as pernas nos sacos onde os outros já se encontram metidos (um em
cada saco), abraçando-os. As restantes regras são iguais às da corrida
individual.
9. JOGO DO EIXO
Neste jogo, o número de participantes é variável, sendo que quanto maior for o
número de jogadores mais interessante se torna o jogo. Embora existam
diversas versões deste jogo, a mais comum consiste em fazer amochar um ou
mais jogadores, bastante curvados, apoiando as mãos ou os cotovelos nos
joelhos. Este jogo poderá apenas consistir em saltar sucessivamente sobre
todos os colegas, de forma que todos saltem amochem em seguida; ou poderá
apresentar graus de dificuldade sucessivos à semelhança do jogo da inteira,
partilhando, também com este, em algumas variantes, a existência de uma
cantilena.
JOGO DA ESPETA
Este jogo, também chamado jogo dos castelos, era habitualmente jogado pelas
crianças no final da escola ou nos fins-de-semana dos curtos dias de Inverno;
altura do ano onde, por causa da chuva, a terra se encontrava propícia para se
poder espetar o espeta.
Um prego, um canivete, uma sovela, uma lima ou qualquer material
pontiagudo, pode constituir o espeta que é o único material necessário para a
execução do jogo.
JOGO DO RAPA
É considerado um jogo de sorte ou azar.
Utiliza-se um pequeno pião ou rapa também chamado de piorra ou pionete com
quatro faces em cada uma das quais se encontra inscrita cada uma das letras
R (Rapa), T (tira), D (Deixa), P (Põe).
Os jogadores, em número variável, colocam-se à volta de uma mesa ou numa
superfície lisa onde colocam a sua casa dela (um botão, um feijão, um
rebuçado, etc.)
Depois de imprimido o movimento rotativo através dos dedos indicador e
polegar, ou médio e polegar, a rapa acaba por cair ficando com uma das faces
virada para cima, indicando assim a sorte do jogador:
R - Ganha tudo o que está na mesa;
T - Tira um objecto;
D - Deixa um objecto;
P - Põe lá outro objecto;
10. JOGO DO FERRO
Consiste no lançamento de uma barra de ferro cilíndrica.
Participantes:
Joga-se individualmente.
Desenvolvimento:
O ferro é lançado por baixo atrás de uma raia. Ganha o jogador que mais longe
o atirar.
Após o lançamento o ferro não pode voltar-se no ar, devendo cair com uma das
pontas e tombar para a frente. Enquanto o ferro não tocar o chão, o jogador
não pode ultrapassar a raia.
Material:
Barra de ferro cilíndrica, utilizada nos trabalhos agrícolas, com cerca de 1,5 mts
de comprimento e 0,05 mts de diâmetro.
REZAS E MEZINHAS
As curas populares baseiam-se em conhecimentos adquiridos ao longo dos
séculos, a partir das propriedades medicinais das plantas e das crenças.
Antigamente, com a falta dos meios actuais, as doenças eram tratadas de
acordo com a medicina popular, na esperança de curar os males, usando
ervas, produtos naturais, e recorrendo a endireitas e a rezas.
Embora esta forma esteja em desuso na Cidade, nos meios rurais ainda se
valoriza muito a sabedoria popular e os dons de alguns curandeiros.
11. REZA DO COBRÃO
Antes de haver água canalizada e as máquinas de lavar, a roupa era lavada
nos lavadouros, tanques públicos ou ribeiros, era depois posta a secar em
ramos de árvores, por cima das silvas, por vezes no chão. Por isso era
possível por vezes uma cobra, um sapo ou até uma aranha passar por cima da
roupa. A pessoa que vestisse a roupa contaminada por um destes bichos
ficava com marcas ou bolhas na pele, a que lhe chamavam o cobrão.
Esta doença tinha de ser tratada rapidamente, antes que o cobrão "juntasse os
pés com a cabeça".
Dentro de um tacho queimavam-se umas cascas de alho. Às cinzas juntava-se
azeite e untava-se a zona afectada pelo cobrão. Dizia-se a seguinte reza, ao
mesmo tempo que se "desenhavam" cruzes no ar sobre a zona, com uma faca:
Eu te corto Cobro e cobrão.
Cabeça, rabo e coração.
Para que não cresças. E não reverdeças.
E não juntes os pés com a cabeça