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Resumo
A preocupação atual em delimitar os princípios de um desenvolvimento urbano
sustentável evoca freqüentemente a redefinição da participação popular nesse processo. Ao
fazê-lo, remete esse clamor contemporâneo a uma discussão anterior e essencial, acerca da
organização do debate público e da sua inscrição no espaço. Nesse sentido, admite-se que é
possível encontrar elementos interessantes para a reflexão dos espaços públicos nos dias de
hoje através de uma interpretação da sua constituição no passado.
É justamente nesse intuito que se propõe aqui uma análise do Plano Agache,
parcialmente aplicado na cidade do Rio de Janeiro durante os anos 30. Ao refletir sobre as
conseqüências diretas e indiretas da sua intencionalidade direcionada a organização dos espaços
na cidade, pode-se especular que a riqueza da vida social, a sua complexidade e as suas
múltiplas formas parecem por vezes estarem conscientemente colocadas de lado. Dessa forma,
será discutido como, em sua concepção positivista, o urbanista abria mão de certas dimensões
fundamentais para a constituição espaço público, tornando-o paralisado, passivo, ou seja, uma
área onde o habitante é mais citadino que cidadão.
Introdução
Juntamente com a crítica pós-modernista da sociedade, se manifesta um interesse
crescente pelo espaço público nos últimos 25 anos (GOMES, 2002). No que tange ao urbanismo,
sabe-se que alguns argumentos modernistas reduziam bastante a importância dos espaços
públicos tradicionais (chegando até a recomendar a eliminação da rua), mas a complexidade dos
debates, subseqüente a reação pós-modernista, nos impede de fazer uma oposição radical entre
as duas correntes. Mesmo admitindo que o pós-modernismo teve uma forte influência, constata-se
*Laboratório SET, CNRS-UPPA
Modernism and Public Space: Rio de Janeiro’s Agache Plan
Modernismo e espaço público:
o Plano Agache do Rio de Janeiro
Vincent Berdoulay*
urban space, seem not to have called his
attention. This is not to say, however, that he
was insensible to the confrontations of
opinions and acts which characterize the city.
He was aware of them but downgraded their
analytical possibilities. This is why, in his plan,
city dwellers ended up playing the role of city
inhabitants rather than that of citizens.
Keywords: Urbanism, public space, ecology,
health.
Rio de Janeiro’s Agache plan,
developed under the supervision of French
urbanist Alfred Agache at the end of the
1920’s, is a great achievement of a planner
who followed the guidelines of urban ecology.
This is why the concept of modernity which is
embedded in the plan is somewhat different
from the one defended by modernist architects
of the time, such as Le Corbusier.
Agache sees the city according to a
functionalist view. The richness and
complexity of social life, and the multipleforms
by which it manifests itself in
124 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no
11, 12 e 13 - set./out., 2003
que a modernidade persiste, ainda que se expressando sob novas formas, nas quais nota-se que o
espaço público é um dos pontos que retém particularmente a atenção. Por conseguinte, o clamor
contemporâneo por um desenvolvimento urbano sustentável faz um novo apelo a uma participação
mais intensa da população, o que nos coloca novamente o problema da organização do debate
públicoedasuainscriçãonoespaço.Deumaformamaisgeral,aquestãodaecologiaurbanacaminha
há muito tempo em um mesmo sentido, o do florescimento da cidadania e, portanto, dos espaços
públicos que a promovam (BERDOULAY, 1999). Nesse contexto, pode ser interessante nos
aprofundar na contribuição de Agache, pensador e prático do urbanismo que, mesmo fortemente
ancorado no pensamento francês do início do século XIX, não se mostrou insensível ao “canto das
sereias” do modernismo, como sua ação no Brasil revelou amplamente.
Depois de lembrar alguns elementos do percurso de Agache, mostraremos, a respeito
de seu plano para o Rio de Janeiro de 1937, como suas tendências modernistas fizeram-no
chegar a uma certa desvalorização do papel do espaço público na ecologia urbana, e isto
independentemente de suas intenções. O plano Agache do Rio será o substrato de uma reflexão
sobre as razões que desviam o planejamento de um objetivo inclusivo do espaço público para
efeitos que o desvalorizam.
Uma abordagem da ecologia urbana
Donat-Afred Agache (1875-1959) foi convidado a visitar a cidade do Rio de Janeiro em
1927, em vista da preparação do plano de manejo da cidade. Suas proposições foram publicadas na
França, em 1930, em português, e em 1932, em francês (AGACHE, 1930c e 1932). Como o primeiro
plano urbanístico datava de 1875 e o crescimento urbano se fazia sentir, sobretudo depois dos anos
20, esse segundo plano para uma cidade que é a capital do país constitui uma questão importante
para seus habitantes. Sua importância se destaca pelas controvérsias que cercaram a elaboração,
particularmente a retirada dos apoios recebidos sucessivamente por engenheiros e arquitetos, cujas
rivalidadesencarnavamposicionamentosdiferentesemrelaçãoàmodernidade(STUCKENBRUCK,
1996; SILVA, 1996; ANDRADE, 1996; ABREU, 1997). Ainda que poucas realizações concretas
tenham decorrido desse plano, sua influência perdurou pelas idéias que ele permitiu discutir (como
a de zoneamento) e pelo primeiro grande código de obras editado em 1937 a partir do mesmo, que
continuaainspiraralegislaçãourbanísticaatual.Maisainda,ainstalaçãodeAgachenoBrasilapartir
de 1939 e os planos aos quais ele contribuiu lhe asseguraram uma posteridade brasileira maior que
aquela que o urbanista teve na França, como o ilustra a personalidade de Afonso Reidy, seu antigo
assistente, ou os diversos avatares de seu plano para Curitiba, de 1943. A continuidade, discutida e
discutível, entre os fundamentos desse plano e o sucesso dessa cidade no que diz respeito à ecologia
(e cidadania) urbana, mostram as ligações que unem o pensamento de Agache às preocupações
contemporâneas.
De fato, Agache, que já havia trabalhado fora da França antes de desembarcar no Rio de
Janeiro, fazia parte de uma corrente de pensamento original na história do urbanismo francês, mas
relativamente esquecida. Trabalhos recentes contribuem para mostrar sua riqueza, diversidade,
abertura de visão e sua contribuição (BERDOULAY et CLAVAL, 2001). Vítima do sucesso e da
autocelebração dos urbanistas que reivindicavam a doutrina dos Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna, esta verdadeira escola francesa de pensamento urbanístico desenvolveu, até a
Segunda Guerra Mundial, uma atividade intelectual considerável para melhor compreender a cidade
afim de melhor agir sobre ela, tendo um sucesso notável nos concursos internacionais.
125
Dentrodessaescolaseinscrevetodaumareflexãosobreopapeldomeionaanálisedeumacidade
enasproposiçõesdeaçõesrecomendadas.Éliteralmenteumaecologiaurbanaqueentãosedesenhaeque
dá aos debates recentes sobre a questão uma profundidade histórica ignorada até recentemente
(BERDOULAYetSOUBEYRAN,2001).Ora,Agacheeraumdosanimadoresdessareflexãoeaabordagem
que ele propôs inspirou todos seus planos. Mas, como para muitos de seus colegas profissionais do
urbanismo,oreconhecimentoqueelerecebeunaFrançafoifreqüentementeilusório.Membroinfluenteda
sociedadefrancesadeurbanistas,daqualelefoiduranteumbomtemposecretário-geralantesdesetornar
presidenteem1930,elenãofoiprofessordaEcoledesHautesEtudesUrbainesfundadadepoisdaSegunda
Guerra Mundial, instituição chave para formação de profissionais franceses. É um pouco como se o
exterior,sobretudooBrasil,tivessefuncionadocomoseuespaçoderealização.Deve-sedizerqueofatode
tertrabalhadonoBrasildeGetúlioVargasouemPortugaldeSalazarnãoéindicativodesuaspreferências
ideológicas, mas de sua convicção de que o mais importante aparece não na política governamental, mas
preferencialmentenoterreno,graçasaummanejofundadonoconhecimentocientífico.
Fundamentalmente, seu pensamento é marcado pelo positivismo de Le Play e de seus
sucessores ligados à revista La Science sociale (BRUANT, 1994 e 2001). As idéias de Le Play, por
intermédiodasváriasassociaçõesqueasdefendiam,tiveramumpapelimportantenograndeconjunto
de reformas francesas, do final do século XIX e do começo do século XX (TOPALOV, 1999). Mas
énoseiodorestritogrupoLaScienceSociale queAgacheencontrouoselementosquelhepermitiram
articular um estudo positivo e sistemático da cidade com suas preconizações urbanísticas.
Considerando que o meio representa um papel essencial em urbanismo, ele se embasou nos
ensinamentos desse pequeno grupo de “le playsiens” inspirados por Tourville e Desmolins. O
urbanistacompletousuastrocasintelectuaiscomosmembrosdoInstitutoInternacionaldeSociologia,
eemparticularcomseucoordenador,RenéWorms.Nota-sequeAgachemanteverelaçõescientíficas
ativas principalmente com pesquisadores cujas contribuições não são institucionalizadas pela
universidade,diferentementedaescolasociológicadeDurkheimoudageografiadeVidaldeLaBlache
e de seus seguidores. Ele perdia assim, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial quando as
disciplinas universitárias se estabilizaram, o apoio que as ciências reconhecidas institucionalmente
poderiam lhe trazer para legitimar suas idéias.
Seu percurso privilegiava, ao lado de uma consulta da população sempre difícil de realizar,
estudosdetalhadosdomeiofísicoehumanofundadasnummétodoqueelequeriaquefossecientificamente
rigoroso.OexamedoseuplanoparaacidadedoRiodeJaneiromostrabemestapreocupação.Aoconstituir
um verdadeiro tratado de urbanismo, ele reúne uma quantidade considerável de informações ambientais,
sociais e jurídicas, sem que o espaço público, certamente presente, pareça constituir uma entrada
particularmente importante na problemática.
A primeira e quarta parte correspondiam a esta preocupação de compreender as
interdependências que regiam o meio urbano do Rio de Janeiro. A segunda parte explicitava os
problemas e as formas de solucioná-los, enquanto que a terceira enunciava as disposições jurídicas e
legais a tomar para instrumentalizar o plano. Se a primeira parte fornecia, sobretudo, uma visão
histórica do desenvolvimento da cidade e resume seus pontos fortes e fracos, a quarta se consagrava
aos grandes problemas sanitários apoiando-se num exame detalhado do meio. Mais de cem páginas
são dedicadas ao estudo das condições físicas de saúde: sítio, temperatura, correntes marinhas,
pluviosidade, pressão atmosférica, natureza dos solos, drenagem das águas pluviais etc, assim como
existiam também dados sobre a mortalidade e o fornecimento de água. Tratava-se, em suma, de um
estudo detalhado da ecologia natural e sanitária da cidade. Longas passagens concerniam sobretudo
à hidrologia, mas também enfocavam o problema do destino dos dejetos e do esgoto. Soluções ou
indicações a seguir foram anunciadas da forma mais documentada e operacional possível.
Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
126 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no
11, 12 e 13 - set./out., 2003
Em sua essência, o que Agache propôs como estudo do meio é uma verdadeira
ecologia urbana, de elevado nível documentário e científico, mas ela se referencia a uma
problemática sanitária. A consideração do meio era, na verdade, reduzida a uma ecologia da
saúde à base de ciências naturais e de engenharia. Essa insistência na saúde e soluções
técnicas refletia, de fato, menos a tradicional preocupação higiênica, do que a inspiração
devida à postura médica que Agache tenta insuflar no urbanismo.
Umplanoparatratar
“Desejo que vejaes em mim uma espécie de médico, que foi consultado e se
julga feliz por trazer os seus conhecimentos e poder fazê-los valer no caso pathologico
submettido à sua apreciação”.
“Digo caso pathológico, porque Mlle Carioca, que acabo de visitar, está
certamente doente; não temais, porém, porquanto a sua moléstia não é congênita é
daquellas que são passíveis de cura, pois o seu mal consiste em uma crise de
crescimento.”(AGACHE, 1930a: 5)
É necessário, então, prescrever um remédio: A Senhorita Carioca, deante do rápido
desenvolvimento da sua circulação, disso se ressente. A sua respiração, a sua circulação e a sua
digestão dentro em pouco, estarão ameaçadas. Que fazer? O médico precisa lhe prescrever um
regime severo, uma norma de progresso e de disciplina, e dar-lhe com urgência um plano
regulador que lhe permitta desabrochar favoravelmente.” (AGACHE, 1930b: 21)
Com humor, Agache se dirigia a um grande público, apoiando-se vastamente na metáfora
do organismo. Tratava-se, obviamente, de uma liberdade metafórica, uma vez que a comparação
não se fixava num sistema estrito de analogias, privilegiando a busca de efeitos retóricos dos
quais poderíamos nos valer. Assim, a cidade é identificada pelo recurso (comum nessa época) de
termos tais quais “organismo vivo”, “cérebro” ou “corpo urbano”, e ela foi objeto de definições
variáveis. No texto que acompanha o plano para o Rio de Janeiro, Agache definiu a cidade, desde
a primeira frase, como uma “entidade coletiva que possui um organismo e funções”, antes de
mencionar duas frases mais tarde, que “o corpo urbano - assim como o corpo humano - deve
responder à um conjunto de regras que condicionam a saúde”, prosseguindo com o tema, como
no seguinte exemplo: “A cidade grande é o coração, o centro nervoso e o cérebro de uma região
inteira e, às vezes, de um país” (AGACHE, 1932: XVII e 73). Estamos certamente no terreno
da metáfora, que procura instigar no ouvinte ou leitor uma nova forma de enxergar as coisas - a
imagem do organismo servindo como forma de conscientização de que o objeto considerado não
é simplesmente uma justaposição de elementos (BERDOULAY, 1982).
É por isso, provavelmente, que a única comparação mantida, de tipo analógico, apareceu
na primeira conferência, retomada na introdução de seu plano para o Rio de Janeiro. Os grandes
traços e as grandes funções do organismo foram revisitadas: a circulação, que leva a toda
parte a substância necessária à vida; a respiração para recomendar uma aeração suficiente da
área construída (graças aos pulmões representados pelos espaços livres coletivos) e evitar a
“asfixia”; e enfim a digestão, para chamar a atenção sobre o aprovisionamento e os dejetos e
para evitar a “intoxicação”. Mas Agache não foi além da comparação: as análises que se sucedem
quase não fazem mais alusão à analogia e repousam sobre as formas habituais do discurso
científico ou argumentativo.
127
Poroutrolado,aimportânciadametáforasedesdobravasignificativamentenaconcepçãoque
Agachetemdapráticadeurbanismo.Defato,oespecialista,emfacedeumorganismovivo,nãoestavaem
situação de modificá-lo substancialmente. Ele se encontrava mais na posição de quem poderia ajudar, ou
seja,naposiçãodeum“clínico”:Ourbanista“devetraçarumdiagnósticoprecisosobreoscasosquelhesão
submetidos,trazerremédiosaosmalesqueseapresentemesobretudoindicaroregimeaseguirparaqueo
corpo urbano se desenvolva o melhor possível” (AGACHE, 1932: XIX). A metáfora do organismo
orientava, então, a definição do papel do urbanista, porque a cidade é ao mesmo tempo personalizada e
naturalizada. De fato, seu desenvolvimento parecia natural e o urbanista era impotente diante dessa
tendência de fundo: “Assim como o ser humano, uma cidade se desenvolve, se enfraquece ou morre por
razõesdefinidasecertas”(ibid:73).Istoenquadravaopapeldourbanista:“Asaúde,odesenvolvimento,a
existência do corpo urbano são regidos pelas mesmas leis que as do corpo humano. Assim como um ser
vivo, a aglomeração urbana está exposta a indisposições, a doenças ou a crises. (...) Uma cidade que se
desenvolve passa, como um ser humano, por sua crise de crescimento e, se não tomamos cuidado, se não
intervirmos a tempo, as conseqüências para o futuro podem ser desastrosas” (ibid: XVIII).
Era, portanto, a idéia do desenvolvimento natural da cidade e das patologias que a
acompanhavam que portava eficazmente a metáfora médica que Agache se valia. Mas, ratificando
a concepção do urbanista como médico, a metáfora fixava a concepção da cidade como uma
entidade à “curar”, e a aproximava da prospectiva como um projeto terapêutico. Uma prospectiva
que tende à pesquisa de patologias se desvia do que poderia, mesmo num ser sadio, gerar o
novo, desenvolver certos potenciais, favorecer a criação. Somente a preocupação com a beleza
das cidades parecia escapar, em Agache, dessa lógica terapêutica (senão, teríamos que dizer que
ele antecipou o sucesso da cirurgia estética carioca!).
Desta forma, neste nível metafórico, o espaço público se reduziria a duas das três
funções do organismo: a circulação (“ruas, avenidas, travessas”) e a respiração (“os espaços
livres, parques, jardins, passeios, campos de esportes etc”). Emprestando suas funções ao
espaço público, a metáfora não fornecia uma visão muito original e não solicitava na prospectiva
que ela propunha um uso mais criativo, podendo desembocar em outras funcionalidades. Esta
posição profissional de Agache é ainda mais surpreendente quando se vê que ele sempre
manifestou, pessoalmente, um gosto pela criação artística e cultural. Sentimos, todavia, que ele
preferiu encontrar-se em situações nas quais a lógica terapêutica, na qual ele procura relegar o
papel do urbanista, não possui pertinência.
De fato, as condições de exercício do saber do urbanista variavam em função do
quadro que lhes era apresentado. Agache distinguiu quatro tipos de situação: as criações urbanas,
os planos de extensão, os trabalhos de reforma ou de sistematização e os trabalhos de manejo
parciais (AGACHE, 1917). Nos dois últimos casos, o trabalho do urbanista é fortemente
limitado pelo que já estava construído e a lógica terapêutica se impôs à sua ação urbanística. As
coisas eram obviamente diferentes nos outros casos e é por eles que Agache revelava um maior
interesse, pois eles abriam um campo livre à sua ciência. Nesse sentido, ele comentava também
claramente: “O urbanista deve agir com grande prudência uma vez que sugere transformações
radicais no interior de uma cidade (...), mas é outra coisa quando se trata da extensão” (AGACHE
1923: 147). É por isto que a cidade-jardim, a cidade-nova ou ainda a “cidade-industrial” o
interessavam ao mais alto ponto. Segundo o autor, era possível pensar então que os planos de
manejo de novos espaços, vinham para “propor soluções claramente sistematizadas que não
excluam (...) o pitoresco e o agradável”(AGACHE 1917: 246). Se a beleza para ele estaria
relacionada com harmonia e com proporções, o pitoresco nos levava, essencialmente, às qualidades
Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
128 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no
11, 12 e 13 - set./out., 2003
paisagísticas do espaço público (perspectivas, estilo das ruas, localização de edifícios e parques
etc). O pitoresco permaneceria, todavia “uma questão de gosto; é impossível dar conselhos
precisos a respeito disso”, pois “cada aglomeração pede soluções que lhe são próprias e a
experiência artística do urbanista só pode entrever o que se deveria fazer em cada caso determinado”
(AGACHE 1923: 149). Em suma, o manejo do espaço público, reduzido à procura do pitoresco,
dependia exclusivamente do temperamento artístico do urbanista...
Com isso o urbanista via complicada sua tarefa de adaptar a cidade às necessidades
modernas e ao aumento no rendimento da atividade humana. É por isso que, face ao problema
das favelas, Agache não se mostrou muito preocupado: “O problema das remodelações é mais
fácil com relação às favelas, que se varrem como se fora poeira” (GODOY 1943: 79). Por outro
lado, ele achava muito mais complicada a intervenção em Santa Teresa, onde belas casas, já
construídas, encareciam demais as possibilidades de reconstrução do todo.
O urbanismo de Agache era, assim, francamente voltado ao futuro. Compreende-se
melhor porque, no Brasil, Agache posava como um modernista cujas concepções, no fundo,
prepararam o movimento que Le Corbusier viria a defender. A moderação do primeiro lhe
asseguraria uma audiência segura na reflexão urbanística carioca, enquanto que a posteridade do
segundo se desenrolaria mais na arquitetura (PEREIRA, 1996). Mas, mesmo se o urbanismo de
Agache procurasse se acomodar ao peso do passado, ele é mais subjugado do que beneficiado
dessa situação. Nessa perspectiva modernista, o espaço público parecia algo que poderia ser
criado de todas as peças, suas qualidades herdadas do passado não pareciam ser vantajosas.
Como a prospectiva podia marginalizar tanto o espaço público num urbanista que não tinha
nada à priori contra este conceito?
Aarmadilhafuncionalista
Vimos que a metáfora da medicina, a propósito da visão da cidade, diluía o
espaço público ao seio das funções orgânicas de circulação e de respiração. Mas esse
funcionalismo não acabava nesse nível metafórico, pois ele entrava em ressonância
com a preocupação de eficácia econômica que caracterizava o urbanismo progressista
da época. De fato, na sua concepção de sociedade, Agache insistia no que facilitava
seu funcionamento econômico. A partir daí, sua abordagem era, afinal, bem normativa,
apesar de sua preocupação à la Le Play de trabalhar empiricamente.
Em seus trabalhos e planos, Agache via a cidade através do prisma de uma concepção
funcionalistaeeconômica.Ariquezadavidasocial,suacomplexidadeeas múltiplas formas que ela
manifestava no espaço urbano pareciam escapar-lhe. É por isso que o espaço público, ainda
aqui, não o guiava em suas análises científicas mais fundamentais. Na verdade, são as funções
urbanas mais clássicas que mantinham mais sua atenção, pois elas traziam consigo o
desenvolvimento econômico: funções comercial e industrial, funções política e administrativa e,
como acessório, a função turística. A metáfora médica era abandonada e o funcionalismo persistia,
sempre em detrimento da atenção dada ao espaço público.
Quanto às recomendações concretas, ainda mais que as análises, elas revelavam a
que ponto o funcionalismo anestesiava os recursos da vida social que Agache desejava, no
entanto, promover. Certamente, ele insistia sobre a composição geral, sobre a necessidade
129
de construir um plano que conferiria uma coerência global à cidade. Concretamente ela deveria
assegurar a “satisfação lógica e ordenada das exigências econômicas e sociais” (AGACHE 1932:
85) e se traduzia por uma ordem espacial fundada sobre a separação e a hierarquização. À escala
da cidade, grandes áreas eram repartidas cada uma segundo sua função: no centro, o comando de
decisões e os negócios de alto nível; nos bairros de produção, tudo o que estaria ligado à
indústria ou à agricultura; nos bairros de consumo, o comércio e o centro universitário; nos
bairros residenciais de formas diferentes, as diversas categorias sociais. Os espaços públicos
existiam, mas eram ainda submetidos à especialização funcional dos bairros.
Este princípio de ordem se desenvolveu em todas as escalas: cada função parecia ter
seus próprios manejos e estes estavam cada um em seu lugar. O plano do Rio de Janeiro
descreveu em detalhe os serviços e os equipamentos necessários, que foram notados no espaço
público: praças, corredores viários, espaços livres, terrenos de jogos, jardins, parques e mesmo
estádios, escolas e bibliotecas. Mas esses mesmos eram justificados principalmente em termos
de necessidades para um bom funcionamento da cidade. Se a justificativa era econômica, ela era
também indissociavelmente social.
A interdependência funcional do econômico e do social fez com que Agache exprimisse
sua “filosofia social” pela necessidade de assegurar o bem-estar da população urbana: o
melhoramento do conforto material e da higiene de vida constituía um objetivo incontornável
para o urbanista. Os espaços públicos foram abordados principalmente sob este ângulo. Uma
atenção particular foi assim dada a todas as intervenções que facilitaram a saúde pelo exercício
corporal: “a cultura do físico, o desenvolvimento ao ar livre das forças vivas dos nossos corpos
se tornaram elementos indispensáveis do nosso dia-a-dia” (ibid: 84). Nessa mesma linha, Agache
abordava também os espaços públicos sob o ângulo do simbolismo que eles poderiam comportar,
a fim de transmitir certos valores. Constatando em especial que o Rio de Janeiro não estava à
altura do que deveria ser a capital do Brasil, ou seja, constatando a diferença entre a realidade de
uma função e o estado patológico em que ela se encontrava no momento em que ele foi convidado
a intervir, Agache propôs, para a parte central, o monumentalismo e o ordenamento dos grandes
prédios públicos e dos jardins, juntos aos edifícios comerciais a fim de exprimir os “ideais
econômicos e sociais que caracterizam nossa época” (ibid: 85). É por isso, entre outros, que ele
apoiava o manejo de uma ampla praça pública em forma de semi-círculo, aberta sobre a baía, que
pudesse constituir a “porta” da cidade e do país do qual ela era a capital - projeto que era objeto
de diversas polêmicas (STUCKENBRUCK, 1996; SILVA, 1996). Assim, colocava que “em
face à baía e no lugar de honra, se instalará o governo federal num conjunto que dará à obra do
homem na cidade a nota grandiosa que lhe falta. O Rio de Janeiro oferecerá assim à admiração do
visitante chegando do mar uma entrada monumental refletindo a importância e os destinos da
cidade” (AGACHE, 1932: 116).
Aparecendo principalmente como suporte de saúde, bem-estar e símbolo de ordem e
poder estatal, os espaços públicos contribuíam ao bom funcionamento da cidade, sem mais
acrescentar. O efeito desse funcionalismo que tendia a desvalorizar a transversalidade do espaço
público e, assim, o seu potencial para o debate e a emergência de novas idéias sociais, políticas
ou culturais, foi agravado pela concepção prospectiva de Agache. Buscando diagnosticar as
disfunções a fim de facilitar o retorno ao nível normal, Agache dirigiu todos seus esforços à
formulação de uma prospectiva que se inscreveria na continuidade das lógicas econômica e
Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
130 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no
11, 12 e 13 - set./out., 2003
ecológica.Esta abordagem desviaria, assim, sua atenção da procura de condições de emergência
do novo, do que é dificilmente previsível no seio da sociedade e da cultura.
De fato, aparecia mesmo uma atitude contrária: o objetivo da prospectiva é o de
reduzir a contingência mais do que tirar partido dela. Aliás, a propósito de seu plano do Rio de
Janeiro, Agache se afirmaria convencido que ele continuaria válido, não importando quais seriam
os eventos futuros. É somente a realização dos objetivos que tomaria mais ou menos tempo,
dependendo das conjunturas econômicas. E mesmo quando o autor entrevia o impacto da
aviação a longo prazo, Agache entendia que os modelos dados por seu plano se acomodariam
positivamente: “os manejos que nós realizamos ou que nós prevemos - e que nós somos
obrigados de conceber em função dos dados atuais - não serão, então, nem totalmente destruídos
nem se tornarão completamente inúteis. Pode-se pensar que eles constituirão sempre uma base
sobre a qual virão se desenvolver os manejos condicionados pelas novas descobertas. A
organização lógica que nós preconizamos continuará de um interesse sempre essencial, não
importa quais sejam as contingências que possa trazer o progresso da civilização” (ibid: 89).
Prescrevendo a longo prazo e de forma unívoca, Agache reforçava seu funcionalismo e deixava
escapar o potencial que o espaço público poderia trazer à evolução urbana e ao urbanismo.
Paraconcluir
O plano Agache do Rio de Janeiro foi a realização de um grande urbanista que trabalhou
no seio de uma escola de pensamento na qual a ecologia urbana foi uma de suas preocupações
centrais, dando à sua modernidade uma tonalidade diferente daquela que a “arquitetura moderna”
à la Le Corbusier foi, por muito tempo, referência (BERDOULAY e SOUBEYRAN 2002).
Agache tinha ligado suas inclinações modernistas a uma abordagem do meio que se inspirava em
Le Play e em alguns de seus discípulos e que estava dividida entre uma lógica físico-química
(sanitária) e econômica, sobre a qual deveria se apoiar a normalidade do funcionamento urbano.
Nessa abordagem, o papel dado ao espaço público era bastante reduzido.
A origem do problema vem do funcionalismo no qual Agache inscreveu seu percurso.
Privilegiando a metáfora médica para caracterizar o papel do urbanista, ele o confina ao diagnóstico
das anomalias ou das patologias ligadas ao crescimento e a corrigi-los. Com isso, Agache reduziu
consideravelmente o papel que ele poderia dar ao espaço público, pois ele o emprestava funções
que tinham lógicas diversas (circulação, saúde, bem estar etc), mas que poderiam todas ser
levadas a uma justificativa econômica. O espaço público não era abordado como fonte potencial
de novidades, de emergência de idéias ou de comportamentos inovadores. Inscrevendo-se na
continuidade, a prospectiva segundo Agache bania a contingência e não deixava entrever uma
criatividade particular, oriunda do espaço público.
Chegamos assim a um impasse análogo àquele que as versões mais recentes do
funcionalismo conheceram. Como mostraram os trabalhos de C. Alexander, se propormos uma
forma a cada função urbana, poderíamos pensar que seria possível gerar a forma da cidade;
ora,tal afirmação é falsa, pois não se poderiam isolar todas as formas, ou todas as funções umas
das outras: elas se combinam de formas diversas e, ainda que Alexander nãotenha insistido nesse
ponto, é freqüentemente o espaço público que o permite (ALEXANDER, 1964 e 1965).
Não se deve, no entanto, pensar que Agache era insensível a esta confrontação
de opiniões que fornecia a cidade. Ele tinha consciência, mas reduzia suas possibilidades:
131
“Cumpre que em uma aglomeração haja o respeito e a tolerância mútuos, porquanto
há um estreito contato de vizinhança. Certa polidez deve existir entre os habitantes, e
isto é a urbanidade, vocábulo, aliás, muito antigo” (AGACHE, 1930a: 9). Contudo, “a
mesma polidez deve existir entre as coisas e a isto se chama urbanismo, o qual exige
preceitos diversos: regulamentos de construção, de circulação e de higiene” (ibid.).
Foram estas as palavras de um homem que amava a cidade, mas essencialmente
pelo que ela representava de comodidade e de sociabilidade bem ordenada. Por sua
concepção de urbanismo,o espaço público estaria paralisado num papel passivo, onde
o habitante seria mais citadino que cidadão.
Bibliografia
ABREU, Mauricio de Almeida (1997): “Penser la ville au Brésil : du XVIe au début du XXe
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Editions, p. 13-36.
AGACHE, Donat Alfred (1917): “Les grandes villes modernes et leur avenir”, Exposition de la
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Agache modernismo

  • 1. 123 Resumo A preocupação atual em delimitar os princípios de um desenvolvimento urbano sustentável evoca freqüentemente a redefinição da participação popular nesse processo. Ao fazê-lo, remete esse clamor contemporâneo a uma discussão anterior e essencial, acerca da organização do debate público e da sua inscrição no espaço. Nesse sentido, admite-se que é possível encontrar elementos interessantes para a reflexão dos espaços públicos nos dias de hoje através de uma interpretação da sua constituição no passado. É justamente nesse intuito que se propõe aqui uma análise do Plano Agache, parcialmente aplicado na cidade do Rio de Janeiro durante os anos 30. Ao refletir sobre as conseqüências diretas e indiretas da sua intencionalidade direcionada a organização dos espaços na cidade, pode-se especular que a riqueza da vida social, a sua complexidade e as suas múltiplas formas parecem por vezes estarem conscientemente colocadas de lado. Dessa forma, será discutido como, em sua concepção positivista, o urbanista abria mão de certas dimensões fundamentais para a constituição espaço público, tornando-o paralisado, passivo, ou seja, uma área onde o habitante é mais citadino que cidadão. Introdução Juntamente com a crítica pós-modernista da sociedade, se manifesta um interesse crescente pelo espaço público nos últimos 25 anos (GOMES, 2002). No que tange ao urbanismo, sabe-se que alguns argumentos modernistas reduziam bastante a importância dos espaços públicos tradicionais (chegando até a recomendar a eliminação da rua), mas a complexidade dos debates, subseqüente a reação pós-modernista, nos impede de fazer uma oposição radical entre as duas correntes. Mesmo admitindo que o pós-modernismo teve uma forte influência, constata-se *Laboratório SET, CNRS-UPPA Modernism and Public Space: Rio de Janeiro’s Agache Plan Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro Vincent Berdoulay* urban space, seem not to have called his attention. This is not to say, however, that he was insensible to the confrontations of opinions and acts which characterize the city. He was aware of them but downgraded their analytical possibilities. This is why, in his plan, city dwellers ended up playing the role of city inhabitants rather than that of citizens. Keywords: Urbanism, public space, ecology, health. Rio de Janeiro’s Agache plan, developed under the supervision of French urbanist Alfred Agache at the end of the 1920’s, is a great achievement of a planner who followed the guidelines of urban ecology. This is why the concept of modernity which is embedded in the plan is somewhat different from the one defended by modernist architects of the time, such as Le Corbusier. Agache sees the city according to a functionalist view. The richness and complexity of social life, and the multipleforms by which it manifests itself in
  • 2. 124 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no 11, 12 e 13 - set./out., 2003 que a modernidade persiste, ainda que se expressando sob novas formas, nas quais nota-se que o espaço público é um dos pontos que retém particularmente a atenção. Por conseguinte, o clamor contemporâneo por um desenvolvimento urbano sustentável faz um novo apelo a uma participação mais intensa da população, o que nos coloca novamente o problema da organização do debate públicoedasuainscriçãonoespaço.Deumaformamaisgeral,aquestãodaecologiaurbanacaminha há muito tempo em um mesmo sentido, o do florescimento da cidadania e, portanto, dos espaços públicos que a promovam (BERDOULAY, 1999). Nesse contexto, pode ser interessante nos aprofundar na contribuição de Agache, pensador e prático do urbanismo que, mesmo fortemente ancorado no pensamento francês do início do século XIX, não se mostrou insensível ao “canto das sereias” do modernismo, como sua ação no Brasil revelou amplamente. Depois de lembrar alguns elementos do percurso de Agache, mostraremos, a respeito de seu plano para o Rio de Janeiro de 1937, como suas tendências modernistas fizeram-no chegar a uma certa desvalorização do papel do espaço público na ecologia urbana, e isto independentemente de suas intenções. O plano Agache do Rio será o substrato de uma reflexão sobre as razões que desviam o planejamento de um objetivo inclusivo do espaço público para efeitos que o desvalorizam. Uma abordagem da ecologia urbana Donat-Afred Agache (1875-1959) foi convidado a visitar a cidade do Rio de Janeiro em 1927, em vista da preparação do plano de manejo da cidade. Suas proposições foram publicadas na França, em 1930, em português, e em 1932, em francês (AGACHE, 1930c e 1932). Como o primeiro plano urbanístico datava de 1875 e o crescimento urbano se fazia sentir, sobretudo depois dos anos 20, esse segundo plano para uma cidade que é a capital do país constitui uma questão importante para seus habitantes. Sua importância se destaca pelas controvérsias que cercaram a elaboração, particularmente a retirada dos apoios recebidos sucessivamente por engenheiros e arquitetos, cujas rivalidadesencarnavamposicionamentosdiferentesemrelaçãoàmodernidade(STUCKENBRUCK, 1996; SILVA, 1996; ANDRADE, 1996; ABREU, 1997). Ainda que poucas realizações concretas tenham decorrido desse plano, sua influência perdurou pelas idéias que ele permitiu discutir (como a de zoneamento) e pelo primeiro grande código de obras editado em 1937 a partir do mesmo, que continuaainspiraralegislaçãourbanísticaatual.Maisainda,ainstalaçãodeAgachenoBrasilapartir de 1939 e os planos aos quais ele contribuiu lhe asseguraram uma posteridade brasileira maior que aquela que o urbanista teve na França, como o ilustra a personalidade de Afonso Reidy, seu antigo assistente, ou os diversos avatares de seu plano para Curitiba, de 1943. A continuidade, discutida e discutível, entre os fundamentos desse plano e o sucesso dessa cidade no que diz respeito à ecologia (e cidadania) urbana, mostram as ligações que unem o pensamento de Agache às preocupações contemporâneas. De fato, Agache, que já havia trabalhado fora da França antes de desembarcar no Rio de Janeiro, fazia parte de uma corrente de pensamento original na história do urbanismo francês, mas relativamente esquecida. Trabalhos recentes contribuem para mostrar sua riqueza, diversidade, abertura de visão e sua contribuição (BERDOULAY et CLAVAL, 2001). Vítima do sucesso e da autocelebração dos urbanistas que reivindicavam a doutrina dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, esta verdadeira escola francesa de pensamento urbanístico desenvolveu, até a Segunda Guerra Mundial, uma atividade intelectual considerável para melhor compreender a cidade afim de melhor agir sobre ela, tendo um sucesso notável nos concursos internacionais.
  • 3. 125 Dentrodessaescolaseinscrevetodaumareflexãosobreopapeldomeionaanálisedeumacidade enasproposiçõesdeaçõesrecomendadas.Éliteralmenteumaecologiaurbanaqueentãosedesenhaeque dá aos debates recentes sobre a questão uma profundidade histórica ignorada até recentemente (BERDOULAYetSOUBEYRAN,2001).Ora,Agacheeraumdosanimadoresdessareflexãoeaabordagem que ele propôs inspirou todos seus planos. Mas, como para muitos de seus colegas profissionais do urbanismo,oreconhecimentoqueelerecebeunaFrançafoifreqüentementeilusório.Membroinfluenteda sociedadefrancesadeurbanistas,daqualelefoiduranteumbomtemposecretário-geralantesdesetornar presidenteem1930,elenãofoiprofessordaEcoledesHautesEtudesUrbainesfundadadepoisdaSegunda Guerra Mundial, instituição chave para formação de profissionais franceses. É um pouco como se o exterior,sobretudooBrasil,tivessefuncionadocomoseuespaçoderealização.Deve-sedizerqueofatode tertrabalhadonoBrasildeGetúlioVargasouemPortugaldeSalazarnãoéindicativodesuaspreferências ideológicas, mas de sua convicção de que o mais importante aparece não na política governamental, mas preferencialmentenoterreno,graçasaummanejofundadonoconhecimentocientífico. Fundamentalmente, seu pensamento é marcado pelo positivismo de Le Play e de seus sucessores ligados à revista La Science sociale (BRUANT, 1994 e 2001). As idéias de Le Play, por intermédiodasváriasassociaçõesqueasdefendiam,tiveramumpapelimportantenograndeconjunto de reformas francesas, do final do século XIX e do começo do século XX (TOPALOV, 1999). Mas énoseiodorestritogrupoLaScienceSociale queAgacheencontrouoselementosquelhepermitiram articular um estudo positivo e sistemático da cidade com suas preconizações urbanísticas. Considerando que o meio representa um papel essencial em urbanismo, ele se embasou nos ensinamentos desse pequeno grupo de “le playsiens” inspirados por Tourville e Desmolins. O urbanistacompletousuastrocasintelectuaiscomosmembrosdoInstitutoInternacionaldeSociologia, eemparticularcomseucoordenador,RenéWorms.Nota-sequeAgachemanteverelaçõescientíficas ativas principalmente com pesquisadores cujas contribuições não são institucionalizadas pela universidade,diferentementedaescolasociológicadeDurkheimoudageografiadeVidaldeLaBlache e de seus seguidores. Ele perdia assim, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial quando as disciplinas universitárias se estabilizaram, o apoio que as ciências reconhecidas institucionalmente poderiam lhe trazer para legitimar suas idéias. Seu percurso privilegiava, ao lado de uma consulta da população sempre difícil de realizar, estudosdetalhadosdomeiofísicoehumanofundadasnummétodoqueelequeriaquefossecientificamente rigoroso.OexamedoseuplanoparaacidadedoRiodeJaneiromostrabemestapreocupação.Aoconstituir um verdadeiro tratado de urbanismo, ele reúne uma quantidade considerável de informações ambientais, sociais e jurídicas, sem que o espaço público, certamente presente, pareça constituir uma entrada particularmente importante na problemática. A primeira e quarta parte correspondiam a esta preocupação de compreender as interdependências que regiam o meio urbano do Rio de Janeiro. A segunda parte explicitava os problemas e as formas de solucioná-los, enquanto que a terceira enunciava as disposições jurídicas e legais a tomar para instrumentalizar o plano. Se a primeira parte fornecia, sobretudo, uma visão histórica do desenvolvimento da cidade e resume seus pontos fortes e fracos, a quarta se consagrava aos grandes problemas sanitários apoiando-se num exame detalhado do meio. Mais de cem páginas são dedicadas ao estudo das condições físicas de saúde: sítio, temperatura, correntes marinhas, pluviosidade, pressão atmosférica, natureza dos solos, drenagem das águas pluviais etc, assim como existiam também dados sobre a mortalidade e o fornecimento de água. Tratava-se, em suma, de um estudo detalhado da ecologia natural e sanitária da cidade. Longas passagens concerniam sobretudo à hidrologia, mas também enfocavam o problema do destino dos dejetos e do esgoto. Soluções ou indicações a seguir foram anunciadas da forma mais documentada e operacional possível. Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
  • 4. 126 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no 11, 12 e 13 - set./out., 2003 Em sua essência, o que Agache propôs como estudo do meio é uma verdadeira ecologia urbana, de elevado nível documentário e científico, mas ela se referencia a uma problemática sanitária. A consideração do meio era, na verdade, reduzida a uma ecologia da saúde à base de ciências naturais e de engenharia. Essa insistência na saúde e soluções técnicas refletia, de fato, menos a tradicional preocupação higiênica, do que a inspiração devida à postura médica que Agache tenta insuflar no urbanismo. Umplanoparatratar “Desejo que vejaes em mim uma espécie de médico, que foi consultado e se julga feliz por trazer os seus conhecimentos e poder fazê-los valer no caso pathologico submettido à sua apreciação”. “Digo caso pathológico, porque Mlle Carioca, que acabo de visitar, está certamente doente; não temais, porém, porquanto a sua moléstia não é congênita é daquellas que são passíveis de cura, pois o seu mal consiste em uma crise de crescimento.”(AGACHE, 1930a: 5) É necessário, então, prescrever um remédio: A Senhorita Carioca, deante do rápido desenvolvimento da sua circulação, disso se ressente. A sua respiração, a sua circulação e a sua digestão dentro em pouco, estarão ameaçadas. Que fazer? O médico precisa lhe prescrever um regime severo, uma norma de progresso e de disciplina, e dar-lhe com urgência um plano regulador que lhe permitta desabrochar favoravelmente.” (AGACHE, 1930b: 21) Com humor, Agache se dirigia a um grande público, apoiando-se vastamente na metáfora do organismo. Tratava-se, obviamente, de uma liberdade metafórica, uma vez que a comparação não se fixava num sistema estrito de analogias, privilegiando a busca de efeitos retóricos dos quais poderíamos nos valer. Assim, a cidade é identificada pelo recurso (comum nessa época) de termos tais quais “organismo vivo”, “cérebro” ou “corpo urbano”, e ela foi objeto de definições variáveis. No texto que acompanha o plano para o Rio de Janeiro, Agache definiu a cidade, desde a primeira frase, como uma “entidade coletiva que possui um organismo e funções”, antes de mencionar duas frases mais tarde, que “o corpo urbano - assim como o corpo humano - deve responder à um conjunto de regras que condicionam a saúde”, prosseguindo com o tema, como no seguinte exemplo: “A cidade grande é o coração, o centro nervoso e o cérebro de uma região inteira e, às vezes, de um país” (AGACHE, 1932: XVII e 73). Estamos certamente no terreno da metáfora, que procura instigar no ouvinte ou leitor uma nova forma de enxergar as coisas - a imagem do organismo servindo como forma de conscientização de que o objeto considerado não é simplesmente uma justaposição de elementos (BERDOULAY, 1982). É por isso, provavelmente, que a única comparação mantida, de tipo analógico, apareceu na primeira conferência, retomada na introdução de seu plano para o Rio de Janeiro. Os grandes traços e as grandes funções do organismo foram revisitadas: a circulação, que leva a toda parte a substância necessária à vida; a respiração para recomendar uma aeração suficiente da área construída (graças aos pulmões representados pelos espaços livres coletivos) e evitar a “asfixia”; e enfim a digestão, para chamar a atenção sobre o aprovisionamento e os dejetos e para evitar a “intoxicação”. Mas Agache não foi além da comparação: as análises que se sucedem quase não fazem mais alusão à analogia e repousam sobre as formas habituais do discurso científico ou argumentativo.
  • 5. 127 Poroutrolado,aimportânciadametáforasedesdobravasignificativamentenaconcepçãoque Agachetemdapráticadeurbanismo.Defato,oespecialista,emfacedeumorganismovivo,nãoestavaem situação de modificá-lo substancialmente. Ele se encontrava mais na posição de quem poderia ajudar, ou seja,naposiçãodeum“clínico”:Ourbanista“devetraçarumdiagnósticoprecisosobreoscasosquelhesão submetidos,trazerremédiosaosmalesqueseapresentemesobretudoindicaroregimeaseguirparaqueo corpo urbano se desenvolva o melhor possível” (AGACHE, 1932: XIX). A metáfora do organismo orientava, então, a definição do papel do urbanista, porque a cidade é ao mesmo tempo personalizada e naturalizada. De fato, seu desenvolvimento parecia natural e o urbanista era impotente diante dessa tendência de fundo: “Assim como o ser humano, uma cidade se desenvolve, se enfraquece ou morre por razõesdefinidasecertas”(ibid:73).Istoenquadravaopapeldourbanista:“Asaúde,odesenvolvimento,a existência do corpo urbano são regidos pelas mesmas leis que as do corpo humano. Assim como um ser vivo, a aglomeração urbana está exposta a indisposições, a doenças ou a crises. (...) Uma cidade que se desenvolve passa, como um ser humano, por sua crise de crescimento e, se não tomamos cuidado, se não intervirmos a tempo, as conseqüências para o futuro podem ser desastrosas” (ibid: XVIII). Era, portanto, a idéia do desenvolvimento natural da cidade e das patologias que a acompanhavam que portava eficazmente a metáfora médica que Agache se valia. Mas, ratificando a concepção do urbanista como médico, a metáfora fixava a concepção da cidade como uma entidade à “curar”, e a aproximava da prospectiva como um projeto terapêutico. Uma prospectiva que tende à pesquisa de patologias se desvia do que poderia, mesmo num ser sadio, gerar o novo, desenvolver certos potenciais, favorecer a criação. Somente a preocupação com a beleza das cidades parecia escapar, em Agache, dessa lógica terapêutica (senão, teríamos que dizer que ele antecipou o sucesso da cirurgia estética carioca!). Desta forma, neste nível metafórico, o espaço público se reduziria a duas das três funções do organismo: a circulação (“ruas, avenidas, travessas”) e a respiração (“os espaços livres, parques, jardins, passeios, campos de esportes etc”). Emprestando suas funções ao espaço público, a metáfora não fornecia uma visão muito original e não solicitava na prospectiva que ela propunha um uso mais criativo, podendo desembocar em outras funcionalidades. Esta posição profissional de Agache é ainda mais surpreendente quando se vê que ele sempre manifestou, pessoalmente, um gosto pela criação artística e cultural. Sentimos, todavia, que ele preferiu encontrar-se em situações nas quais a lógica terapêutica, na qual ele procura relegar o papel do urbanista, não possui pertinência. De fato, as condições de exercício do saber do urbanista variavam em função do quadro que lhes era apresentado. Agache distinguiu quatro tipos de situação: as criações urbanas, os planos de extensão, os trabalhos de reforma ou de sistematização e os trabalhos de manejo parciais (AGACHE, 1917). Nos dois últimos casos, o trabalho do urbanista é fortemente limitado pelo que já estava construído e a lógica terapêutica se impôs à sua ação urbanística. As coisas eram obviamente diferentes nos outros casos e é por eles que Agache revelava um maior interesse, pois eles abriam um campo livre à sua ciência. Nesse sentido, ele comentava também claramente: “O urbanista deve agir com grande prudência uma vez que sugere transformações radicais no interior de uma cidade (...), mas é outra coisa quando se trata da extensão” (AGACHE 1923: 147). É por isto que a cidade-jardim, a cidade-nova ou ainda a “cidade-industrial” o interessavam ao mais alto ponto. Segundo o autor, era possível pensar então que os planos de manejo de novos espaços, vinham para “propor soluções claramente sistematizadas que não excluam (...) o pitoresco e o agradável”(AGACHE 1917: 246). Se a beleza para ele estaria relacionada com harmonia e com proporções, o pitoresco nos levava, essencialmente, às qualidades Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
  • 6. 128 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no 11, 12 e 13 - set./out., 2003 paisagísticas do espaço público (perspectivas, estilo das ruas, localização de edifícios e parques etc). O pitoresco permaneceria, todavia “uma questão de gosto; é impossível dar conselhos precisos a respeito disso”, pois “cada aglomeração pede soluções que lhe são próprias e a experiência artística do urbanista só pode entrever o que se deveria fazer em cada caso determinado” (AGACHE 1923: 149). Em suma, o manejo do espaço público, reduzido à procura do pitoresco, dependia exclusivamente do temperamento artístico do urbanista... Com isso o urbanista via complicada sua tarefa de adaptar a cidade às necessidades modernas e ao aumento no rendimento da atividade humana. É por isso que, face ao problema das favelas, Agache não se mostrou muito preocupado: “O problema das remodelações é mais fácil com relação às favelas, que se varrem como se fora poeira” (GODOY 1943: 79). Por outro lado, ele achava muito mais complicada a intervenção em Santa Teresa, onde belas casas, já construídas, encareciam demais as possibilidades de reconstrução do todo. O urbanismo de Agache era, assim, francamente voltado ao futuro. Compreende-se melhor porque, no Brasil, Agache posava como um modernista cujas concepções, no fundo, prepararam o movimento que Le Corbusier viria a defender. A moderação do primeiro lhe asseguraria uma audiência segura na reflexão urbanística carioca, enquanto que a posteridade do segundo se desenrolaria mais na arquitetura (PEREIRA, 1996). Mas, mesmo se o urbanismo de Agache procurasse se acomodar ao peso do passado, ele é mais subjugado do que beneficiado dessa situação. Nessa perspectiva modernista, o espaço público parecia algo que poderia ser criado de todas as peças, suas qualidades herdadas do passado não pareciam ser vantajosas. Como a prospectiva podia marginalizar tanto o espaço público num urbanista que não tinha nada à priori contra este conceito? Aarmadilhafuncionalista Vimos que a metáfora da medicina, a propósito da visão da cidade, diluía o espaço público ao seio das funções orgânicas de circulação e de respiração. Mas esse funcionalismo não acabava nesse nível metafórico, pois ele entrava em ressonância com a preocupação de eficácia econômica que caracterizava o urbanismo progressista da época. De fato, na sua concepção de sociedade, Agache insistia no que facilitava seu funcionamento econômico. A partir daí, sua abordagem era, afinal, bem normativa, apesar de sua preocupação à la Le Play de trabalhar empiricamente. Em seus trabalhos e planos, Agache via a cidade através do prisma de uma concepção funcionalistaeeconômica.Ariquezadavidasocial,suacomplexidadeeas múltiplas formas que ela manifestava no espaço urbano pareciam escapar-lhe. É por isso que o espaço público, ainda aqui, não o guiava em suas análises científicas mais fundamentais. Na verdade, são as funções urbanas mais clássicas que mantinham mais sua atenção, pois elas traziam consigo o desenvolvimento econômico: funções comercial e industrial, funções política e administrativa e, como acessório, a função turística. A metáfora médica era abandonada e o funcionalismo persistia, sempre em detrimento da atenção dada ao espaço público. Quanto às recomendações concretas, ainda mais que as análises, elas revelavam a que ponto o funcionalismo anestesiava os recursos da vida social que Agache desejava, no entanto, promover. Certamente, ele insistia sobre a composição geral, sobre a necessidade
  • 7. 129 de construir um plano que conferiria uma coerência global à cidade. Concretamente ela deveria assegurar a “satisfação lógica e ordenada das exigências econômicas e sociais” (AGACHE 1932: 85) e se traduzia por uma ordem espacial fundada sobre a separação e a hierarquização. À escala da cidade, grandes áreas eram repartidas cada uma segundo sua função: no centro, o comando de decisões e os negócios de alto nível; nos bairros de produção, tudo o que estaria ligado à indústria ou à agricultura; nos bairros de consumo, o comércio e o centro universitário; nos bairros residenciais de formas diferentes, as diversas categorias sociais. Os espaços públicos existiam, mas eram ainda submetidos à especialização funcional dos bairros. Este princípio de ordem se desenvolveu em todas as escalas: cada função parecia ter seus próprios manejos e estes estavam cada um em seu lugar. O plano do Rio de Janeiro descreveu em detalhe os serviços e os equipamentos necessários, que foram notados no espaço público: praças, corredores viários, espaços livres, terrenos de jogos, jardins, parques e mesmo estádios, escolas e bibliotecas. Mas esses mesmos eram justificados principalmente em termos de necessidades para um bom funcionamento da cidade. Se a justificativa era econômica, ela era também indissociavelmente social. A interdependência funcional do econômico e do social fez com que Agache exprimisse sua “filosofia social” pela necessidade de assegurar o bem-estar da população urbana: o melhoramento do conforto material e da higiene de vida constituía um objetivo incontornável para o urbanista. Os espaços públicos foram abordados principalmente sob este ângulo. Uma atenção particular foi assim dada a todas as intervenções que facilitaram a saúde pelo exercício corporal: “a cultura do físico, o desenvolvimento ao ar livre das forças vivas dos nossos corpos se tornaram elementos indispensáveis do nosso dia-a-dia” (ibid: 84). Nessa mesma linha, Agache abordava também os espaços públicos sob o ângulo do simbolismo que eles poderiam comportar, a fim de transmitir certos valores. Constatando em especial que o Rio de Janeiro não estava à altura do que deveria ser a capital do Brasil, ou seja, constatando a diferença entre a realidade de uma função e o estado patológico em que ela se encontrava no momento em que ele foi convidado a intervir, Agache propôs, para a parte central, o monumentalismo e o ordenamento dos grandes prédios públicos e dos jardins, juntos aos edifícios comerciais a fim de exprimir os “ideais econômicos e sociais que caracterizam nossa época” (ibid: 85). É por isso, entre outros, que ele apoiava o manejo de uma ampla praça pública em forma de semi-círculo, aberta sobre a baía, que pudesse constituir a “porta” da cidade e do país do qual ela era a capital - projeto que era objeto de diversas polêmicas (STUCKENBRUCK, 1996; SILVA, 1996). Assim, colocava que “em face à baía e no lugar de honra, se instalará o governo federal num conjunto que dará à obra do homem na cidade a nota grandiosa que lhe falta. O Rio de Janeiro oferecerá assim à admiração do visitante chegando do mar uma entrada monumental refletindo a importância e os destinos da cidade” (AGACHE, 1932: 116). Aparecendo principalmente como suporte de saúde, bem-estar e símbolo de ordem e poder estatal, os espaços públicos contribuíam ao bom funcionamento da cidade, sem mais acrescentar. O efeito desse funcionalismo que tendia a desvalorizar a transversalidade do espaço público e, assim, o seu potencial para o debate e a emergência de novas idéias sociais, políticas ou culturais, foi agravado pela concepção prospectiva de Agache. Buscando diagnosticar as disfunções a fim de facilitar o retorno ao nível normal, Agache dirigiu todos seus esforços à formulação de uma prospectiva que se inscreveria na continuidade das lógicas econômica e Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
  • 8. 130 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no 11, 12 e 13 - set./out., 2003 ecológica.Esta abordagem desviaria, assim, sua atenção da procura de condições de emergência do novo, do que é dificilmente previsível no seio da sociedade e da cultura. De fato, aparecia mesmo uma atitude contrária: o objetivo da prospectiva é o de reduzir a contingência mais do que tirar partido dela. Aliás, a propósito de seu plano do Rio de Janeiro, Agache se afirmaria convencido que ele continuaria válido, não importando quais seriam os eventos futuros. É somente a realização dos objetivos que tomaria mais ou menos tempo, dependendo das conjunturas econômicas. E mesmo quando o autor entrevia o impacto da aviação a longo prazo, Agache entendia que os modelos dados por seu plano se acomodariam positivamente: “os manejos que nós realizamos ou que nós prevemos - e que nós somos obrigados de conceber em função dos dados atuais - não serão, então, nem totalmente destruídos nem se tornarão completamente inúteis. Pode-se pensar que eles constituirão sempre uma base sobre a qual virão se desenvolver os manejos condicionados pelas novas descobertas. A organização lógica que nós preconizamos continuará de um interesse sempre essencial, não importa quais sejam as contingências que possa trazer o progresso da civilização” (ibid: 89). Prescrevendo a longo prazo e de forma unívoca, Agache reforçava seu funcionalismo e deixava escapar o potencial que o espaço público poderia trazer à evolução urbana e ao urbanismo. Paraconcluir O plano Agache do Rio de Janeiro foi a realização de um grande urbanista que trabalhou no seio de uma escola de pensamento na qual a ecologia urbana foi uma de suas preocupações centrais, dando à sua modernidade uma tonalidade diferente daquela que a “arquitetura moderna” à la Le Corbusier foi, por muito tempo, referência (BERDOULAY e SOUBEYRAN 2002). Agache tinha ligado suas inclinações modernistas a uma abordagem do meio que se inspirava em Le Play e em alguns de seus discípulos e que estava dividida entre uma lógica físico-química (sanitária) e econômica, sobre a qual deveria se apoiar a normalidade do funcionamento urbano. Nessa abordagem, o papel dado ao espaço público era bastante reduzido. A origem do problema vem do funcionalismo no qual Agache inscreveu seu percurso. Privilegiando a metáfora médica para caracterizar o papel do urbanista, ele o confina ao diagnóstico das anomalias ou das patologias ligadas ao crescimento e a corrigi-los. Com isso, Agache reduziu consideravelmente o papel que ele poderia dar ao espaço público, pois ele o emprestava funções que tinham lógicas diversas (circulação, saúde, bem estar etc), mas que poderiam todas ser levadas a uma justificativa econômica. O espaço público não era abordado como fonte potencial de novidades, de emergência de idéias ou de comportamentos inovadores. Inscrevendo-se na continuidade, a prospectiva segundo Agache bania a contingência e não deixava entrever uma criatividade particular, oriunda do espaço público. Chegamos assim a um impasse análogo àquele que as versões mais recentes do funcionalismo conheceram. Como mostraram os trabalhos de C. Alexander, se propormos uma forma a cada função urbana, poderíamos pensar que seria possível gerar a forma da cidade; ora,tal afirmação é falsa, pois não se poderiam isolar todas as formas, ou todas as funções umas das outras: elas se combinam de formas diversas e, ainda que Alexander nãotenha insistido nesse ponto, é freqüentemente o espaço público que o permite (ALEXANDER, 1964 e 1965). Não se deve, no entanto, pensar que Agache era insensível a esta confrontação de opiniões que fornecia a cidade. Ele tinha consciência, mas reduzia suas possibilidades:
  • 9. 131 “Cumpre que em uma aglomeração haja o respeito e a tolerância mútuos, porquanto há um estreito contato de vizinhança. Certa polidez deve existir entre os habitantes, e isto é a urbanidade, vocábulo, aliás, muito antigo” (AGACHE, 1930a: 9). Contudo, “a mesma polidez deve existir entre as coisas e a isto se chama urbanismo, o qual exige preceitos diversos: regulamentos de construção, de circulação e de higiene” (ibid.). Foram estas as palavras de um homem que amava a cidade, mas essencialmente pelo que ela representava de comodidade e de sociabilidade bem ordenada. Por sua concepção de urbanismo,o espaço público estaria paralisado num papel passivo, onde o habitante seria mais citadino que cidadão. Bibliografia ABREU, Mauricio de Almeida (1997): “Penser la ville au Brésil : du XVIe au début du XXe siècle”, in : JOUSSENAT, A. (org.), La recherche sur la ville au Brésil. Paris: CNRS Editions, p. 13-36. AGACHE, Donat Alfred (1917): “Les grandes villes modernes et leur avenir”, Exposition de la cité reconstituée. Esthétique et hygine. Rapport général. Conférences.Paris, p. 237-249. AGACHE, Donat Alfred (1923): “Comment on fait un plan de ville”, in : Où en est l’urbanisme en France et à l’étranger?. Paris: Ed. Léon Eyrolles, p. 141-151. AGACHE, Donat Alfred (1930a): “Primeira conferencia. O que é o urbanismo” [f. em 1927], in: AGACHE, D.A., Cidade do Rio de Janeiro. Remodelação, extanção e embellezamento, 1926-1930. Paris: Ed. du Foyer brésilien, p. 2-9. AGACHE, Donat Alfred (1930b): “Terceira conferencia. «Cidades-jardins» e «favellas»” [f. em 1927], in : AGACHE, D.A., Cidade do Rio de Janeiro. Remodelação, extanção e embellezamento, 1926-1930. Paris: Ed. du Foyer brésilien, p. 20-25. AGACHE, Donat Alfred (1930c): Cidade do Rio de Janeiro. Remodelação, extanção e embellezamento, 1926-1930. Paris: Ed. du Foyer brésilien. AGACHE, Donat Alfred (1932): La remodelation d’une capitale. Aménagement, estension, embelissement, 2 vol. Paris: S.C.A. ALEXANDER, Christopher (1964): Notes onthe synthesis of form. Cambridge, MA: MIT Press ALEXANDER, Christopher (1965): “A city is not a tree”, Architectural forum, Abril: p. 58-62 & Maio: p. 58-61. ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de (1996): “Camillo Sitte, Camille Martin e Saturnino de Brito: traduções e transferências de idéias urbanísticas”, in : PECHMAN, R. e RIBEIRO, L.C. de Queiroz (org.), Cidade, povo e nação. Gênese do urbanismo moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 287-310. BERDOULAY, Vincent (1982): “La métaphore organiciste. Contribution à l’étude du langage des géographes”, Annales de géographie, 91 (507), p. 573-586. BERDOULAY,Vincent(1999):“Aecologiaurbana,olugareacidadania”,Território,7,p.79-92. BERDOULAY, Vincent e CLAVAL, Paul, org. (2001): Aux débuts de l’urbanisme français. Regards croisésdescientifiquesetdeprofessionnelsdel’aménagement.PariseMontreal:L’Harmattan. BERDOULAY, Vincent e SOUBEYRAN, Olivier (2002): L’écologie urbaine et l’urbanisme. Aux fondements des enjeux actuels. Paris: La Découverte BRUANT,Catherine(1994):“DonatAlfredAgache(1875-1959).L’architecteetlesociologue”,Les Etudes sociales, 122, p. 23-65. Modernismo e espaço público: o Plano Agache do Rio de Janeiro
  • 10. 132 Revista Território - Rio de Janeiro - Ano VII - no 11, 12 e 13 - set./out., 2003 BRUANT, Catherine (2001): “Donat Alfred Agache: l’urbanisme, une sociologie appliquée”, in : BERDOULAY, V. e CLAVAL, P. (org.), Aux débuts de l’urbanisme français. Regards croisésdescientifiquesetdeprofessionnelsdel’aménagement.PariseMontreal:L’Harmattan, p. 133-150. GOMES, Paulo C. Da Costa (2002): A condição urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brazil. GODOY, Armando Augusto de (1943): A urbs e os seus problemas. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio. PEREIRA, Margareth da Silva (1996): “Pensando a metrópole moderna: os planos de Agache e Le Corbusier para o Rio de Janeiro”, in : Ribeiro, L.C. de Queiros, e Pechman, R. (org.), Cidade, povo e nação, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 363-376. SILVA, Lucia (1996): “A trafetória de Alfred Agache no Brazil”, in : Ribeiro, L.C. de Queiros, e Pechman, R. (org.), Cidade, povo e nação, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 397-410. STUCKENBRUCK, Denise Cabral (1996): O Rio de Janeiro em questão: o plano Agache e o ideário reformista dos anos 20, Rio de Janeiro: IPPUR / URFJ-FASE. TOPALOV, Christian, org. (1999): Laboratoires du nouveau siècle. Paris: Ed. de l’EHESS.