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301
EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE
ACID-BASE BALANCE
Paulo Roberto Barbosa Évora1
, Luis Vicente Garcia2
1
Docente da Divisão de Cirurgia Torácica e Cardiovascular do Departamento de Cirurgia e Anatomia; 2
Docente do Departamento de
Ortopedia e Biomecânica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP
CORRESPONDÊNCIA: Paulo Roberto Barbosa Évora. Divisão de Cirurgia Torácica e Cardiovascular do Departamento de Cirurgia e Anato-
mia. Av. Bandeirantes, 3900. 14048-900. Ribeirão Preto / SP. email: prbevora@fmrp.usp.br
Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio ácido-base. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11.
RESUMO: É imprescindível o conhecimento do diagnóstico e do tratamento das alterações do
equilíbrio ácido-base. Nessa apresentação são abordados a causa, os efeitos e o tratamento da
alcalose e da acidose, respiratória e metabólica.
Descritores: Equilíbrio Ácido-base. Alcalose. Acidose.
1- CONCEITOS FISIOLÓGICOS FUNDA-
MENTAIS
A avaliação do estado ácido-básico do sangue é
feita na grande maioria dos doentes que são atendidos
em Unidades de Terapia Intensiva, qualquer que seja
a doença de base; essa avaliação é fundamental, pois,
além dos desvios do equilíbrio ácido-base (EAB) pro-
priamente dito, pode fornecer dados sobre a função
respiratória e sobre as condições de perfusão tecidual.
Os sistemas orgânicos enfrentam dois desafios
básicos para a manutenção do EAB. O primeiro é a
disposição da cota fixa de ácidos ingerida na dieta di-
ária; o segundo é o destino dado ao CO2
gerado como
produto final do metabolismo. Para manter o pH em
limites compatíveis com os processos vitais o organis-
mo lança mão de uma série de mecanismos bioquími-
cos, com destaque para o papel desempenhado pelo
chamado sistema-tampão. O sistema tampão do orga-
nismo apresenta quatro grandes componentes: bicar-
bonato/ácido carbônico, proteínatos/proteínas, fosfa-
tos monoácidos/fosfatos biácidos e hemoglobinato/he-
moglobina. As substâncias-tampões são responsáveis
minimizar as alterações do pH decorrentes da adição
ou subtração de íons H+
. Com a queda do pH da solu-
ção, estas substâncias aceitam os íons H+
para entregá
los novamente quando aumenta o pH; desta maneira
agem contra as modificações abruptas da reação.
Entre os tampões do espaço extracelular o bicarbona-
to e as proteínas plasmáticas desempenham papel re-
levante, enquanto a hemoglobina e os fosfatos estão
em primeiro plano no compartimento intracelular.
Graças a estes sistemas de tamponamento, pe-
quenas alterações do EAB manifestam se por um
deslocamento do equilíbrio da reação dos tampões com
atenuação de modificações significativas da concen-
tração dos íons H+
livres ou do pH. O tampão bicar-
bonato é o mais importante.1,2
CO2
+ H2
O- > H2
CO- > H+
+ HCO-
3 3
A partir desta reação química é possível dedu-
zir a equação de Henderson Hasselbach, fundamen-
tal para o entendimento do equilíbrio ácido base:
Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: FUNDAMENTOS EM CLÍNICA CIRÚRGICA - 1ª Parte
2008; 41 (3): 301-11 Capítulo VI
302
Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista
O termo "metabólico" é um erro consagrado
pelo uso, uma vez que ambos os componentes da equa-
ção de Henderson Hasselbach envolvem um proces-
so metabólico.
Considerando se estes conceitos, os mecanis-
mos de excreção do H+
podem assim ser resumidos:2
• A excreção pulmonar do íon H+
é indireta. O pul-
mão excreta somente substâncias voláteis, isto é,
substância que podem ser convertidas em gases.
• A excreção renal não apresenta esta limitação, sendo
coadjuvada pelas bases tampões.
• A média de excreção de CO2
pelos pulmões pode
ser mudada rapidamente em qualquer direção por
alterações apropriadas da ventilação alveolar, po-
rém a hipoventilação para poupar H+
não é um me-
canismo tão eficiente quanto a hiperventilação que
elimina este mesmo íon de maneira eficiente no iní-
cio de um
acidótico.
• A função renal pela excreção de H+
e eletrólitos
influencia no estado ácido base do líquido extrace-
lular (LEC), porém um período de horas é necessá-
rio para que esta influência seja significante.
Um outro detalhe interessante da fisiologia do
EAB são as evidências de que o organismo animal, na
sua evolução, adquiriu mecanismos naturais de defe-
sa contra a acidose mais eficientes do que os meca-
nismos contra a alcalose:
• Características próprias da função renal que elimi-
na o H+
e reabsorve o .
• Curva da dissociação da hemoglobina (Hb): na aci-
dose a curva desvia se para a direita diminuindo a
afinidade da Hb pelo oxigênio e na alcalose desvia
se para a esquerda, aumentando a afinidade.
• A hiperventilação com alcalose respiratória, desvi-
ando a reação do CO2
com a água para a esquerda,
é um mecanismo natural de compensação da aci-
dose metabólica, que pode ocorrer normalmente, por
exemplo, no exercício físico.Aocorrência do fenô-
meno inverso é possível na teoria, mas a depressão
respiratória produzindo uma acidose respiratória para
compensar uma alcalose metabólica só ocorreria
com uma diferença de base > +40, uma situação
praticamente impossível; isto reflete uma maior di-
ficuldade do tratamento da alcalose metabólica,
como se observa na prática diária da terapia inten-
siva.
É importante conceituar reserva alcalina e "base
excess" (BE).Areserva alcalina (capacidade de ligação
de CO2
) é a quantidade total de CO2
de uma amostra de
plasma separada anaerobicamente após equilibrá-la
com 40mmHg de pCO2
à temperatura ambiente (usa
se de preferência o bicarbonato padrão em mMol/ l
(escola americana capitaneada por DAVENPORT).
O excesso de bases, ou diferença de bases, é
igual à concentração de bases do sangue em mEq/l,
tituladas por um ácido forte a um pH de 7,40, com
uma pCO2
de 40mmHg e à temperatura de 37ºC (es-
cola dinamarquesa capitaneada por SIGGAARD
ANDERSEN).
Com a crescente simplificação da análise do
EAB por aparelhos de alto rendimento, a determina-
ção de parâmetros isolados, como a reserva alcalina,
em comparação com um levantamento completo do
EAB, passou para um segundo plano.
Existe importante inter relação entre o EAB e
o equilíbrio hidroeletrolítico (EHE).2
1.1- Lei da Eletroneutralidade
Estabelece que a soma das cargas negativas
dos ânions deve ser igual à soma das cargas positivas
dos cátions. No plasma há 154mEq/l de cátions e, con-
seqüentemente, 154mEq/l de ânions. Em todas as cir-
cunstâncias o sódio responsabiliza se pela maior parte
dos equivalentes catiônicos; portanto, o bicarbonato
constitui o elo entre o EAB e o EHE, já que faz parte
de ambos. Assim, para que se mantenha a eletroneu-
O ácido carbônico pode ser representado pelo
produto da constante 0,03 pela pressão parcial de CO2
do sangue arterial.
Surge no denominador da equação um gás que
expressa a ventilação. Assim é possível concluir que
a manutenção do pH depende fundamentalmente da
função renal (numerador da equação) e da função
respiratória (denominador da equação).
Função renal
pH =
(componente não respiratório ou metabólico)
Função respiratória (componente respiratório)
303
Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base
http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV
tralidade, na vigência de queda do bicarbonato, ocorre
um aumento do cloreto e vice versa. O entrejogo dos
prótons e ânions em acumulação com os componen-
tes normais do soro resulta em padrões de eletrólitos
que possibilitam a classificação dos tipos de acidose
metabólica. Os prótons consomem as reservas de ál-
calis, manifestando sua presença sob a forma de
hipobicarbonatemia. Como o álcali perdido é substitu-
ído por anions ácidos (fosfato, acetoacetato, cloreto,
etc.), segue se que qualquer ácido, exceto o HCL,
substituioânion ,facilmentemedido,porânions
que não são medidos rotineiramente. A "diferença de
ânions" ("anion gap" = DA) reflete o balanço entre o
cátion rotineiramente medido (Na+
) e os ânions roti-
neiramente medidos (CL- + ).
Como a acidose por HCL efetua uma troca igual
de perdido por CI- retido, sem alterar neces-
sariamente o Na+
sérico, a DA permanece na faixa
normal (12 ± 2mEq/l ), dessa maneira definindo uma
acidose hiperclorêmica com DA normal. Todas as
outras formas de acidose aumentam o "anion gap" ao
substituir o por ânions diversos do CL-. Uma
análise crítica da utilidade prática do conceito de "anion
gap" demonstra a sua pequena utilização na prática
diária. Qual seria a sua real utilidade? Diagnóstico di-
ferencial entre tipos de acidose permitindo pensar em
diagnósticos menos comuns? Como índice prognósti-
co? Uma utilidade real seria o controle de qualidade
de dosagens laboratoriais, já que não existe a situação
de "anion gap" aumentado, que ocorre só na condição
de erros de dosagem. Merecem menção os nomogra-
mas de Gamble para a ilustração e integração entre o
EAB e o EHE.
1.2- Lei da Isosmolaridade
Determina que a osmolaridade é a mesma nos
compartimentos líqüidos do organismo, entre os quais
a água passa livremente. Seu valor normal é em torno
de 285mOsm/l , e, se o número de partículas dissolvi-
das aumenta em um compartimento, a água se mobi-
lizará em direção a ele até que um novo equilíbrio da
osmolaridade seja estabelecido.
1.3- Lei Fisiológica do Equilíbrio Ácido base
Estabelece que o organismo tende a manter o
pH do sangue em torno de um valor normal. Quanto a
esta lei, um fato importante é a interação entre o K+
e
o H+
em relação ao intra e extracelular. No caso de
acidose, na tentativa de manter o pH do sangue, o
potássio sai da célula com a entrada do H+
, ocorrendo
o contrário na alcalose, ou seja, saída do H+
e entrada
do potássio para o compartimento intracelular.
2- DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO
EAB PELA ANÁLISE GASOMÉTRICA
Por tratar se de um texto apenas com preten-
sões didáticas, antes da apresentação das causas dos
distúrbios do EAB, que seria a seqüência lógica, a
seguir serão apresentados os princípios diagnósticos.
Esta inversão tem-se mostrado útil, pois torna fácil a
dedução posterior das variadas causas de desequilíbrio
ácido base.2
O diagnóstico das alterações do EAB é feito
pela análise dos valores obtidos pela gasometria san-
güínea. Como todo exame laboratorial, existem fa-
tores que podem influenciar seus resultados:
• Em pacientes conscientes, a punção arterial pode
resultar em hiperventilação induzida pelo temor ao
próprio procedimento.
• A heparina é ácida e ao menos teoricamente pode
influenciar os valores do pH, pCO2
e pO2
em amos-
tras pequenas.
• A presença de leucocitose e grande número de
plaquetas reduzirá o valor do pO2
, dando a falsa
impressão de hipoxemia. Esta queda na pO2
é
negligenciável se a amostra é armazenada em gelo
e analisada dentro de 1hora; presumivelmente o me-
tabolismo em andamento dos elementos celulares
do sangue pode consumir O2
e reduzir a pO2
.
• O resfriamento aumenta o pH e a saturação de oxi-
gênio, e diminui a pO2
.
• O halotano aumenta falsamente os valores da pO2
,
porque o eletrodo para a pO2
no aparelho de gaso-
metria também responde ao halotano.
Ainda sob o ponto de vista da análise gasomé-
trica, alguns pormenores merecem destaque:
• A adoção da escola dinamarquesa (SIGGAARD
ANDERSEN) é praticamente uma unanimidade
internacional.
• Quando se solicita a gasometria sangüínea, o pH, a
pO2
e a pCO2
são obtidos por medida eletrônica dire-
ta. Os valores do CO2
, , BE, saturacão de
oxigênio (SatO2
) são obtidos por medida indireta me-
diante leitura no nomograma de SiggaardAndersen.
_
3HCO
304
Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista
• Comoosdistúrbiosenvolvemme-
canismos renais e respiratórios, o
diagnóstico deve ser baseado na
gasometria do sangue arterial.
• A amostra venosa não permite a
análise da função respiratória e
sua colheita está sujeita a erros.
Para fins científicos deve, inclu-
sive, ser colhida na artéria pul-
monar onde o sangue venoso é
misto. Duas informações práticas,
porém, podem ser obtidas pela
análise da gasometria venosa:
1. A pO2
venosa quando com-
parada com a pO2
arterial dá
uma idéia do débito cardíaco
(diferença arteriovenosa gran-
de com a pO2
venosa baixa
significa baixo débito, com os
tecidos extraindo muito o oxi-
gêniodahemoglobinapeloflu-
xo lento, sendo esta uma situ-
ação ainda favorável para se
tentar a reversão de um esta-
do de choque).
2. A diferença arteriovenosa pe-
quena com progressivo au-
mento da pO2
venosa indica
um "shunt" sistêmico, isto é,
um agravamento das trocas
teciduais. Portanto, o princi-
pal dado fornecido pela gaso-
metria venosa é a pO2
.
O diagnóstico dos distúrbios do EAB deve, as-
sim, embasar-se nos valores da gasometria arterial. É
importante conhecer os valores normais dos parâme-
tros da gasometria arterial (Quadro 1).
Pela gasometria arterial é possível o diagnósti-
co dos desvios do componente respiratório (O2
/oxige-
nação e pCO2
/ventilação) e do componente metabóli-
co (BE e ) (Figura 1).
Figura 1: Interpretação da gasometria arterial.
Quadro 1: Valores normais da gasometria arterial
pH =7,35-7,45 CO2
=23-27mmol/l
pO2
=70-90mmHg = 22 - 26mEq/l
pCO2
=35-45mmHg BE =-3,5a+3,5mEq/l
Um nomograma clássico útil é o apresentado
por WEST, que permite o diagnóstico diferencial de
praticamente todos os tipos de insuficiência respirató-
ria (Figura 2).3
Trata-se de um nomograma de venti-
lação (pCO2
)/oxigenação (pO2
). Como todas as insu-
ficiências respiratórias caracterizam se pela hipoxia,
o diagnóstico diferencial é dado pelo padrão ventilató-
rio, ou seja pela variação da pCO2
.
O nomograma destaca as variações da pCO2
e
da pO2
nas diversas modalidades de insuficiência res-
piratória.
• Na hipoventilação pura, o aumento da pCO2
arterial
é extremamente rápido, atingindo valores superio-
res a 80mmHg com vasodilatação cerebral e falên-
cia cardiorrespiratória.
• Nos casos de descompensação da doença pulmo-
nar obstrutiva crônica (DPOC), o aumento da pCO2
305
Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base
http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV
3- CAUSAS MAIS COMUNS DOS DISTÚRBI-
OS DO EAB
De modo simplificado as causas mais comuns
dos distúrbios do EAB podem, assim, ser agrupadas
de acordo com os tópicos a seguir.2,4
3.1- Acidose Respiratória
• Aguda: por comprometimento do sistema nervoso
central (poliomielite anterior aguda, intoxicações
exógenas, comas, traumas); por comprometimento
anatômico ou funcional da caixa torácica (ossos e
músculos).
• Crônica: por lesões pulmonares (insuficiência res-
piratória crônica).
3.2- Alcalose Respiratória
• Aguda: estimulação do centro respiratório bulbar
(encefalites, emoção, febre e infecções sistêmicas,
intoxicação por salicilato, hipoxemia); reflexos (cho-
que); por estimulação de receptores torácicos (ate-
lectasia, pneumopatias agudas).
arterial é mais lento, dificilmente atingindo valores
superiores a 75 a 77mmHg.
• Nas pneumopatias restritivas, a pCO2
permanece
normal, porque existe uma compensação pela ca-
racterística de hiperventilação nessas doenças.
• Na síndrome da angústia respiratória do adulto
(SARA) ocorre uma queda da pCO2
arterial como
uma conseqüência do efeito "shunt" (áreas bem
perfundidas e mal ventiladas com alta difusibilidade
do CO2
).
• Com o tratamento adequado da SARA a oxigena-
ção pode melhorar, porém a não normalização da
pCO2
pode significar que ainda persistem áreas bem
perfundidas e malventiladas, mantendo ainda o efeito
"shunt".
• O excesso de oxigênio oferecido a pacientes porta-
dores de DPOC pode levar à elevação da pCO2
,
inclusive atingindo valores superiores a 80mmHg, o
que se deve ao fato de a ventilação destes pacien-
tes ser controlada por quimiorreceptores aórticos e
carotídeos, que respondem à hipoxia e à acidose.
Figura 2: Nomograma pCO2
/pO2
(West). Diagnóstico diferencial das diversas modalidades de insuficiência respiratória.
A = Hipoventilação pura; B = DPOC; C = Pneumopatia restritiva; D = SARA; E = SARA + O2
; F = DPOC + O2
.
306
Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista
• Crônica: vários mecanismos (assistência ventila-
tória, insuficiência hepática/amônia, lesões do SNC,
infecções, hipoxemia, hipertireoidismo).
3.3- Acidose Metabólica
• Por adição de ácido forte:
- aguda exógena (infusão de NH4
CI, ingestão exa-
gerada de ácido acetilsalicílico);
- aguda endógena (acidose láctica/ácido láctíco,
acidose diabética/corpos cetônicos, cetose de je-
jum, azotemia por insuficiência renal aguda, áci-
do sulfúrico, ácido fósfórico);
- crônica: azotemia/insuficiência renal crônica.
• Por perda de bicarbonato:
- aguda (diarréia);
- crônica (fístula pancreática, acidose tubular re-
nal).
3.4- Alcalose Metabólica
• Pór perda de ácido forte:
- aguda (vômitos);
- crônica/perda de potássio (diarréia crônica, corti-
costeróides, diuréticos).
• Por ganho de bicarbonato:
- aguda exógena (infusão de bicarbonato);
- aguda endógena (estresse);
- crônica (ingestão de antiácidos de ação sistêmi-
ca/bicarbonato).
Existem situações clínicas importantes que
apresentam padrões de alterações do EAB que me-
recem atenção pela freqüência e gravidade, entre as
quais se incluem:
• Estado de choque: A regra é a ocorrência de aci-
dose metabólica devida à má perfusão tecidual com
conseqüente metabolismo celular anaeróbio. Em
uma fase inicial existe a tentativa de compensação
respiratória, e, em fase final, a regra é uma acidose
mista.
• Parada cardíaca: Ocorre acidose metabólica e res-
piratória, respectivamente pela parada brusca de oxi-
genação tecidual e da ventilação pulmonar. Nestes
casos os pacientes devem ser hiperventilados, pois
o tratamento da acidose é feito com o bicarbonato
de sódio que é doador de CO2
.
• Circulação extracorpórea: (CEC) Por melhor que
seja a sua técnica, vários são os mecanismos que
levam a uma inadequada perfusão tecidual (hipo-
fluxo, hipotermia, hiperatividade simpática e ausên-
cia de fluxo pulsátil) com conseqüente acidose me-
tabólica. Por outro lado o uso de oxigênio puro no
oxigenador leva, muitas vezes, a uma acentuada
diminuição do CO2
. A alcalose metabólica pode
ocorrer pelo excesso de bicarbonato administrado
durante a CEC ou, no pós operatório, pela perda
excessiva de potássio muito comum durante a deri-
vação cardiopulmonar. Um outro problema digno
de menção é a ocorrência de alcalose metabólica
tardia (48 a 72 horas) no pós operatório. Pode ocor-
rer pelo metabolismo do citrato ou do lactato da so-
lução de Ringer lactato no perfusado. Existem evi-
dências de que esta alcalose seja mais devida ao
citrato do anticoagulante do sangue politransfundido
do que decorrente do uso de Ringer lactato.2
• Politransfusão sangüínea: O sangue estocado
possui uma considerável carga de radicais ácidos,
resultante em grande parte do acúmulo de ácidos
orgânicos (ácido cítrico do anticoagulante e do áci-
do láctico gerado pela hipotermia da estocagern e
pela hipoxia). Se ocorrer acidose metabólica deve
se proceder à alcalinização, antes feita rotineira-
mente, e hoje conforme as necessidades mostradas
por gasometria seriada. Além disso, o sangue esto-
cado tem níveis de 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG)
diminuídos, o que leva ao deslocamento da curva
de dissociação da hemoglobina para a esquerda com
aumento da sua afinidade pelo oxigênio, piorando a
oxigenação periférica, e, conseqüentemente, agra-
vando a acidose metabólica. Pode ocorrer, mais tar-
diamente, uma alcalose metabólica como resultado
da metabolização do citrato pelo fígado.
• Alimentação parenteral: No início desta técnica
de suporte nutricional, a acidose metabólica era uma
grave e freqüente complicação. Isto ocorria porque
alguns aminoácidos essenciais (histidina, lisina, or-
nitina e arginina), encontravam se nas soluções sob
a forma de cloridrato. Esta complicação tornou se
mais rara com as soluções de aminoácidos mais re-
centes que substituem o cloridrato por aspartato.
• Insuficiência renal crônica: A regra é a existên-
cia de acidose metabólica por adição de ácidos for-
tes (sulfúrico e fosfórico) decorrente da azotemia.
Pode ocorrer ainda acidose metabólica pela subtra-
ção do bicarbonato devida à chamada acidose tubular
307
Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base
http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV
renal. Este distúrbio é raro, freqüentemente asso-
ciado a síndromes genéticas, e apresenta dois tipos:
distal, devido à incapacidade do túbulo distal de
manter gradiente máximo de H+
entre a luz tubular
e o sangue, e proximal, devido à deficiência de re-
absorção do bicarbonato no início do néfron. Os
pacientes portadores de insuficiência renal crônica,
em geral, adaptam se à acidose metabólica.
• Diabetes melito: Ocorre acidose metabólica por
adição de ácidos resultante de corpos cetônicos (áci-
dos acetoacético e hidroxibutírico). Muitas vezes o
simples emprego da insulina é suficiente para o seu
tratamento pela diminuição da produção de corpos
cetônicos, sem a necessidade do emprego de bicar-
bonato.
• Afecções gastrointestinais: Nestas, as principais
alterações podem ser divididas em três grupos: aci-
dose metabólica, alcalose metabólica e perda de
potássio.Aacidose metabólica pode ocorrer por per-
da de bicarbonato nas diarréias graves e nas fístu-
las pancreáticas. A acidose pode ainda ocorrer em
função do estado de choque, secundário, por exem-
plo, à trombose mesentérica, pancreatite aguda ou
fistula pancreática.Aalcalose metabólica pode ocor-
rer por perda de suco gástrico ou perda de potássio
(diarréia, tumores vilosos do reto, tumores do pân-
creas, fístulas biliares, uso excessivo de laxativos).
4- TRATAMENTO DOS DESTÚRBIOS DO
EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE
4.1- Princípios Gerais
Alguns preceitos devem ser seguidos para o
adequado tratamento dos desvios do EAB, lembrando
se que a gasometria é um exame subsidiário que deve
ser analisado em conjunto com os dados clínicos.2,5
• Deve se sempre fazer o tratamento causal que, por
si só, é suficiente em grande parte das alterações
do EAB.
• O tratamento deve fundamentar se em dosagens
freqüentes e seriadas dos gases e do pH sangüíneo.
• Não confiar de forma absoluta em qualquer resul-
tado de laboratório.
• Não corrigir as alterações muito rapidamente.
• Normalizar inicialmente o volume sangüíneo e a
perfusão tecidual.
• Não corrigir o pH, o cálcio e o potássio isolada-
mente.
4.2- Tratamento da Acidose Respiratória
Oxigenação e ventilação adequadas: manuten-
ção das vias aéreas livres, correção da hipoxia e/ou
hipercapnia, remoção de secreções e tratamento das
infecções respiratórias quando presentes. Um erro
freqüente é a administração de bicarbonato de sódio
com base apenas no valor do pH.
4.3- Tratamento da Alcalose Respiratória
O objetivo é combater a hiperventilação com
sedação de pacientes ansiosos e histéricos. É um dis-
túrbio freqüente em pacientes submetidos à assistên-
cia respiratória, principalmente se curarizados. A di-
minuição da ventilação pode ser tentada pelo aumen-
to do espaço morto, diminuição do volume corrente e
pela utilização da ventilação mecânica intermitente
(IMV), que tem por característica a normalização da
pCO2
, uma vez que permite a respiração espontânea
intercalada pelo auxílio do respirador.
4.4- Tratamento da Síndrome da Angústia Res-
piratória do Adulto (SARA)
A SARA é um problema de "barreira alveolo-
capilar" causado pela presença de edema pulmonar
intersticial. Caracteriza se por diminuição da capaci-
dade residual funcional, alteração da relação ventila-
ção/perfusão (V/Q) e aumento do "shunt" pulmonar
(Qs/Qt).
Seu tratamento consiste basicamente na insta-
lação de assistência respiratória (IMV + PEEP), res-
trição hídrica, diuréticos, processos dialíticos, metil-
prednisolona (?), albumina humana, antibióticos; a
albumina deve ser usada na fase inicial para au-
mentar a pressão coloidosmótica e ajudar a dimi-
nuir o edema pulmonar intersticial, mas na fase avan-
çada pode extravasar para o alvéolo, contribuindo
para a formação de membrana hialina.Autilização do
nitroprussiato de sódio, na tentativa de reduzir a hi-
pertensão pulmonar, pode aumentar o desvio arterio-
venoso se diminuir muito a pressão arterial sistêmica.
A recente utilização de óxido nítrico inalado para re-
duzir a hipertensão pulmonar de modo seletivo é pro-
missora, mas ainda controversa, havendo mais evi-
dências de que não muda a evolução da SARA. Os
valores da pO2
e da pCO2
somente voltarão à norma-
lidade com a regressão da situação do "shunt" pulmo-
nar aumentado.
308
Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista
4.5- Tratamento da Acidose Metabólica
Utiliza se o bicarbonato de sódio de acordo com
a fórmula de Astrup Siggaard Andersen:
0,03 x kg x BE
2 ou 3
O tratamento da acidose metabólica pode ser
feito por estimativa, caso não se disponha dos dados
gasométricos, utilizando se, em média, 2mEq/kg de
bicarbonato de sódio como dosagem inicial, seguida
por doses adicionais criteriosas. Erro comum é o em-
prego dessa solução alcalina em excesso, que pode
aumentar muito a osmolaridade do sangue, dificultan-
do as trocas celulares, ou, ainda, induzir arritmias car-
díacas pela alcalose metabólica. O bicarbonato de
sódio é, universalmente, o elemento utilizado para tra-
tar a acidose metabólica na parada cardíaca. Tem sido
estudada a utilização do tampão TRIS (THAM), que
teria a vantagem de não ser doador de gás carbônico
e não necessitar de hiperventilação, além de sua pro-
vável ação superior nas correções da acidose intrace-
lular. Como não se observa a utilização rotineira do
tampão TRIS, pode se inferir que, em termos de custo
beneficio, este tampão pode não ter grandes vanta-
gens sobre o uso do bicarbonato de sódio.
4.6- Tratamento da Alcalose Metabólica
O tratamento pode envolver reposição de clo-
retos, acetazolamida, cloridrato de arginina, HLCI
(0,1N), NH4
CI (?). A utilização de cloridrato de argi-
nina é empírica (7,5g/12h), uma vez que só a sua fra-
ção catabolizada é acidificante. Conseguem se rever-
sões parciais da alcalose metabólica, que se recupera
algumas horas depois. Utiliza se mais a reposição de
cloreto de potássio em associação com a acetazola-
mida, a qual, inibindo a anidrase carbônica, aumenta a
excreção urinária de bicarbonato. A experiência com
HCL é pequena e o NH4
CL é neurotóxico.2,6,7
5- EFEITOS DELETÉRIOS DOS DISTÚRBI-
OS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE
Tanto a acidose como a alcalose apresentam
uma série de efeitos indesejáveis.2,8 Os efeitos inde-
sejáveis da acidose aguda estão apresentados no Qua-
dro 2. Os efeitos deletérios da alcalose aguda estão
representados no Quadro 3.
A alcalose metabólica, cuja importância clínica
costuma ser relegada a um plano secundário, merece
um lugar de destaque entre os possíveis distúrbios da
homeostase do paciente gravemente enfermo e dos
submetidos a grandes cirurgias. Além de aumentar a
afinidade da Hb pelo O2
, tem se dado importância à
alcalose metabólica como causa de arritmias cardía-
cas, principalmente supraventriculares que não apre-
sentam boa resposta aos antiarrítmicos convencionais,
admitindo se, inclusive, a ocorrência de morte súbita e
sua correlação com aumento da mortalidade em paci-
entes graves.
A Figura 3 apresenta um resumo das possibili-
dades diagnósticas e terapêuticas dos distúrbios do
EAB. Este quadro, associado ao nomograma de West
(pCO2
/pO2
), resume grande parte dos conhecimentos
utilizados na prática clínica diária.
Quadro 2: Efeitos deletérios da acidose aguda.
- Sobrecarga respiratória
- Anorexia, náuseas, vômitos e alterações neuroló-
gicas
- Hiperpotassemia
- Diminuição da responsividade às catecolaminas e
depressão da contratilidade miocárdica
- Vasoconstrição renal e oligúria
- Resistência à ação da insulina
Quadro 3: Efeitos deletérios da alcalose aguda.
- Hipocalcemia por diminuição do cálcio ionizável
- Hipopotassemia com aumento da perda urinária
de K+
- Efeito da alteração da relação K+
íntracelular/K+
extracelular no míocárdio com suscetibilidade a
arritmias
- Aumento da afinidade da Hb pelo O2
(desvio da
curva de dissociação para a esquerda), com hipoxía
tecidual
- Acidose paradoxal do líquor com piora das condi-
ções neurológicas
309
Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base
http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV
Figura 3: Resumo das possibilidades diagnósticas e terapêuticas dos distúrbios do equilíbrio ácido base.
Quadro 4: Exercício de interpretação de resultados da gasometria.
CASO 1: pH = 7,30; pO2
= 86; pCO2
= 39; = 18,12; BE = -7,5
Diagnóstico: ausência de alterações respiratórias e acidose metabólica leve.
Conduta: acidose com BE até 8 sem sobrecarga respiratória não necessita de tratamento, ocorrendo compensação
pelo próprio organismo. Observar que o valor do pH está abaixo do normal, o que é freqüente na acidose do jejum
pré-operatório.
CASO 2: pH = 7,42; pO2
= 99; pCO2
= 21,39; = 18,12; BE = 8,0
Diagnóstico: acidose metabólica compensada também por mecanismo respiratório.
Conduta: esta é uma resposta natural do organismo, ou seja, a hiperventilação para eliminação indireta do H+
.
Apesar de o BE ser semelhante ao do Caso 1, neste caso recomenda se tratar a acidose com , pois esta deve
6- EXERCÍCIOS GASOMÉTRICOS
A gasometria é um exame complementar que
deve ser analisado em associação com o quadro clí-
nico apresentado pelo paciente.
Os diagnósticos dos casos apresentados
no Quadro 4 são orientados pelos dados da Figu-
ra 3.
_
3HCO
310
Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11
Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista
ser importante a ponto de desencadear os mecanismos respiratórios de compensação. A oferta de nessa situação
visa evitar a sobrecarga respiratória, indesejável no paciente criticamente doente. Esta conduta não é unânime; há
quem se limita ao tratamento causal quando o pH está normal.
CASO 3: pH = 7,61; pO2
= 91; pCO2
= 41; = 39,81; BE = + 18
Diagnóstico: ausência de alterações respiratórias e alcalose metabólica.
Conduta: uma boa parte das alcaloses metabólicas está associada à hipopotassernia e/ ou hipocloremia, portanto,
estes íons devem ser dosados no plasma. Caso estejam normais, optar por outro agente acidificante: HCL 0,1 a 0,2
N, cloridrato de arginina. Lembrar que a acetazolamida é de grande utilidade no tratamento das alcaloses de adição
e que o cloreto de amônio tem seu uso limitado pela neurotoxidade.
CASO 4: pH = 7,29; pO2
= 60; pCO2
= 57; = 26,5; BE = 1
Diagnóstico: acidose respiratória sem alterações metabólicas.
Conduta: esta gasometria pode ser perfeitamente aceitável para um paciente portador de doença pulmonar obstrutiva
crônica. Caso não se trate de um paciente enfisematoso, deve se buscar a causa da hipoventilação e tratá la por meio
de ventilação adequada.
Caso 5: pH = 7,45; pO2
= 55; pCO2
= 61; = 26,5; BE = + 19
Diagnóstico: acidose respiratória e alcalose metabólica.
Conduta: em pacientes não portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, devem se tratar ambos os desvios
do equilíbrio ácido base. Comumente interpreta se o presente quadro gasométrico como acidose respiratória com-
pensada por alcalose metabólica, o que leva à conduta inadequada. Costumam se tratar os dois distúrbios, pois
sabe se que os mecanismos naturais de defesa contra a acidose são muito mais eficientes do que os mecanismos de
defesa contra a alcalose. Por outro lado, se o paciente for um enfisematoso pode se interpretar a alcalose metabólica
como uma conseqüência da hipercapnia crônica, devendo se tratá la com o emprego de acetazolamida.
CASO 6: pH = 7,63; pO2
= 100; pCO2
= 22; = 22,36; BE + 4,5
Diagnóstico: alcalose respiratória e alcalose metabólica leve.
Conduta: tratar a alcalose respiratória. Este é um distúrbio comum que ocorre com o uso de respiradores mecânicos
e, no caso, poder-se-á diminuir a freqüência respiratória ou aumentar o espaço morto. Uma vez que a pO2
se
apresenta em níveis normais, pode não ser conveniente diminuir o volume corrente. Na hiperventilação psicogênica
deve se promover a sedação do paciente ou, se possível, fazê lo respirar em saco fechado.
CASO 7: pH = 7,30; pO2 = 55; pCO2 = 18; = 20,2; BE = 4,0.
Diagnóstico: sempre que houver hipoxia com hipocapnia deve se pensar em alterações pulmonares funcionais
(alteração da relação ventilação perfusão, da difusão alveolocapilar, "shunts" arteriovenosos intrapulmonares). Na
prática médica, até prova em contrário, trata se de insuficiência respiratória aguda do adulto conseqüente a edema
pulmonar intersticial.
Conduta: procurar tratar a doença de base, assistência respiraatória com respirador volumétrico e IMV + PEEP,
metilprednisolona, furosemida, diálise e albumina humana quando houver hipoproteinemia nas primeiras fases da
SARA.
Évora PRB, Garcia LV. Acid-base balance. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11.
ABSTRACT: A profound knowledge about variations in the acid-base balance is of utmost
importance for both the correct diagnosis and the treatment of possible abnormalities. Here, the
causes and consequences, as well as potential treatments of both respiratory and metabolic
alkalosis and acidosis are discussed.
keywords: Acid-Base Equilibrium. Alkalosis. Acidosis.
311
Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base
http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
1 - Cohen JJ, Kassirer JP Metabolismo ácido básico. ln: Maxwell
& Kleeman. Clínica das Alterações Eletrolíticas. 32 ed., Rio
de Janeiro, Guanabara Koogan, 1981; p. 132-67.
2 - Évora PRB, Reis CL, Ferez MA, Conte DA, Garcia LV Distúr-
bios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido básico.
Uma revisão prática. Medicina (Ribeirão Preto) 32: 451-69,
1999.
3 - West JB. Insuficiência respiratória. In: WEST JB. Fisiopatolo-
gia Pulmonar Moderna. 2ª ed., São Paulo, Manole, 1986; p.
157-70.
4 - Birolini D. Nomenclatura e classificação dos distúrbios ácido
básicos. ln: Faintuch J, BirolinI D, Machado MC. Equilíbrio
Ácido básico na Prática Clínica. São Paulo, Manole, 1975;
p. 29-49.
5 - Wilson RF Alterações ácido básicas no choque clínico. In:
Schumer W, Nihus LM. Tratamento do Choque. São Paulo,
Manole, 1976; p. 44-63.
6 - Évora PRB, Reis CL, Ribeiro P JF, Brasil JCE, Otaviano AG,
Silva JRP, Margarido EA. Alcalose metabólica. Tratamento
com solução de aminoácidos contendo cloridrato, de argini-
na. Rev. paul. med. 1981; 97: 25-8.
7 - Évora PRB. Treatment of the hypocloremic metabolic alkalo-
sis by rectal infusion of chloride. Crit care med. 1985; 13:
874.
8 - Faintuch J. Conduta prática nas acidoses e alcaloses. ln:
Faintuch J, Birolini D, Machado MC Equilíbrio Ácido básico na
Prática Clínica. São Paulo, Manole, 1975; p. 161-5.
Recebido para publicação em 20/08/2008
Aprovado para publicação em 30/09/2008

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Distúrbios do equilíbrio ácido-básico

  • 1. 301 EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ACID-BASE BALANCE Paulo Roberto Barbosa Évora1 , Luis Vicente Garcia2 1 Docente da Divisão de Cirurgia Torácica e Cardiovascular do Departamento de Cirurgia e Anatomia; 2 Docente do Departamento de Ortopedia e Biomecânica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP CORRESPONDÊNCIA: Paulo Roberto Barbosa Évora. Divisão de Cirurgia Torácica e Cardiovascular do Departamento de Cirurgia e Anato- mia. Av. Bandeirantes, 3900. 14048-900. Ribeirão Preto / SP. email: prbevora@fmrp.usp.br Évora PRB, Garcia LV. Equilíbrio ácido-base. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11. RESUMO: É imprescindível o conhecimento do diagnóstico e do tratamento das alterações do equilíbrio ácido-base. Nessa apresentação são abordados a causa, os efeitos e o tratamento da alcalose e da acidose, respiratória e metabólica. Descritores: Equilíbrio Ácido-base. Alcalose. Acidose. 1- CONCEITOS FISIOLÓGICOS FUNDA- MENTAIS A avaliação do estado ácido-básico do sangue é feita na grande maioria dos doentes que são atendidos em Unidades de Terapia Intensiva, qualquer que seja a doença de base; essa avaliação é fundamental, pois, além dos desvios do equilíbrio ácido-base (EAB) pro- priamente dito, pode fornecer dados sobre a função respiratória e sobre as condições de perfusão tecidual. Os sistemas orgânicos enfrentam dois desafios básicos para a manutenção do EAB. O primeiro é a disposição da cota fixa de ácidos ingerida na dieta di- ária; o segundo é o destino dado ao CO2 gerado como produto final do metabolismo. Para manter o pH em limites compatíveis com os processos vitais o organis- mo lança mão de uma série de mecanismos bioquími- cos, com destaque para o papel desempenhado pelo chamado sistema-tampão. O sistema tampão do orga- nismo apresenta quatro grandes componentes: bicar- bonato/ácido carbônico, proteínatos/proteínas, fosfa- tos monoácidos/fosfatos biácidos e hemoglobinato/he- moglobina. As substâncias-tampões são responsáveis minimizar as alterações do pH decorrentes da adição ou subtração de íons H+ . Com a queda do pH da solu- ção, estas substâncias aceitam os íons H+ para entregá los novamente quando aumenta o pH; desta maneira agem contra as modificações abruptas da reação. Entre os tampões do espaço extracelular o bicarbona- to e as proteínas plasmáticas desempenham papel re- levante, enquanto a hemoglobina e os fosfatos estão em primeiro plano no compartimento intracelular. Graças a estes sistemas de tamponamento, pe- quenas alterações do EAB manifestam se por um deslocamento do equilíbrio da reação dos tampões com atenuação de modificações significativas da concen- tração dos íons H+ livres ou do pH. O tampão bicar- bonato é o mais importante.1,2 CO2 + H2 O- > H2 CO- > H+ + HCO- 3 3 A partir desta reação química é possível dedu- zir a equação de Henderson Hasselbach, fundamen- tal para o entendimento do equilíbrio ácido base: Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: FUNDAMENTOS EM CLÍNICA CIRÚRGICA - 1ª Parte 2008; 41 (3): 301-11 Capítulo VI
  • 2. 302 Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista O termo "metabólico" é um erro consagrado pelo uso, uma vez que ambos os componentes da equa- ção de Henderson Hasselbach envolvem um proces- so metabólico. Considerando se estes conceitos, os mecanis- mos de excreção do H+ podem assim ser resumidos:2 • A excreção pulmonar do íon H+ é indireta. O pul- mão excreta somente substâncias voláteis, isto é, substância que podem ser convertidas em gases. • A excreção renal não apresenta esta limitação, sendo coadjuvada pelas bases tampões. • A média de excreção de CO2 pelos pulmões pode ser mudada rapidamente em qualquer direção por alterações apropriadas da ventilação alveolar, po- rém a hipoventilação para poupar H+ não é um me- canismo tão eficiente quanto a hiperventilação que elimina este mesmo íon de maneira eficiente no iní- cio de um acidótico. • A função renal pela excreção de H+ e eletrólitos influencia no estado ácido base do líquido extrace- lular (LEC), porém um período de horas é necessá- rio para que esta influência seja significante. Um outro detalhe interessante da fisiologia do EAB são as evidências de que o organismo animal, na sua evolução, adquiriu mecanismos naturais de defe- sa contra a acidose mais eficientes do que os meca- nismos contra a alcalose: • Características próprias da função renal que elimi- na o H+ e reabsorve o . • Curva da dissociação da hemoglobina (Hb): na aci- dose a curva desvia se para a direita diminuindo a afinidade da Hb pelo oxigênio e na alcalose desvia se para a esquerda, aumentando a afinidade. • A hiperventilação com alcalose respiratória, desvi- ando a reação do CO2 com a água para a esquerda, é um mecanismo natural de compensação da aci- dose metabólica, que pode ocorrer normalmente, por exemplo, no exercício físico.Aocorrência do fenô- meno inverso é possível na teoria, mas a depressão respiratória produzindo uma acidose respiratória para compensar uma alcalose metabólica só ocorreria com uma diferença de base > +40, uma situação praticamente impossível; isto reflete uma maior di- ficuldade do tratamento da alcalose metabólica, como se observa na prática diária da terapia inten- siva. É importante conceituar reserva alcalina e "base excess" (BE).Areserva alcalina (capacidade de ligação de CO2 ) é a quantidade total de CO2 de uma amostra de plasma separada anaerobicamente após equilibrá-la com 40mmHg de pCO2 à temperatura ambiente (usa se de preferência o bicarbonato padrão em mMol/ l (escola americana capitaneada por DAVENPORT). O excesso de bases, ou diferença de bases, é igual à concentração de bases do sangue em mEq/l, tituladas por um ácido forte a um pH de 7,40, com uma pCO2 de 40mmHg e à temperatura de 37ºC (es- cola dinamarquesa capitaneada por SIGGAARD ANDERSEN). Com a crescente simplificação da análise do EAB por aparelhos de alto rendimento, a determina- ção de parâmetros isolados, como a reserva alcalina, em comparação com um levantamento completo do EAB, passou para um segundo plano. Existe importante inter relação entre o EAB e o equilíbrio hidroeletrolítico (EHE).2 1.1- Lei da Eletroneutralidade Estabelece que a soma das cargas negativas dos ânions deve ser igual à soma das cargas positivas dos cátions. No plasma há 154mEq/l de cátions e, con- seqüentemente, 154mEq/l de ânions. Em todas as cir- cunstâncias o sódio responsabiliza se pela maior parte dos equivalentes catiônicos; portanto, o bicarbonato constitui o elo entre o EAB e o EHE, já que faz parte de ambos. Assim, para que se mantenha a eletroneu- O ácido carbônico pode ser representado pelo produto da constante 0,03 pela pressão parcial de CO2 do sangue arterial. Surge no denominador da equação um gás que expressa a ventilação. Assim é possível concluir que a manutenção do pH depende fundamentalmente da função renal (numerador da equação) e da função respiratória (denominador da equação). Função renal pH = (componente não respiratório ou metabólico) Função respiratória (componente respiratório)
  • 3. 303 Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV tralidade, na vigência de queda do bicarbonato, ocorre um aumento do cloreto e vice versa. O entrejogo dos prótons e ânions em acumulação com os componen- tes normais do soro resulta em padrões de eletrólitos que possibilitam a classificação dos tipos de acidose metabólica. Os prótons consomem as reservas de ál- calis, manifestando sua presença sob a forma de hipobicarbonatemia. Como o álcali perdido é substitu- ído por anions ácidos (fosfato, acetoacetato, cloreto, etc.), segue se que qualquer ácido, exceto o HCL, substituioânion ,facilmentemedido,porânions que não são medidos rotineiramente. A "diferença de ânions" ("anion gap" = DA) reflete o balanço entre o cátion rotineiramente medido (Na+ ) e os ânions roti- neiramente medidos (CL- + ). Como a acidose por HCL efetua uma troca igual de perdido por CI- retido, sem alterar neces- sariamente o Na+ sérico, a DA permanece na faixa normal (12 ± 2mEq/l ), dessa maneira definindo uma acidose hiperclorêmica com DA normal. Todas as outras formas de acidose aumentam o "anion gap" ao substituir o por ânions diversos do CL-. Uma análise crítica da utilidade prática do conceito de "anion gap" demonstra a sua pequena utilização na prática diária. Qual seria a sua real utilidade? Diagnóstico di- ferencial entre tipos de acidose permitindo pensar em diagnósticos menos comuns? Como índice prognósti- co? Uma utilidade real seria o controle de qualidade de dosagens laboratoriais, já que não existe a situação de "anion gap" aumentado, que ocorre só na condição de erros de dosagem. Merecem menção os nomogra- mas de Gamble para a ilustração e integração entre o EAB e o EHE. 1.2- Lei da Isosmolaridade Determina que a osmolaridade é a mesma nos compartimentos líqüidos do organismo, entre os quais a água passa livremente. Seu valor normal é em torno de 285mOsm/l , e, se o número de partículas dissolvi- das aumenta em um compartimento, a água se mobi- lizará em direção a ele até que um novo equilíbrio da osmolaridade seja estabelecido. 1.3- Lei Fisiológica do Equilíbrio Ácido base Estabelece que o organismo tende a manter o pH do sangue em torno de um valor normal. Quanto a esta lei, um fato importante é a interação entre o K+ e o H+ em relação ao intra e extracelular. No caso de acidose, na tentativa de manter o pH do sangue, o potássio sai da célula com a entrada do H+ , ocorrendo o contrário na alcalose, ou seja, saída do H+ e entrada do potássio para o compartimento intracelular. 2- DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO EAB PELA ANÁLISE GASOMÉTRICA Por tratar se de um texto apenas com preten- sões didáticas, antes da apresentação das causas dos distúrbios do EAB, que seria a seqüência lógica, a seguir serão apresentados os princípios diagnósticos. Esta inversão tem-se mostrado útil, pois torna fácil a dedução posterior das variadas causas de desequilíbrio ácido base.2 O diagnóstico das alterações do EAB é feito pela análise dos valores obtidos pela gasometria san- güínea. Como todo exame laboratorial, existem fa- tores que podem influenciar seus resultados: • Em pacientes conscientes, a punção arterial pode resultar em hiperventilação induzida pelo temor ao próprio procedimento. • A heparina é ácida e ao menos teoricamente pode influenciar os valores do pH, pCO2 e pO2 em amos- tras pequenas. • A presença de leucocitose e grande número de plaquetas reduzirá o valor do pO2 , dando a falsa impressão de hipoxemia. Esta queda na pO2 é negligenciável se a amostra é armazenada em gelo e analisada dentro de 1hora; presumivelmente o me- tabolismo em andamento dos elementos celulares do sangue pode consumir O2 e reduzir a pO2 . • O resfriamento aumenta o pH e a saturação de oxi- gênio, e diminui a pO2 . • O halotano aumenta falsamente os valores da pO2 , porque o eletrodo para a pO2 no aparelho de gaso- metria também responde ao halotano. Ainda sob o ponto de vista da análise gasomé- trica, alguns pormenores merecem destaque: • A adoção da escola dinamarquesa (SIGGAARD ANDERSEN) é praticamente uma unanimidade internacional. • Quando se solicita a gasometria sangüínea, o pH, a pO2 e a pCO2 são obtidos por medida eletrônica dire- ta. Os valores do CO2 , , BE, saturacão de oxigênio (SatO2 ) são obtidos por medida indireta me- diante leitura no nomograma de SiggaardAndersen. _ 3HCO
  • 4. 304 Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista • Comoosdistúrbiosenvolvemme- canismos renais e respiratórios, o diagnóstico deve ser baseado na gasometria do sangue arterial. • A amostra venosa não permite a análise da função respiratória e sua colheita está sujeita a erros. Para fins científicos deve, inclu- sive, ser colhida na artéria pul- monar onde o sangue venoso é misto. Duas informações práticas, porém, podem ser obtidas pela análise da gasometria venosa: 1. A pO2 venosa quando com- parada com a pO2 arterial dá uma idéia do débito cardíaco (diferença arteriovenosa gran- de com a pO2 venosa baixa significa baixo débito, com os tecidos extraindo muito o oxi- gêniodahemoglobinapeloflu- xo lento, sendo esta uma situ- ação ainda favorável para se tentar a reversão de um esta- do de choque). 2. A diferença arteriovenosa pe- quena com progressivo au- mento da pO2 venosa indica um "shunt" sistêmico, isto é, um agravamento das trocas teciduais. Portanto, o princi- pal dado fornecido pela gaso- metria venosa é a pO2 . O diagnóstico dos distúrbios do EAB deve, as- sim, embasar-se nos valores da gasometria arterial. É importante conhecer os valores normais dos parâme- tros da gasometria arterial (Quadro 1). Pela gasometria arterial é possível o diagnósti- co dos desvios do componente respiratório (O2 /oxige- nação e pCO2 /ventilação) e do componente metabóli- co (BE e ) (Figura 1). Figura 1: Interpretação da gasometria arterial. Quadro 1: Valores normais da gasometria arterial pH =7,35-7,45 CO2 =23-27mmol/l pO2 =70-90mmHg = 22 - 26mEq/l pCO2 =35-45mmHg BE =-3,5a+3,5mEq/l Um nomograma clássico útil é o apresentado por WEST, que permite o diagnóstico diferencial de praticamente todos os tipos de insuficiência respirató- ria (Figura 2).3 Trata-se de um nomograma de venti- lação (pCO2 )/oxigenação (pO2 ). Como todas as insu- ficiências respiratórias caracterizam se pela hipoxia, o diagnóstico diferencial é dado pelo padrão ventilató- rio, ou seja pela variação da pCO2 . O nomograma destaca as variações da pCO2 e da pO2 nas diversas modalidades de insuficiência res- piratória. • Na hipoventilação pura, o aumento da pCO2 arterial é extremamente rápido, atingindo valores superio- res a 80mmHg com vasodilatação cerebral e falên- cia cardiorrespiratória. • Nos casos de descompensação da doença pulmo- nar obstrutiva crônica (DPOC), o aumento da pCO2
  • 5. 305 Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV 3- CAUSAS MAIS COMUNS DOS DISTÚRBI- OS DO EAB De modo simplificado as causas mais comuns dos distúrbios do EAB podem, assim, ser agrupadas de acordo com os tópicos a seguir.2,4 3.1- Acidose Respiratória • Aguda: por comprometimento do sistema nervoso central (poliomielite anterior aguda, intoxicações exógenas, comas, traumas); por comprometimento anatômico ou funcional da caixa torácica (ossos e músculos). • Crônica: por lesões pulmonares (insuficiência res- piratória crônica). 3.2- Alcalose Respiratória • Aguda: estimulação do centro respiratório bulbar (encefalites, emoção, febre e infecções sistêmicas, intoxicação por salicilato, hipoxemia); reflexos (cho- que); por estimulação de receptores torácicos (ate- lectasia, pneumopatias agudas). arterial é mais lento, dificilmente atingindo valores superiores a 75 a 77mmHg. • Nas pneumopatias restritivas, a pCO2 permanece normal, porque existe uma compensação pela ca- racterística de hiperventilação nessas doenças. • Na síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) ocorre uma queda da pCO2 arterial como uma conseqüência do efeito "shunt" (áreas bem perfundidas e mal ventiladas com alta difusibilidade do CO2 ). • Com o tratamento adequado da SARA a oxigena- ção pode melhorar, porém a não normalização da pCO2 pode significar que ainda persistem áreas bem perfundidas e malventiladas, mantendo ainda o efeito "shunt". • O excesso de oxigênio oferecido a pacientes porta- dores de DPOC pode levar à elevação da pCO2 , inclusive atingindo valores superiores a 80mmHg, o que se deve ao fato de a ventilação destes pacien- tes ser controlada por quimiorreceptores aórticos e carotídeos, que respondem à hipoxia e à acidose. Figura 2: Nomograma pCO2 /pO2 (West). Diagnóstico diferencial das diversas modalidades de insuficiência respiratória. A = Hipoventilação pura; B = DPOC; C = Pneumopatia restritiva; D = SARA; E = SARA + O2 ; F = DPOC + O2 .
  • 6. 306 Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista • Crônica: vários mecanismos (assistência ventila- tória, insuficiência hepática/amônia, lesões do SNC, infecções, hipoxemia, hipertireoidismo). 3.3- Acidose Metabólica • Por adição de ácido forte: - aguda exógena (infusão de NH4 CI, ingestão exa- gerada de ácido acetilsalicílico); - aguda endógena (acidose láctica/ácido láctíco, acidose diabética/corpos cetônicos, cetose de je- jum, azotemia por insuficiência renal aguda, áci- do sulfúrico, ácido fósfórico); - crônica: azotemia/insuficiência renal crônica. • Por perda de bicarbonato: - aguda (diarréia); - crônica (fístula pancreática, acidose tubular re- nal). 3.4- Alcalose Metabólica • Pór perda de ácido forte: - aguda (vômitos); - crônica/perda de potássio (diarréia crônica, corti- costeróides, diuréticos). • Por ganho de bicarbonato: - aguda exógena (infusão de bicarbonato); - aguda endógena (estresse); - crônica (ingestão de antiácidos de ação sistêmi- ca/bicarbonato). Existem situações clínicas importantes que apresentam padrões de alterações do EAB que me- recem atenção pela freqüência e gravidade, entre as quais se incluem: • Estado de choque: A regra é a ocorrência de aci- dose metabólica devida à má perfusão tecidual com conseqüente metabolismo celular anaeróbio. Em uma fase inicial existe a tentativa de compensação respiratória, e, em fase final, a regra é uma acidose mista. • Parada cardíaca: Ocorre acidose metabólica e res- piratória, respectivamente pela parada brusca de oxi- genação tecidual e da ventilação pulmonar. Nestes casos os pacientes devem ser hiperventilados, pois o tratamento da acidose é feito com o bicarbonato de sódio que é doador de CO2 . • Circulação extracorpórea: (CEC) Por melhor que seja a sua técnica, vários são os mecanismos que levam a uma inadequada perfusão tecidual (hipo- fluxo, hipotermia, hiperatividade simpática e ausên- cia de fluxo pulsátil) com conseqüente acidose me- tabólica. Por outro lado o uso de oxigênio puro no oxigenador leva, muitas vezes, a uma acentuada diminuição do CO2 . A alcalose metabólica pode ocorrer pelo excesso de bicarbonato administrado durante a CEC ou, no pós operatório, pela perda excessiva de potássio muito comum durante a deri- vação cardiopulmonar. Um outro problema digno de menção é a ocorrência de alcalose metabólica tardia (48 a 72 horas) no pós operatório. Pode ocor- rer pelo metabolismo do citrato ou do lactato da so- lução de Ringer lactato no perfusado. Existem evi- dências de que esta alcalose seja mais devida ao citrato do anticoagulante do sangue politransfundido do que decorrente do uso de Ringer lactato.2 • Politransfusão sangüínea: O sangue estocado possui uma considerável carga de radicais ácidos, resultante em grande parte do acúmulo de ácidos orgânicos (ácido cítrico do anticoagulante e do áci- do láctico gerado pela hipotermia da estocagern e pela hipoxia). Se ocorrer acidose metabólica deve se proceder à alcalinização, antes feita rotineira- mente, e hoje conforme as necessidades mostradas por gasometria seriada. Além disso, o sangue esto- cado tem níveis de 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG) diminuídos, o que leva ao deslocamento da curva de dissociação da hemoglobina para a esquerda com aumento da sua afinidade pelo oxigênio, piorando a oxigenação periférica, e, conseqüentemente, agra- vando a acidose metabólica. Pode ocorrer, mais tar- diamente, uma alcalose metabólica como resultado da metabolização do citrato pelo fígado. • Alimentação parenteral: No início desta técnica de suporte nutricional, a acidose metabólica era uma grave e freqüente complicação. Isto ocorria porque alguns aminoácidos essenciais (histidina, lisina, or- nitina e arginina), encontravam se nas soluções sob a forma de cloridrato. Esta complicação tornou se mais rara com as soluções de aminoácidos mais re- centes que substituem o cloridrato por aspartato. • Insuficiência renal crônica: A regra é a existên- cia de acidose metabólica por adição de ácidos for- tes (sulfúrico e fosfórico) decorrente da azotemia. Pode ocorrer ainda acidose metabólica pela subtra- ção do bicarbonato devida à chamada acidose tubular
  • 7. 307 Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV renal. Este distúrbio é raro, freqüentemente asso- ciado a síndromes genéticas, e apresenta dois tipos: distal, devido à incapacidade do túbulo distal de manter gradiente máximo de H+ entre a luz tubular e o sangue, e proximal, devido à deficiência de re- absorção do bicarbonato no início do néfron. Os pacientes portadores de insuficiência renal crônica, em geral, adaptam se à acidose metabólica. • Diabetes melito: Ocorre acidose metabólica por adição de ácidos resultante de corpos cetônicos (áci- dos acetoacético e hidroxibutírico). Muitas vezes o simples emprego da insulina é suficiente para o seu tratamento pela diminuição da produção de corpos cetônicos, sem a necessidade do emprego de bicar- bonato. • Afecções gastrointestinais: Nestas, as principais alterações podem ser divididas em três grupos: aci- dose metabólica, alcalose metabólica e perda de potássio.Aacidose metabólica pode ocorrer por per- da de bicarbonato nas diarréias graves e nas fístu- las pancreáticas. A acidose pode ainda ocorrer em função do estado de choque, secundário, por exem- plo, à trombose mesentérica, pancreatite aguda ou fistula pancreática.Aalcalose metabólica pode ocor- rer por perda de suco gástrico ou perda de potássio (diarréia, tumores vilosos do reto, tumores do pân- creas, fístulas biliares, uso excessivo de laxativos). 4- TRATAMENTO DOS DESTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE 4.1- Princípios Gerais Alguns preceitos devem ser seguidos para o adequado tratamento dos desvios do EAB, lembrando se que a gasometria é um exame subsidiário que deve ser analisado em conjunto com os dados clínicos.2,5 • Deve se sempre fazer o tratamento causal que, por si só, é suficiente em grande parte das alterações do EAB. • O tratamento deve fundamentar se em dosagens freqüentes e seriadas dos gases e do pH sangüíneo. • Não confiar de forma absoluta em qualquer resul- tado de laboratório. • Não corrigir as alterações muito rapidamente. • Normalizar inicialmente o volume sangüíneo e a perfusão tecidual. • Não corrigir o pH, o cálcio e o potássio isolada- mente. 4.2- Tratamento da Acidose Respiratória Oxigenação e ventilação adequadas: manuten- ção das vias aéreas livres, correção da hipoxia e/ou hipercapnia, remoção de secreções e tratamento das infecções respiratórias quando presentes. Um erro freqüente é a administração de bicarbonato de sódio com base apenas no valor do pH. 4.3- Tratamento da Alcalose Respiratória O objetivo é combater a hiperventilação com sedação de pacientes ansiosos e histéricos. É um dis- túrbio freqüente em pacientes submetidos à assistên- cia respiratória, principalmente se curarizados. A di- minuição da ventilação pode ser tentada pelo aumen- to do espaço morto, diminuição do volume corrente e pela utilização da ventilação mecânica intermitente (IMV), que tem por característica a normalização da pCO2 , uma vez que permite a respiração espontânea intercalada pelo auxílio do respirador. 4.4- Tratamento da Síndrome da Angústia Res- piratória do Adulto (SARA) A SARA é um problema de "barreira alveolo- capilar" causado pela presença de edema pulmonar intersticial. Caracteriza se por diminuição da capaci- dade residual funcional, alteração da relação ventila- ção/perfusão (V/Q) e aumento do "shunt" pulmonar (Qs/Qt). Seu tratamento consiste basicamente na insta- lação de assistência respiratória (IMV + PEEP), res- trição hídrica, diuréticos, processos dialíticos, metil- prednisolona (?), albumina humana, antibióticos; a albumina deve ser usada na fase inicial para au- mentar a pressão coloidosmótica e ajudar a dimi- nuir o edema pulmonar intersticial, mas na fase avan- çada pode extravasar para o alvéolo, contribuindo para a formação de membrana hialina.Autilização do nitroprussiato de sódio, na tentativa de reduzir a hi- pertensão pulmonar, pode aumentar o desvio arterio- venoso se diminuir muito a pressão arterial sistêmica. A recente utilização de óxido nítrico inalado para re- duzir a hipertensão pulmonar de modo seletivo é pro- missora, mas ainda controversa, havendo mais evi- dências de que não muda a evolução da SARA. Os valores da pO2 e da pCO2 somente voltarão à norma- lidade com a regressão da situação do "shunt" pulmo- nar aumentado.
  • 8. 308 Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista 4.5- Tratamento da Acidose Metabólica Utiliza se o bicarbonato de sódio de acordo com a fórmula de Astrup Siggaard Andersen: 0,03 x kg x BE 2 ou 3 O tratamento da acidose metabólica pode ser feito por estimativa, caso não se disponha dos dados gasométricos, utilizando se, em média, 2mEq/kg de bicarbonato de sódio como dosagem inicial, seguida por doses adicionais criteriosas. Erro comum é o em- prego dessa solução alcalina em excesso, que pode aumentar muito a osmolaridade do sangue, dificultan- do as trocas celulares, ou, ainda, induzir arritmias car- díacas pela alcalose metabólica. O bicarbonato de sódio é, universalmente, o elemento utilizado para tra- tar a acidose metabólica na parada cardíaca. Tem sido estudada a utilização do tampão TRIS (THAM), que teria a vantagem de não ser doador de gás carbônico e não necessitar de hiperventilação, além de sua pro- vável ação superior nas correções da acidose intrace- lular. Como não se observa a utilização rotineira do tampão TRIS, pode se inferir que, em termos de custo beneficio, este tampão pode não ter grandes vanta- gens sobre o uso do bicarbonato de sódio. 4.6- Tratamento da Alcalose Metabólica O tratamento pode envolver reposição de clo- retos, acetazolamida, cloridrato de arginina, HLCI (0,1N), NH4 CI (?). A utilização de cloridrato de argi- nina é empírica (7,5g/12h), uma vez que só a sua fra- ção catabolizada é acidificante. Conseguem se rever- sões parciais da alcalose metabólica, que se recupera algumas horas depois. Utiliza se mais a reposição de cloreto de potássio em associação com a acetazola- mida, a qual, inibindo a anidrase carbônica, aumenta a excreção urinária de bicarbonato. A experiência com HCL é pequena e o NH4 CL é neurotóxico.2,6,7 5- EFEITOS DELETÉRIOS DOS DISTÚRBI- OS DO EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE Tanto a acidose como a alcalose apresentam uma série de efeitos indesejáveis.2,8 Os efeitos inde- sejáveis da acidose aguda estão apresentados no Qua- dro 2. Os efeitos deletérios da alcalose aguda estão representados no Quadro 3. A alcalose metabólica, cuja importância clínica costuma ser relegada a um plano secundário, merece um lugar de destaque entre os possíveis distúrbios da homeostase do paciente gravemente enfermo e dos submetidos a grandes cirurgias. Além de aumentar a afinidade da Hb pelo O2 , tem se dado importância à alcalose metabólica como causa de arritmias cardía- cas, principalmente supraventriculares que não apre- sentam boa resposta aos antiarrítmicos convencionais, admitindo se, inclusive, a ocorrência de morte súbita e sua correlação com aumento da mortalidade em paci- entes graves. A Figura 3 apresenta um resumo das possibili- dades diagnósticas e terapêuticas dos distúrbios do EAB. Este quadro, associado ao nomograma de West (pCO2 /pO2 ), resume grande parte dos conhecimentos utilizados na prática clínica diária. Quadro 2: Efeitos deletérios da acidose aguda. - Sobrecarga respiratória - Anorexia, náuseas, vômitos e alterações neuroló- gicas - Hiperpotassemia - Diminuição da responsividade às catecolaminas e depressão da contratilidade miocárdica - Vasoconstrição renal e oligúria - Resistência à ação da insulina Quadro 3: Efeitos deletérios da alcalose aguda. - Hipocalcemia por diminuição do cálcio ionizável - Hipopotassemia com aumento da perda urinária de K+ - Efeito da alteração da relação K+ íntracelular/K+ extracelular no míocárdio com suscetibilidade a arritmias - Aumento da afinidade da Hb pelo O2 (desvio da curva de dissociação para a esquerda), com hipoxía tecidual - Acidose paradoxal do líquor com piora das condi- ções neurológicas
  • 9. 309 Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV Figura 3: Resumo das possibilidades diagnósticas e terapêuticas dos distúrbios do equilíbrio ácido base. Quadro 4: Exercício de interpretação de resultados da gasometria. CASO 1: pH = 7,30; pO2 = 86; pCO2 = 39; = 18,12; BE = -7,5 Diagnóstico: ausência de alterações respiratórias e acidose metabólica leve. Conduta: acidose com BE até 8 sem sobrecarga respiratória não necessita de tratamento, ocorrendo compensação pelo próprio organismo. Observar que o valor do pH está abaixo do normal, o que é freqüente na acidose do jejum pré-operatório. CASO 2: pH = 7,42; pO2 = 99; pCO2 = 21,39; = 18,12; BE = 8,0 Diagnóstico: acidose metabólica compensada também por mecanismo respiratório. Conduta: esta é uma resposta natural do organismo, ou seja, a hiperventilação para eliminação indireta do H+ . Apesar de o BE ser semelhante ao do Caso 1, neste caso recomenda se tratar a acidose com , pois esta deve 6- EXERCÍCIOS GASOMÉTRICOS A gasometria é um exame complementar que deve ser analisado em associação com o quadro clí- nico apresentado pelo paciente. Os diagnósticos dos casos apresentados no Quadro 4 são orientados pelos dados da Figu- ra 3. _ 3HCO
  • 10. 310 Equilíbrio ácido-base Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Évora PRB, Garcia LV http://www.fmrp.usp.br/revista ser importante a ponto de desencadear os mecanismos respiratórios de compensação. A oferta de nessa situação visa evitar a sobrecarga respiratória, indesejável no paciente criticamente doente. Esta conduta não é unânime; há quem se limita ao tratamento causal quando o pH está normal. CASO 3: pH = 7,61; pO2 = 91; pCO2 = 41; = 39,81; BE = + 18 Diagnóstico: ausência de alterações respiratórias e alcalose metabólica. Conduta: uma boa parte das alcaloses metabólicas está associada à hipopotassernia e/ ou hipocloremia, portanto, estes íons devem ser dosados no plasma. Caso estejam normais, optar por outro agente acidificante: HCL 0,1 a 0,2 N, cloridrato de arginina. Lembrar que a acetazolamida é de grande utilidade no tratamento das alcaloses de adição e que o cloreto de amônio tem seu uso limitado pela neurotoxidade. CASO 4: pH = 7,29; pO2 = 60; pCO2 = 57; = 26,5; BE = 1 Diagnóstico: acidose respiratória sem alterações metabólicas. Conduta: esta gasometria pode ser perfeitamente aceitável para um paciente portador de doença pulmonar obstrutiva crônica. Caso não se trate de um paciente enfisematoso, deve se buscar a causa da hipoventilação e tratá la por meio de ventilação adequada. Caso 5: pH = 7,45; pO2 = 55; pCO2 = 61; = 26,5; BE = + 19 Diagnóstico: acidose respiratória e alcalose metabólica. Conduta: em pacientes não portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, devem se tratar ambos os desvios do equilíbrio ácido base. Comumente interpreta se o presente quadro gasométrico como acidose respiratória com- pensada por alcalose metabólica, o que leva à conduta inadequada. Costumam se tratar os dois distúrbios, pois sabe se que os mecanismos naturais de defesa contra a acidose são muito mais eficientes do que os mecanismos de defesa contra a alcalose. Por outro lado, se o paciente for um enfisematoso pode se interpretar a alcalose metabólica como uma conseqüência da hipercapnia crônica, devendo se tratá la com o emprego de acetazolamida. CASO 6: pH = 7,63; pO2 = 100; pCO2 = 22; = 22,36; BE + 4,5 Diagnóstico: alcalose respiratória e alcalose metabólica leve. Conduta: tratar a alcalose respiratória. Este é um distúrbio comum que ocorre com o uso de respiradores mecânicos e, no caso, poder-se-á diminuir a freqüência respiratória ou aumentar o espaço morto. Uma vez que a pO2 se apresenta em níveis normais, pode não ser conveniente diminuir o volume corrente. Na hiperventilação psicogênica deve se promover a sedação do paciente ou, se possível, fazê lo respirar em saco fechado. CASO 7: pH = 7,30; pO2 = 55; pCO2 = 18; = 20,2; BE = 4,0. Diagnóstico: sempre que houver hipoxia com hipocapnia deve se pensar em alterações pulmonares funcionais (alteração da relação ventilação perfusão, da difusão alveolocapilar, "shunts" arteriovenosos intrapulmonares). Na prática médica, até prova em contrário, trata se de insuficiência respiratória aguda do adulto conseqüente a edema pulmonar intersticial. Conduta: procurar tratar a doença de base, assistência respiraatória com respirador volumétrico e IMV + PEEP, metilprednisolona, furosemida, diálise e albumina humana quando houver hipoproteinemia nas primeiras fases da SARA. Évora PRB, Garcia LV. Acid-base balance. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11. ABSTRACT: A profound knowledge about variations in the acid-base balance is of utmost importance for both the correct diagnosis and the treatment of possible abnormalities. Here, the causes and consequences, as well as potential treatments of both respiratory and metabolic alkalosis and acidosis are discussed. keywords: Acid-Base Equilibrium. Alkalosis. Acidosis.
  • 11. 311 Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 301-11 Equilíbrio ácido-base http://www.fmrp.usp.br/revista Évora PRB, Garcia LV BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 1 - Cohen JJ, Kassirer JP Metabolismo ácido básico. ln: Maxwell & Kleeman. Clínica das Alterações Eletrolíticas. 32 ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1981; p. 132-67. 2 - Évora PRB, Reis CL, Ferez MA, Conte DA, Garcia LV Distúr- bios do equilíbrio hidroeletrolítico e do equilíbrio ácido básico. Uma revisão prática. Medicina (Ribeirão Preto) 32: 451-69, 1999. 3 - West JB. Insuficiência respiratória. In: WEST JB. Fisiopatolo- gia Pulmonar Moderna. 2ª ed., São Paulo, Manole, 1986; p. 157-70. 4 - Birolini D. Nomenclatura e classificação dos distúrbios ácido básicos. ln: Faintuch J, BirolinI D, Machado MC. Equilíbrio Ácido básico na Prática Clínica. São Paulo, Manole, 1975; p. 29-49. 5 - Wilson RF Alterações ácido básicas no choque clínico. In: Schumer W, Nihus LM. Tratamento do Choque. São Paulo, Manole, 1976; p. 44-63. 6 - Évora PRB, Reis CL, Ribeiro P JF, Brasil JCE, Otaviano AG, Silva JRP, Margarido EA. Alcalose metabólica. Tratamento com solução de aminoácidos contendo cloridrato, de argini- na. Rev. paul. med. 1981; 97: 25-8. 7 - Évora PRB. Treatment of the hypocloremic metabolic alkalo- sis by rectal infusion of chloride. Crit care med. 1985; 13: 874. 8 - Faintuch J. Conduta prática nas acidoses e alcaloses. ln: Faintuch J, Birolini D, Machado MC Equilíbrio Ácido básico na Prática Clínica. São Paulo, Manole, 1975; p. 161-5. Recebido para publicação em 20/08/2008 Aprovado para publicação em 30/09/2008