SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Télécharger pour lire hors ligne
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA

Resumo de Artigos
www.sbpt.org.br


Role of Macrolides as Immunomodular Agents.
Mario Cazzola, MD, Francesco Blasi, MD, Paolo Tarsia, MD, Maddalena Zanardelli, MD, and Luigi
Allegra, MD. Clinical Pulmonary Medicine • Volume 13, Number 5, September 2006


A utilização de macrolídeos além da sua função antibiótica é relativamente recente. A descoberta das
propriedades antiinflamatórias desta classe de medicamentos motivou a sua utilização como drogas
imunomoduladoras em diversas situações dentro da medicina, em especial no campo das doenças
respiratórias. A utilização clínica dos macrolídeos como imunomoduladores se iniciou a partir de estudos
japoneses da década de 1990 em doentes com pan-bronquiolite difusa, cuja sobrevida em cinco anos
saltou de 8% para 92% naqueles colonizados por Pseudomonas aeruginosa. Isso motivou uma série de
estudos nas diversas afecções respiratórias, dentre elas asma, DPOC, fibrose cística e bronquiectasias.
Este artigo se constitui em excelente revisão sobre o papel dos macrolídeos como agentes
imunomoduladores, revisa as propriedades desta classe de antibióticos tanto no combate direto às
bactérias como seus efeitos antiinflamatórios e conclui com as aplicações terapêuticas nas diversas
doenças.

MACROLÍDEOS E PSEUDOMONAS
Portadores de doenças inflamatórias crônicas das vias aéreas experimentam repetidas exacerbações
infecciosas e, em casos de doença avançada, podem ser colonizados por Pseudomonas aeruginosa. A
variante mucóide desta bactéria produz um biofilme de alginato que a torna de difícil erradicação e leva à
deterioração da função pulmonar ao longo do tempo. Em especial nos casos de bronquiectasias, a P.
aeruginosa mucóide leva a maior produção de escarro, maior extensão do processo, maior número de
hospitalizações e menor qualidade de vida.

Os macrolídeos não são efetivos contra a P. aeruginosa. No entanto, apesar de não possuírem o efeito
bactericida sobre esta bactéria, reduzem seus efeitos e os estragos teciduais devido à diminuição da
produção de alginato, diminui a motilidade bacteriana e interfere no seu mecanismo auto-regulador de
controlar a produção de biofilme da população bacteriana (quorum sensing).

EFEITOS ANTIINFLAMATÓRIOS
Os macrolídeos são antibióticos que atingem alta concentração no interior das células inflamatórias, o que
permite os fagócitos liberarem a droga no local da inflamação; por isso são ativos contra os agentes
chamados atípicos, conhecidos patógenos intracelulares. Dentre os macrolídeos, a azitromicina é a que
teria o maior tempo de permanência intracelular. Além disso, os macrolídeos também possuem vários
outros papéis que os caracterizam como imunomoduladores:
    • diminuição da produção de uma série de citocinas em resposta a estímulos específicos;
    • efeitos sobre a movimentação dos leucócitos, diminuindo a adesão e a migração para os tecidos;
        estimulam a degranulação dos leucócitos; recrutam neutrófilos e células da circulação expostos à
        bactéria mas suprimem as células inflamatórias na ausência de infecção; aceleram a apoptose dos
        leucócitos;
    • aumentam a depuração mucociliar e inibem a produção de muco in vivo e in vitro.

APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS
Os autores revisam as aplicações dos macrolídeos nas diversas doenças respiratórias, destacando seu
papel essencial nos doentes com pan-bronquiolite difusa, cuja melhora prognóstica após o uso prolongado
desta droga foi marcante. Análise seriada de provas funcionais de doentes com pan-bronquiolite difusa,
tratados por quatro anos com claritromicina oral (200mg/dia), mostraram que o FEV1 saltou de uma
média de 1,74 L para 2,21 L em 3 meses e atingiu valor máximo de 2,31L em 6 meses, valor este
sustentado por até 4 anos. Esse efeito foi observado inclusive na presença de P. aeruginosa. O estudo
documentou ser necessário seis meses de tratamento com claritromicina para melhorar a condição clínica
dos doentes com pan-bronquiolite difusa. Também há estudos retratando que há melhora funcional em
portadores de bronquiolite obliterante após transplante de medula e de pulmão.

Na fibrose cística, a P. aeruginosa é o patógeno mais comum por volta dos 18 anos de idade, colonizando
até 80% dos doentes nesta faixa etária. Há evidências em metanálise que o uso prolongado de baixas
doses de azitromicina melhora a função pulmonar destes doentes, embora os ensaios tenham utilizado
diferentes doses, tempo de utilização e critérios de inclusão. No entanto, é documentado que aqueles q
utilizaram azitromicina prolongadamente dimuíram o número de exacerbações, hospitalizações e a
porcentagem da variante mucóide de P.aeruginosa nas amostras de escarro.

Em bronquiectasias há menor número de estudos utilizando baixas doses de macrolídeos, com
delineamentos diversos e as evidências não são tão claras como nas afecções acima. Os estudos ainda
estão em fase de pilotos e são pequenos. No entanto, os poucos autores que descreveram tal utilização
observaram diminuição na taxa de exacerbações, do volume expectorado, estabilização da função
pulmonar e diminuição da reatividade brônquica. Um estudo de 12 semanas com 25 crianças tratadas com
baixa dose de roxitromicina (4mg/kg-2x/dia) ou placebo encontrou diminuição da purulência do escarro
por semanas e decréscimo na hiper-reatividade detectada pela broncoprovocação pela metacolina. Em
outro estudo os pacientes completaram 4 meses de tratamento com azitromicina (500mg/dia por 6 dias;
250mg/dia por 6 dias e manutenção com 250mg/3x na semana) e se observou significativa redução nas
exacerbações que necessitaram antibioticoterapia oral (0,71/mês para 0,13/mês) e intravenosa (0,08/mês
para 0,003/mês).

Há limitado número de estudos clínicos sobre a utilização de macrolídeos em baixas doses para a asma.
Os resultados preliminares mostraram uma redução da hiper-reatividade à broncoprovocação pela
histamina e supressão da inflamação eosinofílica. Revisão da Cochrane encontrou sete estudos que
envolveram 416 participantes entre crianças e adultos. No entanto, a qualidade da metodologia foi baixa e
houve poucos dados disponíveis para metanálise. Quatro estudos mostraram efeitos em diferentes tipos de
asmáticos com significativa diferença na inflamação eosinofílica e sintomas, mas sem diferença
significativa no FEV1.

Já sobre a DPOC, também há limitado número de estudos e os resultados não se mostraram tão
promissores. A utilização de claritromicina na fase estável da doença por três meses não trouxe vantagens
clínicas e não pode ser recomendada como meio de eliminar a colonização bacteriana ou prevenir as
exacerbações.

CONCLUSÕES
Macrolídeos constituem a única classe terapêutica que possui efeitos antibacterianos e antiinflamatórios.
Devido a essas características, o uso prolongado de baixas doses é considerado para o tratamento de
doenças inflamatórias crônicas das vias aéreas. Os efeitos colaterais desta utilização são mínimos, mais
localizados no trato gastrintestinal e minimizados com o uso de azitromicina e claritromicina. O
desenvolvimento de resistência bacteriana pode ocorrer, mas parece ser em baixo grau.

O papel dos macrolídeos no tratamento antiinflamatório necessita ser mais bem estabelecido, em especial
quais grupos de doentes podem se beneficiar, além da melhor dose a ser empregada e o tempo dessa
utilização.

ARTIGOS RELACIONADOS AO ASSUNTO
  1. Amsden GW. J Antimicrob Chemother. 2005;55:10-21
  2. Culic O et al. Eur J Pharmacol. 2001; 429:209–29
3. Cymbala AA et al. Treat Respir Med. 2005;4:117–122
   4. Davies G, Wilson R. Thorax. 2004;59:540-1
   5. Ho PL et al. Chest 1998; 114:1594-8 In: The Cochrane Library, Issue 2, 2007. Oxford: Update
       Software.
   6. Koh YY et al. Eur Respir J. 1997;10:994-9
   7. Kudoh et al. Am J Respir Crit Care Med. 1998;157:1829–32
   8. Kudoh S, Keicho N. Semin Respir Crit Care Med 2003; 24: 607-618
   9. Lynch DA et al. Am J Roentgenol 1999; 173:53-8
   10. Máiz Carro L, Cantón Moreno R. Med Clin 2004;122(8):311-6
   11. Masaharu Shinkai et al. 2005. Clinical Pulmonary Medicine; 12(6): 341-8
   12. Masaharu Shinkai et al. Clinical Pulmonary Medicine 2005; 12(6): 341-8
   13. Miszkiel KA et al. Thorax 1997; 52:260-4
   14. Nakata K et al. Therapeutic Guidelines for DPB: Annual Report on the Study of Diffuse Lung
       Disease in 1999 in Japanese. Tokyo: Ministry of Health and Welfare of Japan; 2000:111
   15. Saiman L et al. JAMA. 2003;290:1749-56
   16. Southern KW et al. Macrolide antibiotics for cystic fibrosis (Cochrane Review).
   17. Tagaya E et al. Chest 2002; 122(1): 213-8
   18. Tamaoki J. Chest 2004, 125(suppl 2): 41S-51S
   19. Tramper-Stranders et al. Pediatr Infect Dis J 2007; 26:8–12
   20. Tsang KW et al. Eur Respir J. 1999;13:361-4
   21. Wilson CB et al. Am J Respir Crit Care Med 1997; 156:536-41
   22. Wolter J et al. Thorax. 2002;57:212–216
   23. Wozniak DJ; Keyser R. Chest 2004; 125(Suppl 2):62S-69S.
   24. Zuckerman JM. Infect Dis Clin North Am 2004;18: 621-49, xi.


Preparado por:

Mauro Gomes
  • Professor da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
      Paulo;
  • Médico pneumologista do Hospital Samaritano/SP;
  • Diretor da Comissão de Infecções da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia e membro
      da Comissão de Infecções da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Contenu connexe

Similaire à O papel dos Macrolideos na Pneumologia

Uso de antibioticos pmc
Uso de antibioticos pmcUso de antibioticos pmc
Uso de antibioticos pmcRodrigo Calado
 
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fases
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fasesAção da terapia com laser de baixa potência nas fases
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fasesClaudio Zezza
 
Tuberculose, Diagnóstico de Enfermagem
Tuberculose, Diagnóstico de EnfermagemTuberculose, Diagnóstico de Enfermagem
Tuberculose, Diagnóstico de EnfermagemLuciane Santana
 
Tratamento da Esclerose Múltipla na Infância
Tratamento da Esclerose Múltipla na InfânciaTratamento da Esclerose Múltipla na Infância
Tratamento da Esclerose Múltipla na InfânciaLeandro Junior
 
Artigo antimicrobianos
Artigo antimicrobianosArtigo antimicrobianos
Artigo antimicrobianosFernanda Mello
 
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpoc
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpocDoença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpoc
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpocsaulo vinicius
 
Pcdt acne grave_livro_2010
Pcdt acne grave_livro_2010Pcdt acne grave_livro_2010
Pcdt acne grave_livro_2010Arquivo-FClinico
 
Tratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseTratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseEdienny Viana
 
Tratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseTratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseFlávia Salame
 
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniase
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniaseResistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniase
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniaseAnderson Wilbur Lopes Andrade
 
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdf
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdfFarmacocineticaefarmacodinamica.pdf
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdfNayara85
 
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08Fabiano Muniz
 
Asma de difícil controle
Asma de difícil controleAsma de difícil controle
Asma de difícil controleFlávia Salame
 

Similaire à O papel dos Macrolideos na Pneumologia (20)

Uso de antibioticos pmc
Uso de antibioticos pmcUso de antibioticos pmc
Uso de antibioticos pmc
 
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fases
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fasesAção da terapia com laser de baixa potência nas fases
Ação da terapia com laser de baixa potência nas fases
 
Tuberculose, Diagnóstico de Enfermagem
Tuberculose, Diagnóstico de EnfermagemTuberculose, Diagnóstico de Enfermagem
Tuberculose, Diagnóstico de Enfermagem
 
Tratamento da Esclerose Múltipla na Infância
Tratamento da Esclerose Múltipla na InfânciaTratamento da Esclerose Múltipla na Infância
Tratamento da Esclerose Múltipla na Infância
 
06 ciencia
06 ciencia06 ciencia
06 ciencia
 
Artigo antimicrobianos
Artigo antimicrobianosArtigo antimicrobianos
Artigo antimicrobianos
 
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpoc
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpocDoença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpoc
Doença pulmonar-obstrutiva-crônica-dpoc
 
Pcdt acne grave_livro_2010
Pcdt acne grave_livro_2010Pcdt acne grave_livro_2010
Pcdt acne grave_livro_2010
 
Tratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseTratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculose
 
Tratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculoseTratamento da tuberculose
Tratamento da tuberculose
 
Profilaxia antibiotico
Profilaxia antibioticoProfilaxia antibiotico
Profilaxia antibiotico
 
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniase
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniaseResistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniase
Resistencia bacteriana e recidiva em portadores de hanseniase
 
Farmacologia antibioticos de uso frequente veterinaria
Farmacologia   antibioticos de uso frequente veterinariaFarmacologia   antibioticos de uso frequente veterinaria
Farmacologia antibioticos de uso frequente veterinaria
 
tuberculose.pptx
tuberculose.pptxtuberculose.pptx
tuberculose.pptx
 
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdf
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdfFarmacocineticaefarmacodinamica.pdf
Farmacocineticaefarmacodinamica.pdf
 
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
 
Asma de difícil controle
Asma de difícil controleAsma de difícil controle
Asma de difícil controle
 
aula-de-asma-7c2ba-alunos.ppt
aula-de-asma-7c2ba-alunos.pptaula-de-asma-7c2ba-alunos.ppt
aula-de-asma-7c2ba-alunos.ppt
 
Hidrogel
HidrogelHidrogel
Hidrogel
 
Consenso brasileiro uso surfactante sbp
Consenso brasileiro uso surfactante   sbpConsenso brasileiro uso surfactante   sbp
Consenso brasileiro uso surfactante sbp
 

Plus de Flávia Salame

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosFlávia Salame
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaFlávia Salame
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresFlávia Salame
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisFlávia Salame
 
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDAFlávia Salame
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseFlávia Salame
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoFlávia Salame
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseFlávia Salame
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoFlávia Salame
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaFlávia Salame
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Flávia Salame
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoFlávia Salame
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaFlávia Salame
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoriaFlávia Salame
 

Plus de Flávia Salame (20)

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios Básicos
 
Derrames Pleurais
Derrames PleuraisDerrames Pleurais
Derrames Pleurais
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência Respiratória
 
Silicose
SilicoseSilicose
Silicose
 
Asma ocupacional
Asma ocupacionalAsma ocupacional
Asma ocupacional
 
Asbestose
AsbestoseAsbestose
Asbestose
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais Pulmonares
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias Intersticiais
 
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do Sono
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
 
Acido base pucsp
Acido base pucspAcido base pucsp
Acido base pucsp
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição Médica
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares uea
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria
 
Sdra consenso vm
Sdra consenso vmSdra consenso vm
Sdra consenso vm
 

O papel dos Macrolideos na Pneumologia

  • 1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA Resumo de Artigos www.sbpt.org.br Role of Macrolides as Immunomodular Agents. Mario Cazzola, MD, Francesco Blasi, MD, Paolo Tarsia, MD, Maddalena Zanardelli, MD, and Luigi Allegra, MD. Clinical Pulmonary Medicine • Volume 13, Number 5, September 2006 A utilização de macrolídeos além da sua função antibiótica é relativamente recente. A descoberta das propriedades antiinflamatórias desta classe de medicamentos motivou a sua utilização como drogas imunomoduladoras em diversas situações dentro da medicina, em especial no campo das doenças respiratórias. A utilização clínica dos macrolídeos como imunomoduladores se iniciou a partir de estudos japoneses da década de 1990 em doentes com pan-bronquiolite difusa, cuja sobrevida em cinco anos saltou de 8% para 92% naqueles colonizados por Pseudomonas aeruginosa. Isso motivou uma série de estudos nas diversas afecções respiratórias, dentre elas asma, DPOC, fibrose cística e bronquiectasias. Este artigo se constitui em excelente revisão sobre o papel dos macrolídeos como agentes imunomoduladores, revisa as propriedades desta classe de antibióticos tanto no combate direto às bactérias como seus efeitos antiinflamatórios e conclui com as aplicações terapêuticas nas diversas doenças. MACROLÍDEOS E PSEUDOMONAS Portadores de doenças inflamatórias crônicas das vias aéreas experimentam repetidas exacerbações infecciosas e, em casos de doença avançada, podem ser colonizados por Pseudomonas aeruginosa. A variante mucóide desta bactéria produz um biofilme de alginato que a torna de difícil erradicação e leva à deterioração da função pulmonar ao longo do tempo. Em especial nos casos de bronquiectasias, a P. aeruginosa mucóide leva a maior produção de escarro, maior extensão do processo, maior número de hospitalizações e menor qualidade de vida. Os macrolídeos não são efetivos contra a P. aeruginosa. No entanto, apesar de não possuírem o efeito bactericida sobre esta bactéria, reduzem seus efeitos e os estragos teciduais devido à diminuição da produção de alginato, diminui a motilidade bacteriana e interfere no seu mecanismo auto-regulador de controlar a produção de biofilme da população bacteriana (quorum sensing). EFEITOS ANTIINFLAMATÓRIOS Os macrolídeos são antibióticos que atingem alta concentração no interior das células inflamatórias, o que permite os fagócitos liberarem a droga no local da inflamação; por isso são ativos contra os agentes chamados atípicos, conhecidos patógenos intracelulares. Dentre os macrolídeos, a azitromicina é a que teria o maior tempo de permanência intracelular. Além disso, os macrolídeos também possuem vários outros papéis que os caracterizam como imunomoduladores: • diminuição da produção de uma série de citocinas em resposta a estímulos específicos; • efeitos sobre a movimentação dos leucócitos, diminuindo a adesão e a migração para os tecidos; estimulam a degranulação dos leucócitos; recrutam neutrófilos e células da circulação expostos à bactéria mas suprimem as células inflamatórias na ausência de infecção; aceleram a apoptose dos leucócitos; • aumentam a depuração mucociliar e inibem a produção de muco in vivo e in vitro. APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS Os autores revisam as aplicações dos macrolídeos nas diversas doenças respiratórias, destacando seu papel essencial nos doentes com pan-bronquiolite difusa, cuja melhora prognóstica após o uso prolongado
  • 2. desta droga foi marcante. Análise seriada de provas funcionais de doentes com pan-bronquiolite difusa, tratados por quatro anos com claritromicina oral (200mg/dia), mostraram que o FEV1 saltou de uma média de 1,74 L para 2,21 L em 3 meses e atingiu valor máximo de 2,31L em 6 meses, valor este sustentado por até 4 anos. Esse efeito foi observado inclusive na presença de P. aeruginosa. O estudo documentou ser necessário seis meses de tratamento com claritromicina para melhorar a condição clínica dos doentes com pan-bronquiolite difusa. Também há estudos retratando que há melhora funcional em portadores de bronquiolite obliterante após transplante de medula e de pulmão. Na fibrose cística, a P. aeruginosa é o patógeno mais comum por volta dos 18 anos de idade, colonizando até 80% dos doentes nesta faixa etária. Há evidências em metanálise que o uso prolongado de baixas doses de azitromicina melhora a função pulmonar destes doentes, embora os ensaios tenham utilizado diferentes doses, tempo de utilização e critérios de inclusão. No entanto, é documentado que aqueles q utilizaram azitromicina prolongadamente dimuíram o número de exacerbações, hospitalizações e a porcentagem da variante mucóide de P.aeruginosa nas amostras de escarro. Em bronquiectasias há menor número de estudos utilizando baixas doses de macrolídeos, com delineamentos diversos e as evidências não são tão claras como nas afecções acima. Os estudos ainda estão em fase de pilotos e são pequenos. No entanto, os poucos autores que descreveram tal utilização observaram diminuição na taxa de exacerbações, do volume expectorado, estabilização da função pulmonar e diminuição da reatividade brônquica. Um estudo de 12 semanas com 25 crianças tratadas com baixa dose de roxitromicina (4mg/kg-2x/dia) ou placebo encontrou diminuição da purulência do escarro por semanas e decréscimo na hiper-reatividade detectada pela broncoprovocação pela metacolina. Em outro estudo os pacientes completaram 4 meses de tratamento com azitromicina (500mg/dia por 6 dias; 250mg/dia por 6 dias e manutenção com 250mg/3x na semana) e se observou significativa redução nas exacerbações que necessitaram antibioticoterapia oral (0,71/mês para 0,13/mês) e intravenosa (0,08/mês para 0,003/mês). Há limitado número de estudos clínicos sobre a utilização de macrolídeos em baixas doses para a asma. Os resultados preliminares mostraram uma redução da hiper-reatividade à broncoprovocação pela histamina e supressão da inflamação eosinofílica. Revisão da Cochrane encontrou sete estudos que envolveram 416 participantes entre crianças e adultos. No entanto, a qualidade da metodologia foi baixa e houve poucos dados disponíveis para metanálise. Quatro estudos mostraram efeitos em diferentes tipos de asmáticos com significativa diferença na inflamação eosinofílica e sintomas, mas sem diferença significativa no FEV1. Já sobre a DPOC, também há limitado número de estudos e os resultados não se mostraram tão promissores. A utilização de claritromicina na fase estável da doença por três meses não trouxe vantagens clínicas e não pode ser recomendada como meio de eliminar a colonização bacteriana ou prevenir as exacerbações. CONCLUSÕES Macrolídeos constituem a única classe terapêutica que possui efeitos antibacterianos e antiinflamatórios. Devido a essas características, o uso prolongado de baixas doses é considerado para o tratamento de doenças inflamatórias crônicas das vias aéreas. Os efeitos colaterais desta utilização são mínimos, mais localizados no trato gastrintestinal e minimizados com o uso de azitromicina e claritromicina. O desenvolvimento de resistência bacteriana pode ocorrer, mas parece ser em baixo grau. O papel dos macrolídeos no tratamento antiinflamatório necessita ser mais bem estabelecido, em especial quais grupos de doentes podem se beneficiar, além da melhor dose a ser empregada e o tempo dessa utilização. ARTIGOS RELACIONADOS AO ASSUNTO 1. Amsden GW. J Antimicrob Chemother. 2005;55:10-21 2. Culic O et al. Eur J Pharmacol. 2001; 429:209–29
  • 3. 3. Cymbala AA et al. Treat Respir Med. 2005;4:117–122 4. Davies G, Wilson R. Thorax. 2004;59:540-1 5. Ho PL et al. Chest 1998; 114:1594-8 In: The Cochrane Library, Issue 2, 2007. Oxford: Update Software. 6. Koh YY et al. Eur Respir J. 1997;10:994-9 7. Kudoh et al. Am J Respir Crit Care Med. 1998;157:1829–32 8. Kudoh S, Keicho N. Semin Respir Crit Care Med 2003; 24: 607-618 9. Lynch DA et al. Am J Roentgenol 1999; 173:53-8 10. Máiz Carro L, Cantón Moreno R. Med Clin 2004;122(8):311-6 11. Masaharu Shinkai et al. 2005. Clinical Pulmonary Medicine; 12(6): 341-8 12. Masaharu Shinkai et al. Clinical Pulmonary Medicine 2005; 12(6): 341-8 13. Miszkiel KA et al. Thorax 1997; 52:260-4 14. Nakata K et al. Therapeutic Guidelines for DPB: Annual Report on the Study of Diffuse Lung Disease in 1999 in Japanese. Tokyo: Ministry of Health and Welfare of Japan; 2000:111 15. Saiman L et al. JAMA. 2003;290:1749-56 16. Southern KW et al. Macrolide antibiotics for cystic fibrosis (Cochrane Review). 17. Tagaya E et al. Chest 2002; 122(1): 213-8 18. Tamaoki J. Chest 2004, 125(suppl 2): 41S-51S 19. Tramper-Stranders et al. Pediatr Infect Dis J 2007; 26:8–12 20. Tsang KW et al. Eur Respir J. 1999;13:361-4 21. Wilson CB et al. Am J Respir Crit Care Med 1997; 156:536-41 22. Wolter J et al. Thorax. 2002;57:212–216 23. Wozniak DJ; Keyser R. Chest 2004; 125(Suppl 2):62S-69S. 24. Zuckerman JM. Infect Dis Clin North Am 2004;18: 621-49, xi. Preparado por: Mauro Gomes • Professor da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; • Médico pneumologista do Hospital Samaritano/SP; • Diretor da Comissão de Infecções da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia e membro da Comissão de Infecções da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.