SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  13
Télécharger pour lire hors ligne
Uma Visão de Governança Territorial Inspirada em Princípios de
                           Gestão Social
Antonio Édio Pinheiro Callou1

Valéria Giannella2




RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de trazer ao debate uma visão de governança
territorial inspirada em princípios da gestão social como um elemento de grande
impacto para o êxito das propostas de desenvolvimento regional. A partir da revisão
bibliográfica destacaremos, inicialmente, as relações evidentes entre os conceitos
contemporâneos de governança, território e gestão social, privilegiando o quadro teórico
que relaciona a valorização do local e a autonomia como pré-requisitos para o alcance
do desenvolvimento. Em seguida, através da observação da experiência do Fórum de
Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, vivenciada ao longo de quinze anos, evidenciamos
como iniciativas desta natureza, mesmo não caracterizando um quadro de governança
ideal, podem inspirar princípios da gestão social e influenciar a formação de valores
necessários para a consolidação da democracia participativa, caso sejam conduzidas
para este propósito. Concluímos que tais práticas fortalecem a expressão da
territorialidade, enquanto sentido de pertença, ao considerar e envolver a sociedade e
seus meios de convivência no planejamento e gestão das políticas públicas, no entanto,
estas devem continuar sendo vivenciadas e investigadas para serem cada vez mais
percebidas e aprimoradas.

Palavras-chave: Governança Territorial; Gestão Social; Fórum de Turismo e Cultura
do Cariri.

Eixo Temático: Gestão Social, Políticas Públicas e Territórios.




1
  Administrador; Especialista em Comércio Exterior; Mestrando em Desenvolvimento Regional
Sustentável, Universidade Federal do Ceará – UFC/Campus Cariri, ediopc@hotmail.com
2
  Doutora em Políticas Públicas do Território; Professorora adjunta da Universidade Federal do Ceará -
UFC/Campus Cariri, valeriagiannella@gmail.com
INTRODUÇÃO

As constantes crises multisetoriais de alcance global, produzidas pelos modelos
hegemônicos de desenvolvimento centralizado, direcionam as discussões para uma
tendência norteadora das ações de governo neste século, as políticas de regionalização
apoiadas numa gestão participativa. Tais propostas surgem como uma diretriz indutora
do novo paradigma de desenvolvimento, tendo como requisitos básicos o
aproveitamento das oportunidades de diferenciação existentes nos territórios e o efeito
sinérgico gerado pela interação das forças locais e supralocais na formação da
governança territorial.

Nessa perspectiva amplia-se a necessidade de processos decisórios fundamentados na
gestão compartilhada entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil
organizada, na criação de um pacto social em torno das demandas locais. Fato expresso
na convicção internacional, de que a “boa governança” importa para o desenvolvimento,
como um meio para atacar as anomalias estruturais dos modelos neoliberais e corrigir as
distorções fomentadas pelos governos centralizadores, clientelistas e de visão
fragmentada.

Porém, vale ressaltar, que o conceito de governança, ou governance, precisa ser
apropriado para fins do estudo sobre uma ótica específica, pois este pode assumir
diversos significados e até apresentar contradições ao tentarmos aproximá-lo da gestão
social. Com este propósito destacaremos e integraremos os principais focos do conceito,
identificados na literatura a partir de três aspectos. O primeiro denota a forma ou
processo de se exercer a autoridade (GONÇALVES, 2006), o segundo o efeito das
ações de governo que se deseja (DUTRA, 2007) e o terceiro como a capacidade de
interação dos diversos atores na gestão dos assuntos públicos (DALLABRIDA, 2010).
Assim traremos para o debate uma visão de governança territorial inspirada em
princípios da gestão social como um elemento de grande impacto para a promoção do
desenvolvimento regional, sem prescindir de nenhum destes conceitos.

No contexto nacional, percebe-se o surgimento de variadas iniciativas auto-intituladas
de instâncias de governanças em diversificadas escalas territoriais. Estas, hora
promovidas pela própria ação governamental, hora provocadas a partir de iniciativas dos
atores locais, suscitam dúvidas sobre a sua real existência e efetividade. Isto implica
numa forte tendência para as mudanças na forma de atuação do Estado na promoção do
progresso e equidade social, ao mesmo tempo em que exigem cuidados redobrados no
reconhecimento de tais governanças, cuidados estes, adotados na pesquisa.

O estudo de caso revela elementos que reforçam as proposições teóricas discutidas no
texto, mesmo não apresentando um quadro ideal de governança territorial explicitada. A
proposta é discutir um modelo de governança que supera a visão que reduz tal expressão
a eficiência da gestão executiva a favor dos poderes hegemônicos constituídos
(DUTRA, 2007). Não pretendemos com isto transformar a gestão social num sinônimo
de governança territorial, nem negar as particularidades de cada conceito, mas
demonstrar a existência de uma relação apropriada quando se pretende utilizá-los na
promoção do desenvolvimento regional sustentável.

Para o alcance deste objetivo, estruturamos o texto em três partes, além desta
introdução. Na primeira, trataremos das relações entre os conceitos contemporâneos de
governança, território e gestão social, analisadas através de pesquisa bibliográfica de
referência. Na segunda parte, apresentaremos o estudo de caso do Fórum de Turismo e
Cultura de Cariri, Ceará, vivenciado ao longo dos seus quinze anos de existência,
destacando os principais resultados que reforçam a importância de iniciativas desta
natureza para a consolidação da democracia participativa. Por fim, apresentaremos as
considerações finais pertinentes ao tema.

Vale salientar que este estudo não pretende aprofundar discussões sobre os impactos da
atuação do Fórum na transformação da realidade política da Região, devendo este tema
ser alvo de outras investigações. No entanto, ao analisar mudanças nas relações
institucionais ocorridas no cenário estudado, acabamos por demonstrar que alterações
significativas no processo de governança ocorrem no médio prazo e dependem da
persistência de experiências inovadoras como o estudo de caso em pauta.



RELAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS DE GOVERNANÇA, TERRITÓRIO E
GESTÃO SOCIAL


a) A governança

Inicialmente projetada no seio da gestão organizacional como governança coorporativa,
foi desenvolvida para tratar do chamado “conflito de agência”, gerado entre o poder de
propriedade dos acionistas e o poder de decisão dos gestores das empresas. A partir da
intensificação das crises mundiais do século XX e da constatação da incapacidade do
Estado conduzir sozinho os processos de desenvolvimento, a expressão governança ou
governance passa a ser utilizada também no setor público, absorvendo outras dimensões
e superando a ideia de governo.

No cenário internacional, são grandes as expectativas sobre a constituição de uma boa
governance global, alicerçada na efetivação das governanças em cada país. Para medir
esta relação entre governance e desenvolvimento, pesquisadores ligados ao Banco
Mundial, desenvolveram o estudo WGI - Worldwide Governance Indicators
(KAUFMANN, et al., 2009), estabelecendo seis indicadores responsáveis para comparar
o desempenho das governanças em mais de 200 países ou territórios e avaliar suas
possibilidades de desenvolvimento.

Os referidos indicadores representam: a) a voz e responsabilidade dos cidadãos; b)
estabilidade política e ausência de violência/terrorismo; c) eficácia do governo na
prestação dos serviços públicos; d) qualidade normativa na promoção do
desenvolvimento; e) regime de direito que confirma o cumprimento das regras de
sociedade; e, f) o controle da corrupção. Apesar de não representarem a opinião oficial e
nem determinar a forma de distribuição dos recursos do Banco Mundial, esta
metodologia de avaliação utilizada desde 1996, influencia os formuladores de políticas,
grupos da sociedade civil e doadores de ajuda aos países, criando uma espécie de
“modelo ideal de governance”.

No entanto, como todo conceito polêmico, este também continua sem uma aplicação
homogênea e gerando muitos debates em torno do seu real significado. Sem pretender
aprofundar a questão, destacaremos apenas três visões diferenciadas, mas
complementares que a partir de enfoques já citados ajudam a justificar nossa opção por
uma visão de governança que se aproxima da gestão social, mantendo uma autonomia
teórica distinta dos modelos institucionalizados pelas agências internacionais.
Gonçalves (2006) tem a governança como uma instância maior que o governo e fixa sua
definição como meio e processo capaz de produzir resultados eficazes, a partir da
cooperação entre os atores sociais, políticos e econômicos, incluindo os mecanismos
formais e redes sociais informais na articulação dos interesses. Este conceito privilegia a
forma ou modus operandi da governance.

Outra maneira de defini-la é estabelecendo os seus fins ou efeitos, conforme abordagem
de Dutra (2007) que a define como a eficiência da gestão executiva, incluindo a
arquitetura política estabelecida pelos poderes hegemônicos constituídos, que resulta em
capacidade de governar com aceitabilidade e alcançar a satisfação da sociedade.

Já em Dallabrida (2010, p. 3) encontramos o conceito de governança territorial como
expressão “da capacidade de uma sociedade organizada territorialmente, para gerir os
assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais,
econômicos e institucionais”, ressaltando, portanto, uma característica inerente a
sociedade para existir de fato uma governança.

Tomando estas definições como bases, podemos perceber que a governança territorial
pode assumir uma posição de contraste ou de afastamento dos princípios da gestão
social, caso não se considere aspectos específicos dos seus meios, fins e capacidades
inerentes ao processo de desenvolvimento. Desta forma, uma visão apropriada de “boa
governança” deve está relacionada ao envolvimento dos diversos atores locais no
processo decisório, com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável de um
dado território, adquirido através da capacidade do conjunto da sociedade encontrar
soluções adequadas aos seus problemas.

Assim, não basta criar os meios para a participação da sociedade no debate político,
caso não se estabeleçam condições apropriadas para promover a cidadania participativa.
Também não se consegue vislumbrar efeitos positivos de longo prazo, mesmo com
eficiência administrativa, nas gestões centralizadas, tão pouco adianta estabelecer um
processo de governança participativa para atender somente as demandas dos poderes
hegemônicos, deixando de lado parte da sociedade. Portanto, faz-se necessário
estabelecer o modelo de governança que se deseja antes de envidar esforços
governamentais e sociais para alcançá-lo.



b) O território

Este novo contexto político-institucional amplia o significado de território que passa a
ser associado à noção abstrata de espaço, envolvendo as dimensões física, cultural,
política e cognitiva. Um espaço apropriado, sendo definido e delimitado a partir das
relações de poder entre seus atores, em suas múltiplas dimensões (ALBAGLI, 2004
apud EGLER, 1995 e RAFFESTIN,1993). Assim, o conceito de território começa a
receber uma posição de destaque no estabelecimento da governança, pois representa o
produto da intervenção e do trabalho do conjunto amplo de atores sobre determinado
espaço.

A partir dessa perspectiva o território vem sendo estudado em diversos campos das
ciências sociais, não só na sua dimensão material ou concreta, mas, também, como “um
campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais”, que se projetam no espaço
(SOUZA, 1995). Um recorte congnitivo, construído historicamente, capaz de fazer
convergir as forças de sustentação das dinâmicas ambientais, sociais e produtivas,
reacendendo o importância        das   regiões,   enquanto    alvos   das   políticas   de
desenvolvimento.

 O papel das regiões é retomado sempre que reacendem as discussões sobre a relação
entre a centralização político-administrativa do poder e o respeito a diversidade
espacial. Um dilema emblemático ressaltado nos discursos políticos “modernos” que
pregam o triunfo da territorialidade i para possibilitar o assentamento da diversidade
regional na uniformidade do Estado. Na maioria das vezes tais propostas são defendidas
mas não vivenciadas (RAFFESTING, 1993).

Porém, mesmo tendo que superar a visão utilitarista do regionalismo defendido pelo
Estado, protestos da sociedade fortalecem a necessidade de se retomar o poder pela base
por meio do cotidiano e recuperar um novo recorte territorial que possa permitir o
exercício desse poder. De acordo com Raffesting (1993), a redescoberta dessa nova
“malha territorial”, concreta para as coletividades, revela que “estamos certamente no
limiar de uma era na qual a região, a que é vivida, desempenhará um papel cada vez
maior para as diversas comunidades.”

As discussões dos conceitos de território e região ganham importância com a crescente
necessidade de mudança nos sistemas de governo, incapazes de suprir sozinhos as
necessidades da maioria da população. Condição que amplia a atuação e visibilidade das
experiências de governanças territoriais, favorecendo o avanço das propostas de
alternativas eficazes de gestão social, na superação das limitações dos sistemas vigentes.



c) A gestão social

As questões relacionadas ao fortalecimento da governança e regionalização das políticas
públicas sugem como consequência das tentativas de reformas do Estado, ocasionadas
pela crise fiscal em meados da década de 1970, sobretudo a partir da crise do petróleo,
em 1973. A escassez de recursos na economia mundial desse período afetou
profundamente os sistemas de governo, que sobrecarregados de atividades e
responsabilidades para com a sociedade perderam eficiência, credibilidade e em alguns
casos a governabilidadeii. Isso colocou em xeque o antigo modelo de intervenção estatal
(PEREIRA et al., 2003).

Nesse cenário de governos empobrecidos e iniciativa privada com maior espaço
político, crescem as propostas de ajuste estrutural e gerencial do Estado, a partir de
reformas orientadas para o mercado (PEREIRA et al., 2003). Como efeitos se observam
o fortalecimento da ideologia privatizante e a hibridização das gestões públicas,
objetivando a instalação de um Estado mínimo.

Modelo que se mostra irrealista e insustentável, pois o esvaziamento da legitimidade
política o torna refém dos mecanismos de mercado, principais causadores das
desigualdades sociais. Com esta constatação a solução rapidamente passa a apontar em
direção à reconstrução e não mais ao definhamento do Estado (PEREIRA et al., 2003),
indicando que a retomada da sua eficácia depende da reinvenção dos governos.

No Brasil, tais mudanças se apresentaram a partir da identificação da necessidade de
alteração das duas principais instituições criadas para proteger o patrimônio público: a
democracia e a administração pública (PEREIRA et al., 2003). Um projeto audacioso,
que visava à tentativa de tornar a democracia mais participativa e a administração
pública mais eficaz.

Os experimentos de reforma floresceram nesse ambiente, focando o resgate da
credibilidade do Estado, a partir da redução de gastos e flexibilização da máquina
pública, privilegiando a introdução de mecanismos gerenciais na administração pública,
como uma das estratégias a serem exploradas (PEREIRA et al., 2003). O bem público
deixou de ser responsabilidade exclusiva do poder público que passou a compartilhar
atividades com a sociedade, germinando as primeiras sementes que definiram os
princípiosiii da gestão social.

Como conceito em construção, sobre o qual ainda não se encontra consenso, a gestão
social continua assumindo vários significados, negociados entre os autores que a
debatem conforme os acentos e os olhares destinados às relações sociais e às práticas
com suas várias dimensões a serem consideradas. Mesmo assim, ainda é frequente sua
redução à esfera da administração pública direta ou indireta, hora identificada a partir da
finalidade ou campo de ação (gestão do social), hora pelo sujeito que protagoniza a ação
(gestão pelo social).

Com a diversificação das experiências e o alargamento do conceito, a gestão social
passou a requerer uma compreensão muito mais ampla e sistêmica, pois envolve a
atuação integrada entre governos, a iniciativa privada e sociedade civil organizada, em
setores que extrapolam as questões sociais salvaguardadas pelo poder público, em
diversas escalas, dando margem à criação de diferentes formas de interação, como a
governança territorial.

Opiniões divergentes a cerca do significado da própria expressão “gestão social” ainda
permanecem. França (2008) chega a ventilar a redundância deste conceito por haver
uma dimensão necessariamente social e interacional em qualquer modelo de gestão.
Outras referências tentam mostrar a existência de uma distinção entre a lógica
organizacional e a social, onde a primeira tem de preferência um objetivo unívoco e age
pela racionalidade instrumental enquanto a segunda se funda necessariamente em
processos mais complexos de formação dos objetivos e das formas de seu alcance
envolvendo diferentes sujeitos sociais.

Mesmo percebendo tais divergências de proposições, destacam-se pontos em comum
que tentam estabelecer uma fundamentação teórica sobre o tema. Nesse sentido, os dois
níveis antes citados podem também se conceber como complementares sendo necessária
uma revisão das racionalidades neles usadas e a superação da visão apenas
instrumentalista das organizações.

A necessidade de interação entre essas dimensões revela que os grandes desafios na
busca por um modelo de gestão social são a legitimação do poder de decisão das
sociedades na construção do seu próprio futuro e a superação do paradigma instrumental
da gestão organizacional na administração pública. A aplicação irreflexiva deste último
pode reforçar um modelo de democracia condicionada às regras do mercado.

Com finalidade de promover o bem-estar social, através de um processo de
envolvimento das pessoas e o respeito às relações humanas na tomada de decisões
(FRANÇA, 2008), as experiências de gestão social empenham-se na institucionalização
de novos espaços de participação da sociedade. A definição de um conjunto de
princípios norteadores capazes de promover equidade social é fundamental para trilhar
este caminho.
Tenório (2008) problematiza ainda mais o conceito quando nos apresenta a gestão social
pautada num “processo gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada
entre os participantes da ação”, constituindo o que chama de “cidadania deliberativaiv”.
Defende uma nova lógica de gestão que pressupõe a solidariedade nos processos
decisórios a serem marcados pelo diálogo e concordância racional. No entanto, é difícil
prever uma situação de ausência de conflito nos diálogos, comuns nas sociedades
pluralistas, bem como ter na solidariedade um pressuposto recorrente nos processos de
gestão social, quando a prática revela se tratar de um produto eventual.

Essa nova lógica inverte uma premissa fundamental da gestão organizacional, onde os
fins (normalmente econômicos) determinam os meios, para a crença de que os meios
(participação e compartilhamento) poderão obter os fins ideais, considerando que a
consolidação da “cidadania deliberativa”, gera processos construtivos para uma
sociedade participativa e responsável.

Mesmo reconhecendo alguns avanços obtidos no campo da governança territorial
inspirada em princípios da gestão social, argumentos resistentes à ideia da participação
da sociedade e ampliação das liberdades políticas tentam manter os status quo
conquistados, amparando a resistência da maioria dos governos em compartilhar seu
poder de decisão. Dentre estes, destaca-se a preponderância e urgência das necessidades
econômicas das populações sobre sua autonomia, sugerindo que os governos rígidos e
centralizadores são mais eficazes na geração e distribuição de renda.

Em Sen (2000) encontramos elementos que se contrapõem a tal argumento, pois,
segundo este autor, existem amplas inter-relações entre necessidades econômicas e
liberdades políticas, tanto instrumentais como construtivas, normalmente não
consideradas nas análises. Seus estudos demonstram que o exercício dos direitos civis e
políticos, não só torna mais possíveis respostas condizentes às necessidades
econômicas, como também promovem a sua própria compreensão e conceituação,
ampliando a importância dos fundamentos da gestão social.

Assim, o empoderamento dos atores locais nos processos decisórios e para coprodução
do bem público (SALM et al., 2007) constitui um dispositivo necessário para o
fortalecimento do território como unidade básica de planejamento e atuação das
políticas promotoras de desenvolvimento, tornando evidente a relação e não a
contraposição entre os conceitos de governança, território e gestão social.

Mas, como superar a inércia dos poderes constituídos? Quais as formas ou modelos
apropriados ao enfrentamento dos desafios contemporâneos para a promoção do
desenvolvimento? Essas e outras questões-chave permeiam as discussões, em meio à
resistência dos sistemas dominantes. A democracia representativa, defendida pela
maioria dos governos como a solução mais viável, tem dado sinais de insuficiência na
resolução desses impasses e, na maioria dos casos, contribuído para a ampliação das
diferenças sociais, já que não consegue preservar os direitos de todos os cidadãos.

Apesar de haver um razoável consenso sobre a essencialidade dos sistemas políticos
com características democráticas para o processo de desenvolvimento, e de ter havido
avanços constitucionais neste sentido, não podemos enxergar a democracia, sem
maiores atributos, como um remédio automático. Suas realizações e efeitos dependem
da sociedade e dos governos, a primeira sabendo aproveitar as oportunidades, através do
vigor político multipartidário e da formação de valores morais (SEN, 2000), e o
segundo criando mecanismos para o estímulo e fortalecimento das novas instâncias de
debates e decisões.
Assim, o exercício da cidadania participativa e a indução de políticas públicas
descentralizadoras, dependem de iniciativas das gestões sociais inovadoras e audaciosas
em torno de uma proposta de “boa governança”. A ampliação dos direitos políticos e da
participação social na formulação, planejamento e gestão das propostas para o
desenvolvimento local, funcionam como catalisadores da democracia participativa e
provocadores de um aparato legal que a consubstancia.

Mesmo negando a hipótese de que a lógica gerencial possa ser a salvação do Estado, há
de se reconhecer que os processos de descentralização do governo e desconcentração do
poder público, foram impulsionados exatamente pela busca de maior eficiência, isto é,
pela afirmação de um clássico critério gerencialista, reforçando a importância da sua
influência na construção de um novo cenário.

Caracterizando a governança territorial como a forma participativa pela qual se obtém
os efeitos positivos de governo para toda a sociedade, com aproveitamento das vocações
territoriais, expressada na capacidade de organização e gestão dos assuntos públicos do
conjunto dos atores sociais, econômicos e institucionais, trazemos ao debate uma visão
específica de governança inspirada em princípios da gestão social, como um caminho de
amplas perspectivas.

Proposta que observa nas experiências de instalação de um processo complexo de
tomada de decisão que antecipa e ultrapassa o governo (DALLABRIDA, 2010 apud
MILANE&SOLINÍS, 2002), as tentativas de se contribuir para a redução dos desvios
normalmente ocorridos na gestão dos interesses coletivos. Propósito disposto na
observação da experiência do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, a seguir.



A EXPERIÊNCIA DO FÓRUM DE TURISMO E CULTURAL DO CARIRI,
CEARÁ

A identificação de experiências tidas como formas de gestão social num contexto
regional, é essencial para a realização de analises que relacionam teoria e prática através
da aplicação dos conceitos-chave envolvidos no tema. Para o estudo de caso em
questão, selecionamos a experiência do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará,
vivenciada ao longo dos seus quinze anos.

Criado em 1997, a partir de seminários de turismo promovidos pela Universidade
Regional do Cariri (URCA), Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e atores locais,
iniciou suas atividades promovendo debates sobre as ações e políticas públicas restritas
às propostas de planejamento do Estado para o setor de turismo.

No início, a adesão maior foi da comunidade acadêmica e de representantes do poder
público e instituições de apoio ao desenvolvimento da região. Não tendo uma agenda
pré-estabelecida nem o poder de articulação consolidado, permaneceu por alguns anos
sem realizar encontros regionais.

A partir do ano de 2001, por provocação de quatro secretários municipais de turismo
dos municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha, aliados à
coordenação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará
(SEBRAE/CE), retomou-se as reuniões periódicas, desta feita com o formato de Fórum
Regional, realizado por meio de assembleias itinerantes, uma estratégia para estimular a
participação de outros municípios da Região.
Com o êxito da estratégia de envolvimento, amplia-se a participação para treze
municípios num prazo de um ano. Neste momento (2002), o Fórum de Turismo, atuava
como principal integrador dos municípios que participavam da política federal de
promoção do setor, intitulada Programa Nacional de Municipalização do Turismo
(PNMT). A frequência dos encontros, normalmente com periodicidade mensal, fez com
que o tais municípios cumprissem todas as etapas e exigências do programa e em pouco
tempo elevassem a Região do Cariri a uma situação de destaque no território nacional,
conforme avaliação da Empresa Brasileira do Turismo (EMBRATUR).

O destaque da Região na política nacional do turismo despertou a atenção dos atores da
área cultural, os quais, em 2003 provocaram a inserção oficial de mais esta temática nas
preocupações do Fórum, passando a se designar como Fórum de Turismo e Cultura do
Cariri e contando com o apoio das Secretarias Estaduais de Turismo e de Cultura do
Ceará, no exercício das suas atribuições.

Formado por entidades formalizadas do setor público, privado, comunitário e
organizações sem fins lucrativos (ONGs), o Fórum ainda se ressentia da fraca
participação dos empresários nos debates. Com o objetivo de fomentar uma maior
participação desse setor, as instituições parceiras como o Banco do Nordeste (BNB) e o
SEBRAE/CE, passaram a estimular a criação de entidades de representação empresarial,
culminando na criação da Associação Caririense de Hotéis, Pousadas, Restaurantes,
Parques e Similares (ACARIH) e Associação dos Condutores, Guias e Ambientalistas
do Cariri (ACONGUIA).

De fato, verificou-se a ampliação da participação da iniciativa privada no Fórum,
culminando na eleição do primeiro presidente de origem empresarial, em 2006, período
em que a instância já contava com a participação de representantes de dezessete
municípios e cerca de quarenta entidades participantes.

Tendo a competência explicita, dentre outras, de propor ações integradas para o
desenvolvimento sustentável do turismo e da cultura da Região do Cariri cearense e
estimular a gestão participativa das políticas públicas desses setores, nas várias escalas
de governo, o Fórum destacou-se na realidade pelo seu papel de formador de opinião,
difusor de informações estratégicas e indicador de oportunidades para os participantes
ativos. Dessa forma, sua função construtiva superou a instrumental, conquistando o
respeito e reconhecimento dos atores locais e chamando atenção para as instâncias
governamentais superiores que se aproximaram mais.

No ano de 2007, atingiu o seu ápice de participação, abrangendo vinte e um municípios
da Região e mais de cinquenta representações institucionais, passando a servir de
inspiração e referência para outras regiões do Brasil, que enfrentavam dificuldades em
constituir instâncias de governança regional, uma prerrogativa importante para a nova
política federal do turismo em vigor, o Programa Nacional de Regionalização do
Turismo (PNRT) do Ministério do Turismo (MTur).

Mesmo com esta trajetória de conquistas o Fórum começou a sofrer os efeitos da falta
de continuidade das ações de integração institucional entre governos e demais atores
territoriais e da falta de legitimação do poder de decisão da sociedade local na gestão
das políticas públicas. Os espaços de discussão para as proposituras surgidas da base,
mesmo pertencendo ao enunciado oficial das ditas políticas de regionalização e
interiorização, com o tempo foram desarticulados e perderam sentido, deixando as
instâncias regionais a mercê dos modos tradicionais de influência e poder na priorização
das políticas públicas.
Neste novo cenário político-institucional observa-se o desgaste da representatividade
fomentada nas governanças territoriais, pela falta de consideração dos poderes
constituídos para com o papel destas na formulação e gestão das políticas públicas de
âmbito regional. O Conselho Estadual de Turismo (CETUR) reduz drasticamente as
suas reuniões excluindo as instâncias de governança regionais das decisões sobre as
políticas estaduais do setor e o PNRT não consegue atender as expectativas das regiões
priorizadas, mantendo uma agenda que não observa os princípios da gestão
descentralizada proposta pelo programa.

Surgem novas políticas regionais, estaduais e nacionais, que interferem diretamente no
campo de atuação do Fórum, e que deliberadamente sugerem a criação de outras
instâncias de governança, desconsiderando as existentes e negligenciando o campo de
força constituído pelas relações políticas, sociais e econômicas estabelecidas no
território. Isto reduz a possibilidade de êxito e mudança no cenário político-institucional
a partir das novas iniciativas.

O baixo empoderamento dos atores locais frente às instâncias supralocais, reflete no
nível de participação da sociedade e resulta na sensível redução das atividades e
representatividade do Fórum. Apesar desse arrefecimento momentâneo a instância
continua conduzindo encontros periódicos, mantendo a essência da proposta de
governança e aguardando oportunidades para induzir nova alavancagem.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados preliminares obtidos pelo trabalho apontam para uma relação muito
próxima entre as propostas teóricas e práticas de governança territorial e gestão social,
com vistas à promoção do desenvolvimento regional sustentável que respeita as
dimensões social, ambiental, cultural, econômica e político-institucional.

Apesar de a governança denotar diversas concepções teóricas, podendo até mesmo
contradizer os princípios da gestão social, entendemos que a definição de aspectos
específicos, relacionados aos meios, fins e capacidades inerentes à atual proposta de
desenvolvimento, nos remete a uma visão de governança territorial que se aproxima dos
princípios inspiradores da gestão social.

Com base na analise dos elementos levantados, percebemos que a instância de
governança regional constituída pelo Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará,
contribuiu e contribui para a formação de uma consciência coletiva que guarda na visão
da regionalização uma oportunidade para a consolidação da gestão social nos diversos
municípios e no território mais amplo.

Com o objetivo de promover debates e participação da sociedade civil organizada, na
avaliação e proposição de políticas públicas, relacionadas aos setores de turismo e
cultura, o referido Fórum mantém, ao longo de quinze anos, o propósito de estabelecer a
gestão participativa e o respeito às potencialidades locais, fato ainda não concretizado
na Região. Tal longevidade pode ser explicada pelo sentimento de pertença territorial
que povoa o imaginário dos atores locais e pelo fato de tal instância ter sido o resultado
de um esforço endógeno de articulação.

Mesmo não tendo constituição jurídica formalizada, o Fórum teve o seu reconhecimento
através da Política Nacional de Regionalização do Turismo, implantada pelo Ministério
do Turismo do Brasil, promovendo a conquista de diversas iniciativas governamentais e
privadas, fundamentais para o desenvolvimento da região, como intensificação dos
investimentos públicos e privados no setor e a promoção da Região enquanto destino
turístico integrado.

Dentre outras conquistas realizadas pelo Fórum podemos destacar a ampliação da
cultura associativista, através da criação de diversas entidades representativas de classe
e a inclusão da Região como um dos sessenta e cinco destinos indutores do turismo,
promovidos pelo Ministério do Turismo.

Com representação do poder público municipal, instituições promotoras de
desenvolvimento, iniciativa privada e terceiro setor, é notório o seu poder de construção
de uma consciência participativa junto aos componentes mais ativos. O principal
indicador desse fato é a expressiva ampliação de projetos de cunho regionais surgidos a
partir das discussões encabeçadas pelo Fórum.

A necessidade de institucionalização, a descontinuidade das participações, tanto do
poder público como da sociedade civil organizada, e a falta de reconhecimento das
instâncias superiores sobre o seu papel propositivo, são apontados como os principais
desafios a serem superados, no entanto, reconhecemos a necessidade de
aprofundamento das investigações para uma melhor compreensão desses desafios.

O contexto de atuação da gestão social é complexo, revelando um conceito abrangente
que envolve a interação do Estado e sociedade para obtenção do bem social. Os
governos não são mais vistos como os únicos responsáveis pela satisfação dos anseios
sociais, dando margem à proliferação de experiências inovadoras que fomentam a
participação das pessoas em decisões importantes e na criação de um cenário político-
institucional favorável. No entanto, os modos tradicionais de se governar e a cultura
política da região e do país ainda impõem uma forte barreira às mudanças necessárias.

A função construtiva das instâncias de governança territorial demonstra que iniciativas
dessa natureza são fundamentais para a promoção do desenvolvimento sustentável
baseado nos princípios da gestão social. Porém, o aproveitamento das oportunidades de
mudanças, geradas pela democracia participativa, depende da formação social e política
dos atores envolvidos para o aproveitamento das oportunidades que ainda estão por vir.

Reformas estruturais e gerenciais do Estado com o objetivo de reduzir suas atividades,
tornando-o refém dos mecanismos de mercado não promovem o bem social almejado
pela maioria. A solução, portanto, não é provocar o definhamento do Estado, mas
reconstruí-lo a partir de novas lógicas de gestão social e governance.

Experiências que criam novas formas de participação cidadã fortalecem a formação de
modelos de governança territorial de âmbito regional, contribuindo para a proposição de
políticas públicas mais condizentes com os interesses locais. Esta prerrogativa revela a
importância dos conceitos que alinham pragmatismo e visão de gestão social, na
superação dos desafios postos.

O Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, durante os seus quinze anos de
existência, apesar de alternar entre momentos de alta e baixa influência na proposição
de políticas públicas e iniciativas para o desenvolvimento da Região e de não ter
conseguido realizar profundas mudanças no cenário político-institucional da Região,
pode ser considerado um exemplo de governança territorial que, nas suas tentativas de
superação das limitações da democracia representativa para o atendimento das
necessidades locais, deixou alguns frutos.

Por fim, consideramos que todas as iniciativas individuais ou coletivas, de cunho
privado ou público, direcionadas para criação de novos espaços de interação entre a
sociedade e o Estado, tendo como premissa a ampliação do poder de influência das
pessoas situadasv na promoção do desenvolvimento regional sustentável, são
extremamente importantes para a construção de uma nova relação de poder, que
possibilite maior equidade social.



REFERÊNCIAS

ALBAGLI, S. Território e territorialidade. In: Lages, Vinícius; Braga, Christiano e
Morelli, Gustavo (orgs.). In: Territórios em movimento: cultura e identidade como
estratégia de inserção competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará / Brasília, DF:
SEBRAE, 2004.

DALLABRIDA, V. R.. Governança territorial: a densidade institucional e o capital
social no processo de gestão do desenvolvimento territorial. In: III Seminário
Internacional sobre Desenvolvimento Regional, 2006, Santa Cruz do Sul. Anais do
III Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional. Santa Cruz do Sul :
EDUNISC,         2006.       v.    1.      p.      1-19.      Disponível    em:
<www.ufpa.br/epdir/images/docs/paper73.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2010.

DUTRA, D. America Latina: governabilidade, governance e desenvolvimento. In:
ILASSA27 Student Conference on Latim America, Feb. 2007. Disponível em:
http://lanic.utexas.edu/project/etext/llilas/ilassa/2007/dutra.pdf. Acesso em: 08 mar.
2012.

FRANÇA FILHO, G. C. de. Definindo gestão social. In: Silva Jr., J.T.; Mâsih, R.T., et
al. (Orgs.).In: ENAPEGS: Gestão social – práticas em debate e teorias em
construção. Juazeiro do Norte: Editora UFC, 2008.

GONÇALVES, Alcindo. O conceito de governança. Anais do XV Conselho Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito. Manaus, 2006. Disponível em
http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Alcindo%20Goncalves.pdf. Acessado
em: 08 mar. 2012.

KAUFMANN, D; KRAAY, A e MASTRUZZI, M . Governance Matters VII:
Aggregate and Individual Governance Indicators, 1996-2008. Banco Mundial, 2009.
Disponível em: http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1424591. Acessado
em: 08 mar. 2012.

PEREIRA, L.C.B.; Spink, P. K. (Orgs). Reforma do Estado e administração pública
gerencial. / tradução: Carolina Andrade - 5 ed. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Maria Cecília França (trad.). São
Paulo: Ática, 1993.

SALM, J.F.; Menegasso, M.E.; Ribeiro, R.M. Co-produção do bem público e o
desenvolvimento da cidadania: o caso do PROERD em Santa Catarina. In: Revista
Alcance, Vol. 14, n. 2, p. 231-246, Mai./ago. 2007.
SEN, A.K. Desenvolvimento como liberdade / tradução: Laura Teixeira Motta; revisão
técnica: Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SOUZA, M. J. L. O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento.
In: Castro, Iná E.; Gomes, Paulo C.C. e Corrêa, Roberto L. (orgs.) Geografia: conceitos
e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

TENÓRIO, F. G. (Re) Visitando o conceito de gestão social. In: Silva Jr., J.T.; Mâsih,
R.T., et al. (Orgs.). ENAPEGS: Gestão social – práticas em debate e teorias em
construção. Juazeiro do Norte: Editora UFC, 2008.

ZAOUAL, H. Globalização e diversidade cultural; textos selecionados e traduzidos
por Michel Thiollent. São Paulo: Cortez, 2003.




NOTAS



i
 Territorialidade, no sentido de pertencimento, passa a incorporar elementos cognitivos, ressaltando as
relações entre um indivíduo ou grupo social e seu meio de referência, manifestas em várias escalas
geográficas – uma localidade, uma região ou um país (ALBAGLI, 2004).
ii
  A governabilidade refere-se mais a dimensão estatal do exercício do poder. Diz respeito às “condições
sistêmicas e institucionais sob as quais se da o exercício do poder, tais como as características do sistema
político, a forma de governo, as relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses”
(GONÇALVES, 2006, p. 3 apud SANTOS, 1997, p. 342).
iii
   Princípios comuns nas ações de gestão social alinham-se à ética na conduta, valorização da
transparência, democratização das decisões através da participação da sociedade e inversão de prioridades
em relação à lógica de mercado (FRANÇA, 2008).
iv
  Cidadania deliberativa significa, em linhas gerais, que a legitimidade das decisões deve ter origem em
processos de discussão, orientados pelos princípios de inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa,
da autonomia e do bem comum (TENÓRIO, 2008, p. 41).
v
   Expressão relacionada ao homo situs, protagonista do seu tempo e espaço, do sítio simbólico de
pertencimento, um marcador imaginário de espaço vivido. É o homem social, pensando e agindo em dada
situação. E ele é tudo isso, transmitindo o significado do momento, o de sua situação com todo o peso do
passado e da mudança que se impõe (ZAOUAL, 2003, P. 28-29).

Contenu connexe

Tendances

Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...Universidade Federal do Paraná
 
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...fcmatosbh
 
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete Boschetti
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete BoschettiAvaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete Boschetti
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete BoschettiRosane Domingues
 
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAPARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAUniversidade Federal do Paraná
 
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre Adryanna Silva
 
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão" “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"Novas da Guiné Bissau
 
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipaisO_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipaisRodrigo Dieguez
 
Transparência e controle social na administração pública
Transparência e controle social na administração públicaTransparência e controle social na administração pública
Transparência e controle social na administração públicaMauricio Moraes
 
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...Alvaro Santi
 
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-geraisGabriela Jaya
 

Tendances (18)

Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção ...
 
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...
A História da Municipalização em Moçambique: Atores, Estratégias e Implicaçõe...
 
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete Boschetti
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete BoschettiAvaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete Boschetti
Avaliação de políticas, programas e projetos sociais-Ivanete Boschetti
 
Conselhos gestores
Conselhos gestoresConselhos gestores
Conselhos gestores
 
ORGANIXAÇÕES PUBLICAS
ORGANIXAÇÕES PUBLICASORGANIXAÇÕES PUBLICAS
ORGANIXAÇÕES PUBLICAS
 
Sistema PGLP básico
Sistema PGLP básicoSistema PGLP básico
Sistema PGLP básico
 
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAPARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
 
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre Atps de desenvolvimento Local e Territorialização  8º semestre
Atps de desenvolvimento Local e Territorialização 8º semestre
 
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão" “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 
Fichamento do artigo "Bowling Alone" de Putnam
Fichamento do artigo "Bowling Alone" de PutnamFichamento do artigo "Bowling Alone" de Putnam
Fichamento do artigo "Bowling Alone" de Putnam
 
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipaisO_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
O_que_a_literautra_brasileira_tem_produzido_sobre_os-consorcios_intermunicipais
 
N assistência social
N assistência socialN assistência social
N assistência social
 
Milani
MilaniMilani
Milani
 
Transparência e controle social na administração pública
Transparência e controle social na administração públicaTransparência e controle social na administração pública
Transparência e controle social na administração pública
 
1395
13951395
1395
 
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...
Organizações da Sociedade Civil na cultura: avanços na transparência e avalia...
 
Ipea racismo
Ipea racismoIpea racismo
Ipea racismo
 
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais
179 política-de-inovação-na-gestão-pública-do-estado-de-minas-gerais
 

En vedette

Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de Resultado
Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de ResultadoFiscalização das Receitas Públicas e Controle de Resultado
Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de ResultadoEditora Fórum
 
Web quest animais pré históricos pen
Web quest animais pré históricos penWeb quest animais pré históricos pen
Web quest animais pré históricos pencibelimarinho
 
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System Center
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System CenterE2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System Center
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System CenterMichael Rüefli
 
A queda do imperio romano do ocidente
A queda do imperio romano do ocidenteA queda do imperio romano do ocidente
A queda do imperio romano do ocidente222050sandro
 
Tecnologias para a ead via internet
Tecnologias para a ead   via internetTecnologias para a ead   via internet
Tecnologias para a ead via internetPos2010
 
Edital Consurso Rotary Club de Açailândia
Edital Consurso Rotary Club de AçailândiaEdital Consurso Rotary Club de Açailândia
Edital Consurso Rotary Club de AçailândiaSidney de Sousa
 

En vedette (10)

Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de Resultado
Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de ResultadoFiscalização das Receitas Públicas e Controle de Resultado
Fiscalização das Receitas Públicas e Controle de Resultado
 
O que e_abr
O que e_abrO que e_abr
O que e_abr
 
3 a questao_dos_direitos
3 a questao_dos_direitos3 a questao_dos_direitos
3 a questao_dos_direitos
 
Web quest animais pré históricos pen
Web quest animais pré históricos penWeb quest animais pré históricos pen
Web quest animais pré históricos pen
 
Engenheiros da natureza
Engenheiros da naturezaEngenheiros da natureza
Engenheiros da natureza
 
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System Center
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System CenterE2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System Center
E2EVC 2014 building clouds with Microsoft Cloud OS and System Center
 
Roberto sobrinho
Roberto sobrinhoRoberto sobrinho
Roberto sobrinho
 
A queda do imperio romano do ocidente
A queda do imperio romano do ocidenteA queda do imperio romano do ocidente
A queda do imperio romano do ocidente
 
Tecnologias para a ead via internet
Tecnologias para a ead   via internetTecnologias para a ead   via internet
Tecnologias para a ead via internet
 
Edital Consurso Rotary Club de Açailândia
Edital Consurso Rotary Club de AçailândiaEdital Consurso Rotary Club de Açailândia
Edital Consurso Rotary Club de Açailândia
 

Similaire à Governança territorial e gestão social

Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...
Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...
Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...fcmatosbh
 
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...Petianos
 
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...fcmatosbh
 
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociais
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociaisConsiderações sobre políticas públicas programas e projetos sociais
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociaisWallace Melo Gonçalves Barbosa
 
Aula 1 Intersetorialidade
Aula 1   IntersetorialidadeAula 1   Intersetorialidade
Aula 1 Intersetorialidadeeadcedaps
 
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptx
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptxaula_ governança_SUS_2022 (1).pptx
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptxRAFAELACAVALCANTILIR
 
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacional
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacionalA cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacional
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacionalFausto Jaime
 
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021FGV | Fundação Getulio Vargas
 
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança TerritorialDesenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança TerritorialNuno Antão
 
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...AparecidadeArajoSilv
 
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...MarianaBauer
 
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...Polibio Braga
 
Adm particip artigo_3
Adm particip artigo_3Adm particip artigo_3
Adm particip artigo_3dimarcatto
 
Administração Participativa
Administração ParticipativaAdministração Participativa
Administração Participativadimarcatto
 
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...fcmatosbh
 
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...Otavio Henrique
 
TRABALHO FINAL fnde
TRABALHO FINAL fndeTRABALHO FINAL fnde
TRABALHO FINAL fndeJeuza Pires
 

Similaire à Governança territorial e gestão social (20)

Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...
Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...
Governança dos Recursos Hídricos e os Comitês de Bacia no Estado Brasileiro ...
 
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...
Desempenho da Gestão Pública: que variáveis compõem a aprovação popular em pe...
 
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...
A formação de comunidades epistêmicas e a construção do Observatório da Gover...
 
Marcia angela 2015
Marcia angela 2015Marcia angela 2015
Marcia angela 2015
 
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociais
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociaisConsiderações sobre políticas públicas programas e projetos sociais
Considerações sobre políticas públicas programas e projetos sociais
 
Aula 1 Intersetorialidade
Aula 1   IntersetorialidadeAula 1   Intersetorialidade
Aula 1 Intersetorialidade
 
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptx
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptxaula_ governança_SUS_2022 (1).pptx
aula_ governança_SUS_2022 (1).pptx
 
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacional
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacionalA cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacional
A cognição situada no contexto do planejamento estrattegico situacional
 
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021
Cadernos Gestão Pública e Cidadania (CGPC) – Vol. 26, n. 84 – maio/ago 2021
 
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança TerritorialDesenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial
Desenvolvimento Regional - Modelos de Governança Territorial
 
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...
CALLOU e GAETANI e FILGUEIRAS 2022 - Livro_2_Gov_da_Educacao_A_gov_e_o_regime...
 
Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas PúblicasArtigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
 
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
 
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...
Confira abaixo o documento com as bases programáticas apresentados pelo psb e...
 
Adm particip artigo_3
Adm particip artigo_3Adm particip artigo_3
Adm particip artigo_3
 
Administração Participativa
Administração ParticipativaAdministração Participativa
Administração Participativa
 
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...
Desafios e Oportunidades na Gestão Ambiental: O papel dos municípios e parcer...
 
Conselhos gestores
Conselhos gestoresConselhos gestores
Conselhos gestores
 
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...
Democracia, desigualdades e governança local: dilemas da reforma municipal no...
 
TRABALHO FINAL fnde
TRABALHO FINAL fndeTRABALHO FINAL fnde
TRABALHO FINAL fnde
 

Governança territorial e gestão social

  • 1. Uma Visão de Governança Territorial Inspirada em Princípios de Gestão Social Antonio Édio Pinheiro Callou1 Valéria Giannella2 RESUMO O presente trabalho tem o objetivo de trazer ao debate uma visão de governança territorial inspirada em princípios da gestão social como um elemento de grande impacto para o êxito das propostas de desenvolvimento regional. A partir da revisão bibliográfica destacaremos, inicialmente, as relações evidentes entre os conceitos contemporâneos de governança, território e gestão social, privilegiando o quadro teórico que relaciona a valorização do local e a autonomia como pré-requisitos para o alcance do desenvolvimento. Em seguida, através da observação da experiência do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, vivenciada ao longo de quinze anos, evidenciamos como iniciativas desta natureza, mesmo não caracterizando um quadro de governança ideal, podem inspirar princípios da gestão social e influenciar a formação de valores necessários para a consolidação da democracia participativa, caso sejam conduzidas para este propósito. Concluímos que tais práticas fortalecem a expressão da territorialidade, enquanto sentido de pertença, ao considerar e envolver a sociedade e seus meios de convivência no planejamento e gestão das políticas públicas, no entanto, estas devem continuar sendo vivenciadas e investigadas para serem cada vez mais percebidas e aprimoradas. Palavras-chave: Governança Territorial; Gestão Social; Fórum de Turismo e Cultura do Cariri. Eixo Temático: Gestão Social, Políticas Públicas e Territórios. 1 Administrador; Especialista em Comércio Exterior; Mestrando em Desenvolvimento Regional Sustentável, Universidade Federal do Ceará – UFC/Campus Cariri, ediopc@hotmail.com 2 Doutora em Políticas Públicas do Território; Professorora adjunta da Universidade Federal do Ceará - UFC/Campus Cariri, valeriagiannella@gmail.com
  • 2. INTRODUÇÃO As constantes crises multisetoriais de alcance global, produzidas pelos modelos hegemônicos de desenvolvimento centralizado, direcionam as discussões para uma tendência norteadora das ações de governo neste século, as políticas de regionalização apoiadas numa gestão participativa. Tais propostas surgem como uma diretriz indutora do novo paradigma de desenvolvimento, tendo como requisitos básicos o aproveitamento das oportunidades de diferenciação existentes nos territórios e o efeito sinérgico gerado pela interação das forças locais e supralocais na formação da governança territorial. Nessa perspectiva amplia-se a necessidade de processos decisórios fundamentados na gestão compartilhada entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil organizada, na criação de um pacto social em torno das demandas locais. Fato expresso na convicção internacional, de que a “boa governança” importa para o desenvolvimento, como um meio para atacar as anomalias estruturais dos modelos neoliberais e corrigir as distorções fomentadas pelos governos centralizadores, clientelistas e de visão fragmentada. Porém, vale ressaltar, que o conceito de governança, ou governance, precisa ser apropriado para fins do estudo sobre uma ótica específica, pois este pode assumir diversos significados e até apresentar contradições ao tentarmos aproximá-lo da gestão social. Com este propósito destacaremos e integraremos os principais focos do conceito, identificados na literatura a partir de três aspectos. O primeiro denota a forma ou processo de se exercer a autoridade (GONÇALVES, 2006), o segundo o efeito das ações de governo que se deseja (DUTRA, 2007) e o terceiro como a capacidade de interação dos diversos atores na gestão dos assuntos públicos (DALLABRIDA, 2010). Assim traremos para o debate uma visão de governança territorial inspirada em princípios da gestão social como um elemento de grande impacto para a promoção do desenvolvimento regional, sem prescindir de nenhum destes conceitos. No contexto nacional, percebe-se o surgimento de variadas iniciativas auto-intituladas de instâncias de governanças em diversificadas escalas territoriais. Estas, hora promovidas pela própria ação governamental, hora provocadas a partir de iniciativas dos atores locais, suscitam dúvidas sobre a sua real existência e efetividade. Isto implica numa forte tendência para as mudanças na forma de atuação do Estado na promoção do progresso e equidade social, ao mesmo tempo em que exigem cuidados redobrados no reconhecimento de tais governanças, cuidados estes, adotados na pesquisa. O estudo de caso revela elementos que reforçam as proposições teóricas discutidas no texto, mesmo não apresentando um quadro ideal de governança territorial explicitada. A proposta é discutir um modelo de governança que supera a visão que reduz tal expressão a eficiência da gestão executiva a favor dos poderes hegemônicos constituídos (DUTRA, 2007). Não pretendemos com isto transformar a gestão social num sinônimo de governança territorial, nem negar as particularidades de cada conceito, mas demonstrar a existência de uma relação apropriada quando se pretende utilizá-los na promoção do desenvolvimento regional sustentável. Para o alcance deste objetivo, estruturamos o texto em três partes, além desta introdução. Na primeira, trataremos das relações entre os conceitos contemporâneos de governança, território e gestão social, analisadas através de pesquisa bibliográfica de referência. Na segunda parte, apresentaremos o estudo de caso do Fórum de Turismo e Cultura de Cariri, Ceará, vivenciado ao longo dos seus quinze anos de existência,
  • 3. destacando os principais resultados que reforçam a importância de iniciativas desta natureza para a consolidação da democracia participativa. Por fim, apresentaremos as considerações finais pertinentes ao tema. Vale salientar que este estudo não pretende aprofundar discussões sobre os impactos da atuação do Fórum na transformação da realidade política da Região, devendo este tema ser alvo de outras investigações. No entanto, ao analisar mudanças nas relações institucionais ocorridas no cenário estudado, acabamos por demonstrar que alterações significativas no processo de governança ocorrem no médio prazo e dependem da persistência de experiências inovadoras como o estudo de caso em pauta. RELAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS DE GOVERNANÇA, TERRITÓRIO E GESTÃO SOCIAL a) A governança Inicialmente projetada no seio da gestão organizacional como governança coorporativa, foi desenvolvida para tratar do chamado “conflito de agência”, gerado entre o poder de propriedade dos acionistas e o poder de decisão dos gestores das empresas. A partir da intensificação das crises mundiais do século XX e da constatação da incapacidade do Estado conduzir sozinho os processos de desenvolvimento, a expressão governança ou governance passa a ser utilizada também no setor público, absorvendo outras dimensões e superando a ideia de governo. No cenário internacional, são grandes as expectativas sobre a constituição de uma boa governance global, alicerçada na efetivação das governanças em cada país. Para medir esta relação entre governance e desenvolvimento, pesquisadores ligados ao Banco Mundial, desenvolveram o estudo WGI - Worldwide Governance Indicators (KAUFMANN, et al., 2009), estabelecendo seis indicadores responsáveis para comparar o desempenho das governanças em mais de 200 países ou territórios e avaliar suas possibilidades de desenvolvimento. Os referidos indicadores representam: a) a voz e responsabilidade dos cidadãos; b) estabilidade política e ausência de violência/terrorismo; c) eficácia do governo na prestação dos serviços públicos; d) qualidade normativa na promoção do desenvolvimento; e) regime de direito que confirma o cumprimento das regras de sociedade; e, f) o controle da corrupção. Apesar de não representarem a opinião oficial e nem determinar a forma de distribuição dos recursos do Banco Mundial, esta metodologia de avaliação utilizada desde 1996, influencia os formuladores de políticas, grupos da sociedade civil e doadores de ajuda aos países, criando uma espécie de “modelo ideal de governance”. No entanto, como todo conceito polêmico, este também continua sem uma aplicação homogênea e gerando muitos debates em torno do seu real significado. Sem pretender aprofundar a questão, destacaremos apenas três visões diferenciadas, mas complementares que a partir de enfoques já citados ajudam a justificar nossa opção por uma visão de governança que se aproxima da gestão social, mantendo uma autonomia teórica distinta dos modelos institucionalizados pelas agências internacionais.
  • 4. Gonçalves (2006) tem a governança como uma instância maior que o governo e fixa sua definição como meio e processo capaz de produzir resultados eficazes, a partir da cooperação entre os atores sociais, políticos e econômicos, incluindo os mecanismos formais e redes sociais informais na articulação dos interesses. Este conceito privilegia a forma ou modus operandi da governance. Outra maneira de defini-la é estabelecendo os seus fins ou efeitos, conforme abordagem de Dutra (2007) que a define como a eficiência da gestão executiva, incluindo a arquitetura política estabelecida pelos poderes hegemônicos constituídos, que resulta em capacidade de governar com aceitabilidade e alcançar a satisfação da sociedade. Já em Dallabrida (2010, p. 3) encontramos o conceito de governança territorial como expressão “da capacidade de uma sociedade organizada territorialmente, para gerir os assuntos públicos a partir do envolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos e institucionais”, ressaltando, portanto, uma característica inerente a sociedade para existir de fato uma governança. Tomando estas definições como bases, podemos perceber que a governança territorial pode assumir uma posição de contraste ou de afastamento dos princípios da gestão social, caso não se considere aspectos específicos dos seus meios, fins e capacidades inerentes ao processo de desenvolvimento. Desta forma, uma visão apropriada de “boa governança” deve está relacionada ao envolvimento dos diversos atores locais no processo decisório, com a finalidade de promover o desenvolvimento sustentável de um dado território, adquirido através da capacidade do conjunto da sociedade encontrar soluções adequadas aos seus problemas. Assim, não basta criar os meios para a participação da sociedade no debate político, caso não se estabeleçam condições apropriadas para promover a cidadania participativa. Também não se consegue vislumbrar efeitos positivos de longo prazo, mesmo com eficiência administrativa, nas gestões centralizadas, tão pouco adianta estabelecer um processo de governança participativa para atender somente as demandas dos poderes hegemônicos, deixando de lado parte da sociedade. Portanto, faz-se necessário estabelecer o modelo de governança que se deseja antes de envidar esforços governamentais e sociais para alcançá-lo. b) O território Este novo contexto político-institucional amplia o significado de território que passa a ser associado à noção abstrata de espaço, envolvendo as dimensões física, cultural, política e cognitiva. Um espaço apropriado, sendo definido e delimitado a partir das relações de poder entre seus atores, em suas múltiplas dimensões (ALBAGLI, 2004 apud EGLER, 1995 e RAFFESTIN,1993). Assim, o conceito de território começa a receber uma posição de destaque no estabelecimento da governança, pois representa o produto da intervenção e do trabalho do conjunto amplo de atores sobre determinado espaço. A partir dessa perspectiva o território vem sendo estudado em diversos campos das ciências sociais, não só na sua dimensão material ou concreta, mas, também, como “um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais”, que se projetam no espaço (SOUZA, 1995). Um recorte congnitivo, construído historicamente, capaz de fazer convergir as forças de sustentação das dinâmicas ambientais, sociais e produtivas,
  • 5. reacendendo o importância das regiões, enquanto alvos das políticas de desenvolvimento. O papel das regiões é retomado sempre que reacendem as discussões sobre a relação entre a centralização político-administrativa do poder e o respeito a diversidade espacial. Um dilema emblemático ressaltado nos discursos políticos “modernos” que pregam o triunfo da territorialidade i para possibilitar o assentamento da diversidade regional na uniformidade do Estado. Na maioria das vezes tais propostas são defendidas mas não vivenciadas (RAFFESTING, 1993). Porém, mesmo tendo que superar a visão utilitarista do regionalismo defendido pelo Estado, protestos da sociedade fortalecem a necessidade de se retomar o poder pela base por meio do cotidiano e recuperar um novo recorte territorial que possa permitir o exercício desse poder. De acordo com Raffesting (1993), a redescoberta dessa nova “malha territorial”, concreta para as coletividades, revela que “estamos certamente no limiar de uma era na qual a região, a que é vivida, desempenhará um papel cada vez maior para as diversas comunidades.” As discussões dos conceitos de território e região ganham importância com a crescente necessidade de mudança nos sistemas de governo, incapazes de suprir sozinhos as necessidades da maioria da população. Condição que amplia a atuação e visibilidade das experiências de governanças territoriais, favorecendo o avanço das propostas de alternativas eficazes de gestão social, na superação das limitações dos sistemas vigentes. c) A gestão social As questões relacionadas ao fortalecimento da governança e regionalização das políticas públicas sugem como consequência das tentativas de reformas do Estado, ocasionadas pela crise fiscal em meados da década de 1970, sobretudo a partir da crise do petróleo, em 1973. A escassez de recursos na economia mundial desse período afetou profundamente os sistemas de governo, que sobrecarregados de atividades e responsabilidades para com a sociedade perderam eficiência, credibilidade e em alguns casos a governabilidadeii. Isso colocou em xeque o antigo modelo de intervenção estatal (PEREIRA et al., 2003). Nesse cenário de governos empobrecidos e iniciativa privada com maior espaço político, crescem as propostas de ajuste estrutural e gerencial do Estado, a partir de reformas orientadas para o mercado (PEREIRA et al., 2003). Como efeitos se observam o fortalecimento da ideologia privatizante e a hibridização das gestões públicas, objetivando a instalação de um Estado mínimo. Modelo que se mostra irrealista e insustentável, pois o esvaziamento da legitimidade política o torna refém dos mecanismos de mercado, principais causadores das desigualdades sociais. Com esta constatação a solução rapidamente passa a apontar em direção à reconstrução e não mais ao definhamento do Estado (PEREIRA et al., 2003), indicando que a retomada da sua eficácia depende da reinvenção dos governos. No Brasil, tais mudanças se apresentaram a partir da identificação da necessidade de alteração das duas principais instituições criadas para proteger o patrimônio público: a democracia e a administração pública (PEREIRA et al., 2003). Um projeto audacioso,
  • 6. que visava à tentativa de tornar a democracia mais participativa e a administração pública mais eficaz. Os experimentos de reforma floresceram nesse ambiente, focando o resgate da credibilidade do Estado, a partir da redução de gastos e flexibilização da máquina pública, privilegiando a introdução de mecanismos gerenciais na administração pública, como uma das estratégias a serem exploradas (PEREIRA et al., 2003). O bem público deixou de ser responsabilidade exclusiva do poder público que passou a compartilhar atividades com a sociedade, germinando as primeiras sementes que definiram os princípiosiii da gestão social. Como conceito em construção, sobre o qual ainda não se encontra consenso, a gestão social continua assumindo vários significados, negociados entre os autores que a debatem conforme os acentos e os olhares destinados às relações sociais e às práticas com suas várias dimensões a serem consideradas. Mesmo assim, ainda é frequente sua redução à esfera da administração pública direta ou indireta, hora identificada a partir da finalidade ou campo de ação (gestão do social), hora pelo sujeito que protagoniza a ação (gestão pelo social). Com a diversificação das experiências e o alargamento do conceito, a gestão social passou a requerer uma compreensão muito mais ampla e sistêmica, pois envolve a atuação integrada entre governos, a iniciativa privada e sociedade civil organizada, em setores que extrapolam as questões sociais salvaguardadas pelo poder público, em diversas escalas, dando margem à criação de diferentes formas de interação, como a governança territorial. Opiniões divergentes a cerca do significado da própria expressão “gestão social” ainda permanecem. França (2008) chega a ventilar a redundância deste conceito por haver uma dimensão necessariamente social e interacional em qualquer modelo de gestão. Outras referências tentam mostrar a existência de uma distinção entre a lógica organizacional e a social, onde a primeira tem de preferência um objetivo unívoco e age pela racionalidade instrumental enquanto a segunda se funda necessariamente em processos mais complexos de formação dos objetivos e das formas de seu alcance envolvendo diferentes sujeitos sociais. Mesmo percebendo tais divergências de proposições, destacam-se pontos em comum que tentam estabelecer uma fundamentação teórica sobre o tema. Nesse sentido, os dois níveis antes citados podem também se conceber como complementares sendo necessária uma revisão das racionalidades neles usadas e a superação da visão apenas instrumentalista das organizações. A necessidade de interação entre essas dimensões revela que os grandes desafios na busca por um modelo de gestão social são a legitimação do poder de decisão das sociedades na construção do seu próprio futuro e a superação do paradigma instrumental da gestão organizacional na administração pública. A aplicação irreflexiva deste último pode reforçar um modelo de democracia condicionada às regras do mercado. Com finalidade de promover o bem-estar social, através de um processo de envolvimento das pessoas e o respeito às relações humanas na tomada de decisões (FRANÇA, 2008), as experiências de gestão social empenham-se na institucionalização de novos espaços de participação da sociedade. A definição de um conjunto de princípios norteadores capazes de promover equidade social é fundamental para trilhar este caminho.
  • 7. Tenório (2008) problematiza ainda mais o conceito quando nos apresenta a gestão social pautada num “processo gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação”, constituindo o que chama de “cidadania deliberativaiv”. Defende uma nova lógica de gestão que pressupõe a solidariedade nos processos decisórios a serem marcados pelo diálogo e concordância racional. No entanto, é difícil prever uma situação de ausência de conflito nos diálogos, comuns nas sociedades pluralistas, bem como ter na solidariedade um pressuposto recorrente nos processos de gestão social, quando a prática revela se tratar de um produto eventual. Essa nova lógica inverte uma premissa fundamental da gestão organizacional, onde os fins (normalmente econômicos) determinam os meios, para a crença de que os meios (participação e compartilhamento) poderão obter os fins ideais, considerando que a consolidação da “cidadania deliberativa”, gera processos construtivos para uma sociedade participativa e responsável. Mesmo reconhecendo alguns avanços obtidos no campo da governança territorial inspirada em princípios da gestão social, argumentos resistentes à ideia da participação da sociedade e ampliação das liberdades políticas tentam manter os status quo conquistados, amparando a resistência da maioria dos governos em compartilhar seu poder de decisão. Dentre estes, destaca-se a preponderância e urgência das necessidades econômicas das populações sobre sua autonomia, sugerindo que os governos rígidos e centralizadores são mais eficazes na geração e distribuição de renda. Em Sen (2000) encontramos elementos que se contrapõem a tal argumento, pois, segundo este autor, existem amplas inter-relações entre necessidades econômicas e liberdades políticas, tanto instrumentais como construtivas, normalmente não consideradas nas análises. Seus estudos demonstram que o exercício dos direitos civis e políticos, não só torna mais possíveis respostas condizentes às necessidades econômicas, como também promovem a sua própria compreensão e conceituação, ampliando a importância dos fundamentos da gestão social. Assim, o empoderamento dos atores locais nos processos decisórios e para coprodução do bem público (SALM et al., 2007) constitui um dispositivo necessário para o fortalecimento do território como unidade básica de planejamento e atuação das políticas promotoras de desenvolvimento, tornando evidente a relação e não a contraposição entre os conceitos de governança, território e gestão social. Mas, como superar a inércia dos poderes constituídos? Quais as formas ou modelos apropriados ao enfrentamento dos desafios contemporâneos para a promoção do desenvolvimento? Essas e outras questões-chave permeiam as discussões, em meio à resistência dos sistemas dominantes. A democracia representativa, defendida pela maioria dos governos como a solução mais viável, tem dado sinais de insuficiência na resolução desses impasses e, na maioria dos casos, contribuído para a ampliação das diferenças sociais, já que não consegue preservar os direitos de todos os cidadãos. Apesar de haver um razoável consenso sobre a essencialidade dos sistemas políticos com características democráticas para o processo de desenvolvimento, e de ter havido avanços constitucionais neste sentido, não podemos enxergar a democracia, sem maiores atributos, como um remédio automático. Suas realizações e efeitos dependem da sociedade e dos governos, a primeira sabendo aproveitar as oportunidades, através do vigor político multipartidário e da formação de valores morais (SEN, 2000), e o segundo criando mecanismos para o estímulo e fortalecimento das novas instâncias de debates e decisões.
  • 8. Assim, o exercício da cidadania participativa e a indução de políticas públicas descentralizadoras, dependem de iniciativas das gestões sociais inovadoras e audaciosas em torno de uma proposta de “boa governança”. A ampliação dos direitos políticos e da participação social na formulação, planejamento e gestão das propostas para o desenvolvimento local, funcionam como catalisadores da democracia participativa e provocadores de um aparato legal que a consubstancia. Mesmo negando a hipótese de que a lógica gerencial possa ser a salvação do Estado, há de se reconhecer que os processos de descentralização do governo e desconcentração do poder público, foram impulsionados exatamente pela busca de maior eficiência, isto é, pela afirmação de um clássico critério gerencialista, reforçando a importância da sua influência na construção de um novo cenário. Caracterizando a governança territorial como a forma participativa pela qual se obtém os efeitos positivos de governo para toda a sociedade, com aproveitamento das vocações territoriais, expressada na capacidade de organização e gestão dos assuntos públicos do conjunto dos atores sociais, econômicos e institucionais, trazemos ao debate uma visão específica de governança inspirada em princípios da gestão social, como um caminho de amplas perspectivas. Proposta que observa nas experiências de instalação de um processo complexo de tomada de decisão que antecipa e ultrapassa o governo (DALLABRIDA, 2010 apud MILANE&SOLINÍS, 2002), as tentativas de se contribuir para a redução dos desvios normalmente ocorridos na gestão dos interesses coletivos. Propósito disposto na observação da experiência do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, a seguir. A EXPERIÊNCIA DO FÓRUM DE TURISMO E CULTURAL DO CARIRI, CEARÁ A identificação de experiências tidas como formas de gestão social num contexto regional, é essencial para a realização de analises que relacionam teoria e prática através da aplicação dos conceitos-chave envolvidos no tema. Para o estudo de caso em questão, selecionamos a experiência do Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, vivenciada ao longo dos seus quinze anos. Criado em 1997, a partir de seminários de turismo promovidos pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e atores locais, iniciou suas atividades promovendo debates sobre as ações e políticas públicas restritas às propostas de planejamento do Estado para o setor de turismo. No início, a adesão maior foi da comunidade acadêmica e de representantes do poder público e instituições de apoio ao desenvolvimento da região. Não tendo uma agenda pré-estabelecida nem o poder de articulação consolidado, permaneceu por alguns anos sem realizar encontros regionais. A partir do ano de 2001, por provocação de quatro secretários municipais de turismo dos municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha, aliados à coordenação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (SEBRAE/CE), retomou-se as reuniões periódicas, desta feita com o formato de Fórum Regional, realizado por meio de assembleias itinerantes, uma estratégia para estimular a participação de outros municípios da Região.
  • 9. Com o êxito da estratégia de envolvimento, amplia-se a participação para treze municípios num prazo de um ano. Neste momento (2002), o Fórum de Turismo, atuava como principal integrador dos municípios que participavam da política federal de promoção do setor, intitulada Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT). A frequência dos encontros, normalmente com periodicidade mensal, fez com que o tais municípios cumprissem todas as etapas e exigências do programa e em pouco tempo elevassem a Região do Cariri a uma situação de destaque no território nacional, conforme avaliação da Empresa Brasileira do Turismo (EMBRATUR). O destaque da Região na política nacional do turismo despertou a atenção dos atores da área cultural, os quais, em 2003 provocaram a inserção oficial de mais esta temática nas preocupações do Fórum, passando a se designar como Fórum de Turismo e Cultura do Cariri e contando com o apoio das Secretarias Estaduais de Turismo e de Cultura do Ceará, no exercício das suas atribuições. Formado por entidades formalizadas do setor público, privado, comunitário e organizações sem fins lucrativos (ONGs), o Fórum ainda se ressentia da fraca participação dos empresários nos debates. Com o objetivo de fomentar uma maior participação desse setor, as instituições parceiras como o Banco do Nordeste (BNB) e o SEBRAE/CE, passaram a estimular a criação de entidades de representação empresarial, culminando na criação da Associação Caririense de Hotéis, Pousadas, Restaurantes, Parques e Similares (ACARIH) e Associação dos Condutores, Guias e Ambientalistas do Cariri (ACONGUIA). De fato, verificou-se a ampliação da participação da iniciativa privada no Fórum, culminando na eleição do primeiro presidente de origem empresarial, em 2006, período em que a instância já contava com a participação de representantes de dezessete municípios e cerca de quarenta entidades participantes. Tendo a competência explicita, dentre outras, de propor ações integradas para o desenvolvimento sustentável do turismo e da cultura da Região do Cariri cearense e estimular a gestão participativa das políticas públicas desses setores, nas várias escalas de governo, o Fórum destacou-se na realidade pelo seu papel de formador de opinião, difusor de informações estratégicas e indicador de oportunidades para os participantes ativos. Dessa forma, sua função construtiva superou a instrumental, conquistando o respeito e reconhecimento dos atores locais e chamando atenção para as instâncias governamentais superiores que se aproximaram mais. No ano de 2007, atingiu o seu ápice de participação, abrangendo vinte e um municípios da Região e mais de cinquenta representações institucionais, passando a servir de inspiração e referência para outras regiões do Brasil, que enfrentavam dificuldades em constituir instâncias de governança regional, uma prerrogativa importante para a nova política federal do turismo em vigor, o Programa Nacional de Regionalização do Turismo (PNRT) do Ministério do Turismo (MTur). Mesmo com esta trajetória de conquistas o Fórum começou a sofrer os efeitos da falta de continuidade das ações de integração institucional entre governos e demais atores territoriais e da falta de legitimação do poder de decisão da sociedade local na gestão das políticas públicas. Os espaços de discussão para as proposituras surgidas da base, mesmo pertencendo ao enunciado oficial das ditas políticas de regionalização e interiorização, com o tempo foram desarticulados e perderam sentido, deixando as instâncias regionais a mercê dos modos tradicionais de influência e poder na priorização das políticas públicas.
  • 10. Neste novo cenário político-institucional observa-se o desgaste da representatividade fomentada nas governanças territoriais, pela falta de consideração dos poderes constituídos para com o papel destas na formulação e gestão das políticas públicas de âmbito regional. O Conselho Estadual de Turismo (CETUR) reduz drasticamente as suas reuniões excluindo as instâncias de governança regionais das decisões sobre as políticas estaduais do setor e o PNRT não consegue atender as expectativas das regiões priorizadas, mantendo uma agenda que não observa os princípios da gestão descentralizada proposta pelo programa. Surgem novas políticas regionais, estaduais e nacionais, que interferem diretamente no campo de atuação do Fórum, e que deliberadamente sugerem a criação de outras instâncias de governança, desconsiderando as existentes e negligenciando o campo de força constituído pelas relações políticas, sociais e econômicas estabelecidas no território. Isto reduz a possibilidade de êxito e mudança no cenário político-institucional a partir das novas iniciativas. O baixo empoderamento dos atores locais frente às instâncias supralocais, reflete no nível de participação da sociedade e resulta na sensível redução das atividades e representatividade do Fórum. Apesar desse arrefecimento momentâneo a instância continua conduzindo encontros periódicos, mantendo a essência da proposta de governança e aguardando oportunidades para induzir nova alavancagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados preliminares obtidos pelo trabalho apontam para uma relação muito próxima entre as propostas teóricas e práticas de governança territorial e gestão social, com vistas à promoção do desenvolvimento regional sustentável que respeita as dimensões social, ambiental, cultural, econômica e político-institucional. Apesar de a governança denotar diversas concepções teóricas, podendo até mesmo contradizer os princípios da gestão social, entendemos que a definição de aspectos específicos, relacionados aos meios, fins e capacidades inerentes à atual proposta de desenvolvimento, nos remete a uma visão de governança territorial que se aproxima dos princípios inspiradores da gestão social. Com base na analise dos elementos levantados, percebemos que a instância de governança regional constituída pelo Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, contribuiu e contribui para a formação de uma consciência coletiva que guarda na visão da regionalização uma oportunidade para a consolidação da gestão social nos diversos municípios e no território mais amplo. Com o objetivo de promover debates e participação da sociedade civil organizada, na avaliação e proposição de políticas públicas, relacionadas aos setores de turismo e cultura, o referido Fórum mantém, ao longo de quinze anos, o propósito de estabelecer a gestão participativa e o respeito às potencialidades locais, fato ainda não concretizado na Região. Tal longevidade pode ser explicada pelo sentimento de pertença territorial que povoa o imaginário dos atores locais e pelo fato de tal instância ter sido o resultado de um esforço endógeno de articulação. Mesmo não tendo constituição jurídica formalizada, o Fórum teve o seu reconhecimento através da Política Nacional de Regionalização do Turismo, implantada pelo Ministério
  • 11. do Turismo do Brasil, promovendo a conquista de diversas iniciativas governamentais e privadas, fundamentais para o desenvolvimento da região, como intensificação dos investimentos públicos e privados no setor e a promoção da Região enquanto destino turístico integrado. Dentre outras conquistas realizadas pelo Fórum podemos destacar a ampliação da cultura associativista, através da criação de diversas entidades representativas de classe e a inclusão da Região como um dos sessenta e cinco destinos indutores do turismo, promovidos pelo Ministério do Turismo. Com representação do poder público municipal, instituições promotoras de desenvolvimento, iniciativa privada e terceiro setor, é notório o seu poder de construção de uma consciência participativa junto aos componentes mais ativos. O principal indicador desse fato é a expressiva ampliação de projetos de cunho regionais surgidos a partir das discussões encabeçadas pelo Fórum. A necessidade de institucionalização, a descontinuidade das participações, tanto do poder público como da sociedade civil organizada, e a falta de reconhecimento das instâncias superiores sobre o seu papel propositivo, são apontados como os principais desafios a serem superados, no entanto, reconhecemos a necessidade de aprofundamento das investigações para uma melhor compreensão desses desafios. O contexto de atuação da gestão social é complexo, revelando um conceito abrangente que envolve a interação do Estado e sociedade para obtenção do bem social. Os governos não são mais vistos como os únicos responsáveis pela satisfação dos anseios sociais, dando margem à proliferação de experiências inovadoras que fomentam a participação das pessoas em decisões importantes e na criação de um cenário político- institucional favorável. No entanto, os modos tradicionais de se governar e a cultura política da região e do país ainda impõem uma forte barreira às mudanças necessárias. A função construtiva das instâncias de governança territorial demonstra que iniciativas dessa natureza são fundamentais para a promoção do desenvolvimento sustentável baseado nos princípios da gestão social. Porém, o aproveitamento das oportunidades de mudanças, geradas pela democracia participativa, depende da formação social e política dos atores envolvidos para o aproveitamento das oportunidades que ainda estão por vir. Reformas estruturais e gerenciais do Estado com o objetivo de reduzir suas atividades, tornando-o refém dos mecanismos de mercado não promovem o bem social almejado pela maioria. A solução, portanto, não é provocar o definhamento do Estado, mas reconstruí-lo a partir de novas lógicas de gestão social e governance. Experiências que criam novas formas de participação cidadã fortalecem a formação de modelos de governança territorial de âmbito regional, contribuindo para a proposição de políticas públicas mais condizentes com os interesses locais. Esta prerrogativa revela a importância dos conceitos que alinham pragmatismo e visão de gestão social, na superação dos desafios postos. O Fórum de Turismo e Cultura do Cariri, Ceará, durante os seus quinze anos de existência, apesar de alternar entre momentos de alta e baixa influência na proposição de políticas públicas e iniciativas para o desenvolvimento da Região e de não ter conseguido realizar profundas mudanças no cenário político-institucional da Região, pode ser considerado um exemplo de governança territorial que, nas suas tentativas de
  • 12. superação das limitações da democracia representativa para o atendimento das necessidades locais, deixou alguns frutos. Por fim, consideramos que todas as iniciativas individuais ou coletivas, de cunho privado ou público, direcionadas para criação de novos espaços de interação entre a sociedade e o Estado, tendo como premissa a ampliação do poder de influência das pessoas situadasv na promoção do desenvolvimento regional sustentável, são extremamente importantes para a construção de uma nova relação de poder, que possibilite maior equidade social. REFERÊNCIAS ALBAGLI, S. Território e territorialidade. In: Lages, Vinícius; Braga, Christiano e Morelli, Gustavo (orgs.). In: Territórios em movimento: cultura e identidade como estratégia de inserção competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará / Brasília, DF: SEBRAE, 2004. DALLABRIDA, V. R.. Governança territorial: a densidade institucional e o capital social no processo de gestão do desenvolvimento territorial. In: III Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional, 2006, Santa Cruz do Sul. Anais do III Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional. Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2006. v. 1. p. 1-19. Disponível em: <www.ufpa.br/epdir/images/docs/paper73.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2010. DUTRA, D. America Latina: governabilidade, governance e desenvolvimento. In: ILASSA27 Student Conference on Latim America, Feb. 2007. Disponível em: http://lanic.utexas.edu/project/etext/llilas/ilassa/2007/dutra.pdf. Acesso em: 08 mar. 2012. FRANÇA FILHO, G. C. de. Definindo gestão social. In: Silva Jr., J.T.; Mâsih, R.T., et al. (Orgs.).In: ENAPEGS: Gestão social – práticas em debate e teorias em construção. Juazeiro do Norte: Editora UFC, 2008. GONÇALVES, Alcindo. O conceito de governança. Anais do XV Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito. Manaus, 2006. Disponível em http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Alcindo%20Goncalves.pdf. Acessado em: 08 mar. 2012. KAUFMANN, D; KRAAY, A e MASTRUZZI, M . Governance Matters VII: Aggregate and Individual Governance Indicators, 1996-2008. Banco Mundial, 2009. Disponível em: http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1424591. Acessado em: 08 mar. 2012. PEREIRA, L.C.B.; Spink, P. K. (Orgs). Reforma do Estado e administração pública gerencial. / tradução: Carolina Andrade - 5 ed. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Maria Cecília França (trad.). São Paulo: Ática, 1993. SALM, J.F.; Menegasso, M.E.; Ribeiro, R.M. Co-produção do bem público e o desenvolvimento da cidadania: o caso do PROERD em Santa Catarina. In: Revista Alcance, Vol. 14, n. 2, p. 231-246, Mai./ago. 2007.
  • 13. SEN, A.K. Desenvolvimento como liberdade / tradução: Laura Teixeira Motta; revisão técnica: Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SOUZA, M. J. L. O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: Castro, Iná E.; Gomes, Paulo C.C. e Corrêa, Roberto L. (orgs.) Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. TENÓRIO, F. G. (Re) Visitando o conceito de gestão social. In: Silva Jr., J.T.; Mâsih, R.T., et al. (Orgs.). ENAPEGS: Gestão social – práticas em debate e teorias em construção. Juazeiro do Norte: Editora UFC, 2008. ZAOUAL, H. Globalização e diversidade cultural; textos selecionados e traduzidos por Michel Thiollent. São Paulo: Cortez, 2003. NOTAS i Territorialidade, no sentido de pertencimento, passa a incorporar elementos cognitivos, ressaltando as relações entre um indivíduo ou grupo social e seu meio de referência, manifestas em várias escalas geográficas – uma localidade, uma região ou um país (ALBAGLI, 2004). ii A governabilidade refere-se mais a dimensão estatal do exercício do poder. Diz respeito às “condições sistêmicas e institucionais sob as quais se da o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma de governo, as relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses” (GONÇALVES, 2006, p. 3 apud SANTOS, 1997, p. 342). iii Princípios comuns nas ações de gestão social alinham-se à ética na conduta, valorização da transparência, democratização das decisões através da participação da sociedade e inversão de prioridades em relação à lógica de mercado (FRANÇA, 2008). iv Cidadania deliberativa significa, em linhas gerais, que a legitimidade das decisões deve ter origem em processos de discussão, orientados pelos princípios de inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum (TENÓRIO, 2008, p. 41). v Expressão relacionada ao homo situs, protagonista do seu tempo e espaço, do sítio simbólico de pertencimento, um marcador imaginário de espaço vivido. É o homem social, pensando e agindo em dada situação. E ele é tudo isso, transmitindo o significado do momento, o de sua situação com todo o peso do passado e da mudança que se impõe (ZAOUAL, 2003, P. 28-29).