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País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Regional
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Corte: 1 de 3ID: 48029402 30-05-2013
Entrevista
“Ninguémpodeser
pobre,muitofeliz
ebomprofissional”
TiagoBaptista,artistaplásticodeLeiriavencedordo
PrémioFidelidade-MundialJovensPintoreseem2009
finalistadoPrémioEDPNovosArtistas,dizqueoscriadores
têmdeseragentesactivosnasociedadeequestionara
realidadeemquevivem,atitudequemereceespecial
atenção,numpaísondehá“pessoassemescrúpulos”que
tomaram“contadademocracia”
Jacinto Silva Duro
jacinto.duro@jornaldeleiria.pt
Em todas as suas fanzines e obras
plásticas está presente uma visão
bastante crítica do quotidiano. No
livroFábricas, Baldios, Fé e Pedras
atiradas à Lama, por exemplo,
que foi distinguido com o Prémio
Melhor fanzine dos Prémios Na-
cionais de Banda Desenhada, atri-
buídos pelo Amadora BD, isso é
algo bem presente, da capa à con-
tra-capa. O papel do artista na so-
ciedade actual é questionar?
O papel do artista sempre foi pôr
em questão as coisas que o ro-
deiam e a realidade. Subjacente à
arte está sempre esse conceito.
Contudo, quando o autor convoca
questões políticas para o seu tra-
balho - que pode e deve fazer – não
deve nunca ter a intenção de fazer
uma arte panfletária ou propagan-
dista, porque isso é outro território.
O artista tem de ser um agente ac-
tivo na sociedade e deve questionar
a realidade em que vive. Claro que
há várias maneiras de o fazer e
umas mais subtis que outras.
Essa obrigação é mais perceptível
em tempos de crise?
Nesses momentos, o artista deve
estar atento ao que se passa em seu
redor. O meu problema, em relação
a questões políticas na arte, é quan-
do ela possa cair num discurso
propagandista. Quando o artista
pega em determinadas questões
políticas e sociais tem de ter aten-
ção para não fazer uma arte que de-
fenda uma só visão das coisas. A
arte é política porque cria pensa-
mento mas não é panfletária...
Que temas ficam para o artista
abordar?
Ele pode levar para o seu trabalho
tudo e mais alguma coisa. Nos mo-
mentos de crise, não deve apenas
concentrar-se a fazer arte que cha-
me a atenção dos cidadãos sobre a
realidade política e social em que
vive. Pode fazê-lo, mas, mais im-
portante que isso, é o artista ser um
agente activo na denúncia, até en-
quanto cidadão. Se tem esse espa-
ço que lhe permite pôr em questão
alguma situação especifica do con-
texto político ou social, pode fazê-
-lo, mas de uma maneira inteli-
gente. Mas isso nem sempre é fácil,
porque estamos a falar também
de uma experiência estética da
percepção do real e não da expe-
riência da realidade em si. A arte re-
laciona-se com a experiência do
real mas o que deve procurar fazer
é questioná-lo, procurando outras
formas de dar a ver a realidade. É
por isso que as questões relacio-
nadas com o contexto político são
tão difíceis de abordar, porque
deve tentar-se criar pensamento e
levantar questões de uma forma
subtil. A arte não pode ser apenas
uma plataforma informativa. A arte
deve ter e apresentar um outro en-
tendimentodoreal.Semequiserin-
formar correctamente enquanto ci-
dadão sobre algum assunto, leio
jornais, leio livros, pesquiso na in-
ternet, mas aí levantam-se outras
questões ligadas à manipulação da
informação nos media.
Na sua obra, por vezes, cria perso-
nagens de forma semelhante à da
criação literária.
A literatura está presente no meu
trabalho. É verdade. Mas os estí-
mulos que uso nas minhas obras
são variados. Não vêm apenas da li-
teratura. Eles aparecem a partir
dos livros, música, cinema e de si-
tuações quotidianas – quando ando
de comboio ou na rua, por exemplo.
As minhas pinturas são uma espé-
cie de narrativa ou simples apre-
sentação de uma situação que pode
espoletar leituras e interpretações
sobre o que estão as personagens a
fazer, ou o que aquela imagem de
uma paisagem pode significar. No
fundo, é uma tentativa de criar um
discurso, a posteriori, do que se vê
nas pinturas. A relação com a lite-
ratura pode ter a ver com o facto de
eu dispor personagens em contac-
to directo ou de costas voltadas,
num determinado espaço e criar
uma situação de leitura desse re-
gisto. É uma tentativa de criar uma
representação do real. Há roupas,
casas, pedras, árvores e as pessoas
podem estar bem ou mal humora-
das. Na construção de imagens que
têm uma relação directa com a rea-
Éridículouma
pessoaterde
venderpipocas,
ououtracoisa
qualquer,para
pagarosestudos.
Quemdizessas
coisas,tem
intençãodedeixar
aspessoasmal
informadas...
Em destaque
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ENTREVISTA COM O APOIO DE:
JACINTO SILVA DURO
lidade, pode estar essa ligação com
a literatura. Não é uma descrição es-
crita, mas uma representação visual
de uma realidade. Eu dou as ima-
gens e o que me interessa é que,
cada um, possa criar uma inter-
pretação do que vê.
“Bater punho e vender pipocas”,
como diz o publicitário Miguel
Gonçalves, embaixador do pro-
grama Inov-Jovem, como metáfo-
ra de vencer na vida, chegam para
um artista ser reconhecido?
Bater punho e vender pipocas para
pagar propinas é uma parvoíce de
todo o tamanho. Essas frases são
coisas que me aborrecem profun-
damente... fico mesmo triste. São
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rado numa espécie de avalanche de
raiva. É ridículo uma pessoa ter de
vender pipocas, ou outra coisa
qualquer, para pagar os estudos.
Quem diz essas coisas, tem inten-
ção de deixar as pessoas mal in-
formadas... conformadas. Fazendo
crer que o normal é ter que traba-
lhar para sustentar os estudos,
quando o normal é ter um período
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apenas no que estamos a estudar.
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nesse tipo de declarações, que são
uma provocação a quem está a
tentar construir uma carreira. En-
quanto artista, sinto que é ridícu-
lo não ter o tempo todo para poder
dedicar-me à criação. Os médicos
e enfermeiros passam o tempo
todo a praticar para serem melho-
res... Mas os artistas têm de ter um
“trabalho normal” e só se dedicam
à sua vocação artística, no tempo
livre, depois de passarem oito ou
mais horas a trabalhar. Esta opinião
generalizada de que a produção
cultural não é trabalho é uma coi-
sa que deve ser combatida. O tra-
balho artístico é tão importante
como outras áreas profissionais e
deve ser pago. Todos os artistas
querem ser reconhecidos pelo tra-
balho que fazem, não é por ven-
derem pipocas e baterem punho. Já
vendi pipocas e sei bem do que es-
tou a falar. O mais preocupante é a
mediatização que se faz de decla-
rações desse tipo... como se tivés-
semos de aceitar tudo.
É como se fosse uma das máxi-
mas do Estado Novo: “o português
é pobrete, mas alegrete”...
Exacto. “Somos pobres, mas mui-
to felizes”... Ninguém pode ser
pobre, muito feliz e bom profis-
sional. Um bom engenheiro, mé-
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muito bom se não tiver tempo e
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tece com outro profissional qual-
quer, até com os operários fabris ou
os sapateiros. As pessoas têm as
suas áreas de trabalho e para dar o
melhor de si, de forma honesta e
sincera, não podem estar preocu-
pados com pressões económicas e
a pensar em todo o trabalho extra
que vão ter de fazer, apenas para
pagar contas. Não é assim que se
constrói o futuro.
Que perspectivas de futuro tem,
nestemomento,alguémcomobras
em ao espólio de fundos importan-
tes e que venceu o Prémio Fideli-
dade-Mundial Jovens Pintores?
Tenho um espaço de trabalho na
Galeria Zé dos Bois. É uma coisa
incrível, que me permite trocar
ideias com outros artistas com
quem posso partilhar o trabalho.
Estar integrado neste contexto,
faz-me entrar em contacto com
coisas novas e com outras manei-
ras de pensar. Estou muito grato
por isto. Na semana passada, acon-
teceu-me uma coisa muito boa.
Fui seleccionado para os finalistas
da 10.ª edição do Prémio EDP No-
vos Artistas.
Estes prémios vieram abrir-me
outras perspectivas de futuro, pois
é-nos atribuída uma verba para
criar uma exposição ou um traba-
lho novo. Tenho alguma sorte,
mas tenho amigos para quem isto
é insuportável. Não podem fazer
planos de vida. Infelizmente, o
mesmo também se passa com o
resto da população toda. Nin-
guém, pode fazer planos para
nada... Não se pode pensar em ter
casa, em ter filhos. É impossível
viver assim. Não sei como as pes-
soas aguentam...
Umsonho
Queaspessoas
tenhamconsciência!
TiagoBaptistanasceuem1986eé
licenciadoemArtesPlásticaspela
EscolaSuperiordeArteeDesignde
CaldasdaRainha.Viveuatéaos18
anosemFreiria,freguesiade
Caranguejeira,concelhodeLeiria.
Em2009,recebeuoPrémio
Fidelidade-MundialJovens
Pintoresecontacomváriasobras
emacervos,comoacolecção
AntónioCachola,noMuseude
Elvas.Nestemomento,desenvolve
umaresidênciaartísticanaGaleria
ZédosBoisefoiseleccionadocomo
umdosfinalistasda10.ªediçãodo
PrémioEDPNovosArtistas.Tiagoé
umartistaquesemprecreditouna
possibilidadedetornarasociedade
maisjustaenuncadeixoudeusara
artecomoformadecontestação.
“Hácriminososnaclassepolítica,
quegastammalodinheiropúblico
enãosãojulgados.Aculpada
situaçãotambémédaspessoasque
nãosequereminformarese
demitiramdosseusdeveres,
deixandoqueoutros,sem
escrúpulosesemamínima
consciênciatomemcontada
democracia”,entendeoartista
plásticoqueadiantaquea
liberdadeeademocraciasãocomo
umjardim.“Temosdecuidardas
flores,senão,quandonos
apercebermossótemoservas
indesejáveisportodoolado.
Depoisaspessoasqueixam-seque
votarammal,masnãofizeram
nadaparaalterarasituação.
Gostariaquecomeçassematomar
consciênciaque,alémdosseus
direitos,tambémtêmdeveres
cívicosequehácriminosos,poraí,
afazerumamágestãodos
dinheirospúblicos.”
TiagoBaptistatempatenteuma
exposiçãonofoyerdoTeatroJosé
LúciodaSilva,emLeiria.
Faltaprogramação
Infra-estruturas
culturaissub-
-aproveitadas
T Leiria tem uma identidade que
possaserusadaparaatrairtodosos
leirienses e criar um projecto de
desenvolvimentoemtornodeuma
ideia comum?
Nunca vivi plenamente Leiria. Usu-
fruodelaenquantolocalquetemin-
fra-estruturasculturaiseserviços.É
claro que tenho uma relação emo-
cional com a cidade, mas nunca
soube o que era viver dentro da sua
área urbana. Não consigo imaginar
o que seria a identidade de Leiria. É
umlocalcomváriasinfra-estruturas
culturais sub-aproveitadas – e isso é
impressionante porque se trata de
umsítiocommuitopotencial.Háes-
paços novos, como o edifício Praça
Eça de Queiroz... que não sei o que
é nem para que serve. Calculo que
tenha um auditório e salas, mas o
que costumo ver é um edifício com
umas pessoas que fazem umas pin-
turas e umas cadeiras lá ao fundo...
Também há o Moinho de Papel... e
muitossítiosondepoderiaacontecer
muita coisa, como o Mimo e o Mer-
cadoSant'Ana.Poderiamservividos
efuncionarcomosedeoulocaldetra-
balho de associações culturais – e
emLeiriahámuitas–podiamacolher
exposiçõeseconcertos,terateliers,or-
ganizarem-seresidênciasartísticas...
podiamatétercoisasdeoutrasáreas
foradacultura.Masestesespaçospú-
blicos estão subaproveitados e há
umentraveaoseuusufruto.Talvezse
houvesse um compromisso e um
plano real de programação conjunta
destes locais pudessem funcionar
comoumaidentidadedeLeiria.Como
umacidadecompotencialparafixar
populações,criarempregoepôramá-
quina a funcionar.
Se as associações, que apareceram
nosúltimosanos,seunissemnuma
frente comum, esquecendo diver-
gências, teriam massa crítica para
criarumlobbydaculturaemLeiria?
Penso que sim. Mas os que se passa
é que os interesses são dispersos e é
normal que existam várias associa-
ções com vários caminhos e inte-
resses diferentes. Isso provoca al-
gumas clivagens. Claro que, se hou-
vesse união, poderia haver maior
pressão e os objectivos seriam mais
facilmenteconseguidos.Maisdoque
asclivagensentreasassociações,há
um problema político da autarquia.
Emtodoolado,enãoapenasemLei-
ria, usam-se os fundos disponíveis
paraconstruirespaçosculturaise,de-
pois,nãohádinheiroparacriaruma
programação consistente. Foi o que
aconteceunoCentroCívico“Eçacoi-
sa”... Fez-se aquilo, que é uma obra
importante,masdepoisnãohaviadi-
nheiroparapagarapessoasparatra-
balharláoufazerumaprogramação.
Seiqueodinheironãochegaparato-
dos, mas devia haver um planea-
mento da res publica.
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TiagoBaptista,artista
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  • 1. Tiragem: 15000 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Regional Pág: 8 Cores: Cor Área: 24,25 x 32,59 cm² Corte: 1 de 3ID: 48029402 30-05-2013 Entrevista “Ninguémpodeser pobre,muitofeliz ebomprofissional” TiagoBaptista,artistaplásticodeLeiriavencedordo PrémioFidelidade-MundialJovensPintoreseem2009 finalistadoPrémioEDPNovosArtistas,dizqueoscriadores têmdeseragentesactivosnasociedadeequestionara realidadeemquevivem,atitudequemereceespecial atenção,numpaísondehá“pessoassemescrúpulos”que tomaram“contadademocracia” Jacinto Silva Duro jacinto.duro@jornaldeleiria.pt Em todas as suas fanzines e obras plásticas está presente uma visão bastante crítica do quotidiano. No livroFábricas, Baldios, Fé e Pedras atiradas à Lama, por exemplo, que foi distinguido com o Prémio Melhor fanzine dos Prémios Na- cionais de Banda Desenhada, atri- buídos pelo Amadora BD, isso é algo bem presente, da capa à con- tra-capa. O papel do artista na so- ciedade actual é questionar? O papel do artista sempre foi pôr em questão as coisas que o ro- deiam e a realidade. Subjacente à arte está sempre esse conceito. Contudo, quando o autor convoca questões políticas para o seu tra- balho - que pode e deve fazer – não deve nunca ter a intenção de fazer uma arte panfletária ou propagan- dista, porque isso é outro território. O artista tem de ser um agente ac- tivo na sociedade e deve questionar a realidade em que vive. Claro que há várias maneiras de o fazer e umas mais subtis que outras. Essa obrigação é mais perceptível em tempos de crise? Nesses momentos, o artista deve estar atento ao que se passa em seu redor. O meu problema, em relação a questões políticas na arte, é quan- do ela possa cair num discurso propagandista. Quando o artista pega em determinadas questões políticas e sociais tem de ter aten- ção para não fazer uma arte que de- fenda uma só visão das coisas. A arte é política porque cria pensa- mento mas não é panfletária... Que temas ficam para o artista abordar? Ele pode levar para o seu trabalho tudo e mais alguma coisa. Nos mo- mentos de crise, não deve apenas concentrar-se a fazer arte que cha- me a atenção dos cidadãos sobre a realidade política e social em que vive. Pode fazê-lo, mas, mais im- portante que isso, é o artista ser um agente activo na denúncia, até en- quanto cidadão. Se tem esse espa- ço que lhe permite pôr em questão alguma situação especifica do con- texto político ou social, pode fazê- -lo, mas de uma maneira inteli- gente. Mas isso nem sempre é fácil, porque estamos a falar também de uma experiência estética da percepção do real e não da expe- riência da realidade em si. A arte re- laciona-se com a experiência do real mas o que deve procurar fazer é questioná-lo, procurando outras formas de dar a ver a realidade. É por isso que as questões relacio- nadas com o contexto político são tão difíceis de abordar, porque deve tentar-se criar pensamento e levantar questões de uma forma subtil. A arte não pode ser apenas uma plataforma informativa. A arte deve ter e apresentar um outro en- tendimentodoreal.Semequiserin- formar correctamente enquanto ci- dadão sobre algum assunto, leio jornais, leio livros, pesquiso na in- ternet, mas aí levantam-se outras questões ligadas à manipulação da informação nos media. Na sua obra, por vezes, cria perso- nagens de forma semelhante à da criação literária. A literatura está presente no meu trabalho. É verdade. Mas os estí- mulos que uso nas minhas obras são variados. Não vêm apenas da li- teratura. Eles aparecem a partir dos livros, música, cinema e de si- tuações quotidianas – quando ando de comboio ou na rua, por exemplo. As minhas pinturas são uma espé- cie de narrativa ou simples apre- sentação de uma situação que pode espoletar leituras e interpretações sobre o que estão as personagens a fazer, ou o que aquela imagem de uma paisagem pode significar. No fundo, é uma tentativa de criar um discurso, a posteriori, do que se vê nas pinturas. A relação com a lite- ratura pode ter a ver com o facto de eu dispor personagens em contac- to directo ou de costas voltadas, num determinado espaço e criar uma situação de leitura desse re- gisto. É uma tentativa de criar uma representação do real. Há roupas, casas, pedras, árvores e as pessoas podem estar bem ou mal humora- das. Na construção de imagens que têm uma relação directa com a rea- Éridículouma pessoaterde venderpipocas, ououtracoisa qualquer,para pagarosestudos. Quemdizessas coisas,tem intençãodedeixar aspessoasmal informadas... Em destaque
  • 2. Tiragem: 15000 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Regional Pág: 9 Cores: Cor Área: 24,73 x 33,11 cm² Corte: 2 de 3ID: 48029402 30-05-2013 ENTREVISTA COM O APOIO DE: JACINTO SILVA DURO lidade, pode estar essa ligação com a literatura. Não é uma descrição es- crita, mas uma representação visual de uma realidade. Eu dou as ima- gens e o que me interessa é que, cada um, possa criar uma inter- pretação do que vê. “Bater punho e vender pipocas”, como diz o publicitário Miguel Gonçalves, embaixador do pro- grama Inov-Jovem, como metáfo- ra de vencer na vida, chegam para um artista ser reconhecido? Bater punho e vender pipocas para pagar propinas é uma parvoíce de todo o tamanho. Essas frases são coisas que me aborrecem profun- damente... fico mesmo triste. São tantas as coisas semelhantes que se ouvem, que parece que fico soter- rado numa espécie de avalanche de raiva. É ridículo uma pessoa ter de vender pipocas, ou outra coisa qualquer, para pagar os estudos. Quem diz essas coisas, tem inten- ção de deixar as pessoas mal in- formadas... conformadas. Fazendo crer que o normal é ter que traba- lhar para sustentar os estudos, quando o normal é ter um período de tempo para nos concentrarmos apenas no que estamos a estudar. Nos media e redes sociais só se fala nesse tipo de declarações, que são uma provocação a quem está a tentar construir uma carreira. En- quanto artista, sinto que é ridícu- lo não ter o tempo todo para poder dedicar-me à criação. Os médicos e enfermeiros passam o tempo todo a praticar para serem melho- res... Mas os artistas têm de ter um “trabalho normal” e só se dedicam à sua vocação artística, no tempo livre, depois de passarem oito ou mais horas a trabalhar. Esta opinião generalizada de que a produção cultural não é trabalho é uma coi- sa que deve ser combatida. O tra- balho artístico é tão importante como outras áreas profissionais e deve ser pago. Todos os artistas querem ser reconhecidos pelo tra- balho que fazem, não é por ven- derem pipocas e baterem punho. Já vendi pipocas e sei bem do que es- tou a falar. O mais preocupante é a mediatização que se faz de decla- rações desse tipo... como se tivés- semos de aceitar tudo. É como se fosse uma das máxi- mas do Estado Novo: “o português é pobrete, mas alegrete”... Exacto. “Somos pobres, mas mui- to felizes”... Ninguém pode ser pobre, muito feliz e bom profis- sional. Um bom engenheiro, mé- dico ou artista não consegue ser muito bom se não tiver tempo e condições monetárias, para se con- centrar no que faz. O mesmo acon- tece com outro profissional qual- quer, até com os operários fabris ou os sapateiros. As pessoas têm as suas áreas de trabalho e para dar o melhor de si, de forma honesta e sincera, não podem estar preocu- pados com pressões económicas e a pensar em todo o trabalho extra que vão ter de fazer, apenas para pagar contas. Não é assim que se constrói o futuro. Que perspectivas de futuro tem, nestemomento,alguémcomobras em ao espólio de fundos importan- tes e que venceu o Prémio Fideli- dade-Mundial Jovens Pintores? Tenho um espaço de trabalho na Galeria Zé dos Bois. É uma coisa incrível, que me permite trocar ideias com outros artistas com quem posso partilhar o trabalho. Estar integrado neste contexto, faz-me entrar em contacto com coisas novas e com outras manei- ras de pensar. Estou muito grato por isto. Na semana passada, acon- teceu-me uma coisa muito boa. Fui seleccionado para os finalistas da 10.ª edição do Prémio EDP No- vos Artistas. Estes prémios vieram abrir-me outras perspectivas de futuro, pois é-nos atribuída uma verba para criar uma exposição ou um traba- lho novo. Tenho alguma sorte, mas tenho amigos para quem isto é insuportável. Não podem fazer planos de vida. Infelizmente, o mesmo também se passa com o resto da população toda. Nin- guém, pode fazer planos para nada... Não se pode pensar em ter casa, em ter filhos. É impossível viver assim. Não sei como as pes- soas aguentam... Umsonho Queaspessoas tenhamconsciência! TiagoBaptistanasceuem1986eé licenciadoemArtesPlásticaspela EscolaSuperiordeArteeDesignde CaldasdaRainha.Viveuatéaos18 anosemFreiria,freguesiade Caranguejeira,concelhodeLeiria. Em2009,recebeuoPrémio Fidelidade-MundialJovens Pintoresecontacomváriasobras emacervos,comoacolecção AntónioCachola,noMuseude Elvas.Nestemomento,desenvolve umaresidênciaartísticanaGaleria ZédosBoisefoiseleccionadocomo umdosfinalistasda10.ªediçãodo PrémioEDPNovosArtistas.Tiagoé umartistaquesemprecreditouna possibilidadedetornarasociedade maisjustaenuncadeixoudeusara artecomoformadecontestação. “Hácriminososnaclassepolítica, quegastammalodinheiropúblico enãosãojulgados.Aculpada situaçãotambémédaspessoasque nãosequereminformarese demitiramdosseusdeveres, deixandoqueoutros,sem escrúpulosesemamínima consciênciatomemcontada democracia”,entendeoartista plásticoqueadiantaquea liberdadeeademocraciasãocomo umjardim.“Temosdecuidardas flores,senão,quandonos apercebermossótemoservas indesejáveisportodoolado. Depoisaspessoasqueixam-seque votarammal,masnãofizeram nadaparaalterarasituação. Gostariaquecomeçassematomar consciênciaque,alémdosseus direitos,tambémtêmdeveres cívicosequehácriminosos,poraí, afazerumamágestãodos dinheirospúblicos.” TiagoBaptistatempatenteuma exposiçãonofoyerdoTeatroJosé LúciodaSilva,emLeiria. Faltaprogramação Infra-estruturas culturaissub- -aproveitadas T Leiria tem uma identidade que possaserusadaparaatrairtodosos leirienses e criar um projecto de desenvolvimentoemtornodeuma ideia comum? Nunca vivi plenamente Leiria. Usu- fruodelaenquantolocalquetemin- fra-estruturasculturaiseserviços.É claro que tenho uma relação emo- cional com a cidade, mas nunca soube o que era viver dentro da sua área urbana. Não consigo imaginar o que seria a identidade de Leiria. É umlocalcomváriasinfra-estruturas culturais sub-aproveitadas – e isso é impressionante porque se trata de umsítiocommuitopotencial.Háes- paços novos, como o edifício Praça Eça de Queiroz... que não sei o que é nem para que serve. Calculo que tenha um auditório e salas, mas o que costumo ver é um edifício com umas pessoas que fazem umas pin- turas e umas cadeiras lá ao fundo... Também há o Moinho de Papel... e muitossítiosondepoderiaacontecer muita coisa, como o Mimo e o Mer- cadoSant'Ana.Poderiamservividos efuncionarcomosedeoulocaldetra- balho de associações culturais – e emLeiriahámuitas–podiamacolher exposiçõeseconcertos,terateliers,or- ganizarem-seresidênciasartísticas... podiamatétercoisasdeoutrasáreas foradacultura.Masestesespaçospú- blicos estão subaproveitados e há umentraveaoseuusufruto.Talvezse houvesse um compromisso e um plano real de programação conjunta destes locais pudessem funcionar comoumaidentidadedeLeiria.Como umacidadecompotencialparafixar populações,criarempregoepôramá- quina a funcionar. Se as associações, que apareceram nosúltimosanos,seunissemnuma frente comum, esquecendo diver- gências, teriam massa crítica para criarumlobbydaculturaemLeiria? Penso que sim. Mas os que se passa é que os interesses são dispersos e é normal que existam várias associa- ções com vários caminhos e inte- resses diferentes. Isso provoca al- gumas clivagens. Claro que, se hou- vesse união, poderia haver maior pressão e os objectivos seriam mais facilmenteconseguidos.Maisdoque asclivagensentreasassociações,há um problema político da autarquia. Emtodoolado,enãoapenasemLei- ria, usam-se os fundos disponíveis paraconstruirespaçosculturaise,de- pois,nãohádinheiroparacriaruma programação consistente. Foi o que aconteceunoCentroCívico“Eçacoi- sa”... Fez-se aquilo, que é uma obra importante,masdepoisnãohaviadi- nheiroparapagarapessoasparatra- balharláoufazerumaprogramação. Seiqueodinheironãochegaparato- dos, mas devia haver um planea- mento da res publica.
  • 3. Tiragem: 15000 País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Regional Pág: 1 Cores: Cor Área: 4,57 x 5,48 cm² Corte: 3 de 3ID: 48029402 30-05-2013 TiagoBaptista,artista Háaopiniãode queaartenãoé trabalhoPágs.8/9