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RELEASE – NEPHILINS, O SEGREDO.

               Vol. I

      Uma Face, Duas Almas.




     Roberta Fari & Niki Weiss.
SINOPSE:

O amor se manifesta de várias formas.
Amor paternal, amor filial, amor fraternal, amor passional...
Uma face, duas almas.
Quem poderia prever que os anjos encantar-se-iam por duas beldades nascidas na Terra?
Natalie e Alicia eram órfãs, suas mães morreram durante o parto de ambas. No mesmo dia. No
mesmo horário. Levadas para o mesmo abrigo de menores, ali passaram parte de suas vidas. E o
destino jamais permitiu que ambas fossem separadas, nunca se tornaram alvo de interesses dos
casais que buscavam uma criança para adotarem.
Uma forte amizade nasceu, Natalie e Alicia prometeram que sempre estariam juntas. E nunca
sequer imaginaram que segredos sobrenaturais as envolviam em um mundo que nem acreditavam
que existia...
E dois celestiais encantaram-se por duas beldades terrenas... Entretanto, um precioso segredo seria
revelado.
Bastaria apenas um olhar para que poderes fossem manifestados.
Bastaria apenas um beijo para que entendessem.
Bastaria apenas uma noite de amor para que o segredo viesse à tona...
RESUMO




Duas garotas cresceram em um orfanato. Ambas as mães haviam morrido no parto e os pais nunca
se manifestaram. Apesar de terem o perfil das crianças mais cotadas para a adoção, o destino não
permitiu que elas fossem separadas.
Estudaram juntas desde a mais tenra idade. E sempre retornavam ao abrigo do qual tinham que
ficar. Essa era a vida de Alicia e Natalie. Entretanto, mesmo com todas as dificuldades, as garotas
se tornaram o orgulho de seus tutores.
Assim que atingiram a maior idade, seguiram juntas para a universidade. Cada qual escolheu seu
curso – Alicia com antropofagia e Natalie com jornalismo. – Mas nunca deixaram de cumprir seu
juramento, uma cuidaria da outra para todo o sempre. De tal forma, eram como unha e carne,
moravam juntas e deliciavam-se em suas aventuras.

                                           As amigas trabalhavam em uma lanchonete para
                                           cobrirem suas despesas. Entretanto, como eram dotadas
                                           de inteligência acima da média, ganharam bolsa total
                                           para cursarem a faculdade.
                                           A diretora do orfanato, dona Angélica – uma senhora
                                           que sempre acompanhou, ajudou e incentivou as
                                           meninas -, jamais deixou de visitá-las e protegê-las
                                           como podia. Nem com ajuda financeira deixou de
                                           colaborar. E dona Angélica encantava-se com a forte
                                           amizade de ambas.
                                           Alicia estranhava essa ligação. Era um laço tão forte
                                           que ela não acreditava ser apenas amizade, apesar dos
                                           protestos de Natalie, que era um tanto cética no quesito
                                           ―anjos e demônios‖. Foi assim que Alicia optou por um
                                           curso extra oferecido pela universidade: teologia.
                                           Nesse curso, um assunto chamou a atenção de Alicia:
                                           os nephilins. Queria aprofundar-se mais, estudar sobre
                                           tais criaturas. Porém, um ocorrido tirou sua atenção:
                                           duas moças do curso de Natalie começaram a investir
contra as amigas. Sem entender o motivo de tanta hostilidade, elas precisaram ficar alertas e refutar
tudo o que vinha contra, maquinações terríveis que as faziam perder o rumo e irarem-se em
demasia.
Nesse entremeio, o melhor amigo de Alicia, Jean, tenta ajudá-las. E tudo parecia apenas um
pesadelo para esse trio, sendo que Jean se tornou, também, alvo direto das cruéis Sabrina e Luana –
que tinham enorme poder de persuasão, tornando-se como santas e até mesmo vítimas quando
relatavam suas versões dos fatos.
Natalie não acreditava no amor. Achava que se o seu verdadeiro pai – fosse ele quem fosse –
amasse sua mãe – ou até ela mesma -, jamais a teria deixado para crescer naquele orfanato frio.
Entretanto, no fundo, agradecia por tal fato. Afinal, fora isso que colocara Alicia em sua vida.
Alicia sonhava em conhecer seu ―príncipe encantado‖. Acreditava que um dia encontraria um
homem gentil e cavalheiro. E ela conheceria... Natalie também... Porém, de cavalheiros e gentis,
tais homens nada tinham. Nem humanos eles eram...
Os alados gêmeos encontraram-se na Terra. Juntos descobriram que as suas protegidas não eram
apenas nephilins, mas as princesas escolhidas, as portadoras da magia Elemental. Alicia tinha o
poder sobre o fogo, e Natalie dominava as águas. E eram mesmo perfeitas para ambos, pois Rafael
era o príncipe da terra, e Gabriel, o do ar.
Fogo e terremoto.
Água e vendaval.
A partir daí se iniciam muitas jocosas aventuras. E tudo pode acontecer quando água, fogo, terra e
ar se encontram. Aguardem muitas aventuras nessa trilogia que nos fará rir, chorar, amar e conhecer
o lado diferente e deliciosamente divertido dos nephilins.
PERSONAGENS




ALICIA – órfã, loira de olhos azuis, brincalhona, divertida e sexy, nutre um medo irracional de
relacionar-se com qualquer homem que apareça em seu caminho. Melhor amiga de Natalie.




NATALIE – loira de olhos azuis. Abusada, sarcástica e um tanto irritada. Sempre tenta arrumar um
namorado, mas seus encontros misteriosamente nunca acontecem, seus paqueras nunca chegam ao
destino marcado. Melhor amiga de Alicia, Natalie também é órfã.
ANGÉLICA – administradora do orfanato onde Alicia e Natalie cresceram. Tornou-se a mentora
das meninas e sempre as ajudou de todas as formas. Ambas consideravam Angélica como uma
verdadeira mãe.




JOSHUA – um serafim que se apaixonou por duas humanas, irmãs gêmeas. Quebrando uma das
maiores regras celestiais, ele copulou com elas e duas novas criaturas vieram a existir na Terra.
RAFAEL – querubim gêmeo de Gabriel. Foi designado como guardião de Alicia. Mandão,
dominador e possessivo, encontra-se perdidamente apaixonado e seu excesso de proteção é o que
chama a atenção da sua amada.




GABRIEL – querubim designado como protetor de Natalie. Tranquilo, pacífico, torna-se um
furacão quando se sente enciumado. Irmão gêmeo de Rafael.
SABRINA – Súcubo que trabalha para o lado sombrio. Chamada para atormentar a vida das amigas
Natalie e Alice. Arrogante, falsa, irônica, ganhou o apelido de ―Cruela‖ pela sarcástica Natalie.




LUANA – alada guerreira do exército celestial. Aliada de Sabrina, também perturba a vida das
jovens amigas. Como um ―pau mandado‖, sempre faz o que Sabrina lhe ordena. Por tal motivo é
chamada de ―Capachão‖ por Natalie e Alicia.
JEAN – Melhor amigo de Alicia – e apaixonado em segredo pela mocinha. – É vítima de inúmeras
brincadeiras de Natalie, porém, nunca deixa de ajudar e socorrer as irmãs. É um rapaz centrado,
destemido, rico e que esconde um grande segredo.




MATHEUS – Dono da lanchonete onde as amigas Natalie e Alicia trabalham. Um rapaz bonito,
rico e conquistador, investe suas cantadas em Natalie e, após um encontro frustrado que nunca
aconteceu, leva os maiores foras da funcionária abusada.
AUTORAS
PRÓLOGO

        — Preciso que cuidem delas – declarou Joshua com a voz autoritária.
        Os gêmeos Gabriel e Rafael entreolharam-se e depois fitaram Joshua.
        — Bem sabes que nada é de graça, meu amigo. Nem no nosso mundo isso funciona –
rebateu Rafael com planos em mente.
        Joshua balançou a cabeça em negativa e soltou uma leve risada. Sim, ele bem sabia como
aconteciam tais trâmites. Eram como a máfia, favores eram feitos, porém, nunca deixavam de serem
cobrados.
        — O que querem em troca? – indagou Joshua.
        — Ora, é bem óbvio, não? – retrucou Rafael em tom jocoso. – Queremos elas.
        Com o olhar estreito e o maxilar travado em fúria e carregado de ciúme, Joshua rebateu por
entre os dentes:
        — Não ouse, Rafael!
        — É pegar ou largar, meu caro – respondeu o outro em plena vitória.
        Joshua suspirou profundamente e buscou calma em seu íntimo. Depois, decidido e sem ter
como fugir – também sem intenção alguma de cumprir aquele acordo -, declarou:
        — Que seja! Ao menos cuidem delas, ou vos caçarei até os confins do inferno!
        Dito isso, Joshua retirou-se e deixou os gêmeos confabulando entre si.
        — Ficou claro que o irritaste com tal proposta – murmurou Gabriel enquanto fitava Joshua
afastar-se em duros passos.
        — Dormirei na casa de Lúcifer por isso. – Rafael bufou exasperado. – Olha minha cara de
preocupação, mano. Achas mesmo que deixaria essa passar sem exigir algo? Não sei quanto a ti,
mas já enxerguei o futuro dessas garotinhas. E, creia-me, o de uma delas é bem ao meu lado.
        — Nesse caso, faço minhas as tuas palavras, Rafael.

                                          CAPÍTULO I

       (Natalie)
       Não me lembro como iniciou a minha amizade com Alicia, a conheço desde sempre. Porém,
sinto um profundo carinho por ela. Não, é mais que isso, é um amor fraternal, como se fôssemos
irmãs de verdade. E é assim que nos consideramos. Jamais esquecerei a promessa que um dia
fizemos quando tínhamos apenas cinco anos...

       Eu havia brigado com uma das garotas do orfanato, uma troglodita safada que cismava em
nos atormentar. Nossa sorte era que a dona Angélica, diretora do orfanato onde vivíamos – ou tia
Angélica, como costumávamos chamá-la –, sempre jogava no nosso time. Ou seja, acreditava no
que dizíamos – mesmo quando eu contava uma mentirinha ou outra para me safar de um castigo.
Porém, naquele dia, não houve jeito. Nem minha carinha inocente foi o bastante para fazer a tia
Angélica recuar ou ser dissuadida a não retirar algumas das minhas regalias – como a sobremesa
depois do jantar. Isso doeu mesmo! – Entretanto, não posso negar minha culpa. A garota me irritou
e eu, como uma boa santa do pau oco, peguei o primeiro brinquedo disponível ao meu alcance –
um taco de beisebol – e investi contra o queixo dela.
       Depois de escutar as broncas da tia Angélica e de passar o almoço sem sobremesa, fiquei
amuada em um cantinho do pátio dos fundos do orfanato. Alicia logo chegou e sentou-se ao meu
lado. Ela segurou minha mão e disse:
       — Não fica assim, Naty. Seremos amigas para sempre. Amigas não, seremos irmãs.
Estaremos eternamente juntas.
       — De certa forma, já somos irmãs, não é? – indaguei balbuciando e segurando as lágrimas.
Eu odiava chorar, só o fazia na frente de Alicia, porque confiava nela.
— Sim, maninha. Vamos fazer um juramento. Prometo te proteger sempre e estar do teu
lado em todos os momentos, nos bons e nos ruins.
       — Isso não vale, você já está sempre comigo, Aly! – rebati já mais descontraída.
       — Por isso mesmo – ela replicou com os olhos fechados e o narizinho empinado. – Estou
reafirmando que ficaremos juntas.
       — Tudo bem – respondi bufando e revirando os olhos. – Também juro que estarei sempre
contigo e que vou te proteger se qualquer idiota, seja menino ou menina, quiser te machucar.
       Fitamos-nos por alguns segundos e depois caímos na gargalhada. Logo levantamos e
voltamos a brincar.

        E agora cumpríamos nossas promessas de infância. Eu sempre cuidava de Alicia e ela fazia
o mesmo comigo. O problema é que minha ―amiga quase irmã‖ às vezes assumia um papel de
mãe, pegava no meu pé feito chiclete. Mas era impossível não amá-la.
        Eu já não acreditava mais no amor passional. Sei lá... Acho que devia isso ao meu pai, fosse
ele quem fosse. Penso da seguinte forma, se ele amasse minha mãe, cuidaria de mim após a morte
dela. Mas o cara nunca apareceu para reclamar sua cria. Motivo mais que suficiente para me fazer
acreditar que o romance verdadeiro entre um homem e uma mulher era a pior das utopias.
        Alicia já era do tipo sonhadora. Buscava o típico rapaz dos contos de livros. Eu não. Eu
queria festejar e curtir a vida.
        Cursávamos a faculdade juntas. Não tínhamos dinheiro, porém, isso não foi problema. Por
algum acaso do destino nós éramos inteligentes ao extremo, muito acima da média. Fato que nos
garantiu bolsa total em nossos cursos. Para todo o resto, contávamos com a ajuda da tia Angélica –
que nunca nos deixou, era a típica mãezona – e com o mísero salário que recebíamos do nosso
emprego em uma lanchonete perto do campus. Era difícil viver assim, mas era divertido. Alicia
sempre tornava meu mundo algo delicioso de ser apreciado.
        Houve uma noite que cheguei ao nosso ―apertamento‖ – era assim que eu chamava nosso
minúsculo quarto no campus da faculdade – e Alicia sorria de orelha a orelha. Jean, um amigo que
conhecemos por lá e que foi sempre muito solícito desde que chegamos, estava com ela.
        — Viram passarinhos verdes ou trocaram beijos no estilo ―desentupidor de pia‖? – indaguei
e findei com um sorriso enorme e debochado.
        — Quanta idiotice! – retrucou Alicia com as mãos na cintura e o olhar estreito. – Você já
está careca de saber que Jean e eu somos apenas amigos.
        — E ele está ciente disso? – perguntei voltando meu olhar para o pobre rapaz, que estava
mais vermelho que um pimentão. Ergui as sobrancelhas, cruzei os braços sobre o peito e esperei a
resposta do coitado.
        — Natalie – ele balbuciou todo sem graça -, gosto de vocês duas. Não precisas ficar
enciumada, gatinha – findou em tom vitorioso. Isso me irritava, Jean sempre sabia como me vencer
nas discussões, algo que, definitivamente, não era a praia de Alicia. Minha ―irmãzinha‖ era craque
em refutar qualquer desafio, mas não comigo. A última palavra sempre era minha.
        — Ciúme de ti, cara? – perguntei fazendo uma careta de espanto. – Mas nem que o sol
virasse lua, Mané!
        Ele riu e se aproximou para fazer o que mais me irritava: bagunçar meus cabelos. Ao fim da
brincadeira, após as gargalhadas de Alicia – que se divertia sempre com Jean por perto -, ela
declarou:
        — O Jean conseguiu uma vaga no curso que eu tanto queria! Amanhã iniciarei as aulas de
teologia.
        — Pirou? – questionei quase em um grito agudo. – Ainda com essa mania de anjos,
demônios e destinos traçados?
        — Cada um com suas crenças, Naty – resmungou Jean, intrometendo-se na conversa.
        — Ok, cada louco com sua mania. – Levantei as mãos em sinal de rendição e desisti de
tentar entendê-los.
        Ele nos fitou por um momento e depois disse:
— Volto mais tarde, darei meia hora, acho que será tempo suficiente para estarem prontas.
        Dito isso, Jean saiu. Acho que nem escutou minha última indagação:
        — Prontas para o quê?
        Ao ficarmos sozinhas, Alicia me explicou que ele havia nos convidado para um jantar
comemorativo pela vaga conquistada.
        Era só o que me faltava – pensei com meus botões. Entretanto, eu jamais estragaria a sua
alegria.

                                               *****

        (Alicia)
        O curso de Teologia era a gloria para mim, como se fosse a complementação de toda a
minha vida, estudar tudo, as origens da vida e, principalmente, os Nephilins, criaturas que eu achava
fascinante. Não entendia o motivo de esse assunto mexer tanto com meu íntimo, mas era inevitável.
A Natalie me chamava de sonhadora e dizia que eu perdia tempo demais estudando coisas sem
importância. Só que, na verdade, não eram sem importância - pelo menos não para mim.
        O laço que nos une foi um dos motivos de eu querer estar estudando nesse curso
extracurricular. Nossa união, esse amor fraternal entre a Natalie e eu, era forte e estava entre nós
desde sempre... Juntas, unidas, coladas desde sempre.
        Lembro-me que ela estava triste em um canto por ter sido castigada pela tia Angélica, e eu
não resisti, mesmo correndo o risco de ser repreendida, fui ao encontro dela para consola-la. Nessa
hora fizemos um pacto de irmandade e proteção. Em mim já nutria esse sentimento por ela, sempre
a quis perto de mim e aproveitei aquela situação para aproxima-la mais, e deu certo. Nossa amizade
é algo que vai além dessa vida, algo além dos laços sentimentais ou, mesmo se fossem laços de
sangue, eram indestrutíveis e isso que me intrigava. Só que Natalie nunca acreditou nisso, sempre
era um tanto cética, dizendo que era apenas coincidência. Porém, uma ―feliz coincidência‖ o fato de
sermos tão unidas, como sendo apenas uma questão de afinidades - como ela dizia -, e nada a ver
com o que eu acreditava - que era algo além da vida, algo mais profundo como no quesito ―anjos e
demônios‖ da Teologia... Mesmo assim, Naty era minha irmãzinha de coração e protegê-la, amá-la
e fazê-la feliz era meu maior prazer, meu amor por ela era incondicional, e eu sabia que o dela por
mim também era assim. O dia em que entrei para o curso de teologia foi muito emocionante para
mim, apesar de, como sempre, as brincadeirinhas sem graça da Natalie tentarem estragar tudo, sem
intenção só que quase sempre conseguindo. Ela e um amigo em comum viviam às turras, sempre
resmungando um com o outro e tentando ver quem ganhava.
         Além de conhecimento o Jean trouxe a Teologia à minha vida, e isso estava me deixando
dia a dia mais encantada com ele, um homem maravilhoso, inteligente, lindo e muito parceiro.
Amigo para todas as horas, estava sempre presente em minha vida, me fazendo acreditar que meus
sonhos poderiam ser reais e que nada melhor que o conhecimento para colocar isso em prática e à
prova. Ele sempre entrava em conflito com a Natalie, que se tornava insuportável quando o assunto
eram os nossos temas de estudos, a descrença dela nas coisas óbvias era irritante. Só que Naty era
sempre presença certa em minha vida, então ambos tiveram que aprender a lidar um com o outro.
Saíamos muito juntos e era sempre divertido, apesar de tudo. E, nesse dia, eu queria comemorar.
        — Sério que eu vou ter que aguentar esse mala a noite inteira, Alicia? - perguntava Natalie,
mas na verdade só para me irritar.
        — Não fala assim, Natalie, Jean é um bom amigo, um homem legal. Eu gosto dele e, claro,
Jean é o principal culpado da minha alegria. Graças a ele consegui essa vaga, nada mais justo que
comemorar ao seu lado, maninha, e ao lado dele - respondi. Sempre falava a mesma coisa em
relação ao Jean, pois era um fato, ele era tudo isso mesmo, não havia como negar.
        — Isso ainda vai resultar no tal amor que você tanto propaga aos quatro ventos. Só quero
ver quem vai aturar vocês. - Ela adorava me irritar e quase sempre conseguia, mas eu procurava me
esquivar de suas provocações.
— Naty, amor entre um homem e uma mulher é muito mais do que o que eu sinto pelo Jean.
- Tentava explicar, apesar da sua irritante mania de duvidar de mim. – Você tem que entender que o
amo como um irmão, e não como você, que é um amor incomparável, único, eu diria. Mas o amo
com tamanha fraternidade também, nada mais que isso.
        Ela sempre ficava querendo questionar e desta vez não foi diferente.
        — Sabe, Aly, você pode pensar assim em relação ao Jean, mas dou a unha do dedo
mindinho como as intenções dele são bem mais profundas, quase eróticas, em relação a você - ela
sempre falava isso, e com uma convicção que quase me fazia acreditar. Entretanto, no fundo, eu
tinha certeza que não. Afinal, mais valia um amigo amado do que um homem odiado.
        O Jean veio nos buscar, eram oito horas da noite em ponto. Ele tinha nos convidado para
jantar - na verdade, ele tinha me convidado. Só que o Jean sabia que a Naty estava sempre comigo,
então ela vinha de brinde. O problema era aguentar os dois juntos por algum tempo, seria briga na
certa.

                                             *****

        (Natalie)
        Jantar com minha irmã e o amigo apaixonado dela. Bem, era meu amigo também, mas eu
preferia perturbá-lo a qualquer outra coisa. Tenho certeza de que eu não seria convidada para esse
evento, Jean estava sempre tentando arrumar um pretexto para ter um momento a sós com Aly.
Porém, mantendo minha boa reputação de pentelha do ano, nunca hesitei em me intrometer nos
convites que ele lhe fazia. E acho que Aly até gostava disso, era mais fácil eu levar a culpa dos
fracassos de Jean em suas investidas que ela refutar as ousadias do ―Mané‖.
        — Prontas? - ele perguntou assim que desceu do seu carro zero de playboy, um Toyota
Prado negro, bem estiloso, e nos viu na porta do prédio III do campus.
        Revirei os olhos em sinal de impaciência e não resisti, precisei torturá-lo:
        — Não. Arrumamos-nos toda para trazer o lixo à rua.
        — Vou fingir que não escutei isso – Jean rebateu, lançando uma piscadela para Aly.
        Ele abriu a porta do passageiro para a mana e eu nem esperei a mesma gentileza – até
porque ele não o faria. – Assim que nos acomodamos no carro, tornei a perturbá-lo:
        — Então, senhor surdo que nunca me escuta, pizza ou sandubão?
        — Quanta classe! – Jean resmungou com sarcasmo. – Vou levá-las para um jantar de
verdade.
        — Fiquei curiosa – falou Alicia.
        Pelo espelho retrovisor, pude ver que ele lançou uma piscada para Aly e completou,
aumentando o mistério:
        — Espere e verá. Garanto que não irá se arrepender.
        Pronto! Percebi que seria completamente ignorada pelo resto do caminho...

        Ok, me rendo! O tal jantar de verdade era mesmo ―de verdade‖. Jean nos levou para o
restaurante Toca da Garoupa, que ficava em um dos bairros mais elegantes de Florianópolis, o
Jurere. Naquele momento, agradeci aos céus por ter escutado o conselho da Aly em usar o vestido
que ela emprestou. Não que minhas roupas fossem feias, mas não combinavam com o ambiente em
questão, afinal, jeans e All Star rasgado era ―cool‖, porém, não condizia a ocasião.
        — Mané, se tua intenção era impressionar, conseguiste o feito – brinquei após soltar um
longo assobio de admiração.
        — Naty – ele falou com as sobrancelhas franzidas -, acho que tivemos tempos suficientes
juntos para você entender que meu nome não é ―Mané‖.
        Antes que eu pudesse rebater a essa gracinha sem graça, o gerente do restaurante
aproximou-se e logo cumprimentou Jean – na verdade, o bajulou, fato que me levou a crer que o
―Mané‖ e sua família deveriam ser clientes fiéis e que deixavam muitos tostões por lá.
        Fomos convidados para sentarmos na melhor mesa e o Jean fez o pedido por nós:
— Bem, sei que não é muito educado, deveria deixá-las escolherem o que querem comer,
mas eu gostaria muito que experimentassem a moqueca de camarão desse lugar. É realmente uma
delícia.
         — Por mim, tudo bem – Alicia respondeu sorridente.
         — Manda. Se é do mar, eu aprovo – rebati ansiosa. Minha intenção era saciar a fome. Já que
estávamos ali, e ele pagaria a conta, eu ia era aproveitar.
         Provamos a moqueca, tomamos um bom vinho branco, conversamos bastante – eu mais
irritei o Jean que conversei – e me senti deliciosamente confortável. Era como se o mar fosse meu
lugar, minha vida, minha essência. Porém, também já bolava planos para o resto da noite. Tinham
me tirado do conforto do meu apertamento, não? Então que aguentassem minha energia agora...
         (Alicia)
         Jantar com eles era sempre divertido e irritante, um provocando o outro, parecendo duas
crianças tentando disputar a atenção da sua mãe, pois era assim que eu me sentia em relação a
ambos. Por mais que a Naty tentasse me fazer pensar o contrário, meu amor por eles era mais do
que algo carnal.
         O jantar todo em si tinha sido perfeito, o Jean não media esforços para me agradar e eu
adorava isso, ser mimada às vezes era bom demais. Apesar de que eu me senti estranha em certo
momento, foi logo depois de servirem a sobremesa. Era uma sensação de calor e frio, como um
choque térmico, algo que me deu calafrios. Percebi que a Naty estava muito à vontade, então
concluí que ela não sentia o mesmo que eu. Procurei relaxar, mas encontrei o olhar do Jean recaindo
sobre mim e notei algo diferente nele, o que me fez pensar que talvez tivesse bebido um pouco
demais, e procurei esquecer isso. Comemos e logo veio o convite da Naty.
         — Vamos dar uma esticadinha hoje, não é? Poxa, estou merecendo depois de aguentar essas
rasgassão de seda entre vocês - falou ela com um tom mais doce, quase chantagista na verdade,
jeito Natalie de ser.
         — Por mim, tudo bem. – Dei de ombros. - Agora é você quem sabe, Jean, se vai nos
acompanhar ou não. Fica bem à vontade se quiser ir para casa ou tiver outro compromisso – sugeri
o livrando de qualquer obrigação para conosco, afinal, ele já tinha feito muito nos proporcionando
um jantar tão maravilhoso.
         — Eu topo, estou precisando descontrair um pouco e jamais deixaria você sozinha, Alicia.
Existem muitos perigos e mistérios nas noites de Floripa - disse Jean fitando-me e piscando o olho.
Lá vinha bomba.
         — Ah! Faça-me o favor, não é, senhor sabe tudo? Minha irmã nunca precisou de guarda
costas e não vai ser agora que terá necessidade de um. Então se quer ir, vá. Mas sem essa desculpa
mais que esfarrapada, ok? – resmungou Naty bastante irritada. Protegíamos-nos e não admitíamos
que outras pessoas se metessem entre nós, isso era fato. Achei melhor, desta vez, não me meter para
não piorar as coisas. Entendi a brincadeira do Jean, mas tinha o mesmo pensamento de Naty em
relação a nossa proteção. Era como se nós duas juntas fôssemos quase que indestrutíveis.
         Sem mais delongas, Jean pediu a conta e logo nós estávamos no carro, a caminho do El
Divino Club, uma danceteria que não ficava muito distante de onde estávamos. E, pela empolgação
da Naty, ficou claro que a noite prometia muita energia...

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  • 1. RELEASE – NEPHILINS, O SEGREDO. Vol. I Uma Face, Duas Almas. Roberta Fari & Niki Weiss.
  • 2. SINOPSE: O amor se manifesta de várias formas. Amor paternal, amor filial, amor fraternal, amor passional... Uma face, duas almas. Quem poderia prever que os anjos encantar-se-iam por duas beldades nascidas na Terra? Natalie e Alicia eram órfãs, suas mães morreram durante o parto de ambas. No mesmo dia. No mesmo horário. Levadas para o mesmo abrigo de menores, ali passaram parte de suas vidas. E o destino jamais permitiu que ambas fossem separadas, nunca se tornaram alvo de interesses dos casais que buscavam uma criança para adotarem. Uma forte amizade nasceu, Natalie e Alicia prometeram que sempre estariam juntas. E nunca sequer imaginaram que segredos sobrenaturais as envolviam em um mundo que nem acreditavam que existia... E dois celestiais encantaram-se por duas beldades terrenas... Entretanto, um precioso segredo seria revelado. Bastaria apenas um olhar para que poderes fossem manifestados. Bastaria apenas um beijo para que entendessem. Bastaria apenas uma noite de amor para que o segredo viesse à tona...
  • 3. RESUMO Duas garotas cresceram em um orfanato. Ambas as mães haviam morrido no parto e os pais nunca se manifestaram. Apesar de terem o perfil das crianças mais cotadas para a adoção, o destino não permitiu que elas fossem separadas. Estudaram juntas desde a mais tenra idade. E sempre retornavam ao abrigo do qual tinham que ficar. Essa era a vida de Alicia e Natalie. Entretanto, mesmo com todas as dificuldades, as garotas se tornaram o orgulho de seus tutores. Assim que atingiram a maior idade, seguiram juntas para a universidade. Cada qual escolheu seu curso – Alicia com antropofagia e Natalie com jornalismo. – Mas nunca deixaram de cumprir seu juramento, uma cuidaria da outra para todo o sempre. De tal forma, eram como unha e carne, moravam juntas e deliciavam-se em suas aventuras. As amigas trabalhavam em uma lanchonete para cobrirem suas despesas. Entretanto, como eram dotadas de inteligência acima da média, ganharam bolsa total para cursarem a faculdade. A diretora do orfanato, dona Angélica – uma senhora que sempre acompanhou, ajudou e incentivou as meninas -, jamais deixou de visitá-las e protegê-las como podia. Nem com ajuda financeira deixou de colaborar. E dona Angélica encantava-se com a forte amizade de ambas. Alicia estranhava essa ligação. Era um laço tão forte que ela não acreditava ser apenas amizade, apesar dos protestos de Natalie, que era um tanto cética no quesito ―anjos e demônios‖. Foi assim que Alicia optou por um curso extra oferecido pela universidade: teologia. Nesse curso, um assunto chamou a atenção de Alicia: os nephilins. Queria aprofundar-se mais, estudar sobre tais criaturas. Porém, um ocorrido tirou sua atenção: duas moças do curso de Natalie começaram a investir
  • 4. contra as amigas. Sem entender o motivo de tanta hostilidade, elas precisaram ficar alertas e refutar tudo o que vinha contra, maquinações terríveis que as faziam perder o rumo e irarem-se em demasia. Nesse entremeio, o melhor amigo de Alicia, Jean, tenta ajudá-las. E tudo parecia apenas um pesadelo para esse trio, sendo que Jean se tornou, também, alvo direto das cruéis Sabrina e Luana – que tinham enorme poder de persuasão, tornando-se como santas e até mesmo vítimas quando relatavam suas versões dos fatos. Natalie não acreditava no amor. Achava que se o seu verdadeiro pai – fosse ele quem fosse – amasse sua mãe – ou até ela mesma -, jamais a teria deixado para crescer naquele orfanato frio. Entretanto, no fundo, agradecia por tal fato. Afinal, fora isso que colocara Alicia em sua vida. Alicia sonhava em conhecer seu ―príncipe encantado‖. Acreditava que um dia encontraria um homem gentil e cavalheiro. E ela conheceria... Natalie também... Porém, de cavalheiros e gentis, tais homens nada tinham. Nem humanos eles eram... Os alados gêmeos encontraram-se na Terra. Juntos descobriram que as suas protegidas não eram apenas nephilins, mas as princesas escolhidas, as portadoras da magia Elemental. Alicia tinha o poder sobre o fogo, e Natalie dominava as águas. E eram mesmo perfeitas para ambos, pois Rafael era o príncipe da terra, e Gabriel, o do ar. Fogo e terremoto. Água e vendaval. A partir daí se iniciam muitas jocosas aventuras. E tudo pode acontecer quando água, fogo, terra e ar se encontram. Aguardem muitas aventuras nessa trilogia que nos fará rir, chorar, amar e conhecer o lado diferente e deliciosamente divertido dos nephilins.
  • 5. PERSONAGENS ALICIA – órfã, loira de olhos azuis, brincalhona, divertida e sexy, nutre um medo irracional de relacionar-se com qualquer homem que apareça em seu caminho. Melhor amiga de Natalie. NATALIE – loira de olhos azuis. Abusada, sarcástica e um tanto irritada. Sempre tenta arrumar um namorado, mas seus encontros misteriosamente nunca acontecem, seus paqueras nunca chegam ao destino marcado. Melhor amiga de Alicia, Natalie também é órfã.
  • 6. ANGÉLICA – administradora do orfanato onde Alicia e Natalie cresceram. Tornou-se a mentora das meninas e sempre as ajudou de todas as formas. Ambas consideravam Angélica como uma verdadeira mãe. JOSHUA – um serafim que se apaixonou por duas humanas, irmãs gêmeas. Quebrando uma das maiores regras celestiais, ele copulou com elas e duas novas criaturas vieram a existir na Terra.
  • 7. RAFAEL – querubim gêmeo de Gabriel. Foi designado como guardião de Alicia. Mandão, dominador e possessivo, encontra-se perdidamente apaixonado e seu excesso de proteção é o que chama a atenção da sua amada. GABRIEL – querubim designado como protetor de Natalie. Tranquilo, pacífico, torna-se um furacão quando se sente enciumado. Irmão gêmeo de Rafael.
  • 8. SABRINA – Súcubo que trabalha para o lado sombrio. Chamada para atormentar a vida das amigas Natalie e Alice. Arrogante, falsa, irônica, ganhou o apelido de ―Cruela‖ pela sarcástica Natalie. LUANA – alada guerreira do exército celestial. Aliada de Sabrina, também perturba a vida das jovens amigas. Como um ―pau mandado‖, sempre faz o que Sabrina lhe ordena. Por tal motivo é chamada de ―Capachão‖ por Natalie e Alicia.
  • 9. JEAN – Melhor amigo de Alicia – e apaixonado em segredo pela mocinha. – É vítima de inúmeras brincadeiras de Natalie, porém, nunca deixa de ajudar e socorrer as irmãs. É um rapaz centrado, destemido, rico e que esconde um grande segredo. MATHEUS – Dono da lanchonete onde as amigas Natalie e Alicia trabalham. Um rapaz bonito, rico e conquistador, investe suas cantadas em Natalie e, após um encontro frustrado que nunca aconteceu, leva os maiores foras da funcionária abusada.
  • 11. PRÓLOGO — Preciso que cuidem delas – declarou Joshua com a voz autoritária. Os gêmeos Gabriel e Rafael entreolharam-se e depois fitaram Joshua. — Bem sabes que nada é de graça, meu amigo. Nem no nosso mundo isso funciona – rebateu Rafael com planos em mente. Joshua balançou a cabeça em negativa e soltou uma leve risada. Sim, ele bem sabia como aconteciam tais trâmites. Eram como a máfia, favores eram feitos, porém, nunca deixavam de serem cobrados. — O que querem em troca? – indagou Joshua. — Ora, é bem óbvio, não? – retrucou Rafael em tom jocoso. – Queremos elas. Com o olhar estreito e o maxilar travado em fúria e carregado de ciúme, Joshua rebateu por entre os dentes: — Não ouse, Rafael! — É pegar ou largar, meu caro – respondeu o outro em plena vitória. Joshua suspirou profundamente e buscou calma em seu íntimo. Depois, decidido e sem ter como fugir – também sem intenção alguma de cumprir aquele acordo -, declarou: — Que seja! Ao menos cuidem delas, ou vos caçarei até os confins do inferno! Dito isso, Joshua retirou-se e deixou os gêmeos confabulando entre si. — Ficou claro que o irritaste com tal proposta – murmurou Gabriel enquanto fitava Joshua afastar-se em duros passos. — Dormirei na casa de Lúcifer por isso. – Rafael bufou exasperado. – Olha minha cara de preocupação, mano. Achas mesmo que deixaria essa passar sem exigir algo? Não sei quanto a ti, mas já enxerguei o futuro dessas garotinhas. E, creia-me, o de uma delas é bem ao meu lado. — Nesse caso, faço minhas as tuas palavras, Rafael. CAPÍTULO I (Natalie) Não me lembro como iniciou a minha amizade com Alicia, a conheço desde sempre. Porém, sinto um profundo carinho por ela. Não, é mais que isso, é um amor fraternal, como se fôssemos irmãs de verdade. E é assim que nos consideramos. Jamais esquecerei a promessa que um dia fizemos quando tínhamos apenas cinco anos... Eu havia brigado com uma das garotas do orfanato, uma troglodita safada que cismava em nos atormentar. Nossa sorte era que a dona Angélica, diretora do orfanato onde vivíamos – ou tia Angélica, como costumávamos chamá-la –, sempre jogava no nosso time. Ou seja, acreditava no que dizíamos – mesmo quando eu contava uma mentirinha ou outra para me safar de um castigo. Porém, naquele dia, não houve jeito. Nem minha carinha inocente foi o bastante para fazer a tia Angélica recuar ou ser dissuadida a não retirar algumas das minhas regalias – como a sobremesa depois do jantar. Isso doeu mesmo! – Entretanto, não posso negar minha culpa. A garota me irritou e eu, como uma boa santa do pau oco, peguei o primeiro brinquedo disponível ao meu alcance – um taco de beisebol – e investi contra o queixo dela. Depois de escutar as broncas da tia Angélica e de passar o almoço sem sobremesa, fiquei amuada em um cantinho do pátio dos fundos do orfanato. Alicia logo chegou e sentou-se ao meu lado. Ela segurou minha mão e disse: — Não fica assim, Naty. Seremos amigas para sempre. Amigas não, seremos irmãs. Estaremos eternamente juntas. — De certa forma, já somos irmãs, não é? – indaguei balbuciando e segurando as lágrimas. Eu odiava chorar, só o fazia na frente de Alicia, porque confiava nela.
  • 12. — Sim, maninha. Vamos fazer um juramento. Prometo te proteger sempre e estar do teu lado em todos os momentos, nos bons e nos ruins. — Isso não vale, você já está sempre comigo, Aly! – rebati já mais descontraída. — Por isso mesmo – ela replicou com os olhos fechados e o narizinho empinado. – Estou reafirmando que ficaremos juntas. — Tudo bem – respondi bufando e revirando os olhos. – Também juro que estarei sempre contigo e que vou te proteger se qualquer idiota, seja menino ou menina, quiser te machucar. Fitamos-nos por alguns segundos e depois caímos na gargalhada. Logo levantamos e voltamos a brincar. E agora cumpríamos nossas promessas de infância. Eu sempre cuidava de Alicia e ela fazia o mesmo comigo. O problema é que minha ―amiga quase irmã‖ às vezes assumia um papel de mãe, pegava no meu pé feito chiclete. Mas era impossível não amá-la. Eu já não acreditava mais no amor passional. Sei lá... Acho que devia isso ao meu pai, fosse ele quem fosse. Penso da seguinte forma, se ele amasse minha mãe, cuidaria de mim após a morte dela. Mas o cara nunca apareceu para reclamar sua cria. Motivo mais que suficiente para me fazer acreditar que o romance verdadeiro entre um homem e uma mulher era a pior das utopias. Alicia já era do tipo sonhadora. Buscava o típico rapaz dos contos de livros. Eu não. Eu queria festejar e curtir a vida. Cursávamos a faculdade juntas. Não tínhamos dinheiro, porém, isso não foi problema. Por algum acaso do destino nós éramos inteligentes ao extremo, muito acima da média. Fato que nos garantiu bolsa total em nossos cursos. Para todo o resto, contávamos com a ajuda da tia Angélica – que nunca nos deixou, era a típica mãezona – e com o mísero salário que recebíamos do nosso emprego em uma lanchonete perto do campus. Era difícil viver assim, mas era divertido. Alicia sempre tornava meu mundo algo delicioso de ser apreciado. Houve uma noite que cheguei ao nosso ―apertamento‖ – era assim que eu chamava nosso minúsculo quarto no campus da faculdade – e Alicia sorria de orelha a orelha. Jean, um amigo que conhecemos por lá e que foi sempre muito solícito desde que chegamos, estava com ela. — Viram passarinhos verdes ou trocaram beijos no estilo ―desentupidor de pia‖? – indaguei e findei com um sorriso enorme e debochado. — Quanta idiotice! – retrucou Alicia com as mãos na cintura e o olhar estreito. – Você já está careca de saber que Jean e eu somos apenas amigos. — E ele está ciente disso? – perguntei voltando meu olhar para o pobre rapaz, que estava mais vermelho que um pimentão. Ergui as sobrancelhas, cruzei os braços sobre o peito e esperei a resposta do coitado. — Natalie – ele balbuciou todo sem graça -, gosto de vocês duas. Não precisas ficar enciumada, gatinha – findou em tom vitorioso. Isso me irritava, Jean sempre sabia como me vencer nas discussões, algo que, definitivamente, não era a praia de Alicia. Minha ―irmãzinha‖ era craque em refutar qualquer desafio, mas não comigo. A última palavra sempre era minha. — Ciúme de ti, cara? – perguntei fazendo uma careta de espanto. – Mas nem que o sol virasse lua, Mané! Ele riu e se aproximou para fazer o que mais me irritava: bagunçar meus cabelos. Ao fim da brincadeira, após as gargalhadas de Alicia – que se divertia sempre com Jean por perto -, ela declarou: — O Jean conseguiu uma vaga no curso que eu tanto queria! Amanhã iniciarei as aulas de teologia. — Pirou? – questionei quase em um grito agudo. – Ainda com essa mania de anjos, demônios e destinos traçados? — Cada um com suas crenças, Naty – resmungou Jean, intrometendo-se na conversa. — Ok, cada louco com sua mania. – Levantei as mãos em sinal de rendição e desisti de tentar entendê-los. Ele nos fitou por um momento e depois disse:
  • 13. — Volto mais tarde, darei meia hora, acho que será tempo suficiente para estarem prontas. Dito isso, Jean saiu. Acho que nem escutou minha última indagação: — Prontas para o quê? Ao ficarmos sozinhas, Alicia me explicou que ele havia nos convidado para um jantar comemorativo pela vaga conquistada. Era só o que me faltava – pensei com meus botões. Entretanto, eu jamais estragaria a sua alegria. ***** (Alicia) O curso de Teologia era a gloria para mim, como se fosse a complementação de toda a minha vida, estudar tudo, as origens da vida e, principalmente, os Nephilins, criaturas que eu achava fascinante. Não entendia o motivo de esse assunto mexer tanto com meu íntimo, mas era inevitável. A Natalie me chamava de sonhadora e dizia que eu perdia tempo demais estudando coisas sem importância. Só que, na verdade, não eram sem importância - pelo menos não para mim. O laço que nos une foi um dos motivos de eu querer estar estudando nesse curso extracurricular. Nossa união, esse amor fraternal entre a Natalie e eu, era forte e estava entre nós desde sempre... Juntas, unidas, coladas desde sempre. Lembro-me que ela estava triste em um canto por ter sido castigada pela tia Angélica, e eu não resisti, mesmo correndo o risco de ser repreendida, fui ao encontro dela para consola-la. Nessa hora fizemos um pacto de irmandade e proteção. Em mim já nutria esse sentimento por ela, sempre a quis perto de mim e aproveitei aquela situação para aproxima-la mais, e deu certo. Nossa amizade é algo que vai além dessa vida, algo além dos laços sentimentais ou, mesmo se fossem laços de sangue, eram indestrutíveis e isso que me intrigava. Só que Natalie nunca acreditou nisso, sempre era um tanto cética, dizendo que era apenas coincidência. Porém, uma ―feliz coincidência‖ o fato de sermos tão unidas, como sendo apenas uma questão de afinidades - como ela dizia -, e nada a ver com o que eu acreditava - que era algo além da vida, algo mais profundo como no quesito ―anjos e demônios‖ da Teologia... Mesmo assim, Naty era minha irmãzinha de coração e protegê-la, amá-la e fazê-la feliz era meu maior prazer, meu amor por ela era incondicional, e eu sabia que o dela por mim também era assim. O dia em que entrei para o curso de teologia foi muito emocionante para mim, apesar de, como sempre, as brincadeirinhas sem graça da Natalie tentarem estragar tudo, sem intenção só que quase sempre conseguindo. Ela e um amigo em comum viviam às turras, sempre resmungando um com o outro e tentando ver quem ganhava. Além de conhecimento o Jean trouxe a Teologia à minha vida, e isso estava me deixando dia a dia mais encantada com ele, um homem maravilhoso, inteligente, lindo e muito parceiro. Amigo para todas as horas, estava sempre presente em minha vida, me fazendo acreditar que meus sonhos poderiam ser reais e que nada melhor que o conhecimento para colocar isso em prática e à prova. Ele sempre entrava em conflito com a Natalie, que se tornava insuportável quando o assunto eram os nossos temas de estudos, a descrença dela nas coisas óbvias era irritante. Só que Naty era sempre presença certa em minha vida, então ambos tiveram que aprender a lidar um com o outro. Saíamos muito juntos e era sempre divertido, apesar de tudo. E, nesse dia, eu queria comemorar. — Sério que eu vou ter que aguentar esse mala a noite inteira, Alicia? - perguntava Natalie, mas na verdade só para me irritar. — Não fala assim, Natalie, Jean é um bom amigo, um homem legal. Eu gosto dele e, claro, Jean é o principal culpado da minha alegria. Graças a ele consegui essa vaga, nada mais justo que comemorar ao seu lado, maninha, e ao lado dele - respondi. Sempre falava a mesma coisa em relação ao Jean, pois era um fato, ele era tudo isso mesmo, não havia como negar. — Isso ainda vai resultar no tal amor que você tanto propaga aos quatro ventos. Só quero ver quem vai aturar vocês. - Ela adorava me irritar e quase sempre conseguia, mas eu procurava me esquivar de suas provocações.
  • 14. — Naty, amor entre um homem e uma mulher é muito mais do que o que eu sinto pelo Jean. - Tentava explicar, apesar da sua irritante mania de duvidar de mim. – Você tem que entender que o amo como um irmão, e não como você, que é um amor incomparável, único, eu diria. Mas o amo com tamanha fraternidade também, nada mais que isso. Ela sempre ficava querendo questionar e desta vez não foi diferente. — Sabe, Aly, você pode pensar assim em relação ao Jean, mas dou a unha do dedo mindinho como as intenções dele são bem mais profundas, quase eróticas, em relação a você - ela sempre falava isso, e com uma convicção que quase me fazia acreditar. Entretanto, no fundo, eu tinha certeza que não. Afinal, mais valia um amigo amado do que um homem odiado. O Jean veio nos buscar, eram oito horas da noite em ponto. Ele tinha nos convidado para jantar - na verdade, ele tinha me convidado. Só que o Jean sabia que a Naty estava sempre comigo, então ela vinha de brinde. O problema era aguentar os dois juntos por algum tempo, seria briga na certa. ***** (Natalie) Jantar com minha irmã e o amigo apaixonado dela. Bem, era meu amigo também, mas eu preferia perturbá-lo a qualquer outra coisa. Tenho certeza de que eu não seria convidada para esse evento, Jean estava sempre tentando arrumar um pretexto para ter um momento a sós com Aly. Porém, mantendo minha boa reputação de pentelha do ano, nunca hesitei em me intrometer nos convites que ele lhe fazia. E acho que Aly até gostava disso, era mais fácil eu levar a culpa dos fracassos de Jean em suas investidas que ela refutar as ousadias do ―Mané‖. — Prontas? - ele perguntou assim que desceu do seu carro zero de playboy, um Toyota Prado negro, bem estiloso, e nos viu na porta do prédio III do campus. Revirei os olhos em sinal de impaciência e não resisti, precisei torturá-lo: — Não. Arrumamos-nos toda para trazer o lixo à rua. — Vou fingir que não escutei isso – Jean rebateu, lançando uma piscadela para Aly. Ele abriu a porta do passageiro para a mana e eu nem esperei a mesma gentileza – até porque ele não o faria. – Assim que nos acomodamos no carro, tornei a perturbá-lo: — Então, senhor surdo que nunca me escuta, pizza ou sandubão? — Quanta classe! – Jean resmungou com sarcasmo. – Vou levá-las para um jantar de verdade. — Fiquei curiosa – falou Alicia. Pelo espelho retrovisor, pude ver que ele lançou uma piscada para Aly e completou, aumentando o mistério: — Espere e verá. Garanto que não irá se arrepender. Pronto! Percebi que seria completamente ignorada pelo resto do caminho... Ok, me rendo! O tal jantar de verdade era mesmo ―de verdade‖. Jean nos levou para o restaurante Toca da Garoupa, que ficava em um dos bairros mais elegantes de Florianópolis, o Jurere. Naquele momento, agradeci aos céus por ter escutado o conselho da Aly em usar o vestido que ela emprestou. Não que minhas roupas fossem feias, mas não combinavam com o ambiente em questão, afinal, jeans e All Star rasgado era ―cool‖, porém, não condizia a ocasião. — Mané, se tua intenção era impressionar, conseguiste o feito – brinquei após soltar um longo assobio de admiração. — Naty – ele falou com as sobrancelhas franzidas -, acho que tivemos tempos suficientes juntos para você entender que meu nome não é ―Mané‖. Antes que eu pudesse rebater a essa gracinha sem graça, o gerente do restaurante aproximou-se e logo cumprimentou Jean – na verdade, o bajulou, fato que me levou a crer que o ―Mané‖ e sua família deveriam ser clientes fiéis e que deixavam muitos tostões por lá. Fomos convidados para sentarmos na melhor mesa e o Jean fez o pedido por nós:
  • 15. — Bem, sei que não é muito educado, deveria deixá-las escolherem o que querem comer, mas eu gostaria muito que experimentassem a moqueca de camarão desse lugar. É realmente uma delícia. — Por mim, tudo bem – Alicia respondeu sorridente. — Manda. Se é do mar, eu aprovo – rebati ansiosa. Minha intenção era saciar a fome. Já que estávamos ali, e ele pagaria a conta, eu ia era aproveitar. Provamos a moqueca, tomamos um bom vinho branco, conversamos bastante – eu mais irritei o Jean que conversei – e me senti deliciosamente confortável. Era como se o mar fosse meu lugar, minha vida, minha essência. Porém, também já bolava planos para o resto da noite. Tinham me tirado do conforto do meu apertamento, não? Então que aguentassem minha energia agora... (Alicia) Jantar com eles era sempre divertido e irritante, um provocando o outro, parecendo duas crianças tentando disputar a atenção da sua mãe, pois era assim que eu me sentia em relação a ambos. Por mais que a Naty tentasse me fazer pensar o contrário, meu amor por eles era mais do que algo carnal. O jantar todo em si tinha sido perfeito, o Jean não media esforços para me agradar e eu adorava isso, ser mimada às vezes era bom demais. Apesar de que eu me senti estranha em certo momento, foi logo depois de servirem a sobremesa. Era uma sensação de calor e frio, como um choque térmico, algo que me deu calafrios. Percebi que a Naty estava muito à vontade, então concluí que ela não sentia o mesmo que eu. Procurei relaxar, mas encontrei o olhar do Jean recaindo sobre mim e notei algo diferente nele, o que me fez pensar que talvez tivesse bebido um pouco demais, e procurei esquecer isso. Comemos e logo veio o convite da Naty. — Vamos dar uma esticadinha hoje, não é? Poxa, estou merecendo depois de aguentar essas rasgassão de seda entre vocês - falou ela com um tom mais doce, quase chantagista na verdade, jeito Natalie de ser. — Por mim, tudo bem. – Dei de ombros. - Agora é você quem sabe, Jean, se vai nos acompanhar ou não. Fica bem à vontade se quiser ir para casa ou tiver outro compromisso – sugeri o livrando de qualquer obrigação para conosco, afinal, ele já tinha feito muito nos proporcionando um jantar tão maravilhoso. — Eu topo, estou precisando descontrair um pouco e jamais deixaria você sozinha, Alicia. Existem muitos perigos e mistérios nas noites de Floripa - disse Jean fitando-me e piscando o olho. Lá vinha bomba. — Ah! Faça-me o favor, não é, senhor sabe tudo? Minha irmã nunca precisou de guarda costas e não vai ser agora que terá necessidade de um. Então se quer ir, vá. Mas sem essa desculpa mais que esfarrapada, ok? – resmungou Naty bastante irritada. Protegíamos-nos e não admitíamos que outras pessoas se metessem entre nós, isso era fato. Achei melhor, desta vez, não me meter para não piorar as coisas. Entendi a brincadeira do Jean, mas tinha o mesmo pensamento de Naty em relação a nossa proteção. Era como se nós duas juntas fôssemos quase que indestrutíveis. Sem mais delongas, Jean pediu a conta e logo nós estávamos no carro, a caminho do El Divino Club, uma danceteria que não ficava muito distante de onde estávamos. E, pela empolgação da Naty, ficou claro que a noite prometia muita energia...