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Medicina, Ribeirão Preto,
31: 102-106, jan./mar. 1999                                                                                PONTO DE VISTA




    O PAPEL DO PEDIATRA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
            DAS DOENÇAS CARDÍACAS NA INFÂNCIA

                               THE ROLE OF THE PEDIATRICIAN IN THE DIAGNOSIS AND
                                   TREATMENT OF HEART DISEASE IN CHILDHOOD



                      João Antônio Granzotti(1); Paulo Henrique Manso(2) & Fernando Amaral(2)


1
Docente, Responsável pela Cardiologia Pediátrica, 2Médico Assistente do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
CORRESPONDÊNCIA: Prof.Dr. João A Granzotti - Departamento de Puericultura e Pediatria - Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto - USP - Campus Universitário - CEP: 14048-900 - Ribeirão Preto - SP. Email: jagranzo@fmrp.usp.br




           GRANZOTTI JA; MANSO PH & AMARAL F. O papel do pediatra no diagnóstico e tratamento das doenças
             cardíacas na infância. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 102-106, jan./mar. 1999.

              RESUMO: Cerca de 1% de todos os recém-nascidos apresentam algum tipo de cardiopatia
           congênita e necessitam a atenção do cardiologista pediátrico(1, 2). Se incluirmos nesse grupo as
           cardiopatias adquiridas, esse número irá aumentar expressivamente. Essas entidades podem
           se manifestar de maneira bastante variada, exigindo freqüentemente a presença de equipe
           multidisciplinar para que se obtenha um resultado terapêutico favorável. Apresentamos aqui,
           sumariamente, algumas situações que requerem a participação conjunta do pediatra e do
           cardiologista, a maioria delas ocorrendo durante a hospitalização dessas crianças.

               UNITERMOS:     Doenças Cardíacas. Criança.




       O espectro de apresentação clínica das cardio-             moderada e grave. Nas crianças dos grupos I e II, os
patias na criança é variável, havendo um número ex-               sintomas não costumam ser muito exuberantes e a
pressivo de defeitos estruturais de natureza congênita            resposta clínica desses pacientes com a clássica tera-
que, por sua vez, se manifestam de maneiras diferen-              pêutica anticongestiva costuma ser favorável. Por
tes, em função da gravidade e da presença de lesões               outro lado, os pacientes do grupo III apresentam-se
associadas. Em determinadas situações, é importante               bastante sintomáticos, eventualmente com edema pul-
a participação conjunta do pediatra e do cardiologista            monar agudo e requerem outras recursos, como inter-
na atenção à criança, em virtude da complexidade dos              nação em CTI e tratamento cirúrgico para controle
casos, sendo fundamental a colaboração mútua, se o                do quadro. Esses pacientes são bastante instáveis he-
objetivo for proporcionar um atendimento adequado                 modinamicamente, podendo evoluir para choque ou
ao paciente. O objetivo deste trabalho é apresentar,              parada cardíaca(3).
resumidamente, as situações clínicas mais freqüente-                     Tratamento: depende fundamentalmente do
mente encontradas em crianças portadoras de cardio-               diagnóstico da causa da insuficiência cardíaca, que
patias, na sua maioria atendidas em hospital.                     deve ser estabelecido o mais rápido possível. A base
                                                                  terapêutica clínica é a digitalização, com preferência
1. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA                                         para a digitalização plena, na dose de 0,01 mg/kg/dia
                                                                  em duas doses, evitando-se usar a dose de ataque
        Na prática, pode ser dividida em três grupos (I,          (0,04 mg/kg/dia), a não ser nas formas graves da sín-
II, III) de acordo com sua gravidade, ou seja, leve,              drome(4). Os diuréticos de alça, como a furosemide,

102
Cardiopatias na infância




na dose de 1 a 3 mg/kg/d e as tiazidas, na dose de         ses pacientes necessitam de procedimento paliativo
2-3 mg/kg/d, estão indicados isoladamente ou em te-        de urgência na sala de hemodinâmica, atriosseptosto-
rapêutica combinada. O controle eletrolítico deve ser      mia com cateter balão(7), com o objetivo de se aumen-
rigoroso, com reposição de sódio, potássio, magnésio       tar o diâmetro da comunicação interatrial e melhorar
e correção da gasometria. O uso de drogas vasoativas,      a mistura sanguínea, levando, assim, a um aumento da
como a dobutamina e dopamina em microdoses (5 a            saturação arterial. Atualmente, logo após esse proce-
20 ug/kg/h) costuma ser bastante útil no tratamento        dimento, a maioria desses casos é encaminhada para
dos casos mais graves. Vasodilatadores podem ser           correção cirúrgica definitiva, através da técnica de
indicados, em especial os inibidores da enzima con-        correção anatômica(8, 9). A cirurgia de Fontan, fenestra-
versora da angiotensina, na dose de 0,25 a 1 mg/kg/d.      da ou não, assim como a técnica de Glenn, bidirecional,
Deve ser lembrado que, em algumas cardiopatias gra-        costuma ser indicada em crianças maiores com cia-
ves, pode haver necessidade de procedimento cirúrgi-       nose importante e portadoras de cardiopatias onde é
co paliativo (cerclagem da artéria pulmonar), ou mes-      impossível a correção, com manutenção de dois
mo correção definitiva do defeito cardíaco, para con-      ventrículos funcionantes. Outra arma terapêutica de
trole da insuficiência cardíaca.                           grande valia é o uso da prostaglandina E1 EV (prostim)
                                                           na dose de 0,05 a 0,1ug/kg/min(10). Essa droga é usa-
2. CIANOSE GRAVE NAS CARDIOPATIAS                          da para a manutenção da potência do canal arterial nos
   CONGÊNITAS E CIANÓTICAS                                 casos que são destes dependentes, como tetralogia de
                                                           Fallot, atresia pulmonar, atresia tricúspide e transposi-
       Pode ocorrer na forma de uma crise cianótica,       ção dos grandes vasos.
como específicamente na tetralogia de Fallot, ou fa-
zer parte do quadro de cardiopatias com hipofluxo          3. ARRITMIAS CARDÍACAS
pulmonar importante, geralmente com apresentação
no período neonatal imediato. A crise cianótica está              Na maioria das vezes são extra-sístoles atriais
relacionada principalmente com estresse, costuma           ou mesmo ventriculares, freqüentemente benignas, sem
correr nas formas mais graves da doença e quase            lesão estrutural cardíaca subjacente e raramente re-
sempre coexiste com outros fatores, como a policite-       querem tratamento farmacológico. Formas mais com-
mia(5). De início súbito, é caracterizada por sintomato-   plexas como “flutter” e fibrilação atrial são raras e
logia exuberante com dispnéia progressiva, cianose         necessitam terapêutica medicamentosa e/ou cardio-
intensa, síncope, convulsões resistentes aos anti-con-     versão elétrica. O bloqueio atrioventricular total
vulsivantes e fenômenos de embolia cerebral. Crian-        (BAVT) congênito costuma ser assintomático e tem
ças com cianose grave, porém sem crises súbitas,           uma evolução benigna. Entretanto, eventualmente, pode
costumam manter quadro de insaturação arterial im-         manifestar-se com sintomas como tontura, síncope e,
portante, que pode piorar ou não em questão de horas       mais raramente, com morte súbita. Nessas situações,
ou mesmo de minutos, em função da etiologia do pro-        há necessidade de implante de marca-passo. Entre as
blema. Esses casos devem ser investigados rapida-          taquiarritmias, destaca-se, por sua grande freqüência,
mente, em centro terciário, para que se determine a        a taquicardia paroxística supraventricular, causada pela
lesão estrutural e se proceda à terapêutica específica.    imaturidade do sistema de condução intracardíaco, ou
       Tratamento: na crise cianótica, basear-se em        secundária à síndrome de Wolff-Parkinson-White(11).
medidas básicas, adotadas dentro da UTI pediátrica, co-    Geralmente tem evolução satisfatória com terapêuti-
mo sedação com morfina na dose de 0,1 a 0,2 mg/kg/min      ca medicamentosa, evoluindo para insuficiência car-
e oxigenoterapia. Hemodiluição pode eventualmente          díaca somente quando existe dificuldade na reversão
ser necessária, assim como cirurgia paliativa do tipo      ao ritmo sinusal. O esclarecimento diagnóstico atra-
Blalock-Taussig(6), quando, então, é realizada uma         vés do eletrocardiograma e do Holter, para alguns
anastomose entre a circulação sistêmica e a pulmo-         casos, é a base para o tratamento. O advento dos es-
nar, com o objetivo de se aumentar o fluxo pulmonar.       tudos eletrofisiológicos intracardíacos ou transesofá-
Condição especial, em virtude de sua grande preva-         gicos tornaram possível uma melhor definição das
lência, é a transposição dos grandes vasos, que usual-     arritmias, propiciando, assim, uma terapêutica mais
mente se manifesta nas primeiras horas de vida. Es-        adequada. Feixes anômalos (Kent, James, Manhain)


                                                                                                                    103
JA Granzotti; PH Manso & F Amaral




podem, com auxílio desses estudos, ser localizados e        grama, podem ser notadas taquicardia e alterações da
tratados. Até há poucos anos, as cirurgias eram a           repolarização ventricular. A confirmação diagnóstica
terapêutica empregada, sendo mais recentemente              é feita pelo ecocardiograma, quando usualmente são
substituídas pela ablação por radiofreqüência.              detectadas áreas de hipocinesia ventricular. A biópsia,
       Tratamento: o arsenal farmacológico é exten-         raramente realizada, mostra padrão inflamatório ca-
so, havendo várias drogas disponíveis como digitálicos,     racterístico.
beta bloqueadores (propranolol), bloqueadores dos                  Tratamento: não há terapêutica específica,
canais de cálcio (verapamil), atropina, sulfato de mag-     apesar de alguns relatos de uso de medicação antiviral
nésio, adenosina e amiodarona. Particularmente na           (aciclovir). Medidas anticongestivas são freqüente-
taquicardia supraventricular, tem-se usado com fre-         mente empregadas com boa resposta terapêutica. Fora
qüência a amiodarona para reversão ao ritmo sinusal         da fase aguda, parece haver indícios do benefício da
e prevenção de sua recorrência (dose de ataque 5 a          terapêutica imunossupressora nos casos crônicos com
10 mg/kg/dia e manutenção 5 mg/kg/dia). Técnicas            miocardite comprovada. Nessas situações, drogas
especiais, como o “overdrive” atrial e ventricular,         como corticóide, azatioprina e ciclosporina podem aju-
realizadas em sala especial, podem ser também em-           dar na remissão. O prognóstico é bom e a maioria dos
pregadas nas taquiarritmias. A cardioversão elétrica        casos (90%) evoluem para a cura, enquanto outros
(1 a 2 j/kg) pode ser empregada para tratamento da          entram numa fase crônica de miocardiopatia dilatada.
fibrilação ventricular e do “flutter” atrial. A indicação
mais freqüente do marca-passo é para tratamento do          5. PERICARDITES
BAVT congênito e sintomático ou daquele secundá-
rio à cirurgia cardíaca.                                           Podem ser de origem viral, bacteriana, auto-imu-
                                                            ne e ocorrer após cirurgia cardíaca (síndrome pós-peri-
4. MIOCARDITES                                              cardiotomia). A presença de atrito pericárdico e aba-
                                                            famento das bulhas são os achados clínicos mais fre-
       A principal causa são os vírus ”coxsackie” A         qüentes. O eletrocardiograma é inespecífico, usualmente
e B (b1 a b5), sendo o subtipo b4 o que teria tropismo      exibindo alterações difusas da repolarização ventri-
para o coração(12,13). O diagnóstico diferencial, na        cular. Hiperrefringência e derrame pericárdico de grau
maioria dos casos, somente pode ser feito pela análi-       variável podem ser detectados pelo ecocardiograma.
se da infiltração miocárdica. O HIV surge como uma          O hemograma pode ajudar no diagnóstico das formas
nova causa de miocardite em pacientes com AIDS e,           infecciosas, enquanto a hemocultura oferece a pos-
no nosso país, merecem destaque, além dessas, a mio-        sibilidade de diagnósticos etiológicos, entre eles a tu-
cardite chagásica pelo tripanossoma cruzi(14) e a de        berculose.
origem reumática. O diagnóstico diferencial pode ser               Tratamento: pode ser específico como no caso
feito por testes imunológicos, mas a confirmação de-        da tuberculose. Nas doenças auto-imunes, como a
finitiva pode exigir biópsia endomiocárdica através de      febre reumática, o corticóide pode ser utilizado. Even-
estudo da infiltração celular. A miocardite pode ser        tualmente, pode ser necessária drenagem cirúrgica de
de vários tipos: a linfocítica, relacionada a infecções     derrame pericárdico volumoso, com ou sem tampona-
agudas não bacterianas, como vírus, protozoários, cla-      mento cardíaco.
midias e micoplasmas; a granulomatosa, relaciona-
da a infecções bacterianas, micobactérias, parasitas,       6. ENDOCARDITE
colagenoses e doenças proliferativas do sistema fa-
gocítico, e o tipo eosinofílico, ocorrendo por hiper-              As malformações cardíacas congênitas e a car-
sensibilidade a drogas, síndrome hipereosinofílica de       diopatia reumática são as principais condições predis-
Loeffler e endomiocardiofibrose. A forma neutrofí-          ponentes dessa entidade. O aumento da velocidade
lica está relacionada a bactérias, tóxica (difteria) e      do fluxo sanguíneo através do defeito é o principal
no início dos processos virais. O diagnóstico clínico das   fator que aumenta a susceptibilidade à endocardite. É
miocardites é feito com base nas manifestações de           pouco comum nas comunicações interatriais ou este-
insuficiência cardíaca, quando presentes, ou baseado        nose pulmonar e muito mais freqüente nas cardio-
na presença de sinais como taquicardia, galope, car-        patias obstrutivas esquerdas, como estenose aórtica,
diomegalia e derrame pericárdico. Leucocitose ou lin-       lesões da válvula mitral, comunicação interventricular
focitose costumam estar presentes e, no eletrocardio-       e outras. O diagnóstico clínico é baseado na história

104
Cardiopatias na infância




positiva de cardiopatia prévia, picos de febre, esple-     outras, a cirurgia é raramente realizada e o recém-nascido
nomegalia, anemia, manchas de Janeway e nódulos            recebe até três (3) doses de indometacina (0,1-0,3 mg)
de Osler. Vegetações podem ser visibilizadas pela eco-     VO ou parenteral, se necessário, em duas séries, efi-
cardiografia, confirmando, assim, o diagnóstico. As        ciente em 70% dos casos(17). São contra-indicações
hemoculturas, quando positivas, costumam detectar          hiperbilirrubinemia > 12 mg/100 ml, hiperpotassemia,
estreptococos “viridans” ou estafilococos “aureus”         creatinina maior que 2 mg/dl e plaquetas < 50.000/mm3.
na maioria dos casos(15).                                  Apesar dos neonatologistas estarem freqüentemente
       Tratamento: a terapêutica clínica consta de an-     habilitados para executar tal tratamento, recomen-
tibioticoterapia específica, durante quatro a seis se-     da-se a participação do cardiologista, principalmente
manas, e o critério de cura é a ausência de febre, es-     em virtude da possibilidade de outros diagnósticos di-
tabilidade hemodinâmica e ecocardiograma sem ve-           ferenciais.
getações. Em algumas situações, pode ser necessário
o tratamento cirúrgico com o objetivo de se erradicar      9. HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR
a infecção(16). A profilaxia, preferencialmente com
amoxicilina, deve ser instituída naqueles indivíduos               Basicamente, essa situação pode se apresentar
portadores de lesões com turbilhonamento hemodinâ-         de três formas: hipertensão pulmonar transitória do
mico excessivo, quando forem submetidos a interven-        recém-nascido, hipertensão pulmonar primária na
ções que provoquem bacteremia, como tratamento             criança e hipertensão pulmonar secundária às cardio-
dentário, extração e endodontia, broncoscopias, cate-      patias com “shunt” esquerda-direita importante e que
terismo cardíaco, sondagem vesical, hemodiálise e          desenvolvem hiperresistência pulmonar. A hiperten-
derivação ventriculoatrial para tratamento de hidroce-     são pulmonar transitória do RN é relativamente fre-
falia. O risco de endocardite é elevado nos pacientes      qüente, manifestando-se nas primeiras horas após o
portadores de cardiopatias cianóticas em decorrência       nascimento com quadro de taquipnéia e cianose. A
de dois fatores: pobre higiene oral e maior freqüência     evolução é favorável, na grande maioria dos casos,
de doença periodontal. Infecções extracardíacas, tais      somente com administração de O2, enquanto, nas for-
como pneumonias, pielonefrites, sinusites, osteomieli-     mas graves, pode ser necessária a administração de
tes e ”sepsis”, são condições totalmente favoravéis        óxido nítrico e de drogas vasodilatadoras, como a tola-
para a ocorrência de endocardite e devem ser ade-          zolina. A hipertensão pulmonar primária na crian-
quadamente tratadas.                                       ça é entidade infreqüente, caracterizada por elevação
                                                           da resistência vascular pulmonar a níveis sistêmicos,
7. HIPERTENSÃO ARTERIAL AGUDA                              sem cardiopatia associada. Esses casos devem ser cui-
                                                           dadosamente estudados para se avaliar a potenciali-
       É comum a glomerulonefrite aguda compli-            dade de resposta com a terapêutica vasodilatadora.
car-se com edema agudo de pulmão secundário à hi-          Os pacientes que respondem agudamente à adminis-
pertensão grave. O tratamento, de preferência em CTI       tração de vasodilatadores são mantidos com bloquea-
pediátrica, envolve uso de diuréticos (furosemide) e       dores dos canais de cálcio a longo prazo (geralmente
de hipotensores. Entre eles, destacamos a nifedipina       nifedipina). Os casos que não respondem agudamen-
na dose 0,5 mg/kg/dia e a hidralazina 1-3mg/kg/dia. É      te, ou que não melhoram com a terapêutica oral, po-
papel do pediatra identificar e iniciar o tratamento, e,   dem ser especialmente tratados ambulatorialmente com
a seguir, acionar uma equipe especializada em terapia      prostaciclina EV. Em ambas as situações tem-se
intensiva. Outras causas de hipertensão arterial são       demonstrado aumento da sobrevida desses pacien-
pouco freqüentes e estão associadas a problemas re-        tes(18). As crianças com hipertensão pulmonar se-
nais ou endocrinológicos.                                  cundária a um “shunt” esquerda-direita importante
                                                           devem ser avaliadas através de estudo hemodinâmico,
8. FECHAMENTO FARMACOLÓGICO DO                             sendo obrigatório o cálculo da resistência vascular
   PCA                                                     pulmonar, cujos valores normais são respectivamente
                                                           1-3 unidades Wood ou 80 a 240 dynas.sec.cm-5/m2.
       Crianças prematuras, com persistência do ca-        Se a resistência vascular pulmonar for maior que dez
nal arterial, e sintomáticas constituem um problema        (10) unidades, significa que a mesma é tão grave que
controverso. Em algumas instituições, a indicação é        torna os pacientes com “shunts” intracardíacos
de operar todos que tenham menos que 1,200 g. Em           inoperáveis. Assim, o reconhecimento precoce destas

                                                                                                                    105
JA Granzotti; PH Manso & F Amaral




cardiopatias e o encaminhamento imediato para cen-                      precoce possível, com o objetivo de se fornecer, em
tros de cirurgia cardíaca é função do cardiologista com                 tempo hábil, o tratamento adequado à criança. Como
participação do pediatra. Outras causas de hiperten-                    relatado acima, as medidas terapêuticas são específi-
são arterial pulmonar estão relacionadas com doenças                    cas para cada entidade, havendo também necessidade
auto-imunes (lúpus), broncodisplasia pulmonar e ou-                     de avaliação individual do paciente. Em virtude da com-
tras colagenoses. Os pacientes com formas graves de                     plexidade dos casos, da apresentação clínica em fai-
hipertensão pulmonar associada à falência cardíaca                      xas etárias diferentes e da necessidade de manipula-
refratária ao tratamento clínico podem ser candidatos                   ção farmacológica, às vezes, complicada, torna-se
ao transplante pulmonar ou de coração/pulmão.                           importante a participação conjunta do pediatra e do
       Concluindo, acreditamos ser essencial o reco-                    cardiologista, se o objetivo for otimizar a terapêutica
nhecimento dessas condições clínicas da maneira mais                    instituída.




            GRANZOTTI JA; MANSO PH & AMARAL F. The role of the pediatrician in the diagnosis and treatment of
              heart disease in chidhood. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 102-106, jan./march 1999.

                ABSTRACT: About 1% of all live births will have congenital heart disease and will require
            specialized pediatric care (1,2). If we include the acquired heart diseases, this number will certainly
            increase considerably. Patients with these entities may present in different ways, often requiring a
            multisciplinary approach in order to achieve a good therapeutic result. We present a summary of
            the most frequent clinical situations requiring the presence of the pediatrician and of the cardiologist,
            most of them ocurring in a hospital basis.

                 UNITERMS:          Heart Diseases. Child.




       REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                       11 - DENES A et al. Demonstration of dual pathways in pa-
                                                                             tients with paroxysmal supraventriculat tachycardia. Cir-
 1 - FERENCS C et al. Congenital heart disease prevalence at                 culation 48: 549-555, 1973.
     live birth; the Baltimore-Washington infant study. Am J
     Epidemiol 121: 31-36, 1984.                                        12 - HERDY G et al. Vírus coxsackie B em crianças com mio-
                                                                             cardite aguda. Arq Bras Cardiol 56: 201-205, 1991.
 2 - HOFFMAN JIE & CHRISTIANSON R. Congenital heart dis-
     ease in a cohort of 19502 births with long term follow-up.         13 - DRUYITS-VOETS E et al. Coxsackie B virus epidemiology
     Am J Cardiol 42: 641-647, 1978.                                         and neonatal infections in Belgium. J Infect Dis 27: 311-316,
 3 - TALNER NS. Congestive heart failure in the infant: func-                1993.
     tional approach. Pediatr Clin North Am 18: 1011-1029,
                                                                        14 - GRANZOTTI JA. Cardiopatia chagásica em crianças. Rev
     1971.
                                                                             Inst Med Trop São Paulo 27: 341-345, 1985.
 4 - NEIL CA. The use of digitalis in infants and children. Prog
     Cardiovasc Dis 7: 399-416, 1965.                                   15 - DAJANI AS & TAUBERT KA. Infective endocarditis. In: MOSS
                                                                             AJ & ADAMS FH ed. Heart disease in infants, children
 5 - GRANZOTTI JA. Cardiopatia congênita cianótica. Um estudo
                                                                             and adolescents, including the fetus and young adults.
     clínico hematológico. J Pediatr 47: 430-438, 1979.                       th
                                                                             5 ed. Williams e Wilkins, Baltimore, p. 1541-1553, 1995.
 6 - KIRKLIN JW et al. Surgical results and protocols in the spec-
     trum of tetralogy of Fallot. Ann Surg 198: 251-265, 1983.          16 - WILLIAMS JR TW; VIROSLAV J & KNIGHT V. Management
                                                                             of bacterial endocardilis. Am J Cardiol 26: 186-190, 1970.
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 8 - SERRAF A et al. Anatomic correction of transposition of                 of the ductus arteriosus in premature infants by inhibition of
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                                                                        18 – BARST RJ; MAISLIN G & FISHMAN AP. Vasodilator therapy
 9 - PLANCHÉ C; LACOUR-GAYET F & SERRAF A.                   Arterial        for primary pulmonary hypertension in children. Circula-
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10 - HEYMANN MA. Pharmacologic use of prostaglandin E1 in
                                                                                     Recebido para publicação em 15/07/98
     infants with congenital heart disease. Am Heart J 101:
     837-847, 1981.                                                                 Aprovado para publicação em 09/03/99



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O papel do pediatra no diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas na infância

  • 1. Medicina, Ribeirão Preto, 31: 102-106, jan./mar. 1999 PONTO DE VISTA O PAPEL DO PEDIATRA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS CARDÍACAS NA INFÂNCIA THE ROLE OF THE PEDIATRICIAN IN THE DIAGNOSIS AND TREATMENT OF HEART DISEASE IN CHILDHOOD João Antônio Granzotti(1); Paulo Henrique Manso(2) & Fernando Amaral(2) 1 Docente, Responsável pela Cardiologia Pediátrica, 2Médico Assistente do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. CORRESPONDÊNCIA: Prof.Dr. João A Granzotti - Departamento de Puericultura e Pediatria - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP - Campus Universitário - CEP: 14048-900 - Ribeirão Preto - SP. Email: jagranzo@fmrp.usp.br GRANZOTTI JA; MANSO PH & AMARAL F. O papel do pediatra no diagnóstico e tratamento das doenças cardíacas na infância. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 102-106, jan./mar. 1999. RESUMO: Cerca de 1% de todos os recém-nascidos apresentam algum tipo de cardiopatia congênita e necessitam a atenção do cardiologista pediátrico(1, 2). Se incluirmos nesse grupo as cardiopatias adquiridas, esse número irá aumentar expressivamente. Essas entidades podem se manifestar de maneira bastante variada, exigindo freqüentemente a presença de equipe multidisciplinar para que se obtenha um resultado terapêutico favorável. Apresentamos aqui, sumariamente, algumas situações que requerem a participação conjunta do pediatra e do cardiologista, a maioria delas ocorrendo durante a hospitalização dessas crianças. UNITERMOS: Doenças Cardíacas. Criança. O espectro de apresentação clínica das cardio- moderada e grave. Nas crianças dos grupos I e II, os patias na criança é variável, havendo um número ex- sintomas não costumam ser muito exuberantes e a pressivo de defeitos estruturais de natureza congênita resposta clínica desses pacientes com a clássica tera- que, por sua vez, se manifestam de maneiras diferen- pêutica anticongestiva costuma ser favorável. Por tes, em função da gravidade e da presença de lesões outro lado, os pacientes do grupo III apresentam-se associadas. Em determinadas situações, é importante bastante sintomáticos, eventualmente com edema pul- a participação conjunta do pediatra e do cardiologista monar agudo e requerem outras recursos, como inter- na atenção à criança, em virtude da complexidade dos nação em CTI e tratamento cirúrgico para controle casos, sendo fundamental a colaboração mútua, se o do quadro. Esses pacientes são bastante instáveis he- objetivo for proporcionar um atendimento adequado modinamicamente, podendo evoluir para choque ou ao paciente. O objetivo deste trabalho é apresentar, parada cardíaca(3). resumidamente, as situações clínicas mais freqüente- Tratamento: depende fundamentalmente do mente encontradas em crianças portadoras de cardio- diagnóstico da causa da insuficiência cardíaca, que patias, na sua maioria atendidas em hospital. deve ser estabelecido o mais rápido possível. A base terapêutica clínica é a digitalização, com preferência 1. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA para a digitalização plena, na dose de 0,01 mg/kg/dia em duas doses, evitando-se usar a dose de ataque Na prática, pode ser dividida em três grupos (I, (0,04 mg/kg/dia), a não ser nas formas graves da sín- II, III) de acordo com sua gravidade, ou seja, leve, drome(4). Os diuréticos de alça, como a furosemide, 102
  • 2. Cardiopatias na infância na dose de 1 a 3 mg/kg/d e as tiazidas, na dose de ses pacientes necessitam de procedimento paliativo 2-3 mg/kg/d, estão indicados isoladamente ou em te- de urgência na sala de hemodinâmica, atriosseptosto- rapêutica combinada. O controle eletrolítico deve ser mia com cateter balão(7), com o objetivo de se aumen- rigoroso, com reposição de sódio, potássio, magnésio tar o diâmetro da comunicação interatrial e melhorar e correção da gasometria. O uso de drogas vasoativas, a mistura sanguínea, levando, assim, a um aumento da como a dobutamina e dopamina em microdoses (5 a saturação arterial. Atualmente, logo após esse proce- 20 ug/kg/h) costuma ser bastante útil no tratamento dimento, a maioria desses casos é encaminhada para dos casos mais graves. Vasodilatadores podem ser correção cirúrgica definitiva, através da técnica de indicados, em especial os inibidores da enzima con- correção anatômica(8, 9). A cirurgia de Fontan, fenestra- versora da angiotensina, na dose de 0,25 a 1 mg/kg/d. da ou não, assim como a técnica de Glenn, bidirecional, Deve ser lembrado que, em algumas cardiopatias gra- costuma ser indicada em crianças maiores com cia- ves, pode haver necessidade de procedimento cirúrgi- nose importante e portadoras de cardiopatias onde é co paliativo (cerclagem da artéria pulmonar), ou mes- impossível a correção, com manutenção de dois mo correção definitiva do defeito cardíaco, para con- ventrículos funcionantes. Outra arma terapêutica de trole da insuficiência cardíaca. grande valia é o uso da prostaglandina E1 EV (prostim) na dose de 0,05 a 0,1ug/kg/min(10). Essa droga é usa- 2. CIANOSE GRAVE NAS CARDIOPATIAS da para a manutenção da potência do canal arterial nos CONGÊNITAS E CIANÓTICAS casos que são destes dependentes, como tetralogia de Fallot, atresia pulmonar, atresia tricúspide e transposi- Pode ocorrer na forma de uma crise cianótica, ção dos grandes vasos. como específicamente na tetralogia de Fallot, ou fa- zer parte do quadro de cardiopatias com hipofluxo 3. ARRITMIAS CARDÍACAS pulmonar importante, geralmente com apresentação no período neonatal imediato. A crise cianótica está Na maioria das vezes são extra-sístoles atriais relacionada principalmente com estresse, costuma ou mesmo ventriculares, freqüentemente benignas, sem correr nas formas mais graves da doença e quase lesão estrutural cardíaca subjacente e raramente re- sempre coexiste com outros fatores, como a policite- querem tratamento farmacológico. Formas mais com- mia(5). De início súbito, é caracterizada por sintomato- plexas como “flutter” e fibrilação atrial são raras e logia exuberante com dispnéia progressiva, cianose necessitam terapêutica medicamentosa e/ou cardio- intensa, síncope, convulsões resistentes aos anti-con- versão elétrica. O bloqueio atrioventricular total vulsivantes e fenômenos de embolia cerebral. Crian- (BAVT) congênito costuma ser assintomático e tem ças com cianose grave, porém sem crises súbitas, uma evolução benigna. Entretanto, eventualmente, pode costumam manter quadro de insaturação arterial im- manifestar-se com sintomas como tontura, síncope e, portante, que pode piorar ou não em questão de horas mais raramente, com morte súbita. Nessas situações, ou mesmo de minutos, em função da etiologia do pro- há necessidade de implante de marca-passo. Entre as blema. Esses casos devem ser investigados rapida- taquiarritmias, destaca-se, por sua grande freqüência, mente, em centro terciário, para que se determine a a taquicardia paroxística supraventricular, causada pela lesão estrutural e se proceda à terapêutica específica. imaturidade do sistema de condução intracardíaco, ou Tratamento: na crise cianótica, basear-se em secundária à síndrome de Wolff-Parkinson-White(11). medidas básicas, adotadas dentro da UTI pediátrica, co- Geralmente tem evolução satisfatória com terapêuti- mo sedação com morfina na dose de 0,1 a 0,2 mg/kg/min ca medicamentosa, evoluindo para insuficiência car- e oxigenoterapia. Hemodiluição pode eventualmente díaca somente quando existe dificuldade na reversão ser necessária, assim como cirurgia paliativa do tipo ao ritmo sinusal. O esclarecimento diagnóstico atra- Blalock-Taussig(6), quando, então, é realizada uma vés do eletrocardiograma e do Holter, para alguns anastomose entre a circulação sistêmica e a pulmo- casos, é a base para o tratamento. O advento dos es- nar, com o objetivo de se aumentar o fluxo pulmonar. tudos eletrofisiológicos intracardíacos ou transesofá- Condição especial, em virtude de sua grande preva- gicos tornaram possível uma melhor definição das lência, é a transposição dos grandes vasos, que usual- arritmias, propiciando, assim, uma terapêutica mais mente se manifesta nas primeiras horas de vida. Es- adequada. Feixes anômalos (Kent, James, Manhain) 103
  • 3. JA Granzotti; PH Manso & F Amaral podem, com auxílio desses estudos, ser localizados e grama, podem ser notadas taquicardia e alterações da tratados. Até há poucos anos, as cirurgias eram a repolarização ventricular. A confirmação diagnóstica terapêutica empregada, sendo mais recentemente é feita pelo ecocardiograma, quando usualmente são substituídas pela ablação por radiofreqüência. detectadas áreas de hipocinesia ventricular. A biópsia, Tratamento: o arsenal farmacológico é exten- raramente realizada, mostra padrão inflamatório ca- so, havendo várias drogas disponíveis como digitálicos, racterístico. beta bloqueadores (propranolol), bloqueadores dos Tratamento: não há terapêutica específica, canais de cálcio (verapamil), atropina, sulfato de mag- apesar de alguns relatos de uso de medicação antiviral nésio, adenosina e amiodarona. Particularmente na (aciclovir). Medidas anticongestivas são freqüente- taquicardia supraventricular, tem-se usado com fre- mente empregadas com boa resposta terapêutica. Fora qüência a amiodarona para reversão ao ritmo sinusal da fase aguda, parece haver indícios do benefício da e prevenção de sua recorrência (dose de ataque 5 a terapêutica imunossupressora nos casos crônicos com 10 mg/kg/dia e manutenção 5 mg/kg/dia). Técnicas miocardite comprovada. Nessas situações, drogas especiais, como o “overdrive” atrial e ventricular, como corticóide, azatioprina e ciclosporina podem aju- realizadas em sala especial, podem ser também em- dar na remissão. O prognóstico é bom e a maioria dos pregadas nas taquiarritmias. A cardioversão elétrica casos (90%) evoluem para a cura, enquanto outros (1 a 2 j/kg) pode ser empregada para tratamento da entram numa fase crônica de miocardiopatia dilatada. fibrilação ventricular e do “flutter” atrial. A indicação mais freqüente do marca-passo é para tratamento do 5. PERICARDITES BAVT congênito e sintomático ou daquele secundá- rio à cirurgia cardíaca. Podem ser de origem viral, bacteriana, auto-imu- ne e ocorrer após cirurgia cardíaca (síndrome pós-peri- 4. MIOCARDITES cardiotomia). A presença de atrito pericárdico e aba- famento das bulhas são os achados clínicos mais fre- A principal causa são os vírus ”coxsackie” A qüentes. O eletrocardiograma é inespecífico, usualmente e B (b1 a b5), sendo o subtipo b4 o que teria tropismo exibindo alterações difusas da repolarização ventri- para o coração(12,13). O diagnóstico diferencial, na cular. Hiperrefringência e derrame pericárdico de grau maioria dos casos, somente pode ser feito pela análi- variável podem ser detectados pelo ecocardiograma. se da infiltração miocárdica. O HIV surge como uma O hemograma pode ajudar no diagnóstico das formas nova causa de miocardite em pacientes com AIDS e, infecciosas, enquanto a hemocultura oferece a pos- no nosso país, merecem destaque, além dessas, a mio- sibilidade de diagnósticos etiológicos, entre eles a tu- cardite chagásica pelo tripanossoma cruzi(14) e a de berculose. origem reumática. O diagnóstico diferencial pode ser Tratamento: pode ser específico como no caso feito por testes imunológicos, mas a confirmação de- da tuberculose. Nas doenças auto-imunes, como a finitiva pode exigir biópsia endomiocárdica através de febre reumática, o corticóide pode ser utilizado. Even- estudo da infiltração celular. A miocardite pode ser tualmente, pode ser necessária drenagem cirúrgica de de vários tipos: a linfocítica, relacionada a infecções derrame pericárdico volumoso, com ou sem tampona- agudas não bacterianas, como vírus, protozoários, cla- mento cardíaco. midias e micoplasmas; a granulomatosa, relaciona- da a infecções bacterianas, micobactérias, parasitas, 6. ENDOCARDITE colagenoses e doenças proliferativas do sistema fa- gocítico, e o tipo eosinofílico, ocorrendo por hiper- As malformações cardíacas congênitas e a car- sensibilidade a drogas, síndrome hipereosinofílica de diopatia reumática são as principais condições predis- Loeffler e endomiocardiofibrose. A forma neutrofí- ponentes dessa entidade. O aumento da velocidade lica está relacionada a bactérias, tóxica (difteria) e do fluxo sanguíneo através do defeito é o principal no início dos processos virais. O diagnóstico clínico das fator que aumenta a susceptibilidade à endocardite. É miocardites é feito com base nas manifestações de pouco comum nas comunicações interatriais ou este- insuficiência cardíaca, quando presentes, ou baseado nose pulmonar e muito mais freqüente nas cardio- na presença de sinais como taquicardia, galope, car- patias obstrutivas esquerdas, como estenose aórtica, diomegalia e derrame pericárdico. Leucocitose ou lin- lesões da válvula mitral, comunicação interventricular focitose costumam estar presentes e, no eletrocardio- e outras. O diagnóstico clínico é baseado na história 104
  • 4. Cardiopatias na infância positiva de cardiopatia prévia, picos de febre, esple- outras, a cirurgia é raramente realizada e o recém-nascido nomegalia, anemia, manchas de Janeway e nódulos recebe até três (3) doses de indometacina (0,1-0,3 mg) de Osler. Vegetações podem ser visibilizadas pela eco- VO ou parenteral, se necessário, em duas séries, efi- cardiografia, confirmando, assim, o diagnóstico. As ciente em 70% dos casos(17). São contra-indicações hemoculturas, quando positivas, costumam detectar hiperbilirrubinemia > 12 mg/100 ml, hiperpotassemia, estreptococos “viridans” ou estafilococos “aureus” creatinina maior que 2 mg/dl e plaquetas < 50.000/mm3. na maioria dos casos(15). Apesar dos neonatologistas estarem freqüentemente Tratamento: a terapêutica clínica consta de an- habilitados para executar tal tratamento, recomen- tibioticoterapia específica, durante quatro a seis se- da-se a participação do cardiologista, principalmente manas, e o critério de cura é a ausência de febre, es- em virtude da possibilidade de outros diagnósticos di- tabilidade hemodinâmica e ecocardiograma sem ve- ferenciais. getações. Em algumas situações, pode ser necessário o tratamento cirúrgico com o objetivo de se erradicar 9. HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR a infecção(16). A profilaxia, preferencialmente com amoxicilina, deve ser instituída naqueles indivíduos Basicamente, essa situação pode se apresentar portadores de lesões com turbilhonamento hemodinâ- de três formas: hipertensão pulmonar transitória do mico excessivo, quando forem submetidos a interven- recém-nascido, hipertensão pulmonar primária na ções que provoquem bacteremia, como tratamento criança e hipertensão pulmonar secundária às cardio- dentário, extração e endodontia, broncoscopias, cate- patias com “shunt” esquerda-direita importante e que terismo cardíaco, sondagem vesical, hemodiálise e desenvolvem hiperresistência pulmonar. A hiperten- derivação ventriculoatrial para tratamento de hidroce- são pulmonar transitória do RN é relativamente fre- falia. O risco de endocardite é elevado nos pacientes qüente, manifestando-se nas primeiras horas após o portadores de cardiopatias cianóticas em decorrência nascimento com quadro de taquipnéia e cianose. A de dois fatores: pobre higiene oral e maior freqüência evolução é favorável, na grande maioria dos casos, de doença periodontal. Infecções extracardíacas, tais somente com administração de O2, enquanto, nas for- como pneumonias, pielonefrites, sinusites, osteomieli- mas graves, pode ser necessária a administração de tes e ”sepsis”, são condições totalmente favoravéis óxido nítrico e de drogas vasodilatadoras, como a tola- para a ocorrência de endocardite e devem ser ade- zolina. A hipertensão pulmonar primária na crian- quadamente tratadas. ça é entidade infreqüente, caracterizada por elevação da resistência vascular pulmonar a níveis sistêmicos, 7. HIPERTENSÃO ARTERIAL AGUDA sem cardiopatia associada. Esses casos devem ser cui- dadosamente estudados para se avaliar a potenciali- É comum a glomerulonefrite aguda compli- dade de resposta com a terapêutica vasodilatadora. car-se com edema agudo de pulmão secundário à hi- Os pacientes que respondem agudamente à adminis- pertensão grave. O tratamento, de preferência em CTI tração de vasodilatadores são mantidos com bloquea- pediátrica, envolve uso de diuréticos (furosemide) e dores dos canais de cálcio a longo prazo (geralmente de hipotensores. Entre eles, destacamos a nifedipina nifedipina). Os casos que não respondem agudamen- na dose 0,5 mg/kg/dia e a hidralazina 1-3mg/kg/dia. É te, ou que não melhoram com a terapêutica oral, po- papel do pediatra identificar e iniciar o tratamento, e, dem ser especialmente tratados ambulatorialmente com a seguir, acionar uma equipe especializada em terapia prostaciclina EV. Em ambas as situações tem-se intensiva. Outras causas de hipertensão arterial são demonstrado aumento da sobrevida desses pacien- pouco freqüentes e estão associadas a problemas re- tes(18). As crianças com hipertensão pulmonar se- nais ou endocrinológicos. cundária a um “shunt” esquerda-direita importante devem ser avaliadas através de estudo hemodinâmico, 8. FECHAMENTO FARMACOLÓGICO DO sendo obrigatório o cálculo da resistência vascular PCA pulmonar, cujos valores normais são respectivamente 1-3 unidades Wood ou 80 a 240 dynas.sec.cm-5/m2. Crianças prematuras, com persistência do ca- Se a resistência vascular pulmonar for maior que dez nal arterial, e sintomáticas constituem um problema (10) unidades, significa que a mesma é tão grave que controverso. Em algumas instituições, a indicação é torna os pacientes com “shunts” intracardíacos de operar todos que tenham menos que 1,200 g. Em inoperáveis. Assim, o reconhecimento precoce destas 105
  • 5. JA Granzotti; PH Manso & F Amaral cardiopatias e o encaminhamento imediato para cen- precoce possível, com o objetivo de se fornecer, em tros de cirurgia cardíaca é função do cardiologista com tempo hábil, o tratamento adequado à criança. Como participação do pediatra. Outras causas de hiperten- relatado acima, as medidas terapêuticas são específi- são arterial pulmonar estão relacionadas com doenças cas para cada entidade, havendo também necessidade auto-imunes (lúpus), broncodisplasia pulmonar e ou- de avaliação individual do paciente. Em virtude da com- tras colagenoses. Os pacientes com formas graves de plexidade dos casos, da apresentação clínica em fai- hipertensão pulmonar associada à falência cardíaca xas etárias diferentes e da necessidade de manipula- refratária ao tratamento clínico podem ser candidatos ção farmacológica, às vezes, complicada, torna-se ao transplante pulmonar ou de coração/pulmão. importante a participação conjunta do pediatra e do Concluindo, acreditamos ser essencial o reco- cardiologista, se o objetivo for otimizar a terapêutica nhecimento dessas condições clínicas da maneira mais instituída. GRANZOTTI JA; MANSO PH & AMARAL F. The role of the pediatrician in the diagnosis and treatment of heart disease in chidhood. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 102-106, jan./march 1999. ABSTRACT: About 1% of all live births will have congenital heart disease and will require specialized pediatric care (1,2). If we include the acquired heart diseases, this number will certainly increase considerably. Patients with these entities may present in different ways, often requiring a multisciplinary approach in order to achieve a good therapeutic result. We present a summary of the most frequent clinical situations requiring the presence of the pediatrician and of the cardiologist, most of them ocurring in a hospital basis. UNITERMS: Heart Diseases. Child. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 - DENES A et al. Demonstration of dual pathways in pa- tients with paroxysmal supraventriculat tachycardia. Cir- 1 - FERENCS C et al. Congenital heart disease prevalence at culation 48: 549-555, 1973. live birth; the Baltimore-Washington infant study. Am J Epidemiol 121: 31-36, 1984. 12 - HERDY G et al. Vírus coxsackie B em crianças com mio- cardite aguda. Arq Bras Cardiol 56: 201-205, 1991. 2 - HOFFMAN JIE & CHRISTIANSON R. Congenital heart dis- ease in a cohort of 19502 births with long term follow-up. 13 - DRUYITS-VOETS E et al. Coxsackie B virus epidemiology Am J Cardiol 42: 641-647, 1978. and neonatal infections in Belgium. J Infect Dis 27: 311-316, 3 - TALNER NS. Congestive heart failure in the infant: func- 1993. tional approach. Pediatr Clin North Am 18: 1011-1029, 14 - GRANZOTTI JA. Cardiopatia chagásica em crianças. Rev 1971. Inst Med Trop São Paulo 27: 341-345, 1985. 4 - NEIL CA. The use of digitalis in infants and children. Prog Cardiovasc Dis 7: 399-416, 1965. 15 - DAJANI AS & TAUBERT KA. Infective endocarditis. In: MOSS AJ & ADAMS FH ed. Heart disease in infants, children 5 - GRANZOTTI JA. Cardiopatia congênita cianótica. Um estudo and adolescents, including the fetus and young adults. clínico hematológico. J Pediatr 47: 430-438, 1979. th 5 ed. Williams e Wilkins, Baltimore, p. 1541-1553, 1995. 6 - KIRKLIN JW et al. Surgical results and protocols in the spec- trum of tetralogy of Fallot. Ann Surg 198: 251-265, 1983. 16 - WILLIAMS JR TW; VIROSLAV J & KNIGHT V. Management of bacterial endocardilis. Am J Cardiol 26: 186-190, 1970. 7 - RASHKIND WJ & MILLER WW. Creation of a septal defect without thoracotomy. JAMA 196: 991-992, 1966. 17 - HEYMANN MA; RUDOLPH AM & SILVERMAN NH. Closure 8 - SERRAF A et al. Anatomic correction of transposition of of the ductus arteriosus in premature infants by inhibition of the great arteries in neonates. J Am Coll Cardiol 22: prostaglandin synthesis. N Engl J Med 295: 530-533, 1976. 193-200, 1993. 18 – BARST RJ; MAISLIN G & FISHMAN AP. Vasodilator therapy 9 - PLANCHÉ C; LACOUR-GAYET F & SERRAF A. Arterial for primary pulmonary hypertension in children. Circula- switch. Pediatr Cardiol 19: 297-307, 1998. tion 99: 1197-1208, 1999. 10 - HEYMANN MA. Pharmacologic use of prostaglandin E1 in Recebido para publicação em 15/07/98 infants with congenital heart disease. Am Heart J 101: 837-847, 1981. Aprovado para publicação em 09/03/99 106