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Arq Bras Cardiol
2003; 81: 529-34.
Beck da Silva e cols
Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares
529
University of Ottawa Heart Institute e Hospital São Francisco, Santa Casa de
Porto Alegre - Correspondência: Haissam Haddad - Programa de Insuficiência
Cardíaca - Instituto do Coração da Universidade de Ottawa - 40 Ruskin Street
Suite H147 - Ottawa - ON, K1Y 4W7 – Canadá – e-mail: hhaddad@ottawaheart.ca
Recebido para publicação em 14/10/02
Aceito em 10/4/03
Arq Bras Cardiol, volume 81 (nº 5), 529-34, 2003
Luís Beck da Silva, Carlos A. Ferreira, Celso Blacher, Paulo Leães, Haissam Haddad
Porto Alegre, RS / Ottawa, ON - Canadá
Peptídeo Natriurético Tipo-B e Doenças Cardiovasculares
Atualização
“Cardiologistas e internistas têm agora uma ferra-
mentaparadeterminarseopacienteteminsuficiênciacar-
díacae/ouavaliarsuaseveridade,assimcomoosmédicos,
rotineiramente, solicitam creatinina sérica para determi-
nar se o paciente tem doença renal ou testes de função he-
pática em pacientes com doenças do fígado.”
K.L. Baughman, Johns Hopkins
A descoberta de uma ligação endocrinológica entre o
coração e os rins baseia-se em achados de microscopia ele-
trônicaemquecélulasdemúsculoestriadodosátriosdema-
míferossediferenciamtantoemcélulascontráteiscomoem
célulasendócrinas.Ofatornatriuréticoatrial(FNA),umpep-
tídeocirculantecompropriedadesnatriuréticas,diuréticase
vasodilatadoras,foidescobertoem1980porA.J.deBold,e
considerado, na ocasião, como a ligação hormonal entre o
coraçãoeosrins.Desdeentão,umimensonúmerodeinves-
tigações multidisciplinares tem sido conduzido para escla-
recer o real papel deste peptídeo na patogênese das doen-
ças cardiovasculares, na regulação da pressão arterial e na
excreção de sal e água. Essas investigações acabaram se
tornando um excelente exemplo de pesquisa evoluída da
bancada do laboratório à beira do leito do paciente. Hoje, o
peptídeonatriuréticotipo-B(PNB)vemgradualelentamen-
te se estabelecendo na área clínica.
Oobjetivodesteartigoéproveroclínicodeumarevisão
atualizadadosprogressosocorridosatéomomento,afimde
incluiropeptídeonatriuréticotipo-Bnapráticaclínicadiária.
Ospeptídeosnatriuréticos
FNA,PNB(tambémchamadodepeptídeonatriurético
cerebral),eopeptídeonatriuréticotipoC(PNC)constituem
afamíliadospeptídeosnatriuréticos2
.Seupapelprincipalé
a participação na homeostase cardiovascular e na modula-
ção do crescimento celular. O RNAm de fator natriurético
atrialfoiencontradoemmuitostecidos,maséparticularmen-
te abundante nos átrios cardíacos. O peptídeo natriurético
tipo-Bfoi,primeiramente,isoladodehomogenadosdecére-
bro,mastambéméencontradonacirculaçãoperiférica.No
entanto, sua maior concentração encontra-se no tecido
miocárdico.Tantoofatornatriuréticoatrialcomoopeptídeo
natriuréticotipo-Bsãoproduzidos,normalmente,pelascé-
lulas de músculo atrial, de onde são liberados. Entretanto,
sobcondiçõesatípicas,comoadoençaestruturalmiocárdi-
ca, o peptídeo natriurético tipo-B parece ser produzido em
maior escala pelos ventrículos3
.
Ospeptídeosnatriuréticos,emconjunto,contrabalan-
çam os efeitos do sistema renina-angiotensina-aldosterona
(SRAA).AsconcentraçõesplasmáticasdeFNAepeptídeo
natriurético tipo-B aumentam em resposta à distensão do
tecido atrial e parecem ser antagonistas dos efeitos da an-
giotensinaIInotônusvascular,nasecreçãodealdosterona,
nareabsorçãodesódioenocrescimentocelularvascular.O
peptídio natriurético tipo-C é encontrado, predominante-
mente, no cérebro e em células endoteliais e as concentra-
çõesnoplasmasãomuitobaixas4
.Poristo,ospeptídeosna-
triuréticosmaisamplamenteestudadosemdoençascardio-
vasculares são FNA e peptídeo natriurético tipo-B (fig. 1).
Peptídeonatriuréticotipo-Bcomo
ferramentadiagnóstica
Opeptídeonatriuréticotipo-Btem-semostradocomo
uma ferramenta diagnóstica confiável na sala de emergên-
cia,comotestederastreamentoparapacientescomqueixas
de dispnéia.
Davis e cols.5
, após medirem fator natriurético atrial e
peptídeo natriurético tipo-B em 52 pacientes com dispnéia
nasaladeemergência,demonstraramqueopeptídeonatriu-
rético tipo-B plasmático à admissão indicou o diagnóstico
corretocommaisacuráciaqueafraçãodeejeçãodoventrí-
culoesquerdoeofatornatriuréticoatrial.Daoecols.6
medi-
ram o peptídeo natriurético tipo-B em 250 pacientes que se
apresentaramàsaladeemergênciacomdispnéia,comoprin-
530
Beck da Silva e cols
Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares
Arq Bras Cardiol
2003; 81: 529-34.
1- Especifidade (%)
cipal queixa, e encontraram uma significativa discrepância
entre os valores de peptídeo natriurético tipo-B em pacien-
tescomesemodiagnósticodeinsuficiênciacardíaca.Nes-
se estudo, peptídeo natriurético tipo-B, no valor de 80pg/
ml,foialtamentesensíveleespecíficoparaodiagnósticode
insuficiência cardíaca. O valor preditivo negativo de um
peptídeonatriuréticotipo-B<80pg/mlfoide98%,excluindo
insuficiênciacardíaca(fig.2).
Maisrecentemente,Harrisonecols.7
investigaramseo
peptídeonatriuréticotipo-Bdepacientesquechegamàsala
deemergênciacomdispnéiaaguda,poderiaserumpreditor
de futuros eventos cardíacos. Esses autores relataram que
umpeptídeonatriuréticotipo-B>480pg/mlteriasensibilida-
dede68%,especificidadede88%eacuráciadiagnósticade
85% em predizer subsequente desfecho de insuficiência
cardíacaem6meses.Poroutrolado,pacientescompeptídeo
natriuréticotipo-B<230pg/mlapresentavam,nomesmope-
ríodo, excelente prognóstico com incidência de insuficiên-
cia cardíaca de apenas 2.5%. Finalmente, os autores con-
cluíram que, nessa população de pacientes com dispnéia
aguda,osvaloresdepeptídeonatriuréticotipo-Bpoderiam
ser altamente preditivos de eventos cardíacos em 6 meses.
Umgrandeensaioclínicomulticêntrico,recentemente
completado,examinou1586pacientescomdispnéiaaguda
para testar a capacidade do peptídeo natriurético tipo-B de
diferenciarpacientescominsuficiênciacardíacadepacien-
tescomoutrascausasdefaltadear. Os resultados finais de-
monstraramquepeptídeonatriuréticotipo-Bteveboaespe-
cificidadeealtovalorpreditivonegativoparaexcluirodiag-
nósticodeinsuficiênciacardíaca,comumaáreasobacurva
ROC (receiver operating characteristic) de 0.91. O estudo
tambémconfirmouaassociaçãoentreosníveisplasmáticos
depeptídeonatriuréticotipo-Beaseveridadedeinsuficiên-
cia cardíaca, segundo a classificação funcional da New
York Heart Association (NYHA) (fig. 3). O mesmo estudo
demonstrou que uma simples medida de peptídeo natriuré-
ticotipo-Beramaisacuradaparaodiagnósticodeinsuficiên-
cia cardíaca que os critérios de Framingham deinsuficiên-
ciacardíacaeaescaladoExameNacionaldeSaúdeeNutri-
ção nos Estados Unidos (National Health and Nutrition
Examination - NHANES)8
.
CurvasROCsugeremqueumpontodecortedepeptí-
deonatriuréticotipo-Bem100pg/mlconfereumarazoável
habilidade de discernir pacientes com ou sem insuficiência
cardíaca, com uma sensibilidade de 90%, uma especifici-
dadede76%eumaacuráciade83% 9
.
Peptídeonatriuréticotipo-Beodiagnóstico
dedisfunçãodiastólica
Estima-se que 40 a 50% dos pacientes com diagnósti-
co de insuficiência cardíaca têm função sistólica preserva-
da,implicandoemdisfunçãodiastólicacomoodiagnóstico
mais provável para essa condição. A prevalência de insufi-
ciência cardíaca por disfunção diastólica aumenta com a
idade, com uma incidência aproximada de 15 a 25% em
pacientes com menos de 60 anos, 35 a 40% naqueles entre
60e70anose50%nosacimade70anos10
.Odiagnósticode
insuficiência cardíaca por disfunção diastólica geralmente
não pode ser distinguido de disfunção sistólica, apenas por
meiodehistóriaeexamefísico,radiografiadetóraxeeletro-
cardiograma11
.Clinicamente,odiagnósticodedesempenho
diastólicoanormalébaseadoemexclusões,comoporexem-
Fig. 3 - Relação entre peptídeo natriurético tipo-B e severidade de insuficiência car-
díaca estimada pela classificação funcional de New York Heart Association.
(Copyright Biosite Diagnostics, 2001)
Suave Moderado
(Limitação leve
de atividade física)
Moderado
(Limitação acentuada
de atividade física)
Grave
NívelmédiodeBNP
Fig. 2 - Curvas ROC (Receiver operated characteristics) para o peptídeo natriurético
tipo-B e para o diagnóstico clínico de insuficiência cardíaca na sala de emergência.
(Adaptado de Dao e cols.6
)
Sensibilidade(%)
IC
PNB
0,9790
SEdiagnóstico
0,884
Fig. 1 - A família dos peptídeos natriuréticos. (Copyright Biosite Diagnostics, 2001)
PeptídeosNatriuréticos
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2003; 81: 529-34.
Beck da Silva e cols
Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares
531
plo ausência de disfunção sistólica em pacientes com insu-
ficiênciacardíaca.
Krishnaswamy e cols.12
estudaram a utilidade do pep-
tídeo natriurético tipo-B em diagnosticar disfunção diastó-
lica,alémdapresençadedisfunçãosistólica.Asmedidasda
fraçãodeejeçãoforamavaliadasem400pacientes.Em147,a
função ventricular foi considerada normal e os níveis de
peptídeo natriurético tipo-B baixos, de 30 ± 36pg/ml, en-
quanto naqueles com disfunção sistólica o peptídeo natriu-
rético tipo-B foi de 416 ± 413pg/ml. Pacientes com função
sistólicapreservada,mascomdisfunçãodiastólica,tiveram
valores de 391 ± 89pg/ml (p<0.001 comparados aos nor-
mais). A área sob a curva ROC para o peptídeo natriurético
tipo-B detectar disfunção diastólica à ecocardiografia em
pacientescominsuficiênciacardíacaefunçãosistólicanor-
malfoide0.958eparadetectarqualqueranormalidadeeco-
cardiográficade0.9512
.Outrosautorestêmtambémrelatado
níveiselevadosdepeptídeonatriuréticotipo-Bempresença
de disfunção diastólica13,14
.
Maisrecentemente,Lubienecols.15
estudaram294pa-
cientes encaminhados para avaliação da função ventricular
pelaecocardiografia,afimdediferenciarosváriospadrõesde
enchimento ventricular esquerdo detectados pelas leituras
de Doppler em indivíduos com função sistólica normal. Fo-
ram excluídos pacientes com disfunção sistólica. Pacientes
diagnosticadoscomqualquerevidênciadedisfunçãodiastó-
licativeramconcentraçãodepeptídeonatriuréticotipo-Bde
286 ± 31pg/ml, enquanto aqueles com ventrículo esquerdo
normaltiverampeptídeonatriuréticotipo-Bde33±3pg/ml.
Pacientescompadrãodeenchimentotiporestritivoàecocar-
diografia apresentaram os mais altos níveis de peptídeo na-
triurético tipo-B (408 ± 66pg/ml) e os sintomáticos tiveram
seus níveis mais altos que todos os padrões de enchimento
diastólico (fig. 4). A área abaixo da curva ROC do peptídeo
natriuréticotipo-Bparadetectarqualquerdisfunçãodiastólica
empacientescomfunçãosistólicanormalfoide0,92(IC95%
0,87a0.95;p<0.001).Essefoioprimeiroestudoemavaliaros
diferentes padrões de enchimento ventricular esquerdo à
ecocardiografiacomDopplereconcluirqueumteste-rápido
depeptídeonatriuréticotipo-Bpodedetectarcomconfiabili-
dade a presença de anormalidades diastólicas.
Esses estudos concluíram, todavia, que os níveis de
peptídeo natriurético tipo-B, isoladamente, não podem di-
ferenciar entre disfunção sistólica e diastólica e que um
peptídeo natriurético tipo-B normal, num contexto de fun-
ção sistólica normal, pode provavelmente descartar
disfunção diastólica clinicamente significativa. De fato,
paraalgunspacientes,oachadodeumpeptídeonatriurético
tipo-B normal pode dispensar a realização da
ecocardiografia.Empacientescomfunçãosistólicanormal
eevidênciaclínicadeinsuficiênciacardíaca,umníveleleva-
dodepeptídeonatriuréticotipo-Bpodesubstanciarodiag-
nóstico de disfunção diastólica.
Peptídeonatriuréticotipo-Bemonitorização
hemodinâmicanainsuficiênciacardíaca
Oexamefísicotemdemonstradolimitadaconfiabilida-
deparaindicaroperfilhemodinâmicodepacientescominsu-
ficiência cardíaca crônica16,17
. Um número de publicações
temsugeridoquea“vasodilataçãootimizada”,comoobje-
tivodenormalizaraspressõesdeenchimentoventriculares-
querdo e a resistência vascular sistêmica em pacientes com
insuficiênciacardíacaeventrículodilatado,resultamemum
melhor desfecho que o tratamento empírico18,19
. Stevenson
ecols.18
demonstraram,hámaisdeumadécada,quepacien-
tescominsuficiênciacardíacaseveraemlistadeesperapara
transplante e capazes de responder à terapia otimizada, ti-
nhamumamortalidade,de38%,em1ano,enquantoqueos
que não respondiam tinham uma mortalidade de 83%, no
mesmo período. Os benefícios da terapia otimizada com o
auxíliodocateterdeSwanGanzresidenanoçãodequeredu-
zir as pressões de enchimento ventricular para próximo do
normal leva ao débito cardíaco ideal18
, o que pode ocorrer
não somente devido à redução da insuficiência mitral, co-
mumenteencontradanessespacientes,mastambémpordi-
minuiroconsumodeoxigêniodomiocárdio.
Entretanto, a abordagem da “vasodilatação otimiza-
da” requer os cuidados de uma internação hospitalar em
ambientedetratamentointensivoeumprocedimentoinva-
sivo para a inserção do cateter de Swan Ganz. Um simples
examedesangue,confiávelemcorrelacionarcomasaltera-
çõesdapressãodeenchimentoventricularesquerdoduran-
teomanejodainsuficiênciacardíaca,seriadegrandevalia.
Concentrações plasmáticas de peptídeo natriurético
tipo-B não apenas refletem pressão de enchimento ventri-
cular20
, como também estão fortemente correlacionadas às
mudanças da pressão capilar pulmonar durante a hospitali-
zação (r=0.73, p<0.05)21
. Pacientes que falharam à terapia
comvasodilataçãootimizadapuderamseridentificadospor
meio de medidas de peptídeo natriurético tipo-B e eram,
mais provavelmente, readmitidos21
. Assim sendo, o peptí-
deonatriuréticotipo-Bpodeserummeioefetivodemelho-
raromanejointra-hospitalardepacientescominsuficiência
cardíacasevera,bemcomopermitirapossibilidadedeuma
“terapiaotimizadaambulatorial”,dispensandooauxíliodo
cateterdeSwanGanz.
Peptídeonatriuréticotipo-Befibrilaçãoatrial
Fibrilaçaoatrialéumadoençafreqüenteentreidosose/
ou pacientes com insuficiência cardíaca. É sabido que o
Fig. 4 - Níveis de peptídeo natriurético tipo-B em pacientes com função ventricular
normal à ecocardiografia e com disfunção distólica. Dados estão expressos como
média±erropadrão(A)emédialogarítmica(B).Ambossignificativascomp<0.001.
(Adaptado de Lubien e cols.15
)
Disfunção
distólica
A. B.
PNB(pg/ml)
P<0,001
Função
Normal
P<0,001
Função
Normal
Disfunção
distólica
400
300
200
100
0
LogPNB(pg/ml)
1000
100
10
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Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares
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peptídeonatriuréticotipo-Béumaferramentanãoinvasiva,
seguramentecorrelacionadacompressãodiastólicafinaldo
ventrículo esquerdo, sendo de fato um marcador de disten-
são miocárdica22
. Estudos têm demonstrado que fibrilação
atrial é um determinante independente de aumento dos ní-
veisdefatornatriuréticoatrial3
.Emboraopeptídeonatriuré-
ticotipo-Be,particularmente,ofatornatriuréticoatrial,este-
jam supostamente elevados em pacientes com fibrilação
atrialcomousemdisfunçãoventricular,temsidodemonstra-
do que ambos os peptídeos tendem a diminuir após cardio-
versão elétrica bem sucedida23
. A duração da fibrilação
atrialtambémpodeterimportânciaempacientescominsufi-
ciência cardíaca avançada, quanto mais longa a fibrilação
atrialmenoresosníveisdefatornatriuréticoatrial24
.Outros
autores têm demonstrado que, em pacientes com fibrilação
atrial, o peptídeo natriurético tipo-B está aumentado e o
miocárdio atrial considerado como fonte da sua produ-
ção25
.Outraevidênciadacorrelaçãoentrearritmias,envol-
vendodissincroniaatrioventriculareníveisdepeptídeona-
triuréticotipo-B,temorigememumestudoquedemonstrou
níveisdepeptídeonatriuréticotipo-Bmaiselevadosempa-
cientes com marcapasso em modo VVI do que aqueles em
modos DDD ou AAI26
.Após a cardioversão atrial, o peptí-
deonatriuréticotipo-Bdiminuigradualmente23
.
Peptídeonatriuréticotipo-Becardiopatia
isquêmica
Umnúmerosignificativodeestudostemdemonstrado
que após infarto agudo do miocárdio, um elevado nível de
peptídeo natriurético tipo-B está associado a infartos mais
extensos27
, maior chance de remodelamento ventricular 28
,
menor fração de ejeção29
e um maior risco de insuficiência
cardíacaemorte30
.
Mais recentemente, peptídeo natriurético tipo-B foi
avaliado em todo o espectro das síndromes coronarianas
agudas (SCA). Uma análise de subgrupos do estudo OPUS
TIMI 16 revelou que níveis mais elevados de peptídeo na-
triurético tipo-B estavam associados com estenoses coro-
narianas>50%ecomtestesdeesforçopositivo(p<0,001)31
.
DeLemosecols.32
relataramque,numcontextodesín-
dromecoronarianaaguda,umnívelinicialelevadodepeptí-
deo natriurético tipo-B esteve correlacionado com o risco
demorte,insuficiênciacardíacaouinfartodomiocárdioem
30 dias e 10 meses. Essa associação persistiu significativa
em subgrupos de pacientes que apresentavam infarto agu-
docomelevaçãodesegmentoST(p<0,02),infartosemele-
vaçãodeST(p<0,001)ouanginainstável(p<0,001).Osso-
breviventes tinham um peptídeo natriurético tipo-B médio
de 80pg/ml e os pacientes que morreram dentro de 30 dias
apósoinfartoinicialtinhamumpeptídeonatriuréticotipo-B
médio de 153pg/ml (p<0,001). Esses achados foram inde-
pendentes dos níveis de troponina, idade, presença ou au-
sênciadeinsuficiênciacardíaca,insuficiênciarenaloualte-
ração de segmento ST.Osautoresconcluíramqueumame-
didaisoladadepeptídeonatriuréticotipo-B,obtidanospri-
meiros dias após o início de sintomas isquêmicos, teve po-
der preditivo para ser usado na estratificação de risco de
pacientes em todo o espectro das síndromes coronarianas
agudas.Aativaçãoneurohormonalcardíacapodeserinfor-
mação chave entre pacientes com alto risco de mortalidade
após síndromes coronarianas agudas.
Peptídeonatriuréticotipo-Bemprocedimen-
tosintervencionistasesíndromescoronaria-
nas agudas.
Peptídeo natriurético tipo-B também pode ser testado
no contexto das intervenções coronarianas percutâneas.
Elevados níveis de peptídeo natriurético tipo-B foram en-
contrados durante e imediatamente após angioplastia por
balão, retornando à linha de base logo após o procedimen-
to33
.Comoconseqüência,peptídeonatriuréticotipo-Bcres-
ceemrespostaaoaumentodapressãoventricularesquerda
secundáriaàisquemiamiocárdicatransitóriaprovocadapela
angioplastia. A fim de confirmar esse suposto mecanismo,
Tateishiecols.34
estudaramumgrupodepacientessubmeti-
dos a cinecoronariografia diagnóstica e compararam com
outrogruposubmetidoaintervençõescoronarianas.Embo-
ranenhumaalteraçãohemodinâmicatenhasidoobservada,
antes e depois do procedimento, o peptídeo natriurético
tipo-B plasmático esteve aumentado apenas no grupo dos
pacientes submetidos à intervenção coronariana. Conside-
rando esse resultado, o peptídeo natriurético tipo-B estaria
possivelmentedetectandomínimasalteraçõeshemodinâmi-
cassecundáriasàisquemiainduzidapelobalãoque,naver-
dade, são indetectáveis pelas medidas hemodinâmicas
convencionais.Amedidadavariaçãodopeptídeonatriuré-
tico tipo-B durante angioplastia coronariana pode vir a ser
ummarcadorbioquímicoparaindicarquantodomiocárdio
isquêmicoencontra-seemriscodistalmenteàlesãocorona-
riana em questão.
Finalmente,deacordocomosresultadosjámenciona-
dos,níveisséricosdepeptídeonatriuréticotipo-Bforamde-
finitivamente associados com risco aumentado de eventos
cardíacos em 450 pacientes que apresentavam uma síndro-
me coronariana aguda. Em abordagem de estratificação de
risco,baseadaemmúltiplosmarcadoresparaasíndromeco-
ronariana aguda, o peptídeo natriurético tipo-B demons-
trouadicionarinformaçãoprognósticaindependentemente
dos outros marcadores35
.
Peptídeonatriuréticotipo-Bediabetesmellitus
Ébemconhecidoquepacientesdiabéticostêmumris-
co aumentado de cardiopatia isquêmica e uma maior inci-
dência de insuficiência cardíaca. Têm também uma maior
prevalência tanto de disfunção sistólica como de diastólica
do ventrículo esquerdo36
. Essas anormalidades são fre-
qüentementeassintomáticas,particularmenteempacientes
diabéticos, embora possam ser tratadas com terapêuticas
deeficáciacomprovada,comoinibidoresdaenzimaconver-
sora de angiotensina e betabloquadores37
.
Apesardaecocardiografiaseroprimeiroexameparao
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2003; 81: 529-34.
Beck da Silva e cols
Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares
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diagnóstico de disfunção ventricular esquerda, ela tem sig-
nificativaslimitaçõesnospacientesdiabéticos:nãoépron-
tamentedisponívelemclínicasparadiabéticos,éusualmen-
te reservada para pacientes sintomáticos e é de alto custo
para teste de rastreamento, especialmente em pacientes as-
sintomáticos. Entretanto, a identificação de pacientes dia-
béticoscomdisfunçãoventricularesquerdaéextremamente
importante. Para fins de testar a hipótese de que o peptídeo
natriurético tipo-B serviria como teste de rastreamento em
pacientes diabéticos para a identificação de disfunção ven-
tricular,Maiselecols.38
estudaram111pacientesdiabéticos
encaminhados para ecocardiografia no Sistema de Saúde
dos Veteranos de San Diego. Nos pacientes com função
ventricular normal, peptídeo natriurético tipo-B foi de 39 ±
8pg/ml, significativamente inferior aos pacientes com dis-
função ventricular esquerda nos quais o peptídeo natriuré-
ticotipo-Bfoide379±138pg/ml,ouempacientescomdis-
função diastólica, onde foi de 479 ± 106pg/ml. Pacientes
comdisfunçãosistólicaediastólicaapresentaramníveisde
peptídeonatriuréticotipo-Bde958±169pg/ml.Aáreasoba
curva ROC demonstrando a sensibilidade e especificidade
dopeptídeonatriuréticotipo-Bcontraodiagnósticoecocar-
diográficofoide0,953,concluindoqueumtesterápidoesim-
ples, como o peptídeo natriurético tipo-B, pode ser empre-
gado para rastrear de maneira confiável a presença ou au-
sência de disfunção ventricular em pacientes diabéticos,
especialmente para detectar disfunção ventricular precoce
em pacientes assintomáticos.
Peptídeonatriuréticotipo-Brecombinanteno
tratamentodainsuficiênciacardíaca
Finalmente, o peptídeo natriurético tipo-B tornou-se
umexemplodepesquisaevoluídadabancadadolaboratório
àbeiradoleito.Colucciecols.39
conduziramumensaio-clí-
nico randomizado para investigar o uso clínico de infusão
intravenosa de nesiritide, um peptídeo natriurético tipo-B
recombinante,empacientescominsuficiênciacardíacades-
compensada, e demonstraram que o nesiritide é hemodi-
namicamentebenéficoemelhorasignificativamenteossin-
tomas de insuficiência cardíaca, quando comparado ao
placebo. No entanto, quando comparado ao tratamento
convencional(comumagentevasoativocomumenteempre-
gadoparatratamentoacurtoprazodeinsuficiênciacardíaca
descompensada,comoadobutamina,milrinona,nitroglice-
rinaounitroprussiatodesódio),nenhumadiferençasignifi-
cativa nos sintomas foi encontrada entre os grupos. Os au-
tores concluiram que nesiritide é uma alternativa segura e
uma importante associação ao tratamento inicial dos paci-
entes com insuficiência cardíaca descompensada.
Conclusão
O peptídeo natriurético tipo-B é um neurohormônio
sintetizadonomiocárdioatrialeventriculareumindicador
de pressões intracardíacas aumentadas. Pode estar aumen-
tado devido a uma variedade de doenças cardíacas estrutu-
rais,comoinsuficiênciacardíaca,disfunçãosistólicaoudias-
tólica,fibrilaçãoatrial,isquemiaagudaouanormalidadeval-
vular significativa. Neste sentido, o valor do peptídeo na-
triuréticotipo-Bresidenoseuelevadovalorpreditivonega-
tivo (≈ 96%). No entanto, o peptídeo natriurético tipo-B
vem se tornando: um teste de rastreamento para solicita-
ções de ecocardiografia, independentemente da razão para
o procedimento; uma ferramenta útil e confiável no diag-
nósticoeavaliaçãodaseveridadedainsuficiênciacardíaca
nasaladeemergência;umpotencialmarcadorparamonito-
rizaçãohemodinâmicaempacientescominsuficiênciacar-
díaca severa; um marcador prognóstico em pacientes que
sofreramuminfartoagudodomiocárdio.
Muitas outras aplicações estão ainda sob investiga-
ção e alguns autores ousam comparar a utilidade do peptí-
deo natriurético tipo-B para doenças cardiovasculares ao
papeldacreatininaparapacientescomdoençarenal.Opep-
tídeo natriurético tipo-B intravenoso, como uma interven-
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Peptídeo natriurético tipo B e doenças cardiovasculares

  • 1. Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares 529 University of Ottawa Heart Institute e Hospital São Francisco, Santa Casa de Porto Alegre - Correspondência: Haissam Haddad - Programa de Insuficiência Cardíaca - Instituto do Coração da Universidade de Ottawa - 40 Ruskin Street Suite H147 - Ottawa - ON, K1Y 4W7 – Canadá – e-mail: hhaddad@ottawaheart.ca Recebido para publicação em 14/10/02 Aceito em 10/4/03 Arq Bras Cardiol, volume 81 (nº 5), 529-34, 2003 Luís Beck da Silva, Carlos A. Ferreira, Celso Blacher, Paulo Leães, Haissam Haddad Porto Alegre, RS / Ottawa, ON - Canadá Peptídeo Natriurético Tipo-B e Doenças Cardiovasculares Atualização “Cardiologistas e internistas têm agora uma ferra- mentaparadeterminarseopacienteteminsuficiênciacar- díacae/ouavaliarsuaseveridade,assimcomoosmédicos, rotineiramente, solicitam creatinina sérica para determi- nar se o paciente tem doença renal ou testes de função he- pática em pacientes com doenças do fígado.” K.L. Baughman, Johns Hopkins A descoberta de uma ligação endocrinológica entre o coração e os rins baseia-se em achados de microscopia ele- trônicaemquecélulasdemúsculoestriadodosátriosdema- míferossediferenciamtantoemcélulascontráteiscomoem célulasendócrinas.Ofatornatriuréticoatrial(FNA),umpep- tídeocirculantecompropriedadesnatriuréticas,diuréticase vasodilatadoras,foidescobertoem1980porA.J.deBold,e considerado, na ocasião, como a ligação hormonal entre o coraçãoeosrins.Desdeentão,umimensonúmerodeinves- tigações multidisciplinares tem sido conduzido para escla- recer o real papel deste peptídeo na patogênese das doen- ças cardiovasculares, na regulação da pressão arterial e na excreção de sal e água. Essas investigações acabaram se tornando um excelente exemplo de pesquisa evoluída da bancada do laboratório à beira do leito do paciente. Hoje, o peptídeonatriuréticotipo-B(PNB)vemgradualelentamen- te se estabelecendo na área clínica. Oobjetivodesteartigoéproveroclínicodeumarevisão atualizadadosprogressosocorridosatéomomento,afimde incluiropeptídeonatriuréticotipo-Bnapráticaclínicadiária. Ospeptídeosnatriuréticos FNA,PNB(tambémchamadodepeptídeonatriurético cerebral),eopeptídeonatriuréticotipoC(PNC)constituem afamíliadospeptídeosnatriuréticos2 .Seupapelprincipalé a participação na homeostase cardiovascular e na modula- ção do crescimento celular. O RNAm de fator natriurético atrialfoiencontradoemmuitostecidos,maséparticularmen- te abundante nos átrios cardíacos. O peptídeo natriurético tipo-Bfoi,primeiramente,isoladodehomogenadosdecére- bro,mastambéméencontradonacirculaçãoperiférica.No entanto, sua maior concentração encontra-se no tecido miocárdico.Tantoofatornatriuréticoatrialcomoopeptídeo natriuréticotipo-Bsãoproduzidos,normalmente,pelascé- lulas de músculo atrial, de onde são liberados. Entretanto, sobcondiçõesatípicas,comoadoençaestruturalmiocárdi- ca, o peptídeo natriurético tipo-B parece ser produzido em maior escala pelos ventrículos3 . Ospeptídeosnatriuréticos,emconjunto,contrabalan- çam os efeitos do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA).AsconcentraçõesplasmáticasdeFNAepeptídeo natriurético tipo-B aumentam em resposta à distensão do tecido atrial e parecem ser antagonistas dos efeitos da an- giotensinaIInotônusvascular,nasecreçãodealdosterona, nareabsorçãodesódioenocrescimentocelularvascular.O peptídio natriurético tipo-C é encontrado, predominante- mente, no cérebro e em células endoteliais e as concentra- çõesnoplasmasãomuitobaixas4 .Poristo,ospeptídeosna- triuréticosmaisamplamenteestudadosemdoençascardio- vasculares são FNA e peptídeo natriurético tipo-B (fig. 1). Peptídeonatriuréticotipo-Bcomo ferramentadiagnóstica Opeptídeonatriuréticotipo-Btem-semostradocomo uma ferramenta diagnóstica confiável na sala de emergên- cia,comotestederastreamentoparapacientescomqueixas de dispnéia. Davis e cols.5 , após medirem fator natriurético atrial e peptídeo natriurético tipo-B em 52 pacientes com dispnéia nasaladeemergência,demonstraramqueopeptídeonatriu- rético tipo-B plasmático à admissão indicou o diagnóstico corretocommaisacuráciaqueafraçãodeejeçãodoventrí- culoesquerdoeofatornatriuréticoatrial.Daoecols.6 medi- ram o peptídeo natriurético tipo-B em 250 pacientes que se apresentaramàsaladeemergênciacomdispnéia,comoprin-
  • 2. 530 Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. 1- Especifidade (%) cipal queixa, e encontraram uma significativa discrepância entre os valores de peptídeo natriurético tipo-B em pacien- tescomesemodiagnósticodeinsuficiênciacardíaca.Nes- se estudo, peptídeo natriurético tipo-B, no valor de 80pg/ ml,foialtamentesensíveleespecíficoparaodiagnósticode insuficiência cardíaca. O valor preditivo negativo de um peptídeonatriuréticotipo-B<80pg/mlfoide98%,excluindo insuficiênciacardíaca(fig.2). Maisrecentemente,Harrisonecols.7 investigaramseo peptídeonatriuréticotipo-Bdepacientesquechegamàsala deemergênciacomdispnéiaaguda,poderiaserumpreditor de futuros eventos cardíacos. Esses autores relataram que umpeptídeonatriuréticotipo-B>480pg/mlteriasensibilida- dede68%,especificidadede88%eacuráciadiagnósticade 85% em predizer subsequente desfecho de insuficiência cardíacaem6meses.Poroutrolado,pacientescompeptídeo natriuréticotipo-B<230pg/mlapresentavam,nomesmope- ríodo, excelente prognóstico com incidência de insuficiên- cia cardíaca de apenas 2.5%. Finalmente, os autores con- cluíram que, nessa população de pacientes com dispnéia aguda,osvaloresdepeptídeonatriuréticotipo-Bpoderiam ser altamente preditivos de eventos cardíacos em 6 meses. Umgrandeensaioclínicomulticêntrico,recentemente completado,examinou1586pacientescomdispnéiaaguda para testar a capacidade do peptídeo natriurético tipo-B de diferenciarpacientescominsuficiênciacardíacadepacien- tescomoutrascausasdefaltadear. Os resultados finais de- monstraramquepeptídeonatriuréticotipo-Bteveboaespe- cificidadeealtovalorpreditivonegativoparaexcluirodiag- nósticodeinsuficiênciacardíaca,comumaáreasobacurva ROC (receiver operating characteristic) de 0.91. O estudo tambémconfirmouaassociaçãoentreosníveisplasmáticos depeptídeonatriuréticotipo-Beaseveridadedeinsuficiên- cia cardíaca, segundo a classificação funcional da New York Heart Association (NYHA) (fig. 3). O mesmo estudo demonstrou que uma simples medida de peptídeo natriuré- ticotipo-Beramaisacuradaparaodiagnósticodeinsuficiên- cia cardíaca que os critérios de Framingham deinsuficiên- ciacardíacaeaescaladoExameNacionaldeSaúdeeNutri- ção nos Estados Unidos (National Health and Nutrition Examination - NHANES)8 . CurvasROCsugeremqueumpontodecortedepeptí- deonatriuréticotipo-Bem100pg/mlconfereumarazoável habilidade de discernir pacientes com ou sem insuficiência cardíaca, com uma sensibilidade de 90%, uma especifici- dadede76%eumaacuráciade83% 9 . Peptídeonatriuréticotipo-Beodiagnóstico dedisfunçãodiastólica Estima-se que 40 a 50% dos pacientes com diagnósti- co de insuficiência cardíaca têm função sistólica preserva- da,implicandoemdisfunçãodiastólicacomoodiagnóstico mais provável para essa condição. A prevalência de insufi- ciência cardíaca por disfunção diastólica aumenta com a idade, com uma incidência aproximada de 15 a 25% em pacientes com menos de 60 anos, 35 a 40% naqueles entre 60e70anose50%nosacimade70anos10 .Odiagnósticode insuficiência cardíaca por disfunção diastólica geralmente não pode ser distinguido de disfunção sistólica, apenas por meiodehistóriaeexamefísico,radiografiadetóraxeeletro- cardiograma11 .Clinicamente,odiagnósticodedesempenho diastólicoanormalébaseadoemexclusões,comoporexem- Fig. 3 - Relação entre peptídeo natriurético tipo-B e severidade de insuficiência car- díaca estimada pela classificação funcional de New York Heart Association. (Copyright Biosite Diagnostics, 2001) Suave Moderado (Limitação leve de atividade física) Moderado (Limitação acentuada de atividade física) Grave NívelmédiodeBNP Fig. 2 - Curvas ROC (Receiver operated characteristics) para o peptídeo natriurético tipo-B e para o diagnóstico clínico de insuficiência cardíaca na sala de emergência. (Adaptado de Dao e cols.6 ) Sensibilidade(%) IC PNB 0,9790 SEdiagnóstico 0,884 Fig. 1 - A família dos peptídeos natriuréticos. (Copyright Biosite Diagnostics, 2001) PeptídeosNatriuréticos
  • 3. Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares 531 plo ausência de disfunção sistólica em pacientes com insu- ficiênciacardíaca. Krishnaswamy e cols.12 estudaram a utilidade do pep- tídeo natriurético tipo-B em diagnosticar disfunção diastó- lica,alémdapresençadedisfunçãosistólica.Asmedidasda fraçãodeejeçãoforamavaliadasem400pacientes.Em147,a função ventricular foi considerada normal e os níveis de peptídeo natriurético tipo-B baixos, de 30 ± 36pg/ml, en- quanto naqueles com disfunção sistólica o peptídeo natriu- rético tipo-B foi de 416 ± 413pg/ml. Pacientes com função sistólicapreservada,mascomdisfunçãodiastólica,tiveram valores de 391 ± 89pg/ml (p<0.001 comparados aos nor- mais). A área sob a curva ROC para o peptídeo natriurético tipo-B detectar disfunção diastólica à ecocardiografia em pacientescominsuficiênciacardíacaefunçãosistólicanor- malfoide0.958eparadetectarqualqueranormalidadeeco- cardiográficade0.9512 .Outrosautorestêmtambémrelatado níveiselevadosdepeptídeonatriuréticotipo-Bempresença de disfunção diastólica13,14 . Maisrecentemente,Lubienecols.15 estudaram294pa- cientes encaminhados para avaliação da função ventricular pelaecocardiografia,afimdediferenciarosváriospadrõesde enchimento ventricular esquerdo detectados pelas leituras de Doppler em indivíduos com função sistólica normal. Fo- ram excluídos pacientes com disfunção sistólica. Pacientes diagnosticadoscomqualquerevidênciadedisfunçãodiastó- licativeramconcentraçãodepeptídeonatriuréticotipo-Bde 286 ± 31pg/ml, enquanto aqueles com ventrículo esquerdo normaltiverampeptídeonatriuréticotipo-Bde33±3pg/ml. Pacientescompadrãodeenchimentotiporestritivoàecocar- diografia apresentaram os mais altos níveis de peptídeo na- triurético tipo-B (408 ± 66pg/ml) e os sintomáticos tiveram seus níveis mais altos que todos os padrões de enchimento diastólico (fig. 4). A área abaixo da curva ROC do peptídeo natriuréticotipo-Bparadetectarqualquerdisfunçãodiastólica empacientescomfunçãosistólicanormalfoide0,92(IC95% 0,87a0.95;p<0.001).Essefoioprimeiroestudoemavaliaros diferentes padrões de enchimento ventricular esquerdo à ecocardiografiacomDopplereconcluirqueumteste-rápido depeptídeonatriuréticotipo-Bpodedetectarcomconfiabili- dade a presença de anormalidades diastólicas. Esses estudos concluíram, todavia, que os níveis de peptídeo natriurético tipo-B, isoladamente, não podem di- ferenciar entre disfunção sistólica e diastólica e que um peptídeo natriurético tipo-B normal, num contexto de fun- ção sistólica normal, pode provavelmente descartar disfunção diastólica clinicamente significativa. De fato, paraalgunspacientes,oachadodeumpeptídeonatriurético tipo-B normal pode dispensar a realização da ecocardiografia.Empacientescomfunçãosistólicanormal eevidênciaclínicadeinsuficiênciacardíaca,umníveleleva- dodepeptídeonatriuréticotipo-Bpodesubstanciarodiag- nóstico de disfunção diastólica. Peptídeonatriuréticotipo-Bemonitorização hemodinâmicanainsuficiênciacardíaca Oexamefísicotemdemonstradolimitadaconfiabilida- deparaindicaroperfilhemodinâmicodepacientescominsu- ficiência cardíaca crônica16,17 . Um número de publicações temsugeridoquea“vasodilataçãootimizada”,comoobje- tivodenormalizaraspressõesdeenchimentoventriculares- querdo e a resistência vascular sistêmica em pacientes com insuficiênciacardíacaeventrículodilatado,resultamemum melhor desfecho que o tratamento empírico18,19 . Stevenson ecols.18 demonstraram,hámaisdeumadécada,quepacien- tescominsuficiênciacardíacaseveraemlistadeesperapara transplante e capazes de responder à terapia otimizada, ti- nhamumamortalidade,de38%,em1ano,enquantoqueos que não respondiam tinham uma mortalidade de 83%, no mesmo período. Os benefícios da terapia otimizada com o auxíliodocateterdeSwanGanzresidenanoçãodequeredu- zir as pressões de enchimento ventricular para próximo do normal leva ao débito cardíaco ideal18 , o que pode ocorrer não somente devido à redução da insuficiência mitral, co- mumenteencontradanessespacientes,mastambémpordi- minuiroconsumodeoxigêniodomiocárdio. Entretanto, a abordagem da “vasodilatação otimiza- da” requer os cuidados de uma internação hospitalar em ambientedetratamentointensivoeumprocedimentoinva- sivo para a inserção do cateter de Swan Ganz. Um simples examedesangue,confiávelemcorrelacionarcomasaltera- çõesdapressãodeenchimentoventricularesquerdoduran- teomanejodainsuficiênciacardíaca,seriadegrandevalia. Concentrações plasmáticas de peptídeo natriurético tipo-B não apenas refletem pressão de enchimento ventri- cular20 , como também estão fortemente correlacionadas às mudanças da pressão capilar pulmonar durante a hospitali- zação (r=0.73, p<0.05)21 . Pacientes que falharam à terapia comvasodilataçãootimizadapuderamseridentificadospor meio de medidas de peptídeo natriurético tipo-B e eram, mais provavelmente, readmitidos21 . Assim sendo, o peptí- deonatriuréticotipo-Bpodeserummeioefetivodemelho- raromanejointra-hospitalardepacientescominsuficiência cardíacasevera,bemcomopermitirapossibilidadedeuma “terapiaotimizadaambulatorial”,dispensandooauxíliodo cateterdeSwanGanz. Peptídeonatriuréticotipo-Befibrilaçãoatrial Fibrilaçaoatrialéumadoençafreqüenteentreidosose/ ou pacientes com insuficiência cardíaca. É sabido que o Fig. 4 - Níveis de peptídeo natriurético tipo-B em pacientes com função ventricular normal à ecocardiografia e com disfunção distólica. Dados estão expressos como média±erropadrão(A)emédialogarítmica(B).Ambossignificativascomp<0.001. (Adaptado de Lubien e cols.15 ) Disfunção distólica A. B. PNB(pg/ml) P<0,001 Função Normal P<0,001 Função Normal Disfunção distólica 400 300 200 100 0 LogPNB(pg/ml) 1000 100 10 1
  • 4. 532 Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. peptídeonatriuréticotipo-Béumaferramentanãoinvasiva, seguramentecorrelacionadacompressãodiastólicafinaldo ventrículo esquerdo, sendo de fato um marcador de disten- são miocárdica22 . Estudos têm demonstrado que fibrilação atrial é um determinante independente de aumento dos ní- veisdefatornatriuréticoatrial3 .Emboraopeptídeonatriuré- ticotipo-Be,particularmente,ofatornatriuréticoatrial,este- jam supostamente elevados em pacientes com fibrilação atrialcomousemdisfunçãoventricular,temsidodemonstra- do que ambos os peptídeos tendem a diminuir após cardio- versão elétrica bem sucedida23 . A duração da fibrilação atrialtambémpodeterimportânciaempacientescominsufi- ciência cardíaca avançada, quanto mais longa a fibrilação atrialmenoresosníveisdefatornatriuréticoatrial24 .Outros autores têm demonstrado que, em pacientes com fibrilação atrial, o peptídeo natriurético tipo-B está aumentado e o miocárdio atrial considerado como fonte da sua produ- ção25 .Outraevidênciadacorrelaçãoentrearritmias,envol- vendodissincroniaatrioventriculareníveisdepeptídeona- triuréticotipo-B,temorigememumestudoquedemonstrou níveisdepeptídeonatriuréticotipo-Bmaiselevadosempa- cientes com marcapasso em modo VVI do que aqueles em modos DDD ou AAI26 .Após a cardioversão atrial, o peptí- deonatriuréticotipo-Bdiminuigradualmente23 . Peptídeonatriuréticotipo-Becardiopatia isquêmica Umnúmerosignificativodeestudostemdemonstrado que após infarto agudo do miocárdio, um elevado nível de peptídeo natriurético tipo-B está associado a infartos mais extensos27 , maior chance de remodelamento ventricular 28 , menor fração de ejeção29 e um maior risco de insuficiência cardíacaemorte30 . Mais recentemente, peptídeo natriurético tipo-B foi avaliado em todo o espectro das síndromes coronarianas agudas (SCA). Uma análise de subgrupos do estudo OPUS TIMI 16 revelou que níveis mais elevados de peptídeo na- triurético tipo-B estavam associados com estenoses coro- narianas>50%ecomtestesdeesforçopositivo(p<0,001)31 . DeLemosecols.32 relataramque,numcontextodesín- dromecoronarianaaguda,umnívelinicialelevadodepeptí- deo natriurético tipo-B esteve correlacionado com o risco demorte,insuficiênciacardíacaouinfartodomiocárdioem 30 dias e 10 meses. Essa associação persistiu significativa em subgrupos de pacientes que apresentavam infarto agu- docomelevaçãodesegmentoST(p<0,02),infartosemele- vaçãodeST(p<0,001)ouanginainstável(p<0,001).Osso- breviventes tinham um peptídeo natriurético tipo-B médio de 80pg/ml e os pacientes que morreram dentro de 30 dias apósoinfartoinicialtinhamumpeptídeonatriuréticotipo-B médio de 153pg/ml (p<0,001). Esses achados foram inde- pendentes dos níveis de troponina, idade, presença ou au- sênciadeinsuficiênciacardíaca,insuficiênciarenaloualte- ração de segmento ST.Osautoresconcluíramqueumame- didaisoladadepeptídeonatriuréticotipo-B,obtidanospri- meiros dias após o início de sintomas isquêmicos, teve po- der preditivo para ser usado na estratificação de risco de pacientes em todo o espectro das síndromes coronarianas agudas.Aativaçãoneurohormonalcardíacapodeserinfor- mação chave entre pacientes com alto risco de mortalidade após síndromes coronarianas agudas. Peptídeonatriuréticotipo-Bemprocedimen- tosintervencionistasesíndromescoronaria- nas agudas. Peptídeo natriurético tipo-B também pode ser testado no contexto das intervenções coronarianas percutâneas. Elevados níveis de peptídeo natriurético tipo-B foram en- contrados durante e imediatamente após angioplastia por balão, retornando à linha de base logo após o procedimen- to33 .Comoconseqüência,peptídeonatriuréticotipo-Bcres- ceemrespostaaoaumentodapressãoventricularesquerda secundáriaàisquemiamiocárdicatransitóriaprovocadapela angioplastia. A fim de confirmar esse suposto mecanismo, Tateishiecols.34 estudaramumgrupodepacientessubmeti- dos a cinecoronariografia diagnóstica e compararam com outrogruposubmetidoaintervençõescoronarianas.Embo- ranenhumaalteraçãohemodinâmicatenhasidoobservada, antes e depois do procedimento, o peptídeo natriurético tipo-B plasmático esteve aumentado apenas no grupo dos pacientes submetidos à intervenção coronariana. Conside- rando esse resultado, o peptídeo natriurético tipo-B estaria possivelmentedetectandomínimasalteraçõeshemodinâmi- cassecundáriasàisquemiainduzidapelobalãoque,naver- dade, são indetectáveis pelas medidas hemodinâmicas convencionais.Amedidadavariaçãodopeptídeonatriuré- tico tipo-B durante angioplastia coronariana pode vir a ser ummarcadorbioquímicoparaindicarquantodomiocárdio isquêmicoencontra-seemriscodistalmenteàlesãocorona- riana em questão. Finalmente,deacordocomosresultadosjámenciona- dos,níveisséricosdepeptídeonatriuréticotipo-Bforamde- finitivamente associados com risco aumentado de eventos cardíacos em 450 pacientes que apresentavam uma síndro- me coronariana aguda. Em abordagem de estratificação de risco,baseadaemmúltiplosmarcadoresparaasíndromeco- ronariana aguda, o peptídeo natriurético tipo-B demons- trouadicionarinformaçãoprognósticaindependentemente dos outros marcadores35 . Peptídeonatriuréticotipo-Bediabetesmellitus Ébemconhecidoquepacientesdiabéticostêmumris- co aumentado de cardiopatia isquêmica e uma maior inci- dência de insuficiência cardíaca. Têm também uma maior prevalência tanto de disfunção sistólica como de diastólica do ventrículo esquerdo36 . Essas anormalidades são fre- qüentementeassintomáticas,particularmenteempacientes diabéticos, embora possam ser tratadas com terapêuticas deeficáciacomprovada,comoinibidoresdaenzimaconver- sora de angiotensina e betabloquadores37 . Apesardaecocardiografiaseroprimeiroexameparao
  • 5. Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares 533 diagnóstico de disfunção ventricular esquerda, ela tem sig- nificativaslimitaçõesnospacientesdiabéticos:nãoépron- tamentedisponívelemclínicasparadiabéticos,éusualmen- te reservada para pacientes sintomáticos e é de alto custo para teste de rastreamento, especialmente em pacientes as- sintomáticos. Entretanto, a identificação de pacientes dia- béticoscomdisfunçãoventricularesquerdaéextremamente importante. Para fins de testar a hipótese de que o peptídeo natriurético tipo-B serviria como teste de rastreamento em pacientes diabéticos para a identificação de disfunção ven- tricular,Maiselecols.38 estudaram111pacientesdiabéticos encaminhados para ecocardiografia no Sistema de Saúde dos Veteranos de San Diego. Nos pacientes com função ventricular normal, peptídeo natriurético tipo-B foi de 39 ± 8pg/ml, significativamente inferior aos pacientes com dis- função ventricular esquerda nos quais o peptídeo natriuré- ticotipo-Bfoide379±138pg/ml,ouempacientescomdis- função diastólica, onde foi de 479 ± 106pg/ml. Pacientes comdisfunçãosistólicaediastólicaapresentaramníveisde peptídeonatriuréticotipo-Bde958±169pg/ml.Aáreasoba curva ROC demonstrando a sensibilidade e especificidade dopeptídeonatriuréticotipo-Bcontraodiagnósticoecocar- diográficofoide0,953,concluindoqueumtesterápidoesim- ples, como o peptídeo natriurético tipo-B, pode ser empre- gado para rastrear de maneira confiável a presença ou au- sência de disfunção ventricular em pacientes diabéticos, especialmente para detectar disfunção ventricular precoce em pacientes assintomáticos. Peptídeonatriuréticotipo-Brecombinanteno tratamentodainsuficiênciacardíaca Finalmente, o peptídeo natriurético tipo-B tornou-se umexemplodepesquisaevoluídadabancadadolaboratório àbeiradoleito.Colucciecols.39 conduziramumensaio-clí- nico randomizado para investigar o uso clínico de infusão intravenosa de nesiritide, um peptídeo natriurético tipo-B recombinante,empacientescominsuficiênciacardíacades- compensada, e demonstraram que o nesiritide é hemodi- namicamentebenéficoemelhorasignificativamenteossin- tomas de insuficiência cardíaca, quando comparado ao placebo. No entanto, quando comparado ao tratamento convencional(comumagentevasoativocomumenteempre- gadoparatratamentoacurtoprazodeinsuficiênciacardíaca descompensada,comoadobutamina,milrinona,nitroglice- rinaounitroprussiatodesódio),nenhumadiferençasignifi- cativa nos sintomas foi encontrada entre os grupos. Os au- tores concluiram que nesiritide é uma alternativa segura e uma importante associação ao tratamento inicial dos paci- entes com insuficiência cardíaca descompensada. Conclusão O peptídeo natriurético tipo-B é um neurohormônio sintetizadonomiocárdioatrialeventriculareumindicador de pressões intracardíacas aumentadas. Pode estar aumen- tado devido a uma variedade de doenças cardíacas estrutu- rais,comoinsuficiênciacardíaca,disfunçãosistólicaoudias- tólica,fibrilaçãoatrial,isquemiaagudaouanormalidadeval- vular significativa. Neste sentido, o valor do peptídeo na- triuréticotipo-Bresidenoseuelevadovalorpreditivonega- tivo (≈ 96%). No entanto, o peptídeo natriurético tipo-B vem se tornando: um teste de rastreamento para solicita- ções de ecocardiografia, independentemente da razão para o procedimento; uma ferramenta útil e confiável no diag- nósticoeavaliaçãodaseveridadedainsuficiênciacardíaca nasaladeemergência;umpotencialmarcadorparamonito- rizaçãohemodinâmicaempacientescominsuficiênciacar- díaca severa; um marcador prognóstico em pacientes que sofreramuminfartoagudodomiocárdio. Muitas outras aplicações estão ainda sob investiga- ção e alguns autores ousam comparar a utilidade do peptí- deo natriurético tipo-B para doenças cardiovasculares ao papeldacreatininaparapacientescomdoençarenal.Opep- tídeo natriurético tipo-B intravenoso, como uma interven- ção terapêutica, demonstrou-se tão efetivo quanto outras terapias convencionais. 1. DeBoldAJ,BorensteinHB,VeressAT,SonnenbergH.Arapidandpotentnatriu- reticresponsetointravenousinjectionofatrialmyocardialextractinrats.LifeSci 1981; 28:89-94. 2. 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  • 6. 534 Beck da Silva e cols Peptídeo natriurético tipo-B e doenças cardiovasculares Arq Bras Cardiol 2003; 81: 529-34. retic peptide in patients with isolated diastolic dysfunction. Am Heart J 1994; 127:1635-6. 14. YamamotoK,BurnettJC,JougasakiM,etal.Superiorityofbrainnatriureticpep- tide as a hormonal marker of ventricular systolic and diastolic dysfunction and ventricular hypertrophy. Hypertension 1996; 28:988-94. 15. Lubien E, DeMaria A, Krishnaswamy P, et al. Utility of B-natriuretic peptide in detecting diastolic dysfunction: comparison with Doppler velocity recordings. Circulation 2002; 105:595-601. 16. Stevenson LW, Perloff JK. The limited reliability of physical signs for estimating hemodynamics in chronic heart failure. JAMA 1989; 261:884-8. 17. RohdeLE,SilvaNetoLB,LimaMP,etal.Accuracyofclinicalfindingstodetermine hemodynamic status in outpatients with heart failure. J Card Fail 2001; 7:99 18. Stevenson LW, Tillisch JH, Hamilton M, et al. 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