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      O novo mainstream da música
      regional: axé, brega, reggae e
       forró eletrônico no Nordeste
                                           Felipe Trotta e Márcio Monteiro

                                                                      1 Introdução                                         1/15
      Resumo
      Partindo de uma reflexão acerca da conceituação                 As novas configurações tecnológicas ligadas à
      de música independente, este artigo busca                       produção e ao consumo de música têm produzido
      caracterizar parte da produção musical do
                                                                      uma aguda complexificação no mercado musical.




                                                                                                                           Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
      Nordeste brasileiro como um novo mainstream
      regional. Com circulação expressiva na região,                  Se, por um lado, é possível constatar uma
      a música de alguns gêneros como axé, brega,
      reggae e sobretudo o chamado forró eletrônico
                                                                      progressiva perda de valor da música gravada
      alcança índices de consagração comercial que                    (Herschmann, 2007), por outro, podemos
      ultrapassam estética e quantitativamente os
                                                                      notar que estratégias alternativas de distribuição
      limites da classificação independente. Assim, vê-se
      nestas práticas musicais um conjunto de valores e               de fonogramas têm obtido razoável êxito na
      símbolos associados ao público jovem que, girando
                                                                      diversificação de ofertas musicais disponíveis,
      em torno das idéias de festa-amor-sexo consegue
      grande projeção no mercado musical.                             potencializando um mercado de “nichos” que
      Palavras-chave                                                  passa a competir com o mercado de “massa”
      Mercado de música. Música popular. Forró.
      Independentes.                                                  (Anderson, 2006).

                                                                      Esses “nichos” formam uma rede complexa de
                                                                      tendências e estilos musicais, dispersos em
                                                                      vários gêneros e regiões do planeta. Em virtude
                                                                      das facilidades tecnológicas promovidas pela
                                                                      digitalização, alcançam circulação mundial ou
                                                                      local, e tornam comercialmente viáveis universos
Felipe Trotta | trotta.felipe@gmail.com
                                                                      culturais com públicos numericamente reduzidos.
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ. Professor do Departamento de Comunicação Social       Nos debates sobre essa nova configuração
da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – e do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da UFPE.                                 mercadológica, pode-se perceber uma ênfase na

Márcio Monteiro | themarcmont@hotmail.com                             abordagem de fenômenos musicais notadamente
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE.        periféricos e de baixo grau de circulação que,
www.e-compos.org.br
                                                                                                              | E-ISSN 1808-2599 |


de fato, têm demonstrado o alcance do novo                         de “independente” demonstra-se incapaz de
mercado musical. Casos de bandas que obtiveram                     absorver adequadamente sua extensão. Casos
sucesso comercial a partir de estratégias de                       como o do forró cearense, do brega do Pará e
disponibilização gratuita de músicas na Internet                   do reggae no Maranhão são exemplos de um
(como Bonde do Role e Cansei de Ser Sexy) têm                      mercado de música movido a novas tecnologias
sido mencionados com freqüência nos diversos                       que têm efetivamente alterado o alcance do
fóruns que discutem o fenômeno1. Outros,                           próprio mainstream da música (historicamente
menos famosos, conseguem razoável projeção                         protagonizado pelos grandes conglomerados
mercadológica e parecem continuamente                              internacionais). Alijadas de uma legitimidade
atestar o grande potencial de democratização                       estética avalizada pela crítica musical, essas                   2/15

que a atual rede tecnológica tem possibilitado.                    músicas agregam dezenas de milhares de
Assim, a discussão sobre o novo mercado                            pessoas semanalmente, utilizando uma estrutura
musical está intimamente ligada ao universo                        empresarial que dialoga com as esferas




                                                                                                                                    Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
da chamada música “independente”, termo                            consagradas de difusão musical, como o rádio,
vago o suficiente para abarcar artistas e grupos                   mas que têm seu alcance amplificado através de
bastante diferentes esteticamente, unidos por                      um inusitado conjunto de dispositivos comerciais,
uma certa posição periférica no mercado – seja                     substancialmente diferentes dos empregados
como estratégia política consciente ou como                        pelos chamados independentes. Pode-se pensar
contingência profissional.                                         aqui em um conjunto de práticas musicais cuja
                                                                   enorme penetração comercial em algumas
No entanto, o que nos parece mais instigante –
                                                                   regiões configura não apenas um segmento
ainda carente de discussão teórica apropriada – é
                                                                   lucrativo desse mercado independente, mas um
precisamente a emergência de novos atores do
                                                                   novo mainstream do mercado musical.
mercado de música que estão ocupando não os
espaços periféricos ou as “brechas” do mercado,
                                                                   2 Entre majors e indies
mas posições hegemônicas na circulação
                                                                   A caracterização de um novo mainstream requer
musical. Bandas ligadas a determinados
                                                                   uma investigação mais cuidadosa do vocábulo
gêneros musicais no Norte e no Nordeste
                                                                   e suas implicações estéticas e comerciais. Em
brasileiro têm conquistado determinados
                                                                   primeiro lugar, devemos destacar que o termo
níveis de circulação que a antiga classificação

1 No último biênio pudemos participar de diversos encontros e debates sobre o mercado de música atual tais como os promovidos
pela Feira da Música – Brasil, o Festival Coquetel Molotov, o Pré-Acorde Brasileiro e a Plataforma Integrada de Estudos Culturais
(Festival de Inverno de Garanhuns), todos no estado de Pernambuco, além de diversos de fóruns na internet onde o tema aparece
em destaque em lugares como o blog Overmundo e as listas de discussão da IASPM-LA (International Association of Study of
Popular Music) e da Agenda do Samba-Choro, entre outros.
www.e-compos.org.br
                                                                                      | E-ISSN 1808-2599 |


– cuja tradução literal seria algo como “fluxo     século XX estágios intermediários de consagração
principal” – deriva do surgimento do que poderia   comercial, estabelecendo um universo amplo
ser chamado de um “contra-mainstream”: a           de classificação baseado na quantidade de
música “independente”. Em ambos os casos, está     discos vendidos, que representou durante todas
em jogo aqui a conceituação de uma relação,        as décadas um índice seguro para classificar
isto é, um conjunto de posições e tomadas de       a popularidade de artistas, canções, discos e
posições pelos agentes de um determinado           empresas no mercado.
universo simbólico e profissional, negociando
                                                   Por outro lado, tal índice permitiu também
espaços privilegiados de prestígio e poder
                                                   o surgimento de estratégias de “resistência”
(BOURDIEU, 1989).                                                                                     3/15
                                                   desenvolvidas por atores situados em setores
Durante todo o século XX, o “mercado de música”    periféricos desse mercado aos modelos
se confundiu com o mercado de “discos”. Desde      comerciais e estéticos das “grandes”. É quando,




                                                                                                      Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
sua organização no início da década de 1900,       por volta da década de 1970, surge o fenômeno
as gravadoras sempre dispuseram de catálogos       dos artistas independentes, que se organizariam
de discos com graus variados de vendagens. A       posteriormente em “gravadoras independentes”,
circulação de músicas pela sociedade teve como     buscando comercializar seu repertório através
principais protagonistas grandes empresas          da ocupação de espaços reduzidos de mercado,
transnacionais do ramo do entretenimento,          não contemplados pela música produzida nas
responsáveis pela maioria das ofertas de           grandes gravadoras.
produtos musicais em todos os cantos do planeta.
                                                   De acordo com o Vocabulário de Música Pop,
O mercado de música, então, passou a ser
                                                   de Roy Shuker, o termo independente refere-se
dividido comercialmente a partir dos números
                                                   às gravadoras independentes, pequenos selos
alcançados por cada artista e disco. Vendas mais
                                                   com relativa autonomia no processo produtivo
expressivas representavam ambientes musicais,
                                                   e criativo, contratação e promoção dos artistas.
artistas e músicas com maior projeção e,
                                                   É o oposto do que acontece, segundo o autor, na
conseqüentemente, mais importância econômica
                                                   grande indústria do disco, em que cada etapa
e comercial. No extremo oposto, discos com
                                                   da produção teria sido previamente planejada,
vendagem baixa, “encalhados” nas prateleiras e
                                                   e o artista não possuiria nenhuma autonomia
estoques, seriam classificados como “fracassos”,
                                                   (SHUKER, 1999, p. 172) Trata-se, aqui, de
implicando um julgamento de valor negativo
                                                   uma relação de oposição entre empresas. As
sob o ponto de vista financeiro. Entre o sucesso
                                                   “independentes” operam “fora do âmbito das
e o fracasso de vendas, dezenas (ou centenas?
                                                   grandes gravadoras ou das redes nacionais de
Milhares?) de artistas ocuparam durante todo o
www.e-compos.org.br
                                                                                       | E-ISSN 1808-2599 |


mídia” (VICENTE, 2006, p. 11). Mas a oposição       caracteriza-se como uma peça de resistência
estende-se ao universo estético, opondo             ao poderio das multinacionais do disco,
músicas produzidas pela grande indústria e          protagonizada por artistas com pouca visibilidade
músicas produzidas do lado de fora dessas           mercadológica. Ocorre que tal atitude deixou de
organizações. A distância relativa que os           ser uma aventura heróica realizada por alguns
artistas conseguem manter do modo de                agitadores culturais para se tornar uma espécie
operação e dos “tentáculos” das majors seria        de prática produtiva de setores alijados do
um indicativo de seu grau de “independência”.       circuito musical hegemônico. Assim, nas últimas
                                                    décadas do século XX surge no mundo inteiro
A partir desse modelo de pensamento de forte
                                                    um intenso movimento de “independentes” que         4/15
inspiração adorniana, seria possível identificar
                                                    progressivamente se institucionaliza em redes e
diversos níveis de “dependência”, desde o artista
                                                    empresas de colaboração mútua e de competição
completamente autônomo (como o caso do
                                                    recíproca, muitas vezes desigual. Não deixa de




                                                                                                        Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
comentado LP do instrumentista e compositor
                                                    ser irônico o fato das duas maiores gravadoras
Antonio Adolfo, sugestivamente intitulado Feito
                                                    “independentes” do Brasil (Trama e Biscoito
em Casa, lançado em 1977) até o lançamento
                                                    Fino), com posições de chefia na celebrada
das grandes gravadoras, inteiramente moldados
                                                    Associação Brasileira de Música Independente
segundo as necessidades comerciais (como
                                                    (ABMI), terem sido montadas e financiadas
os grupos teen Menudo, Balão Mágico, Rouge,
                                                    com capital especulativo de grandes grupos do
High School Musical, entre tantos outros).
                                                    sistema bancário nacional (respectivamente o
Nesse sentido, é possível pensar numa
                                                    Grupo Szajman e o Banco Icatu).
gradação, onde etapas intermediárias de (in)
dependência corresponderiam a produtos nos          Essa configuração multifacetada do setor
quais os artistas poderiam manter relações          “independente” tem levado alguns autores
de colaboração e complementaridade com o            a estabelecer distinções entre produção
produtor fonográfico (VAZ, 1988).                   independente e produção autônoma. De
                                                    acordo com Leonardo De Marchi, as produções
A questão da autonomia assume, assim, uma
                                                    autônomas “são caracterizadas pela ação de
grande importância. Toda a conceituação da
                                                    determinados empreendedores que tomam
música independente deriva da idéia de que as
                                                    uma iniciativa isolada de produzir discos sem
grandes corporações – as “majors” – operam
                                                    estabelecer um circuito alternativo de produção
a partir de imposições estéticas ao artista,
                                                    fonográfica potencialmente utilizável por
limitando sua liberdade criadora em benefício
                                                    outros empreendimentos” (DE MARCHI, 2005,
do mercado. Assim, a atitude independente
                                                    p. 04). Nesse segmento, seria possível incluir
www.e-compos.org.br
                                                                                        | E-ISSN 1808-2599 |


os “independentes” heróicos da década de             valoração através da autonomia seja altamente
1970 e alguns artistas propriamente marginais        problemática e com parcas possibilidades de
no mercado atual. No entanto, a música               resistir à análise dos mecanismos de produção
independente institucionalizada atual celebra        musical – tanto das majors quanto das “indies” –
modos de operação bastante semelhantes aos da        trata-se de um critério valorativo-argumentativo
grande indústria transnacional, apenas revestida     que funciona de forma incrivelmente uniforme
de uma apregoada legitimidade estética, derivada     nos ambientes multifacetados da chamada
de sua vinculação à noção de autonomia artística.    música “independente”.
Ser independente atualmente é simplesmente
                                                     Com uma reflexão instigante sobre a oposição
gozar de certa liberdade estética, não                                                                  5/15
                                                     estabelecida entre mainstream e underground,
necessariamente dissociada do poderio financeiro
                                                     Janotti Jr. e Cardoso (2006) argumentam
das majors nem das “grandes indies”. A relação
                                                     que tal diferenciação deriva do “grau de
entre as esferas tornou-se tão estreita que alguns




                                                                                                        Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
                                                     distanciamento entre as condições de produção
autores têm apontado sua complementaridade
                                                     e reconhecimento identificados no produto” (p.
como modo de funcionamento de todo o sistema
                                                     19). Assim, produtos musicais concebidos para
(DIAS 2000; HERSCHMANN 2007). Além disso,
                                                     uma circulação massiva seriam marcados por
é possível constatar que as ofertas musicais de
                                                     uma distância significativa entre o seu ambiente
muitas das chamadas independentes manifestam
                                                     de produção e de consumo, que caracterizaria
forte tendência de recorrer a modelos
                                                     sua consagração estética e comercial. Por
previamente consagrados, ousando pouco e
                                                     outro lado, os produtos de circulação restrita –
reiterando a estética lançada pelas majors
                                                     teoricamente com maior grau de “autonomia”
(DIAS, 2000, p. 130).
                                                     – seriam consagrados prioritariamente por
O que se observa é que o panorama da circulação      seus pares, caracterizando uma proximidade
de música pela sociedade estabelece uma              entre produção e consumo nas estratégias de
distinção entre os produtos concebidos no forno      construção de legitimidade e reconhecimento.
das multinacionais e os “outros”, produzidos a       Mainstream e underground seriam, portanto,
partir de lógicas e capitais “independentes” do      “modos diferenciados de conferir valor à
financiamento das “majors”. Nessa distinção,         música e a ideologias de audição específicas
opera uma forte vertente de valoração estética,      que contribuem para o sentido final da canção”
agregando núcleos estilísticos radicalmente          (idem, p. 21). Entretanto, os autores destacam
diversos a partir do compartilhamento hipotético     que ambos representam “estratégias de
de determinado grau de autonomia artística.          posicionamento frente ao mercado”, admitindo
Ainda que se possa argumentar que essa               gradações entre as esferas (idem, p. 19). De
www.e-compos.org.br
                                                                                             | E-ISSN 1808-2599 |


fato, apesar de agudas diferenças em alguns            com canais de difusão radiofônica e uma intensa
mecanismos de aferição de valor e construção de        identificação regional baiana, a axé music se
significados, a inserção quase total das iniciativas   desloca do cenário circunscrito e “independente”
independentes no mercado musical comercial             do carnaval de rua de Salvador para ocupar
e a precária diferenciação visível (e/ou audível)      fatias significativas do mercado de música
em seus mecanismos de produção colocam                 nacional, configurando-se como um dos três
ambas as tendências num mesmo espaço de                principais gêneros musicais do início da década
concorrência mercadológica, reforçando a noção         de 1990 (ao lado do pagode romântico e do
de complementaridade entre elas.                       sertanejo, que também foram iniciados na década
                                                       anterior). A receita dessa mistura pode ser                6/15

3 Estratégias de mercado: a experiência                substancialmente creditada à vinculação estreita

Talvez o carnaval soteropolitano tenha sido o          com o público jovem e com a alegria contagiante

primeiro a moldar estratégias bem sucedidas de         do carnaval, um evento de importância crucial na




                                                                                                                  Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
comercialização de músicas não dependentes             configuração do que identificamos como cultura

das majors, isto é, a alavancar uma pujante cena       brasileira. Suas características de inversão

musical altamente comercial a partir de critérios      da ordem e a dinâmica consentida de vestir

e mecanismos de produção que apontavam                 “fantasias” fornecem elementos simbólicos de

para um outro conjunto de etapas e modos de            grande força expressiva na narração da nação.

financiamento e circulação. A experiência do
                                                                 Se no mundo diário estamos todos limitados
carnaval de rua movido a “trio elétrico” foi um                  pelo dinheiro que se ganha (ou não se ganha),
canal de divulgação de grande alcance para                       pelas leis da sociedade, do mercado, da casa
                                                                 e da família, no carnaval e na fantasia temos
difusão dos artistas da capital baiana, que, com                 a possibilidade do disfarce e da liberação. Há
progressivo apoio estatal, foi se nacionalizando                 a possibilidade de virar onipotente e ser tudo
                                                                 o que se tem vontade. Ora, é precisamente por
no decorrer das décadas de 1960 e 1970, sendo                    estar vivendo num mundo assim constituído,
absorvido com certa naturalidade ao mercado de                   onde as regras do mundo diário estão tempora-
                                                                 riamente de cabeça para baixo, que posso ga-
música “oficial” durante a década de 1980.
                                                                 nhar e realmente sentir uma incrível sensação
                                                                 de liberdade (DAMATTA, 1986, p. 75).
Segundo Goli Guerreiro (2000), o encontro
processado entre os “blocos de trio” (de frevo)        Ao estabelecer o seu público-alvo em torno
e os blocos-afro (de “samba-reggae”) no final da       da figura do jovem, a música carnavalesca se
década de 1980 fez surgir comercialmente um dos        reveste de uma série de simbologias associadas
maiores fenômenos do mainstream da música              a essa faixa etária, numa época da vida em que
nacional: o axé music (p. 133). Numa complexa          as relações sociais festivas são propícias a altas
engrenagem de produção musical articulada              intensidades emotivas e sexuais. Assim, a um
www.e-compos.org.br
                                                                                   | E-ISSN 1808-2599 |


evento de grande apelo corporal (festivo e      elétricas com o frevo pernambucano para a
erótico) e próprio para estabelecimento de      criação de um “frevo novo”) e a inclinação
estados alterados de consciência corresponde    pop das performances dos grupos de axé
uma música de grande intensidade sonora         (associando a alegria e a dança do carnaval
(volumes no máximo, andamento acelerado,        a um conjunto de efeitos e elementos visuais
instrumentos e equipamentos de grande           e sonoros oriundos da música dessa mesma
potência) que molda um ambiente de              música pop) têm como estratégia cultural
saturação característico de uma certa           assumida uma forte tendência à mistura
sensibilidade atual (CARVALHO, 1999), num       cultural – que na modernidade brasileira seria
conjunto de características que colocam a axé   chamada de “antropofágica” –, associando           7/15

music com enorme potencial de veiculação em     acentos regionais e nacionais a elementos
larga escala.                                   característicos dessa “cultura internacional-
                                                popular” (ORTIZ, 1988). Assim, a química entre




                                                                                                   Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
Evidentemente, a transposição de músicas
                                                público jovem, padrões técnicos mundializados
de circulação restritas para o ambiente do
                                                e sotaques reconhecidamente nacionais resulta
mercado hegemônico é um processo natural
                                                numa combinação explosiva e altamente
e previsível, sendo facilmente encontráveis
                                                lucrativa para o mercado musical, tendência
inúmeros exemplos em toda a história da
                                                que seria repetida em dezenas de outras
fonografia. Esse caso ilustra muito bem a
                                                músicas ouvidas nos últimas duas décadas.
relação de complementaridade entre majors e
indies, responsável pelo surgimento de vários   Esse cenário não se resume geograficamente
sucessos do mercado musical durante décadas.    aos limites da capital baiana. Em São Luis, as
No mesmo sentido, a música carnavalesca de      radiolas de reggae se estruturam de maneira
Salvador é importante nesse cenário não por     análoga, reinventando o reggae jamaicano no
representar algum tipo de ruptura com um        estado do Maranhão a partir de um poderoso
modelo de produção sedimentado pelas grandes    mecanismo de experiência musical. Música
indústrias fonográficas durante o século XX,    em alto volume, dança de par, jovens e drogas
mas por chamar a atenção para a força da        (lícitas e ilícitas) estruturam um lucrativo
experiência ao vivo. E também pelo fato de      mercado que gira em torno de “djs, magnatas e
incorporar acentos regionais nacionalizados     regueiros”, num circuito financiado com capital
para determinados padrões técnicos e formais    privado e pessoal, notabilizado pela figura
de produção musical historicamente importados   célebre do DJ e consumido em larga escala em
do âmbito do pop-rock de língua inglesa. Isso   noites de reggae por toda região metropolitana
porque a música dos trios (fundindo guitarras   de São Luis (COSTA, 2007).
www.e-compos.org.br
                                                                                                  | E-ISSN 1808-2599 |


Em Belém, a situação não difere muito. A                       3 Jovem, festa, amor e sexo:
cena musical do “brega” se estrutura a partir                  o forró eletrônico
de polpudas “aparelhagens” que moldam um                       Vamos examinar mais de perto um dos casos mais
mercado musical caracterizado fortemente pela                  significativos do ambiente cultural que se articula
intensidade. O mercado musical do brega tem                    em torno de novos padrões de circulação musical
como eixo central a festa, predominantemente                   massiva. Contrariamente ao exemplo sazonal do
freqüentada por jovens, que buscam nesse                       axé (com exceção dos grandes artistas midiáticos
momento de entretenimento espaço para                          que conseguem exposição durante todo o ano),
afirmar identidades, estabelecer encontros                     à delimitação geográfica do reggae maranhense
amorosos e sexuais, além de experimentarem                                                                           8/15
                                                               (que permanece como uma música local com
certa alteração de consciência.                                restritas possibilidades de nacionalização) ou

Em todos esses exemplos, podemos destacar                      mesmo ao comentado brega do Pará (ainda que
                                                               a cena brega tenha se espalhado por diversos




                                                                                                                     Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
um eixo comum: a ênfase da circulação musical
recai não na música gravada e comercializada                   estados do Nordeste, seu pólo irradiador ainda

em suportes específicos, mas sim na experiência                está estreitamente vinculado à cidade de

musical ao vivo. O encontro sócio-musical baseado              Belém), o caso do “forró eletrônico” representa

fortemente na figura do jovem e agregado a certos              uma espécie de síntese do processo de

gêneros musicais é o vetor de um novo mercado                  construção de um novo mainstream, não mais

regional que vai alcançar público gigantesco e                 vinculado aos corredores das multinacionais do

fiel, configurando uma nova fatia de mercado                   disco nem aos grandes conglomerados de mídia

que segue modelos próprios e que dificilmente                  nacionais e internacionais.

poderia ser classificado como “independente”, de               O mercado alternativo do forró foi inaugurado no
acordo com o conjunto de referenciais que têm                  início dos anos 1990 pela banda cearense Mastruz
sido associados a essa classificação.                          com Leite, organizada pelo empresário Emanoel

Pode-se pensar aqui em um processo                             Gurgel, que pretendia revolucionar os padrões do

de substituição parcial de um modelo                           gênero, tornando-o “estilizado e progressista”2.

fonograficocêntrico para um modelo de                          Para atingir o objetivo, o empresário montou um

circulação musical voltado para a experiência,                 poderoso sistema de rádios via satélite que dava

antecipando aquela que viria a ser a grande                    suporte à divulgação de seus produtos musicais,

corrente de produção musical no início do                      a Somzoom Sat. Tem-se aqui uma primeira

século XXI.                                                    diferenciação entre os padrões vigentes da


2 Retirado do site da banda <www.mastruz.com.br>. Acesso: 30 jan. 2008.
www.e-compos.org.br
                                                                                       | E-ISSN 1808-2599 |


indústria fonográfica. Ao invés de organizar um     freqüência agregam atividades de gerenciamento
empreendimento cultural baseado na aquisição        de várias bandas (incluindo agenda, gravações,
de equipamentos e licenças de comercialização       comercialização e venda de shows), casas
e/ou difusão, Gurgel “monta” uma banda e passa      de shows, assessoria de imprensa e toda a
a agenciar shows pelo Nordeste, veiculando          estrutura comercial que gira em torno do
músicas de seus artistas através de sua rádio.      mercado de shows.
Deve-se mencionar que a Somzoom não é uma
                                                    Contudo, o que mais impressiona no sucesso
emissora de rádio no sentido específico do termo,
                                                    desse segmento montado inicialmente por
pois não tem concessão para transmitir o sinal e
                                                    Gurgel não é tanto a sua sofisticada estrutura
ocupar uma faixa do espectro radiofônico, sendo                                                        9/15
                                                    comercial baseada em moldes alternativos
exclusivamente uma geradora de conteúdo para
                                                    aos praticados pelo mercado musical nacional
suas afiliadas. Assim, o empresário conseguiu
                                                    até então. Na verdade, o sucesso da Mastruz
articular uma competente estrutura comercial




                                                                                                       Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
                                                    (hoje com reduzida participação no mercado,
para sua banda e sedimentou o sucesso de sua
                                                    mas reconhecida como precursora de uma
estação de rádio, que em pouco tempo passou
                                                    determinada tendência estética) e das atuais
a transmitir seu conteúdo via satélite para
                                                    Aviões, Calcinha Preta e Saia Rodada, entre
dezenas de afiliadas em todo o Nordeste. O
                                                    dezenas de outras, é o seu conteúdo. Endereçada
sucesso da Mastruz repercutiu nas ondas das
                                                    predominantemente para um público jovem de
rádios da Somzoom, formando em pouco tempo
                                                    diversas cidades dos nove estados nordestinos
um significativo mercado para o novo forró
                                                    (e além da região), a música do forró eletrônico
que vinha do Ceará. Sob a batuta de Gurgel,
                                                    traz uma característica fundamental para sua
além da Mastruz formaram-se outras dezenas
                                                    projeção comercial: uma explícita apologia
de bandas de perfil semelhante, divulgadas
                                                    da festa como lugar de realização social e,
durante a década de 1990 pela rádio. Atuando
                                                    sobretudo, amorosa e sexual. O trinômio festa-
ainda como gravadora, a Somzoom foi (e ainda
                                                    amor-sexo funciona como um elo fundamental
é) a principal responsável pela divulgação de
                                                    de atração e sedução de grande contingente de
novas e consagradas bandas de forró eletrônico
                                                    jovens para o contexto da experiência social da
(PEDROZA, 2001, p. 2), como Limão com Mel,
                                                    música. O show é o evento central nesse processo
Caviar com Rapadura, Aviões do Forró, Calcinha
                                                    e todas as etapas da produção musical apontam
Preta e Saia Rodada. No mercado atual do
                                                    para esse momento de festa, onde as simbologias
forró eletrônico, as bandas são “propriedade”
                                                    serão compartilhadas através do repertório
de empresários do ramo do entretenimento
                                                    musical. Assim, dança, festa, desilusões
(agregados em “produtoras culturais”) que com
                                                    amorosas, encontros sexuais (tanto aqueles
www.e-compos.org.br
                                                                                                              | E-ISSN 1808-2599 |


ocorridos no interior de uma relação de um casal                   idéia de autonomia estética parece totalmente
consolidado quanto os intencionalmente voláteis                    irrelevante para os artistas e produtores do
e eminentemente físicos, sem nenhum grau de                        segmento do forró eletrônico. A relação adotada
afetividade) e bebida formam um conjunto de                        por esses agentes para com sua produção musical
temáticas que constroem o ambiente afetivo do                      aponta para um certo utilitarismo da música no
forró eletrônico endereçado aos jovens em festa.                   qual a forma é inteiramente sobrepujada por sua
                                                                   função3. Assim, é suficiente ter um conjunto de
Possivelmente, essa “receita” de sucesso
                                                                   canções capazes de articular valores voltados
represente um modelo alternativo de construção
                                                                   para o próprio evento (a festa) através de uma
de uma identidade nordestina (o termo forró
                                                                   estratégia de sedução que toca em pontos                       10/15
referencia uma série de simbologias associadas
                                                                   bastante sensíveis da afetividade jovem (amor e
à construção imaginária da região) tencionada
                                                                   sexo). A combinação explosiva das três variáveis
pelas influências da cultura internacional-
                                                                   é moldada (o termo um tanto apocalíptico parece




                                                                                                                                  Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
popular. Parece relevante, porém, destacar
                                                                   irremediavelmente apropriado) como uma
que as estratégias comerciais vinculadas à
                                                                   estratégia comercial e estética na qual a margem
comercialização de shows encontram nesse
                                                                   de manobra criativa e inovadora é ínfima.
universo simbólico de temáticas musicais uma
                                                                   Levanta-se aqui, em segundo plano, uma segunda
coerência de grande força expressiva, moldando
                                                                   questão relacionada aos critérios de qualidade da
um ambiente cultural de alcance massivo e de
                                                                   música popular, que, neste caso, parecem fadados
aguda penetração social.
                                                                   a serem revistos a partir do redimensionamento
O sistema comercial que gira em torno do                           valorativo entre autonomia e padronização.
forró eletrônico está abertamente adequado
                                                                   Por todas essas razões, a caracterização do
ao momento tecnológico de perda de valor da
                                                                   ambiente do forró eletrônico como música
música gravada e de maior significação simbólica
                                                                   independente parece inadequada. Apesar
e financeira da experiência musical ao vivo. No
                                                                   de sua estrutura comercial prescindir do
entanto, pode-se levantar aqui as contradições de
                                                                   apoio do capital dos grandes conglomerados
tal estruturação no que diz respeito à autonomia
                                                                   transnacionais de entretenimento, seu
artística. Tomada como critério de distinção
                                                                   intencional afastamento dos critérios de
entre majors e indies, ao lado de uma vaga noção
                                                                   autonomia artística e independência estilística
de independência do capital transnacional, a
                                                                   colocam essa produção numa zona ambígua


3 A primazia da forma sobre a função é um dos requisitos de legitimidade estética compartilhada no âmbito da “cultura legítima”
(BOURDIEU, 2007). A inversão processada pelos agentes do forró eletrônico oferece um conjunto de referenciais alternativos
àqueles consagrados pelas artes prestigiadas.
www.e-compos.org.br
                                                                                        | E-ISSN 1808-2599 |


de classificação estética. Por outro lado, sua      empresariais e técnicos para manter sua (sempre
gigantesca projeção em eventos, feiras, festas      alta) lucratividade. Do outro lado, o discurso
e shows de grande porte em todas as cidades         atemorizado dessa grande mídia sobre suas
das regiões Norte e Nordeste (além de sua           perdas deve ser relativizado, uma vez que o tom
robusta divulgação radiofônica) colocam o           assombrado que percorre essas declarações
forró eletrônico como uma música regional           não encontra explicação lógica ou evidência
compartilhada em larga escala, seguindo modelos     quantitativa que o sustente. As grandes empresas
e quantitativos análogos aos do mainstream das      continuam controlando o mercado no seu setor
multinacionais do disco.                            mais oneroso: a difusão, que movimenta gastos
                                                    consideráveis para o lucro direto advindo de cada   11/15

5 Um novo mainstream                                disco, de cada show, de cada artista.

O mercado de música atual tem se transformado
                                                    Entre os assombrados e os deslumbrados, no
em uma arena de calorosos debates e muitas




                                                                                                        Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
                                                    entanto, pode-se identificar um mercado em
incertezas. As previsões mais otimistas
                                                    transformação que permite poucas certezas e
apontam as novas tecnologias como vetores de
                                                    quase nenhum tipo de previsão futurística. É
uma possível “democratização” da oferta de
                                                    fato que uma compreensão mais aprofundada
música disponível, representando uma perda
                                                    desse universo amplo e complexo não pode mais
de importância dos grandes conglomerados do
                                                    se associar exclusivamente a uma diferenciação
entretenimento internacional no cenário. Trata-se
                                                    utópica entre independentes e mainstream.
de uma utopia um tanto ingênua, que indica certo
                                                    Por outro lado, as gradações de alcance entre
deslumbramento com as reais possibilidades da
                                                    os vários produtos disponíveis no mercado
atual configuração tecnológica em diversificar
                                                    musical nos encorajam a adotar os dois pólos
o consumo de música. É evidente que se
                                                    como norteadores de referências simbólicas
observa a emergência de canais alternativos de
                                                    e quantitativas sobre a música que circula
circulação musical que, de fato, têm provocado
                                                    por nossa sociedade. Nesse sentido, algumas
algum aumento da diversificação de ofertas
                                                    mudanças no âmbito do grande mercado
musicais. Contudo, uma comemoração mais
                                                    podem ser identificadas sem grande esforço,
entusiasmada dessas novas redes de distribuição
                                                    agregando um conjunto de práticas musicais
e circulação de música pode ser precipitada,
                                                    com inquestionável sucesso comercial que
uma vez que a grande maioria da produção e
                                                    vêm desenvolvendo mecanismos alternativos
consumo de músicas pelo planeta ainda passa
                                                    aos adotados pelas grandes transnacionais da
irremediavelmente pelo controle das grandes
                                                    música e do entretenimento. “Alternativo” aqui
gravadoras, que estão desenvolvendo mecanismos
                                                    não significa “contra-hegemônico” no conceito
www.e-compos.org.br
                                                                                             | E-ISSN 1808-2599 |


gransciniano, mas simplesmente um jeito                ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de
                                                       massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro:
diferente de fazer o mesmo, alcançando projeção
                                                       Elsevier, 2006.
midiática e público numeroso. A substancial
                                                       BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de
redução da autonomia artística promovida pelos
                                                       Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
“escritórios” (para usar um termo de Adorno
                                                       ______. A distinção: crítica social do julgamento.
e Horkheimer, 1982) que controlam as bandas
                                                       Porto Alegre: Zouk; São Paulo: Edusp, 2007.
de forró (assim como os “produtores” dos trios
                                                       CARVALHO, José Jorge de. Transformações na
elétricos baianos, os “donos” das aparelhagens
                                                       sensibilidade musical contemporânea. Série
de brega e os “magnatas” do reggae) produz um
                                                       Antropologia, n. 266. Brasília: UnB, 1999.
agudo afastamento ideológico entre as condições                                                                 12/15
                                                       COSTA, Rogério. Djs, magnatas e regueiros:
de produção efetivamente empregadas nesses
                                                       considerações sobre o reggae de São Luis. In:
mercados e as noções – um tanto românticas –           ENCONTRO DE MÍDIA E MÚSICA POPULAR
de independência artística que alimentam um            MASSIVA. 1., 2007, Salvador (mimeo) Salvador:




                                                                                                                Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
                                                       Edufba, 2007.
sentido propriamente de resistência das chamadas
“indies”. Assim, a caracterização desse universo       DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de
                                                       Janeiro: Rocco, 1986.
sonoro musical como um novo mainstream
pode colocar essa produção e seu consumo num           DE MARCHI, Leonardo. “Indústria fonográfica
                                                       independente brasileira: debatendo um conceito”.
contexto de reflexão mais adequado ao seu alcance
                                                       In: Anais do XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE
numérico e ao conjunto de referenciais simbólicos      CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2005. Rio de Janeiro:
que circulam através desses repertórios. Um            Intercom, 2005. CD-ROM.
novo mainstream ligado à exploração comercial          DIAS, Márcia Tosta. Os donos da voz: indústria
da experiência musical social, promovida               fonográfica brasileira e mundialização da cultura. São
especialmente para um público jovem que deseja         Paulo: Boitempo; FAPESP, 2000.

compartilhar representações sobre sua identidade       GUERREIRO, Goli. A trama dos tambores: a música
etária através das idéias concomitantes de             afro-Pop de Salvador. São Paulo: 34, 2000.

festa, amor e sexo, temas centrais no ambiente         HERSCHMANN, Micael. Lapa, cidade da música. Rio

sociocultural e afetivo do jovem.                      de Janeiro: Mauad X, 2007.

                                                       JANOTTI Jr., Jeder; CARDOSO FILHO, Jorge. A música
Referências bibliográficas                             popular massiva, o mainstream e o underground”.
                                                       In: JANOTTI JR.., Jeder ; FREIRE FILHO, João (orgs.).
ADORNO, T. & HORKHEIMER, M. A industria cultural:
                                                       Comunicação & Música Popular Massiva. Salvador:
o Iluminismo como mistificação de massas In: LIMA,
                                                       EdUFBA, 2006.
Luiz Costa (org.). Teoria da cultura de massa.
Tradução: Júlia Eliabeth Levy. Rio de Janeiro, Paz e   ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São
Terra, 1982.                                           Paulo: Brasiliense, 1988.
www.e-compos.org.br
                                                       | E-ISSN 1808-2599 |


PEDROZA, Ciro José Peixoto. Mastruz com Leite
for all: folk-comunicação ou uma nova indústria no
Nordeste brasileiro. In: Anais do XXIV CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2001.
Campo Grande: Intercom, 2001. CD-ROM.

SHUNKER, Roy. Vocabulário de música pop. São
Paulo: Hedra, 1999.

TROTTA, Felipe. O forró de Aviões. In: ENCONTRO
ANUAL DA COMPÓS, 17., 2008. Anais... São Paulo :
Compós, 2008, v. 1, p. 1-13.
                                                                       13/15
VAZ, Gil Nuno. História da música independente. São
Paulo: Brasiliense, 1988.

VICENTE, Eduardo. A vez dos independentes(?): um
olhar sobre a produção musical independente do país.




                                                                       Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
E-Compós, v. 7, p. 1/19-19/19, Brasília, 2006.
www.e-compos.org.br
                                                                                                   | E-ISSN 1808-2599 |




The new mainstream in                                      El nuevo mainstream de la
regional music: axé, brega,                                música regional: axé, brega,
reggae and Electronic forró                                reggae y forró electrónico
electrónico in the Northeast.                              en el Nordeste.
Abstract                                                   Resumen
This papers intends to locate part of the Brazilian        Comenzando con una reflexión sobre el concepto de
Northeast musical production as held inside of             música independiente, este artículo tiene por objeto
the mainstream of the regional music market.               caracterizar la producción musical del Nordeste
These musical practises – axé, brega reggae and            brasileño como un nuevo mainstream regional.
forró – are highly spread in society, getting to           Con el expresiva circulación en la región, la música
a level of consumption that exceeds the limits             de algunos géneros tales como axé, brega, reggae
of the classification “independent”. So, these             y el forró electrónico llega a una consagración          14/15

musical universes articulate some sets of values           comercial que excede los límites de la clasificación
and symbols addressed explicitly to the young and          indepiendente. Por lo tanto, en estas prácticas
associated to the ideas of party-love-sex, with great      musicales se puede observar una serie de valores y
commercial success.                                        símbolos asociados con el público joven que, girando




                                                                                                                    Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
Keywords                                                   en torno a las ideas del fiesta-sexo-amor, alcanzan la

Music market. Popular music. Forró. Indies.                gran proyección en el mercado musical.

                                                           Palabras clave
                                                           Mercado musical. Música popular. Forró.
                                                           Independientes.




                             Recebido em:               Aceito em:
                             05 de outubro de 2008      07 de dezembro de 2008
www.e-compos.org.br
                                                                                                                             | E-ISSN 1808-2599 |



Expediente                                                               E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599

A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da    Revista da Associação Nacional dos Programas
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação        de Pós-Graduação em Comunicação.
(Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a      Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos    A identificação das edições, a partir de 2008,
em instituições do Brasil e do exterior.                                 passa a ser volume anual com três números.


CONSELHO EDITORIAL

Afonso Albuquerque                                                       John DH Downing
Universidade Federal Fluminense, Brasil                                  University of Texas at Austin, Estados Unidos
Alberto Carlos Augusto Klein                                             José Luiz Aidar Prado
Universidade Estadual de Londrina, Brasil                                Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Alex Fernando Teixeira Primo                                             José Luiz Warren Jardim Gomes Braga
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil                        Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Alfredo Vizeu                                                            Juremir Machado da Silva
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil                               Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Ana Carolina Damboriarena Escosteguy                                     Lorraine Leu
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil            University of Bristol, Grã-Bretanha
Ana Silvia Lopes Davi Médola                                             Luiz Claudio Martino                                                  15/15
Universidade Estadual Paulista, Brasil                                   Universidade de Brasília, Brasil
André Luiz Martins Lemos                                                 Maria Immacolata Vassallo de Lopes
Universidade Federal da Bahia, Brasil                                    Universidade de São Paulo, Brasil
Ângela Freire Prysthon                                                   Maria Lucia Santaella
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil                               Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Antônio Fausto Neto                                                      Mauro Pereira Porto
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil                            Tulane University, Estados Unidos




                                                                                                                                               Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008.
Antonio Carlos Hohlfeldt                                                 Muniz Sodre de Araujo Cabral
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil            Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Arlindo Ribeiro Machado                                                  Nilda Aparecida Jacks
Universidade de São Paulo, Brasil                                        Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
César Geraldo Guimarães                                                  Paulo Roberto Gibaldi Vaz
Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil                             Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Cristiane Freitas Gutfreind                                              Renato Cordeiro Gomes
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil            Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Denilson Lopes                                                           Ronaldo George Helal
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil                           Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Eduardo Peñuela Cañizal                                                  Rosana de Lima Soares
Universidade Paulista, Brasil                                            Universidade de São Paulo, Brasil
Erick Felinto de Oliveira                                                Rossana Reguillo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil                         Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores do Occidente, México
Francisco Menezes Martins                                                Rousiley Celi Moreira Maia
Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil                                    Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Gelson Santana                                                           Sebastião Carlos de Morais Squirra
Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil                                     Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Hector Ospina                                                            Simone Maria Andrade Pereira de Sá
Universidad de Manizales, Colômbia                                       Universidade Federal Fluminense, Brasil
Ieda Tucherman                                                           Suzete Venturelli
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil                           Universidade de Brasília, Brasil
Itania Maria Mota Gomes                                                  Valério Cruz Brittos
Universidade Federal da Bahia, Brasil                                    Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Janice Caiafa                                                            Veneza Mayora Ronsini
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil                           Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Jeder Silveira Janotti Junior                                            Vera Regina Veiga França
Universidade Federal da Bahia, Brasil                                    Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil


COMISSÃO EDITORIAL
                                                                         COMPÓS | www.compos.org.br
Ana Gruszynski | Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                         Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
João Freire Filho | Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Rose Melo Rocha | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
                                                                         Presidente
                                                                         Erick Felinto de Oliveira
CONSULTORES AD HOC
                                                                         Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Aníbal Bragança | Universidade Federal Fluminense, Brasil                erickfelinto@uol.com.br
Gisela Castro | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
                                                                         Vice-presidente
Gislene Silva | Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
                                                                         Ana Silvia Lopes Davi Médola
Maria Helena Weber | Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
                                                                         Universidade Estadual Paulista, Brasil
Rosana de Lima Soares | Universidade de São Paulo, Brasil
                                                                         asilvia@faac.unesp.br
Tania Hoff | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
                                                                         Secretária-Geral
REVISÃO DE TEXTO E TRADUÇÃO | Everton Cardoso                            Denize Correa Araújo
                                                                         Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil
ASSISTÊNCIA EDITORIAL E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Raquel Castedo           denizearaujo@hotmail.com

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Novo mainstream da música regional no Nordeste

  • 1. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | O novo mainstream da música regional: axé, brega, reggae e forró eletrônico no Nordeste Felipe Trotta e Márcio Monteiro 1 Introdução 1/15 Resumo Partindo de uma reflexão acerca da conceituação As novas configurações tecnológicas ligadas à de música independente, este artigo busca produção e ao consumo de música têm produzido caracterizar parte da produção musical do uma aguda complexificação no mercado musical. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. Nordeste brasileiro como um novo mainstream regional. Com circulação expressiva na região, Se, por um lado, é possível constatar uma a música de alguns gêneros como axé, brega, reggae e sobretudo o chamado forró eletrônico progressiva perda de valor da música gravada alcança índices de consagração comercial que (Herschmann, 2007), por outro, podemos ultrapassam estética e quantitativamente os notar que estratégias alternativas de distribuição limites da classificação independente. Assim, vê-se nestas práticas musicais um conjunto de valores e de fonogramas têm obtido razoável êxito na símbolos associados ao público jovem que, girando diversificação de ofertas musicais disponíveis, em torno das idéias de festa-amor-sexo consegue grande projeção no mercado musical. potencializando um mercado de “nichos” que Palavras-chave passa a competir com o mercado de “massa” Mercado de música. Música popular. Forró. Independentes. (Anderson, 2006). Esses “nichos” formam uma rede complexa de tendências e estilos musicais, dispersos em vários gêneros e regiões do planeta. Em virtude das facilidades tecnológicas promovidas pela digitalização, alcançam circulação mundial ou local, e tornam comercialmente viáveis universos Felipe Trotta | trotta.felipe@gmail.com culturais com públicos numericamente reduzidos. Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Professor do Departamento de Comunicação Social Nos debates sobre essa nova configuração da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE. mercadológica, pode-se perceber uma ênfase na Márcio Monteiro | themarcmont@hotmail.com abordagem de fenômenos musicais notadamente Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE. periféricos e de baixo grau de circulação que,
  • 2. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | de fato, têm demonstrado o alcance do novo de “independente” demonstra-se incapaz de mercado musical. Casos de bandas que obtiveram absorver adequadamente sua extensão. Casos sucesso comercial a partir de estratégias de como o do forró cearense, do brega do Pará e disponibilização gratuita de músicas na Internet do reggae no Maranhão são exemplos de um (como Bonde do Role e Cansei de Ser Sexy) têm mercado de música movido a novas tecnologias sido mencionados com freqüência nos diversos que têm efetivamente alterado o alcance do fóruns que discutem o fenômeno1. Outros, próprio mainstream da música (historicamente menos famosos, conseguem razoável projeção protagonizado pelos grandes conglomerados mercadológica e parecem continuamente internacionais). Alijadas de uma legitimidade atestar o grande potencial de democratização estética avalizada pela crítica musical, essas 2/15 que a atual rede tecnológica tem possibilitado. músicas agregam dezenas de milhares de Assim, a discussão sobre o novo mercado pessoas semanalmente, utilizando uma estrutura musical está intimamente ligada ao universo empresarial que dialoga com as esferas Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. da chamada música “independente”, termo consagradas de difusão musical, como o rádio, vago o suficiente para abarcar artistas e grupos mas que têm seu alcance amplificado através de bastante diferentes esteticamente, unidos por um inusitado conjunto de dispositivos comerciais, uma certa posição periférica no mercado – seja substancialmente diferentes dos empregados como estratégia política consciente ou como pelos chamados independentes. Pode-se pensar contingência profissional. aqui em um conjunto de práticas musicais cuja enorme penetração comercial em algumas No entanto, o que nos parece mais instigante – regiões configura não apenas um segmento ainda carente de discussão teórica apropriada – é lucrativo desse mercado independente, mas um precisamente a emergência de novos atores do novo mainstream do mercado musical. mercado de música que estão ocupando não os espaços periféricos ou as “brechas” do mercado, 2 Entre majors e indies mas posições hegemônicas na circulação A caracterização de um novo mainstream requer musical. Bandas ligadas a determinados uma investigação mais cuidadosa do vocábulo gêneros musicais no Norte e no Nordeste e suas implicações estéticas e comerciais. Em brasileiro têm conquistado determinados primeiro lugar, devemos destacar que o termo níveis de circulação que a antiga classificação 1 No último biênio pudemos participar de diversos encontros e debates sobre o mercado de música atual tais como os promovidos pela Feira da Música – Brasil, o Festival Coquetel Molotov, o Pré-Acorde Brasileiro e a Plataforma Integrada de Estudos Culturais (Festival de Inverno de Garanhuns), todos no estado de Pernambuco, além de diversos de fóruns na internet onde o tema aparece em destaque em lugares como o blog Overmundo e as listas de discussão da IASPM-LA (International Association of Study of Popular Music) e da Agenda do Samba-Choro, entre outros.
  • 3. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | – cuja tradução literal seria algo como “fluxo século XX estágios intermediários de consagração principal” – deriva do surgimento do que poderia comercial, estabelecendo um universo amplo ser chamado de um “contra-mainstream”: a de classificação baseado na quantidade de música “independente”. Em ambos os casos, está discos vendidos, que representou durante todas em jogo aqui a conceituação de uma relação, as décadas um índice seguro para classificar isto é, um conjunto de posições e tomadas de a popularidade de artistas, canções, discos e posições pelos agentes de um determinado empresas no mercado. universo simbólico e profissional, negociando Por outro lado, tal índice permitiu também espaços privilegiados de prestígio e poder o surgimento de estratégias de “resistência” (BOURDIEU, 1989). 3/15 desenvolvidas por atores situados em setores Durante todo o século XX, o “mercado de música” periféricos desse mercado aos modelos se confundiu com o mercado de “discos”. Desde comerciais e estéticos das “grandes”. É quando, Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. sua organização no início da década de 1900, por volta da década de 1970, surge o fenômeno as gravadoras sempre dispuseram de catálogos dos artistas independentes, que se organizariam de discos com graus variados de vendagens. A posteriormente em “gravadoras independentes”, circulação de músicas pela sociedade teve como buscando comercializar seu repertório através principais protagonistas grandes empresas da ocupação de espaços reduzidos de mercado, transnacionais do ramo do entretenimento, não contemplados pela música produzida nas responsáveis pela maioria das ofertas de grandes gravadoras. produtos musicais em todos os cantos do planeta. De acordo com o Vocabulário de Música Pop, O mercado de música, então, passou a ser de Roy Shuker, o termo independente refere-se dividido comercialmente a partir dos números às gravadoras independentes, pequenos selos alcançados por cada artista e disco. Vendas mais com relativa autonomia no processo produtivo expressivas representavam ambientes musicais, e criativo, contratação e promoção dos artistas. artistas e músicas com maior projeção e, É o oposto do que acontece, segundo o autor, na conseqüentemente, mais importância econômica grande indústria do disco, em que cada etapa e comercial. No extremo oposto, discos com da produção teria sido previamente planejada, vendagem baixa, “encalhados” nas prateleiras e e o artista não possuiria nenhuma autonomia estoques, seriam classificados como “fracassos”, (SHUKER, 1999, p. 172) Trata-se, aqui, de implicando um julgamento de valor negativo uma relação de oposição entre empresas. As sob o ponto de vista financeiro. Entre o sucesso “independentes” operam “fora do âmbito das e o fracasso de vendas, dezenas (ou centenas? grandes gravadoras ou das redes nacionais de Milhares?) de artistas ocuparam durante todo o
  • 4. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | mídia” (VICENTE, 2006, p. 11). Mas a oposição caracteriza-se como uma peça de resistência estende-se ao universo estético, opondo ao poderio das multinacionais do disco, músicas produzidas pela grande indústria e protagonizada por artistas com pouca visibilidade músicas produzidas do lado de fora dessas mercadológica. Ocorre que tal atitude deixou de organizações. A distância relativa que os ser uma aventura heróica realizada por alguns artistas conseguem manter do modo de agitadores culturais para se tornar uma espécie operação e dos “tentáculos” das majors seria de prática produtiva de setores alijados do um indicativo de seu grau de “independência”. circuito musical hegemônico. Assim, nas últimas décadas do século XX surge no mundo inteiro A partir desse modelo de pensamento de forte um intenso movimento de “independentes” que 4/15 inspiração adorniana, seria possível identificar progressivamente se institucionaliza em redes e diversos níveis de “dependência”, desde o artista empresas de colaboração mútua e de competição completamente autônomo (como o caso do recíproca, muitas vezes desigual. Não deixa de Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. comentado LP do instrumentista e compositor ser irônico o fato das duas maiores gravadoras Antonio Adolfo, sugestivamente intitulado Feito “independentes” do Brasil (Trama e Biscoito em Casa, lançado em 1977) até o lançamento Fino), com posições de chefia na celebrada das grandes gravadoras, inteiramente moldados Associação Brasileira de Música Independente segundo as necessidades comerciais (como (ABMI), terem sido montadas e financiadas os grupos teen Menudo, Balão Mágico, Rouge, com capital especulativo de grandes grupos do High School Musical, entre tantos outros). sistema bancário nacional (respectivamente o Nesse sentido, é possível pensar numa Grupo Szajman e o Banco Icatu). gradação, onde etapas intermediárias de (in) dependência corresponderiam a produtos nos Essa configuração multifacetada do setor quais os artistas poderiam manter relações “independente” tem levado alguns autores de colaboração e complementaridade com o a estabelecer distinções entre produção produtor fonográfico (VAZ, 1988). independente e produção autônoma. De acordo com Leonardo De Marchi, as produções A questão da autonomia assume, assim, uma autônomas “são caracterizadas pela ação de grande importância. Toda a conceituação da determinados empreendedores que tomam música independente deriva da idéia de que as uma iniciativa isolada de produzir discos sem grandes corporações – as “majors” – operam estabelecer um circuito alternativo de produção a partir de imposições estéticas ao artista, fonográfica potencialmente utilizável por limitando sua liberdade criadora em benefício outros empreendimentos” (DE MARCHI, 2005, do mercado. Assim, a atitude independente p. 04). Nesse segmento, seria possível incluir
  • 5. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | os “independentes” heróicos da década de valoração através da autonomia seja altamente 1970 e alguns artistas propriamente marginais problemática e com parcas possibilidades de no mercado atual. No entanto, a música resistir à análise dos mecanismos de produção independente institucionalizada atual celebra musical – tanto das majors quanto das “indies” – modos de operação bastante semelhantes aos da trata-se de um critério valorativo-argumentativo grande indústria transnacional, apenas revestida que funciona de forma incrivelmente uniforme de uma apregoada legitimidade estética, derivada nos ambientes multifacetados da chamada de sua vinculação à noção de autonomia artística. música “independente”. Ser independente atualmente é simplesmente Com uma reflexão instigante sobre a oposição gozar de certa liberdade estética, não 5/15 estabelecida entre mainstream e underground, necessariamente dissociada do poderio financeiro Janotti Jr. e Cardoso (2006) argumentam das majors nem das “grandes indies”. A relação que tal diferenciação deriva do “grau de entre as esferas tornou-se tão estreita que alguns Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. distanciamento entre as condições de produção autores têm apontado sua complementaridade e reconhecimento identificados no produto” (p. como modo de funcionamento de todo o sistema 19). Assim, produtos musicais concebidos para (DIAS 2000; HERSCHMANN 2007). Além disso, uma circulação massiva seriam marcados por é possível constatar que as ofertas musicais de uma distância significativa entre o seu ambiente muitas das chamadas independentes manifestam de produção e de consumo, que caracterizaria forte tendência de recorrer a modelos sua consagração estética e comercial. Por previamente consagrados, ousando pouco e outro lado, os produtos de circulação restrita – reiterando a estética lançada pelas majors teoricamente com maior grau de “autonomia” (DIAS, 2000, p. 130). – seriam consagrados prioritariamente por O que se observa é que o panorama da circulação seus pares, caracterizando uma proximidade de música pela sociedade estabelece uma entre produção e consumo nas estratégias de distinção entre os produtos concebidos no forno construção de legitimidade e reconhecimento. das multinacionais e os “outros”, produzidos a Mainstream e underground seriam, portanto, partir de lógicas e capitais “independentes” do “modos diferenciados de conferir valor à financiamento das “majors”. Nessa distinção, música e a ideologias de audição específicas opera uma forte vertente de valoração estética, que contribuem para o sentido final da canção” agregando núcleos estilísticos radicalmente (idem, p. 21). Entretanto, os autores destacam diversos a partir do compartilhamento hipotético que ambos representam “estratégias de de determinado grau de autonomia artística. posicionamento frente ao mercado”, admitindo Ainda que se possa argumentar que essa gradações entre as esferas (idem, p. 19). De
  • 6. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | fato, apesar de agudas diferenças em alguns com canais de difusão radiofônica e uma intensa mecanismos de aferição de valor e construção de identificação regional baiana, a axé music se significados, a inserção quase total das iniciativas desloca do cenário circunscrito e “independente” independentes no mercado musical comercial do carnaval de rua de Salvador para ocupar e a precária diferenciação visível (e/ou audível) fatias significativas do mercado de música em seus mecanismos de produção colocam nacional, configurando-se como um dos três ambas as tendências num mesmo espaço de principais gêneros musicais do início da década concorrência mercadológica, reforçando a noção de 1990 (ao lado do pagode romântico e do de complementaridade entre elas. sertanejo, que também foram iniciados na década anterior). A receita dessa mistura pode ser 6/15 3 Estratégias de mercado: a experiência substancialmente creditada à vinculação estreita Talvez o carnaval soteropolitano tenha sido o com o público jovem e com a alegria contagiante primeiro a moldar estratégias bem sucedidas de do carnaval, um evento de importância crucial na Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. comercialização de músicas não dependentes configuração do que identificamos como cultura das majors, isto é, a alavancar uma pujante cena brasileira. Suas características de inversão musical altamente comercial a partir de critérios da ordem e a dinâmica consentida de vestir e mecanismos de produção que apontavam “fantasias” fornecem elementos simbólicos de para um outro conjunto de etapas e modos de grande força expressiva na narração da nação. financiamento e circulação. A experiência do Se no mundo diário estamos todos limitados carnaval de rua movido a “trio elétrico” foi um pelo dinheiro que se ganha (ou não se ganha), canal de divulgação de grande alcance para pelas leis da sociedade, do mercado, da casa e da família, no carnaval e na fantasia temos difusão dos artistas da capital baiana, que, com a possibilidade do disfarce e da liberação. Há progressivo apoio estatal, foi se nacionalizando a possibilidade de virar onipotente e ser tudo o que se tem vontade. Ora, é precisamente por no decorrer das décadas de 1960 e 1970, sendo estar vivendo num mundo assim constituído, absorvido com certa naturalidade ao mercado de onde as regras do mundo diário estão tempora- riamente de cabeça para baixo, que posso ga- música “oficial” durante a década de 1980. nhar e realmente sentir uma incrível sensação de liberdade (DAMATTA, 1986, p. 75). Segundo Goli Guerreiro (2000), o encontro processado entre os “blocos de trio” (de frevo) Ao estabelecer o seu público-alvo em torno e os blocos-afro (de “samba-reggae”) no final da da figura do jovem, a música carnavalesca se década de 1980 fez surgir comercialmente um dos reveste de uma série de simbologias associadas maiores fenômenos do mainstream da música a essa faixa etária, numa época da vida em que nacional: o axé music (p. 133). Numa complexa as relações sociais festivas são propícias a altas engrenagem de produção musical articulada intensidades emotivas e sexuais. Assim, a um
  • 7. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | evento de grande apelo corporal (festivo e elétricas com o frevo pernambucano para a erótico) e próprio para estabelecimento de criação de um “frevo novo”) e a inclinação estados alterados de consciência corresponde pop das performances dos grupos de axé uma música de grande intensidade sonora (associando a alegria e a dança do carnaval (volumes no máximo, andamento acelerado, a um conjunto de efeitos e elementos visuais instrumentos e equipamentos de grande e sonoros oriundos da música dessa mesma potência) que molda um ambiente de música pop) têm como estratégia cultural saturação característico de uma certa assumida uma forte tendência à mistura sensibilidade atual (CARVALHO, 1999), num cultural – que na modernidade brasileira seria conjunto de características que colocam a axé chamada de “antropofágica” –, associando 7/15 music com enorme potencial de veiculação em acentos regionais e nacionais a elementos larga escala. característicos dessa “cultura internacional- popular” (ORTIZ, 1988). Assim, a química entre Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. Evidentemente, a transposição de músicas público jovem, padrões técnicos mundializados de circulação restritas para o ambiente do e sotaques reconhecidamente nacionais resulta mercado hegemônico é um processo natural numa combinação explosiva e altamente e previsível, sendo facilmente encontráveis lucrativa para o mercado musical, tendência inúmeros exemplos em toda a história da que seria repetida em dezenas de outras fonografia. Esse caso ilustra muito bem a músicas ouvidas nos últimas duas décadas. relação de complementaridade entre majors e indies, responsável pelo surgimento de vários Esse cenário não se resume geograficamente sucessos do mercado musical durante décadas. aos limites da capital baiana. Em São Luis, as No mesmo sentido, a música carnavalesca de radiolas de reggae se estruturam de maneira Salvador é importante nesse cenário não por análoga, reinventando o reggae jamaicano no representar algum tipo de ruptura com um estado do Maranhão a partir de um poderoso modelo de produção sedimentado pelas grandes mecanismo de experiência musical. Música indústrias fonográficas durante o século XX, em alto volume, dança de par, jovens e drogas mas por chamar a atenção para a força da (lícitas e ilícitas) estruturam um lucrativo experiência ao vivo. E também pelo fato de mercado que gira em torno de “djs, magnatas e incorporar acentos regionais nacionalizados regueiros”, num circuito financiado com capital para determinados padrões técnicos e formais privado e pessoal, notabilizado pela figura de produção musical historicamente importados célebre do DJ e consumido em larga escala em do âmbito do pop-rock de língua inglesa. Isso noites de reggae por toda região metropolitana porque a música dos trios (fundindo guitarras de São Luis (COSTA, 2007).
  • 8. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | Em Belém, a situação não difere muito. A 3 Jovem, festa, amor e sexo: cena musical do “brega” se estrutura a partir o forró eletrônico de polpudas “aparelhagens” que moldam um Vamos examinar mais de perto um dos casos mais mercado musical caracterizado fortemente pela significativos do ambiente cultural que se articula intensidade. O mercado musical do brega tem em torno de novos padrões de circulação musical como eixo central a festa, predominantemente massiva. Contrariamente ao exemplo sazonal do freqüentada por jovens, que buscam nesse axé (com exceção dos grandes artistas midiáticos momento de entretenimento espaço para que conseguem exposição durante todo o ano), afirmar identidades, estabelecer encontros à delimitação geográfica do reggae maranhense amorosos e sexuais, além de experimentarem 8/15 (que permanece como uma música local com certa alteração de consciência. restritas possibilidades de nacionalização) ou Em todos esses exemplos, podemos destacar mesmo ao comentado brega do Pará (ainda que a cena brega tenha se espalhado por diversos Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. um eixo comum: a ênfase da circulação musical recai não na música gravada e comercializada estados do Nordeste, seu pólo irradiador ainda em suportes específicos, mas sim na experiência está estreitamente vinculado à cidade de musical ao vivo. O encontro sócio-musical baseado Belém), o caso do “forró eletrônico” representa fortemente na figura do jovem e agregado a certos uma espécie de síntese do processo de gêneros musicais é o vetor de um novo mercado construção de um novo mainstream, não mais regional que vai alcançar público gigantesco e vinculado aos corredores das multinacionais do fiel, configurando uma nova fatia de mercado disco nem aos grandes conglomerados de mídia que segue modelos próprios e que dificilmente nacionais e internacionais. poderia ser classificado como “independente”, de O mercado alternativo do forró foi inaugurado no acordo com o conjunto de referenciais que têm início dos anos 1990 pela banda cearense Mastruz sido associados a essa classificação. com Leite, organizada pelo empresário Emanoel Pode-se pensar aqui em um processo Gurgel, que pretendia revolucionar os padrões do de substituição parcial de um modelo gênero, tornando-o “estilizado e progressista”2. fonograficocêntrico para um modelo de Para atingir o objetivo, o empresário montou um circulação musical voltado para a experiência, poderoso sistema de rádios via satélite que dava antecipando aquela que viria a ser a grande suporte à divulgação de seus produtos musicais, corrente de produção musical no início do a Somzoom Sat. Tem-se aqui uma primeira século XXI. diferenciação entre os padrões vigentes da 2 Retirado do site da banda <www.mastruz.com.br>. Acesso: 30 jan. 2008.
  • 9. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | indústria fonográfica. Ao invés de organizar um freqüência agregam atividades de gerenciamento empreendimento cultural baseado na aquisição de várias bandas (incluindo agenda, gravações, de equipamentos e licenças de comercialização comercialização e venda de shows), casas e/ou difusão, Gurgel “monta” uma banda e passa de shows, assessoria de imprensa e toda a a agenciar shows pelo Nordeste, veiculando estrutura comercial que gira em torno do músicas de seus artistas através de sua rádio. mercado de shows. Deve-se mencionar que a Somzoom não é uma Contudo, o que mais impressiona no sucesso emissora de rádio no sentido específico do termo, desse segmento montado inicialmente por pois não tem concessão para transmitir o sinal e Gurgel não é tanto a sua sofisticada estrutura ocupar uma faixa do espectro radiofônico, sendo 9/15 comercial baseada em moldes alternativos exclusivamente uma geradora de conteúdo para aos praticados pelo mercado musical nacional suas afiliadas. Assim, o empresário conseguiu até então. Na verdade, o sucesso da Mastruz articular uma competente estrutura comercial Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. (hoje com reduzida participação no mercado, para sua banda e sedimentou o sucesso de sua mas reconhecida como precursora de uma estação de rádio, que em pouco tempo passou determinada tendência estética) e das atuais a transmitir seu conteúdo via satélite para Aviões, Calcinha Preta e Saia Rodada, entre dezenas de afiliadas em todo o Nordeste. O dezenas de outras, é o seu conteúdo. Endereçada sucesso da Mastruz repercutiu nas ondas das predominantemente para um público jovem de rádios da Somzoom, formando em pouco tempo diversas cidades dos nove estados nordestinos um significativo mercado para o novo forró (e além da região), a música do forró eletrônico que vinha do Ceará. Sob a batuta de Gurgel, traz uma característica fundamental para sua além da Mastruz formaram-se outras dezenas projeção comercial: uma explícita apologia de bandas de perfil semelhante, divulgadas da festa como lugar de realização social e, durante a década de 1990 pela rádio. Atuando sobretudo, amorosa e sexual. O trinômio festa- ainda como gravadora, a Somzoom foi (e ainda amor-sexo funciona como um elo fundamental é) a principal responsável pela divulgação de de atração e sedução de grande contingente de novas e consagradas bandas de forró eletrônico jovens para o contexto da experiência social da (PEDROZA, 2001, p. 2), como Limão com Mel, música. O show é o evento central nesse processo Caviar com Rapadura, Aviões do Forró, Calcinha e todas as etapas da produção musical apontam Preta e Saia Rodada. No mercado atual do para esse momento de festa, onde as simbologias forró eletrônico, as bandas são “propriedade” serão compartilhadas através do repertório de empresários do ramo do entretenimento musical. Assim, dança, festa, desilusões (agregados em “produtoras culturais”) que com amorosas, encontros sexuais (tanto aqueles
  • 10. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | ocorridos no interior de uma relação de um casal idéia de autonomia estética parece totalmente consolidado quanto os intencionalmente voláteis irrelevante para os artistas e produtores do e eminentemente físicos, sem nenhum grau de segmento do forró eletrônico. A relação adotada afetividade) e bebida formam um conjunto de por esses agentes para com sua produção musical temáticas que constroem o ambiente afetivo do aponta para um certo utilitarismo da música no forró eletrônico endereçado aos jovens em festa. qual a forma é inteiramente sobrepujada por sua função3. Assim, é suficiente ter um conjunto de Possivelmente, essa “receita” de sucesso canções capazes de articular valores voltados represente um modelo alternativo de construção para o próprio evento (a festa) através de uma de uma identidade nordestina (o termo forró estratégia de sedução que toca em pontos 10/15 referencia uma série de simbologias associadas bastante sensíveis da afetividade jovem (amor e à construção imaginária da região) tencionada sexo). A combinação explosiva das três variáveis pelas influências da cultura internacional- é moldada (o termo um tanto apocalíptico parece Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. popular. Parece relevante, porém, destacar irremediavelmente apropriado) como uma que as estratégias comerciais vinculadas à estratégia comercial e estética na qual a margem comercialização de shows encontram nesse de manobra criativa e inovadora é ínfima. universo simbólico de temáticas musicais uma Levanta-se aqui, em segundo plano, uma segunda coerência de grande força expressiva, moldando questão relacionada aos critérios de qualidade da um ambiente cultural de alcance massivo e de música popular, que, neste caso, parecem fadados aguda penetração social. a serem revistos a partir do redimensionamento O sistema comercial que gira em torno do valorativo entre autonomia e padronização. forró eletrônico está abertamente adequado Por todas essas razões, a caracterização do ao momento tecnológico de perda de valor da ambiente do forró eletrônico como música música gravada e de maior significação simbólica independente parece inadequada. Apesar e financeira da experiência musical ao vivo. No de sua estrutura comercial prescindir do entanto, pode-se levantar aqui as contradições de apoio do capital dos grandes conglomerados tal estruturação no que diz respeito à autonomia transnacionais de entretenimento, seu artística. Tomada como critério de distinção intencional afastamento dos critérios de entre majors e indies, ao lado de uma vaga noção autonomia artística e independência estilística de independência do capital transnacional, a colocam essa produção numa zona ambígua 3 A primazia da forma sobre a função é um dos requisitos de legitimidade estética compartilhada no âmbito da “cultura legítima” (BOURDIEU, 2007). A inversão processada pelos agentes do forró eletrônico oferece um conjunto de referenciais alternativos àqueles consagrados pelas artes prestigiadas.
  • 11. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | de classificação estética. Por outro lado, sua empresariais e técnicos para manter sua (sempre gigantesca projeção em eventos, feiras, festas alta) lucratividade. Do outro lado, o discurso e shows de grande porte em todas as cidades atemorizado dessa grande mídia sobre suas das regiões Norte e Nordeste (além de sua perdas deve ser relativizado, uma vez que o tom robusta divulgação radiofônica) colocam o assombrado que percorre essas declarações forró eletrônico como uma música regional não encontra explicação lógica ou evidência compartilhada em larga escala, seguindo modelos quantitativa que o sustente. As grandes empresas e quantitativos análogos aos do mainstream das continuam controlando o mercado no seu setor multinacionais do disco. mais oneroso: a difusão, que movimenta gastos consideráveis para o lucro direto advindo de cada 11/15 5 Um novo mainstream disco, de cada show, de cada artista. O mercado de música atual tem se transformado Entre os assombrados e os deslumbrados, no em uma arena de calorosos debates e muitas Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. entanto, pode-se identificar um mercado em incertezas. As previsões mais otimistas transformação que permite poucas certezas e apontam as novas tecnologias como vetores de quase nenhum tipo de previsão futurística. É uma possível “democratização” da oferta de fato que uma compreensão mais aprofundada música disponível, representando uma perda desse universo amplo e complexo não pode mais de importância dos grandes conglomerados do se associar exclusivamente a uma diferenciação entretenimento internacional no cenário. Trata-se utópica entre independentes e mainstream. de uma utopia um tanto ingênua, que indica certo Por outro lado, as gradações de alcance entre deslumbramento com as reais possibilidades da os vários produtos disponíveis no mercado atual configuração tecnológica em diversificar musical nos encorajam a adotar os dois pólos o consumo de música. É evidente que se como norteadores de referências simbólicas observa a emergência de canais alternativos de e quantitativas sobre a música que circula circulação musical que, de fato, têm provocado por nossa sociedade. Nesse sentido, algumas algum aumento da diversificação de ofertas mudanças no âmbito do grande mercado musicais. Contudo, uma comemoração mais podem ser identificadas sem grande esforço, entusiasmada dessas novas redes de distribuição agregando um conjunto de práticas musicais e circulação de música pode ser precipitada, com inquestionável sucesso comercial que uma vez que a grande maioria da produção e vêm desenvolvendo mecanismos alternativos consumo de músicas pelo planeta ainda passa aos adotados pelas grandes transnacionais da irremediavelmente pelo controle das grandes música e do entretenimento. “Alternativo” aqui gravadoras, que estão desenvolvendo mecanismos não significa “contra-hegemônico” no conceito
  • 12. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | gransciniano, mas simplesmente um jeito ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: diferente de fazer o mesmo, alcançando projeção Elsevier, 2006. midiática e público numeroso. A substancial BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de redução da autonomia artística promovida pelos Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. “escritórios” (para usar um termo de Adorno ______. A distinção: crítica social do julgamento. e Horkheimer, 1982) que controlam as bandas Porto Alegre: Zouk; São Paulo: Edusp, 2007. de forró (assim como os “produtores” dos trios CARVALHO, José Jorge de. Transformações na elétricos baianos, os “donos” das aparelhagens sensibilidade musical contemporânea. Série de brega e os “magnatas” do reggae) produz um Antropologia, n. 266. Brasília: UnB, 1999. agudo afastamento ideológico entre as condições 12/15 COSTA, Rogério. Djs, magnatas e regueiros: de produção efetivamente empregadas nesses considerações sobre o reggae de São Luis. In: mercados e as noções – um tanto românticas – ENCONTRO DE MÍDIA E MÚSICA POPULAR de independência artística que alimentam um MASSIVA. 1., 2007, Salvador (mimeo) Salvador: Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. Edufba, 2007. sentido propriamente de resistência das chamadas “indies”. Assim, a caracterização desse universo DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986. sonoro musical como um novo mainstream pode colocar essa produção e seu consumo num DE MARCHI, Leonardo. “Indústria fonográfica independente brasileira: debatendo um conceito”. contexto de reflexão mais adequado ao seu alcance In: Anais do XXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE numérico e ao conjunto de referenciais simbólicos CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2005. Rio de Janeiro: que circulam através desses repertórios. Um Intercom, 2005. CD-ROM. novo mainstream ligado à exploração comercial DIAS, Márcia Tosta. Os donos da voz: indústria da experiência musical social, promovida fonográfica brasileira e mundialização da cultura. São especialmente para um público jovem que deseja Paulo: Boitempo; FAPESP, 2000. compartilhar representações sobre sua identidade GUERREIRO, Goli. A trama dos tambores: a música etária através das idéias concomitantes de afro-Pop de Salvador. São Paulo: 34, 2000. festa, amor e sexo, temas centrais no ambiente HERSCHMANN, Micael. Lapa, cidade da música. Rio sociocultural e afetivo do jovem. de Janeiro: Mauad X, 2007. JANOTTI Jr., Jeder; CARDOSO FILHO, Jorge. A música Referências bibliográficas popular massiva, o mainstream e o underground”. In: JANOTTI JR.., Jeder ; FREIRE FILHO, João (orgs.). ADORNO, T. & HORKHEIMER, M. A industria cultural: Comunicação & Música Popular Massiva. Salvador: o Iluminismo como mistificação de massas In: LIMA, EdUFBA, 2006. Luiz Costa (org.). Teoria da cultura de massa. Tradução: Júlia Eliabeth Levy. Rio de Janeiro, Paz e ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Terra, 1982. Paulo: Brasiliense, 1988.
  • 13. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | PEDROZA, Ciro José Peixoto. Mastruz com Leite for all: folk-comunicação ou uma nova indústria no Nordeste brasileiro. In: Anais do XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2001. Campo Grande: Intercom, 2001. CD-ROM. SHUNKER, Roy. Vocabulário de música pop. São Paulo: Hedra, 1999. TROTTA, Felipe. O forró de Aviões. In: ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 17., 2008. Anais... São Paulo : Compós, 2008, v. 1, p. 1-13. 13/15 VAZ, Gil Nuno. História da música independente. São Paulo: Brasiliense, 1988. VICENTE, Eduardo. A vez dos independentes(?): um olhar sobre a produção musical independente do país. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. E-Compós, v. 7, p. 1/19-19/19, Brasília, 2006.
  • 14. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | The new mainstream in El nuevo mainstream de la regional music: axé, brega, música regional: axé, brega, reggae and Electronic forró reggae y forró electrónico electrónico in the Northeast. en el Nordeste. Abstract Resumen This papers intends to locate part of the Brazilian Comenzando con una reflexión sobre el concepto de Northeast musical production as held inside of música independiente, este artículo tiene por objeto the mainstream of the regional music market. caracterizar la producción musical del Nordeste These musical practises – axé, brega reggae and brasileño como un nuevo mainstream regional. forró – are highly spread in society, getting to Con el expresiva circulación en la región, la música a level of consumption that exceeds the limits de algunos géneros tales como axé, brega, reggae of the classification “independent”. So, these y el forró electrónico llega a una consagración 14/15 musical universes articulate some sets of values comercial que excede los límites de la clasificación and symbols addressed explicitly to the young and indepiendente. Por lo tanto, en estas prácticas associated to the ideas of party-love-sex, with great musicales se puede observar una serie de valores y commercial success. símbolos asociados con el público joven que, girando Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. Keywords en torno a las ideas del fiesta-sexo-amor, alcanzan la Music market. Popular music. Forró. Indies. gran proyección en el mercado musical. Palabras clave Mercado musical. Música popular. Forró. Independientes. Recebido em: Aceito em: 05 de outubro de 2008 07 de dezembro de 2008
  • 15. www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 | Expediente E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Revista da Associação Nacional dos Programas Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Pós-Graduação em Comunicação. (Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos A identificação das edições, a partir de 2008, em instituições do Brasil e do exterior. passa a ser volume anual com três números. CONSELHO EDITORIAL Afonso Albuquerque John DH Downing Universidade Federal Fluminense, Brasil University of Texas at Austin, Estados Unidos Alberto Carlos Augusto Klein José Luiz Aidar Prado Universidade Estadual de Londrina, Brasil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil Alex Fernando Teixeira Primo José Luiz Warren Jardim Gomes Braga Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Alfredo Vizeu Juremir Machado da Silva Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Ana Carolina Damboriarena Escosteguy Lorraine Leu Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil University of Bristol, Grã-Bretanha Ana Silvia Lopes Davi Médola Luiz Claudio Martino 15/15 Universidade Estadual Paulista, Brasil Universidade de Brasília, Brasil André Luiz Martins Lemos Maria Immacolata Vassallo de Lopes Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil Ângela Freire Prysthon Maria Lucia Santaella Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil Antônio Fausto Neto Mauro Pereira Porto Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Tulane University, Estados Unidos Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.11, n.2, maio/ago. 2008. Antonio Carlos Hohlfeldt Muniz Sodre de Araujo Cabral Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Arlindo Ribeiro Machado Nilda Aparecida Jacks Universidade de São Paulo, Brasil Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil César Geraldo Guimarães Paulo Roberto Gibaldi Vaz Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Cristiane Freitas Gutfreind Renato Cordeiro Gomes Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Denilson Lopes Ronaldo George Helal Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Eduardo Peñuela Cañizal Rosana de Lima Soares Universidade Paulista, Brasil Universidade de São Paulo, Brasil Erick Felinto de Oliveira Rossana Reguillo Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores do Occidente, México Francisco Menezes Martins Rousiley Celi Moreira Maia Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Gelson Santana Sebastião Carlos de Morais Squirra Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil Universidade Metodista de São Paulo, Brasil Hector Ospina Simone Maria Andrade Pereira de Sá Universidad de Manizales, Colômbia Universidade Federal Fluminense, Brasil Ieda Tucherman Suzete Venturelli Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Universidade de Brasília, Brasil Itania Maria Mota Gomes Valério Cruz Brittos Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Janice Caiafa Veneza Mayora Ronsini Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Jeder Silveira Janotti Junior Vera Regina Veiga França Universidade Federal da Bahia, Brasil Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil COMISSÃO EDITORIAL COMPÓS | www.compos.org.br Ana Gruszynski | Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação João Freire Filho | Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Rose Melo Rocha | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Presidente Erick Felinto de Oliveira CONSULTORES AD HOC Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Aníbal Bragança | Universidade Federal Fluminense, Brasil erickfelinto@uol.com.br Gisela Castro | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Vice-presidente Gislene Silva | Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Ana Silvia Lopes Davi Médola Maria Helena Weber | Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Universidade Estadual Paulista, Brasil Rosana de Lima Soares | Universidade de São Paulo, Brasil asilvia@faac.unesp.br Tania Hoff | Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Secretária-Geral REVISÃO DE TEXTO E TRADUÇÃO | Everton Cardoso Denize Correa Araújo Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil ASSISTÊNCIA EDITORIAL E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Raquel Castedo denizearaujo@hotmail.com