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Prévia do Livro O Último Sermão
       Marcelo Olemberg
        Editora Emanuel




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QUANTO TEMPO TENHO DE VIDA, DOUTOR?




N    ove horas da manhã. Atrasado mais uma vez. Mal conseguia levantar a mão para

desligar o despertador, que parecia soar dentro da própria cabeça. Começou a arrumar-
se rapidamente, pois estava com horário marcado no consultório médico. Não havia
mais tempo para se barbear, olhou o espelho e quase não conseguia acreditar no que via.
Sua aparência era péssima.
       Havia chegado em casa pelas altas horas da madrugada, depois de uma noite
agitada no bar, contrariando as ordens médicas. Beber, fumar e perder noites de sono
eram recomendações fatais da equipe médica. Mas. . .
       Enquanto se arrumava, ligou a televisão. Logo reconheceu que o documentário
era exatamente sobre os escândalos em que estava envolvido. A reportagem destacava,
com certo ar de lamento, como aquele personagem havia sido um cidadão respeitável,
sempre convidado para debates de interesses públicos, tendo sempre sua imagem
associada aos grandes nomes da nação.


       Saiu do hotel, na verdade uma espelunca de quinta categoria, muito diferente dos
luxuosos “cinco estrelas” onde costumava hospedar-se. Tomou um táxi e, enquanto
viajava, começou a meditar nos rumos que sua vida havia tomado: como
repentinamente, o esplendor dos holofotes foi substituído pela obscuridade, que embora
desagradável, o mantinha longe da investigação dos repórteres.
       Pensou como era solicitado, como suas opiniões influenciavam a vida das
pessoas, dos banquetes e recepções que freqüentava, suas fotos em colunas sociais...
       Neste momento o táxi parou em frente ao consultório. Pagou a viagem e subiu as
escadas vagarosamente, apoiando-se no corrimão, tentando vencer o cansaço provocado
pelas malditas tosses que o acompanhavam nos últimos meses.
        Depois de avaliar alguns exames o médico o encaminhou a um oncologista, o
Dr. Richard Abraham, especialista e bem conhecido em sua área.
       Por ser bastante objetivo nos seus diagnósticos era temido por seus clientes. As
respostas eram fatais, o que determinava sua competência.
Logo que chegou foi encaminhado pela recepcionista, que o apoiou nos braços ao
interior do consultório, onde o Dr. Abraham já o aguardava. Cumprimentou-o com ar
severo, visto que suas recomendações não estavam sendo observadas.
       Após examinar detidamente os exames radiológicos e laboratoriais o Dr.
Abraham levantou os olhos sobre os óculos, com ar soturno e semblante carregado,
como que procurando puxar assunto, perguntou como estava se sentindo ultimamente.
Após um silêncio acusador, ouviu respostas evasivas, tentativas de desviar a atenção da
verdade e receber o resultado dos exames.
       O médico lembrou-lhe as recomendações, passou severas advertências para que
interrompesse imediatamente hábitos notívagos, tabagismo e bebedeiras, pois seu estado
de saúde estava cada vez pior.
       Sentindo que uma resposta nada agradável viria, pediu ao médico que fosse
direto ao assunto. Com sua habitual objetividade, o doutor evitou delongas e relatou que
os resultados dos exames foram positivos e seu estado de saúde se agravara
assustadoramente, devido as contrariações das determinações médicas.
       Perguntou então o que aconteceria com ele diante desta realidade. Mesmo
percebendo que seu estado emocional estava bastante abalado, o Dr. Abraham foi direto
ao assunto:
       — Bem, Sr Michael, infelizmente seu estado é irreversível. O câncer tomou
completamente ambos os pulmões, impedindo uma extirpação preventiva e iniciando
um processo de metástase, de forma que sua expectativa de vida se encontra bastante
reduzida.
       — Quanto tempo tenho de vida doutor? Indagou com voz embargada.
       — Não muito – Respondeu o médico – Não há previsão, algo em torno de doze
meses, mas se o senhor procurar um bom lugar de repouso, alimentação saudável e
principalmente abandonar o cigarro e a bebida, este prazo poderá chegar a dezoito
meses. Sinto muito!
A FAMÍLIA



Enquanto retornava ao hotel pensava um pouco sobre as glórias do passado. Nos dias
em que o Reverendo Michael Cuningham era um dos grandes líderes religiosos da
América, como era convidado para aconselhar presidentes, como seus programas de
rádio e televisão eram apontados pelas pesquisas com alto índice de audiência. Seu
passaporte diplomático facultava grandes viagens por todo o mundo, sendo
recepcionado pelos chefes de governo. Chegou a recordar sobre a polêmica causada nos
meandros políticos e religiosos quando visitou o Vaticano; a coleção dos vários títulos
de doutor honoris causa das principais universidades do mundo; sua glamourosa forma
de vida; a luxuosa mansão com jardins esplêndidos, plantas exóticas, aquários com
plantas aquáticas, e especialmente grande quantidade de peixes ornamentais; a famosa
biblioteca, conhecida no país pelos milhares de volumes raros, visitada pelo programa
de TV que mostrava as mais ricas bibliotecas e as belas mansões do país.
       Sua esposa sempre presente no cenário político, costumava promover jantares
beneficentes em favor da população carente. Por causa de sua influência na sociedade
foi solicitada para apoiar o candidato a prefeito nas últimas eleições, que lhe garantiu
uma grande quantidade de votos, não somente por sua influência mas, também, pelo
fato de ser amiga inseparável da senadora Eleonor Hershey, famosa por sua luta contra o
racismo e intolerância religiosa.
       Formavam uma família exemplar e bem-sucedida, o que causou sua indicação ao
cargo de Superintendente-Geral da denominação.
       Seu filho mais velho fora convidado para trabalhar na equipe do Governador do
Estado, fato que ocupou as manchetes dos principais jornais.
       Michael Cuningham começou sua brilhante carreira vindo do interior ainda
solteiro, participando dos cultos na Memoryal Church, na grande cidade de Nova York.
Sem amigos para conversar, sentava-se no último banco. Seu terno surrado o
distanciava dos outros jovens, o que dava a idéia de isolamento. Seu velho pai, um
sitiante semi-alfabetizado, porém fervoroso cristão, juntou o dinheiro das duas últimas
colheitas para custear sua passagem para a cidade grande. Na hora da partida do único
filho, as lágrimas se encontraram: pai e filho se abraçaram chorando, ao lembrarem da
mãe, enferma em estado terminal. Enquanto o jovem caminhava para a velha porteira o
velho o recomendava, tirando o chapéu de couro, que guardasse sua fé até as últimas
conseqüências:
        – Nunca abandone sua fé, meu filho.


       Um dia a filha mais velha do Pastor da Memoryal Church se aproximou dele, o
mal vestido jovem interiorano, para convidá-lo a participar do Departamento de
Missões. Aquele simples convite daria início a um belíssimo romance, que culminaria
em casamento. A grande recepção promovida pelo pastor, o pai da noiva, estava repleta
de convidados famosos e influentes que lhe abriram muitas portas, facilitando seu
ingresso nas altas cúpulas da denominação. O reconhecimento foi imediato.


       Lembrou de sua mania de guardar um velho par de sapatos que usava quando
veio do interior, e por eles nutria um grande valor sentimental; de sua coleção de
gravatas importadas das mais distantes partes do mundo. Como ia tudo bem em sua
vida, até que tudo aconteceu...
       Seu Ministério era próspero. Seu último livro era sucesso absoluto de vendas e
devido a tantas tarefas precisou contratar uma secretária, uma vez que Senhora Marta
Stewart estava se aposentando. Colocou um anúncio nos jornais, solicitando candidatas
e marcando entrevistas. Compareceram muitas e selecioná-las não era tarefa muito fácil,
visto que necessitavam possuir excelentes qualificações.
       Após entrevistar algumas, fez pausa para o almoço e ao retornar dispensou o seu
auxiliar, que havia solicitado folga na parte da tarde e recebeu a candidata seguinte.
Chamou seu nome, a porta abriu e entrou a Srta. Mary Ellen Mackartney: 22 anos de
idade, cabelo ruivo, olhos azuis e rosto angelical.
       Ainda que ele tentasse disfarçar aquela belíssima jovem havia causado um
tremendo impacto em sua mente. Com palavras desconcertadas, mandou que ela
sentasse e começou a entrevista. Embora houvesse candidatas mais preparadas algo
dizia quem seria a escolhida. O coração já fizera a escolha.
       Terminou o dia, entrou no carro, e a lembrança daquela jovem o atormentava.
Quando chegou em casa sua esposa indagou o motivo do silêncio na hora do jantar e ele
alegou cansaço, se retirou para o quarto e foi deitar.
       No dia seguinte pegou a ficha de Mary Ellen viu o número do telefone e ligou
para ela anunciando sua escolha, mesmo sem ter avaliado as outras candidatas
convidou-a a assumir a vaga naquele mesmo dia. Desligou o telefone, a princípio de
forma desinteressada.
           Ficou sentado na cadeira presidencial reclinável, enquanto ouvia uma insistente
advertência no seu coração. As justificativas vazias abafavam a voz da insistente
consciência, já algemada pelas emoções.
       Quando a Srta. Mary Ellen chegou, foi recebida com muito entusiasmo; apesar
de sua razoável competência, seu dinamismo e alegria contagiavam o ambiente.
       Três meses após a admissão da jovem, o trabalho acumulou-se e Cuningham
teve que trabalhar até tarde e solicitou a ajuda da Srta Mackartney. Neste dia, sendo
tarde, resolveu levá-la em casa por causa da forte chuva que caía.
       Quando parou o carro em frente à casa da jovem, ela convidou-o a entrar e tomar
um café, o que ele recusou, mas diante da insistência, pensou que não haveria nenhum
mal entrar rapidamente e ir embora sem que ninguém percebesse.
       Com a roupa levemente molhada, Mary Ellen entrou em casa mandou que ele
tirasse o paletó enquanto ela trocava de roupa e preparava o café. Ele sentou e esperou
que ela retornasse enquanto observava a casa humilde.
       Tamanha foi sua surpresa quando a jovem apareceu com uma camisola
levemente transparente de forma que pudesse ver a lingerie de cor vermelha com
detalhes excitantes. Ainda que bastante surpreso e a princípio passando despercebido,
continuou aguardando o café, porém ela sentou-se ao seu lado, exibindo o farto decote
da camisola, pegou sua mão e começou a chorar, dizendo-se perdidamente apaixonada
por ele.


       Nesse momento, de nada valeu lembrar-se de sua mãe doente, pedindo às
lágrimas que sempre permanecesse fiel à palavra de Deus. Quando tentou levantar-se,
como última tentativa de fugir daquela situação, lembrou-se de José diante da mulher de
Potifar. Embora seu desejo fosse tomar aquela iniciativa primeiro, a bela jovem de 22
anos o segurou pelas barras do seu colete, já meio desabotoado.
       Sentiu-se impotente, como se suas forças sucumbissem diante de um gigante que
não se deseja enfrentar ou uma criança indefesa diante de seu algoz. Nesse momento
Michael era um feliz escravo, porém, mais infeliz que seu vitorioso inimigo.


       Atordoado, indefeso e infeliz, preferiu ser dominado a dominar; embriagado,
mas consciente, ele não mais se esforçou para escapar, mas para acomodar-se nos
braços da donzela, que o afagava sobre seus sinuosos seios perfumados da melhor
fragrância francesa. Ali mesmo na sala de estar Michael e Mary Ellen experimentaram
um novo sabor da vida que, não muito tempo depois, se transformaria no pior dos
sabores: o absinto.
       A respiração ofegante os fez dormir o sono que provocaria o pesadelo da
insolência.


       O relógio já acusava 9 horas da manhã, o sol ia alto e ele não podia crer no que
via: Mary Ellen, completamente nua ao seu lado. Levantou e se recompôs. Procurou sair
sem ser percebido e foi para o escritório, ainda incrédulo com o que acontecera.
       Mal chegou e Susan, sua esposa, ligou perguntando o motivo de ter passado a
noite fora, ele disse que trabalhou até tarde e dormiu no escritório. Enquanto ele
colocava as coisas em ordem, Mary Ellen chegou com ar de satisfação e o
cumprimentou dizendo:
       – Bom dia meu amor, como estou feliz!
       Ele permaneceu calado. No final do expediente pediu-lhe para levá-la em casa
novamente. Aquela noite seria o jantar de comemoração pela indicação do filho dele ao
gabinete do Governador, e precisava chegar cedo em casa, argumentou Cuninghan.
Mesmo demonstrando descontentamento ela concordou.
       – Oi Michael! - disse Susan – Que saudades! – exclamou abraçando-o.
       – Como está Mathew? – perguntou pelo filho.
       – Muito feliz, o próprio governador virá ao jantar. Será uma noite especial!
       Indisposto para conversa, Michael subiu para se arrumar para o grande jantar.
       Passaram-se, aproximadamente, dois meses desde que aquela noite chuvosa os
enlaçou. Michael continuou em suas atividades ministeriais como de costume, porém
acrescentando as saídas freqüentes com Mary Ellen, até que ela trouxe a notícia
bombástica:
       – Mike, tenho algo muito importante para lhe dizer.
       Ele, que a esta altura havia começado a beber a ponto de embriagar-se,
perguntou o que seria, mas sem esperar por algo tão grave.
       – Estou grávida. – disse.
       Meio trêmulo e quase bêbado não conseguiu segurar o copo com o susto.
Fortemente irritado, Cuninghan esbravejou que isso não poderia acontecer de maneira
nenhuma. A gravidez teria que ser interrompida a qualquer jeito. Mary Ellen ainda
espantada com a reação de Mike, indagou como poderia interromper a gestação. Foi
nesse momento que Michael respondeu que um aborto resolveria o caso.


         – Como um pregador do Evangelho poderia sugerir tal coisa, perguntou Mary
Ellen.
         – Escute – respondeu – estou no melhor momento de minha carreira, fui
chamado para ser o conselheiro do presidente, esta semana estive na Casa Branca
tomando café com ele. Meus livros estão vendendo muito; não posso deixar que essa
situação venha a público, destruirá meu ministério, minha carreira e minha família. A
propósito, você comentou isso com alguém?
         – Eu liguei para minha mãe. Ela ficou feliz, disse Mary Ellen.
         – Você não entende? – argumentou nervoso e falando alto – sou um homem
casado, pastor de igreja e conhecido neste país; isto será um grande escândalo!
         Mary Ellen começou a chorar, não conseguia aceitar a possibilidade de um
aborto. Pediu para que Michael considerasse; ele a segurou pelos braços, aos berros:
         – Ou você faz isso ou nunca mais vejo você!
         – Se você me abandonar, eu conto tudo pra imprensa, ela respondeu.
             Michael, descontrolado berrou novamente:
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         A jovem, grávida de dois meses, atordoada com a reação do reverendo, não
suportou e desabou no chão desmaiada, sendo logo amparada pelo opressor.
         Quando ela voltou a si, Cuninghan de forma bastante sutil tentou persuadi-la,
prometendo que mais tarde se divorciaria de Susan e constituiriam família, caso
conseguisse alcançar seus objetivos.
         Diante das juras de amor e promessas de ficarem definitivamente juntos, Mary
Ellen concordou. Perguntou se isso não afetaria sua saúde, o que imediatamente foi
descartado por Michael, como se fosse obstetra. Beijaram-se e concordaram em
procurar uma clínica especializada na semana seguinte, devido aos compromissos
ministeriais dele.
         Era uma segunda-feira ensolarada, Michael havia chegado pela madrugada de
uma viagem à Capital Federal, buscou Mary Ellen em casa, e foram à cidade vizinha
onde existia uma clínica para realização de aborto. Ele sabia do endereço porque, fizera
um levantamento de várias clínicas com o propósito de denunciar a justiça.
Deixou a jovem, que já contava com quase três meses de gravidez e
prosseguiu para o escritório prometendo buscá-la no dia seguinte, pois a tarde realizaria
uma palestra para importantes homens de negócios.
       Chegou em casa mais cedo, para espanto de Susan, que estava envolvida em
mais um importante evento beneficente. Não poderia se atrasar, pois participaria de um
encontro com a Senadora Hershey e um famoso jogador de basquete, que havia doado
uma quantia considerável para a construção de mais uma creche em uma comunidade
carente. Beijou-o e despediu-se dizendo que voltaria tarde, se caso ele estivesse
cansado, fosse dormir sem esperá-la.
       Ele sorriu e foi se deitar, observando como Susan o ajudava na projeção
publicitária da Fundação Cuningham e como isso beneficiava seu Ministério.
        A cobertura da mídia associava frequentemente seu nome a causas sociais e
despertara a atenção dos Republicanos que sondaram seu interesse em candidatar-se ao
senado nas próximas eleições.
        Tomou um banho bem quente e foi dormir, pensando em levar um buquê de
rosas para Mary Ellen, quando fosse buscá-la na clínica.
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  • 1. Prévia do Livro O Último Sermão Marcelo Olemberg Editora Emanuel Compre esse livro em: http://loja.gospel10.com/
  • 2. QUANTO TEMPO TENHO DE VIDA, DOUTOR? N ove horas da manhã. Atrasado mais uma vez. Mal conseguia levantar a mão para desligar o despertador, que parecia soar dentro da própria cabeça. Começou a arrumar- se rapidamente, pois estava com horário marcado no consultório médico. Não havia mais tempo para se barbear, olhou o espelho e quase não conseguia acreditar no que via. Sua aparência era péssima. Havia chegado em casa pelas altas horas da madrugada, depois de uma noite agitada no bar, contrariando as ordens médicas. Beber, fumar e perder noites de sono eram recomendações fatais da equipe médica. Mas. . . Enquanto se arrumava, ligou a televisão. Logo reconheceu que o documentário era exatamente sobre os escândalos em que estava envolvido. A reportagem destacava, com certo ar de lamento, como aquele personagem havia sido um cidadão respeitável, sempre convidado para debates de interesses públicos, tendo sempre sua imagem associada aos grandes nomes da nação. Saiu do hotel, na verdade uma espelunca de quinta categoria, muito diferente dos luxuosos “cinco estrelas” onde costumava hospedar-se. Tomou um táxi e, enquanto viajava, começou a meditar nos rumos que sua vida havia tomado: como repentinamente, o esplendor dos holofotes foi substituído pela obscuridade, que embora desagradável, o mantinha longe da investigação dos repórteres. Pensou como era solicitado, como suas opiniões influenciavam a vida das pessoas, dos banquetes e recepções que freqüentava, suas fotos em colunas sociais... Neste momento o táxi parou em frente ao consultório. Pagou a viagem e subiu as escadas vagarosamente, apoiando-se no corrimão, tentando vencer o cansaço provocado pelas malditas tosses que o acompanhavam nos últimos meses. Depois de avaliar alguns exames o médico o encaminhou a um oncologista, o Dr. Richard Abraham, especialista e bem conhecido em sua área. Por ser bastante objetivo nos seus diagnósticos era temido por seus clientes. As respostas eram fatais, o que determinava sua competência.
  • 3. Logo que chegou foi encaminhado pela recepcionista, que o apoiou nos braços ao interior do consultório, onde o Dr. Abraham já o aguardava. Cumprimentou-o com ar severo, visto que suas recomendações não estavam sendo observadas. Após examinar detidamente os exames radiológicos e laboratoriais o Dr. Abraham levantou os olhos sobre os óculos, com ar soturno e semblante carregado, como que procurando puxar assunto, perguntou como estava se sentindo ultimamente. Após um silêncio acusador, ouviu respostas evasivas, tentativas de desviar a atenção da verdade e receber o resultado dos exames. O médico lembrou-lhe as recomendações, passou severas advertências para que interrompesse imediatamente hábitos notívagos, tabagismo e bebedeiras, pois seu estado de saúde estava cada vez pior. Sentindo que uma resposta nada agradável viria, pediu ao médico que fosse direto ao assunto. Com sua habitual objetividade, o doutor evitou delongas e relatou que os resultados dos exames foram positivos e seu estado de saúde se agravara assustadoramente, devido as contrariações das determinações médicas. Perguntou então o que aconteceria com ele diante desta realidade. Mesmo percebendo que seu estado emocional estava bastante abalado, o Dr. Abraham foi direto ao assunto: — Bem, Sr Michael, infelizmente seu estado é irreversível. O câncer tomou completamente ambos os pulmões, impedindo uma extirpação preventiva e iniciando um processo de metástase, de forma que sua expectativa de vida se encontra bastante reduzida. — Quanto tempo tenho de vida doutor? Indagou com voz embargada. — Não muito – Respondeu o médico – Não há previsão, algo em torno de doze meses, mas se o senhor procurar um bom lugar de repouso, alimentação saudável e principalmente abandonar o cigarro e a bebida, este prazo poderá chegar a dezoito meses. Sinto muito!
  • 4. A FAMÍLIA Enquanto retornava ao hotel pensava um pouco sobre as glórias do passado. Nos dias em que o Reverendo Michael Cuningham era um dos grandes líderes religiosos da América, como era convidado para aconselhar presidentes, como seus programas de rádio e televisão eram apontados pelas pesquisas com alto índice de audiência. Seu passaporte diplomático facultava grandes viagens por todo o mundo, sendo recepcionado pelos chefes de governo. Chegou a recordar sobre a polêmica causada nos meandros políticos e religiosos quando visitou o Vaticano; a coleção dos vários títulos de doutor honoris causa das principais universidades do mundo; sua glamourosa forma de vida; a luxuosa mansão com jardins esplêndidos, plantas exóticas, aquários com plantas aquáticas, e especialmente grande quantidade de peixes ornamentais; a famosa biblioteca, conhecida no país pelos milhares de volumes raros, visitada pelo programa de TV que mostrava as mais ricas bibliotecas e as belas mansões do país. Sua esposa sempre presente no cenário político, costumava promover jantares beneficentes em favor da população carente. Por causa de sua influência na sociedade foi solicitada para apoiar o candidato a prefeito nas últimas eleições, que lhe garantiu uma grande quantidade de votos, não somente por sua influência mas, também, pelo fato de ser amiga inseparável da senadora Eleonor Hershey, famosa por sua luta contra o racismo e intolerância religiosa. Formavam uma família exemplar e bem-sucedida, o que causou sua indicação ao cargo de Superintendente-Geral da denominação. Seu filho mais velho fora convidado para trabalhar na equipe do Governador do Estado, fato que ocupou as manchetes dos principais jornais. Michael Cuningham começou sua brilhante carreira vindo do interior ainda solteiro, participando dos cultos na Memoryal Church, na grande cidade de Nova York. Sem amigos para conversar, sentava-se no último banco. Seu terno surrado o distanciava dos outros jovens, o que dava a idéia de isolamento. Seu velho pai, um sitiante semi-alfabetizado, porém fervoroso cristão, juntou o dinheiro das duas últimas colheitas para custear sua passagem para a cidade grande. Na hora da partida do único filho, as lágrimas se encontraram: pai e filho se abraçaram chorando, ao lembrarem da mãe, enferma em estado terminal. Enquanto o jovem caminhava para a velha porteira o
  • 5. velho o recomendava, tirando o chapéu de couro, que guardasse sua fé até as últimas conseqüências: – Nunca abandone sua fé, meu filho. Um dia a filha mais velha do Pastor da Memoryal Church se aproximou dele, o mal vestido jovem interiorano, para convidá-lo a participar do Departamento de Missões. Aquele simples convite daria início a um belíssimo romance, que culminaria em casamento. A grande recepção promovida pelo pastor, o pai da noiva, estava repleta de convidados famosos e influentes que lhe abriram muitas portas, facilitando seu ingresso nas altas cúpulas da denominação. O reconhecimento foi imediato. Lembrou de sua mania de guardar um velho par de sapatos que usava quando veio do interior, e por eles nutria um grande valor sentimental; de sua coleção de gravatas importadas das mais distantes partes do mundo. Como ia tudo bem em sua vida, até que tudo aconteceu... Seu Ministério era próspero. Seu último livro era sucesso absoluto de vendas e devido a tantas tarefas precisou contratar uma secretária, uma vez que Senhora Marta Stewart estava se aposentando. Colocou um anúncio nos jornais, solicitando candidatas e marcando entrevistas. Compareceram muitas e selecioná-las não era tarefa muito fácil, visto que necessitavam possuir excelentes qualificações. Após entrevistar algumas, fez pausa para o almoço e ao retornar dispensou o seu auxiliar, que havia solicitado folga na parte da tarde e recebeu a candidata seguinte. Chamou seu nome, a porta abriu e entrou a Srta. Mary Ellen Mackartney: 22 anos de idade, cabelo ruivo, olhos azuis e rosto angelical. Ainda que ele tentasse disfarçar aquela belíssima jovem havia causado um tremendo impacto em sua mente. Com palavras desconcertadas, mandou que ela sentasse e começou a entrevista. Embora houvesse candidatas mais preparadas algo dizia quem seria a escolhida. O coração já fizera a escolha. Terminou o dia, entrou no carro, e a lembrança daquela jovem o atormentava. Quando chegou em casa sua esposa indagou o motivo do silêncio na hora do jantar e ele alegou cansaço, se retirou para o quarto e foi deitar. No dia seguinte pegou a ficha de Mary Ellen viu o número do telefone e ligou para ela anunciando sua escolha, mesmo sem ter avaliado as outras candidatas
  • 6. convidou-a a assumir a vaga naquele mesmo dia. Desligou o telefone, a princípio de forma desinteressada. Ficou sentado na cadeira presidencial reclinável, enquanto ouvia uma insistente advertência no seu coração. As justificativas vazias abafavam a voz da insistente consciência, já algemada pelas emoções. Quando a Srta. Mary Ellen chegou, foi recebida com muito entusiasmo; apesar de sua razoável competência, seu dinamismo e alegria contagiavam o ambiente. Três meses após a admissão da jovem, o trabalho acumulou-se e Cuningham teve que trabalhar até tarde e solicitou a ajuda da Srta Mackartney. Neste dia, sendo tarde, resolveu levá-la em casa por causa da forte chuva que caía. Quando parou o carro em frente à casa da jovem, ela convidou-o a entrar e tomar um café, o que ele recusou, mas diante da insistência, pensou que não haveria nenhum mal entrar rapidamente e ir embora sem que ninguém percebesse. Com a roupa levemente molhada, Mary Ellen entrou em casa mandou que ele tirasse o paletó enquanto ela trocava de roupa e preparava o café. Ele sentou e esperou que ela retornasse enquanto observava a casa humilde. Tamanha foi sua surpresa quando a jovem apareceu com uma camisola levemente transparente de forma que pudesse ver a lingerie de cor vermelha com detalhes excitantes. Ainda que bastante surpreso e a princípio passando despercebido, continuou aguardando o café, porém ela sentou-se ao seu lado, exibindo o farto decote da camisola, pegou sua mão e começou a chorar, dizendo-se perdidamente apaixonada por ele. Nesse momento, de nada valeu lembrar-se de sua mãe doente, pedindo às lágrimas que sempre permanecesse fiel à palavra de Deus. Quando tentou levantar-se, como última tentativa de fugir daquela situação, lembrou-se de José diante da mulher de Potifar. Embora seu desejo fosse tomar aquela iniciativa primeiro, a bela jovem de 22 anos o segurou pelas barras do seu colete, já meio desabotoado. Sentiu-se impotente, como se suas forças sucumbissem diante de um gigante que não se deseja enfrentar ou uma criança indefesa diante de seu algoz. Nesse momento Michael era um feliz escravo, porém, mais infeliz que seu vitorioso inimigo. Atordoado, indefeso e infeliz, preferiu ser dominado a dominar; embriagado, mas consciente, ele não mais se esforçou para escapar, mas para acomodar-se nos
  • 7. braços da donzela, que o afagava sobre seus sinuosos seios perfumados da melhor fragrância francesa. Ali mesmo na sala de estar Michael e Mary Ellen experimentaram um novo sabor da vida que, não muito tempo depois, se transformaria no pior dos sabores: o absinto. A respiração ofegante os fez dormir o sono que provocaria o pesadelo da insolência. O relógio já acusava 9 horas da manhã, o sol ia alto e ele não podia crer no que via: Mary Ellen, completamente nua ao seu lado. Levantou e se recompôs. Procurou sair sem ser percebido e foi para o escritório, ainda incrédulo com o que acontecera. Mal chegou e Susan, sua esposa, ligou perguntando o motivo de ter passado a noite fora, ele disse que trabalhou até tarde e dormiu no escritório. Enquanto ele colocava as coisas em ordem, Mary Ellen chegou com ar de satisfação e o cumprimentou dizendo: – Bom dia meu amor, como estou feliz! Ele permaneceu calado. No final do expediente pediu-lhe para levá-la em casa novamente. Aquela noite seria o jantar de comemoração pela indicação do filho dele ao gabinete do Governador, e precisava chegar cedo em casa, argumentou Cuninghan. Mesmo demonstrando descontentamento ela concordou. – Oi Michael! - disse Susan – Que saudades! – exclamou abraçando-o. – Como está Mathew? – perguntou pelo filho. – Muito feliz, o próprio governador virá ao jantar. Será uma noite especial! Indisposto para conversa, Michael subiu para se arrumar para o grande jantar. Passaram-se, aproximadamente, dois meses desde que aquela noite chuvosa os enlaçou. Michael continuou em suas atividades ministeriais como de costume, porém acrescentando as saídas freqüentes com Mary Ellen, até que ela trouxe a notícia bombástica: – Mike, tenho algo muito importante para lhe dizer. Ele, que a esta altura havia começado a beber a ponto de embriagar-se, perguntou o que seria, mas sem esperar por algo tão grave. – Estou grávida. – disse. Meio trêmulo e quase bêbado não conseguiu segurar o copo com o susto. Fortemente irritado, Cuninghan esbravejou que isso não poderia acontecer de maneira nenhuma. A gravidez teria que ser interrompida a qualquer jeito. Mary Ellen ainda
  • 8. espantada com a reação de Mike, indagou como poderia interromper a gestação. Foi nesse momento que Michael respondeu que um aborto resolveria o caso. – Como um pregador do Evangelho poderia sugerir tal coisa, perguntou Mary Ellen. – Escute – respondeu – estou no melhor momento de minha carreira, fui chamado para ser o conselheiro do presidente, esta semana estive na Casa Branca tomando café com ele. Meus livros estão vendendo muito; não posso deixar que essa situação venha a público, destruirá meu ministério, minha carreira e minha família. A propósito, você comentou isso com alguém? – Eu liguei para minha mãe. Ela ficou feliz, disse Mary Ellen. – Você não entende? – argumentou nervoso e falando alto – sou um homem casado, pastor de igreja e conhecido neste país; isto será um grande escândalo! Mary Ellen começou a chorar, não conseguia aceitar a possibilidade de um aborto. Pediu para que Michael considerasse; ele a segurou pelos braços, aos berros: – Ou você faz isso ou nunca mais vejo você! – Se você me abandonar, eu conto tudo pra imprensa, ela respondeu. Michael, descontrolado berrou novamente: – Eu mato você! A jovem, grávida de dois meses, atordoada com a reação do reverendo, não suportou e desabou no chão desmaiada, sendo logo amparada pelo opressor. Quando ela voltou a si, Cuninghan de forma bastante sutil tentou persuadi-la, prometendo que mais tarde se divorciaria de Susan e constituiriam família, caso conseguisse alcançar seus objetivos. Diante das juras de amor e promessas de ficarem definitivamente juntos, Mary Ellen concordou. Perguntou se isso não afetaria sua saúde, o que imediatamente foi descartado por Michael, como se fosse obstetra. Beijaram-se e concordaram em procurar uma clínica especializada na semana seguinte, devido aos compromissos ministeriais dele. Era uma segunda-feira ensolarada, Michael havia chegado pela madrugada de uma viagem à Capital Federal, buscou Mary Ellen em casa, e foram à cidade vizinha onde existia uma clínica para realização de aborto. Ele sabia do endereço porque, fizera um levantamento de várias clínicas com o propósito de denunciar a justiça.
  • 9. Deixou a jovem, que já contava com quase três meses de gravidez e prosseguiu para o escritório prometendo buscá-la no dia seguinte, pois a tarde realizaria uma palestra para importantes homens de negócios. Chegou em casa mais cedo, para espanto de Susan, que estava envolvida em mais um importante evento beneficente. Não poderia se atrasar, pois participaria de um encontro com a Senadora Hershey e um famoso jogador de basquete, que havia doado uma quantia considerável para a construção de mais uma creche em uma comunidade carente. Beijou-o e despediu-se dizendo que voltaria tarde, se caso ele estivesse cansado, fosse dormir sem esperá-la. Ele sorriu e foi se deitar, observando como Susan o ajudava na projeção publicitária da Fundação Cuningham e como isso beneficiava seu Ministério. A cobertura da mídia associava frequentemente seu nome a causas sociais e despertara a atenção dos Republicanos que sondaram seu interesse em candidatar-se ao senado nas próximas eleições. Tomou um banho bem quente e foi dormir, pensando em levar um buquê de rosas para Mary Ellen, quando fosse buscá-la na clínica.
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