O documento discute o papel do telefone celular na construção da identidade social dos jovens. Ele argumenta que os telefones celulares fornecem aos jovens um sentido de presença social constante e uma ferramenta para aprender normas sociais através da interação. Além disso, a mobilidade dos telefones celulares facilita a mobilidade social e a vontade dos jovens de interagir, o que é importante para o desenvolvimento da identidade durante a adolescência.
1. Media e Socializ@ção
O papel dos Media Digitais na construção
da identidade social dos jovens
Maria do Carmo Lança e Graça Brito
Universidade Aberta
Curso de Mestrado: Gestão de Informação e Bibliotecas
Escolares
Janeiro de 2012
2. Media e Socializ@ção
Stald, G. (2008). Mobile Identity: Youth, Identity, and Mobile
Communication Media. In Youth, Identity, and Digital Media: 143-164.
No artigo de Gitte Stald (2008),propõe-se a analisar e a fazer uma
reflexão sobre o quão é importante o uso do telemóvel enquanto meio
de comunicação privilegiado dos jovens , bem como a sua influência
no processo de afirmação e construção daidentidade social.
Tendo como base e ponto de partida a análise de resultados de
estudos efetuados sobre a utilização de telemóveis por jovens
dinamarqueses, constata que para os adolescentes o telemóvel,
simboliza muito mais do que sua função prática pressupõe ,ao contrário
dos adultos.
Para os jovens, o telemóvel assume-se como um meio de comunicação
que tem um duplo significado, é um meio de comunicação que
enquanto ferramenta e canal para a troca de informação e
instrumento de socialização que decorre desse processo(de
comunicação).
Dessa forma, aqui defende-se que a identidade dos jovens e a
aprendizagem de determinadas regras e normas pelas quais se rege a
sociedade é extritamente influênciada pela utilização pessoal, diária e
muito regular de meios de comunicação móveis,e que as
características desse meio influenciam e facilitam o seu processo de
construçãoe afirmação de identidade social dos jovens.
Neste artigo, pode constatar-se que a autora aborda o tema, através
de quatro grandes áreas temáticas: a Disponibilidade, que o telemóvel
demonstra em primeiro lugar por estar sempre acessivel, uma vez que
está sempre ligado, determina que sempre que o utilizador necessita o
tem sempre disponível, podendo transmitir informação quase de
imediato;
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O Sentimento social de presença, que decorre durante todo o processo
de comunicação, uma vez que o jovem se sente seguro com o fato de
possuir um aparelho de comunicação móvel,
A Função de diário, uma vez que para além de posder comunicar,
pode ser utilizado como um instrumento de registo das atividades diárias
e registo de experiências pessoais,
O Papel de ferramenta, que serve para aprendizagem das normas e
regras sociais.
A rápida evolução da tecnologia, permite que o telemóvel se tenha
tornado num sistema multimédia em larga escala. No entanto aquilo
que o distingue dos outros meiosd de comunicação é a sua fácil
acessibilidade e o fato de se poder deslocar com relativa facilidade, o
que acaba por favoprecer e estimular o processo de comunicação e
assim facilitar o processo de socialização entre os jovens.
Muitas vezes o telemóvel funciona como uma extensão do próprio
corpo. O telemóvel permite que o seu utilizador troque informação de
uma forma bastante rápida, tem carateristicas de mobilidade, e através
dele a informação é trocada com relativa facilidade e acessibilidade,
independentemente do tempo e do espaço em que o processo de
traca de informação decorra.
A mobilidade do telemóvel, facilita a mobilidade social dos jovens e a
vontade de interagir com os amigos durante o período da
adolescência. A interacção na adolescência é uma importante parte
do desenvolvimento da identidade, porque permite testar os códigos
individuais, culturais, sociais e comportamentais do jovem. Nesse
sentido, para os jovens, o fato de ser móvel significa também um passo
em frente na sua afirmação enquanto indivíduos.Neste contexto, o
telemóvel representa para os jovens um interface muito importante, e
torna-se indispensável para lidar com o ritmo da constante troca de
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informação de carácter pessoal, gerir a organização da sua vida diária
e lidar com a insegurança, muitas vezes característica da idade,
transformando-se num meio de aprendizagem social que lhes permite
posicionar-se face aos desafios das sociedades modernas.
Para a maioria dos jovens, o telemóvel são de extrema importância,
importancia essa que tem um decrescimo com a idade; porque:
Servem de coordenação da sua vida social;
Servem para organizar o trabalho/ estudo;
Servem de meio de comunicação com as instituições;
Servem como forma de organizar a sua vida familiar e amorosa.
Apesar de existir uma diferença muito pouco significativa, o estudo
demonstra a existência de mais utilizadores do sexo feminino do que do
masculino.
O telemóvel assume para os jovens uma importância tal que se chega
ao cúmulo de determinados jovens afirmarem que o fato de se
esquecer do telemóvel é como se sentissem desprovidos de roupa.
Podemos então interrogar-nos:
Porque é considerado o telemóvel tão importante?
Porque é que muitos jovens consideram importantes os telemóveis
mas também expressam a sua preocupação sobre o impacto
desta situação?
A partir de alguns estudos chegou até nós a informação que o uso
principal e significado que lhe era atribuído, o telemóvel é visto, em
primeiro lugar, como meio imediato de coordenação social e de
actualização de informação, em segundo lugar, em conjunto com o
computador, um meio pessoal libertador da proximidade física e da
imobilidade espacial do jovem.
Atualmente o telemóvel tem uma série de funcionalidades. O seu uso
pode ser visto como prático.Os jovens utilizam-no essencialmente como
forma de comunicação. Depois desta as funcionalidades mais utilizadas
são o alarme, relógio, bloco de notas e agenda.
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A internet, MMS, jogos, música e rádio são considerados os serviços
menos utilizados, isto apesar dos jovens que foram submetidos ao
estudo considerarem que é importante ter telemóveis com tecnologias
avançadas e assinaturas quel hes permitiam o uso desses serviços, e eles
próprios têm.
Alguns jovens argumentam para a não utilização desses serviços
prendem-se com questões financeiras e a fraca qualidade,
exceptuando o serviço de rádio e MP3 que está em franco
crescimento.
A função de fotografia, é pouco utilizada com o telemóvel, isto é, a
fotografia é tirada com o telemóvel, contudo raramente são enviadas
através dos mesmos. São mostradas através do dispositivo físico ou
guardadas no computador através de ligações infravermelhos ou
Bluetooth e compartilhadas via e-mail, Messenger, chats ou através das
redes sociais.
Outra das razões apontadas para a limitada utilização dos telemóveis é
o baixo nível de literacia tecnológica. Muitos não se dão ao trabalho de
configurar os dispositivos e usá-los, também preferem um ecrã maior,
um teclado melhor e uma ligação mais rápida que a oferecida pelos
telemóveis.
Isto apesar da maioria que se considera analfabeto/tecnológico, nas
entrevistas demonstrou ter conhecimentos dos potenciais
serviços,funções, soluções e as qualidades desejáveis e indesejáveis dos
conteúdos.
A utilizaçãodas ligações através de Bluetooth, infravermelhos e portas
USB têm vindo a crescer.Os telemóveis cada vez mais oferecem
diferentes tecnologias, formatos de comunicação, conteúdos e
ligações a outros meios de comunicação.
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Se analisado a longo prazo, estas probabilidades não é fácil de prever o
que poderá ocorrer nos diferentes países do mundo, elas são
adaptadas e integradas de diferentes formas segundo vários conjuntos
de condições que as afectam: factores culturais, aspectos sociais e
constrangimentos práticos.
A escolha dos telemóveis e da utilização dos serviços também são
indicativos da mobilidade e das tendências nas culturas juvenis. Neste
aspeto os jovens dividem-se em duas categorias:
Os que adquirem os telemóveis mais avançados, mais na moda e
mais caros, não pelas suas funcionalidades mas como
demonstração social e se não oconseguem adquirir podem
mesmo ficar com traumas;
Os que não se importam com a aparência do telemóvel desde
que funcione.
Em relação a este primeiro grupo, normalmente são jovens do sexo
feminino, gostam de decorar o telefone, modificar as configurações, os
toques de acordo com as tendências musicais da moda e adicionam a
imagem fotográfica ao toque.
Todos os entrevistados posuiam telemóvel e apenas um pequeno grupo
não o coloca como algo absolutamente indispensável. Um pequeno
grupo possuia telemóveis antigos e simples e raramente efectuavam
chamadas ou utilizavam mensagens escritas.
Outro grupo também tinha uma postura descontraída e indiferente face
à utilização do telemóvel mas mais consciente; deixavam os telemóveis
em casa várias vezes e cultivavam a atitude de não estarem
dependentes dele, no entanto, esta atitude não expressa
necessariamente resistência à cultura de grupo mas sim, mostra
controle. Em comum todos concordam que o telemóvel em si e
combinado com outros meios decomunicação social, é extremamente
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útil, necessário e bom para manter todo o tipo de relacionamentos e
mantê-los ligados ao meio social em que circulam.
No estudo em questão, demonstra-se que 80% dos entrevistados não
desliga o telemóvel e osoutros 20% só o desligam por um período de
quatro a doze horas, o que demonstra estarem sempre disponíveis para
a comunicação, informação, entretenimento e para as pessoas.
Sentem que se o desligam podem perder alguma coisa e sentem-se
desconetados da rede social. Estar sem rede no telemóvel ou
desligados é um luxo que só os muito seguros da sua posição na rede
social o conseguem ter.
Com o telemóvel sempre ligado não há momentos livres, embora o
ideal seja controlar a sua utilização o que significaria, em simultâneo,
controlar a sua vida. O que se poderia perder se desligar o telefone? É
demasiado para que essa hipótes e possa ser considerada. Então
continuamos a ver que há adolescentes que são continuamente
interrompidos no dia-a-dia, levantando-se a questão acerca da
habilidade cognitiva que é necessária para se concentrar, lidar com
múltiplas tarefas e grandes quantidades de informação.
Por outro lado, o fato de telemóvel estar sempre ligado, pode induzir a
situações de stress. O fluxo de actividades inerentes ao telemóvel, mas
também, curiosamente,quando não temos telemóvel. É preocupante
não estarmos em contato, nem contactáveis. É como que uma
necesidade de estar sempre contatavél e ter a sensação de que se
“acontece algo e eu não sou informado”, é como uma questão de
lealdade. Estas experiências que geram confusão, pressão, stress,
resumem-se não só ao telefone mas tambémao fato de ser jovem numa
sociedade moderna.
O fato de querer estar sempre presente em todos os acontecim,entos
marcantes prende-se essencialmenmte com três perceções difedrentes:
Perceção da presença num espaço partilhado;
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Capacidade de estar, simultaneamente, presente em mais doque
um sítio;
Potencial perturbação provocada por um telemóvel em
situações sociais.
Os jovens estão sempre noutro local, potencialmente, diferente do local
físico em que se encontram. Embora eles considerem um ideal
normativo de comportamento em relação ao uso do telefone,
otelemóvel acaba por “afastar” as pessoas com quem se está, dada a
necessidade de estar sempre a controlar se há mensagens ou de
responder a uma chamada. Não é possível estar em dois sítios ao
mesmo tempo.
Em relação à percepção da presença num espaço partilhado, esta
experiência depende do tipo de informação que se consegue, com
quem se está a falar. Alguns autores defendem que, quanto mais
modalidades de comunicação se utilizam mais sentidos são ativados e
mais efetivo se torna o sentimento de presença.
Em relação à capacidade de estar, simultaneamente, presente em
mais doque um sítio, o ser humano tem a capacidade de poder dividir-
se em atenção quando interage em espaços diferentes. Quando utiliza
o telemóvel acaba por conseguir estar concentrado em duas
actividades, se está acompanhado, o que acaba por causar alguma
frustração na pesoa com quem está presencialmente, pois a sua
atenção á dividida.
No que concerne à potencial perturbação provocada por um
telemóvel em situações sociais, um vez que o telemóvel funciona
também como um tipo de diário digital que é alegremente partilhado
com amigos, mas também porque pode ser concebido como uma
extensão docorpo e da mente e até mesmo um tipo de “eu” adicional.
Os jovens experimentam uma certa simbiose com os seus telemóveis,
em que oequipamento físico se torna entendível como uma
representação do significado pessoal e de identidade.
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Não se trata tanto do equipamento, mas sobretudo do conteúdo que
por exemplo o cartão SIM contém. O número de telemóvel, numa
mudança de equipamento mantém-se inalterado, uma vez que os
jovens consideramser o código para as relações sociais e íntimas.
Em forma de conclusão, pçodemos considerar que esta abordagem
temática, acabou por demonstrar algumas imkplicações desta nova
forma e comunicar através de telemóvel para formação da identidade
juvenil. Desta forma o telemóvel adquir um valor simbólico e imediato
para ols jovens, com um potencial altamente tecnológico que acaba
por transmitir a própria identidade dos jovens.
O telemóvel serve como ferramenta pessoal para coordenare orientar
os jovens no dia a dia, para a atualização de cada um nas relações
sociais e para a partilha coletiva de experiências e vivências .
É assim desta forma um mediador de significados e emoções que
podem ser muito importantes na formação da identidade dos jovens,
reforçando e aumentando um ritmo de comunicação intenso e de
experiências emocionais e intelectuais, culturais e sociais, para além de
ser uma ferramenta importante que permite a uma pessoa estar no
controlo,mas ao mesmo tempo tem-se tornado mais importante ser-se
capaz de controlar o telemóvel, pois para além disso o telemóvel
também se tornou num icon social. A marca e modelo de telemóvel
neste momento é o indicador do estilo de vida e do poder social do
adolescente.
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