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Colégio Ávila Coc Trabalho de Literatura Alunos: Luís Eduardo Ferreira Campos              Tales Ferreira Guimarães Professor (a): Malu Goiânia, 03 de Junho de 2011.
A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS João do Rio
 Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
Em 1908, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade, o Rio de Janeiro já se revelava, aos olhos mais sensíveis, como uma cidade multifacetada, fascinante, efervescente na democracia da ruas. Nesse ano, um cronista lança o livro "A alma encantadora das ruas", em que observa, deslumbrado, as novas relações sociais que se desenham no coração daquela seria mais tarde chamada a Cidade Maravilhosa. Seu nome: João do Rio.
Assim como o homem, a rua tem alma. Algumas dão para malandras, outras para austeras; umas são pretensiosas, outras riem aos transeuntes, e o destino nos conduz como conduz o homem, misteriosamente, fazendo-as nascer sob uma estrela ou sob um signo mal [...] Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem histórias, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, “spleenéticas”, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem um pingo de sangue.
O narrador nos dá a conhecer os segredos íntimos do espaço público, sua fauna exuberante, carente de identidade e sedenta por exposição. Ele nos descreve o lado elegante, cosmopolita, moderno da cidade, e ao mesmo tempo conhecemos seu submundo, suas misérias. A partir daí, conhecemos uma massa de dejetos que dava contornos nítidos à capital. João do Rio conheceu os dois lados, freqüentou-os, analisou-os e os descreveu com arte. Em sua obra estão as luxuosas ruas do comércio fino, do consumo fútil e das relações frívolas ao lado das vielas fétidas, dos corredores dos cortiços, do comércio baixo da prostituição. Assim, sua obra se tornou a melhor descrição de nossa modernização enviesada, justamente porque consegue aliar os dois momentos que o país vivia - a modernidade e o atraso -, captando seu movimento e sublinhando suas demarches: na obra de João do Rio, a contradição social está em sua forma decantada!
 O que se vê nas ruas aborda as pequenas profissões dos biscateiros que perambulavam pelas ruas da cidade na virada do século: tatuadores, vendedores de livros e orações, músicos ambulantes, cocheiros, pintores de tabuletas de lojas comerciais e paisagens de parede de botequim; e também as festas populares da Missa do Galo, Dia de Reis e Carnaval. Dois desses textos (Visões d''ópio e Os cordões) extrapolam o gênero da reportagem e entram no da crônica. O mesmo podemos dizer de As mariposas do luxo, que abre a terceira parte, intitulada Três aspectos da miséria. Aqui aborda-se principalmente as condições de trabalho dos operários e a mendicância. As reportagens sobre o proletariado (Os trabalhadores da estiva e A fome negra) são pioneiras no assunto, e Antonio Cândido ( vide Radicais de ocasião in Teresina, 1980) ressaltou nelas a abordagem corajosa que nenhum outro autor da virada do século (nem mesmo os auto-proclamados progressistas e revolucionários) se atreveu a repetir. A quarta parte, Onde às vezes acaba a rua compõe-se de seis reportagens entre os presos da Casa de Detenção, que ainda hoje, mais de 90 depois, impressionam pela atualidade. 
Para compreender a psicologia das ruas não basta gozar as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs, e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar. [...] Aí está o verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua!
A matéria de sua prosa marca o fascínio por temas e tipos cariocas, colhidos no momento de sua formação e que, nos dias de hoje, nos são tão familiares. Á medida em que sua prosa os misturava, misturava-se a eles, ou seja, o diletantismo incansável do flâneur, que se movia de um lado para outro notando o burburinho das ruas, se torna um quesito formal: o narrador não se fixa em nenhuma das partes que seccionam a cidade, mas no movimento entre elas.  Há neste interesse do narrador pela intimidade das ruas, algo que nos revela sua intimidade: uma intimidade cambiante, uma intimidade fora de sua pessoa, mas não fora de sua identidade. Daí talvez, seu lirismo medido, enxuto, sua vira-volta sem fim - marcas de estilo. O narrador vai de um lado a outro da cidade, num movimento solto e desimpedido; seu verdadeiro amor é pela experiência vívida que só as ruas lhe podem oferecer.

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3 a rua

  • 1. Colégio Ávila Coc Trabalho de Literatura Alunos: Luís Eduardo Ferreira Campos Tales Ferreira Guimarães Professor (a): Malu Goiânia, 03 de Junho de 2011.
  • 2. A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS João do Rio
  • 3. Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
  • 4. Em 1908, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade, o Rio de Janeiro já se revelava, aos olhos mais sensíveis, como uma cidade multifacetada, fascinante, efervescente na democracia da ruas. Nesse ano, um cronista lança o livro "A alma encantadora das ruas", em que observa, deslumbrado, as novas relações sociais que se desenham no coração daquela seria mais tarde chamada a Cidade Maravilhosa. Seu nome: João do Rio.
  • 5. Assim como o homem, a rua tem alma. Algumas dão para malandras, outras para austeras; umas são pretensiosas, outras riem aos transeuntes, e o destino nos conduz como conduz o homem, misteriosamente, fazendo-as nascer sob uma estrela ou sob um signo mal [...] Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem histórias, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, “spleenéticas”, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem um pingo de sangue.
  • 6. O narrador nos dá a conhecer os segredos íntimos do espaço público, sua fauna exuberante, carente de identidade e sedenta por exposição. Ele nos descreve o lado elegante, cosmopolita, moderno da cidade, e ao mesmo tempo conhecemos seu submundo, suas misérias. A partir daí, conhecemos uma massa de dejetos que dava contornos nítidos à capital. João do Rio conheceu os dois lados, freqüentou-os, analisou-os e os descreveu com arte. Em sua obra estão as luxuosas ruas do comércio fino, do consumo fútil e das relações frívolas ao lado das vielas fétidas, dos corredores dos cortiços, do comércio baixo da prostituição. Assim, sua obra se tornou a melhor descrição de nossa modernização enviesada, justamente porque consegue aliar os dois momentos que o país vivia - a modernidade e o atraso -, captando seu movimento e sublinhando suas demarches: na obra de João do Rio, a contradição social está em sua forma decantada!
  • 7.  O que se vê nas ruas aborda as pequenas profissões dos biscateiros que perambulavam pelas ruas da cidade na virada do século: tatuadores, vendedores de livros e orações, músicos ambulantes, cocheiros, pintores de tabuletas de lojas comerciais e paisagens de parede de botequim; e também as festas populares da Missa do Galo, Dia de Reis e Carnaval. Dois desses textos (Visões d''ópio e Os cordões) extrapolam o gênero da reportagem e entram no da crônica. O mesmo podemos dizer de As mariposas do luxo, que abre a terceira parte, intitulada Três aspectos da miséria. Aqui aborda-se principalmente as condições de trabalho dos operários e a mendicância. As reportagens sobre o proletariado (Os trabalhadores da estiva e A fome negra) são pioneiras no assunto, e Antonio Cândido ( vide Radicais de ocasião in Teresina, 1980) ressaltou nelas a abordagem corajosa que nenhum outro autor da virada do século (nem mesmo os auto-proclamados progressistas e revolucionários) se atreveu a repetir. A quarta parte, Onde às vezes acaba a rua compõe-se de seis reportagens entre os presos da Casa de Detenção, que ainda hoje, mais de 90 depois, impressionam pela atualidade. 
  • 8. Para compreender a psicologia das ruas não basta gozar as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs, e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes - a arte de flanar. [...] Aí está o verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua!
  • 9. A matéria de sua prosa marca o fascínio por temas e tipos cariocas, colhidos no momento de sua formação e que, nos dias de hoje, nos são tão familiares. Á medida em que sua prosa os misturava, misturava-se a eles, ou seja, o diletantismo incansável do flâneur, que se movia de um lado para outro notando o burburinho das ruas, se torna um quesito formal: o narrador não se fixa em nenhuma das partes que seccionam a cidade, mas no movimento entre elas.  Há neste interesse do narrador pela intimidade das ruas, algo que nos revela sua intimidade: uma intimidade cambiante, uma intimidade fora de sua pessoa, mas não fora de sua identidade. Daí talvez, seu lirismo medido, enxuto, sua vira-volta sem fim - marcas de estilo. O narrador vai de um lado a outro da cidade, num movimento solto e desimpedido; seu verdadeiro amor é pela experiência vívida que só as ruas lhe podem oferecer.