3. O Milagre da Senhora do Monte
Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia
uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis
que encantou os portugueses que lá chegaram. Mas um dia um
senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a
fonte para as suas terras. A população desesperada, porque aquela
água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma
procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse
Nossa Senhora do Monte
a brotar naquela fonte. O milagre aconteceu e a água encheu de
novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início. O povo
utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e,
construindo rêgos ou cales, levaram a água mais longe, tornando
férteis muitos campos e quintas. A ribeira ficou a ser conhecida
como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para
sempre na memória popular.
Igreja Nossa Senhora do Monte
4. A Lenda de São Brandão
São Brandão foi um monge irlandês que viveu no século VI. Ele
lançou-se numa aventura marítima na ideia de encontrar o paraíso
terrestre. Essa viagem deu origem a uma lenda descrita no livro
“Vita Sancti Brandani Abbatis, Navigatio Sancti Brandani”.
Segundo esse livro, São Brandão teria encontrado uma ilha
magnífica, cheia de árvores e muita flora, o que o levou a pensar
que estava no paraíso terrestre. A quot;ilha de São Brandãoquot; chegou a
ser demarcada nalgumas cartas marítimas, e foi identificada por
muitos com sendo a Madeira. Esta lenda contribuiu para
impulsionar os Descobrimentos Portugueses, pois não faltaram São Brandão
expedições que procuraram em vão esse paraíso.
5. Roberto Machim
Lenda do Machim
Na corte britânica de Eduardo III, vivia um homem de sangue plebeu e alma nobre, Roberto Machim,
que tinha como melhor amigo e companheiro de armas o fidalgo D. Jorge. Roberto Machim era um
homem sensível e tinha o dom da palavra, por isso D. Jorge veio pedir-lhe para ir com ele esperar a sua
jovem e bela prima Ana de Harfet, que D. Jorge queria impressionar . Os primeiros olhares e as
primeiras palavras trocadas entre Ana de Harfet e Roberto Machim foram suficientes para que surgisse
um amor tão intenso que resignou sinceramente D. Jorge. Mas os pais de Ana de Harfet não aceitaram
a união com um pretendente de tão baixa linhagem e ordenaram o casamento de Ana com um dos
fidalgos da corte. Roberto Machim não escondeu nem a sua cólera nem a sua intenção de lutar por Ana
e foi preso por ordem do rei durante alguns dias, enquanto a cerimónia de casamento se realizava. À
saída da prisão esperava-o o seu fiel amigo D. Jorge que o informou que Ana estava a morrer de amor.
Com a ajuda de D. Jorge, Ana e Roberto fugiram em direcção a França, num barco que uma brutal
tempestade desviou para uma ilha paradisíaca. Ana não resistiu à febre que a tinha assolado durante a
tormenta e foi enterrada na bela ilha. Conta-se que Roberto Machim morreu em cima da campa da sua
amada e nela foi enterrado pelo seu amigo. Um grande amor que através do nome de Roberto foi para
sempre recordado na bonita vila de Machico, na Ilha da Madeira, pretensa ilha a que aportaram os dois
apaixonados que passaram às crónicas portuguesas.
6. Lenda do Rei Sebastião
Desde o desaparecimento do Rei D. Sebastião, que o povo português esperava o
regresso do seu monarca, e o povo desta freguesia não constitui excepção.
Assim sendo, reza a lenda que os Portossantensses acreditavam que o rei estava
refugiado numa pequena Ilha, situada atrás do Porto Santo, mas nunca ninguém
a podia ver, porque estava submersa. Mas, um dia de nevoeiro, essa Ilha viria
emergir, e o esperado rei viria a Porto Santo. Existia ainda uma outra versão Rei D. Sebastião
desta lenda, que conta que o Rei D. Sebastião ia aparecer numa quinta-feira e no
dia de S. João. Nesse dia, a cidade do Funchal era arrasada e a escada do Monte
servia de cais. Contava o povo local que ele ia aparecer numa bela praia do
Porto Santo. Nesse momento as pessoas tinham de fugir e não olhar para trás,
senão transformavam-se em pedras de mármore.
Cais de Porto Santo
7. Lenda da Noite de S. Silvestre
Esta lenda assegura que há muitos, muitos anos existia no oceano Atlântico uma ilha
fabulosa, a Atlântida, e nela vivia a civilização mais maravilhosa de sempre. Os seus
habitantes, que Platão dizia descenderem dos amores do deus Poseidon com a mortal Clito, tornaram-se tão
arrogantes que tiveram um dia a pretensão de conquistar todo o mundo, ousando mesmo o seu rei desafiar
os céus. Foi então que ouviu a voz do Deus verdadeiro dizer-lhe que nada poderia contra o poder divino.
Mas o teimoso rei voltou a desafiá-lo e decidiu conquistar Atenas, mas, durante a batalha o rei da Atlântida
ouviu a voz de Deus dizer-lhe que a vitória seria de Atenas para castigar a sua arrogância e ingratidão. À
derrota seguiram-se terríveis tempestades, terramotos e inundações que engoliram a bela Atlântida para
todo o sempre. Passaram-se muitas centenas de anos até que um dia a Virgem Maria se debruçava dos céus
sobre o oceano, sentada numa nuvem quando São Silvestre lhe veio falar. Aquela era a última noite do ano e
São Silvestre achava que deveria significar algo de diferente para os homens, ou seja, marcar uma fronteira
entre o passado e o futuro, dando-lhes a possibilidade de se arrependerem dos seus erros e de terem
esperança numa vida melhor. Nossa Senhora achou muito boa ideia e então confiou-lhe qual a razão porque
estava a observar o mar com uma certa tristeza: lembrava-se da bela Atlântida que tinha sido afundada por
Deus por causa dos erros e pecados dos seus habitantes. Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair
lágrimas de tristeza e misericórdia porque a humanidade, apesar do castigo, não se tinha emendado.
Emocionado, São Silvestre reparou que não eram apenas lágrimas que caíam dos olhos da Senhora, eram
também pérolas autênticas que caiam dos Seus olhos. Foi então que uma dessas lágrimas foi cair no local
onde a extraordinária Atlântida tinha existido, nascendo a ilha da Madeira que ficou conhecida como a
Pérola do Atlântico. Dizem os antigos que durante muito tempo, na noite de S. Silvestre quando batiam as
doze badaladas surgia nos céus uma visão de luz e cores fantásticas que deixava nos ares um perfume
estonteante. Com o passar dos anos essa visão desapareceu, mas o povo manteve-a nas famosas festas de fim
de ano com um maravilhoso fogo de artifício a celebrar a Noite de São Silvestre.
9. O Senhor Jesus de Ponta Delgada
A origem da construção da igreja do Senhor Jesus da Ponta Delgada tem origem num
milagre que aconteceu há muitos, muitos anos, quando esta cidade era apenas ainda uma pequena
povoação que pertencia a Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Andava uma
mulher a apanhar lapas nas rochas junto ao mar quando viu de repente um crucifixo com uma
imagem de Cristo em tamanho natural a boiar nas águas. Como o acesso à imagem não era fácil,
decidiu voltar à povoação, onde avisou o padre do que tinha visto. Impressionado, o sacerdote
acompanhou a mulher à praia e verificou com os seus próprios olhos a veracidade do sucedido. O
padre entrou dentro do mar e retirou a imagem que foi levada em procissão pela população, que,
entretanto se tinha juntado na praia, até à capela de Ponta Delgada. No dia seguinte, perante o
espanto geral, o crucifixo foi encontrado enterrado a prumo na areia da praia, perto do local onde
tinha sido achado. A população tornou a levá-lo em procissão para a capela, mas apenas horas mais
tarde aparecia de novo na praia e, desta vez, o crucifixo estava rodeado de canas como que a delimitar
a área de um templo. Respeitando a vontade de Cristo, os habitantes nunca mais retiraram a imagem e
iniciaram ali mesmo a construção de uma igreja que se veio a tornar na paróquia de Ponta Delgada.
Foi construído um muro para proteger o templo da fúria das águas do mar, mas, diz a lenda, embora
as águas ultrapassassem o muro e chegassem ao adro, nunca se atreveram a entrar dentro da igreja.
10. Lenda das Sete Cidades
Conta a lenda que o arquipélago dos Açores é o que hoje resta de uma
ilha maravilhosa e estranha onde vivia um rei possuidor de um grande tesouro e uma imensa tristeza
por não ter um filho que lhe sucedesse no trono. Esta dor tornava-o amargo com a sua rainha estéril e
cruel com o seu povo. Mas uma noite perante os seus olhos desceu uma estrela muito brilhante dos céus
que aos poucos se foi materializando numa mulher de beleza irreal envolta em luz prateada. Com uma
voz que mais parecia música essa mulher prometeu-lhe uma filha bela como o sol sob a condição que o
rei expiasse a sua crueldade e injustiça através da paciência. O rei teria que construir um palácio rodeado
por sete cidades cercadas por muralhas de bronze que ninguém poderia transpor. A princesinha ficaria aí
guardada durante trinta anos longe dos olhos e do carinho do rei. O rei aceitou o desafio. Decorreram 28
anos e com eles cresceram a impaciência e o sofrimento do rei, que um dia não aguentou mais. Apesar de
ter sido avisado que morreria e que o seu reino seria destruído, o rei dirigiu-se às muralhas,
desembainhou a espada e nelas descarregou a sua fúria. A terra estremeceu num ruído terrível e das suas
entranhas saíram línguas de fogo enquanto que o mar se levantou sobre a terra e a engoliu. No fim de
tudo, restaram apenas as nove ilhas dos Açores e o palácio da princesa, transformado agora na Lagoa das
Sete Cidades dividida em duas lagoas: uma verde como o vestido da princesa e a outra azul da cor dos
seus sapatos.
11. Lenda de Rabo de Peixe (São Miguel)
Há muitos anos atrás, por meados do século XV, São Miguel começava a povoar-se e
pequenos aglomerados de pessoas desenvolviam-se, uns em zonas interiores, outros à beira-mar. Na costa
norte da ilha de São Miguel, numa zona plana junto ao mar, vivia um grupo de pessoas que subsistia
cultivando a terra e, principalmente, apanhando o abundante peixe que havia no mar. Um dia uns homens
desse lugar estavam sentados à beira-mar e discutiam entre si o nome que haviam de dar ao povoado. Uns
queriam um nome e davam as suas razões. Os outros não concordavam e sugeriam outros nomes que lhes
pareciam mais apropriados. Estavam nesta conversa animada quando, olhando para o mar mesmo ali ao
pé, viram um rabo de um pequeno peixe a flutuar sobre as águas. Dois dias antes acontecera que um
grande peixe, cheio de fome, andava à procura de comida e, vendo um peixinho, pusera-se a correr atrás
dele. Pressentindo o perigo, o pequeno peixe, para não se deixar comer pelo feroz inimigo, correra de um
lado para o outro, desorientado. Apesar de ter tentado escapar, nadando com toda a velocidade e em
várias direcções, não tinha conseguido salvar-se. Tinha ficado partido ao meio, indo a cabeça para um lado
e o rabo para o outro, acabando por ser trazido para a costa pela corrente. Um dos homens que tentavam
encontrar um nome para o lugar disse para os outros: - Olhem vocês, é um rabo de peixe. É assim que a
nossa freguesia se vai chamar, “Rabo de Peixe”. Todos riram com a ideia estranha, mas ao mesmo tempo
ficaram contentes, concordaram por não terem melhor proposta e por ser um nome apropriado para um
lugar de pescadores. O pequeno lugar passou a chamar-se Rabo de Peixe e hoje é uma das maiores
freguesias de São Miguel e os seus habitantes, na maioria, são pescadores.
12. Lenda dos Açores
Há muitos anos atrás, havia um belo país onde corriam regatos de água cristalina, o chão formava
tapetes de verdura, as flores perfumavam o ar e davam colorido à paisagem. Aí viviam nove irmãos
muito amigos, que se ajudavam mutuamente. Eram muito felizes e nos dias de sol costumavam subir ao
cimo das montanhas. Daí contemplavam o mar e a bela paisagem em redor, formada por vales e montes.
De entre esses montes havia nove que se distinguiam dos restantes pela sua beleza e fertilidade do solo e
que aos poucos se foram tomando em terras desejadas no coração dos nove irmãos. Quando a ânsia já
não lhes cabia no peito, decidiram-se e foram fazer um pedido ao rei. Um deles falou assim: - Majestade,
o nosso maior desejo é ir habitar os nove montes mais verdejantes e belos deste país, mas para isso
precisamos do vosso consentimento. O rei, não vendo qualquer impedimento a tal desejo, satisfez-lhes o
pedido e os irmãos, que sempre tinham vivido unidos, separaram-se, prometendo que se reuniriam dali
em diante uma vez por ano. Esses nove montes, separados por um mar muito azul, que aos poucos se
foram povoando com descendentes dos nove irmãos muito amigos, são hoje as nove ilhas dos Açores.