2. - Era uma vez ... - ...era uma vez uma gota de água que precisava de tomar banho.
3. - Porque é que estão a fazer essa cara de espanto?
4. - É alguma coisa do outro mundo uma gota de água precisar de se lavar? - Então uma gota de água não se pode sujar? - Pois olhem que esta gota de água de quem estou a falar, está suja e bem suja! - Se não acreditam, esperem um pouco, que ela já aí vem e conta-vos.
5. - Até chegar aqui, já corri muitos caminhos, e vivi muitas aventuras, algumas boas, outras nem por isso. - Olá, eu chamo-me Gota de Água. - Nasci muito longe daqui, num país que se chama Espanha.
6. - E até apanhei algumas boleias, vejam lá. - A primeira foi logo quando desci da nuvem onde me tinha juntado com milhões de amigas, todas iguais a mim: caí em cima das penas de uma grande águia, que conseguia voar sem bater as suas enormes asas. Chamam-lhe Águia-real , talvez por ser tão grande...
7. - Fui em cima dela durante um bom bocado, até que ela virou a cabeça de repente, para ver um coelho a correr lá em baixo nos campos. Como eu estava distraída deitada de costas, desequilibrei-me e lá fui a grande velocidade até que me consegui agarrar a uma folha de uma árvore. - Depois desci para outra, e outra, e outra, escorreguei pelo tronco, e só parei para descansar no meio das ervas.
8. - Mas não descansei por muito tempo: ainda me estava a encostar, quando comecei a descer pela terra abaixo. - Foi aí que tive outra boleia: entrei num túnel de minhoca, que por acaso vinha a passar naquele instante, e me levou agarrada a ela, até eu ficar presa a uma raiz. - Depois infiltrei-me mais pela terra dentro, até ficar numa espécie de lago subterrâneo, cheio de gotas de água.
9. - Durante alguns dias, a minha vida foi só brincar com as minhas amigas gotas; dançávamos à corda, corríamos umas atrás das outras, e dizíamos "olá" às gotas que iam chegando. - Até que, um belo dia, fizemos uma longa fila, e corremos até à superfície, a um sítio que se chama nascente, que é o sítio onde as pessoas dizem que nasce um rio. - Por isso, eu e as outras gotas éramos agora um rio.
10. - Ser rio é estar sempre em movimento - desde a nascente, nunca paramos. Umas vezes vamos devagarinho, que até dá sono; outras vezes, com licença que ninguém nos apanha. - Até ficamos com dores nas pernas. E a cabeça anda à roda, que aquilo é só curvas e mais curvas. - Mas, como é tudo a brincar, nunca nos cansamos.
11.
12. - Agora nem conseguimos brincar, porque ficamos coladas a todos os objectos que passam no rio. - O meu banho não é igual ao dos meninos e das meninas. Para eu ficar mais limpa, tenho de passar por umas coisas que se chamam filtros. - Vou explicar-vos como é, com a vossa ajuda. - Até cheiramos mal. - É por isso que preciso urgentemente de tomar um grande banho.
13. - Primeiro, arranjam um copo de água suja... - ... depois, fazem passar a água suja por um filtro de café... - ... finalmente, irão ter a possibilidade de ver um copo de água muito mais limpa!
14. - Que tal? Resulta ou não? - Agora o que faz falta é arranjar filtros destes para todas as gotas de água do rio Douro para que as minhas irmãs gotas fiquem também limpinhas.
15. - É para os meninos poderem nadar no nosso meio, que é uma coisa muito gira. Sabiam que quando os meninos nadam, fazem-nos muitas cócegas? - É verdade. Se não acreditam experimentem estar com muita atenção quando nadam, e hão-de confirmar que nos irão ouvir rir.