MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
O Codificador do Espiritismo
1.
2. Nós, espíritas, devemos perguntar: Que Espírito é esse que foi capaz de
fazer a integração, pela primeira vez na História da Humanidade, da
Ciência com a Filosofia e com a Religião? Que Espírito é esse que
conseguiu fazer com que todas as questões da transcendência humana
pudessem ser equacionadas, compreendidas, racionalizadas e, melhor
ainda, trouxessem uma experiência para uma vida nova, para que a
felicidade de fato pudesse vir a ser alcançada? Não mais aquelas histórias
antigas que não falam à inteligência das pessoas; não mais as crendices,
mas alguma coisa que fala à inteligência do ser, ao sentimento do ser, ao
amor do ser, à luz do ser, e fala ao ser.
3. Que Espírito é esse capaz de traduzir com tanta clareza, com tanta
objetividade esses conceitos, que são os mais profundos que o ser humano
pode recolher, e colocando essa conceituação de maneira tão precisa? Que
Espírito é esse que, afinal de contas, faz com que nós tenhamos um tempo
novo, uma revelação nova, nos tempos novos que começam a aparecer?
Às vezes, nós pensamos que, lá no Plano Espiritual, os Mentores
preparam e enviam o missionário prontinho. Mas não é dessa maneira. Os
grandes missionários da Humanidade se fizeram aqui na Terra, à custa de
muito esforço e de muito trabalho. Eles se aprontam em meio à grandes
dificuldades.
4. Hippolyte Léon Denizard Rivail não veio pronto, tanto isso é verdade
que, ao questionar os Espíritos, temendo falhar na sua missão, estes
responderam: “Se você falhar, nós incumbiremos outra pessoa para essa
missão”. (Nessa metade de século, o homem fez várias descobertas. Para
ele tudo era matéria. E, por isso, a Espiritualidade resolveu aparecer, para
dizer que não era bem assim). Então, para o professor Rivail, não houve
uma fatalidade programada ao sair do Plano Espiritual. Livre-arbítrio e
esforço contavam na carreira desse homem, que viria a ser o Codificador
do Espiritismo. Isso o torna importante e a sua missão mais importante
ainda.
5. Segundo Herculano Pires, Pestalozzi foi fundamental na formação
intelectual e moral daquele que viria a ser Allan Kardec, para que a
Codificação tomasse o rumo que tomou. De quatorze para quinze anos de
idade, o jovem Rivail já era assistente de Pestalozzi. Dava aulas para os
alunos mais atrasados. Dominava todas as trinta e quatro disciplinas com
excepcional proveito. Falava seis idiomas. Podemos imaginar, então, que
trabalho não houve do lado de lá para que Hippolyte pudesse do lado de
cá manter acesa a paixão pelo estudo, quando, normalmente, os jovens
nessa idade estavam se divertindo. Em 1822, com dezoito anos, ele se
gradua no Instituto de Yverdun e volta para Paris.
6. Em 1824, com vinte anos, era diretor de uma escola. Escrevia o seu
primeiro livro, uma gramática da língua francesa. Escrevia também um
apêndice de Aritmética e Álgebra, para uso dos professores primários e
mães de família. Durante trinta anos, o professor Rivail se dedica ao
magistério. Nesse período escreve trinta e duas obras. Era respeitado em
toda a Europa. Em 1848 a Espiritualidade começa a promover um
verdadeiro escândalo em Hydesville, com as irmãs Fox, com o episódio
das batidas, que todos nós já ouvimos falar, e que chamou a atenção para
alguma coisa além da matéria. Aí, começou o intercâmbio entre os
homens e o mundo espiritual, que vai gerar a Codificação.
7. Em 1854 Rivail contava cinquenta e um anos de idade quando ouviu, pela
primeira vez, falar das mesas girantes. Eram mesas que se erguiam do
solo, e davam pancadas no chão, com uma ou mais pernas, fenômenos
mediúnicos, que serviam como passatempo. De início, ele foi cético,
parecia-lhe absurdo atribuir inteligência a uma coisa puramente material.
Homem criterioso, não se deixava levar por modismos. Só, que, a coisa
toma vulto, e só se fala nisso. Em maio de 1855 encontrou-se com o Sr.
Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram sobre as mesas girantes,
mas, agora em outro tom, instrutivo e sério. Conheceu a família Baudin,
ocasião em que o Sr. Baudin o convidou para assistir às sessões que
aconteciam em sua casa.
8. Surgiu, então, uma oportunidade para estudar e observar mais
atentamente as causas geradoras desses fenômenos. Somente ele, Rivail,
para perceber a utilidade do novo “modismo”, substituindo a atração
frívola e passageira, calcada nas respostas de espíritos brincalhões, por
uma investigação séria, capaz de descortinar, para o homem, as verdades
que ele próprio, por sua condição investigativa precária, ainda não podia
conceber. E através de duas médiuns, filhas do Sr. Baudin, toma contato
direto com esses fenômenos e desperta para a sua missão. Começa um
estudo e desenvolve os primeiros trabalhos importantes sobre o assunto,
que vai lhe tomar mais de vinte horas diárias.
9. Entregou-se à observações perseverantes sobre os fenômenos, e se
empenhou principalmente em deduzir-lhes as consequências filosóficas.
Se até então as sessões na casa do Sr. Baudin não tinham um objetivo
determinado, Rivail, pelo seu jeito professoral e questionador, mudou
naturalmente essa situação, pois, nessas entrevistas com os espíritos, antes
frívolas, agora se procurava resolver problemas importantes e de grande
interesse, sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do
mundo invisível. Ele ia a cada reunião com uma série de perguntas
preparadas e metodicamente dispostas, às quais os espíritos lhe
respondiam com precisão, profundidade e lógica.
10. A disposição adotada por Rivail em seus estudos espíritas foi sempre
seguir a seguinte regra: observar, comparar e deduzir. Todas as
informações foram obtidas pela escrita, por intermédio de diversos
médiuns. Os primeiros médiuns que concorreram para a elaboração desse
livro foram as Srtas. Baudin. Quase todo o livro foi escrito por intermédio
delas, em presença de numeroso público que assistia às sessões, com o
mais vivo interesse. As médiuns ficavam sentadas separadamente e
faziam a mesma pergunta aos espíritos. É, aí, que entra o espírito
científico de Rivail. Coteja as questões, recusa aquilo que parece dúbio
(Pode se recusar dez aparentes verdades, em vez de se aceitar uma
possível mentira).
11. E Rivail se dedica durante dezessete meses consecutivos à Codificação da
Doutrina. Reúne as questões que os médiuns receberam dos Espíritos,
examina a coerência de suas comunicações e o teor de sua linguagem. Em
25 de março de 1856, através da médium Srta. Baudin, Rivail teve pela
primeira vez contato com seu guia espiritual. Como o trabalho estava
quase terminado, pronto para a edição, ele resolveu revê-lo, entrevistando
outros Espíritos, mediante outros médiuns. Nesse trabalho de revisão,
mais de dez médiuns lhe prestaram assistência. Assim se formou a
primeira edição de O Livro dos Espíritos, com 501 perguntas e respostas,
assim colocadas: perguntas numa coluna, respostas em outra coluna ao
lado, que apareceria para o público a 18 de abril de 1857.
12. Por ocasião do lançamento da primeira edição de O Livro dos Espíritos,
Rivail viu-se às voltas com uma dúvida, diz ele: Essa obra que vem a
público tem que falar por si mesma. O professor Rivail precisa
desaparecer, ele não pode sustentar essa obra, porque as pessoas vão
valorizá-la por aquilo que é o professor, e eu quero que ela se valorize por
aquilo que ela é, pela riqueza que tem. Zéfiro, guia espiritual da família
Baudin, sugere um nome gaulês, que Rivail teria usado numa de suas
reencarnações, “Allan Kardec”, e ele acha de bom proveito utilizá-lo. E é
com esse pseudônimo que passa a assinar todas as suas obras espíritas.
13. Que homem mais preparado do que esse para codificar a Doutrina
Espírita? O homem é menos importante que a obra, mas é importante que
se conheça o homem para que se valorize a obra. O homem engrandece a
obra quando é grande também. E o professor Rivail agigantou-se no
mundo. Esse é Hippolyte Léon Denizard Rivail, um homem que viveu de
1804 a 1857, exatamente cinquenta e três anos; Allan Kardec viveu
somente doze anos. São dois personagens que nós precisamos separar, e
que o próprio professor Rivail fez questão de apartar. A primeira edição
de O Livro dos Espíritos já sai com o nome desse homem que nasce
exatamente em abril de 1857, Allan Kardec. Desaparece o professor
Rivail e surge o codificador do Espiritismo.
14.
15. Agora, como é que esse homem fez a codificação? Codificar significa
organizar, colocar em uma disposição didática. Kardec sabia escrever
muito bem, tinha prática de montar didaticamente um livro, para que
oferecesse ao leitor uma maneira mais fácil de entendimento. Kardec
organiza a Doutrina Espírita usando a Maiêutica, método inventado por
Sócrates para tornar o conhecimento mais fácil, o sistema de perguntas e
respostas, que quebra o conhecimento em porções menores e permite que
o leitor, que o estudioso, absorva o conhecimento aos poucos, inclusive
com interrupções, sem que signifique prejuízo para o conhecimento.
16. Allan Kardec, a partir do instante em que chega à luz O Livro dos
Espíritos, vai começar a experimentar uma vida de calvário, de
perseguições. Vai ser alvo de mentiras e calúnias pela imprensa, que era
dominada, nessa época, pela Igreja Católica, feroz combatente do
Espiritismo que nascia ali, em Paris, cidade luz, berço da cultura mundial.
Nesses primeiros tempos, só ataques a Kardec. Tentam inclusive
desvalorizar a obra dele como professor, acusando-o de loucura. Como
não poderia deixar de ser, O Livro dos Espíritos encontra na França
ferozes combatentes. A editora que o publica não recebe mais
encomendas. Não se pense que a Espiritualidade colocou um anteparo a
frente dele e facilitou tudo.
17. Kardec foi combatido até o final de sua vida. De 1857 a 1869 foi uma
vida de sacrifícios inimagináveis, contra tudo e contra todos. Ataques de
todos os tipos, não apenas à obra, mas a ele. A segunda edição de O Livro
dos Espíritos foi inteiramente refundida e consideravelmente aumentada,
com ampla revisão, mediante o contato com grupos espíritas de cerca de
quinze países da Europa e das Américas, lançada em 16 de março de
1860, agora com 1018 perguntas e respostas. Essa obra chega-nos às
mãos hoje trazendo para as criaturas notícias de que a vida não para no
túmulo, que ela exatamente recomeça no túmulo.
18. Esses foram alguns episódios da vida de um homem chamado Hippolyte
Léon Denizard Rivail. Por isto e tudo mais, nosso grande preito de
gratidão em relação ao seu criterioso trabalho. E que esse livro seja para a
Humanidade o Consolador prometido.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br