Efraim quer ser um discípulo próximo de Jesus para obter honras e prazeres terrenos, mas Jesus explica que um discípulo próximo deve estar disposto a sacrificar sua vida para servir aos outros com humildade e paciência. Efraim fica confuso com os ensinamentos de Jesus e nunca mais retorna.
2. Com base no conto “O Discípulo de perto”, do livro Pontos e Contos,
pelo Espírito Irmão X. (Momento de paz Maria da Luz).
Conta-nos assim o autor:
Efraim, filho de Atad, tão logo soube que Jesus se rodeava de pequeno
colégio de aprendizes diretos para a enunciação das Boas Novas, veio
apressado em busca de informes precisos.
Divulgava-se, com respeito ao Messias, toda sorte de comentários.
O povo se mantinha oprimido. Respirava-se, em toda parte, o clima de
dominação. E Jesus curava, consolava, bendizia...
3. Chegara a transformar água em vinho numa festa de casamento. Não
seria ele o príncipe esperado, com suficiente poder para redimir o Povo
de Deus? Certamente, ao fim do ministério público, dividiria cargos e
prebendas, vantagens e despojos de subido valor. Aconselhável,
portanto, disputar-lhe a presença. Ser-lhe-ia discípulo chegado ao
coração. De cabeça inflamada em sonhos de grandeza terrestre,
procurou o Senhor que o recebeu com a bondade de sempre, embora
tisnada de indefinível melancolia.
O Cristo havia entrado vitorioso em Jerusalém, mas achava-se possuído
de imanifesta angústia.
4. Profunda tristeza transbordava-lhe o olhar, adivinhando a flagelação e a
cruz que se avizinhavam. Sereno e afável, pediu a Efraim que lhe
abrisse o coração. Senhor! Disse o rapaz, ardendo de idealismo, aceita-
me por discípulo, quero seguir-te, igualmente, mas desejo um lugar
mais próximo de teu peito compassivo! Venho disputar-te o afeto, a
companhia permanente. Pretendo pertencer-te, de alma e coração. Jesus
sorriu e falou, calmo:
- Tenho muitos seguidores; aspirarás, porventura, à posição do
discípulo de perto?
- Sim, Mestre! Exclamou o candidato, embriagado de esperança no
poder humano.
5. Que fazer para conquistar semelhante glória?
O Divino Amigo, que lhe sondava os recônditos escaninhos da
consciência, esclareceu, pausadamente:
O aprendiz de longe pode crer e descrer, abordando a verdade e
esquecendo-a, periodicamente, mas o discípulo de perto empenhará a
própria vida na execução da Divina Vontade, permanecendo, dia e
noite, no monte da decisão. O seguidor de longe provavelmente
entreter-se-á com muitos obstáculos a lhe roubarem a atenção, mas o
companheiro de perto viverá em suprema vigilância.
6. O de longe sente-se com liberdade para buscar honrarias e prazeres,
misturando-os com as suas vagas esperanças no Reino de Deus, mas o
de perto sofrerá as angústias do serviço sacrificial e incessante. O de
longe dispõe de recursos para encolerizar-se e ferir; o de perto armar-
se-á, através dos anos, de inalterável paciência para compreender e
ajudar. O de longe alegará dificuldades para concentrar-se na oração,
experimentando sono e fadiga; o de perto, contudo, inquietar-se-á pela
solução dos trabalhos e caminhará sem cansaço, em constante vigília. O
de longe respirará em estradas floridas, demorando-se na jornada
quanto deseje; o de perto, porém, muita vez seguirá comigo pelo atalho
espinhoso.
7. O de longe dar-se-á pressa em possuir; o de perto, no entanto,
encontrará o prazer de dar sem recompensa. O de longe somente
encontra alegria na prosperidade material; o de perto descobre a divina
lição do sofrimento. O de longe padecerá muitos melindres; o de perto
encher-se-á de fortaleza para perdoar sempre e recomeçar o esforço do
bem, quantas vezes se fizerem necessárias. O de longe não cooperará
sem honras; o de perto servirá com humildade, obscuro e feliz. O de
longe adiará os seus testemunhos de fé e amor perante o Pai; o de perto,
entretanto, estará pronto a aceitar o martírio, em obediência aos
Celestes Desígnios, a qualquer momento.
8. Após longa pausa, fixou em Efraim os olhos doces e indagou:
- Aceitarás, mesmo assim?
O candidato, algo confundido, refletiu, refletiu e exclamou:
- Senhor, os teus ensinos me deslumbram! Vou à Casa de Deus
agradecer o Santo dos Santos e volto, dentro de uma hora, a fim de
abraçar-te o sublime apostolado, sob juramento!
Jesus aceitou-lhe o amplexo efusivo e ruidoso, despediu-se dele,
sorrindo, mas Efraim, filho de Atad, nunca mais voltou.
REFLEXÃO:
Um dos conflitos que o homem enfrenta ao atingir a percepção de que é
um ser em evolução espiritual, é conseguir acelerar a marcha sem se
desvencilhar de seus valores materiais.
9. Não há evolução sem conflito entre aquilo que se pretende ser e aquilo
que ainda gostamos de ser.
Nas palavras de Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo,
reconheceremos o espírita como aquele que já consegue lutar contra
suas próprias imperfeições e não mais se compraz com os valores do
mundo material. É a luta entre o homem velho aferrado aos atavismos
hereditários, trazidos pelos milênios de experiências que seu princípio
espiritual vivenciou e o homem novo, pleno de sabedoria, de luz e de
amor.
10. Os adeptos sinceros da Boa Nova, tomando Jesus como guia, como
mestre, como caminho, experimentam conflitos intensos, causados pela
ampliação de sua capacidade de perceber a verdade, e desejam a
purificação do espírito diante de um mundo cheio controvérsias,
tentações e provas.
Como ser capaz de tornar-se um homem de bem diante de tantas
adversidades? Refletindo neste problema, de forma mais equilibrada,
mais sensata, parece-nos que aquela figura da mariposa diante da luz
torna-se bastante pertinente.
11. As mariposas são atraídas pela luz assim como os adeptos da Boa Nova
são atraídos para a busca da verdade espiritual, mas, ao aproximarem-
se demais, sem estarem devidamente adaptadas às novas condições,
elas acabam queimando suas próprias asas. Assim, também, podemos
considerar em relação aos irmãos que já buscam a boa vontade. A luz
adquirida deve ser proporcional à capacidade de cada um de vencer a si
próprio e ao próprio mundo.
É impossível ao espírito galgar níveis vibratórios elevados sem
experimentar níveis inferiores gradativamente.
12. Luz em demasia, além da capacidade de cada um, cega os
despreparados, que ainda não forjaram em si a fortaleza espiritual.
Queremos sabedoria, mas teimamos em permanecer aferrados a valores
e sentimentos menos dignos na relação com o mundo. Queremos
conhecimento, mas não nos predispomos a estudar e a refletir.
Queremos paz, mas não vencemos a intolerância à exaltação e à cólera,
que ainda nos visitam e dominam. Queremos amor, mas não nos
colocamos a serviço do próximo. Queremos equilíbrio, mas ainda nos
aprisionamos ao ritmo da vida terrestre, atendendo ao imediatismo das
coisas materiais. Queremos liberdade para pensar e agir, mas teimamos
em julgar o comportamento alheio, deixando que a maledicência nos
visite e nos domine.
13. Esta estória que contei é para uma meditação profunda de todos, porque
trata do conflito que nos acomete quando nos dispomos a atender o
chamamento de Jesus, quando Ele nos aponta o caminho do amor e da
caridade. Na realidade, somos todos mais ou menos como Efraim. Os
ensinos do Cristo nos deslumbram, nos consolam, conseguem soerguer-
nos nas situações de dor.
Mas vencido o sofrimento, afastada a adversidade, ainda nos mantemos
como discípulo de longe, e não nos arriscamos a caminhar na direção
da luz, com receio de perdermos os valores atuais, que ainda nos
parecem adequados.
14. Reconhecer isto, compreender que ainda somos falíveis e pequenos,
não deve ser motivo para justificar a nossa inércia ou impedir que
caminhemos, tentando encurtar a distância que nos separa do Mestre
Nazareno. Jamais percamos o alvo ou deixemos de perceber a luz que
Ele nos apresenta, através do Seu exemplo de sacrifício e de amor.
Candidatos a sermos discípulo de perto, devemos exercitar a
fraternidade, a humildade, a caridade, a compreensão.
Candidatos a sermos discípulo de perto, devemos abraçar o serviço
desinteressado, como única energia capaz de nos fazer elevar em
espírito e em vontade.
15. Candidatos a sermos discípulo de perto, devemos aceitar a dor e o
sofrimento como instrumentos de aprendizado, como lições de luz.
Aceitar a aproximação de Jesus, é ser capaz de vivê-lo a todo momento,
seguindo Seu exemplo, buscando entendimento de Seus ensinos
sublimes. Ir até o Cristo, é seguir o Seu caminho de dor e sacrifício.
Com certeza, se hoje somos discípulos de longe, no futuro seremos
capazes de compartilhar lições de fraternidade, tornando-nos discípulos
mais diletos, mais próximos do doce Rabi da Galileia.
Assim, que Deus nos permita refletir sobre a distância que ainda temos
que percorrer, e nos ajude a tomar consciência de nossas deficiências e
fraquezas, e a superá-las com determinação.
16. Quem somos nós hoje? O que buscamos para nosso futuro? Quais os
valores reais que trazemos orientando as nossas ações? Qual a nossa
real disposição para melhorarmos o nosso estado atual de entendimento
e de luz?
Para começarmos, talvez seja uma boa ideia aceitar o convite que
Maria Dolores nos faz para olharmos as dores do mundo.
(...) Regresso agora de estirado giro / Para buscar-te aqui, em teu doce
retiro, / A calma da oração, / Entretanto, alma irmã, se me permites /
Contarei as dores sem limites, / Da multidão agoniada / Que encontrei
na jornada / Com certeza já viste / As trevas e aflições de tanto quadro
triste, /
17. Mas peço ainda o teu consentimento, a fim de relembrar-te / O vasto
espinheiral do sofrimento / Que nos roga socorro a toda parte. (...)
Anota as provas de tanta gente, / Sai de ti mesmo e vamos trabalhar!
Do livro Maria Dolores
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo.