Jesus encontra quatro publicanos que buscam orientação espiritual. Simão Pedro os repreende severamente por seus pecados passados. Jesus os acolhe com amor e compreensão, ensinando que o objetivo do Evangelho é ajudar tanto os bons quanto os maus em seu caminho de evolução.
2. Com base no conto “Jesus e Simão”, do livro Estante da Vida, pelo Espírito
Irmão X. (Momentos de Paz Maria da Luz).
Nos conta assim o autor:
Retirava-se Jesus do lar de Jeroboão, filho de Acaz, em Corazim, para
atender a um pedido de socorro em casa próxima quando quatro velhos
publicanos apareceram, de chofre, buscando-lhe o verbo reconfortante.
Haviam recebido as notícias do Evangelho do Reino, tinham fome de
esclarecimento e tranquilidade, suplicavam palavras que os auxiliassem na
aquisição de paz e esperança.
O Mestre contemplou-lhes a veste distinta e os rostos vincados de funda
inquietação, e compadeceu-se.
3. Instado, porém, por mensageiros que lhe requisitavam a presença à
cabeceira de alguém que se avizinhava da morte, o Excelso Benfeitor
chamou Simão Pedro e pediu-lhe, ante os consulentes amigos:
- Pedro, nossos irmãos chegam à procura de renovação e de afeto. Rogo
sejas, junto deles, o portador do Bem Eterno. Ampara-os com a verdade,
prossigamos em nossa tarefa de amor.
O apóstolo relanceou o olhar pelos circunstantes e, tão logo se viu a sós com
eles, fez-se arredio e casmurro, esperando-lhes a manifestação.
Foi Eliúde, o joalheiro e mais velho dos quatro, que se ergueu e solicitou
com modéstia:
4. Discípulo do Senhor, ouvimos a Nova Revelação e temos o espírito repleto
de júbilo! Compreendemos que o Messias Nazareno vem da parte do Todo-
Poderoso arrancar-nos da sombra para a luz, da morte para vida. Que
instruções e bênçãos nos dá, oh! Dileto companheiro das Boas Novas?
Temos sede do Reino de Deus que o Mestre anuncia! Aclara-nos a
inteligência, guia-nos o coração para os caminhos que devemos trilhar!
Simão, contudo, de olhar coruscante, qual se fora austero zelador de
consciências alheias, brandiu violentamente o punho fechado sobre a mesa,
e falou, ríspido:
- Conheço-vos a todos, oh! Víboras de Corazim!
5. E, apontando o dedo em riste para Eliúde, aquele mesmo que tomara a
iniciativa do entendimento, acusou-o, severamente:
- Que pretendes aqui, ladrão de viúvas e dos órfãos? Sei que ajuntaste
imensa fortuna à custa de aflições alheias. Tuas pedras, teus colares, teus
anéis! Que são eles senão as lágrimas cristalizadas de tuas vítimas?
Como consegues pronunciar o nome de Deus? Voltando-se para o
segundo, na escala das idades, esbravejou:
- - Tu, Moabe? A que vieste? Ignoras, por ventura, que não te desconheço
a miséria moral? Como te encorajaste a vir até aqui, após extorquir os
dois irmãos, de quem furtaste os bens deixados por teu pai?
6. Esqueces de que um deles morreu consumido de penúria e de que o outro
enlouqueceu por tua causa, sem qualquer recurso para a própria
manutenção? Em seguida, dirigiu-se ao terceiro dos circunstantes:
- Que buscas, Zacarias? Não te envergonhas de haver provocado a morte
de Zorobatel, o sapateiro, comprando-lhe as dívidas e atormentando-o,
através de execráveis cobranças, no só intuito de roubar-lhe a mulher? Já
tens o fruto de tua caça. Aniquilaste um homem e tomaste-lhe a viúva.
Que mais queres, infeliz? E, virando-se para o último, gritou:
- - Que te posso dizer, Ananias? Há muitos anos, sei que fazes o comércio
da fome, exigindo que a hortaliça e o leite subam constantemente de
preço, em louvor de tua cupidez.
7. Jamais te incomodaste com as desventuradas crianças de teu bairro, que
falecem na indigência, à espera de tua caridade, que nunca apareceu! Simão
alçou os braços para o teto, como quem se propunha irradiar a própria
indignação, e rugiu:
- Súcia de ladrões, bando de malfeitores! O Reino de Deus não é para vós!
Nesse justo momento, Jesus reentrou na sala, acompanhado de alguns
amigos, e, entendendo o que se passava, contemplou, enternecidamente, os
quatro publicanos arrasados de lágrimas, ao mesmo tempo que se abeirou do
pescador amigo, indagando:
- Pedro, que fizeste?
8. Simão, desapontado à frente daqueles olhos cuja linguagem muda tão bem
conhecia, tentou justificar-se:
- Senhor, tu disseste que eu deveria amparar estes homens com a verdade.
- Sim, eu falei “amparar”, nunca te recomendaria aniquilar alguém com
ela.
Assim dizendo, Jesus aceitou o convite que Jeroboão lhe fazia para sentar-se
à mesa e, sorrindo, insistiu com Eliúde, Moabe, Zacarias e Ananias para que
lhe partilhassem a ceia.
Organizou-se, para logo, bela reunião, na qual o verbo se mostrou
reconfortante e enobrecido.
9. Conversando, o Mestre exaltou a Divina Providência de tal modo e se
referiu ao Reino de Deus com tanta beleza, que todos os comensais
guardavam a impressão de viver no futuro, em prodigiosa comunhão de
interesses e ideais.
Quando os quatro publicanos se despediram, sentiram-se diferentes,
transformados, felizes. Jesus e Simão retiraram-se igualmente e, quando se
acharam sozinhos, passo a passo, ante as estrelas da noite calma, o rude
pescador exprobrou o comportamento do Divino Amigo, formulando
perguntas, através de longos arrazoados.
10. Se era necessário demonstrar tanto carinho para com os maus, como
estender auxílio aos bons? Se os homens errados mereciam tanto amor, que
lhes competia fazer, a benefício dos homens retos?
O Cristo escutou as objurgações em silêncio e, quando o aprendiz calou as
derradeiras reclamações, respondeu numa frase breve:
- Pedro, eu não vim à Terra para curar os sãos.
REFLEXÃO:
Qual seria o objetivo do Evangelho de Jesus, o objetivo da Boa Nova, que o
Cristo deixou por meio de sua palavra, mas também por meio de seu
exemplo?
11. Para quem o Evangelho se destina? O que Jesus queria ao estabelecer pelo
seu exemplo aquelas mensagens de amor? As mensagens do Cristo, será que
elas se destinam apenas aos bons e àqueles que já são capazes de
compreendê-las melhor, ou será que o destino do Evangelho é ajudar aos
maus, que ainda precisam aprender mais sobre o caminho reto, sobre a
estrada da evolução? E os indiferentes, aqueles que passam na vida à
margem das coisas, despreocupados de si mesmos, despreocupados do
mundo em sua volta? Será que o Evangelho de Jesus serviria para eles? E os
perseguidos, os injustiçados, aqueles que necessitam consolo para suas
dores morais? E os humildes, aqueles que já são capazes de seguir os
exemplos que são colocados no Evangelho? Para quem serviria o
Evangelho?
12. Assegurou-nos Jesus: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém
chegará ao Pai senão por mim. O que Ele queria dizer com isso? Todos que
habitamos aqui, encarnados nesse planeta, e aqueles que ainda estão
gravitando no plano espiritual à sua volta, somos Espíritos devedores,
imperfeitos, carentes de luz e de sabedoria. Todos somos necessitados de
ajuda e de amor. Trazemos mazelas e experiências menos felizes e, quase
sempre, somos submetidos a repetições de situações para o aprendizado e
para o crescimento. Logo, todos precisamos da mensagem consoladora do
Cristo. A renovação do homem, entretanto, só começa quando ele, diante
das dores e dos sofrimentos, arrepende-se daquela trajetória seguida até
então.
13. E se predispõe a conhecer-se melhor, sem ilusões, para que possa superar a
si próprio, para que possa vencer as suas tendências ainda inferiores. O
Evangelho é para esses como um farol, que permite identificar a força do
amor, cobrindo uma imensidão de pecados. É para os bons, para os maus,
para os indiferentes, para os perseguidos e injustiçados, para os humildes e,
mesmo, para os orgulhosos. O Evangelho proporciona ensinamentos
sublimes, desvenda a verdade, na medida em que nos aponta a necessidade
de harmonia e de equilíbrio com o Universo. Cada um de nós, percebe essa
verdade de maneira diferente. Mas não nos é permitido, por exemplo,
aprender toda a verdade de um salto só, pois, não seríamos capazes de
absorvê-la, interpretá-la, interiorizá-la no nosso espírito.
14. Algumas palavras de Jesus nessa estória chamam a nossa atenção. Jesus
disse para Simão: Pedi para você ajudar com a verdade, nunca recomendei
para aniquilar alguém com ela.
Sobrecarregar aquilo que já é pesado na consciência alheia, não ajuda
aquele que deseja levantar-se. Julgar e evidenciar as ações dos semelhantes
e decidir sobre o seu mérito para obter ou não a ajuda necessária, não está
de acordo com a lei de amor e com a mensagem do Cristo. O amor deve ser
incondicional. Se hoje não percebemos assim, é porque ainda trazemos a
alma cheia de imperfeições; é porque não compreendemos plenamente
nossa natureza espiritual; é porque valores materiais ainda nos impõe
julgamentos e críticas às ações dos irmãos de caminhada, como se apenas as
nossas fossem as certas.
15. Mas, uma coisa é certa. A verdade não está destinada a julgar os homens;
mas ao contrário. A verdade destina-se ao esclarecimento e à renovação do
homem. Enaltecer virtudes ou evidenciar defeitos não ajudam a quem quer
que seja. Enaltecer virtudes induz vaidade e orgulho aos mais
desprevenidos. Evidenciar defeitos diminui a autoestima alheia e, ao invés
de ajudar, deprime, maltrata.
A carga que todos trazemos para este mundo, de provas e expiações, é
sempre pesada, e Jesus com a sua mensagem e com o seu Evangelho, nos
oferece um aprendizado para torná-la mais leve, e o nosso caminho, o nosso
jugo, mais suave.
16. Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo.