Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
O Anjo Solitário e o Perdão de Jesus
1.
2. Com base no conto “O Anjo solitário”, do livro Estante da Vida, pelo
Espírito Irmão X. (Momentos de paz Maria da Luz)
Conta-nos assim o autor:
Enquanto o Mestre agonizava na cruz, rasgou-se o céu em Jerusalém e
entidades angélicas, em grupos extensos desceram sobre o Calvário
doloroso. Na poeira escura do chão, a maldade e a ignorância expeliam
trevas demasiadamente compactas para que alguém pudesse divisar as
manifestações sublimes. Fios de claridade indefinível passaram a ligar
o madeiro ao firmamento, embora a tempestade se anunciasse a
distância.
3. O Cristo, de alma sedenta e opressa, contemplava a celeste paisagem,
aureolado pela glória que lhe bafejava a fronte de herói, e os emissários
do Paraíso chegavam, em bandos, a entoarem cânticos de amor e
reconhecimento que os tímpanos humanos jamais poderiam perceber.
Os anjos da ternura rodearam-lhe o peito ferido, como a lhe insuflarem
energias novas. Os portadores da Consolação ungiram-lhe os pés
sangrentos com suave bálsamo. Os Embaixadores da Harmonia,
sobraçando instrumentos delicados, formaram coroa viva, ao redor de
sua cabeça, desferindo comovedoras melodias a se espalharem por
bênçãos de perdão sobre a turba amotinada.
4. Os Emissários da Beleza teceram guirlandas de roas e lírios sutis,
adornando a cruz ingrata. Os Distribuidores da Justiça, depois de lhe
oscularem as mãos quase hirtas, iniciaram a catalogação dos culpados
para chamá-los a esclarecimento e reajuste em tempo devido. Os
Doadores de Carinho, em assembleia encantadora, postaram-se à frente
dele e acariciavam-lhe os cabelos empastados de sangue. Os Enviados
da Luz acenderam focos brilhantes nas chagas doloridas, fazendo-lhe
olvidar o sofrimento. Trabalhavam os mensageiros do céu, em torno do
Sublime Condutor dos Homens, aliviando-o e exaltando-o, como a lhe
prepararem o banquete da ressurreição, quando um anjo aureolado de
intraduzível esplendor apareceu, solitário, descendo do império
magnificente da Altura.
5. Não trazia seguidores e, em se abeirando do Senhor, beijou-lhe os pés,
entre respeitoso e enternecido. Não se deteve na ociosa contemplação
da tarefa que, naturalmente, cabia aos companheiros, mas procurou os
olhos de Jesus, dentro de uma ansiedade que não se observara em
nenhum dos outros. Dir-se-ia que o novo representante do Pai
Compassivo desejava conhecer a vontade do Mestre, antes de tudo. E,
em êxtase, elevou-se do solo em que pousara, aos braços do madeiro
afrontoso. Enlaçou o busto do Inesquecível Suplicado, com inexcedível
carinho, e colou, por um instante, o ouvido atento em seus lábios que
balbuciavam de leve.
6. Jesus pronunciou algo que os demais não escutaram distintamente. O
mensageiro solitário desprendeu-se, então, do lenho duro, revelando
olhos serenos e úmidos e, de imediato, desceu do monte ensolarado
para as sombras que ameaçavam a invadir Jerusalém, procurando
Judas, a fim de socorrê-lo e ampará-lo. Se os homens não viram a
expressão de grandeza e misericórdia, os querubins em serviço também
lhe não notaram a ausência. Mas, suspenso no martírio, Jesus
contemplava-o, confiante, acompanhando-lhe a excelsa missão, em
silêncio. Esse era o anjo divino da Caridade.
REFLEXÃO:
7. Esta estória nos serve de exemplo no cumprimento dos nossos deveres,
em relação a todos aqueles que, de alguma forma, tenham-nos
constrangido a fazer aquilo que não queríamos. Ao invés de crucificá-
los, devemos aprender a perdoá-los e agir com amor em sua direção,
tentando retirá-los da dor de sua própria consciência.
Todos somos iguais perante a Deus. Assim sendo, ninguém deve ter
mais direitos que os demais, no que tange à vida, ao uso de seu livre-
arbítrio, e ao aproveitamento das oportunidades que lhes são próprias,
por concessão do Criador. Isto posto, fica claro que todos devemos
usufruir da liberdade de pensar, de sentir, de agir.
8. Mas claro está que a ação tomada deve se limitar às fronteiras dos
direitos de nossos semelhantes, irmãos em criação. Liberdade sem o
senso de igualdade, compromete a fraternidade, a obrigação que temos
como criaturas de respeitar nossos irmãos, como gostamos de ser
respeitados. Mas, muito pouco, muito pouco mesmo, tem evoluído a
Humanidade no tocante ao constrangimento moral que, através da
calúnia, da difamação, da ofensa, da agressão, tem obrigado a muitos a
sofrerem aquilo que não desejam e que não pediram. O sentido pleno
das palavras: liberdade, igualdade e fraternidade, está inserido na lei
maior, que nos concita a ser humildes, amando a Deus sobre todas as
coisas e caridosos, amando o próximo como a nós mesmos.
9. A verdadeira caridade está no amor dedicado e voltado ao nosso
semelhante, compreendendo suas fraquezas, suas imperfeições, e sendo
capaz de perdoá-lo, não sete vezes, mas, incondicionalmente. Caridade
é o amor em ação. Portanto, no sentido pleno do cumprimento dos
deveres, frente aos direitos de igualdade de nossos semelhantes.
Caridade não é apenas doar o supérfluo, mas todo o respeito,
consideração, afeto, com nosso próximo, procurando ver nele nossas
fraquezas, nossas falhas. Caridade é perdão total, seguido de ação de
amor, em direção ao nosso ofensor.
10. Caridade é ver em todo aquele que ofende um irmão em criação,
necessitado de ajuda e perdão; de novas oportunidades de refazer os
seus próprios caminhos. A cada um bastará suas próprias obras. Não é
justo, portanto, que além delas venhamos a crucificar ainda mais os
nossos semelhantes, a título de que temos direito e, portanto, devemos
cobrá-lo. O homem, antes de ver os seus próprios direitos, deve ser
capaz de observar os seus deveres consigo mesmo; deveres com a
família; deveres com a Humanidade inteira. Nosso destino é aprimorar,
melhorar o uso do livre-arbítrio, da vontade própria, não para
constranger o mundo em que vivemos, com a nossa presença, mas para
aprender a participar da própria criação.
11. Muitos de nós, caímos, fraquejamos, erramos, ofendemos o nosso
semelhante, impactamos de alguma forma o caminho do nosso irmão;
às vezes, até, imbuídos de boa vontade, de bom sentimento, até de boas
intenções. A convicção que temos, muitas vezes, nos cega, fazendo com
que esqueçamos, de uma forma bem simples, que nossos direitos
terminam onde começam os direitos do nosso semelhante. Assim é que,
fazemos o nosso irmão de caminhada passar por situações que não
desejavam, a viver situações que não queriam. Essa estória em que o
autor (Irmão X) coloca Jesus procurando por Judas, porque tinha
certeza de que ele padecia de pensamentos angustiosos, naquele
momento, e que sentia toda a impotência por refazer aquilo...
12. Que ele tinha consciência que havia feito errado. O amor de Jesus se
fez através da ação. Não só perdoava o seu irmão como se preocupava
com a angústia que se abatera ele, e pedira àquele anjo solitário, aquele
anjo que anda por si só, para amparar aquele irmão que caíra. Sabemos
que nós temos que ouvir essas coisas muitas e muitas vezes. Só assim,
vamos parar de nos lastimar da sorte, que nos é própria, e muitas vezes,
vamos instigar o nosso semelhante, cobrando dele aquilo que achamos
que é direito nosso. O que poderia dizer Jesus da sua própria liberdade.
Ele exemplifica no suplício toda a lei de Deus. Sentia-se impotente,
diante da Criação, e não podia mudar a sua situação.
13. Mas mesmo tolhido em movimento, mantinha seu pensamento ligado
ao pensamento de amor e fraternidade, para com aquele que o havia
traído. Sabia ele que a intenção de Judas não era aquela.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo.