1) O documento descreve a arte islâmica em Portugal durante o período da ocupação muçulmana, desde a fundação do Emirato de Córdova até a queda do Reino de Granada;
2) Destaca-se a influência cultural dos muçulmanos e o desenvolvimento de cidades prósperas como Córdova, Silves e Lisboa;
3) Importantes vestígios arquitetônicos e artísticos permanecem em locais como Mértola, refletindo a sofisticada cultura islâmica que flores
2. O norte de África é o prolongamento natural do sul da Península Ibérica.
3. Mesquita de Córdova
Na Península Ibérica, cristãos, muçulmanos e judeus conviveram entre o séc. VIII e o séc. XV.
A Norte, os cristãos viviam em pequenas aldeias, dedicando-se principalmente à agricultura.
Os muçulmanos tinham uma cultura muito superior, vivendo em cidades muito prósperas e
desenvolvidas.
4. a) Arte Emiral
759 - fundação do emirato de
Córdova: Abd al-Rahman I (756 -
788) refugia-se na Península Ibérica
no seguimento de lutas internas no
seio do império. Autonomiza o
emirato e desenvolve as artes. Esta
estratégia prosseguirá nos reinados
seguintes, com destaque para o de
Abd al-Rahman II (822-852). O
Emirato torna-se um importante
centro de cultura, verificando-se
uma intensa islamização.
Inicia-se a construção da Mesquita
de Córdova no séc. VIII, que será
sucessivamente ampliada até à
última fase por volta do ano 1000.
Durante este período são muito
influentes os laços com Damasco
(Síria).
5. A alcáçova de Mérida foi edificada por ordem de Abd al-Rhaman II em 835
e é a mais importante construção militar deste período.
6. b) Arte Califal (929-1031):
ampliação da mesquita de Córdova.
Arte mais rica e variada. Ganham
impulso as artes decorativas. Com
Abd al-Rahman III (912-961) e o
filho Al-Hakan II (961 – 976) o
emirato proclama-se califado e
atinge o apogeu.
Almançor, chefe militar do califado
(976-1002) desenvolve uma política
de expansão que o leva a saquear
Santiago de Compostela em 997.
As grandes ampliações na Mesquita
de Córdova datam desta era.
7. A qibla é a direcção de
Meca para onde se
orientam os templos. Está
assinalado pelo mihrab.
9. Abd al Rahman III inicia a construção para celebrar a sua dignidade califal.
10. Esta arte emiral caracteriza-se pelo gosto pela
simetria, pela estilização e geometrização.
11. O uso do mármore, dos azulejos, o
estuque e as citações do Corão são
elementos típicos da decoração da
arquitectura muçulmana.
Sala dos Embaixadores
Alcazar de Sevilha
Séc. XIV
12.
13. A prosperidade económica
do Califado propicia o
desenvolvimento das artes
menores, nomeadamente as
cerâmicas, metais e marfim
Cofre em marfim do tesouro da Sé de Braga
(20 cm altura x 10 cm diâmetro),
encomendado por Abd al-Malik, filho do
Almançor, data dos inícios do séc. XI
Píxide do Príncipe Al-Mughira, proveniente das oficinas da Madina al-
Zahra (ano de 968 )
Museu do Louvre
14. c) Arte das Taifas (1031-1096)
Sucederam-se lutas intestinas
após a morte de Almançor,
dividindo-se o califado em taifas
(1031-1096).
Lisboa, Santarém e Coimbra
fazem parte da taifa de Badajoz.
O Algarve e o restante Alentejo
integravam a taifa de Sevilha.
Córdova perde influência e
Toledo torna-se o principal
centro cultural, destaque para a
escola de tradução.
A arte palaciana urbana
predomina sobre a arquitectura
religiosa.
Aljafería (Zaragoza)
Séc. XI
15. A decoração é exuberante, com recurso ao estuque e ao gesso.
16. d) Arte da era dos Almorávidas e
Almóadas (1090-1228). Os cristãos tiram
partido das dissidências entre os
muçulmanos.
Em 1085, Toledo cai às mãos de Afonso
VI de Leão. Nesta época chegam ao
Magreb os Almorávidas, fanáticos
islâmicos adeptos da Guerra Santa
(Jihad). Entram na Península em 1086 e
integram o Al-Andaluz no reino
Almorávida com sede em Marrocos
(Marraquexe). Em 1143, caem os
Almorávidas e regressam as taifas. Esta
situação permite o avanço de Afonso
Henriques que conquista Santarém e
Lisboa em 1147. Os Almóadas ocupam
Marraquexe e substituem a dinastia
Almorávida. Passam à Península e
reconquistam o território de Sevilha a
Cáceres. A dinastia durará até 1228.
Torre da Giralda
Sevilha
17. Em Portugal, a mesquita de Mértola, actual igreja
paroquial, data deste período almóada.
18. A mesquita de Mértola tinha planta quase quadrangular com cinco naves.
19.
20.
21.
22. O sul da Península está pontuado por pequenas ermidas, hoje cristianizadas, com a forma
cúbica que aproveitaram antigas construções árabes: os morábitos.
23. Ermida de Santa Margarida de Evoramonte; Estremoz
Estas cubas reproduzem a Ka’aba de Meca e,
provavelmente, albergavam a sepultura de ascetas
com fama de santidade.
25. Os ribat eram uma espécie de pequenas fortificações ocupadas por guerreiros religiosos
que viviam isolados em oração e estudo sob a orientação de um mestre.
Na Atalaia (Arrifana, Aljezur) foi escavado o mais importante ribat conhecido em Portugal.
Desta palavra – ribat – deriva o topónimo Arrábida.
26. O castelo de Silves, embora já muito
alterado, é o melhor exemplo da
arquitectura militar almóada em
território português.
27. O castelo de Paderne (Albufeira) data deste período.
28. Com o avanço da reconquista sobrevive o reino de Granada, com a dinastia Nasrí (1231-1492).
Alhambra; Granada
32. Em Portugal, os vestígios da presença islâmica não são tão exuberantes como na Andaluzia.
No entanto, é justo reconhecer a pujança cultural de Silves, Mértola e Lisboa, bem como
destacar nomes como o do poeta Abu-l Walid al-Baji ou Abu Muhammad Abd Allah ibn
Muhammad ibn al-Sid al - Batalyawsi (1052-1127), autor de um Livro dos Círculos, uma obra-
-prima que o historiador Borges Coelho considera um dos maiores pensadores que nasceu no
solo que hoje é português. A sua teologia e argumentação são, segundo os entendidos,
semelhantes às de S. Tomás de Aquino.
36. O vaso islâmico de Tavira,
achado há cerca de 1 década,
constitui um raro exemplar.
Pelo seu estado de
conservação, pela tipologia e
pela decoração.
Data do séc. XI.
37. Lápide árabe do Museu de Évora, datada de 914 – 915, referindo-se à reconstrução da cidade, após a
destruição e abandono provocados pelo ataque de Ordonho II, rei da Galiza.
38. O Museu de Évora
possui um núcleo de
arte islâmica,
formado a partir da
colecção do
arcebispo de Évora,
D. Frei Manuel do
Cenáculo (1802 –
1814).
Este capitel é uma
aquisição recente do
museu, foi achado
em Beja nos anos 40
e constitui excelente
exemplo do
refinamento da arte
califal do séc. XI.
39. O museu de S. João de Alporão, em Santarém, conserva três capitéis da era califal e
almorávida, onde se nota a sobreposição da tendência geometrizante sobre a tradição
coríntia. No espaço entre as volutas exibem inscrições de carácter religioso. Por esta
razão, devem ter sido parte de uma mesquita, da qual nada resta.
40. Lisboa (Al-Lixbûnâ) foi uma importantíssima cidade durante o período islâmico (716 – 1147) e
ainda hoje exibe marcas dessa presença, como por exemplo no bairros populares de Alfama,
Mouraria, Castelo,….
41. Al-Lixbûnâ era a maior cidade do Gharb
al-Andalus. No séc. XI contava com cerca
de 25 000 habitantes!
Era o polo de uma importante região que
ia de Santarém a Sintra, de Arruda a
Almada, articulando-se com o vale do
Sado e estendendo-se para o interior,
pelo curso do Tejo.
Era ainda escala e porto da navegação
costeira atlântica e mediterrânica.
A sua influência estendia-se para norte,
até ao Mondego, e para sul até Silves,
Mértola e o vale do Guadiana.
Alfama
43. O friso de Chelas (Museu do Carmo; sécs. IX-X) testemunha as influências orientais e as
ligações do Andaluz ao restante mundo árabe.
44. Depois da conquista definitiva da cidade, muitos muçulmanos
continuaram a viver nas mesmas cidades, agora sob domínio
cristão. Viviam em bairros separados – as mourarias – com
certas restrições, podendo no entanto praticar a sua religião,
mediante o pagamento de impostos especiais.
O mesmo sucedia aos cristãos que viviam em cidades sob
domínio islâmico, ainda que, em tempos de intolerância e
perseguição, tivessem que fugir e exilar-se.
Lápide
sécs.XII-XIII Capitel islâmico
Museu da Cidade Séc. X
Lisboa Museu Nacional de Arqueologia
Lisboa
45. Fragmento da planta topográfica de
Lisboa mostrando a cerca moura
Escala - 1: 10 000
In A. Vieira da Silva: A Cerca Moura de
Lisboa; Lisboa; publicações Culturais da
Câmara Municipal de Lisboa; 1939;
Estampa I ; entre pp. 8 e 9.
A partir de Câmara Municipal de Lisboa
Gabinete de Estudos Olisiponenses.
http://geo.cm-lisboa.pt
46. Beco do Arco Escuro escada dava acesso Arco das Portas do Mar. Corpo do edifício
ao adarve da muralha moura sobre o arco era uma torre da cerca moura.
49. Na fronteira do Mondego, Coimbra era a cidade mediterrânica mais setentrional, misturando as
tradições islâmicas com a fé cristã: são os moçárabes.
50. A toponímia preserva essas referências islâmicas:
Assafarge, Almedina, Almalaguês.
Capitel califal do século XI, proveniente de
Montemor-o-Velho e conservado no
Museu Nacional Machado de Castro;
Coimbra
Alta de Coimbra
51. A alcáçova muçulmana de Qulumbriya seria um grande quadrilátero regular com c. de 80 m de lado,
com torres circulares ainda hoje visíveis, entrando-se pelo sítio da actual Porta Férrea. A cidade teria
uma mesquita. Todavia, não há vestígios, nem indícios sequer da sua localização
52. Bibliografia:
- ALARCÃO, Jorge de: Coimbra. A Montagem do Cenário Urbano; Coimbra; Imprensa da Universidade; 2008; pp. 72
– 80.
- ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de: Arte islâmica em Portugal; in «História da Arte em Portugal»; vol. 2; Lisboa;
Publicações Alfa; 1986.
- ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de: Arte islâmica; in «História da Arte em Portugal. O Românico»; Lisboa;
Editorial Presença; 2001; pp. 41 – 56.
- CATARINO; Helena: A ocupação islâmica; in «História de Portugal» (direcção de João Medina); Volume 3; Lisboa;
Clube Internacional do Livro; 1996; pp. 47 – 92.
-COELHO, António Borges (organização, prefácio e notas): Portugal na Espanha Árabe; Lisboa; Editorial Caminho;
2008.
-LOPES, David: O domínio árabe; in «História de Portugal» (dirigida por Damião Peres»; Volume 1; Barcelos;
Portucalense Editora; 1928; pp. 91-431.
-MACIAS, Santiago: Mértola islâmica; Mértola; Campo Arqueológico de Mértola; 1996.
-MARQUES, A. H. de Oliveira: Portugal islâmico; in «Nova História de Portugal» (dirigida pelo próprio em conjunto
com Joel Serrão»; Volume 2; Lisboa; Editorial Presença; 1993; pp. 117 – 249.
- PEREIRA, Paulo: Arte Portuguesa. História Essencial; Lisboa; Temas e Debates / Círculo de Leitores; 2011; pp. 165 e
ss.
-TORRES, Cláudio: Cerâmica islâmica portuguesa ; Mértola; Campo Arqueológico de Mértola, 1987.
-TORRES, Cláudio: O Gharb al-Andalus; in «História de Portugal» (dir. José Mattoso»; Volume 1; Lisboa; Círculo de
Leitores; 1993; pp 363 – 415.
- TORRES, Cláudio e MACIAS, Santiago (coord.): Portugal Islâmico. Os últimos sinais do Mediterrâneo; (catálogo da
exposição); Lisboa; edição do Museu Nacional de Arqueologia / Instituto Português de Museus; 1998.
- TORRES, Cláudio e MACIAS, Santiago : Arte islâmica no ocidente andaluz; in «História da Arte Portuguesa»
(direcção de Paulo Pereira); Volume 1; Lisboa; Círculo de Leitores; 1995.
- TORRES, Cláudio e MACIAS, Santiago: O legado islâmico em Portugal; Lisboa; Círculo de Leitores; 1998.
- Terras da moura encantada. Arte islâmica em Portugal; Barcelos; Livraria Civilização Editora; 1999.