4. • A história colonial sul-matogrossense,
entretanto, permanecia muito ligada à busca
pela prata no Peru. Com a destruição do
Império Inca e o sucesso da exploração da
prata em território peruano através do porto
de Lima, a região do Rio da Prata do império
espanhol encontrava-se decadente e
suscetível aos portugueses.
5. • Uma vez que estes se expandiam ao Uruguai,
em abril de 1776 o rei Carlos III de Espanha
ordenou que o governador do Rio da Prata,
Pedro Antônio de Cevallos, pensasse em uma
maneira de desenvolver a região de Buenos
Aires.
6. • A resposta foi a tomada da Colônia do
Sacramento dos portugueses e a criação do
Vice-reinado do rio da Prata, que continha
praticamente os territórios dos atuais países
da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai,
além de uma parte do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
7. • Com as guerras napoleônicas, no entanto, e o
ataque inglês a Buenos Aires, no início da
década de 1810, o vice-reinado do Rio da
Prata se desfez. O sudoeste sul-
matogrossense, por sua vez, passou a fazer
parte do Paraguai, que declarou sua
independência da Espanha em 15 de maio de
1811.
8. • A frente colonizadora da
família Garcia Leal no Bolsão
Sul-Mato-Grossense:
9.
10. • No ano de 1829, uma expedição enviada por
João da Silva Machado, Barão de Antonina, e
chefiada pelo sertanista Joaquim Francisco
Lopes, visando a expansão dos campos de
pecuária do vale do Rio São Francisco,
atravessou o Rio Paraná e fez contato com os
índios Ofaiés, que eram dóceis, na região da
atual Três Lagoas.
11. • Também faziam parte dessa entrada Januário
Garcia Leal Sobrinho, seus irmãos e outros
sertanistas. Januário Garcia Leal Sobrinho e
sua família permaneceram, aproveitando a
oportunidade, no leste sul-matogrossense,
fundando o Arraial de Sete Fogos, que mais
tarde se tornaria Paranaíba.
12. Os irmãos Lopes e a ocupação dos
Campos de Vacaria:
• Quanto à família Lopes, dos irmãos Joaquim
Francisco e José Francisco Lopes, adentrou
com outros colonizadores o sul de Mato
Grosso. Iniciou-se, assim, em 1830, o
povoamento de fato das terras que hoje
constituem o atual Mato Grosso do Sul, dando
um novo impulso a antigas povoações como
13. • Miranda, Corumbá e ao Arraial de Belliago,
que se tornou Coxim. Data dessa época,
também, o primeiro movimento migratório
para a região da colônia de Dourados - Rio
Brilhante, nos "Campos de Vacaria", seria
inicialmente ocupada em 1835 por Antônio
Gonçalves Barbosa.
14.
15. Desentendimentos quanto ao
território:
• O Governo Central sabia da situação
complicada das fronteiras do sul
matogrossense, então em 1839 o Almirante
Augusto Leverger, Cônsul-Geral do Brasil, foi
nomeado com o intuito de estabelecer boas
relações com o Paraguai.
16. • Esse cargo, Leverger só o aceitou em 1843, e
já no ano seguinte os dois países iniciaram
conversações sobre a navegação do Rio
Paraguai. Essa tentativa, no entanto,
fracassou, uma vez que o Brasil não revelou
em tempo sua visão sobre os limites
fronteiriços.
17. • A partir de então, Bolívia e Paraguai passaram
a reivindicar as terras ocupadas por
brasileiros, e medidas foram tomadas por
parte do Governo Central brasileiro a fim de
evitar qualquer movimentação que viesse a
ameaçar o território do país.
18. • Em 1850, aconteceu a solenidade de fundação
do forte no sopé do morro chamado Pão de
Açúcar. Ainda nesse ano, Carlos Antonio
López, governante paraguaio, cercou essa
construção e abriu fogo contra ela, obrigando
os soldados a se retirarem. Os índios
guaicurus, que viviam nas proximidades e
eram inimigos dos paraguaios, tentaram
19. • socorrer os brasileiros, porém tudo já havia
sido destruído. Revoltados, os guaicurus então
subiram o Rio Paraguai e atacaram o Forte
Olimpo.
22. • Em 6 de abril de 1856, Brasil e Paraguai
puseram termo aos desentendimentos,
dilatando a questão por dois anos. Em 1858, a
missão Rio Branco, de José Maria da Silva
Paranhos, Visconde Rio Branco, foi a Assunção
firmar uma convenção que liberava a
navegação dos rios Paraguai e Paraná para os
navios de guerra do Paraguai e do Brasil.
23. • Nessa ocasião, porém, a questão dos limites
foi adiada. Estas seriam as últimas
negociações entre os dois países, pois seis
anos depois Francisco Solano López, ditador
paraguaio, executaria a invasão das terras
disputadas.
24. • A situação na Bacia Platina, que ditaria os
rumos no sul matogrossense, agravar-se-ia
ainda mais devido a acontecimentos no Rio
Grande do Sul e Uruguai. A então província do
Rio Grande do Sul permanecia instável desde o
fim da Revolução Farroupilha, uma vez que
esta terminara por negociação política e não
por uma derrota armada infligida pelo
Governo Imperial aos revoltosos.
25.
26. • Simultaneamente, o Uruguai encontrava-se
em guerra civil, os blancos do partido do
então presidente Atanásio da Cruz Aguirre
tentando sufocar a oposição dos colorados,
partido de Venâncio Flores. Com o
agravamento dos conflitos no Uruguai,
27. • tornaram-se comuns perseguições e saques
que atravessavam a fronteira ao território
brasileiro, uma vez que eram numerosas as
famílias de origens brasileiras naquele país.
Após o ultimato feito pelo Governo Imperial
ao presidente Aguirre para que ele
consertasse a situação, ultimato este que não
28. • foi aceito, Dom Pedro II, a pedido de Venâncio
Flores, enviou o Exército Brasileiro para
estabilizar aquele país.
• Em pouco mais de nove meses, a operação
das tropas imperiais brasileiras pacificou o
Uruguai e depôs Atanásio da Cruz Aguirre, em
episódio que levou o nome de Guerra contra
Aguirre.
29.
30. A Guerra do Paraguai:
• O ditador paraguaio Solano López, no entanto,
utilizou a intervenção no Uruguai como
motivação para o sequestro do navio
brasileiro Marquês de Olinda e a captura do
presidente da província de Mato Grosso,
Frederico Carneiro de Campos.
33. • Pouco mais de um mês depois, as tropas
paraguaias invadiram o território do sul
matogrossense, antes mesmo de uma
declaração formal de guerra ao Brasil. Na
verdade, Solano López e suas tropas tinham
em mente uma política expansionista, e
pretendiam criar o "Paraguai Maior",
34. • anexando regiões da Argentina, do Uruguai e
do Brasil, como Rio Grande do Sul e Mato
Grosso, e ganhar acesso ao Oceano Atlântico,
fator tido como imprescindível para a
continuação do progresso econômico do
Paraguai.
35.
36. • Prova disto é o fato de que, em fins do ano de
1863, um estrategista de alto gabarito
paraguaio, disfarçado de fazendeiro, tinha
sido enviado a Corumbá para “conhecer” os
campos do sul e suas fazendas de gado.
37. • Assim, em dezembro de 1864, o sul de Mato
Grosso, na colônia de Dourados, foi invadido
pelo próprio espião Isidoro Resquin, que desta
vez possuía uma numerosa guarnição consigo.
Foi de Resquin, conhecedor do valor das
tropas brasileiras desde seus trabalhos de
espionagem, a seguinte frase: "Si todos los
brasileiros son valientes así, mía no és un
simples paseo militar".
39. • De fato, havia uma guarnição de soldados sob
o comando do herói Antônio João Ribeiro à
espera das tropas Os brasileiros lutaram até o
último soldado ter perdido a vida, só então
tendo sido possível às tropas paraguaias
avançarem.
41. • Durante a Guerra do Paraguai, quando o Brasil
se uniu à Argentina e ao Uruguai para
combater o Paraguai, o sul matogrossense foi
palco de alguns de seus mais dramáticos
episódios.
• Após ter sido aprisionada no Rio Paraguai a
Canhoneira Amambaí, pertencente à Marinha
do Brasil, e uma vez declarada a guerra, após
a
42. • invasão do sul matogrossense pelo exército
paraguaio, o Governo Imperial brasileiro
enviou um contingente militar terrestre para
combater os invasores em Mato Grosso.
43. • Em abril de 1865, uma coluna partiu do Rio de
Janeiro e se juntou a reforços em Uberaba,
percorrendo mais de dois mil quilômetros a
pé até alcançar Coxim. Essa cidade, no
entanto, estava deserta e tinha sido saqueada,
o mesmo tendo ocorrido em Miranda e em
outros povoamentos do sul matogrossense.
44.
45. • Suas populações, ou haviam fugido, ou sido
mortas, ou levadas reféns para o Paraguai,
onde executaram trabalhos forçados.
46. • Enfrentando adversidades, a exaustão e a
falta de alimentos, que não encontravam nas
cidades abandonadas, as tropas do Exército
do Brasil somente resistiram graças às
doações feitas por José Francisco Lopes do
gado de sua própria família para alimentá-los,
já nos limites do território brasileiro.
47. • José Francisco Lopes, que tivera a família
sequestrada pelos paraguaios, fizera-se
voluntário e guiava as tropas brasileiras,
graças ao seu conhecimento do território.
Mesmo com sua ajuda, no entanto, era
grande a perda de brasileiros.
48. • Dos 2.780 homens que originalmente faziam
parte daquele destacamento, em janeiro de
1867, quando alcançaram a fronteira
paraguaia, restavam somente 1.680. Nesse
mesmo mês, o coronel Carlos de Morais
Camisão assumiu o comando da coluna e
invadiu o território paraguaio.
50. • Os brasileiros conseguiram penetrar até
Laguna, a qual alcançaram em abril. Longes
das linhas brasileiras e sem mantimentos para
o sustento das tropas, afligida por doenças
como cólera, tifo e beribéri, a coluna do
Exército brasileiro teve de se retirar
54. • sob os constantes ataques da cavalaria
paraguaia, que utilizavam táticas de guerrilha
à moda indígena, infligindo perdas severas aos
brasileiros. Nessa retirada, no entanto, a
atuação do Guia Lopes foi vital para impedir
um total massacre dos brasileiros.
58. • Mostrou os caminhos aos soldados brasileiros
por terras sul-matogrossenses e despistou o
inimigo em um terreno difícil. Entre os
brasileiros se encontrava o Visconde de
Taunay, que mais tarde escreveria um livro
sobre o assunto. Somente 700 homens
sobreviveram, mas sem o Guia Lopes
poderiam ter morrido muitos mais.
60. • Quando terminou a Guerra do Paraguai em 01
de março de 1870, o sul matogrossense se
encontrava chacoalhado pela convulsão
social. O processo de povoamento, que
começava a se acelerar na primeira metade
do século XIX, estava parado na maioria das
cidades.
61. • No centro, oeste e sul do atual estado de
Mato Grosso do Sul, encontravam-se
propriedades e povoados abandonados ou
destruídos, estando as populações dispersas e
abatidas pela fome, miséria e doenças.
62. • A única região em que a vida continuou a um
passo regular foi a região leste e nordeste do
estado, onde a frente colonizadora da família
Garcia Leal e seus agregados aos poucos se
expandia ao sul da cidade de Paranaíba para
na década de 1880 colonizar o município de
Três Lagoas.
63.
64. • Ao contrário do que aconteceu no restante
das terras sul-matogrossenses, as
propriedades desta região nunca se
encontraram devolutas ou improdutivas
porque a guerra nunca chegou até ali. Foi por
esse motivo que, estando essas terras
ocupadas, as próximas frentes colonizadoras a
entrar no sul de Mato Grosso não se
demoraram nesta área, muito embora fosse
muito atraente do ponto de vista econômico.
65. • não se demoraram nesta área, muito embora
fosse muito atraente do ponto de vista
econômico. Durante a Retirada da Laguna, por
exemplo, o próprio Visconde de Taunay
demorou-se na vila de Paranaíba, onde
encontrou em Jacinta Garcia Leal inspiração
para escrever seu livro Inocência.
66.
67. • É necessário lembrar, no entanto, que mesmo
esta pacata vila sofreu com os males do
conflito no Paraguai, entre eles doenças como
a lepra, que infestaram a região e com a qual
a própria Jacinta Garcia Leal estava
contaminada.
69. Reocupação do centro, oeste e sul de
Mato Grosso do Sul:
• Uma vez terminada a Guerra do Paraguai,
aqueles soldados que no sul matogrossense
haviam estado passaram a relatar, ao
retornarem a suas províncias de origem, as
gigantescas terras de vacarias existentes em
Mato Grosso.
70. • Iniciou-se, assim, um massivo processo de
migração regional para a área, com
povoadores sobretudo vindos de províncias
como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São
Paulo e Bahia. Datam deste período a
ocupação, por exemplo, de municípios como
Campo Grande e Sidrolândia, assim como a
reocupação da área de Dourados.
71. • Nessas localidades, estabeleceram-se
extensas fazendas de pecuária que faziam uso
do pasto nativo existente na região. O próprio
nome "Campo Grande", por exemplo, alude
aos largos campos de vacaria, ou seja,
pradarias, com vegetação gramínea ideal para
a criação de gado.
74. • Nessa área estabeleceu-se José Antônio
Pereira com seu filho Antônio Luiz, os escravos
João Ribeira e Manoel e o sertanista Luiz Pinto
Guimarães. Vindos por Goiás, passaram pelo
atual município de Costa Rica, próximo à
frente colonizadora dos Garcia Leal, e
adentraram o sul matogrossense até sua área
central, na confluência dos córregos Segredo e
Prosa.
78. • Assim, em meio à falta de perspectiva que
abatia o sul matogrossense, criavam-se
oportunidades para guinadas nos rumos,
especialmente devido à presença de terras
férteis em grande quantidade e às
possibilidades de atividades extrativas.
79. • O crescente comércio internacional foi fator
predominante para a reocupação da fronteira
oeste brasileira, feita possível pelos dois
primeiros ciclos econômicos sul-
matogrossenses: o ciclo da erva-mate e o ciclo
do gado.
82. A Companhia Matte Larangeira e a
República Velha:
• No ano de 1872, a uma comissão mista
formada por brasileiros e paraguaios coube
redesenhar os limites entre os dois países,
tarefa que nunca havia sido completada
anteriormente à guerra. Nesse processo de
remarcação de fronteiras esteve presente
83. • Thomás Larangeira, que acompanhava um
envolvido nas negociações que era seu patrão.
Assim, foi possível a Thomás Larangeira
conhecer bem a área de fronteira, onde, em
meio a terras indígenas e devolutas,
encontrou extensos ervais nativos de Ilex
paraguariensis, a erva-mate.
89. • Quando do final dos trabalhos de
demarcação, no ano de 1874, Thomás
Larangeira trouxe do Rio Grande do Sul
especialistas em erva-mate para que pudesse
dar início aos trabalhos nos ervais, tendo
contratado, também, mão-de-obra paraguaia.
90. • Dez anos mais tarde, por intermédio do Barão
de Maracaju, recebeu a concessão para
explorar legalmente aquelas terras, que até
então encontravam-se devolutas. A
autorização deu-se pelo Decreto nº 8,799 do
Governo Imperial, datando de 9 de setembro
de 1884 e assinado por Dom Pedro II.
91. • Dada a facilidade em se encontrar mercados
consumidores, principalmente o Uruguai e a
Argentina, e o fato de não existir muitos
gastos na lida da erva-mate, o negócio
mostrou-se, desde o começo, muito lucrativo.