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Prefácio à edição brasileira, 9
Prefácio à primeira edição, 11
Nota Editorial, 13
ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIAS, 19
I | TEMAS INTRODUTÓRIOS
Cap. I. O OBJETO DE ESTUDO DAANTROPOLOGIA CULTURAL: ACULTURA HUMANA. Conceito
de cultura. Cultura ideal e cultura real. Normas culturais. Aprendizagem e cultura, 27
Cap. II. O MÉTODO DA ETNOLOGIA. Interesse do estudo antropológico dos povos com
culturas tradicionais. Relativismo cultural versus etnocentrismo. O trabalho de campo
como método próprio da antropologia cultural. Observação participante e técnica, 37
II | TEMAS HISTÓRICOS
Cap. III. A ETAPA PRÉ-EVOLUCIONISTA. A antropologia cultural no mundo antigo. O des-
cobrimento da América e os primeiros indigenistas: Pané, Bartolomé de Las Casas,
Motolinía, Acosta, Landa. Bernardino de Sahagún e a cultura asteca. J.F. Lafitau e os
iroqueses. O protoevolucionismo de W. Robertson, 51
Cap. IV. O EVOLUCIONISMO DO SÉCULO XIX. A idéia evolucionista aplicada à cultura:
L.H. Morgan, hipótese e etapas da evolução cultural. Crítica ao esquema de Morgan.
Tylor e Frazer: animismo, magia e totemismo. Do status ao contrato: H.S. Maine.
Bachofen e o matriarcado primitivo. O materialismo cultural de Marx e Engels. A ori-
gem da família, a propriedade privada e o Estado, 73
Cap. V. O DIFUSIONISMO CULTURAL E O PARTICULARISMO HISTÓRICO DA ESCOLA DE F.
BOAS. Difusionismo britânico e alemão. F. Boas e a análise de área. Kroeber e “o
superorgânico”. O difusionismo moderado de R. Lowie. Crítica a Morgan e ao materia-
lismo cultural, 87
Cap. VI. A ESCOLAANTROPO-PSICOLÓGICA DA CULTURA EA PERSONALIDADE. Psicanálise e
antropologia. A contribuição de Freud à antropologia cultural: Totem e tabu e O mal-
estar na civilização. Simbologia cultural (Jung, Roheim, Mendel). Psicanálise culturalista
americana (Kardiner, Fromm). Novas contribuições (Linton, Whithing, Child, Levine), 97
Cap. VII. FUNCIONALISMO SOCIAL. B. MALINOWSKI. Precursores: A escola sociológica
francesa (E. Durkheim e M. Mauss). O conceito de função e o método de Malinowski em
OsArgonautas do Pacífico Ocidental. A sexualidade nas sociedades primitivas. Radcliffe-
Brown e o estruturalismo, 115
Cap. VIII. O ESTRUTURALISMO EM ETNOLOGIA: CLAUDE LÉVI-STRAUSS. Influências rece-
bidas por Lévi-Strauss. Da “regra do dom” (Mauss) ao princípio de reciprocidade de “As
estruturas elementares do parentesco”. O pensamento selvagem e o mito. O tema do
“homem” e do “sujeito” em Lévi-Strauss, 123
Cap. IX. ECOLOGISMO CULTURAL E NOVAS TENDÊNCIAS. O neoevolucionismo de L. A.
White. As contribuições de M. Harris. Godelier e o estruturalismo marxista. Antropolo-
gias simbólica e hermenêutica, 145
Sumário
III | TEMAS SISTEMÁTICOS
Cap X. ETNOLINGÜÍSTICA. LINGUAGEM E CULTURA. Existem linguagens primitivas? A
diversidade lingüistica. A origem da linguagem. Estudo da mudança lingüística: sintático
(glotocronologia) e semântico. Língua e cultura: discussão sobre a hipótese de Sapir-
Whorf, 155
Cap XI. ETNOLINGÜÍSTICA. O MITO. As “regiões” do simbólico. Características do mito.
Hermenêuticas psicoantropológicas do mito: psicanálise, funcionalismo, estruturalis-
mo e cognitivismo. Exemplos de interpretações míticas, 165
Cap. XII. ETNOPSICOLOGIA. PERSONALIDADE E CULTURA. Problemática do capítulo. Prin-
cipais concepções, 181
Cap. XIII. ETNOPSIQUIATRIA. DOENÇA MENTAL E CULTURA. Breve resenha histórica da
etnopsiquiatria. O conceito metacultural de enfermidade psíquica. As doenças mentais
nos povos primitivos. As terapias grupais e xamanísticas, 199
Cap. XIV. ETNOHISTÓRIA. MUDANÇA CULTURAL. Síntese das principais teorias sobre a
mudança cultural. A evolução e o progresso social. A antropologia e as mudanças soci-
ais em todo o mundo, 213
Cap. XV. ANTROPOLOGIA SOCIAL. INCESTO, UNIÃO E MATRIMÔNIO. Natureza, extensão
e exceções do tabu do incesto. Uniões preferenciais: o matrimônio entre primos e os
enlaces de substituição. O preço da progênie e outros modos de estabelecer parentes-
cos, 221
Cap. XVI. ANTROPOLOGIA SOCIAL. SISTEMAS DE PARENTESCO.Tipos de famílias: conju-
gal nuclear e conjugal estendida. Classificação do parentesco segundo: Morgan, Lowie,
Lévi-Strauss e Murdock. Análise de dois casos de família unida: apache e tanala. A
família troncolocál do Norte da Espanha, 231
Cap. XVII. ANTROPOLOGIA SOCIAL. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS. Fraternidades
tribais. Classes de idade. Análise do caso massai. Tipos de organizações políticas em
sociedades tradicionais, 245
Cap. XVIII. ANTROPOLOGIA SOCIAL. SISTEMAS RELIGIOSOS. O sagrado e o profano. O
animismo: teoria de Tylor. Magia, ciência e religião. Ritos e cerimônias. Xamanismo.
Diversos cultos e concepções religiosas da divindade, 251
Cap. XIX. ANTROPOLOGIA SOCIAL E ETNOGRAFIA. ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA E SATIS-
FAÇÃO DE NECESSIDADES PRIMÁRIAS.Tecnologia e economia “primitivas”. Divisão do
trabalho, comércio e consumo nestas sociedades. Satisfação de necessidades primári-
as: alimentação, moradia e indumentária, 257
Cap. XX. ETNOGRAFIA. Arte e tradição cultural. A expressividade musical e a dança.
Análise etnográfica do folclore: festas, gastronomia, literatura oral etc, 263
BIBLIOGRAFIA, 269
BIBLIOGRAFIA DE ANTROPOLOGIANO BRASIL, 359
ÍNDICE REMISSIVO, 371
Manual de Antropologia Cultural | 9
Angel-B. Espina Barrio
Prefácio à edição brasileira
A advertência que fizemos no prefácio à primeira edição espanhola
deste Manual de antropologia, em relação à vital importância de fo-
mentar a convivência intercultural e inter-religiosa dos povos, talvez
tenha parecido algo retórico, naquela ocasião. Hoje ninguém duvida
de que é imperiosamente necessário atender àquele alerta – e com ur-
gência –, se quisermos não somente conviver, mas até sobreviver, no
futuro, ao menos de maneira estável e pacífica.
Só promovendo a comunicação e a convivência inter-racial, intercul-
tural e inter-religiosa, poderemos nos salvar da violência, das guerras e
do terrorismo. Não há outro caminho. E para progredir nele a ciência
antropológica termina por ser um auxiliar imprescindível, pois é co-
nhecendo os povos, suas culturas, seus costumes e religiões, que pode-
mos chegar a entendê-los e a respeitá-los. A ignorância só produz medo,
desentendimentos e conflitos. O conhecimento mútuo gera intercâm-
bios, cooperação e amizade.
No Brasil e na Espanha, há muito, pensamos assim. Por isso, é tão
urgente incrementar o contato e a cooperação, especialmente entre os
estudiosos da antropologia de ambos os países. É o objetivo fundamen-
tal da edição em português deste Manual de antropologia cultural.
A antropologia sociocultural tem uma vertente aplicada muito evi-
dente em aspectos sociais de importância para a época atual: no cam-
po da comunicação, da atenção aos imigrantes e a sua integração
cultural, no da cooperação para o desenvolvimento, no da educação
multicultural etc.
Coube-me a honra de dirigir vários congressos e publicações na
Universidade de Salamanca sobre alguns destes temas, em que par-
ticiparam destacados antropólogos de diversas universidades euro-
péias e americanas, e também brasileiras. Mas a antropologia
aplicada precisa, para realizar bem seu importante trabalho, de uma
base sólida e de um conhecimento profundo da antropologia teóri-
ca. Necessita de um detido estudo de suas divisões e conceitos bási-
cos, de uma compreensão clara de sua metodologia específica e de
sua história como disciplina, com seus antecedentes, escolas e auto-
res principais e, por último, de sua relação com outras ciências huma-
nísticas, assim como de um tratamento dos temas e variáveis culturais
que lhe são mais próprios. Tais são os conteúdos deste texto, sem o
conhecimento dos quais não se poderia depois enfrentar coerente-
mente nenhuma das aplicações expressas.
10|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
A perspectiva comparativa e transcultural é essencial no conheci-
mento etnológico e é a que se defende neste livro e também em todas
as pesquisas, teses e obras ao nosso cuidado, especialmente do pro-
grama interuniversitário de doutorado Antropología de Iberoamérica,
que coordeno, e do Instituto de Investigaciones Antropológicas de
Castilla y León, que impulsionamos há bastante tempo. A busca do
contato entre os povos da Iberoamérica (onde incluímos o Brasil, Por-
tugal, Espanha e os países hispano-americanos) através do conheci-
mento de suas culturas, obtido com sérios trabalhos de pesquisa, é
nosso norte, nosso empenho e nosso guia. Felizmente, esse trabalho
começa a dar frutos, inclusive com projetos conjuntos de pesquisas
reconhecidos pelos governos de diversos países e que se fortalece dia
após dia com as redes estabelecidas formalmente e também através
de dezenas de doutores e doutorandos, entre os quais se encontram
de maneira destacada os procedentes de prestigiosas universidades
do Brasil.
A presente obra pretende ser uma contribuição aos estudos para
professores e alunos brasileiros e ao leitor da língua portuguesa de
modo geral.
Angel-B. Espina Barrio
Manual de Antropologia Cultural | 11
Angel-B. Espina Barrio
Prefácio à primeira edição
A posição de destaque que alguns filósofos do século XIX vatici-
naram para a antropologia como disciplina-chave das chamadas ci-
ências humanas foi cumprida em nosso tempo. Poucos estudos e
pesquisas humanísticas desdenham os conteúdos ou as metodologias
consideradas antropológicas. Num mundo que às vezes fica pequeno
devido ao desenvolvimento dos meios de comunicacão e transporte,
o conhecimento antropológico se mostra indispensável na importan-
te tarefa de facilitar a convivência entre as diferentes culturas. Assim
como a ecologia revelou a importância do conhecimento e respeito às
leis dos sistemas do meio natural, a antropologia nos desvela conhe-
cimento e respeito aos sistemas culturais humanos. Não é possível a
sobrevivência sem adequação e preservação do “meio”; não é possível
a convivência sem o respeito pelos “outros”: os outros povos, as outras
mentalidades, as outras culturas.
Na atualidade, já se reconhece que a humanidade não caminha
para uma uniformização radical de suas maneiras de viver, ideais ou
costumes, e que é melhor defender e respeitar as diferentes identida-
des dos povos, já que, do contrário, se podem gerar movimentos e
reações muito destrutivas. O estudo antropológico não corre nenhum
risco de desaparecimento diante da extinção das microestruturas tribais
que eram o seu tradicional objeto de estudo. Em primeiro lugar, por-
que a antropologia não é só uma sociologia das sociedades exóticas,
também porque, como dissemos, é cada vez mais importante a
dilucidação do tema da identidade cultural, tanto própria como alheia.
Na Espanha, o trabalho antropológico vive seus melhores momen-
tos, depois de ter sido praticado por poucos, ainda que notáveis auto-
res – de formação geralmente histórica, sociológica ou filosófica –
que dedicaram o seu tempo à pesquisa no campo da religiosidade
popular, dos costumes, do folclore etc, no momento presente conta
com uma importante presença nos centros de cultura popular e nas
universidades com formação específica e com um núcleo de pesquisa-
dores que integram um setor de conhecimento que cada vez mais vai-
se definindo com maior clareza. A inclusão da disciplina antropológica
nos estudos de sociologia, história, filosofia, ciências da informação,
ciências da educação e ciências humanas em geral evidencia o seu
interesse e sublinha o caráter intensamente interdisciplinar e integrador
do saber antropológico. Na preparação deste Manual de antropolo-
gia cultural, especialmente em sua parte sistemática, levou-se muito
12|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
em conta a grande relação da disciplina tratada com outros saberes
humanísticos, pois, embora não devendo diluir-se neles, a etnologia
tem que mostrar claramente a recíproca complementareidade que deve
existir entre os mesmos.
O tratado de antropologia que apresentamos quer servir a um du-
plo propósito: ajudar todos aqueles que se aproximam pela primeira
vez do estudo da antropologia cultural, apresentando um compêndio
de seus temas principais, e, por outro lado, desenvolver alguns desses
temas de uma maneira nova e útil, inclusive para especialistas na ma-
téria. Depois de um capítulo inicial de demarcação terminológica, se
desenvolve a específica história da etnologia, em que se destacam os
capítulos dedicados à etapa pré-evolucionista (com um amplo desen-
volvimento do primeiro indigenismo espanhol do século XVI, esque-
cido em muitos tratados), à escola de cultura e personalidade e ao
estruturalismo etnológico de Claude Lévi-Strauss. Na parte sistemá-
tica, dissemos que se busca a concorrência e a mútua influência entre
os temas antropológicos e os da lingüística (língua e cultura, mito),
psicologia (cultura e personalidade), psiquiatria (cultura e doença
mental), história (mudança cultural) etc. Por último, se oferece um
breve estudo dos principais temas da antropologia social: família,
parentesco, instituições, modos de subsistência etc. Não resta dúvida
de que o propósito é muito ambicioso e nos contentaríamos com que
o texto, orientado destacadamente à docência, terminasse por ser,
mesmo que minimamente, um fator positivo na direção apontada.
Angel-B. Espina Barrio
Manual de Antropologia Cultural | 13
Angel-B. Espina Barrio
Nota Editorial
Este manual cumpre dupla função: a de ser um guia para o iniciante
e um útil instrumento ao professor e ao especialista no ensino e apren-
dizado da antropologia, em sua dimensão básica e panorâmica.
O autor não é somente um dos mais dinâmicos animadores da
antropologia na Espanha na atualidade, mas um entusiasta das rela-
ções de cooperação que vêm rendendo bons frutos para a Espanha e o
Brasil.
Ele vem promovendo esses contatos, na verdade, com toda a Amé-
rica Latina. Em disciplinas que ensina, congressos que promove, cur-
sos de pós-graduações que dirige. É sempre a antropologia vista com
olhar amplo o que viceja no seu trabalho.
A sólida formação do autor nas áreas de filosofia e psicologia faci-
lita e estimula o diálogo interdisciplinar que empreende. Isso está bem
flagrante em muitas passagens deste livro.
Autor de um importante livro comparativo entre Freud e Lévi-
Strauss, o professor Angel Espina Barrio alcançou também com este
manual um merecido destaque e repercussão no meio hispânico.
O seu Manual de antropologia cultural, que já teve várias edições
na língua original, é muito usado nos cursos de graduação e pós-
graduação europeus. Certamente o mesmo ocorrerá no Brasil.
Na tradição desenvolvida por Gilberto Freyre (e de certo modo
antevista por Oliveira Lima e Joaquim Nabuco) o contato entre o
Brasil e seus pares latinos ainda é um fértil e largo campo, mas que
precisa ser muito mais desenvolvido.
Como órgão promotor da pesquisa no Nordeste, é natural que a
Fundação Joaquim Nabuco por meio de sua editora se ocupe de di-
fundir bons trabalhos acadêmicos e supra-acadêmicos como este, o
que certamente agradaria a Freyre e Nabuco.
Somente algumas poucas alterações foram feitas nesta edição com
relação à original: a bibliografia foi reunida toda em notas e ao final.
O único capítulo suprimido foi um sobre linguagem e contracultura,
pois sendo os seus exemplos de gíria muito particulares do espanhol e
não havendo uma correspondência possível e verossímil em portu-
guês, teria que sofrer adaptação ao contexto brasileiro.
Na parte relativa a um amplo quadro de línguas e, particularmen-
te, nas comparações da evolução de palavras, além do espanhol, la-
tim e outras línguas, acrescentou-se o português. Usou-se o dicionário
Houaiss, para as informações etimológicas e históricas.
14|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
No caso das grafias de nomes espanhóis, geralmente preferiu-se
manter a forma original (o caso de Bartolomé de Las Casas, por exem-
plo). E seguiu-se também o mesmo critério para expressões como
encomienda e encomenderos.
Acrescentou-se uma bibliografia de livros de antropologia dispo-
níveis em português e, de modo a valorizar e facilitar a navegação
pelo texto, foi também incluído um índice remissivo.
Num país como o Brasil – dos mais ricos do mundo no campo da
antropologia – ainda são poucos, no entanto, os manuais destinados
também aos não-especialistas. A Editora espera contribuir para dimi-
nuir esta lacuna e estimular novas traduções e publicações.
Preferiu-se quase sempre citar os títulos dos livros referidos no
original em espanhol, no corpo bibliográfico. Mas no decorrer do
texto do livro a melhor opção foi traduzir para o português. De modo
geral, os clássicos citados já têm edições brasileiras.
No caso de uma obra como O mal-estar na cultura, que seria a
maneira literal de verter o espanhol, preferiu-se o já bem conhecido
O mal-estar na civilização, sem entrar na óbvia explicação das seme-
lhanças e distinções de conceitos como civilização e cultura.
As notas, ao invés de enumeradas apenas em duas seqüências, como
no original, são apresentadas recomeçando de 1 a cada parte nova
englobadora de todo um conjunto amplo de informações.
As ilustrações utilizadas são mais alusivas que mecanicamente re-
ferentes ao texto. Buscam tornar leve o percurso por este livro que,
contanto ser escrito em linguagem clara, é mesmo assim técnico e
exige leitura atenta e concentrada.
Agradecemos ao autor e ao seu editor espanhol (Amarú Ediciones)
a autorização para a tradução. Tentou-se apresentar o texto mais
correto possível em português. Todas as falhas e imprecisões são de
única responsabilidade do tradutor-editor.
Manual de Antropologia Cultural | 15
Angel-B. Espina Barrio
16|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Índio Karajá. Foto anônima,
tirada aproximadamente
em 1900. Acervo do
Laboratório de Antropologia
da Universidade
de São Paulo.
Manual de Antropologia Cultural | 17
Angel-B. Espina Barrio
18|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Sully. Retrato de Um
Homem. Foto tirada
aproximadamente em 1870.
Manual de Antropologia Cultural | 19
Angel-B. Espina Barrio
ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIAS
Afirmar que a antropologia é a ciência do homem não quer dizer
muito, pois qualquer disciplina entre as chamadas ciências humanas
(psicologia, sociologia etc) trata do homem e é também, portanto,
uma ciência do homem. Sendo a antropologia, ao pé da letra, (anthro-
pos – homem; logos – ciência) ciência do homem, o que quer dizer
isto de modo especial?
Em primeiro lugar, significa que é o único saber que acima de tu-
do, com toda a sua grande diversidade temática, tem uma preocupa-
ção constante em definir o homem. A resposta à pergunta kantiana –
o que é o homem? – pode-se colocar de diversos pontos de vista.
Pode-se responder desde a perspectiva empírica, formulando conclu-
sões gerais sobre o homem e sua natureza, mediante o conhecimento
para o qual contribuem as observações sistemáticas, à recompilação
dos dados recolhidos por todo o mundo e o estudo comparado das
variantes físicas e culturais que se observam en-
tre os diferentes grupos humanos. Mas também
podemos responder de uma perspectiva huma-
nística e filosófica que trate do homem, de seus
costumes e seus diferentes modos de vida, de suas
dimensões fundamentais, de seu destino etc. To-
das estas posições são próprias da antropologia
porque, conforme nos diz Hoebel1
, cumprem as
três características essenciais que distinguem este
tipo de conhecimento:
1ª – Tratam do homem e suas manifesta-
ções como um todo (visão holística).
2ª – Empregam o método comparativo.
3ª – Levam em conta o conceito de cultu-
ra como âmbito próprio do humano.
Esta última característica é também válida para
a antropologia filosófica, pois o conceito de cul-
tura traz intrínseco um conceito de homem.2
1
HOEBEL. A. E.
Antropología: el
estudio del hombre.
Omega (Barcelona,
1973)4-6.
2
Algo similar expressa
J. Azcona quando diz
que: “o conceito de
cultura encerra a
problemática teórica da
antropologia, mas, por
sua vez, o que os
antropólogos pensaram
e pensam sobre o
homem. O valor
ideológico do conceito
de cultura é com
freqüência mais
importante que seu
valor analítico e
heurístico.” AZCONA,
J., Para comprender la
antropología. 2.La
cultura. Verbo Divino
(Navarra. 1988)7.
20|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Sem dúvida, a tarefa que se atribui à antropologia é muito vasta, o
que facilita a proliferação de subdivisões e paradigmas distintos agru-
pados sob esta denominação comum. Denominou-se a antropologia
como cultural, física, econômica, social, aplicada, médica, psicológica,
lingüística, filosófica, cognitiva, ecológica, hermenêutica, funcional, sim-
bólica, estrutural etc. Cada uma destas denominações encerra uma
particular forma de entender a antropologia e uma série de atividades,
às vezes muito divergentes: observação, medição de ossos e fósseis,
reflexão, medição de variáveis corporais, entrevistas, escavações...
Definir a antropologia como aquilo que fazem os antropólogos é, como
vemos, muito difícil, ao menos a princípio. Vamos tentar pôr um pouco
de ordem em todas estas possíveis especializações antropológicas.
Divisões da Antropologia
São muitas, mas quase todas se concebem de uma bipartição ema-
nada presumivelmente do mesmo ser humano em sua dupla dimen-
são de ser natural (corpóreo e biológico) e ser de cultura (civilizado,
simbólico). Traduzem-se aqui clássicas dicotomias (natureza-cultura,
biologia-sociedade etc). Uma antropologia se ocupará do pólo natu-
ral (antropologia física) e outra do sociocultural-simbólico (antropo-
logia cultural ou etnologia). Naturalmente que a estas duas divisões
empíricas do saber sobre o homem deve-se somar a especulativa, pró-
pria da antropologia filosófica.
Portanto, podemos definir a antropologia física (ou biológica) como
o estudo do homem enquanto organismo vivo, atendendo, além dis-
so, a sua evolução biológica dentro das espécies animais. Quer dizer
que o antropólogo físico tem que se ocupar da origem e evolução do
homem (processo de hominização) e das diferenças físicas que se dão
entre os seres humanos, da variação genética e das adaptações fisio-
lógicas do homem frente aos diversos ambientes. Para isso, conta com
uma série de estudos e de áreas de especialização: primatologia (estu-
do dos primatas, grupo animal próximo ao homem), paleoantropologia
(estudo da evolução humana através dos fósseis), antropomorfologia
(anatomia comparada de diversos tipos e raças humanas), genética
antropológica, ecologia humana etc. A atividade concreta destes ci-
entistas costuma consistir em trabalhos próximos da arqueologia,
recolhimento de fósseis, antropometria (medição de partes corporais
humanas, especialmente, o crânio – craneometria) e, ultimamente,
análises mais sofisticadas relativas às características serológicas, gené-
ticas ou fisiológicas e sua relação com o ambiente.
Manual de Antropologia Cultural | 21
Angel-B. Espina Barrio
Por outro lado, definiremos a antropologia cultural como o estu-
do e descrição dos comportamentos aprendidos que caracterizam os
diferentes grupos humanos. O antropólogo cultural (ou sociocultural,
como é costume denominar-se hoje em dia) tem que se ocupar das
obras materiais e sociais que o homem criou através de sua história e
que lhe permitiram fazer frente a seu meio ambiente e relacionar-se
com seus congêneres. Também na antropologia cultural há várias sub-
divisões: a arqueologia, quando estuda os vestígios materiais de cul-
turas que não contaram com testemunhos escritos. A lingüística
antropológica (ou etnolingüística), que se ocupa de todas as línguas
passadas e presentes, com seus dois enfoques principais: estrutural e
genético. A linguagem é uma parte da cultura e pode esclarecer mui-
tos aspectos da história da cultura e da mudança cultural.3
O resto da antropologia cultural, precisamente sua parte mais subs-
tancial e genuína, está compreendido sob o rótulo de etnologia geral
(estudo dos povos) e, segundo o enfoque que siga, será denominada de
etnografia (se descrever as formas de vida de determinados grupos so-
ciais); etnologia (se enfatiza a comparação de culturas, a reconstrução
da história das culturas ou o tema da mudança cultural) ou antropolo-
gia social (que também compara as culturas, mas de modo a estabele-
cer generalizações acerca da ligação sociedades humanas-grupos sociais).
A etnografia (escrever sobre os povos) é a disciplina mais próxima
dos dados empíricos e a primeira que praticaram os antropólogos
culturais. Prepondera nela o enfoque descritivo e utiliza como técnica
de coleta de dados o trabalho de campo,
principalmente, e as contribuições arqueo-
lógicas. É a base de toda a antropologia cul-
tural, pois proporciona os elementos sobre
os quais vão trabalhar os demais teóricos.
A etnologia vai além da descrição e pre-
tende comparar, analisar as constantes e
variáveis que se dão entre as sociedades hu-
manas, e estabelecer generalizações e recons-
truções da história cultural.
Por sua vez, a antropologia social se refe-
re a problemas relativos à estrutura social:
relações entre pessoas e grupos, instituições
sociais, como a família, o parentesco, as as-
sociações políticas etc. Aqui a perspectiva é
mais sincrônica que diacrônica.
3
Naturalmente, tanto a
arqueologia como a
lingüística são duas ciências
que podem desenvolver seu
trabalho teórico sem
relação com a antropologia.
Aqui ressaltamos a
aplicação delas ao estudo
do fato cultural, momento
em que integram a
antropologia cultural. Assim
o confirmam obras como:
ALCINA-FRANCH, J.
Arqueología antropológica,
Akal (Madri, 1990), e
CASADO VELARDE, M.
Lenguaje y cultura. Síntesis
(Madri, 1988).
22|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Segundo essa perspectiva, o campo antropológico se desdobra nas
seguintes divisões que, salvo diferenças terminológicas de que fala-
remos em seguida, já podem ser consideradas clássicas:
Mas as disciplinas assinaladas não são as únicas que na atualidade
desenvolvem campos interdisciplinares como o da etno-história (re-
construção do passado cultural através de documentos escritos) ou o
da antropologia psiquiátrica (cujo tema central é o das relações entre a
cultura e a doença mental), matérias novas que estão assinalando o
caminho deste conhecimento holístico que é o antropológico. Não há
perigo de dissolução da disciplina nos demais saberes humanísticos (psi-
cologia, psiquiatria, medicina, sociologia, história, psicanálise, semiótica
etc), mas pode resultar numa confluência fecunda de interesses e uma
comparação de resultados muito necessária. Por isso, na estruturação
do programa da disciplina de antropologia cultural preferi, sem esque-
cer os conteúdos e metodologia exclusivos do etnológico, ressaltar essa
união indissolúvel que se dá entre as ciências humanas, já que sua meta
é a mesma: compreender e explicar o homem.4
Desse modo, o quadro do conhecimen-
to antropológico que já nos introduz na
radicação deste saber nas ciências huma-
nas e que será, conforme foi dito, seguido
no programa, é o seguinte:
ANTROPOLOGIA
Antropologia empírica Antropologia filosófica
Antropologia física Antropologia cultural
Arqueologia Etnologia geral Lingüística
Etnografia
Etnologia
Antropologia social
4
Umas põem a ênfase no
explicar, outras no
compreender, até chegar à
antropologia filosófica que,
será a mais geral e
compreensiva de todas.
Manual de Antropologia Cultural | 23
Angel-B. Espina Barrio
Relação da antropologia com outras ciências
A antropologia, desde que se constituiu como saber organizado,
desempenhou tradicionalmente um papel unificador em muitas áreas
da pesquisa científica, assim como em humanidades, e o pôde fazer
porque é um conhecimento integral e integrador.
As classificações estritas de objetos de estudo foram muito frutífe-
ras no desenvolvimento das ciências, mas, hoje em dia, cada vez há
maior interesse por aquelas áreas nebulosas que se encontram nos limi-
tes das taxonomias clássicas (como o demonstra o desenvolvimento de
ciências intermediárias: físico-química, bioquímica, astrofísica etc). Do
mesmo modo, o enfoque integral para estudar o homem exige que cada
vez que se estude uma parte – sejamos conscientes: só é uma parte – ela
seja posta em conexão com o resto. O conhecimento antropológico
envolve o uso de técnicas e teorias de muitas disciplinas e, por sua vez,
as técnicas e conceitos da antropologia possuem ramificações e
consequências que se prolongam muito além dela. Na situação anteri-
or, podemos ver algumas destas conexões que dão lugar a estudos
interdisciplinares, concretamente:
A etnolingüística, cujo tema central se apresenta como a dicotomia
linguagem-cultura.
A etnopsicologia e seu estudo das relações entre cultura versus per-
sonalidade (nome adotado por toda uma escola antropológica).
ANTROPOLOGIA
Antropologia empírica Antropologia filosófica
Antropologia física Antropologia cultural
ou Etnologia geral
Etnolingüística
Etnopsicologia
Etnopsiquiatria
Etnohistória
Antropologia social
Etnoeconomia
Etnografia
24|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
A etnopsiquiatria: cultura-doença mental.
A etno-história: a mudança cultural, as aculturações sucessivas etc.5
Mas a antropologia agrega a estes saberes sua especificidade holís-
tica, seu interesse pela cultura e seu exclusivo método comparativo,
além das técnicas e metodologias de campo que examinaremos no pró-
ximo capítulo. A antropologia se distingue da história, uma vez que
não se limita ao documento, em seu método, nem ao devir em seu
objetivo. Difere da psicologia, já que não lhe interessam as individuali-
dades nem usa de experimentos nem testes, em sua pesquisa (pelo me-
nos, de forma sistemática). Não coincide plenamente com a sociologia,
pois seu ponto de vista é mais geral, sua metodologia não é o questio-
nário direto, e seu objetivo são as normas e os códigos de conduta e
simbólicos que chamamos de cultura. Não é uma sociologia de socie-
dades “atrasadas” ou “estranhas”, pois também pode e deve praticar-
se nas ocidentais.
Simplesmente é conhecimento humano que trata do homem, de
suas manifestações como espécie, de sua
humanidade, com uma perspectiva global,
aberta, integradora.6
5
Todas estas disciplinas são
capítulos do programa do
estudo da antropologia em
sua parte sistemática.
6
Devido a certa
complicação de
nomenclaturas sobre os
saberes antropológicos,
reproduzo o já conhecido
quadro de J.Alcina-Franch
para recordar diversos usos
terminológicos diferentes
dos aqui utilizados. Por
exemplo, na Grã-Bretanha,
onde a antropologia cultural
costuma ser denominada de
antropologia social, ou na
França e muitas partes da
Europa, onde a antropologia
física se denomina
simplesmente antropologia
e a antropologia cultural,
etnologia. Veja-se: ALCINA-
FRANCH, J., En torno a la
antropología cultural, José
Porrúa Turanzas
(Madri, 1975).
Antropologia
física
Antropologia
cultural
Antropologia
física
Antropologia
social
Antropologia
Etnologia
América Grã-Bretanha Europa cont.
Manual de Antropologia Cultural | 25
Angel-B. Espina Barrio
26|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Marajás da Índia.
Manual de Antropologia Cultural | 27
Angel-B. Espina Barrio
I | TEMAS INTRODUTÓRIOS
Cap. I. O OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL: A CUL-
TURA HUMANA. Conceito de cultura. Cultura ideal e cultura real.
Normas culturais. Aprendizagem e cultura.
O sentido do termo cultura que empregamos difere amplamente
do que o senso comum está acostumado a atribuir a tal vocábulo e é
também diferente de outros muitos que historicamente foram associa-
dos a esse termo. É o sentido antropológico o que nos interessa e o que
nos levará a afirmar que a cultura é o objeto de estudo privilegiado de
nossa disciplina.
Proveniente do latim clássico, com significados associados ao cul-
tivo e à criação, o vocábulo cultura seria aplicado só recentemente
(cerca de 1750) ao âmbito das sociedades humanas, suplantando, em
parte, o termo civilização. Mas observemos atentamente como se deu
esta evolução tão crucial para o que se constituiria depois como an-
tropologia cultural.
Conceito de cultura
Tanto o conceito de cultura como o de civilização estiveram asso-
ciados no Iluminismo à melhora progressiva das faculdades humanas
em todos os níveis (tal é o sentido outorgado por Herder, Jenisch etc).
Pouco a pouco se vão referindo os autores com estes vocábulos, so-
bretudo na Alemanha, à organização dos povos e ao conjunto dos
costumes. Desse modo, se oferecem algumas ten-
tativas de distinção às vezes contraditórias. As-
sim, Humboldt une a cultura às atividades
tecnoeconômicas (esfera do material) e a civiliza-
ção ao espiritual e mais elevado; Spengler, por sua
vez, diz que a civilização é a fase final, não criati-
va, de uma cultura, e Weber, mais contraditório
ainda que o anterior, identifica “civilização” com
o material e “cultura” com o espiritual. A civili-
zação é irreversível, cumulativa, técnica, enquan-
to que os produtos da cultura são variados,
únicos, não imanentes.1
O que fica claro é que
cada vez se oferece uma definição de cultura mais
1
Decerto que esta
mesma distinção é a
que realiza Unamuno
em seu famoso artigo:
“Civilización y
cultura”: “...deve-se
libertar a cultura da
civilização que a
sufoca, e romper o
quisto que escraviza o
novo homem.”
UNAMUNO, M., Obras
Completas, Afrodisio
Aguado (Madri,
1950)271.
28|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
próxima da referência dos atributos e produtos, próprios das sociedades
humanas, que não têm nada a ver com o herdado biologicamente, quer
dizer, vai-se dando um sentido mais científico e antropológico ao ter-
mo “cultura”.
Possivelmente, um dos primeiros autores que ofereceram uma a-
cepção inequivocamente etnológica para o verbete “cultura” foi Tylor
que, identificando-a com civilização, nos diz da cultura:
É aquele todo complexo que inclui conhecimento, cren-
ças, arte, lei, moral, costumes e qualquer outra capaci-
dade e hábito adquirido pelo homem como membro da
sociedade.2
Durante muito tempo, o termo cultura e a definição de Tylor não
tiveram o papel destacado a que estariam destinados, já que a esco-
la triunfante na Europa seria a durkheiminiana, que baseia a sua
teoria na categoria de “sociedade”.3
Isto explica a preferência que
tanto na França como na Inglaterra se dá pela denominação antro-
pologia social. Na América do Norte, pelo contrário, seus estudio-
sos, que estão mais preocupados com os “valores” dos povos do que
com as vinculações concretas constitucionais desses povos, utiliza-
ram mais o termo “antropologia cultural” para designar seus traba-
lhos e “cultura” para referir-se aos modos de viver e conceber a
existência por parte de um determinado grupo. Tal é o caso de auto-
res como Boas, Sapir, Benedict, Mead etc. Neste contexto se ofere-
ceram muito numerosas definições de “cultura”
que situam o conceito definitivamente no âm-
bito do não-biológico, não-individual, mas não
no simbólico. Distinguindo-se freqüentemente
do termo civilização (que serve para designar
os aspectos materiais) e do termo sociedade
(base orgânica e humana), o conceito de cultu-
ra prevaleceu na antropologia. Por tratar algu-
ma definição concreta de entre as muitas que
se acumulam de tal termo, podemos terminar
este segmento do nosso manual analisando uma
que pode considerar-se muito generalizada en-
tre os antropólogos, segundo a qual a cultura é:
um sistema integrado de padrões de con-
duta aprendidos e transmitidos de uma ge-
2
Veja-se: TYLOR,
E.B., Cultura
Primitiva I, Ayuso
(Madri, 1981)19.
3
Embora seja certo
que esta categoria é
muito próxima em seu
uso pela escola de
Durkheim,
do que entendemos
hoje por cultura.
Desta maneira, a
sociologia por eles
praticada poderia ser
uma culturologia ao
estilo da propugnada
recentemente por
Herskovits, White etc.
Manual de Antropologia Cultural | 29
Angel-B. Espina Barrio
ração a outra, característicos de um grupo humano ou
sociedade.4
Portanto, nos estamos referindo a uma realidade organizada, siste-
mática, mas abstrata. 5
Abstraem-se “padrões de conduta” ou “mode-
los de vida” dos atos dos indivíduos e de quantos materiais manipulam.
Pretende-se que estes padrões ou modelos estejam integrados (logo ve-
remos se isto é possível) e que se transmitam su-
pra-individualmente, de uma geração a outra, por
herança não biológica, mas simbólica. Estes mo-
dos de vida, além disso, diferem de um grupo hu-
mano a outro e adquirem um valor emblemático
e afetivo (além de funcional e adaptativo) para os
indivíduos que integram essa sociedade e seguem
(supõe-se majoritariamente) esse estilo cultural.
Todos esses extremos serão tratados e anali-
sados a seguir. Agora, é bastante que fiquemos
com esta idéia geral do problemático campo de
estudo da antropologia chamada sociocultural.
Cultura ideal e cultura real
Muitos antropólogos se interessam funda-
mentalmente pelas idéias que uma sociedade,
em seu conjunto, difunde sobre o que um indi-
víduo deve fazer, sobre como tem que viver,
pensar e comportar-se. Quer dizer, preocupam-
se com chegar a conhecer a cultura ideal (as
normas ideais) de um povo. Outros estudiosos
consideram mais interessante, pelo contrário,
anotar e ver qual é o verdadeiro comportamen-
to dos indivíduos dessa sociedade, a cultura
real, as normas reais de comportamento.6
Sa-
bemos que muitas vezes há grande distância
entre o que os indivíduos dizem que fazem, ou
deveriam fazer, e o que verdadeiramente exe-
cutam. As normas ideais têm muitas formas
de cumprir-se e, inclusive, de descumprir-se
(exemplos disso são a variabilidade de cum-
primento das normas de trânsito, das de sau-
dação – ou das consideradas normais – no
comportamento sexual etc).
4
Esta definição é uma
combinação das
apresentadas por
Kluckhohn e Hoebel
em seus tratados de
antropologia. Veja-se:
KLUCKHOHN, C.
Antropología, FCE
(México. 1971)33-48. E
HOEBEL, La
antropología: el
estudio del hombre.
Omega (Barcelona.
1973)5.
5
Ao menos assim a
consideram muitos
antropólogos não
“materialistas”
(Kroeber, Herskovits,
Beals etc) e os que
mencionamos
(Kluckhohn e Hoebel).
6
Estes antropólogos
costumam seguir o
enfoque funcionalista,
perspectiva em que se
destacou B. Malinowski
com uma preocupação
marcadamente
empirista. A cultura
ideal interessa mais
aos estruturalistas,
dado que sua visão é
mais racionalista.
Ambos os enfoques,
como diremos a seguir,
são imprescindíveis e
complementares.
30|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Contudo, a cultura ideal tem extraordinário influxo na vida do ho-
mem, pois é um guia que, sendo seguido ou não, está permanentemen-
te presente para os indivíduos de uma cultura. Em todas as sociedades,
as pessoas costumam envergonhar-se ao serem advertidas que a sua
conduta se afasta da considerada ideal e, embora existam mecanismos
culturais que facilitam certos tipos de desvio, as normas ideais exercem
muita pressão sobre a conduta, inclusive quando não estão expressas
formalmente, legalizadas, ou permaneçam no âmbito do tácito, pra
não dizer do inconsciente. A maioria destas normas ideais tem como
fim a preservação e coesão do grupo e, às vezes, a permanência da
estrutura social e do sistema de classes e hierarquias estabelecido. Em
algumas ocasiões, a evolução das normas ideais provoca a mudança
nos comportamentos culturais e outras vezes são as próprias condutas
reais as que moldam a norma ideal. Como exemplo do primeiro caso
temos o ideal existente entre as classes médias da Índia, muito contrá-
rio à divisão da sociedade em castas. Este ideal, que gera o processo
chamado de sanscritização, ou de mudança de comportamentos de
modo a adotar os estilos de vida de castas consideradas superiores, se
choca frontalmente com a realidade hindu, especialmente fora das gran-
des cidades. Entretanto, esse ideal está conseguindo transformar a rea-
lidade social daquele país. Como exemplo do contrário, isto é, da
conduta prévia moldando o posterior ideal, temos o caso de nossa alta
consideração atual das famílias nucleares e limitadas, sendo este fato
fruto de uma limitação prévia no número de filhos por parte dos pais
que pretendem subir na escala social. Este ideal não se segue em socie-
dades eminentemente agrícolas, mas se cumpre nas nossas, onde o ní-
vel de vida não depende da quantidade de mão-de-obra familiar. De
qualquer forma, as normas ideais muitas vezes não são perfeitamente
claras e permitem uma margem ampla de condutas legítimas. Existem
muitas maneiras de ser um “bom cidadão”, “um bom pai”, pelo me-
nos é assim em sociedades não-dominantes e flexíveis. O indivíduo
pode manipular as normas culturais em seu favor mantendo as aparên-
cias. Em resumo, a relação entre o ideal e o real nas culturas é mais
intrincado do que parece e o antropólogo tem que estar atento para
observar ambas as realidades. O caderno do pesquisador tem que se
preencher com as expressões ideais e simbólicas de seus anfitriões e
com as observações concretas de suas condutas e de seus materiais.
Manual de Antropologia Cultural | 31
Angel-B. Espina Barrio
Normas culturais
Convém, sem mais delongas, definir claramente o que entende-
mos por norma cultural, que tipos de normas podem existir (além das
ideais e das reais) e que relação há entre elas.
Define-se norma como o modo de comportamento que compõe a
cultura de qualquer sociedade e que resulta da generalização da con-
duta da maioria dos membros dessa sociedade. Podem-se distinguir
entre as normas culturais algumas que devem cumprir todos os indi-
víduos, outras que só parte da população está obrigada a cumprir e
outras que são mais ou menos aconselháveis segundo as circunstânci-
as. Temos, assim, normas:
Universais: Formas de conduta que se esperam de todos os membros
de uma sociedade (ex.: cumprimento de horário, hábitos morais, lin-
guagem etc).
Especiais: Comportamentos próprios de um subgrupo ou classe soci-
al determinada, diferentes dos do resto do conjunto social (ex.: mo-
delos de relação entre jovens, determinados tabus dos feiticeiros etc).
Estas regras poderiam chegar a conformar uma subcultura, termo
que não carrega nenhum sentido pejorativo, ape-
nas designa uma cultura específica dentro de ou-
tra mais ampla.
Alternativas: Formas de comportamentos diferen-
tes que a cultura considera igualmente válidas.7
Alguns autores utilizam o termo “tema” para
referir-se a um conceito identificável com o de
“norma”, quando querem estudar os valores do-
minantes que expressam o pensamento e senti-
mentos essenciais ou principais de uma cultura
concreta. Discutiu-se muito se estas normas ou
temas das culturas são unitários, coerentes entre
si, ou, inclusive, contraditórios. Revendo-se por
alto toda a gama de possibilidades, temos em pri-
meiro lugar o configuracionismo de R. Benedict,
teoria que nos fala de poucas normas culturais,
coordenadas entre si (ao menos nas culturas cha-
madas integradas), e tendentes a um ideal soma-
tivo que percorreria a maioria das facetas da vida
de um povo. Assim, ao estudar os kwakiutl,
Benedict observou um modelo cultural geral (ide-
7
Kluckhohn nos
oferece uma
classificação mais
completa ao nos falar
de normas:
obrigatórias (quando
só existe uma resposta
aceitável para uma
cultura), preferidas
(quando existem
várias respostas
possíveis, mas uma se
considera melhor),
típicas (quando a
cultura não
hierarquiza as
respostas, mas uma se
dá com maior
freqüência),
alternativas (várias
respostas igualmente
possíveis) e
restringidas (formas
de comportamento
próprias das
subculturas).
32|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
al) de tipo dionisíaco, quer dizer, uma tendência a alcançar estados
emocionais fortes como a embriaguez, o transbordamento, o frenesi
etc. Podiam ser observados em suas festas, ritos e também nos famosos
potlatch, cerimônias em que se dava uma maciça destruição de bens e
um consumo esbanjador de mantimentos e utensílios, quase megalo-
maníaco. Pelo contrário, Benedict também se refere a culturas que se-
guem o ideal oposto, que atribuem ao apolíneo, à moderação, à mesura,
à ordem e à consciência ordinária as máximas confiança e estima.8
Alguns discípulos de R. Benedict, entre os quais se destacou Morris
Opler, observaram como os ideais se diversificavam muito e que era
mais prático falar de temas não somativos. Entendendo os citados
temas como postulados, declarados ou implícitos, que controlam usu-
almente o comportamento ou estimulam a ativi-
dade e que são promovidos por uma sociedade,
não se chega a afirmar que penetrem em todos
os âmbitos da vida do grupo humano. Não há
adição de temas a não ser equilíbrio entre os
mesmos, equilíbrio que pode ser instável. Não
obstante estas correções, muitos antropólogos
(M. Harris, entre eles) consideram que é possí-
vel identificar quase sempre valores e atitudes
contraditórios dentro de uma mesma cultura.
Há normas que coexistem com outras quase
opostas sempre que não se apliquem ao mes-
mo tempo ou sob as mesmas circunstâncias.9
Aprendizagem e cultura
Se a espécie homo sapiens realiza todas as
suas atividades, incluídas as relacionadas com
a satisfação de suas necessidades biológicas,
com uma enorme variabilidade e flexibilidade,
desconhecida nas demais espécies animais, isto
é devido a que a influência do automatismo ins-
tintivo tem menor importância no homem que
a que possui em seus parentes do reino anima-
do. Esta menor influência é devida a um desen-
volvimento neuronal mais prolongado, a um
período de criação maior e a uma elevada per-
centagem de condutas aprendidas. Todos estes
aspectos estão imbricados entre si e é difícil res-
8
Como se pode
observar, a infuência de
Nietzsche é patente na
definição desses dois
ideais (apolíneo e
dionisíaco), com os
quais Benedict pensava
estarem configuradas as
normas das culturas
integradas. Veja-se:
BENEDICT, R. El hombre
y la cultura, Edhasa
(Barcelona. 1971) 97.
9
M. Harris cita o
exemplo extraído dos
Estados Unidos segundo
o qual nenhum norte-
americano quer “ser
menos que seus
vizinhos” e às vezes
chega, por isso, a
consumos
desnecessários, quando
também é geral nessa
mesma cultura a
consideração de que um
sobre-consumo inútil é
daninho e estúpido.
Veja-se: HARRIS. M.,
Introducción a la
antropología
general. Alianza
(Madri. 1986)499.
Manual de Antropologia Cultural | 33
Angel-B. Espina Barrio
saltar um que seja o desencadeador de um processo que se chama de
hominização. No começo do século passado, os partidários da neotenia
defendiam um desenvolvimento filogênico para o homem apoiado no
processo da fetalização ou infantilização do cérebro do indivíduo.
Segundo esta teoria, determinados primatas foram adiando o seu de-
senvolvimento neuronal (retardando a mielinização axônica), o que
lhes permitiu aumentar o volume de aprendizagens e conexões cere-
brais e o que não só lhes outorgou um aspecto mais juvenil, mas tam-
bém uma maior capacidade de respostas flexíveis e inteligentes.
Deixando de lado os paralelismos biologicistas nos quais se apóia
esta teoria, é certo que o maior período de criação assim como o
desenvolvimento do indivíduo humano em sociedade (unido à capa-
cidade, que veremos depois, de simbolização) permitem o desenvol-
vimento da cultura humana tal como a conhecemos. Dissemos que a
cultura é aprendida, entretanto os animais ditos irracionais também
são capazes de aprendizagens, como demonstraram numerosos expe-
rimentos. Por que então não desenvolvem cultura? A resposta é muito
simples. Não só se necessita para acumular uma cultura da capacidade
de aprendizagem, mas também da capacidade de poder armazenar essa
aprendizagem e transmiti-la com grande rapidez e eficácia a outros
indivíduos. Os animais ditos irracionais aprendem por tentativa-erro
ou por imitação e, com estas modalidades, não podem acumular muitas
experiências nem as compartilhar maciçamente com os seus compa-
nheiros ou os seus descendentes. O homem, pelo contrário, conta com
a capacidade da simbolização (pode substituir os objetos da realidade
como significantes) que lhe permite evocar ações, situações e objetos,
embora não estejam presentes. Da mesma maneira, mediante o símbo-
lo se faz mais contínua e complexa a experiência humana e pode trans-
mitir-se a outros rapidamente. O símbolo permite, pois, acumular
saberes, experiências, normas etc, precisamente tudo aquilo que disse-
mos que forma os acervos culturais de um povo.
Manual de Antropologia Cultural | 35
Angel-B. Espina Barrio
36|Manual de Antropologia Cultural
Angel-B. Espina Barrio
Índia Botocudo.
Daguerreótipo de 1844, por
E. Thiesson. Acervo do
Museu do Homem, Paris.
Manual de Antropologia Cultural | 243
Angel-B. Espina Barrio

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  • 1.
  • 2.
  • 3. Prefácio à edição brasileira, 9 Prefácio à primeira edição, 11 Nota Editorial, 13 ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIAS, 19 I | TEMAS INTRODUTÓRIOS Cap. I. O OBJETO DE ESTUDO DAANTROPOLOGIA CULTURAL: ACULTURA HUMANA. Conceito de cultura. Cultura ideal e cultura real. Normas culturais. Aprendizagem e cultura, 27 Cap. II. O MÉTODO DA ETNOLOGIA. Interesse do estudo antropológico dos povos com culturas tradicionais. Relativismo cultural versus etnocentrismo. O trabalho de campo como método próprio da antropologia cultural. Observação participante e técnica, 37 II | TEMAS HISTÓRICOS Cap. III. A ETAPA PRÉ-EVOLUCIONISTA. A antropologia cultural no mundo antigo. O des- cobrimento da América e os primeiros indigenistas: Pané, Bartolomé de Las Casas, Motolinía, Acosta, Landa. Bernardino de Sahagún e a cultura asteca. J.F. Lafitau e os iroqueses. O protoevolucionismo de W. Robertson, 51 Cap. IV. O EVOLUCIONISMO DO SÉCULO XIX. A idéia evolucionista aplicada à cultura: L.H. Morgan, hipótese e etapas da evolução cultural. Crítica ao esquema de Morgan. Tylor e Frazer: animismo, magia e totemismo. Do status ao contrato: H.S. Maine. Bachofen e o matriarcado primitivo. O materialismo cultural de Marx e Engels. A ori- gem da família, a propriedade privada e o Estado, 73 Cap. V. O DIFUSIONISMO CULTURAL E O PARTICULARISMO HISTÓRICO DA ESCOLA DE F. BOAS. Difusionismo britânico e alemão. F. Boas e a análise de área. Kroeber e “o superorgânico”. O difusionismo moderado de R. Lowie. Crítica a Morgan e ao materia- lismo cultural, 87 Cap. VI. A ESCOLAANTROPO-PSICOLÓGICA DA CULTURA EA PERSONALIDADE. Psicanálise e antropologia. A contribuição de Freud à antropologia cultural: Totem e tabu e O mal- estar na civilização. Simbologia cultural (Jung, Roheim, Mendel). Psicanálise culturalista americana (Kardiner, Fromm). Novas contribuições (Linton, Whithing, Child, Levine), 97 Cap. VII. FUNCIONALISMO SOCIAL. B. MALINOWSKI. Precursores: A escola sociológica francesa (E. Durkheim e M. Mauss). O conceito de função e o método de Malinowski em OsArgonautas do Pacífico Ocidental. A sexualidade nas sociedades primitivas. Radcliffe- Brown e o estruturalismo, 115 Cap. VIII. O ESTRUTURALISMO EM ETNOLOGIA: CLAUDE LÉVI-STRAUSS. Influências rece- bidas por Lévi-Strauss. Da “regra do dom” (Mauss) ao princípio de reciprocidade de “As estruturas elementares do parentesco”. O pensamento selvagem e o mito. O tema do “homem” e do “sujeito” em Lévi-Strauss, 123 Cap. IX. ECOLOGISMO CULTURAL E NOVAS TENDÊNCIAS. O neoevolucionismo de L. A. White. As contribuições de M. Harris. Godelier e o estruturalismo marxista. Antropolo- gias simbólica e hermenêutica, 145 Sumário
  • 4. III | TEMAS SISTEMÁTICOS Cap X. ETNOLINGÜÍSTICA. LINGUAGEM E CULTURA. Existem linguagens primitivas? A diversidade lingüistica. A origem da linguagem. Estudo da mudança lingüística: sintático (glotocronologia) e semântico. Língua e cultura: discussão sobre a hipótese de Sapir- Whorf, 155 Cap XI. ETNOLINGÜÍSTICA. O MITO. As “regiões” do simbólico. Características do mito. Hermenêuticas psicoantropológicas do mito: psicanálise, funcionalismo, estruturalis- mo e cognitivismo. Exemplos de interpretações míticas, 165 Cap. XII. ETNOPSICOLOGIA. PERSONALIDADE E CULTURA. Problemática do capítulo. Prin- cipais concepções, 181 Cap. XIII. ETNOPSIQUIATRIA. DOENÇA MENTAL E CULTURA. Breve resenha histórica da etnopsiquiatria. O conceito metacultural de enfermidade psíquica. As doenças mentais nos povos primitivos. As terapias grupais e xamanísticas, 199 Cap. XIV. ETNOHISTÓRIA. MUDANÇA CULTURAL. Síntese das principais teorias sobre a mudança cultural. A evolução e o progresso social. A antropologia e as mudanças soci- ais em todo o mundo, 213 Cap. XV. ANTROPOLOGIA SOCIAL. INCESTO, UNIÃO E MATRIMÔNIO. Natureza, extensão e exceções do tabu do incesto. Uniões preferenciais: o matrimônio entre primos e os enlaces de substituição. O preço da progênie e outros modos de estabelecer parentes- cos, 221 Cap. XVI. ANTROPOLOGIA SOCIAL. SISTEMAS DE PARENTESCO.Tipos de famílias: conju- gal nuclear e conjugal estendida. Classificação do parentesco segundo: Morgan, Lowie, Lévi-Strauss e Murdock. Análise de dois casos de família unida: apache e tanala. A família troncolocál do Norte da Espanha, 231 Cap. XVII. ANTROPOLOGIA SOCIAL. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS. Fraternidades tribais. Classes de idade. Análise do caso massai. Tipos de organizações políticas em sociedades tradicionais, 245 Cap. XVIII. ANTROPOLOGIA SOCIAL. SISTEMAS RELIGIOSOS. O sagrado e o profano. O animismo: teoria de Tylor. Magia, ciência e religião. Ritos e cerimônias. Xamanismo. Diversos cultos e concepções religiosas da divindade, 251 Cap. XIX. ANTROPOLOGIA SOCIAL E ETNOGRAFIA. ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA E SATIS- FAÇÃO DE NECESSIDADES PRIMÁRIAS.Tecnologia e economia “primitivas”. Divisão do trabalho, comércio e consumo nestas sociedades. Satisfação de necessidades primári- as: alimentação, moradia e indumentária, 257 Cap. XX. ETNOGRAFIA. Arte e tradição cultural. A expressividade musical e a dança. Análise etnográfica do folclore: festas, gastronomia, literatura oral etc, 263 BIBLIOGRAFIA, 269 BIBLIOGRAFIA DE ANTROPOLOGIANO BRASIL, 359 ÍNDICE REMISSIVO, 371
  • 5. Manual de Antropologia Cultural | 9 Angel-B. Espina Barrio Prefácio à edição brasileira A advertência que fizemos no prefácio à primeira edição espanhola deste Manual de antropologia, em relação à vital importância de fo- mentar a convivência intercultural e inter-religiosa dos povos, talvez tenha parecido algo retórico, naquela ocasião. Hoje ninguém duvida de que é imperiosamente necessário atender àquele alerta – e com ur- gência –, se quisermos não somente conviver, mas até sobreviver, no futuro, ao menos de maneira estável e pacífica. Só promovendo a comunicação e a convivência inter-racial, intercul- tural e inter-religiosa, poderemos nos salvar da violência, das guerras e do terrorismo. Não há outro caminho. E para progredir nele a ciência antropológica termina por ser um auxiliar imprescindível, pois é co- nhecendo os povos, suas culturas, seus costumes e religiões, que pode- mos chegar a entendê-los e a respeitá-los. A ignorância só produz medo, desentendimentos e conflitos. O conhecimento mútuo gera intercâm- bios, cooperação e amizade. No Brasil e na Espanha, há muito, pensamos assim. Por isso, é tão urgente incrementar o contato e a cooperação, especialmente entre os estudiosos da antropologia de ambos os países. É o objetivo fundamen- tal da edição em português deste Manual de antropologia cultural. A antropologia sociocultural tem uma vertente aplicada muito evi- dente em aspectos sociais de importância para a época atual: no cam- po da comunicação, da atenção aos imigrantes e a sua integração cultural, no da cooperação para o desenvolvimento, no da educação multicultural etc. Coube-me a honra de dirigir vários congressos e publicações na Universidade de Salamanca sobre alguns destes temas, em que par- ticiparam destacados antropólogos de diversas universidades euro- péias e americanas, e também brasileiras. Mas a antropologia aplicada precisa, para realizar bem seu importante trabalho, de uma base sólida e de um conhecimento profundo da antropologia teóri- ca. Necessita de um detido estudo de suas divisões e conceitos bási- cos, de uma compreensão clara de sua metodologia específica e de sua história como disciplina, com seus antecedentes, escolas e auto- res principais e, por último, de sua relação com outras ciências huma- nísticas, assim como de um tratamento dos temas e variáveis culturais que lhe são mais próprios. Tais são os conteúdos deste texto, sem o conhecimento dos quais não se poderia depois enfrentar coerente- mente nenhuma das aplicações expressas.
  • 6. 10|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio A perspectiva comparativa e transcultural é essencial no conheci- mento etnológico e é a que se defende neste livro e também em todas as pesquisas, teses e obras ao nosso cuidado, especialmente do pro- grama interuniversitário de doutorado Antropología de Iberoamérica, que coordeno, e do Instituto de Investigaciones Antropológicas de Castilla y León, que impulsionamos há bastante tempo. A busca do contato entre os povos da Iberoamérica (onde incluímos o Brasil, Por- tugal, Espanha e os países hispano-americanos) através do conheci- mento de suas culturas, obtido com sérios trabalhos de pesquisa, é nosso norte, nosso empenho e nosso guia. Felizmente, esse trabalho começa a dar frutos, inclusive com projetos conjuntos de pesquisas reconhecidos pelos governos de diversos países e que se fortalece dia após dia com as redes estabelecidas formalmente e também através de dezenas de doutores e doutorandos, entre os quais se encontram de maneira destacada os procedentes de prestigiosas universidades do Brasil. A presente obra pretende ser uma contribuição aos estudos para professores e alunos brasileiros e ao leitor da língua portuguesa de modo geral. Angel-B. Espina Barrio
  • 7. Manual de Antropologia Cultural | 11 Angel-B. Espina Barrio Prefácio à primeira edição A posição de destaque que alguns filósofos do século XIX vatici- naram para a antropologia como disciplina-chave das chamadas ci- ências humanas foi cumprida em nosso tempo. Poucos estudos e pesquisas humanísticas desdenham os conteúdos ou as metodologias consideradas antropológicas. Num mundo que às vezes fica pequeno devido ao desenvolvimento dos meios de comunicacão e transporte, o conhecimento antropológico se mostra indispensável na importan- te tarefa de facilitar a convivência entre as diferentes culturas. Assim como a ecologia revelou a importância do conhecimento e respeito às leis dos sistemas do meio natural, a antropologia nos desvela conhe- cimento e respeito aos sistemas culturais humanos. Não é possível a sobrevivência sem adequação e preservação do “meio”; não é possível a convivência sem o respeito pelos “outros”: os outros povos, as outras mentalidades, as outras culturas. Na atualidade, já se reconhece que a humanidade não caminha para uma uniformização radical de suas maneiras de viver, ideais ou costumes, e que é melhor defender e respeitar as diferentes identida- des dos povos, já que, do contrário, se podem gerar movimentos e reações muito destrutivas. O estudo antropológico não corre nenhum risco de desaparecimento diante da extinção das microestruturas tribais que eram o seu tradicional objeto de estudo. Em primeiro lugar, por- que a antropologia não é só uma sociologia das sociedades exóticas, também porque, como dissemos, é cada vez mais importante a dilucidação do tema da identidade cultural, tanto própria como alheia. Na Espanha, o trabalho antropológico vive seus melhores momen- tos, depois de ter sido praticado por poucos, ainda que notáveis auto- res – de formação geralmente histórica, sociológica ou filosófica – que dedicaram o seu tempo à pesquisa no campo da religiosidade popular, dos costumes, do folclore etc, no momento presente conta com uma importante presença nos centros de cultura popular e nas universidades com formação específica e com um núcleo de pesquisa- dores que integram um setor de conhecimento que cada vez mais vai- se definindo com maior clareza. A inclusão da disciplina antropológica nos estudos de sociologia, história, filosofia, ciências da informação, ciências da educação e ciências humanas em geral evidencia o seu interesse e sublinha o caráter intensamente interdisciplinar e integrador do saber antropológico. Na preparação deste Manual de antropolo- gia cultural, especialmente em sua parte sistemática, levou-se muito
  • 8. 12|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio em conta a grande relação da disciplina tratada com outros saberes humanísticos, pois, embora não devendo diluir-se neles, a etnologia tem que mostrar claramente a recíproca complementareidade que deve existir entre os mesmos. O tratado de antropologia que apresentamos quer servir a um du- plo propósito: ajudar todos aqueles que se aproximam pela primeira vez do estudo da antropologia cultural, apresentando um compêndio de seus temas principais, e, por outro lado, desenvolver alguns desses temas de uma maneira nova e útil, inclusive para especialistas na ma- téria. Depois de um capítulo inicial de demarcação terminológica, se desenvolve a específica história da etnologia, em que se destacam os capítulos dedicados à etapa pré-evolucionista (com um amplo desen- volvimento do primeiro indigenismo espanhol do século XVI, esque- cido em muitos tratados), à escola de cultura e personalidade e ao estruturalismo etnológico de Claude Lévi-Strauss. Na parte sistemá- tica, dissemos que se busca a concorrência e a mútua influência entre os temas antropológicos e os da lingüística (língua e cultura, mito), psicologia (cultura e personalidade), psiquiatria (cultura e doença mental), história (mudança cultural) etc. Por último, se oferece um breve estudo dos principais temas da antropologia social: família, parentesco, instituições, modos de subsistência etc. Não resta dúvida de que o propósito é muito ambicioso e nos contentaríamos com que o texto, orientado destacadamente à docência, terminasse por ser, mesmo que minimamente, um fator positivo na direção apontada. Angel-B. Espina Barrio
  • 9. Manual de Antropologia Cultural | 13 Angel-B. Espina Barrio Nota Editorial Este manual cumpre dupla função: a de ser um guia para o iniciante e um útil instrumento ao professor e ao especialista no ensino e apren- dizado da antropologia, em sua dimensão básica e panorâmica. O autor não é somente um dos mais dinâmicos animadores da antropologia na Espanha na atualidade, mas um entusiasta das rela- ções de cooperação que vêm rendendo bons frutos para a Espanha e o Brasil. Ele vem promovendo esses contatos, na verdade, com toda a Amé- rica Latina. Em disciplinas que ensina, congressos que promove, cur- sos de pós-graduações que dirige. É sempre a antropologia vista com olhar amplo o que viceja no seu trabalho. A sólida formação do autor nas áreas de filosofia e psicologia faci- lita e estimula o diálogo interdisciplinar que empreende. Isso está bem flagrante em muitas passagens deste livro. Autor de um importante livro comparativo entre Freud e Lévi- Strauss, o professor Angel Espina Barrio alcançou também com este manual um merecido destaque e repercussão no meio hispânico. O seu Manual de antropologia cultural, que já teve várias edições na língua original, é muito usado nos cursos de graduação e pós- graduação europeus. Certamente o mesmo ocorrerá no Brasil. Na tradição desenvolvida por Gilberto Freyre (e de certo modo antevista por Oliveira Lima e Joaquim Nabuco) o contato entre o Brasil e seus pares latinos ainda é um fértil e largo campo, mas que precisa ser muito mais desenvolvido. Como órgão promotor da pesquisa no Nordeste, é natural que a Fundação Joaquim Nabuco por meio de sua editora se ocupe de di- fundir bons trabalhos acadêmicos e supra-acadêmicos como este, o que certamente agradaria a Freyre e Nabuco. Somente algumas poucas alterações foram feitas nesta edição com relação à original: a bibliografia foi reunida toda em notas e ao final. O único capítulo suprimido foi um sobre linguagem e contracultura, pois sendo os seus exemplos de gíria muito particulares do espanhol e não havendo uma correspondência possível e verossímil em portu- guês, teria que sofrer adaptação ao contexto brasileiro. Na parte relativa a um amplo quadro de línguas e, particularmen- te, nas comparações da evolução de palavras, além do espanhol, la- tim e outras línguas, acrescentou-se o português. Usou-se o dicionário Houaiss, para as informações etimológicas e históricas.
  • 10. 14|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio No caso das grafias de nomes espanhóis, geralmente preferiu-se manter a forma original (o caso de Bartolomé de Las Casas, por exem- plo). E seguiu-se também o mesmo critério para expressões como encomienda e encomenderos. Acrescentou-se uma bibliografia de livros de antropologia dispo- níveis em português e, de modo a valorizar e facilitar a navegação pelo texto, foi também incluído um índice remissivo. Num país como o Brasil – dos mais ricos do mundo no campo da antropologia – ainda são poucos, no entanto, os manuais destinados também aos não-especialistas. A Editora espera contribuir para dimi- nuir esta lacuna e estimular novas traduções e publicações. Preferiu-se quase sempre citar os títulos dos livros referidos no original em espanhol, no corpo bibliográfico. Mas no decorrer do texto do livro a melhor opção foi traduzir para o português. De modo geral, os clássicos citados já têm edições brasileiras. No caso de uma obra como O mal-estar na cultura, que seria a maneira literal de verter o espanhol, preferiu-se o já bem conhecido O mal-estar na civilização, sem entrar na óbvia explicação das seme- lhanças e distinções de conceitos como civilização e cultura. As notas, ao invés de enumeradas apenas em duas seqüências, como no original, são apresentadas recomeçando de 1 a cada parte nova englobadora de todo um conjunto amplo de informações. As ilustrações utilizadas são mais alusivas que mecanicamente re- ferentes ao texto. Buscam tornar leve o percurso por este livro que, contanto ser escrito em linguagem clara, é mesmo assim técnico e exige leitura atenta e concentrada. Agradecemos ao autor e ao seu editor espanhol (Amarú Ediciones) a autorização para a tradução. Tentou-se apresentar o texto mais correto possível em português. Todas as falhas e imprecisões são de única responsabilidade do tradutor-editor.
  • 11. Manual de Antropologia Cultural | 15 Angel-B. Espina Barrio
  • 12. 16|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Índio Karajá. Foto anônima, tirada aproximadamente em 1900. Acervo do Laboratório de Antropologia da Universidade de São Paulo.
  • 13. Manual de Antropologia Cultural | 17 Angel-B. Espina Barrio
  • 14. 18|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Sully. Retrato de Um Homem. Foto tirada aproximadamente em 1870.
  • 15. Manual de Antropologia Cultural | 19 Angel-B. Espina Barrio ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIAS Afirmar que a antropologia é a ciência do homem não quer dizer muito, pois qualquer disciplina entre as chamadas ciências humanas (psicologia, sociologia etc) trata do homem e é também, portanto, uma ciência do homem. Sendo a antropologia, ao pé da letra, (anthro- pos – homem; logos – ciência) ciência do homem, o que quer dizer isto de modo especial? Em primeiro lugar, significa que é o único saber que acima de tu- do, com toda a sua grande diversidade temática, tem uma preocupa- ção constante em definir o homem. A resposta à pergunta kantiana – o que é o homem? – pode-se colocar de diversos pontos de vista. Pode-se responder desde a perspectiva empírica, formulando conclu- sões gerais sobre o homem e sua natureza, mediante o conhecimento para o qual contribuem as observações sistemáticas, à recompilação dos dados recolhidos por todo o mundo e o estudo comparado das variantes físicas e culturais que se observam en- tre os diferentes grupos humanos. Mas também podemos responder de uma perspectiva huma- nística e filosófica que trate do homem, de seus costumes e seus diferentes modos de vida, de suas dimensões fundamentais, de seu destino etc. To- das estas posições são próprias da antropologia porque, conforme nos diz Hoebel1 , cumprem as três características essenciais que distinguem este tipo de conhecimento: 1ª – Tratam do homem e suas manifesta- ções como um todo (visão holística). 2ª – Empregam o método comparativo. 3ª – Levam em conta o conceito de cultu- ra como âmbito próprio do humano. Esta última característica é também válida para a antropologia filosófica, pois o conceito de cul- tura traz intrínseco um conceito de homem.2 1 HOEBEL. A. E. Antropología: el estudio del hombre. Omega (Barcelona, 1973)4-6. 2 Algo similar expressa J. Azcona quando diz que: “o conceito de cultura encerra a problemática teórica da antropologia, mas, por sua vez, o que os antropólogos pensaram e pensam sobre o homem. O valor ideológico do conceito de cultura é com freqüência mais importante que seu valor analítico e heurístico.” AZCONA, J., Para comprender la antropología. 2.La cultura. Verbo Divino (Navarra. 1988)7.
  • 16. 20|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Sem dúvida, a tarefa que se atribui à antropologia é muito vasta, o que facilita a proliferação de subdivisões e paradigmas distintos agru- pados sob esta denominação comum. Denominou-se a antropologia como cultural, física, econômica, social, aplicada, médica, psicológica, lingüística, filosófica, cognitiva, ecológica, hermenêutica, funcional, sim- bólica, estrutural etc. Cada uma destas denominações encerra uma particular forma de entender a antropologia e uma série de atividades, às vezes muito divergentes: observação, medição de ossos e fósseis, reflexão, medição de variáveis corporais, entrevistas, escavações... Definir a antropologia como aquilo que fazem os antropólogos é, como vemos, muito difícil, ao menos a princípio. Vamos tentar pôr um pouco de ordem em todas estas possíveis especializações antropológicas. Divisões da Antropologia São muitas, mas quase todas se concebem de uma bipartição ema- nada presumivelmente do mesmo ser humano em sua dupla dimen- são de ser natural (corpóreo e biológico) e ser de cultura (civilizado, simbólico). Traduzem-se aqui clássicas dicotomias (natureza-cultura, biologia-sociedade etc). Uma antropologia se ocupará do pólo natu- ral (antropologia física) e outra do sociocultural-simbólico (antropo- logia cultural ou etnologia). Naturalmente que a estas duas divisões empíricas do saber sobre o homem deve-se somar a especulativa, pró- pria da antropologia filosófica. Portanto, podemos definir a antropologia física (ou biológica) como o estudo do homem enquanto organismo vivo, atendendo, além dis- so, a sua evolução biológica dentro das espécies animais. Quer dizer que o antropólogo físico tem que se ocupar da origem e evolução do homem (processo de hominização) e das diferenças físicas que se dão entre os seres humanos, da variação genética e das adaptações fisio- lógicas do homem frente aos diversos ambientes. Para isso, conta com uma série de estudos e de áreas de especialização: primatologia (estu- do dos primatas, grupo animal próximo ao homem), paleoantropologia (estudo da evolução humana através dos fósseis), antropomorfologia (anatomia comparada de diversos tipos e raças humanas), genética antropológica, ecologia humana etc. A atividade concreta destes ci- entistas costuma consistir em trabalhos próximos da arqueologia, recolhimento de fósseis, antropometria (medição de partes corporais humanas, especialmente, o crânio – craneometria) e, ultimamente, análises mais sofisticadas relativas às características serológicas, gené- ticas ou fisiológicas e sua relação com o ambiente.
  • 17. Manual de Antropologia Cultural | 21 Angel-B. Espina Barrio Por outro lado, definiremos a antropologia cultural como o estu- do e descrição dos comportamentos aprendidos que caracterizam os diferentes grupos humanos. O antropólogo cultural (ou sociocultural, como é costume denominar-se hoje em dia) tem que se ocupar das obras materiais e sociais que o homem criou através de sua história e que lhe permitiram fazer frente a seu meio ambiente e relacionar-se com seus congêneres. Também na antropologia cultural há várias sub- divisões: a arqueologia, quando estuda os vestígios materiais de cul- turas que não contaram com testemunhos escritos. A lingüística antropológica (ou etnolingüística), que se ocupa de todas as línguas passadas e presentes, com seus dois enfoques principais: estrutural e genético. A linguagem é uma parte da cultura e pode esclarecer mui- tos aspectos da história da cultura e da mudança cultural.3 O resto da antropologia cultural, precisamente sua parte mais subs- tancial e genuína, está compreendido sob o rótulo de etnologia geral (estudo dos povos) e, segundo o enfoque que siga, será denominada de etnografia (se descrever as formas de vida de determinados grupos so- ciais); etnologia (se enfatiza a comparação de culturas, a reconstrução da história das culturas ou o tema da mudança cultural) ou antropolo- gia social (que também compara as culturas, mas de modo a estabele- cer generalizações acerca da ligação sociedades humanas-grupos sociais). A etnografia (escrever sobre os povos) é a disciplina mais próxima dos dados empíricos e a primeira que praticaram os antropólogos culturais. Prepondera nela o enfoque descritivo e utiliza como técnica de coleta de dados o trabalho de campo, principalmente, e as contribuições arqueo- lógicas. É a base de toda a antropologia cul- tural, pois proporciona os elementos sobre os quais vão trabalhar os demais teóricos. A etnologia vai além da descrição e pre- tende comparar, analisar as constantes e variáveis que se dão entre as sociedades hu- manas, e estabelecer generalizações e recons- truções da história cultural. Por sua vez, a antropologia social se refe- re a problemas relativos à estrutura social: relações entre pessoas e grupos, instituições sociais, como a família, o parentesco, as as- sociações políticas etc. Aqui a perspectiva é mais sincrônica que diacrônica. 3 Naturalmente, tanto a arqueologia como a lingüística são duas ciências que podem desenvolver seu trabalho teórico sem relação com a antropologia. Aqui ressaltamos a aplicação delas ao estudo do fato cultural, momento em que integram a antropologia cultural. Assim o confirmam obras como: ALCINA-FRANCH, J. Arqueología antropológica, Akal (Madri, 1990), e CASADO VELARDE, M. Lenguaje y cultura. Síntesis (Madri, 1988).
  • 18. 22|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Segundo essa perspectiva, o campo antropológico se desdobra nas seguintes divisões que, salvo diferenças terminológicas de que fala- remos em seguida, já podem ser consideradas clássicas: Mas as disciplinas assinaladas não são as únicas que na atualidade desenvolvem campos interdisciplinares como o da etno-história (re- construção do passado cultural através de documentos escritos) ou o da antropologia psiquiátrica (cujo tema central é o das relações entre a cultura e a doença mental), matérias novas que estão assinalando o caminho deste conhecimento holístico que é o antropológico. Não há perigo de dissolução da disciplina nos demais saberes humanísticos (psi- cologia, psiquiatria, medicina, sociologia, história, psicanálise, semiótica etc), mas pode resultar numa confluência fecunda de interesses e uma comparação de resultados muito necessária. Por isso, na estruturação do programa da disciplina de antropologia cultural preferi, sem esque- cer os conteúdos e metodologia exclusivos do etnológico, ressaltar essa união indissolúvel que se dá entre as ciências humanas, já que sua meta é a mesma: compreender e explicar o homem.4 Desse modo, o quadro do conhecimen- to antropológico que já nos introduz na radicação deste saber nas ciências huma- nas e que será, conforme foi dito, seguido no programa, é o seguinte: ANTROPOLOGIA Antropologia empírica Antropologia filosófica Antropologia física Antropologia cultural Arqueologia Etnologia geral Lingüística Etnografia Etnologia Antropologia social 4 Umas põem a ênfase no explicar, outras no compreender, até chegar à antropologia filosófica que, será a mais geral e compreensiva de todas.
  • 19. Manual de Antropologia Cultural | 23 Angel-B. Espina Barrio Relação da antropologia com outras ciências A antropologia, desde que se constituiu como saber organizado, desempenhou tradicionalmente um papel unificador em muitas áreas da pesquisa científica, assim como em humanidades, e o pôde fazer porque é um conhecimento integral e integrador. As classificações estritas de objetos de estudo foram muito frutífe- ras no desenvolvimento das ciências, mas, hoje em dia, cada vez há maior interesse por aquelas áreas nebulosas que se encontram nos limi- tes das taxonomias clássicas (como o demonstra o desenvolvimento de ciências intermediárias: físico-química, bioquímica, astrofísica etc). Do mesmo modo, o enfoque integral para estudar o homem exige que cada vez que se estude uma parte – sejamos conscientes: só é uma parte – ela seja posta em conexão com o resto. O conhecimento antropológico envolve o uso de técnicas e teorias de muitas disciplinas e, por sua vez, as técnicas e conceitos da antropologia possuem ramificações e consequências que se prolongam muito além dela. Na situação anteri- or, podemos ver algumas destas conexões que dão lugar a estudos interdisciplinares, concretamente: A etnolingüística, cujo tema central se apresenta como a dicotomia linguagem-cultura. A etnopsicologia e seu estudo das relações entre cultura versus per- sonalidade (nome adotado por toda uma escola antropológica). ANTROPOLOGIA Antropologia empírica Antropologia filosófica Antropologia física Antropologia cultural ou Etnologia geral Etnolingüística Etnopsicologia Etnopsiquiatria Etnohistória Antropologia social Etnoeconomia Etnografia
  • 20. 24|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio A etnopsiquiatria: cultura-doença mental. A etno-história: a mudança cultural, as aculturações sucessivas etc.5 Mas a antropologia agrega a estes saberes sua especificidade holís- tica, seu interesse pela cultura e seu exclusivo método comparativo, além das técnicas e metodologias de campo que examinaremos no pró- ximo capítulo. A antropologia se distingue da história, uma vez que não se limita ao documento, em seu método, nem ao devir em seu objetivo. Difere da psicologia, já que não lhe interessam as individuali- dades nem usa de experimentos nem testes, em sua pesquisa (pelo me- nos, de forma sistemática). Não coincide plenamente com a sociologia, pois seu ponto de vista é mais geral, sua metodologia não é o questio- nário direto, e seu objetivo são as normas e os códigos de conduta e simbólicos que chamamos de cultura. Não é uma sociologia de socie- dades “atrasadas” ou “estranhas”, pois também pode e deve praticar- se nas ocidentais. Simplesmente é conhecimento humano que trata do homem, de suas manifestações como espécie, de sua humanidade, com uma perspectiva global, aberta, integradora.6 5 Todas estas disciplinas são capítulos do programa do estudo da antropologia em sua parte sistemática. 6 Devido a certa complicação de nomenclaturas sobre os saberes antropológicos, reproduzo o já conhecido quadro de J.Alcina-Franch para recordar diversos usos terminológicos diferentes dos aqui utilizados. Por exemplo, na Grã-Bretanha, onde a antropologia cultural costuma ser denominada de antropologia social, ou na França e muitas partes da Europa, onde a antropologia física se denomina simplesmente antropologia e a antropologia cultural, etnologia. Veja-se: ALCINA- FRANCH, J., En torno a la antropología cultural, José Porrúa Turanzas (Madri, 1975). Antropologia física Antropologia cultural Antropologia física Antropologia social Antropologia Etnologia América Grã-Bretanha Europa cont.
  • 21. Manual de Antropologia Cultural | 25 Angel-B. Espina Barrio
  • 22. 26|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Marajás da Índia.
  • 23. Manual de Antropologia Cultural | 27 Angel-B. Espina Barrio I | TEMAS INTRODUTÓRIOS Cap. I. O OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA CULTURAL: A CUL- TURA HUMANA. Conceito de cultura. Cultura ideal e cultura real. Normas culturais. Aprendizagem e cultura. O sentido do termo cultura que empregamos difere amplamente do que o senso comum está acostumado a atribuir a tal vocábulo e é também diferente de outros muitos que historicamente foram associa- dos a esse termo. É o sentido antropológico o que nos interessa e o que nos levará a afirmar que a cultura é o objeto de estudo privilegiado de nossa disciplina. Proveniente do latim clássico, com significados associados ao cul- tivo e à criação, o vocábulo cultura seria aplicado só recentemente (cerca de 1750) ao âmbito das sociedades humanas, suplantando, em parte, o termo civilização. Mas observemos atentamente como se deu esta evolução tão crucial para o que se constituiria depois como an- tropologia cultural. Conceito de cultura Tanto o conceito de cultura como o de civilização estiveram asso- ciados no Iluminismo à melhora progressiva das faculdades humanas em todos os níveis (tal é o sentido outorgado por Herder, Jenisch etc). Pouco a pouco se vão referindo os autores com estes vocábulos, so- bretudo na Alemanha, à organização dos povos e ao conjunto dos costumes. Desse modo, se oferecem algumas ten- tativas de distinção às vezes contraditórias. As- sim, Humboldt une a cultura às atividades tecnoeconômicas (esfera do material) e a civiliza- ção ao espiritual e mais elevado; Spengler, por sua vez, diz que a civilização é a fase final, não criati- va, de uma cultura, e Weber, mais contraditório ainda que o anterior, identifica “civilização” com o material e “cultura” com o espiritual. A civili- zação é irreversível, cumulativa, técnica, enquan- to que os produtos da cultura são variados, únicos, não imanentes.1 O que fica claro é que cada vez se oferece uma definição de cultura mais 1 Decerto que esta mesma distinção é a que realiza Unamuno em seu famoso artigo: “Civilización y cultura”: “...deve-se libertar a cultura da civilização que a sufoca, e romper o quisto que escraviza o novo homem.” UNAMUNO, M., Obras Completas, Afrodisio Aguado (Madri, 1950)271.
  • 24. 28|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio próxima da referência dos atributos e produtos, próprios das sociedades humanas, que não têm nada a ver com o herdado biologicamente, quer dizer, vai-se dando um sentido mais científico e antropológico ao ter- mo “cultura”. Possivelmente, um dos primeiros autores que ofereceram uma a- cepção inequivocamente etnológica para o verbete “cultura” foi Tylor que, identificando-a com civilização, nos diz da cultura: É aquele todo complexo que inclui conhecimento, cren- ças, arte, lei, moral, costumes e qualquer outra capaci- dade e hábito adquirido pelo homem como membro da sociedade.2 Durante muito tempo, o termo cultura e a definição de Tylor não tiveram o papel destacado a que estariam destinados, já que a esco- la triunfante na Europa seria a durkheiminiana, que baseia a sua teoria na categoria de “sociedade”.3 Isto explica a preferência que tanto na França como na Inglaterra se dá pela denominação antro- pologia social. Na América do Norte, pelo contrário, seus estudio- sos, que estão mais preocupados com os “valores” dos povos do que com as vinculações concretas constitucionais desses povos, utiliza- ram mais o termo “antropologia cultural” para designar seus traba- lhos e “cultura” para referir-se aos modos de viver e conceber a existência por parte de um determinado grupo. Tal é o caso de auto- res como Boas, Sapir, Benedict, Mead etc. Neste contexto se ofere- ceram muito numerosas definições de “cultura” que situam o conceito definitivamente no âm- bito do não-biológico, não-individual, mas não no simbólico. Distinguindo-se freqüentemente do termo civilização (que serve para designar os aspectos materiais) e do termo sociedade (base orgânica e humana), o conceito de cultu- ra prevaleceu na antropologia. Por tratar algu- ma definição concreta de entre as muitas que se acumulam de tal termo, podemos terminar este segmento do nosso manual analisando uma que pode considerar-se muito generalizada en- tre os antropólogos, segundo a qual a cultura é: um sistema integrado de padrões de con- duta aprendidos e transmitidos de uma ge- 2 Veja-se: TYLOR, E.B., Cultura Primitiva I, Ayuso (Madri, 1981)19. 3 Embora seja certo que esta categoria é muito próxima em seu uso pela escola de Durkheim, do que entendemos hoje por cultura. Desta maneira, a sociologia por eles praticada poderia ser uma culturologia ao estilo da propugnada recentemente por Herskovits, White etc.
  • 25. Manual de Antropologia Cultural | 29 Angel-B. Espina Barrio ração a outra, característicos de um grupo humano ou sociedade.4 Portanto, nos estamos referindo a uma realidade organizada, siste- mática, mas abstrata. 5 Abstraem-se “padrões de conduta” ou “mode- los de vida” dos atos dos indivíduos e de quantos materiais manipulam. Pretende-se que estes padrões ou modelos estejam integrados (logo ve- remos se isto é possível) e que se transmitam su- pra-individualmente, de uma geração a outra, por herança não biológica, mas simbólica. Estes mo- dos de vida, além disso, diferem de um grupo hu- mano a outro e adquirem um valor emblemático e afetivo (além de funcional e adaptativo) para os indivíduos que integram essa sociedade e seguem (supõe-se majoritariamente) esse estilo cultural. Todos esses extremos serão tratados e anali- sados a seguir. Agora, é bastante que fiquemos com esta idéia geral do problemático campo de estudo da antropologia chamada sociocultural. Cultura ideal e cultura real Muitos antropólogos se interessam funda- mentalmente pelas idéias que uma sociedade, em seu conjunto, difunde sobre o que um indi- víduo deve fazer, sobre como tem que viver, pensar e comportar-se. Quer dizer, preocupam- se com chegar a conhecer a cultura ideal (as normas ideais) de um povo. Outros estudiosos consideram mais interessante, pelo contrário, anotar e ver qual é o verdadeiro comportamen- to dos indivíduos dessa sociedade, a cultura real, as normas reais de comportamento.6 Sa- bemos que muitas vezes há grande distância entre o que os indivíduos dizem que fazem, ou deveriam fazer, e o que verdadeiramente exe- cutam. As normas ideais têm muitas formas de cumprir-se e, inclusive, de descumprir-se (exemplos disso são a variabilidade de cum- primento das normas de trânsito, das de sau- dação – ou das consideradas normais – no comportamento sexual etc). 4 Esta definição é uma combinação das apresentadas por Kluckhohn e Hoebel em seus tratados de antropologia. Veja-se: KLUCKHOHN, C. Antropología, FCE (México. 1971)33-48. E HOEBEL, La antropología: el estudio del hombre. Omega (Barcelona. 1973)5. 5 Ao menos assim a consideram muitos antropólogos não “materialistas” (Kroeber, Herskovits, Beals etc) e os que mencionamos (Kluckhohn e Hoebel). 6 Estes antropólogos costumam seguir o enfoque funcionalista, perspectiva em que se destacou B. Malinowski com uma preocupação marcadamente empirista. A cultura ideal interessa mais aos estruturalistas, dado que sua visão é mais racionalista. Ambos os enfoques, como diremos a seguir, são imprescindíveis e complementares.
  • 26. 30|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Contudo, a cultura ideal tem extraordinário influxo na vida do ho- mem, pois é um guia que, sendo seguido ou não, está permanentemen- te presente para os indivíduos de uma cultura. Em todas as sociedades, as pessoas costumam envergonhar-se ao serem advertidas que a sua conduta se afasta da considerada ideal e, embora existam mecanismos culturais que facilitam certos tipos de desvio, as normas ideais exercem muita pressão sobre a conduta, inclusive quando não estão expressas formalmente, legalizadas, ou permaneçam no âmbito do tácito, pra não dizer do inconsciente. A maioria destas normas ideais tem como fim a preservação e coesão do grupo e, às vezes, a permanência da estrutura social e do sistema de classes e hierarquias estabelecido. Em algumas ocasiões, a evolução das normas ideais provoca a mudança nos comportamentos culturais e outras vezes são as próprias condutas reais as que moldam a norma ideal. Como exemplo do primeiro caso temos o ideal existente entre as classes médias da Índia, muito contrá- rio à divisão da sociedade em castas. Este ideal, que gera o processo chamado de sanscritização, ou de mudança de comportamentos de modo a adotar os estilos de vida de castas consideradas superiores, se choca frontalmente com a realidade hindu, especialmente fora das gran- des cidades. Entretanto, esse ideal está conseguindo transformar a rea- lidade social daquele país. Como exemplo do contrário, isto é, da conduta prévia moldando o posterior ideal, temos o caso de nossa alta consideração atual das famílias nucleares e limitadas, sendo este fato fruto de uma limitação prévia no número de filhos por parte dos pais que pretendem subir na escala social. Este ideal não se segue em socie- dades eminentemente agrícolas, mas se cumpre nas nossas, onde o ní- vel de vida não depende da quantidade de mão-de-obra familiar. De qualquer forma, as normas ideais muitas vezes não são perfeitamente claras e permitem uma margem ampla de condutas legítimas. Existem muitas maneiras de ser um “bom cidadão”, “um bom pai”, pelo me- nos é assim em sociedades não-dominantes e flexíveis. O indivíduo pode manipular as normas culturais em seu favor mantendo as aparên- cias. Em resumo, a relação entre o ideal e o real nas culturas é mais intrincado do que parece e o antropólogo tem que estar atento para observar ambas as realidades. O caderno do pesquisador tem que se preencher com as expressões ideais e simbólicas de seus anfitriões e com as observações concretas de suas condutas e de seus materiais.
  • 27. Manual de Antropologia Cultural | 31 Angel-B. Espina Barrio Normas culturais Convém, sem mais delongas, definir claramente o que entende- mos por norma cultural, que tipos de normas podem existir (além das ideais e das reais) e que relação há entre elas. Define-se norma como o modo de comportamento que compõe a cultura de qualquer sociedade e que resulta da generalização da con- duta da maioria dos membros dessa sociedade. Podem-se distinguir entre as normas culturais algumas que devem cumprir todos os indi- víduos, outras que só parte da população está obrigada a cumprir e outras que são mais ou menos aconselháveis segundo as circunstânci- as. Temos, assim, normas: Universais: Formas de conduta que se esperam de todos os membros de uma sociedade (ex.: cumprimento de horário, hábitos morais, lin- guagem etc). Especiais: Comportamentos próprios de um subgrupo ou classe soci- al determinada, diferentes dos do resto do conjunto social (ex.: mo- delos de relação entre jovens, determinados tabus dos feiticeiros etc). Estas regras poderiam chegar a conformar uma subcultura, termo que não carrega nenhum sentido pejorativo, ape- nas designa uma cultura específica dentro de ou- tra mais ampla. Alternativas: Formas de comportamentos diferen- tes que a cultura considera igualmente válidas.7 Alguns autores utilizam o termo “tema” para referir-se a um conceito identificável com o de “norma”, quando querem estudar os valores do- minantes que expressam o pensamento e senti- mentos essenciais ou principais de uma cultura concreta. Discutiu-se muito se estas normas ou temas das culturas são unitários, coerentes entre si, ou, inclusive, contraditórios. Revendo-se por alto toda a gama de possibilidades, temos em pri- meiro lugar o configuracionismo de R. Benedict, teoria que nos fala de poucas normas culturais, coordenadas entre si (ao menos nas culturas cha- madas integradas), e tendentes a um ideal soma- tivo que percorreria a maioria das facetas da vida de um povo. Assim, ao estudar os kwakiutl, Benedict observou um modelo cultural geral (ide- 7 Kluckhohn nos oferece uma classificação mais completa ao nos falar de normas: obrigatórias (quando só existe uma resposta aceitável para uma cultura), preferidas (quando existem várias respostas possíveis, mas uma se considera melhor), típicas (quando a cultura não hierarquiza as respostas, mas uma se dá com maior freqüência), alternativas (várias respostas igualmente possíveis) e restringidas (formas de comportamento próprias das subculturas).
  • 28. 32|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio al) de tipo dionisíaco, quer dizer, uma tendência a alcançar estados emocionais fortes como a embriaguez, o transbordamento, o frenesi etc. Podiam ser observados em suas festas, ritos e também nos famosos potlatch, cerimônias em que se dava uma maciça destruição de bens e um consumo esbanjador de mantimentos e utensílios, quase megalo- maníaco. Pelo contrário, Benedict também se refere a culturas que se- guem o ideal oposto, que atribuem ao apolíneo, à moderação, à mesura, à ordem e à consciência ordinária as máximas confiança e estima.8 Alguns discípulos de R. Benedict, entre os quais se destacou Morris Opler, observaram como os ideais se diversificavam muito e que era mais prático falar de temas não somativos. Entendendo os citados temas como postulados, declarados ou implícitos, que controlam usu- almente o comportamento ou estimulam a ativi- dade e que são promovidos por uma sociedade, não se chega a afirmar que penetrem em todos os âmbitos da vida do grupo humano. Não há adição de temas a não ser equilíbrio entre os mesmos, equilíbrio que pode ser instável. Não obstante estas correções, muitos antropólogos (M. Harris, entre eles) consideram que é possí- vel identificar quase sempre valores e atitudes contraditórios dentro de uma mesma cultura. Há normas que coexistem com outras quase opostas sempre que não se apliquem ao mes- mo tempo ou sob as mesmas circunstâncias.9 Aprendizagem e cultura Se a espécie homo sapiens realiza todas as suas atividades, incluídas as relacionadas com a satisfação de suas necessidades biológicas, com uma enorme variabilidade e flexibilidade, desconhecida nas demais espécies animais, isto é devido a que a influência do automatismo ins- tintivo tem menor importância no homem que a que possui em seus parentes do reino anima- do. Esta menor influência é devida a um desen- volvimento neuronal mais prolongado, a um período de criação maior e a uma elevada per- centagem de condutas aprendidas. Todos estes aspectos estão imbricados entre si e é difícil res- 8 Como se pode observar, a infuência de Nietzsche é patente na definição desses dois ideais (apolíneo e dionisíaco), com os quais Benedict pensava estarem configuradas as normas das culturas integradas. Veja-se: BENEDICT, R. El hombre y la cultura, Edhasa (Barcelona. 1971) 97. 9 M. Harris cita o exemplo extraído dos Estados Unidos segundo o qual nenhum norte- americano quer “ser menos que seus vizinhos” e às vezes chega, por isso, a consumos desnecessários, quando também é geral nessa mesma cultura a consideração de que um sobre-consumo inútil é daninho e estúpido. Veja-se: HARRIS. M., Introducción a la antropología general. Alianza (Madri. 1986)499.
  • 29. Manual de Antropologia Cultural | 33 Angel-B. Espina Barrio saltar um que seja o desencadeador de um processo que se chama de hominização. No começo do século passado, os partidários da neotenia defendiam um desenvolvimento filogênico para o homem apoiado no processo da fetalização ou infantilização do cérebro do indivíduo. Segundo esta teoria, determinados primatas foram adiando o seu de- senvolvimento neuronal (retardando a mielinização axônica), o que lhes permitiu aumentar o volume de aprendizagens e conexões cere- brais e o que não só lhes outorgou um aspecto mais juvenil, mas tam- bém uma maior capacidade de respostas flexíveis e inteligentes. Deixando de lado os paralelismos biologicistas nos quais se apóia esta teoria, é certo que o maior período de criação assim como o desenvolvimento do indivíduo humano em sociedade (unido à capa- cidade, que veremos depois, de simbolização) permitem o desenvol- vimento da cultura humana tal como a conhecemos. Dissemos que a cultura é aprendida, entretanto os animais ditos irracionais também são capazes de aprendizagens, como demonstraram numerosos expe- rimentos. Por que então não desenvolvem cultura? A resposta é muito simples. Não só se necessita para acumular uma cultura da capacidade de aprendizagem, mas também da capacidade de poder armazenar essa aprendizagem e transmiti-la com grande rapidez e eficácia a outros indivíduos. Os animais ditos irracionais aprendem por tentativa-erro ou por imitação e, com estas modalidades, não podem acumular muitas experiências nem as compartilhar maciçamente com os seus compa- nheiros ou os seus descendentes. O homem, pelo contrário, conta com a capacidade da simbolização (pode substituir os objetos da realidade como significantes) que lhe permite evocar ações, situações e objetos, embora não estejam presentes. Da mesma maneira, mediante o símbo- lo se faz mais contínua e complexa a experiência humana e pode trans- mitir-se a outros rapidamente. O símbolo permite, pois, acumular saberes, experiências, normas etc, precisamente tudo aquilo que disse- mos que forma os acervos culturais de um povo.
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  • 31. 36|Manual de Antropologia Cultural Angel-B. Espina Barrio Índia Botocudo. Daguerreótipo de 1844, por E. Thiesson. Acervo do Museu do Homem, Paris.
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