Este documento descreve os sentidos dos cães e como eles percebem o mundo ao seu redor. Ele explica que os cães têm cinco sentidos principais - olfato, audição, visão, tato e paladar - e que o olfato é o mais desenvolvido, sendo cerca de 100 vezes mais poderoso que o dos humanos. O documento também discute como cada sentido funciona nos cães e como eles se comparam aos sentidos humanos.
1. Curso de Auxiliar Técnico de Veterinária Trabalho realizado por:
HVP, Dezembro 2010 Filipa Araújo
2. Tudo o que um animal faz, está dependente da recepção e da forma como interpreta a informação obtida do
meio ambiente que o rodeia. Esta informação acerca do meio envolvente é essencial para que um animal
decida o que irá fazer a seguir.
mundo exterior órgãos dos sentidos sistema nervoso
Os órgãos dos sentidos estão constantemente a recolher informação do ambiente envolvente, que após ser
interpretada pelo sistema nervoso é armazenada, dando assim origem ao “conhecimento” do animal.
Os cães partilham os mesmos sentidos básicos que os humanos:
OLFACTO
PALADAR AUDIÇÃO
TACTO VISÃO
3. O OLFACTO dos cães é o principal dos cinco sentidos. É referido como sendo cerca de cem
mil vezes mais poderoso que o dos humanos. Os cães usam também o olfacto para
comunicar, como por exemplo para as marcações territoriais e na detecção de amigos e
inimigos.
A AUDIÇÃO dos cães é altamente desenvolvida. Eles possuem orelhas móveis que
capturam sons provenientes de todas as direcções. Podem usar apenas uma orelha para
rastrear a origem do som, usando depois as duas para captar um maior número de ondas
sonoras .
A VISÃO dos cães é similar à dos humanos, no entanto a visão de um cão é geralmente
inferior à do Homem. Contrariamente ao que muita gente pensa, os cães conseguem ver
cor, visualizar formas estáticas e são muito sensíveis ao movimento, mas as imagens
captadas não têm grande detalhe .
O TACTO é o primeiro sentido que os cães desenvolvem. Tal como os humanos, os cães
possuem receptores tácteis por todo o seu corpo.
O PALADAR está directamente relacionado com o olfacto e apesar de os cães terem um
paladar menos desenvolvido que o dos humanos, eles conseguem saborear o doce, o
amargo e o ácido .
4. A ordem de eficiência dos sentidos de um cão adulto e saudável é:
Olfacto
Audição
Visão
Tacto
Paladar
Nos cachorros, a ordem varia de acordo com a idade, pois eles
nascem com os ouvidos e olhos totalmente fechados e rastejam em
direcção aos objectos que emitem calor (termotropismo). Destes, o mais
próximo, sem dúvida alguma, é mama de sua mãe que, nesta fase de
sua vida reprodutiva, apresenta-se mais quente do que as outras partes
do seu próprio corpo.
Com o decorrer dos dias, o sentido
do olfacto supera, definitivamente, o
sentido do tacto e podemos presenciar
o filhote a farejar tudo que se encontra
à sua frente.
5. Percepção Sensorial
Ao estudar os órgãos dos sentidos é necessário analisar as propriedades
das suas células, e o modo como estas transformam os estímulos
ambientais em informação nervosa.
Qualquer um dos órgãos dos sentidos actua da mesma forma básica,
iniciando-se com a detecção do estímulo, seguido da amplificação do sinal
e posterior transmissão para o sistema nervoso.
6. Percepção Sensorial
A recepção sensorial começa nos órgãos que possuem células especializadas para responder aos diferentes
tipos de estímulos, denominadas de células receptoras.
estímulos
mecano-receptores células receptoras foto-receptores
quimio-receptores termo-receptores
electro-receptores
7. Percepção Sensorial
Os receptores especializados dos órgãos dos sentidos são específicos para reconhecer e responder apenas a
certos estímulos.
De uma forma genérica, podemos resumir o processo de interpretação dos sinais obtidos da seguinte
forma:
Captação
Amplificação e Tradução
Transmissão
Descodificação e
Interpretação
8. Olfacto
O nariz dos cães é formado por um par de narinas e pela cavidade nasal. As células receptoras do olfacto
estão presentes por toda a camada do epitélio especializado existente na cavidade nasal.
O epitélio olfactivo contém vários tipos de células olfactivas (permite a percepção de um número elevado de
odores).
Os cães possuem ainda uma cavidade chamada de vomeronasal, mais conhecida por órgão de Jacobson, que
consiste num par de sacos alongados que conectam com a boca e nariz. Esta estrutura possui células receptoras
distintas da cavidade nasal.
9. Olfacto
O nariz dos cães está normalmente frio e húmido (razão pela qual os cães estão constantemente a lamber o
nariz).
O muco segregado pelas glândulas mucosas da cavidade nasal captura e dissolve as moléculas presentes no
ar e obriga-as a entrarem em contacto com o epitélio olfactivo especializado, que no caso dos cães é muito
desenvolvido, contendo mais de 220 milhões de receptores olfactivos em contraste com os cerca de 5
milhões que o ser humano possui.
10. Olfacto
O acto de farejar é utilizado para maximizar a detecção dos odores, uma vez
que força o ar a entrar na cavidade nasal (devido as sucessivas inspirações e
expirações) e a contactar com o epitélio especializado.
As moléculas de odor que estão dentro da cavidade nasal são absorvidas pelos
receptores especializados até à camada mucosa e posteriormente difundidos até aos
neurónios. Esta interacção gera um impulso nervoso que é transmitido através dos
nervos olfactivos até ao centro olfactivo do cérebro.
As células do órgão de Jacobson, para além de participarem no processo
normal do olfacto, enviam também impulsos para a região do hipotálamo, que estão
associados a comportamentos sexuais e sociais. Acredita-se ainda que este órgão é
fundamental na detecção das feromonas .
11. Olfacto
A sensibilidade olfactiva depende da área desenvolvida do centro
olfactivo do cérebro, sendo em média, nos cães, cerca de 10% do
total do cérebro (nos humanos ronda os 0,3%). Os cães possuem
ainda receptores infravermelhos que são sensíveis à temperatura.
Em determinadas experiências, ficou demonstrado que os cães
conseguem detectar certos tumores, prever ataques epilépticos e até
níveis anormais de glucose no sangue em humanos através do
cheiro.
12. Olfacto
O mundo que existe em redor do cão é rico em diferentes odores, que se
sobrepõem e cruzam, no ambiente. O cão consegue separá-los adequadamente,
identificando, desta maneira, pessoas e coisas.
Tudo isso ocorre devido aos seus órgãos especializados. A área do cérebro
canino encarregada da sensibilidade ao cheiro possui 40 x mais células que a mesma área
do cérebro humano.
As células sensitivas do cão estão bem mais juntas e formam uma área que se dobra
várias vezes sobre si mesma, criando sulcos e cristas que aumentam a
capacidade de captação de odores.
Estima-se que o olfacto do cão é quarenta vezes mais sensível do que o do
homem.
O homem aproveita esta sensibilidade olfactiva do cão para treiná-lo a procurar pessoas,
objectos, bombas, drogas, etc. Os animais de determinadas raças possuem sensibilidade
maior e são conhecidos como cães farejadores, utilizados pelos exércitos e polícias de vários
países.
13. Audição
Os cães, comparativamente com os humanos, possuem uma audição muito
mais apurada. São capazes de captar frequências baixas entre os 16 e 20Hz
(os humanos captam entre 20 e 70Hz) e altas entre os 70000 a 100000Hz
(comparando com os 20000Hz humanos).
Os cães são ainda capazes de ouvir ultra-som e são excelentes a distinguir
sons, o que lhes permite “compreender” as palavras pronunciadas pelos donos,
embora neste caso seja também importante o tom de voz e os gestos usados.
14. Audição
O ouvido é formado por três compartimentos:
O ouvido externo é uma estrutura cartilagínea coberta por músculos e pele, formando a orelha que
possui uma abertura para o interior constituindo o canal auditivo externo, que se estende até ao tímpano.
O ouvido médio consiste numa câmara de ressonância que contém três ossículos.
O ouvido interno é formado pela cóclea, pelo aparelho vestibular e pelo tubo auditivo.
A função da orelha é captar os sons que depois serão conduzidos pelo canal auditivo externo. No ouvido
médio, os ossículos convertem mecanicamente as vibrações do tímpano em ondas de pressão que são
amplificadas na cóclea.
15. Audição
No sistema vestibular, o vestíbulo, é uma componente especializada do ouvido interno que fornece
informações essenciais para o sentido de equilíbrio e para a coordenação dos movimentos da cabeça com
movimentos posturais e dos olhos.
16. Audição
As orelhas do cão possuem formas variadas, de acordo com a raça.
São bastante móveis e giram em diferentes direcções à procura dos sons
que penetram no canal auditivo.
Apesar das diferenças que ocorrem no pavilhão auricular, as estruturas e
as funções do ouvido médio e interno do cão permanecem as mesmas.
Muitas vezes nós precisamos virar a cabeça para ouvir melhor alguns
sons, enquanto que o cão movimenta somente as orelhas. Um som emitido a
4 metros e audível para nós, será audível para um cão, na mesma
intensidade, a 25 metros.
17. Audição
Outra capacidade impressionante do cão é a identificação da origem do som. Ele conhece o passo de todas as
pessoas de uma casa e consegue identificar os ruídos do carro do seu proprietário, entre outros da mesma
marca, cilindrada etc.
O cão possui excelente audição e capta sons inaudíveis para nós. O uso de apitos que emitem sons de alta
frequência são, às vezes, utilizados para comando de cães polícias e militares à distância, sem que as pessoas
que se encontram próximas dos mesmos captem tais sons.
18. Visão
O olho dos canídeos tem a mesma morfologia básica que o olho
humano e pode ser comparado com uma máquina de filmar,
possuindo:
abertura (pupila)
lente (córnea e cristalino)
superfície de recepção (retina).
Tal como nas câmaras, as estruturas do olhos podem ser
ajustadas e modificadas fisiologicamente mediante as diferentes
condições de luz existentes.
A luz penetra no olho através da pupila, sendo a quantidade
controlada e regulada pela íris. Quanto mais a pupila estiver
aberta, maior a quantidade de luz que penetra pelo olho, sendo
esta uma importante característica para a visão nocturna.
A luz, após atravessar a pupila, passa pelo cristalino e é
absorvida pela retina.
19. Visão
RETINA
Bastonetes
Detecção do movimento Rodopsina
80%
Adaptados para condições em que há pouca luz
Cones 20% Percepção de cor e do detalhe
Ao contrário dos humanos em que a retina possui três tipos de cones, o olho canídeo apenas possui dois
tipos. Esta condição faz com que cães não consigam ver todas as cores do espectro visível, não identificando
o verde, o laranja e o vermelho, porque os cones que eles possuem, apenas captam comprimentos de onda
entre os 429nm e 555nm, zona correspondente ao azul, violeta e amarelo.
20. Visão
A característica que torna a visão dos cães excelente no escuro, é o
tapetum lucidum que corresponde a uma camada de células altamente
reflectoras localizadas por trás dos foto-receptores.
Esta camada reflectora é responsável pelo brilho nos olhos dos cães (e
outras espécies) quando uma luz brilhante atinge os olhos no escuro. Esta
camada amplia e reflecte a luz, mesmo quando ela for de pequena
intensidade.
21. Visão
Por conseguirem captar melhor o movimento do que os humanos, para
os cães a televisão não passa de uma série de imagens que piscam
rapidamente, enquanto que os humanos não se apercebem das
transições e vêem as imagens numa sequência contínua.
Quando os cães olham para a televisão, geralmente respondem mais a
sons e mudanças bruscas de luz do que propriamente à imagem.
O posicionamento dos olhos do cão dá-lhe um campo
de visão mais alargado do que o dos seres humanos,
apesar de a sua visão binocular ser reduzida.
A visão periférica varia entre raças, dependendo da
posição e da inclinação dos olhos.
22. Tacto
As sensações tácteis são primordiais para o desenvolvimento normal dos
animais. Na fase inicial da vida dos cães o tacto é o sentido mais importante, sendo
fundamental o contacto com a progenitora.
Através do tacto, os cães podem diferenciar sensações de pressão e contacto,
sensações térmicas e sensações dolorosas, dependendo do tipo de estímulo.
As sensações térmicas apenas são captadas em determinadas zonas:
superfície cutânea
cavidade nasal
cavidade bucal
ânus
Existem dois tipos principais de termo-receptores, os de calor e os de frio.
23. Tacto
Os receptores para as sensações de pressão encontram-se espalhados praticamente por todo o organismo.
Os receptores para as sensações de contacto (disco de Merkel; terminação de Ruffini; corpúsculo de Meissner;
corpúsculo de Pacini) encontram-se logo abaixo da superfície cutânea.
As sensações de pressão e contacto são perceptíveis por todo o corpo, pois os nervos estão localizados na
base dos pêlos.
Para as sensações dolorosas existem receptores especiais (terminações livres não-mielinizadas de neurónios
aferentes) que estão presentes na pele, nos músculos, tendões e articulações, dentes, etc. A maioria das vísceras,
como, rins e pulmões não possuem receptores para a dor.
sensações de todo o
pressão organismo
abaixo da
sensações de
Receptores superficie
contacto
cutânea
sensações
vários orgãos
dolorosas
24. Tacto
Além das terminações nervosas sensoriais existentes em todo o corpo, os cães possuem pêlos especiais,
denominados vibrissas, que se localizam acima dos olhos, debaixo da mandíbula e no focinho. Os vibrissas
são fortemente irrigados por vasos sanguíneos e possuem um elevado número de terminações nervosas,
conferindo-lhe uma sensibilidade especial.
Os bigodes ou vibrissas funcionam como verdadeiras antenas. São elas as responsáveis pela manutenção da
distância, quase constante, do focinho do cão dos objectos cheirados. Quando o animal está a farejar um rasto,
ele mantém o focinho a uma pequena distância do chão, sem o tocar.
25. Paladar
O paladar é considerado o sentido menos eficiente do cão. É um sentido pouco desenvolvido e está
directamente relacionado com o olfacto.
A língua é um músculo em que a superfície é coberta por epitélio especializado que contém as células
especializadas denominadas de papilas gustativas.
O cão tem à volta de 12x menos papilas gustativas que o ser humano.
.
26. Paladar
O paladar está ligado às papilas gustativas presentes nas mucosas da língua, do palato e da faringe. Os
nervos glossofaringeo e lingual, originados nas pupilas gustativas transmitem os sinais recebidos pelas mesmas
até ao cérebro.
Tal como no olfacto, esta informação gustativa surge através da interacção das substâncias químicas da
comida que são dissolvidas na saliva e captadas depois pelas papilas gustativas.
27. Paladar
A língua nos cães, para além de ser responsável pela resposta ao paladar, desempenha a vital tarefa de
dissipar o calor do animal, sendo ainda usada com função terapêutica em caso de feridas externas.