Gêneros Literários: Conhecendo os Principais Estilos Narrativos
1. Gêneros literários
Muitas teorias e discussões há em torno dos gêneros literários. Os
especialistas em teoria literária estão sempre à procura de soluções gerais,
nem sempre possíveis ou aceitáveis nos casos particulares.
A palavra gênero, etimologicamente, significa família, raça ou conjunto
de seres dotados de características comuns.
Portanto, que viria a ser gênero literário? De maneira muito
simplificada, diríamos que gênero literário é um conjunto de obras dotadas
de características comuns.
Desde Platão, os três gêneros fundamentais estabelecidos dó: o lírico,
o dramático e o narrativo.
Essa tripartição, com todos os matizes de que pode revestir-se, está
psicologicamente fundamentada nas três faculdades essenciais da alma
humana, fontes de toda mensagem verbal: a sensibilidade, a vontade e a
inteligência. Como decorrência surgem, espectivamen-te, as três funções
da linguagem, manifestadas em qualquer obra literária: a expressão ou
função expressiva (pela sensibilidade), o apelo ou função apelativa (pela
vontade) e a representação ou fun-ção informativa (pela inteligência).
Entretanto, essa tripartição, perfeita e lógica na sua essência, pode
tornar--se discutível e até errônea na prática, quando aplicada rigidamente
a determinadas obras. É que na criação artística conflu-em as águas
dessas três fontes, interpenetrando-se as funções da linguagem. E em
certas obras predominará um gênero sobre o outro, mas nunca haverá a
expressão pura de um só gênero.
Os modernos críticos, notadamente Todorov, ensinam que os gêneros
literários devem ser estudados indutivamente, a partir das características
da obra e não a partir de nomes classificatórios.
Assim, fundindo a tripartição tradicional (lírico, épico e dramático),
com as diferenciações apontadas pelas modernas teorias literárias, temos
quatro gêneros básicos e suas respectivas formas:
Gênero lírico
Poemas de forma fixa: soneto, por exemplo.
Gênero narrativo
2. Épico (epopéia)
Ficção: romance, novela, conto, crônica.
Gênero dramático: tragédia, comédia, tragicomédia, drama, auto.
Gênero ensaístico: ensaio, artigo, análise de texto, oratória, carta.
Gênero lírico
O adjetivo lírico deriva de lira, instrumento de força expressiva já
empregado pelos gregos. Essa associação entre música e lirismo é feita
desde as primeiras épocas da cultura artística ocidental, chegando até
nossos dias.
A subjetividade lírica é estruturada com idéias, sentimentos, emoções,
recordações, desejos, profundos estados de espírito que, em muitos casos,
roçam o indefinível, o inefável e que só podem ser expressos pela
musicalidade, pela metáfora e pela poesia. Por essa razão é que o lirismo
encontrou, durante a evolução histórica, a sua mais perfeita e generalizada
forma de expressão no verso, com seu ritmo e rima próprios.
Se a prosa rejeita a rima, o verso a busca, exatamente como
instrumento de expressão das emoções, as quais se afirmam mais pela
repetição e pela simbologia do que pela descrição ou pelo recurso à
caracterização ambiental.
Conseqüentemente, no poema lírico, não há protagonistas, como na
literatura de ficção, não há ambiente físico caracterizado, nem episódio,
nem enredo, nem temporalidade definida. As emoções profundas do poeta,
seu “euquot;, sua visão do mundo (e não o mundo) são o que vale.
A linguagem poética é, assim, muito particular. Se quisermos entendê-
la, é preciso que nos familiarizemos com ela e isso só será possível
mediante uma leitura cuidadosa e freqüente de poemas.
(in Estudo Dirigido de Português, vol. 1, J. Milton Benemann e
Luís Agostinho Cadore, 1984, Editora Ática)
Atualmente, esse gênero está muito presente nas letras de músicas,
que são poemas cantados, voltando às origens
.
Um homem também chora
3. Gonzaguinha
Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
da própria candura
Guerreiros são pessoas
são fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
por dentro do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
que os tornem perfeitos
É triste ver meu homem
guerreiro menino
com a barra do seu tempo
com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
por sobre seus ombros
Eu vejo que ele sangra
4. Eu vejo que ele berra
a dor que tem no peito
pois ama e ama
Um homem se humilha
se castram seus sonhos
Seu sonho é sua vida
e vida é trabalho
E sem o seu trabalho
o homem não tem honra
E sem a sua honra
se morre, se mata
se morre
se mata
não dá pra ser feliz
não dá pra ser feliz
Gênero narrativo
A palavra ficção vem do latim fictionem (fingere, fictum), ato de
modelar, criação, formação; ato ou efeito de fingir, inventar, simular;
suposição; coisa imaginária, criação da imaginação. Literatura de ficção é
aquela que contém uma história inventada ou fingida, fictícia, imagi-nada,
resultado de uma invenção imaginativa, com ou sem intenção de enganar.
A ficção é um dos gêneros literários ou de imaginação criadora (ao
lado dos gêneros dramático, lírico, ensa-ístico). A literatura de imaginação
ou de criação é a interpretação da vida por um artista através da palavra.
No caso da ficção (romance; conto, novela), e da epopéia, essa
interpretação é expressa por uma história, que encor-pa a referida
interpretão. É, portanto, literatura narrativa.
5. A essência da ficção é, pois, a narrativa. Ë a sua espinha dorsal,
correspondendo ao velho instinto humano de contar e ouvir histórias, uma
das mais rudimentares e populares formas de entretenimento. Mas nem
todas as histórias são arte. Para que tenha o valor artístico, a ficção exige
uma técnica de arranjo e apresentação, que comunicará à narrativa beleza
de forma, estrutura e unidade de efeito. A ficção distingue-se da história e
da biografia, por estas serem narrativas de fatos reais. A ficção é produto
da imaginação criadora, embora, como toda a arte, suas raízes mergulhem
na experiência humana. Mas o que a distingue das outras formas de
narrativa é que ela é uma transfiguração ou transmutação da realidade. Ela
coloca a massa da experiência humana dentro de um molde, seleciona,
omite, arruma os dados da experiência de modo a fazer surgir um plano,
que se apresenta como uma entida-de, com vida própria, com um sentido
intrínseco, diferen-te da realidade. A ficção não pretende fornecer um
simples retrato da realidade, mas antes criar uma imagem da realidade,
uma reinterpretação, uma revisão. Ë o espetáculo da vida por meio do
olhar interpretativo do artista, a interpretação artística da realidade.”’
• Elementos da narrativa
O mundo da ficção desenvolve-se ao redor dos seguintes elementos
estruturais:
1.Personagem
É a pessoa (de persona) que atua na narrativa. Pode ser principal ou
secundária, típica ou caricatural.
2.Enredo
É a narrativa propriamente dita, que pode ser linear ou retrospectiva,
cuja trama mantém o interesse do leitor, que espera por um desfecho.
Chama-se também simples-mente de ação.
3. Ambiente
É o meio físico e social onde se desenvolve a ação das personagens.
Trata-se do pano de fundo ou do cenário da história, também designado
de paisagem.
4.Tempo
É o elemento fortemente ligado ao enredo numa seqüência linear ou
retrospectiva, ao passado, presente e futuro, com seus recuos e avanços.
Pode ser cronológico ou psicológico. Cronológico, quando avança no
6. sentido do relógio; psicológico, quando é medido pela repercussão
emocional, estética e psicológica nas personagens.
5.Ponto de vista
Tecnicamente, podemos dizer. que se refere às diferentes maneiras de
narrar. Geralmente, se resumem em duas:
a) narrador-onisciente: autor conta a história como observador que
sabe tudo. Usa a 3ª pessoa.
b) narrador-personagem: autor conta, encarnando-se numa
personagem, principal ou secundáría. Usa a lª pessoa.
6. Discurso
É o procedimento do narrador ao reproduzir as falas ou o pensamento
das personagens. Há três tipos de discurso:
a) direto: neste caso, o narrador, após introduzir as personagens, faz
com que elas reproduzam a fala e o pensamento por si mesmas, de modo
direto, utilizando o diálogo. Exemplo:
Baiano velho perguntou para o rapaz:
—O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial
b) indireto: neste tipo de discurso, não há diálogo; o narrador não põe
as personagens a falar e a pensar diretamente, mas ele faz-se o intérprete
delas, transmitindo o que disseram ou pensaram, sem reproduzir o
discurso que elas teriam empregado. Exemplo:
Baiano velho perguntou para o rapaz se o jornal não tinha dado nada
sobre a sucessão presidencial.
c) indireto livre: consiste na fusão entre narrador e personagem, isto
é, a fala da personagem insere-se no discurso do narrador, sem o emprego
dos verbos de elocução (como dizer, afirmar, perguntar, responder, pedir e
exclamar). Exemplo:
Agora (Fabiano) queria entender-se com Sinhá Vitória a respeito da
educação dos pequenos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis.
Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber?
Tinha? Não tinha.
7. 7. Linguagem e estilo
É a vestimenta com que o autor reveste seu discurso, nas falas, nas
descrições, nas narrações, nos diálogos, nas dissertações ou nos
monólogos.
• Espécies narrativas
Nem sempre é possível classificar um determinado texto ou obra
dentro de uma determinada modalidade narrativa. Didaticamente,
podemos caracterizar o romance, a nove-la, o conto, a crônica e a epopéia.
1. Romance
É a modalidade narrativa de maior vulto, onde a visão do mundo do
autor se manifesta pelo forte conflito das personagens. O romance aborda
os mais variados assuntos. Assim, podem ser históricos, psicológicos,
experimentais, científicos, policiais etc.
São exemplos de romances: Iracema, de José de Alencar; Quincas
Borba, de Machado de Assis; O mulato, de Aluísio Azevedo; Corpo vivo, de
Adonías Filho etc.
Há ainda romances que são classificados como verdadeiras epopéias
em prosa. Entre eles estão: O sertões, de Eudides da Cunha e Grande
sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
2. Novela
É a modalidade narrativa que se caracteriza pela sucessividade dos
episódios, muitas vezes das persona-gens e dos cenários. O tempo e o
espaço conjugam-se dentro dessa estrutura. Assim; a novela condensa os
ele-mentos do romance. Os diálogos são mais rápidos, as narrações são
diretas e sem circunlóquios, tudo favore-cendo a precipitação da história’
para o seu desfecho.
Como exemplo de novelas, podemos citar: Noite, de Érico Veríssimo; A
vida real, de Fernando Sabino; Uma vida em segredo, de Autran Dourado;
A morte e a morte de Quíncas Berro d’Água, de Jorge Amado etc. A
televisão atual explora essa espécie de narrativa com muito sucesso.
3. Conto
8. É a modalidade narrativa de maior brevidade. Se o romance é a vida, o
conto é o caso, a anedota. Com economia de cenários e personagens, a
solução do conflito é narrada perto do seu desenlace.
Eis alguns exemplos de contos já clássicos: O alienista, de Machado de
Assis; Apólogo brasileiro sem véu de alegoría, de Antônio de Alcântara
Machado; O negrinho do pastoreio, de João Simões Lopes Neto; O peru de
Natal, de Mário de Andrade.
4. Crônica
É uma espécie de narrativa curta e condensada que capta um
flagrante da vida, pitoresco e atual, real ou imaginário, com uma ampla
variedade temática.
5. Epopéia
É uma criação literária, geralmente em verso, de fundo narrativo. (Do
grego epos = canto, narrativa). Des-de os tempos antigos, a epopéia tem
a finalidade de exaltar os heróis nacionais e cantar os grandes feitos dos
povos.
Modernamente, certos padrões ou estilos de vida foram substituídos
por outros bastante diversos. Os gêneros também foram evoluindo. Assim,
o gênero narrativo em verso — a epopéia — cedeu lugar ao gênero
narrativo em prosa, designado simplesmente de narrativa ou ficção, nas
suas diversas modalidades.
(in Estudo Dirigido de Português, vol. 1, J. Milton Benemann e
Luís Agostinho Cadore, 1984, Editora Ática)
Veja o exemplo de um conto:
O conto que segue pertence a um dos maiores contistas brasileiros da
atualidade, o curitibano Dalton Trevisan. O escritor notabilizou-se em
nossa literatura com o livro de contos O vampiro de Curitiba, seguido por
outros como A guerra conjugal e Desastres do amor. A síntese, um dos
traços do autor, é também uma das tendências do conto contemporâneo.
O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na es-quina dá com o sinal
vermelho e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda
crucificado. No labirinto ur-bano persegue a morte como trim-trim da
campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
9. É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o
gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete
impávido colosso, des-via de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por
muito favor derrubou o boné.
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao
perder o ferrão. Guerreiros inimigos tritu-ram com chio de pneus o seu
diáfono esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e
– uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
Opõe o peito magro ao pára-choque do ônibus. Salta a poça d´água
no asfalto. Nem só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos
do guidão.
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem.
Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primei-ra esquina, avança pelo céu na
contramão, trim-trim.
Gênero dramático
O gênero dramático, desde a antigüidade clássica, teve grande
importância, pois, tanto em suas origens gregas e latinas como medievais,
esteve sempre associado à problemática religiosa, transformando-se, não
raras vezes, em verdadeiro ritual.
Atualmente, o gênero envolve dois aspectos: de um lado, como
fenômeno literário, temos o texto, a linguagem; de outro, as técnicas de
representação, o espetáculo. Ater-nos-emos, aqui, unicamente ao estudo
do primeiro aspecto.
No drama, as personagens aparecem dotadas de características
marcantes, representando realidades humanas concretas. Contudo, a
caracterização será indireta, uma vez que se deve sugerir ao público os
traços peculiares das personalidades representadas, sendo que o autor não
pode imiscuir-se na ação. Assim, o teatro exige um esmerado juízo
seletivo, pois cada um dos fatos ocorrentes deve, pela concisão o e pela
síntese, ser capaz de despertar emoção. A obra dramática não apresenta
descrições nem dissertações, mas busca acentuar a ação. O texto é, então,
representativo, onde o diálogo é fundamental, em contraposição ao
romance, à novela, ao conto, cujos textos visam a apresentar, e onde o
diálogo, se houver, é bastante acessório.
É importante observar ainda que, no teatro, o autor faz uma tentativa
de representar mais a língua falada do que a escrita. Daí os recursos
próprios para enfatizar a entonação, a voz, a mímica, os gestos etc.
10. Na Idade Média, o teatro tinha as modalidades de auto (milagre ou
mistério) e farsa. No Classicismo, predominaram a tragédia e a comédia,
de cuja fusão surge, no Romantismo, o drama.
Hoje, o teatro assumiu uma posição crítica com relação aos problemas
político-sociais, o que mostra que ele não é apenas uma forma de
diversão, mas sim um poderoso meio de contestação da sociedade. Como
prova disso, leia o fragmento da peça O pagador de promessas, que foi
inclusive transposta para as telas, ganhando inúmeros prêmios
internacionais.
Texto: Zé-do-Burro
Zé — (Olhando a igreja.) É essa. Só pode ser essa. (Rosa pára
também, junto aos degraus, cansada, enfastiada e deixando já entrever
uma revolta que se avoluma.)
Rosa — E agora? Está fechada.
Zé —É cedo ainda. Vamos esperar que abra.
Rosa — Esperar? Aqui?
Zé — Não tem outro jeito.
Rosa — (Olha-o com raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o
sapato.) Estou com cada bolha d’água no pé que dá medo.
Zé — Eu também. (Contorce-se num ríctus de dor. Despe uma das
mangas do paletó.) Acho que os meus ombros estio em carne viva.
Rosa — Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.
Zé — (Convicto) Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei
em almofadinha.
Rosa — Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia
dizer nada.
Zé — Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus.
E Jesus não usou almofadinhas.
Rosa — Não usou porque não deixaram.
Zé — Não, esse negócio de milagres, é preciso ser honesto. Se a gente
embrulha o santo, perde o crédito. De outra vez o santo olha, consulta lá
11. os seus assentamentos e diz: — Ah, você é o Zé-do-Burro, aquele que já
me passou a perna! E agora vem me fazer nova promessa. Pois vá fazer
promessa pro diabo que o carregue, seu caloteiro duma figa! E tem mais:
santo é como gringo, passou calote num, todos os outros ficam sabendo.
Rosa — Será que você ainda pretende fazer outra promessa depois
dessa? Já não chega? ...
Zé — Sei não ... a gente nunca sabe se vai precisar. Por isso, é bom
ter sempre as contas em dia. (Ele sobe um ou dois degraus. Examina a
fachada da igreja à procura de uma inscrição.)
Rosa — Que é que você está procurando?
Zé — Qualquer coisa escrita, pra a gente saber se essa é mesmo a
igreja de Santa Bárbara.
Rosa — E você já viu igreja com letreiro na porta, homem?
Zé —É que pode não ser essa...
Rosa — Claro que é essa. Não lembra o que o vigário disse? Uma
igreja pequena, numa praça, perto duma ladeira...
Zé — (Corre os olhos em volta.) Se a gente pudesse perguntar a
alguém...
Rosa — Essa hora está todo mundo dormindo. (Olha-o quase com
raiva.) Todo o mundo ... menos eu, que tive a infelicidade de me casar
com um pagador de promessas. (Levanta-se e procura convencê-lo.)
Escute, Zé... já que a igreja está fechada, a gente podia ir procurar um
lugar
para dormir. Você já pensou que beleza agora uma cama? ...
Zé — E a cruz?
Rosa — Você deixava a cruz aí e amanha, de dia ...
Zé — Podem roubar ...
Rosa — Quem é que vai roubar uma cruz, homem de Deus? Pra que
serve uma cruz?
Zé — Tem tanta maldade no mundo. Era correr um risco muito
grande, depois de ter quase cumprido a promessa. E você já pensou: se
12. me roubassem a cruz, eu ia ter que fazer outra e vir de novo com ela nas
costas da roça até aqui. Sete léguas.
Rosa — Pra quê? Você explicava à santa que tinha sido roubado, ela
não ia fazer questão.
GOMES, Dias. O pagador de promessas. São Paulo, Tecnoprint,
[s. d.1. p. 14-8].
(in Estudo Dirigido de Português, vol. 1, J. Milton Benemann e
Luís Agostinho Cadore, 1984, Editora Ática)
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/generos