O documento descreve uma pesquisa sobre a identidade cultural de jovens da classe média da cidade de Parauapebas, no Pará. A pesquisa entrevistou 38 universitários sobre suas origens, práticas culturais e percepções sobre a cidade. Mostra que a maioria migrou para Parauapebas quando jovem com suas famílias e mantém laços com seus locais de origem, mas não pretende retornar. Explora como a cidade é vista como uma fronteira em movimento.
1. Mídia e Cultura na Amazônia
Aula 6
Localismo e identidade: A pesquisa
sobre Parauapebas.
Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro
Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e Amazônia –
UFPA
Belém, 18 de abril de 2012
3. Para caracterizar o que chamamos de fronteira amazônica
partimos da reflexão de Otávio Velho sobre o caráter
conflitivo e transitório dos processos sociais de ocupação
do território amazônico.
Segundo Velho, o modelo de ocupação recente da
Amazônia produz um choque intermitente entre a situação
social antes existente e os interesses do estado, agente
promotor central dessa ocupação. O resultado desse
choque seria um espaço social e histórico marcado pela
indefinição, pela crise, pela mutação e pelo transitório[1].
1 VELHO, Otávio. Capitalismo autoritário e campesinato : um estudo
comparativo a partir da fronteira em movimento. São Paulo, DIFEL, 1979,
p.61.
4. Tese
• A fronteira amazônica possui dinâmicas
sociais importantes, que geram
compromissos regionais peculiares, tanto no
campo político como no campo cultural.
5. • Ela não seria o vazio ontológico
que lhe reprovam as populações de
Belém e certos analistas.
6. • Ao contrário, o que se verifica nela é
um vitalismo social importante,
marcado por representações sociais da
Amazônia e de si mesmo que não são
nem amorfas e nem estáticas.
7. Metodologia
• Utilizamos o método da coleta de representações sociais,
desenvolvido por Moscovici[1], para efetuar uma
percepção do campo simbólico constituído pelos
entrevistados. Como se sabe, a proposição de Moscovici
está centrada na idéia de que a produção dos sentidos se dá
coletivamente, por meio de tipificações sociais, às quais
compreende como representações.
• [1] Cf. MOSCOVICI, S. The Invention of societe. Cambridge, Polity Press, 1988 et Id.
Representações sociais. Investigações em psicologia social, 3ª ed. Petrópolis, Vozes,
2003.
8. Universo pesquisado
• Os atores sociais observados foram 38
universitários. Seu perfil econômico e sócio-
cultural os situa na classe média local.
• Deles, desejou-se evocar a experiência geracional
de fazer parte de uma fronteira em movimento.
9. Procurou-se perceber de que modo a sua
percepção de mundo e as suas práticas de
socialidade produzem uma representação
social de sua identidade geracional e como
essa representação interpreta a condição de
serem amazônidas e, nessa condição, os
habilita a evocar e produzir uma identidade
social ou cultural regional.
10. Universo pesquisado
• 30 mulheres (79% do total pesquisado) e 8
homens (21%).
• A maioria deles (35%) está na faixa-etária de
21-23 anos. Seguem-se as faixas-etárias de 24-26
anos (28%), acima de 29 anos (17%), 27-29 anos
(14%) e 18-20 anos (6%).
11. Universo pesquisado
• 2 já possuem outro curso superior e outros 2
possuem uma qualificação técnica que os habilita
a exercerem atividades profissionais
especializadas.
• 29 (76%) exercem uma atividade profissional e 9
(24%) são estudantes em tempo integral.
• Desses 9 apenas um se descreveu como
desempregado.
12. • Dentre os que trabalham, 13 (33%) são auxiliares
administrativos em empresas do setor privado,
inclusive a CVRD, 4 (11%) são funcionários
públicos, 4 (11%) são técnicos especializados e 1
(3%) é comerciante.
• Outros 7 entrevistados (18%) trabalham já na área
profissional da Comunicação, seja como
jornalistas, seja prestando serviços de assessoria
de comunicação às empresas locais.
13. Universo pesquisado
• Apenas 2 nasceram em Parauapebas.
• Sua procedência se reparte da seguinte maneira:
– 14 (37%), aí incluídos os 2 entrevistados nascidos em
Parauapebas, são naturais do próprio estado do Pará,
– 9 (24%) nasceram no Maranhão,
– 4 (11%) do Tocantins,
– 2 (5%) em Goiás, 2 (5%) no Piauí e outros 7 (18%)
nasceram em outros tantos estados brasileiros.
14. Universo pesquisado
• Percebe-se uma maioria significativa, embora não
dominante, nascida no próprio estado do Pará – o
que sugere uma migração que começa a se
consolidar.
• Porém, se projetamos sobre esses dados a
procedência de seus pais, encontramos um quadro
diferente, no qual apenas 26% dos indivíduos
(pais e mães dos 38 entrevistados somados), o
equivalente a 19 indivíduos, são paraenses.
15. • Tem-se, a seguir, 18 maranhenses (23%), 9
goianos (12%), 7 piauienses (9%), 5
mineiros (6%), 4 baianos (5%), além de 3
paranaenses, 2 paraibanos, 2 cearenses, 1
pernambucano e 1 gaúcho que, juntos,
perfazem 14% do total.
• Observe-se ainda que 2 entrevistados não
informaram a origem de seus pais ou de um
deles.
16. Universo pesquisado
• A idéia de fronteira em processo de consolidação
se define melhor quando observamos, no universo
dos entrevistados, o momento em que eles se
estabeleceram em Parauapebas.
• Sabendo que apenas 2 deles (6%) nasceram no
município, projetamos o momento de fixação dos
demais em quatro períodos de cinco anos cada:
1981-86, 1987-1992, 1993-1998 e 1999-2005.
•
17. • Nessa projeção, observa-se que 31% dos
entrevistados estabeleceu-se na cidade no
primeiro período, 17% no segundo, 19% no
terceiro e 33% no quarto.
• Porém, considerando que 8 dos entrevistados estabeleceu-se em
Parauapebas nos anos de 2004 e 2005, justamente o momento em que
se produziu seu ingresso no curso, sendo este, possivelmente, o
motivo real de sua atração para Parauapebas
18. • percebemos que 40% dos entrevistados se
estabeleceu na cidade entre os anos de 1981
e 1986, ou seja, nos primeiros anos de
existência de Parauapebas. É a parcela mais
importante, observando-se uma tendência
decrescente a partir de então.
19. Universo pesquisado
• Uma outra projeção interessante, desta vez por
evocar um padrão familiar na estrutura dos
movimentos de migração para o sudeste paraense,
é obtida quando lançamos no gráfico a idade dos
entrevistados no momento em que se
estabeleceram no município.
• Excetuando os dois entrevistados que nasceram no
município, percebemos 27% dos demais ali
chegaram entre seu primeiro e seu sexto
aniversário.
20. Universo pesquisado
• As camadas entre 7 e 12 anos e entre 13 e 18 anos é
similar: cada uma delas responde por 19% dos
entrevistados. Somando-se esses números e considerando
que até os 18 anos pode-se imaginar vínculos familiares
mais sólidos envolvendo os indivíduos, encontra-se uma
base de 65% de indivíduos migrados no contexto provável
de uma decisão familiar. Outra parcela significativa
aparenta ter migrado por conta própria: 31% dos
entrevistados estabeleceu-se entre os 19 e os 24 anos de
idade e 4% entre os 24 e os 30 anos de idade.
21. Universo pesquisado
• Essas diferenças produzem um imaginário sobre a
fronteira. Comum à maioria, parece haver a idéia
de que sua estada em Parauapebas é transitória.
• Indagamos se pretendem viver definitivamente na
cidade e 71% dos entrevistados respondeu
imediatamente que não.
22. • Dos restantes, 5% condiciona sua permanência em
Parauapebas às possibilidades futuras de trabalho
e realização pessoal e 24% afirmam
categoricamente que sim, que estão
definitivamente estabelecidos na cidade.
• Todos, porém, demonstram uma percepção aguda
de que o espaço-mundo que os envolve está em
movimento rapidamente.
23. Universo pesquisado
• Um dado a nosso ver importante, diz respeitos aos
vínculos que os entrevistados mantêm com seu
lugar de origem.
• Cerca de 61% deles afirmam possuir algum
vínculo, ainda que tênue, com seus familiares e
amigos no local de origem.
24. Universo pesquisado
• Porém, também percebemos que o lugar de origem
não constitui um pólo atrator e que apenas uma
parcela pequena dos entrevistados costuma
retornar a esse lugar periodicamente.
• Ou seja, parece haver uma disposição de
permanência, ou ao menos de trânsito, na sua
subjetividade.
25. Universo pesquisado
• Essa disposição de permanência não significa,
necessariamente, uma permanência em Parauapebas, mas
sim um distanciamento do lugar de origem – o que
equivale a uma permanência na fronteira.
• Se, como vimos, 71% dos entrevistados não pretende
permanecer em Parauapebas definitivamente, 92% deles,
por outro lado, não pretende retornar a seu lugar de
origem.
26. Práticas culturais da fronteira amazônica
• Que se faz em Parauapebas nas horas e dias de
folga e nas férias, como atividade de lazer?
• As práticas de lazer fornecem um indicador
importante para a subjetividade. Perguntado se
integram algum grupo regular de amigos, apenas
11% dos entrevistados responderam que não.
28. Práticas culturais da fronteira amazônica
• O aceso à Internet, por sua vez, é ágil e fácil no
município. A freqüência média semanal de acesso
dos entrevistados é significativa: 53% acessam
diariamente a Internet, contra 34% que afirmam
acessá-la de 2 a 3 vezes por semana e 8% que
afirma um acesso semanal.
29. • Apenas dois entrevistados (5% do universo)
acessam a Internet apenas ocasionalmente.
Todos, no entanto, possuem email e mais de
70% possuem contas nos serviços MSN e
Orkut. Em acréscimo, seis entrevistados
possuem fotologs, cinco possuem blogs e
um deles possui um website pessoal.
30. Práticas culturais da fronteira amazônica
• Em relação ao uso da televisão aberta,
percebemos que 54% dos entrevistados
afirmam assistir a uma média diária de 2 a 3
horas da programação, enquanto 32%
assistem a menos de duas horas diárias e
14% assistem a mais de três horas diárias.
31. Práticas culturais da fronteira amazônica
• Por outro lado, há uma grande quantidade de
locadoras de filmes no município. Em relação à
freqüência no consumo de filmes (DVDs e vídeo-
cassetes), 42% dos entrevistados afirmaram locar
ao menos um filme por semana, enquanto 39%
loca, em média, de 2 a 3 filmes e 16% loca mais
de três filmes. Apenas 3% dos entrevistados não
costumam locar filmes regularmente.
32. Práticas culturais da fronteira amazônica
• Em contraposição, há a freqüência ao cinema. O único em
atividade no município fica no núcleo urbano de Carajás e
constitui um local de socialidade importante.
• Aparentemente, não é todo morador da cidade de
Parauapebas que se sente à vontade para subir a serra e
freqüentar o cinema. Essa tendência parece se refletir no
universo pesquisado, pois apenas 5 entrevistados, 11% do
total, afirma freqüentar o cinema semanalmente.
33. Práticas culturais da fronteira amazônica
• A freqüência quinzenal é sugerida por 11% dos
entrevistados e a freqüência mensal por 16%
deles.
• Os demais 60% dos entrevistados não freqüentam
o cinema do núcleo de Carajás ou o faz muito
esporadicamente.
34. Destino de ferias
Não sai 13%
Belém 20%
Outros 8%
São Luis 6% Litoral PA 6%
Nordeste 10%
Sudeste PA
18%
Redondezas
19%
35. Representações da fronteira amazônica:
método de coleta
• Indagamos, seqüencialmente as seguintes 3
questões:
– idependentemente do momento em que o entrevistado
se estabelecera no município, sobre como era a
Parauapebas de quando lá chegou;
– sobre o que mudara na cidade, no tempo presente, em
relação a como ela era quando lá chegou e, porfim,
– como imagina Parauapebas em de trinta anos.
36. • Solicitamos respostas livres e sem
elementos-estímulo e inventariamos,
depois, os diversos campos semânticos
constituídos em cada uma dessas três
perguntas.
37. A primeira questão: Temporalidade da
fronteira amazônica.
• A primeira questão tendeu a evocar um espaço social
crítico, perigoso e confuso. Algumas poucas vezes,
também idílico, associado ao mito de uma floresta
amazônica virgem e bela.
38. A primeira questão: Temporalidade da
fronteira amazônica.
• Do total das respostas, inventariando a
soma dos signos utilizados para descrever
“como era Parauapebas quando lá se
estabeleceu”, percebemos que 81% delas
expressavam uma idéia negativa sobre o
espaço-tempo evocado, enquanto que
apenas 15% expressavam uma idéia
positiva.
39. A primeira questão: Temporalidade da
fronteira amazônica.
Quanto aos entrevistados que se
estabeleceram mais recentemente no
município, eles tenderam a fornecer,
naturalmente, respostas indiferente a essa
questão, somando 4% das idéias referidas.
40. Representações da fronteira amazônica:
resultados (representações negativas)
• O que foi percebido de negativo nesse espaço-
tempo?
– Observamos que, de um total de 90 imagens
empregadas pelos entrevistados para descrever
negativamente essa Parauapebas fixada enquanto uma
imagem de fronteira, 52 imagens ressaltavam as
questões infra-estruturais do lugar e 38 evocavam
impressões subjetivas de caos e insegurança.
41. Representações da fronteira amazônica:
resultados (representações negativas sobre a
infra-estrutura)
• Dentre as questões referentes à infra-estrutura – ou
melhor, à falta dela – 15 destacaram a ausência de
pavimentação e os efeitos decorrentes, 10
mencionaram a ausência de saneamento, 7 a
ausência de energia elétrica e 4 a carência de
equipamentos educativos e de lazer
42. Representações da fronteira amazônica:
resultados (representações negativas sobre
caos e insegurança)
• A seu turno, dentre as imagens usadas na evocação das impressões de
caos e de insegurança, 19 mencionavam, com uma variedade
semântica aberta, plena de subjetividade, o aspecto urbano daquela
cidade de fronteira: “um povoado”, “vilarejo”, “pequena vila”, “vila
de zona rural”, “estágio inicial”, “praticamente não existia”, “em fase
de mobilização”, “ainda não era cidade”, “extremamente feia”, “um
lugar muito feio”, “empoeirada”, “conglomerado de barracos de
madeira distribuídos desordenadamente”, “casinhas”, “em processo de
construção”, “poucas ruas e muitas casas”, etc.
43. Outras imagens evocam diretamente a falta de
segurança:
“matavam gente todos os dias”, “altos índices de
violência”, “violenta”, “inóspita”, “muitos
bordéis”, “bebidas e prostitutas”, “covil de ratos”,
“sem segurança” e “o trem trazia centenas de
desesperados”.
44. • Outro grupo de imagens evocou o perfil da população
nessa fronteira em mutação – um perfil já entrevisto nas
referências sobre a falta de segurança, mas, de qualquer
forma, mais específicos no que tange à descrição do tipo
mais comumente descrito como o homem da fronteira e os
aspectos populacionais de Parauapebas: “poucos
habitantes”, “pouco habitada”, “muita prostituição”,
“pobreza”, “lotado de pessoas boas e ruins”, “híbrido
cultural”, “famílias pobres”.
45. Representações da fronteira amazônica: resultados
(representações positivas)
• As respostas positivas tenderam a evocar uma floresta
amazônica ainda idílica, vislumbrada fugidiamente e
rapidamente perdida nas duas décadas de história da
cidade.
46. Representações da fronteira amazônica: resultados
(representações positivas)
• Assim, as imagens que descreviam um espaço-tempo
positivo, no começo da vivência do indivíduo entrevistado
no lugar, referia Parauapebas como “pacata”, “pequena”,
“porém os rios eram limpos”, “com grande expectativa de
crescimento”, “população bem menor”, “comércio
crescente”, “população menor”, “não havia especulação
imobiliária”, “mais tranqüila” e mesmo “corria mais
dinheiro”.
47. A segunda questão: A temporalidade
relativa da fronteira
• Quando projetamos a transformação do espaço de
Parauapebas entre o momento de chegada do
entrevistado e o momento presente, encontramos,
da mesma maneira, uma descrição intensa do
processo de fronteirização.
48. A segunda questão: A temporalidade relativa
da fronteira
• O presente se constitui como um antípoda
do passado.
• Por oposição às 90 diferentes imagens
usadas para descrever os aspectos negativos
de Parauapebas no passado, tem-se agora 64
imagens positivas.
49. • Por sua vez, contra as 17 imagens positivas do passado,
tem-se novas 41 imagens negativas usadas para representar
o presente do município.
• Em meio às 64 imagens positivas usadas pelos
entrevistados para descrever as transformações sofridas
pela cidade, a grande maioria aponta aspectos objetivos do
progresso urbano, referentes quase todos à superação dos
problemas apontados nas respostas à questão anterior.
Assim é que, por exemplo, contra a memória da falta de
pavimentação e de saneamento, aponta-se, no presente,
grandes progressos nessas áreas. Contra as idéias de
“vilarejo” e “povoado”, assinala-se, com orgulho, a
expansão territorial e da malha urbanizada e,
curiosamente, de maneira muito recorrente, usa-se a
expressão “criação de novos bairros” para referir a essa
expansão.
50. A terceira questão: O projeto da
fronteira
• As respostas à terceira questão, referentes a “como
imagina Parauapebas em 30 anos”, parece
completar a representação sobre a história da
fronteira como um ciclo mítico, marcado pelo
destino de uma história que volta ao ponto de
partida.
• Isso porque o futuro é representado por meio de
uma espécie de fábula de triunfo e morte: nenhum
dos entrevistados duvida do crescimento
assombroso que Parauapebas terá em trinta anos.
51. • A percepção positiva está presente em 36% do
total das respostas, enquanto que a percepção
negativa se encontra em 64% delas.
• O futuro descrito positivamente, respostas
subjetivas e objetivas misturadas, sugere,
principalmente, a “melhoria da infra-estrutura
urbana” (61% das respostas positivas), enquanto
21% sugerem o desenvolvimento social e 19% o
desenvolvimento industrial.
52. Crise ecologica
Desorganização
6%
urbana
Caos social 21%
21%
Crise infra- Desemprego
estrutura 14%
12% Excesso
Criminalidade populacional
12% 14%
53. • As representações do futuro da cidade de
Parauapebas parecem construir essa significação
contraditória: que dizer de um lugar que era
“ruim”, ficou “bom” mas que tornará a ficar
“ruim”, no futuro?
• Há uma coesão no espaço-tempo do passado-
presente-futuro da fronteira.
• A fronteira é, apesar de tudo, um espaço moral.
Isso resulta dela ser, sempre, em qualquer cenário
histórico, um experimento social, um laboratório
de limites e conexões.
54. Síntese de resultados: Observação sobre a
temporalidade da narrativa e da representação
• Mesmo sabendo que, materialmente, o momento de
chegada ao município foi diferente entre os diversos
entrevistados, eles parecem partilhar uma experiência
temporal comum, disposta na duração dos processos
sociais e na percepção historicamente constituída e
sedimentada que, em última análise, compõe a própria
experiência geracional desses indivíduos.
• De certa maneira, todos eles são pioneiros, ainda que
alguns o tenham sido involuntariamente, da fronteira
amazônica.
55. Síntese de resultados: Observação sobre a
temporalidade da narrativa e da representação
• Vista de um espaço social contíguo, mas – aparentemente
– consolidado, como Belém, a fronteira amazônica é o
território do caos, do vazio, do condenável. Porém, vista a
partir de sua própria experiência histórica, a fronteira
amazônica é um espaço de laboratório, de ensaio.
• A experiência geracional de fazer parte da fronteira
amazônica conforma, no horizonte dessas dinâmicas e
contradições, um feixe de representações sociais cuja idéia
central nos parece ser a de “missão”. Ser jovem e
universitário em Parauapebas, em 2006, parece sugerir que
se tem um compromisso geracional.
56. Síntese de resultados: Observações sobre o
vitalismo da fronteira.
• As respostas coletadas indicam uma experiência
geracional com muitos canais de socialidade:
• Em primeiro lugar, quanto à solidificação de redes
de contato e solidariedade, demonstradas na
coesão das respostas sobre as práticas de lazer.
57. Síntese de resultados: Observações sobre o
vitalismo da fronteira.
• Em segundo lugar, quanto aos indícios de consolidação da
estrutura populacional, indicados quando se percebe que os
jovens universitários entrevistados, segunda geração, em
sua maioria, dos migrantes desbravadores da fronteira
amazônica mais recente, tendem a se considerar
amazônidas, efetivamente, procurando estabelecer
conexões com outras experiências sociais ditas
“tradicionais” e a construir laços de pertencimento a uma
generalidade regional que parece estar presente em Belém
e em outras áreas tradicionais, mas não plenamente na
fronteira.
58. Síntese de resultados: Observações sobre o
vitalismo da fronteira.
• Em terceiro lugar, enfim, quanto à percepção de
compromissos sociais que lhes cabem, na sua
especificidade de indivíduos da fronteira amazônica e,
particularmente, de habitantes do município de
Parauapebas, que centraliza as ações da Companhia Vale
do Rio Doce no Pará e que abriga a jazida de Carajás.
Aliás, a função da CVRD na vida econômica do município
é um dos aspectos centrais da percepção do espaço-tempo
dos seus habitantes.