O IMAGINÁRIO NO PROCESSO DE RACIALIZAÇÃO, ESCRAVIDÃO/ABOLIÇÃO (1880 – 1900)
Mulher na sociedade brasileira
1. A ASCENSÃO DA MULHER NO MEIO SOCIAL
Desde os primórdios da humanidade, a mulher vem sendo considerada um ser
inferior ao homem, submisso e dependente de seus cuidados; o “sexo frágil”. A própria
Igreja Católica, refirindo-se à Bíblia, coloca a primeira mulher, “Eva”, como advinda de
uma costela do Adão ( primeiro homem): marca de inferioridade, onde a mulher vem após
a aparição do homem.
Durante longa data nada fizemos: não questionamos, não agimos, não exigimos.
Somente consideramo-nos reles incapazes, inferiores à inteligência lógico-matemática dos
homens, sem condições de sobrevivência senão à companhia do pai, do irmão, do marido,
ou de qualquer outro representante do “sexo forte”. A mulher então deixaria de existir
como um ser pensante,
para ser apenas um ‘grande útero’. Historicamente é um erro fazer esse tipo de
afirmação. Se remontarmos a Pré-História veremos que o papel representado
pela mulher era tão ou mais importante que o do homem, já que cabia a ela a
tarefa da coleta dos alimentos. Foi a mulher a responsável pela Revolução
Agrícola; e, portanto, do fim da dependência total do Homem da natureza.
(Professora Mestra Miriam Munhoz Fernandes: palestra ‘ O papel da mulher na
sociedade brasileira’)
No Brasil, assim que Portugal tomou posse de nossas terras, a mulher européia vinda
de lá teve mais liberdade em relação às mulheres na Europa; valorizadas porque eram
minoria. As mulheres de classe baixa eram mais “donas de seus narizes”: tinham que
trabalhar para seu próprio sustento, podiam escolher seus parceiros, e separar-se deles
quando bem entendessem. Tudo isso se devia a não presença da Igreja; o que tornava a
sociedade mais flexível.
Em 1530, quando os lusitanos resolveram definir a posse das terras brasileiras,
trouxeram a Igreja, a fim de catequizar a sociedade e impor uma nova conduta às mulheres;
para que ela fosse incluída no novo regimento (tipicamente europeu).
Foi-lhe atribuído o papel de dona-de-casa, onde deveria aprender a se comportar
diante de outrem, como se vestir e para onde olhar (normalmente para o chão). Se não
2. geravam filhos podiam ser devolvidas (como um produto estragado), às suas famílias, onde
seriam confinadas em casa sofrendo humilhações constrangedoras, ou mandadas para um
convento ou hospício. Quando não se enquadravam nessas determinações ou se eram
pobres, encaminhavam-se aos prostíbulos, “casa das mulheres de vida ‘fácil’”. Segundo
Saint-Hilaire, a mulher brasileira era vista com tanto desprezo, que a sua posição poderia
ser comparada a de um cão.
(...) Cercado de escravos, o brasileiro habitua-se a não ver senão escravos entre
os seres sobre (sic) os quais tem superioridade, seja pela força (sic), seja pela
inteligência. A mulher é, muitas vezes (sic), a primeira escrava da casa, o cão é o
último. (SAINT-HILAIRE, Viagem à província de São Paulo e resumo das
viagens ao Brasil, província cisplatina e missões do Paraguai, p. 137-8).
Com a chegada da Família Real portuguesa, no Rio de Janeiro em 1807, algumas
condutas aparentes na colônia foram mudadas, uma vez que muitos costumes relacionados
à mulher foram conservados. O processo de urbanização fez com que as mulheres da alta
classe freqüentassem festas, teatros, possibilitando um maior contato social.
Aos poucos, a mulher sai da domesticidade e integra-se finalmente na sociedade,
a princípio como escritora ou professora. Em fins do século XIX, o Brasil já
possuíam mulheres que sabiam ler e escrever, limitando-se, no entanto, à esfera
medíocre do romance francês. Uma grande mudança ocorre com o surgimento de
Nísia Floresta, uma feminista que escandalizou muitas das jovens senhoras
brasileiras acostumadas ao simples afrancesamento de sua cultura. O Padre
Lopes Gama muitas vezes levantou a voz contra as feministas, acusando-as de
serem terríveis pecadoras. Para ele, a mulher deveria somente se preocupar com
a administração de sua casa. (Gilberto Freyre. Sobrados e mucambos:
decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. p. 109-110.)
Com a Revolução Industrial, no século XVIII, os industriários passaram a ir em
busca de mercados consumidores. Sendo assim, a Inglaterra exigiu a abolição da
escravatura brasileira, que se findou no ano de 1850. A mulher negra adquiriu um novo
espaço, mas sua posição era inferior a do homem negro. O ex-escravo passou a ser
considerado um cidadão tendo o direito de voto, enquanto as mulheres (negras e brancas)
permaneciam sem esse direito.
3. No século XX, o mundo foi marcado com grandes guerras e grandes conquistas para
o campo feminino. No dia 24 de fevereiro de 1932, o presidente Getúlio Vargas, instituiu
que a partir daquela data, as mulheres brasileiras (depois de anos de reivindicações e
discussões), teriam o direito de votar e se candidatar para cargos no executivo e no
legislativo.
Na década de 60, o mundo foi tomado por manifestações que tiveram a participação
de nomes que ficaram para a história: Marilena Chauí (brasileira e petista), Jane Fonda
(atriz americana) e Betty Friedan (escritora americana). Esse grande movimento foi
denominado feminismo e sem dúvida foi deslanche para uma nova liberdade de “ir e
vir”das mulheres.
Desde então a mulher tem maior presença nas universidades, tem direito ao divórcio,
tem maior efetivação no mercado de trabalho, e o mais importante: adquiriu um maior
respeito no meio social, embora ainda exista um grande preconceito.
A mulher atual é filha, mãe, amiga, dona-de-casa, esposa, profissional. Até mesmo
no mercado de trabalho, a mulher é mais cobrada que o homem, exigindo-se dela curso
universitário, pós-graduação, conhecimento de idiomas, noções de informática e Internet.
A última observação a ser feita é a de a mulher estar passando a ser reconhecida pela
sociedade e, sobretudo por ela mesma. Procurando questionar, agir, exigir e não se redimir
às ações do homem. Somos juízas, médicas, engenheiras, ou tudo o mais procuramos ser.
Demonstrando assim que a inteligência é uma característica HUMANA e não somente do
homem.