O documento discute a aplicação de modelos de administração e gerenciamento na gestão de hospitais e como esses programas afetam as organizações de saúde. Identifica elementos que podem contribuir para o sucesso ou fracasso dos programas de qualidade e como eles podem melhorar a gestão hospitalar. Também aborda a importância do ensino de administração e gerenciamento nos cursos de enfermagem.
1. Cassiana Turíbio Amaral1
Jairo Falcucci Beraldo2 Leonel Dangelo Queiroz Saraiva3
Edicássia Rodrigues de Morais Cardoso4
Neste artigo discute-se a administração e o gerenciamento e sua aplicabilidade na gestão e
administração como modelo nos paradigmas do enfermeiro enquanto gestor e administrador,
abordando o movimento da qualidade no contexto histórico e as conseqüências da
implementação destes programas para as organizações de saúde. Identificam-se, com base
nas características histórico-estruturais das organizações hospitalares e dos conceitos e
técnicas dos programas de qualidade, elementos que podem contribuir para seu sucesso ou
fracasso, como forma de desenvolver uma visão crítica e delimitar melhor o alcance dos
programas no incremento gerencial destas organizações.
Palavras-chave: enfermagem, novos modelos gerenciais e administrativos.
This article discusses the administration and management and its applicability in the
management and administration as a model in the paradigms of the nurse as manager and
administrator, addressing the quality movement in historical context and the consequences of
implementing these programs for healthcare organizations. It identifies, based on historical and
structural characteristics of hospitals and the concepts and techniques of quality programs,
elements that may contribute to its success or failure as a way to develop a critical view and to
delimit the scope of the programs in increasing management of these organizations.
Key words: nursing, new managerial and administrative models.
4 Coordenadora e Docente do curso de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás –
FESGO, Bacharel
1 Discente do curso de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás-FESGO; 2 Discente
do curso de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás-FESGO; 3 Discente do curso
de Enfermagem da Faculdade Estácio de Sá de Goiás-FESGO; em Enfermagem UFG, Pós-
Graduada em Docência Universitária UFG, Mestre em Ciências da Religião PUC/GO.
Observa-se nas últimas décadas, em vários países, uma mobilização em torno da aplicação de
novas técnicas de ensino para aprimorar os programas de qualidade nas organizações
hospitalares, com o objetivo de incrementar sua administração e seu gerenciamento para
melhorar a eficiência destes serviços (Camacho, 1998).
Dentro deste contexto, desenvolve-se no Brasil, já há alguns anos, instrumentos oficiais de
avaliação da performance das organizações hospitalares do Sistema Único de Saúde - SUS,
utilizando-se um conjunto de critérios de ensino para que acadêmicos utilizem destes
conhecimentos e façam com que os hospitais preencham, a partir de padrões
2. preestabelecidos, tendo por base a aplicação de conceitos e técnicas da qualidade
administrativa e gerencial (Quinto Neto, 2000). Fenômeno semelhante pode ser observado nos
hospitais da rede privada suplementar, que fazem uso de certificações proferidas por
organizações avaliadoras de reconhecimento internacional como diferencial de mercado,
demonstrando uma crescente preocupação com a qualidade de gerenciamento e
administração no âmbito de unidades de saúde e prestadoras de serviços de saúde por parte
da enfermagem.
Conforme Costa (1996), atualmente, a adoção dos programas de qualidade no setor saúde
está fortemente relacionada ao crescimento dos custos da assistência hospitalar, quando
comparados ao gasto total em saúde. Nos últimos anos a agenda mundial de reforma do setor
saúde adota um conjunto de ações com o objetivo de reduzir os custos da assistência à saúde
dentro de uma política de atenção administrada bastante discutida entre acadêmicos da área
da saúde, principalmente na Enfermagem.
Neste sentido, faz-se necessário uma ocorrência contumaz das disciplinas Gestão e
Administração de Enfermagem, para que os hospitais passem a ter um melhor gerenciamento
através de programas de qualidade.
Analisar novos modelos gerenciais e administrativos no contexto hospitalar e curricular do
enfermeiro e a compreensão das disciplinas de Administração e Gestão aplicadas à
Enfermagem atribuídas para enfermeiros que atuarão como gerentes ou chefes de
enfermagem e relacionar o conhecimento adquirido nas disciplinas e a práticas vivenciadas
pelo acadêmico, como Administração e Gestão Aplicadas à Enfermagem.
Dentre o conjunto de disciplinas, tem-se percebido uma articulação importante que diz respeito
à inserção das disciplinas de Administração e Gestão no currículo de graduação em
Enfermagem, tendo como pano de fundo o processo histórico de desenvolvimento das políticas
públicas desde o início do século. É sabido que as políticas sanitárias do início do século
estavam voltadas para o "controle" de doenças que ameaçavam a manutenção da força de
trabalho e consequentemente a expansão das atividades econômicas capitalistas. Esse
"controle" visava superar setorialmente as ameaças advindas do adoecer em massa, omitindo
a análise da natureza das relações sociais que determinavam os processos de
morbimortalidade (COSTA, 1985).
Conforme salienta MENDES (1994) neste século o sistema de saúde brasileiro transitou, do
sanitarismo campanhista para o modelo médico-assitencial privativista, até chegar, nos anos
80, ao projeto neoliberal. Fica evidente que ao longo das diferentes décadas a evolução das
políticas norteadoras do setor saúde no Brasil sofrem influência direta das políticas públicas
contencionistas, sendo que a formação de recursos humanos na saúde vai se dando à reboque
e não de modo prospectivo. Fica evidente, também, ao final da década de 60, a instauração de
um modelo assistencial orientado para a acumulação de capital, traduzido pela tecnificação dos
atos médicos, enfatizando a assistência hospitalar, a divisão técnica e social do trabalho, com
tendência à especialização, fragmentação do processo assistencial e
3. expansão de indústrias de medicamentos, instrumentais e equipamentos
recursos humanos como materiais, físicos e financeiros (ROCHA, 1985, p.167)
Nesse processo vai se dando a mercantilização e expansão da medicina privada, dos
convênios celebrados pela previdência com os hospitais, clínicas e laboratórios, direcionando a
forma de pagamento por unidade de serviço. Nesse contexto a administração e a gestão na
enfermagem exerciam o papel preponderante de controle dos recursos para a assistência,
tanto no aspecto de
Esse enfoque foi sustentado pelas teorias de administração, que mesmo introduzindo a
dimensão das relações humanas como importante no contexto do trabalho, o faz de modo
utilitarista. Com o movimento da reforma sanitária que culmina na perspectiva de
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), vem à tona os paradoxos dos modelos
assistenciais que norteiam os diferentes projetos de intervenção em saúde. De acordo com os
princípios e diretrizes do novo sistema proposto, a questão da gerência de serviços de saúde
começa a ser rediscutida no sentido de viabilizar a articulação dos diferentes níveis de
assistência na busca de soluções.
Assim o planejamento, a organização e o gerenciamento dos serviços de saúde, tanto
hospitalares quanto de unidades básicas ou especializadas devem ter como eixo norteador a
assistência humanizada. Nesse sentido o modelo clínico de assistência é importante, mas não
é suficiente. A partir desse referencial, passa-se a repensar o ensino da administração e gestão
de enfermagem, que vinha se mantendo predominantemente no enfoque intra-hospitalar.
Diante das mudanças acima expostas, considera-se que os tradicionais modelos de gestão aos
quais se vinha utilizando, não mais respondem às demandas presentes no nosso contexto de
saúde.
Assim, é necessário o início de um processo de reformulação de conteúdos da disciplina
Administração e Gestão de Enfermagem, tanto no ensino de graduação como na
Pós- Graduação.
A reorganização dos serviços de saúde baseadas no pensamento sanitário vêm levando à
reformulação dos conteúdos, criando novos cursos de gestão e planejamento de sistemas de
saúde, dando surgimento a um novo especialista:
“o administrador, profissional que deverá dominar tanto os tradicionais conhecimentos de
saúde, como a habilidade para gerenciar, planejar e organizar os serviços de saúde na busca
de uma maior capacidade de resolver problemas da área, lidando com todo o complexo de
determinantes desses processos
Competências específicas para preparar enfermeiros para o exercício da administração /
gestão em enfermagem /saúde: 1. Planejamento e organização de serviços de
enfermagem/saúde 2. Gerência de serviços de enfermagem/saúde 3. Gestão do trabalho em
enfermagem/saúde
4. 4. Planejamento e gestão financeira 5. Gestão de recursos físicos e materiais 6. Gestão da
informação em enfermagem/saúde 7. Desenvolvimento de políticas e planificação de propostas
de atenção à enfermagem /saúde 8. Gestão do processo de cuidar em enfermagem 9.
Elaboração de estratégias de avaliação, controle, auditoria e acreditação de serviços de
saúde/enfermagem
10. Coordenação da educação em serviço
Segundo GOMES (1990), a historicidade da inserção da disciplina Administração e Gestão no
currículo de Enfermagem inicia-se conforme a partir do fim do século XIX, na Escola
Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras , com o Decreto n.° 791 de 1890. Os determinantes
de sua criação foram perdurar a idéia de que o preparo dos acadêmicos de enfermagem
destinava-se apenas ao atendimento do paciente. No entanto, com a reinauguração em 1905 e
dispondo de um quadro de professores já devidamente reorganizado, em termos de recursos
humanos, administrativos e gerenciais, elaborou-se um currículo mais adequado ao ensino de
enfermagem no Brasil, constituído pelas seguintes disciplinas:
anatomia e fisiologia elementares; pequena farmácia e administração de medicamentos;
curativas e pequenas cirurgias; higiene oral e tratamento dos pacientes; cuidados e tratamento
dos pacientes; práticas administrativas, gerenciais e disciplinares.
Na década de 20, com a implantação do modelo Nightingale na Escola de
Enfermagem do Departamento Nacional de Saúde Pública, atual Anna Nery, a formação dos
enfermeiros voltou-se para saúde pública, preservando-se a disciplina Administração, embora
com o enfoque hospitalar. Em 1949 passa a ser regulado pela Lei n.° 775/49, regulamentada
pelo Decreto n.° 27.426/49 que dispõe sobre o currículo dos cursos e as condições de
preparação de enfermeiros, estipulando a duração de quatro anos e a exigência de conclusão
do curso colegial, sendo esse currículo uma adaptação do "Curriculum Guide", norteamericano
de 1937, onde foi incluída a disciplina Princípios de Administração Sanitária. Em 1961, com a
Lei n.° 2.604/5, regulamentada pelo Decreto n.° 50.387/ 61, sobre o exercício da enfermagem,
dá-se ao enfermeiro o poder de mando em relação aos auxiliares e atendentes de enfermagem
e aos cuidados de enfermagem.(BRASIL, 1984)
Nesse momento, dá-se a passagem definitiva dos cursos de enfermagem para o nível superior,
em obediência ao disposto na Lei n° 2.995/56. A seguir, o Conselho Federal de
Educação baixou o Parecer n.° 271/62 que fixou o currículo mínimo e determinou a duração de
3 anos para o Curso de Enfermagem. Foi nesta reestruturação, como relatou CARVALHO
(1991), que a disciplina Administração passou a integrar as especializações especificadas
neste currículo. Em 1972 foi aprovado o Parecer n.° 163/72, como consequência da reforma
universitária, com a carga horária de 2500 horas, onde o número de disciplinas de
Administração elevou-se para cinco, uma vez que foi incorporada nas habilitações:
Enfermagem Obstétrica; Enfermagem Médico-Cirúrgico e Enfermagem de Saúde Pública.
5. No ano de 1986 foi aprovada a nova lei do exercício profissional em enfermagem, Lei n.°
7.498/86, cujo conteúdo evidenciou a importância do ensino da disciplina Administração
aplicada à Enfermagem na formação do profissional, uma vez que, segundo seu enunciado, é
prerrogativa do enfermeiro, entre outras atividades, a de planejar, organizar, coordenar,
orientar e avaliar os serviços de assistência de enfermagem, bem como participar dos
programas de treinamento e aprimoramento do pessoal de saúde, particularmente dos
programas de educação continuada.
Em 1994, foi aprovada a Portaria n.° 1.721/94, que regulamenta atualmente o ensino dos
Cursos de Graduação em Enfermagem, compreendendo uma carga horária de 3500 horas,
com duração mínima de 4 anos, onde a disciplina Administração em Enfermagem passou a
abranger 15% (525 horas) da carga horária total do curso, evidenciando o reconhecimento da
sua importância para a formação do enfermeiro.
AS TEORIAS DE TAYLOR E FAYOL
estabelecidas
Ao resgatar o ensino da disciplina Administração aplicada à Enfermagem, Leite (1994) relata
em sua tese de doutorado, que inicialmente pautava-se nas teorias de Taylor e Fayol,
definindo-se a administração, para os acadêmicos, como instrumento de organização e
racionalização do trabalho, cabendo aos enfermeiros, portanto planejar, dirigir, controlar e
organizar as atividades da equipe de enfermagem, visando o cumprimento das tarefas
Assim os objetivos enunciados eram de que os acadêmicos fossem capazes de planejar e
coordenar o trabalho em equipe, de orientar os funcionários, de elaborar normas, rotinas e
procedimentos, e tomar decisões. É um ensino idealizado, dissociado da realidade, que
dificulta a reflexão, por parte dos acadêmicos, sobre a prática vivenciada nas unidades de
estágio, o que, posteriormente, é reiterado na atuação profissional. A partir de 1980, ocorreram
fatos marcantes para o desenvolvimento destas disciplinas, uma vez que tiveram sua carga
ampliada de 345 horas para 540 horas, evidenciando o quanto os docentes a consideram
importante para a formação do enfermeiro. Foi nesse período que os acadêmicos começaram
um processo de discussão, onde se avaliam negativamente a disciplina tanto em relação ao
conteúdo que estava sendo ministrado quanto ao relacionamento professoracadêmico.
Em função destes acontecimentos, iniciou-se um processo de discussões e questionamentos,
buscando a reestruturação da disciplina, com a participação de acadêmicos e enfermeiros de
campo. Como resultado foi-se evidenciando, como bem Ciampone (1987) relatou na sua
dissertação de mestrado, o quanto o ensino e a prática da função administrativa seguiam os
pressupostos da administração tradicional onde, na enfermagem, os enfermeiros ditavam
regras cabendo ao pessoal auxiliar executá-las. Ainda como decorrências destas discussões,
reflete-se sobre qual era o marco conceitual que se busca para a disciplina, considerando:
O educando como elemento ativo, dotado de potencialidade e capacidade para prover
mudanças, capaz de agir de forma consciente e reflexiva; o docente como elemento capaz de
proporcionar aos acadêmicos condições que o desenvolvam em um processo onde o
acadêmico e o docente estão inseridos num contexto mais amplo, que é a sociedade
6. contextualizada nos seus aspectos econômico-político-social, onde se desenvolve a
assistência à
Passa-se, portanto, a compreender o processo educacional influenciado pelos determinantes
individuais, organizacionais e político-sociais onde está inserido. Outro fato importante a ser
ressaltado é que, até então, a bibliografia que era utilizada para ministrar os conteúdos
específicos de administração e gestão advinha sempre de livros escritos por administradores
e/ou psicólogos, e na área especifica de enfermagem eram utilizadas monografias, teses e
livros norte-americanos. Decide-se, então, escrever um livro sobre
Administração em Enfermagem (KURCGANT et al, 1991) abordando o conteúdo programático
que hoje é ministrado nas disciplinas. A elaboração desse livro constituiu-se num momento
importante porque levou a analisar o ensino, refletindo sobre “o que” e “o como” direcionar o
conteúdo abordado junto aos acadêmicos. Escrevê-lo, deu a oportunidade de refletir sobre a
prática da enfermagem à luz de diferentes enfoques administrativos.
Dando continuidade ao processo reflexivo da avaliação sobre o ensino da disciplina
Administração e Gestão aplicadas à Enfermagem, nos anos 90, os docentes iniciaram estudos
pesquisas para melhor compreensão da sua prática. Assim se dá a publicação de CIAMPONE
et al (1993) que apresentou como estava sendo desenvolvido o ensino da disciplina em
questão; os de KURCGANT et al (1994 e 1994a) que objetivaram conhecer as opiniões dos
alunos sobre a referida disciplina, ao inicio e ao término do bloco teórico; a tese de doutorado
de LEITE (1994) que desvelou a concepção dos acadêmicos sobre esta disciplina; a tese de
doutorado de TAKAHASHI (1994) cujo objetivo foi o de identificar os critérios que os
acadêmicos consideraram na escolha da profissão e as expectativas desses acadêmicos
quanto à sua formação profissional; e o trabalho de GAIDZINSKI et al (1995) que buscou
revelar como os egressos aos Cursos de Graduação em Enfermagem percebem a influência
da disciplina na sua prática profissional. KURCGANT et al (1994 e 1994a) mostraram que os
acadêmicos ao chegarem para cursar a disciplina perceberam a administração e a gestão
dentro das abordagens clássicas e cientificas de Taylor e Fayol, enfocando o "polo"
organização e não o "polo" trabalhador. As falas revelaram que os estudantes, consideraram a
administração e gestão aplicadas à enfermagem como exercício da burocracia, associado à
ineficiência administrativa.
Porém, ao término do bloco teórico, modificaram essa percepção quando relataram ser a
função administrativa um papel que o enfermeiro desempenha no exercício profissional,
percebendo o enfermeiro como um elemento responsável pelas propostas de desenvolvimento
de pessoal e pela melhoria da qualidade da assistência prestada. LEITE (1994) verificou que
os acadêmicos apresentavam dúvidas em relação ao significado da função administrativa,
tendo dificuldade em relacioná-la com a função assistencial, provavelmente porque esta é a
diretriz da formação durante os Cursos de Graduação em Enfermagem, onde se valoriza o
cuidado individualizado. Ainda este desvelou que, embora os docentes, por meio dos objetivos
e conteúdos, vêm buscando contemplar a compreensão da função administrativa como
instrumento de mudança da prática de enfermagem, as falas dos acadêmicos mostraram, ao
7. contrário, que eles acabam aceitando passivamente que os enfermeiros desenvolvam suas
atividades de, modo funcionalista, centrado na tarefa, tendo o controle, a disciplina, a ordem e
a hierarquia como premissas básicas na gerência das equipes de enfermagem. O que se
concluiu da análise do discurso dos acadêmicos no final da disciplina é que questionam, mas
aceitam esse modo de "ser enfermeiro", desvelando a influência dos enfermeiros assistenciais
na compreensão do significado da função administrativa. Também, o trabalho de GAIDZINSKI
et al(1995) realizado a partir dos relatos de um grupo de enfermeiros egressos revelou que os
mesmos consideram a referida disciplina como de extrema importância por ter oferecido
segurança e desenvolvimento de uma atitude reflexiva, fatores que auxiliaram a enfrentar
situações de trabalho, diferenciando-os em relação aos colegas formados por instituições que
não oferecem as disciplinas. Os conteúdos abordados pelas disciplinas relativos às questões
de relacionamento e de desenvolvimento pessoal no trabalho são referidos como suficientes,
entretanto, necessitando de uma abordagem mais ampla por ser essa habilidade mais difícil de
ser desenvolvida na prática da enfermagem. Ainda, a função administrativa é referida como
tendo dois significados: um relacionado à burocracia tendo como objetivo o controle, a
manutenção e a ordem dos recursos da unidade e, outro relacionado à administração e gestão
do cuidado de enfermagem. Este último significado foi considerado como o único processo de
trabalho que o enfermeiro gostaria de exercer. Nestes dois trabalhos, ficou também
evidenciado a necessidade de mudanças nos Cursos de Graduação em Enfermagem,
principalmente na estrutura da grade curricular, para que administração, gestão e assistência
se integrem em todos os momentos da formação do acadêmico.
Os Cursos de Enfermagem apontam que esta disciplina deve ser ministrada desde o início do
curso, instrumentalizando as demais, para a formação da identidade profissional pois,
possibilita que os discentes tenham a oportunidade de perceber que as atividades
desenvolvidas pelos enfermeiros estão voltadas para o processo de administração e
gerenciamento e não só para o processo do cuidado do paciente. Cabe ressaltar, que
paralelamente às essas modificações que ocorreram durante a década de 1980 e nos
primeiros anos da década de 1990, em relação à disciplina de Administração e Gestão aplicada
à
Enfermagem, também ocorriam no processo de reorientação curricular de muitas instituições.
Isso implica, então, em rever os paradigmas, a tecnologia educacional e principalmente,
explicitar posições a serviço de uma sociedade mais justa, igualitária onde a saúde seja, de
fato, um direito do cidadão e um dever do Estado.
Segundo Octavian et al. (2003) a pesquisa bibliográfica consiste em levantamento bibliográfico
através de livros, visitas a web sites e outras fontes de dados. Assim sendo, quanto ao tipo de
pesquisa e procedimentos de coleta este estudo é classificado por revisão bibliográfica. Os
dados foram coletados a partir de livros e levantamento de produções científicas sobre
administração, processo gerencial de enfermagem e administração em enfermagem. As bases
também utilizadas foram livros e bancos de dados da SCIELO e LILACS, em artigos
produzidos entre 2001 e 2010 e teses de mestrado e doutorado entre 1987 e 2010. Os
descritores usados no levantamento de dados através dos bancos de dados foram as palavras:
8. ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM, GESTÃO DE ENFERMAGEM, MODELOS
GERENCIAIS E ADMINISTRATIVOS DE ENFERMAGEM.
Spagnol (2000) salienta que, apesar da mudança de paradigmas proposta pelas teorias
contemporâneas da administração, às quais estão pautadas na organização do trabalho em
equipe, redução das linhas hierárquicas e intensa comunicação horizontal, observa-se que, na
maioria das organizações, a enfermagem ainda reproduz nas suas relações a herança do estilo
tradicional de gerência. Assim, as relações hierárquicas são rígidas e o poder decisório ainda
está centrado na figura do enfermeiro “chefe” que dá as ordens aos seus “subordinados”. Este
por sua vez, parece que, na maioria das vezes, também mantém no imaginário a figura do
enfermeiro que se graduou somente para mandar e dar ordens de forma autoritária. Este estilo
de gerência adotado pela enfermagem foi descrito e criticado por vários autores como: Santos
(1986); Trevizan et al. (1991); Carrasco (1993); Collet et al. (1994); Ferraz (1995); Fávero
(1996); Bellato et al. (1997); Lima, M.A.D.S. (1998); Lima, R.C.D. (1998); Spagnol (2002), entre
outros, que defendem e apostam numa outra configuração para a gerência em enfermagem
nos serviços de saúde.
Ainda segundo Spagnol (2004), no cotidiano de trabalho estas relações rigidamente
hierarquizadas são, às vezes, reais quando determinados enfermeiros adotam uma postura
autoritária perante a equipe, mas em alguns momentos não passam de imagens e estereótipos
da figura deste profissional, que foram historicamente construídos ao longo do tempo e que
atualmente necessitam ser desconstruídos para se construir novas relações de trabalho na
saúde e na enfermagem. O contexto atual mostra a necessidade de se criar espaços coletivos
e democráticos nas organizações que permitam aos gerentes e trabalhadores analisar suas
relações de trabalho, explicitando e conduzindo os conflitos, tendo em vista a produção de
sujeitos em espaços coletivos organizados. Assim, o enfermeiro necessita compreender as
relações e as demandas do seu grupo de trabalho para juntos elaborarem, de forma
compartilhada, projetos terapêuticos que atendam às necessidades da população que
procuram os serviços de saúde. O enfermeiro, como coordenador da equipe de enfermagem, é
um profissional que necessita ter subsídios teóricos e vivências práticas para gerenciar a
assistência juntamente com sua equipe. Como gerente da assistência, este profissional deve
ser capaz de identificar, analisar e conduzir as relações de trabalho sem que estas interfiram
de forma negativa na assistência prestada aos clientes. Sendo assim, a função gerencial
desempenhada pelo enfermeiro nos serviços de saúde deve contemplar os aspectos
assistencial, pedagógico, técnico-científico e político, bem como aqueles que dizem respeito às
relações interpessoais,visando ao planejamento de uma assistência integral, prestada de forma
segura e livre de riscos, ao indivíduo, à família e à comunidade. Estes profissionais têm um
papel fundamental na produção de sujeitos sociais, em que os trabalhadores possam analisar e
refletir coletivamente o seu processo de trabalho, tendo em vista a prestação de uma
assistência de enfermagem de forma ética, digna e humanizada. Assim, para subsidiar
algumas reflexões acerca da gerência em enfermagem pode-se encontrar aporte teórico nas
obras relacionadas à temática da gestão em saúde, elaboradas principalmente pelos autores
Merhy & Onocko (1997), Cecílio (1997) e Campos (2000 b). Nesta perspectiva, é preciso
encontrar estratégias de intervenção que propiciem aos trabalhadores deixarem de ser
9. subordinados e passivos, os quais somente acatam as ordens dos seus superiores e deixam
de exercer o seu papel de sujeitos produtivos e criativos no desenvolvimento do trabalho. Além
disso, a formação destes profissionais, gerentes, deve possibilitar a aquisição de um referencial
teórico, de análise e de intervenção, que permita uma reflexão constante da sua prática
gerencial, do seu papel como coordenador da equipe de enfermagem e das relações sociais
inerentes ao ambiente de trabalho.
Por fim, um aspecto relevante para esta reflexão é a visão que Campos (1997a) tem da gestão
em saúde. Este autor propõe, a partir de novos conhecimentos e novas formas de agir, superar
o eixo central de todas as escolas de administração que buscam de diferentes maneiras reduzir
sujeitos humanos à condição de instrumentos dóceis aos objetivos da empresa, transformando-
os em insumos ou em objetos. Neste sentido, enfatiza que o desafio atual dos dirigentes está
pautado na diretriz de se “governar para produzir sujeitos .”