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1
Resumo: O estudo aborda a análise de cenários para a Copa do Mundo de 2014, a partir dos
rankings existentes, e faz um cruzamento com informações dos ambientes digitais, em especial
ferramentas de busca e avaliações de confiabilidade, bem como informações de gameficação em
crowdsourcing e mídias sociais, para analisar os possíveis desempenhos e os riscos de eliminação do
Brasil na Copa, com o objetivo de utilizar o evento esportivo como laboratório de testes e métricas de
avaliação de informações digitais e sua reusabilidade em outros teatros de operações.
Risco	
  para	
  o	
  Brasil	
   Análise	
  de	
  Cenários	
  
	
  
Ranking	
  Digital	
  
	
  1-­‐Argentina	
  	
   	
  1-­‐Inglaterra	
  	
  
	
  2-­‐Uruguai	
   	
  2-­‐EUA	
  	
  
	
  3-­‐Alemanha	
   	
  3-­‐Alemanha	
  
	
  4-­‐Espanha	
   	
  4-­‐Japão	
  
	
  5-­‐Holanda	
  
1) Histórico:
Semi1: X
Semi2: X
Brasil vence a Itália na
final
3) Confrontos digitais:
Semi1: X
Semi2: X
Inglaterra vence a
Alemanha na final
	
  5-­‐França	
  
	
  6-­‐França	
   	
  6-­‐Espanha	
  
	
  7-­‐Itália	
   	
  7-­‐Austrália	
  
	
  8-­‐México	
   	
  8-­‐Holanda	
  
	
  9-­‐Inglaterra	
   	
  9-­‐Itália	
  
	
  10-­‐Colômbia	
  
2) Rankings:
Semi1: X
Semi2: X
Alemanha vence a
Espanha na final
4) Séries randômicas:
Maiores semifinalistas
Brasil vence mais finais
	
  10-­‐Argentina	
  
1) PANORAMA INICIAL
Na era da “Big Data2
” e dos “cientistas de análise de dados3
”, em tempos de Copa do
Mundo, e considerando que 90% dos dados do mundo foram criados nos dois últimos anos,
surge a inevitável indagação: A atividade de análise de cenários pode gerar informações de
uso estratégico?
1
Doutor em Inteligência Aplicada, Pós-Doutor em Governo Eletrônico. Ex-Presidente da Associação Brasileira
de Empresas Estaduais de Processamento de Dados – Abep. Autor de mais de 200 artigos em eventos científicos
internacionais. 	
  www.informatik.uni-­‐trier.de/~ley/pers/hd/h/Hoeschl:Hugo_Cesar.html
2
“Big data is the term for a collection of data sets so large and complex that it becomes difficult to process using
on-hand database management tools or traditional data processing applications”.
http://en.wikipedia.org/wiki/Big_data
3
Barton, Dominic. “Uma era de transformação”, Estado de São Paulo, 09/01/2014
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-era-de--transformacao--,1116468,0.htm
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O cientista de análise de dados é aquele profissional cuja competência é criar pontes entre
T.I., dados, análises e a tomada de decisão, como afirmou Dominic Barton. São os membros
de uma classe nascente de tradutores de dados e informações. E existem alguns expoentes
dessa nova geração de pensadores que afirmam que a resposta para essa indagação inicial
é “sim”. Bases de dados, buscas e redes sociais são importantes fontes de informações.
Essa importância é crescente. A sociedade, em suas relações cruas, utiliza esse conjunto
de mídias, anarquicamente, como fator de decisão, conforme descrito em literaturas como
“O Poder das Redes Sociais” (Hunt), o “Efeito Facebook” (Kirkpatric), “Viral Loop”
(Penenberg), “Click” (Tancer), “The Search” (Battelle) e “The Signal and the Noise” (Silver).
Em especial Bill Tancer e Nate Silver são cientistas de análise de dados com denso
reconhecimento, e recentemente espantaram o mundo com suas capacidades preditivas. O
primeiro é aquele que acerta os resultados dos reality shows nos EUA. O segundo é aquele
que fazia previsões para jogos de beisebol, por hobby, e acabou acertando o resultado das
eleições americanas, em todos os estados, acertando inclusive o número de todos os
delegados. Fazem isso com base em métodos organizados. Ambos afirmam que esses
métodos de avaliação podem ser utilizados em ambientes variáveis, como mercado
financeiro, campeonatos de poker, aquecimento global, questões militares e políticas,
furacões ou terremotos, e várias outras aplicações. Surge uma nova pergunta: Isso pode ser
utilizado no futebol?
Bill Tancer4
começou a perceber que as buscas realizadas na internet dizem muito sobre os
acontecimentos da sociedade, e muitas vezes isso pode ter mais relevância e precisão do
que as tradicionais pesquisas de
opinião. Afirma que “o
comportamento na internet pode
revelar o motivo porque fazemos as
coisas que fazemos” e
autodenomina a sua atividade de
“inteligência competitiva on-line”.
Sustenta que “as perguntas que
fazemos aos mecanismos de
buscas e o que elas não dizem
sobre nós”, podem indicar dados
muito relevantes, e que é alto o
“potencial desses dados para
prever tendências e até mesmo
antecipar acontecimentos”. Através
desse gráfico mostrou a influência
direta da frequência de buscas na
internet por “receitas de peru
recheado” – linha azul - atingem o pico no dia de Ação de Graças (“Thanksgiving”, maior
feriado americano, em novembro), sendo que as buscas por “regimes para perder peso” –
linha vermelha – têm um crescimento acentuado no dia seguinte.
Nate Silver, por sua vez, afirma que seu livro5
trata de “informação, tecnologia e progresso
científico” e “sobre coisas que nos tornam mais inteligentes do que qualquer computador”, e
4
Tancer, Bill. Click: “O que milhões de pessoas estão fazendo on-line e por que isso é importante”.
5
Silver, Nate. “O sinal e o ruído: por que tantas previsões falham e outras não”.
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diz que “o início da revolução da tecnologia da informação não ocorreu com a invenção do
microchip, ocorreu, sim, com a invenção do tipo móvel para impressão”. Com isso o mago
das previsões metodológicas deixa claro, já no iníco da sua obra, que a organização do
conhecimento é a etapa mais importante no processo preditivo. Também esclarece que a
prática preditiva é mais comum em nossas vidas do que imaginamos: “A previsão é
indispensável às nossas vidas. Cada vez que escolhemos uma rota para o trabalho, que
decidimos se vamos sair de novo com aquela pessoa que conhecemos ou que reservamos
dinheiro para épocas de vacas magras estamos fazendo uma previsão sobre o futuro e
sobre como nossos planos afetarão as chances de um resultado favorável”. Afirma que
“esportes e jogos, por seguirem regras bem definidas, são ótimos laboratórios nos quais
testamos nossa capacidade de previsão. Ajudam-nos a entender melhor a aleatoriedade e a
incerteza e proporcionam insights sobre como transformar informações em conhecimento”.
Para isso, sua abordagem preferida é a bayesiana, na qual “os resultados dependem em
larga medida de um julgamento inicial de quem faz a previsão, seja ele baseado em
hipóteses já cientificamente comprovadas ou puro feeling”6
Analisando o cenário da Copa do Mundo
Agora vamos falar de Copa do Mundo de futebol. Provavelmente a final da Copa será a
maior evento televisivo e com maior audiência mundial no ano de 2014. Então, isso não é
brincadeira. Não está falando sério quem acredita que a Copa do Mundo não seja um
assunto sério. Ela será um grande laboratório vivo de análise de dados em tempo real, seja
pelo esporte em si, seja pelos demais acontecimentos a ele associados e pelo número de
nações envolvidas.
As principais perguntas são: Como as informações digitais podem influenciar nas análises
de cenários para a Copa do Mundo? Como a atividade de exame de cenários pode gerar
informações de uso estratégico para o futebol? No contexto da Copa, quais são as grandes
virtudes dos adversários mais perigosos do Brasil? Na final da Copa, quem estará lá e quem
vencerá? Se o Brasil for eliminado, quem pode fazer isso? Qual a influência do teatro de
operações digital sobre um evento esportivo em tempos de Graph Search, Social Authority,
Trends/Insights, PageRank e Social Media?
Qualquer tipo de previsão é algo muito difícil de ser realizado, e no futebol, em especial,
essa tarefa é ainda mais espinhosa, pois os deuses da bola gostam de brincar com a
racionalidade lógica da civilização contemporânea, e, não raro, pregam peças em todos os
analistas. Então serão utilizadas algumas metodologias que passaram por validações em
processos anteriores, como, por exemplo, no teste da votação internacional com a urna
digital via celular7
, e no sistema inteligente para o Conselho de Segurança da ONU8
, ou que
6
“Polindo a bola de cristal”, Luciano Sobral, http://www.amalgama.blog.br/06/2013/o-sinal-e-o-ruido-nate-
silver/
7
“Brasileiros realizam 1a
eleição por celulares com urna digital”. Portal Terra.
http://tecnologia.terra.com.br/brasileiros-realizam-1-eleicao-por-celulares-com-urna-
digital,d359887dc5aea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
8
“Sistema Brasileiro de Inteligência Artificial será apresentado na França”.
http://pdf.aminer.org/000/266/304/new_procedures_for_environment_licensing_with_artificial_intelligence_cip
pla.pdf, p. 97.
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foram validadas perante ambientes científicos internacionais9
. É o caso do mGov2,
plataforma de gestão de redes sociais10
, da qual esse trabalho é uma derivação direta.
Serão utlizadas também referências desenvolvidas em trabalhos anteriores, como o Soccer
Intelligence11
(palestra proferida na Carneggie Mellon University em Pittsburgh, 200312
), e a
9
“Brasileiros superam NASA e IBM em evento científico internacional”.
http://www.scribd.com/doc/17618325/Midia-Digital, pagina 142.
10
“Entre os melhores: Projeto usa redes sociais para discutir gestão pública”. Artigo na revista Wirelles Mundi
que descreve algumas das estratégias e metodologias da plataforma mGov2, após processo de validação em
concorrência pública perante a OEA-OUI.
http://www.wirelessmundi.inf.br/noticias-geral/456-aplicacao-permite-consultas-publicas-e-votacoes-pelo-
celular
11
“What is the Soccer Intelligence – SI ? The concept here called SI represents a knowledge structuring process,
involving its construction and discovery, its utilization and transmission, aiming at creating alternatives to
clearly visualize all the steps of the process and to extract precise conclusions, supported by information
technology. The SI objective is to increase the performance of new teams. The usage of specific knowledge in the
soccer area, besides other ones, has been the main factor to explain the great performance of Brazilian soccer
team in international tournaments. The World Cup history, for instance is mentioned highlighting the 2002
World Cup and the millennium final”.
http://www.i3g.org.br/editora/livros/ijurisselectedpapersbook.pdf p. 111.
12
“A idéia central do trabalho brasileiro consiste no fato de que um time de autômatos jamais terá condições de
enfrentar um time de humanos, em condições de igualdade, se não tiver profundos conhecimentos sobre a
tradição, o ambiente e a história do futebol, e propõe a RC2D como solução para esta questão, através da
análise do conhecimento empírico contido em documentos (estruturados e não-estruturados), bases de dados,
em notícias de jornais e revistas e também na memória viva de grandes especialistas. Os robôs precisarão saber
um pouco mais sobre conceitos como "cama de gato", "drible da vaca", "chuveirinho", "caneta", "chapéu",
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leitura tática para futebol de robôs realizada na Robocup de 200313
em Pádova, bem como o
estudo sobre a eliminação brasileira na Copa de 200614
.
Então é necessário consignar aqui uma ressalva, esse estudo, feito por prazer, não tem a
pretensão de fazer qualquer previsão em nível de prognóstico esportivo, mas sim de
analisar os cenários e extrair deles dados e conclusões que possam ter alguma utilidade.
Assim como se faz em ascenções a vulcões, primeiro vem uma análise do cenário
informacional, depois é necessário tratar com rigor os números e indicadores, e procurar
surpresas em todos os lugares, o tempo todo15
. E iniciamos exatamente fazendo o encaixe
conceitual com o modelo de Silver, para quem o conhecimento prévio e o feeling tem
importante papel nas previsões e análise de cenários, o que coloca o Brasil, “uma nação de
ténicos de futebol”, em vantagem sobre os demais nesse assunto.
Não por outra razão as linhas gráficas de histórico de buscas para “Brazil 2014” e “2014
"peixinho", "carrinho", "folha seca", "efeito", "tabelinha", "sarrafo", "catimba" e outros importantes conceitos
empíricos do futebol, muitos dos quais responsáveis pelo sucesso do Brasil nesse esporte. O trabalho, batizado
de Soccer Intelligence (ou Inteligência Futebolística) foi apresentado pela equipe brasileira no I Robocup
American Open Workshop, encontro científico realizado junto com as competições, no início do mês de maio, na
universidade Carnegie Mellon, e teve uma receptividade bastante positiva”.
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/21757-21758-1-PB.htm
13
“Na atividade de leitura tática, foram obtidas importantes informações sobre o comportamento dos times, a
exemplo do que acontece no futebol real, e também sobre o comportamento dos robôs”.
http://www.scribd.com/doc/17618325/Midia-Digital, p. 33.
14
“Brasil e França: Segredos e mistérios do futebol”, em anexo.
http://www.i3g.org.br/blog/2006/07/tecnologiaefutebol.html
15
A subida de vulcões é uma atividade radical de alto risco, e um bom treinamento de gestão estratégica de
indicadores. Se Você tiver alguma curiosidade, temos alguns vídeos no YouTube sobre isso:
http://www.youtube.com/watch?v=EONrwpCioWU
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FIFA World Cup” sejam praticamente coincidentes.
Seguindo essa lógica, pelos resultados anteriores, pela quantidade de pessoas no Brasil
que conquistaram títulos, pela desenvoltura do país em todas as modalidades do futebol,
por ser a sede, por ter estado em todas as Copas, por ser o maior campeão de todos os
tempos, e por ter conquistado de modo convincente a Copa das Confederações, o Brasil é
favorito, e propício a ser um bom objeto de análise de cenários.
O país tem a maior rede de coleta de informações sobre futebol, com jogadores e técnicos
espalhados pelo mundo. Como sempre, as vantagens podem virar desvantagens, e essa
rede também pode ser o caminho para que outras equipes possam obter informações. A
responsabilidade de jogar em casa pode pesar. Existem muitas manifestações e greves
programadas para o período da Copa. Será a primeira Copa fortemente influenciada pelas
redes sociais. Embora Facebook e Twitter já estivessem estabelecidos em 2010, não eram
tão capilarizados como são hoje. Além disso, outras ferramentas, como o emergente
WhatsApp e os ambientes TOR vão propiciar um forte fluxo informacional. A questão é: Até
que ponto isso pode ter algum tipo de influência nos acontecimentos dentro de campo. Pode
ser “nenhuma” ou “muita”. Também é fato que nenhum tipo de influência externa adiciona ou
subtrai qualidade técnica a um jogador, mas sem dúvida influencia no emocional, o que
pode fazer alguma diferença.
Insumos para análise de cenários
Para realizar essas análises, e formular hipóteses para as questões levantadas, serão
utilizadas as seguintes fontes de informação:
• Ranking histórico (FIFA);
• Prognósticos da bolsa de apostas (Londres);
• Ranking matemático (Chance de Gol/UOL);
• Ranking técnico (FIFA);
• Gameficação em crowdsourcing (Gamebased);
• Indicadores de confiabilidade digital (PageRank, TrustRank).
O trabalho se propõe aos seguintes objetivos:
-Analisar cenários derivados desses ranqueamentos;
-Modelar um cenário influenciado por informações digitais;
-Modelar um ambiente de variáveis capaz de gerar cenários passíveis de análise.
Para isso se buscará cruzar essas fontes com estatísticas, buscas na web e menções em
redes sociais. Em termos de futebol, existem estatísticas passivas (por exemplo, resultados
anteriores), e estatístias ativas (pico de velocidade de jogadores, altura média e isolada),
que estariam mais para um “atributo”, embora comportem tratamento como série histórica.
Vamos ver adiante que a França demonstrou exímia aptidão para usar isso a seu favor em
1998 e 2006, derrotando o Brasil em ambas as oportunidades. Estatísticas passivas tem
valor emocional. Estatísticas ativas tem potencial de geração de resultados.
Que tipo de fator “imponderável” pode acontecer? Provavelmente haverá um “time
surpresa”, podendo chegar às semifinais, como Coréia do Sul e Turquia em 2002, Croácia
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em 1998, ou a própria Holanda em 1974. De outro lado, alguém pode surpreender com um
bom futebol, como a Dinamarca em 1986, a Noruega em 1998, a Romênia em 1994, ou
Camarões em 1982.
No âmbito das estatísticas, altura e velocidade, por exemplo, podem ser fatores decisivos,
quando conjugados com um bom futebol, isto é, quando há equilíbrio de forças e um dos
times enxerga em algum ponto uma vantagem derivada desses ou de outros atributos. Ou
seja, se os times tiverem equilíbrio, a altura e a velocidade podem gerar uma vantagem
extra. Esses são os mais evidentes, existem outros. A cobrança de pênaltis também pode
ser um fator de coleta e uso de informações, com grande probabilidade. Porém, é um erro
utilizar esse tipo de critério como fundamento para a construção de um time, ou acreditar
que isoladamente pode gerar um time vitorioso, e a história demonstra isso. Romário e
Maradona sequer teriam iniciado suas carreiras no futebol se a altura fosse um critério
eliminatório, e, do outro lado, Peter Crouch (jogador inglês muito alto) seria o maior artilheiro
do mundo. Aliás, essa é uma das grandes magias do futebol, permitir que a capacidade, a
habilidade e a inteligência superem a pura força. Mesmo assim, todos vamos concordar, em
uma situação concreta, colocar Romário ou Maradona como marcador de Crouch em bolas
aéreas é quase um suicídio. E essa vai ser a Copa na qual atributos como velocidade e
altura terão a maior relevância de todos os tempos. Então precisamos saber a velocidade
dos jogadores. Velocidade média. Distância percorrida em cada jogo. Velocidade máxima. E
outros números. Mas como fazer isso?
Captação e gestão de informações
Se Você está pensando naquela prancheta na qual alguém fica anotando “tracinhos”, ou em
um cara “inteligente” com um laptop, sentado no banco de reservas anotando dados em
uma planilha, desculpe, mas Você está no século passado. A melhor forma de tratar essas
informações é uma analogia do que existe hoje nas corridas de Fórmula1. Geralmente as
transmissões televisivas mostram, durante as corridas, uma sala cheia de monitores, na
qual as pessoas estão observando diferentes atributos do que acontece no carro, dados
vitais sobre o piloto (batimentos, respiração), tempos de voltas e trechos da pista,
comportamento de outras equipes, e inclusive monitorando comunicações em mídias sociais
e informações na internet, ali mesmo, em tempo real. Essa é a famosa “central de comando
estratégico”, ou “situation room”, ou “centro de comando e controle”, ou “centro de gestão
integrada”, ou “centro de operações”, ou “centro integrado de gestão estratégica”, ou, como
chama a Nasa, “sala de controle de vôo”. O Superbowl, por exemplo, maior evento esportivo
dos EUA, já usa desde 2012 um Social Media Command Center, no qual os objetivos vão
desde a gestão das vagas de estacionamento até o monitoramento das marcas envolvidas
no evento.
O que estamos sugerindo aqui é um centro de operações com as seguintes funcionalidades:
25 pessoas, cada uma delas de olho nos jogadores em campo e nos três árbitros, com uma
câmera (ou mais de uma) focada em cada um deles. Um evento como a Copa do Mundo
justifica esse tipo de investimento. Essas pessoas, munidas de um back office com
softwares de inteligência, vão acompanhar, registrar e analisar, segundo a segundo, cada
uma das interações, movimentos e reações dos atores envolvidos no jogo. Não vai me dizer
que você ainda acredita que o time treina, entra em campo e vai “seguir as orientações do
professor”, e que isso vai dar certo?
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Imagens sobre Social Media Command Center
16
16
“Why Brands are Building NASA-style Mission Control Rooms For Social Media”
http://www.linkedin.com/today/post/article/20121027004951-2967511-why-brands-are-building-nasa-style-
mission-control-rooms-for-social-media, “Super Bowl XLVI Gets a Social Media Command Center”,
http://mashable.com/2012/01/21/super-bowl-xlvi-social-media/
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Agora, o mundo mudou, as coisas evoluíram, e esta Copa provavelmente será decidida
pelas informações, jogo a jogo. Esta será a “Copa das Informações”. Não são mais aquelas
informações do tipo “fulano jogou lá e sabe quem são os jogadores perigosos”, ou
“mandamos um olheiro assistir aos jogos”, isso são coisas da antiguidade, que ainda tem a
sua importância, mas é necessário subir um degrau na escala evolutiva, é necessário ter a
informação real time sobre cada movimento do jogo.
Esqueça a possibilidade de uma pessoa sozinha (um técnico na beira do gramado) fazer a
leitura do jogo com perfeição. Nenhum ser humano sozinho consegue enxergar tudo o que
está acontecendo ali dentro, naquele universo, nem mesmo os jogadores. Então, é
necessário que uma estrutura esteja especialmente preparada para realizar essa nobre
tarefa17
.
Nesse caso o técnico vai ter as melhores e mais rápidas informações, para decidir com
precisão. Você deve lembrar de várias situações nas quais fatos relevantes do jogo foram
revelados por imagens após o jogo. Daí aparece alguém na TV para dizer “se tivéssemos
visto aquilo, [o jogo] teria sido diferente”.
Desde o jogador que aceita água dos adversários, passando por erros de arbitragem,
detalhes pessoais, cacuetes (“quando cerra os dentes vai chutar”, “quando mostra a língua
vai saltar”), coisas que todo mundo que conhece de futebol e de comportamento humano
sabe que acontecem, e muitas vezes revelam e antecipam ações em campo.
Quanto valem essas informações? Saber o que o adversário vai tentar fazer, saber quem
está fadigado, saber como está a velocidade de pique (quem está decaindo, quem está
normal, quem está melhorando, em que parte do jogo), saber como está a impulsão, e
coisas desse tipo. Saber o que seus amigos e familiares estão tuitando (“ele parece
cansado”, “a dor de cabeça parece que não passou”). De um detalhe desses nasce o gol,
principalmente nesse futebol de hoje, competitivo ao extremo.
Com tudo que está sendo investido, em termos de estádios, aeroportos, estradas, prédios,
salários, transações e etc, não é crível que faltem recursos para uma coisa tão simples e
óbvia como essa. Não existe espaço para amadorismos em um evento desse porte. E, se o
Brasil não fizer isso, não tenha dúvidas, alguém fará. Se o Brasil perder a Copa, saiba
desde já, essa será a causa: o tratamento (ou falta dele) dos dados e informações. Então,
choque de informação, já. Ainda dá tempo, com folgas. Esse, portanto, é o primeiro passo,
coletar novas informações. Na sequência, é proveitoso analisar os dados já disponíveis.
2) OS RANKINGS
Então convém dar uma olhada nos rankings mais relevantes do futebol. O primeiro e mais
17
Um exemplo disso pode ser visto no vídeo “Web Situation Room 2.0”:
http://www.youtube.com/watch?v=6yJcywNfHN0
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importante de todos: O Ranking Histórico da Fifa18
.
Afinal de contas, todo o esforço de vencer uma Copa gira em torno desse objetivo: ser a
melhor equipe de todos os tempos.
É o ranking de realizações concretas, o mais importante de ser liderado. Brasil e Alemanha
atingirão a marca de 100 jogos em Copas do Mundo nesse ranqueamento, a Alemanha já
na sua partida de abertura, contra Portugal, e o Brasil no último jogo da primeira fase, contra
Camarões, em Brasília.
Atualmente o líder é o Brasil. Podemos perder este posto em 2014? É possível, mas pouco
provável.
Segundo Ranking: Bolsa de Apostas de Londres.
Será utilizada a estimativa feita pela Ladbrokers19
, a mais antiga e reconhecida casa de
apostas de Londres, em atividade desde 1902, e que possui 1.600 pontos de apostas
18
http://pt.fifa.com/worldfootball/statisticsandrecords/tournaments/worldcup/alltimerankings.html
19
http://sportsbeta.ladbrokes.com/worldcup
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espalhados pela Inglaterra, uma rede de coleta de informações muito capilarizada, dentro do
país que inventou o futebol. De acordo com o jornalista Marcelo Duarte (EspnBr), é a maior
casa de apostas do mundo. Vários especialistas apontam a Copa do Mundo como o ápice
das apostas esportivas. Estima-se algo em torno de 3 bilhões de dólares em apostas
envolvendo a Copa. Outros centros de apostas também tem suas estimativas, como a
Willian Hill e a OddsChecker. Ambas convergem para Brasil, Argentina, Alemanha,
Espanha e Bélgica, nessa ordem, com diferenças a partir do 6º lugar, alguns apontando a
França, outros a Colômbia, nessa posição.
Terceiro Ranking: Chance de Gol/Uol20
.
Esse ranqueamento será utilizado por utilizar critérios matemáticos, baseado em resultados
concretos, com fatores objetivos. Provavelmente o melhor ranking de critérios matemáticos
disponível, incluindo também alguns fatores de imponderabilidade.
Algumas informações são surpreendentes. A Colômbia e Chile em improváveis 3º e 6º
lugares respectivamente, com a primeira inclusive superando a Espanha, e com o Peru, que
20
http://chancedegol.uol.com.br/rksel.htm
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sequer vai à Copa, aparecendo na frente da Itália (em um modesto 20º lugar). Assim é a
matemática, e esse ranqueamento é de vital importância para o estudo aqui proposto, pelo
seu forte componente de racionalidade e clareza.
Quarto Ranking: Levantamento técnico da FIFA (Ranking FIFA21
).
21
http://www.fifa.com/worldranking/index.html
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Esse é o conhecido Ranking da Fifa, muito discutido e criticado no mundo do futebol, desde
que surgiu. Dispensa apresentações.
Quinto Ranking: Gameficação em regime de crowdsourcing22
.
Aqui surge um assunto tão polêmico quanto útil: as informações do mundo dos games
podem trazer dados úteis no mundo real? Vamos saber um pouco mais sobre isso após a
22
http://www.sofifa.com/en/14w/t/n
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Copa do Mundo. Segue o ranking do dia 18/01/2014, lembrando que é bastante dinâmico,
com alterações todas as semanas. Este ranking sera chamado de gamebased.
Para ajudar a entender a relevância de uma base de dados on-line, em movimento e
constantemente atualizada, convém olhar o seguinte texto:
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“A	
  cada	
  90	
  minutos,	
  tempo	
  que	
  dura	
  uma	
  partida	
  de	
  futebol	
  no	
  mundo	
  real,	
  jogadores	
  
do	
  game	
  "Fifa	
  14"	
  em	
  todo	
  o	
  mundo	
  marcam	
  991	
  mil	
  gols,	
  dão	
  3,66	
  milhões	
  de	
  chutes	
  
ao	
   gol	
   e	
   o	
   goleiro	
   defende	
   1,9	
   milhão	
   de	
   bolas	
   segundo	
   dados	
   sobre	
   a	
   franquia	
  
divulgados	
   pela	
   produtora	
   Electronic	
   Arts.	
   A	
   empresa	
   afirma	
   que	
   neste	
   tempo	
   são	
  
disputadas	
   459	
   mil	
   partidas	
   e	
   que	
   há	
   338	
   mil	
   vitórias.	
   Os	
   clubes	
   mais	
   populares	
   de	
  
"Fifa	
  14"	
  são	
  Real	
  Madrid,	
  com	
  717	
  mil	
  fãs,	
  seguido	
  pelo	
  Barcelona,	
  com	
  643	
  mil	
  fãs.	
  A	
  
lista	
  ainda	
  tem	
  Manchester	
  United	
  na	
  terceira	
  posição	
  com	
  631	
  mil	
  fãs;	
  Arsenal,	
  com	
  
598	
  mil	
  fãs;	
  e	
  Bayern	
  de	
  Munique,	
  com	
  381	
  mil	
  fãs.	
  
Entre	
   os	
   sete	
   jogadores	
   que	
   mais	
   marcam	
   gols	
   no	
   game	
   há	
   um	
   brasileiro.	
   Desde	
   o	
  
lançamento	
   de	
   "Fifa	
   14"	
   em	
   setembro	
   Neymar,	
   atacante	
   do	
   Barcelona	
   marcou	
   17,5	
  
milhões	
  de	
  gols.	
  Na	
  lista,	
  Cristiano	
  Ronaldo,	
  do	
  Real	
  Madrid	
  é	
  o	
  artilheiro	
  do	
  game	
  com	
  
35,2	
  milhões.	
  Karim	
  Benzema,	
  atacante	
  do	
  time	
  merengue,	
  está	
  na	
  segunda	
  posição	
  
com	
  26,7	
  milhões	
  de	
  gols;	
  Mario	
  Mandžukić,	
  atacante	
  do	
  Bayern	
  de	
  Munique	
  está	
  em	
  
terceiro	
  com	
  20,2	
  milhões	
  de	
  gols;	
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  argentino	
  Lionel	
  Messi,	
  do	
  Barça,	
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  na	
  quarta	
  
colocação,	
  na	
  frente	
  de	
  Neymar,	
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  19,4	
  milhões	
  de	
  gols	
  marcados.	
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  lista	
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  Robert	
  Lewandowski,	
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  Borussia	
  Dortmund,	
  com	
  17,2	
  milhões	
  de	
  gols	
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  Gareth	
  
Bale,	
  do	
  Real	
  Madrid	
  com	
  17,1	
  milhões	
  de	
  gols.	
  Real	
  Madrid	
  contra	
  Bayern	
  de	
  Munique	
  
é	
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  partida	
  mais	
  disputada	
  no	
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  realizada	
  mais	
  de	
  9,6	
  milhões	
  de	
  vezes.	
  O	
  time	
  
alemão	
  tem	
  40%	
  das	
  vitórias	
  neste	
  embate	
  contra	
  39%	
  do	
  time	
  espanhol.	
  O	
  clássico	
  
Real	
  contra	
  Barça	
  foi	
  disputado	
  mais	
  de	
  8,9	
  milhões	
  de	
  vezes	
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  tem	
  49%	
  das	
  vitórias	
  
para	
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  33%	
  para	
  o	
  Barcelona.	
  
A	
   Electronic	
   Arts	
   ainda	
   revelou	
   os	
   dez	
   jogadores	
   mais	
   vendidos	
   no	
   modo	
   Ultimate	
  
Team	
  de	
  "Fifa	
  14".	
  São	
  eles	
  (do	
  primeiro	
  ao	
  décimo	
  lugar):	
  Christian	
  Benteke.	
  Felipe	
  
Santana,	
  Ignazio	
  Abate,	
  Luiz	
  Gustavo,	
  Angelo	
  Ogbonna,	
  Laurent	
  Koscielny,	
  Eljero	
  Elia,	
  
Kevin	
  De	
  Bruyne;	
  Kieran	
  Gibbs	
  e	
  Pepe	
  Lima”.	
  
http://m.g1.globo.com/	
  
O que vamos saber agora é se todo esse vultuoso universo informacional dos games, um
ambiente vivo de computação distribuída e teste constante de modelos matemáticos, com
depuração de estatísticas e uma gigante engenharia do conhecimento e de captura e
representação de dados, se tudo isso pode refletir uma certa dose de realidade em termos
de um teatro de operações como é a Copa do Mundo.
Sexto Ranking: Organização da informação digital.
Todos os outros rankings foram coletados diretamente, prontos e acabados. Esse foi
construído especialmente para o estudo em curso. O curioso desse ranqueamento é que ele
não tem qualquer relação com os critérios técnicos do futebol ou com suas estatísticas.
Traduz o seguinte: o quanto a entidade organizadora do futebol dentro do respectivo pais é
eficiente em termos de organizar a informação digital, manter a transparência dos dados e
se comunicar com seu público interessado. Se isso for um critério capaz de influenciar o
resultado dentro de campo, então esse ranking vai ter relevância, e o seu melhor
termômetro será o desempenho da Inglaterra, pois é o único levantamento no qual ela
aparece liderando. Utilizaremos esse ranking por três razões: 1-Testar a incidência da
organização da informação digital; 2-Ele tem um conteúdo um pouco “zebral”, então vai
trazer um importante elemento de imponderabilidade justificada para os cenários a serem
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avaliados, em especial os cenários “3” e “4”, como se verá adiante; 3-Também será testado
um outro aspecto: o quanto o universo das redes sociais pode influenciar nos
acontecimentos esportivos. Sempre lembrando, se são 3 bilhões de dólares, somente em
apostas, significa que existem enormes interesses envolvidos em tudo isso. As suspeitas de
manipulações e arranjos rondam a Copa do Mundo. Registra-se aqui 3 casos: a) a estranha
derrota da Alemanha em 74; b) a elástica vitória da Argentina sobre o Peru em 78 e a
derrota da Brasil para a França em 1998. Independente da verdade sobre esses fatos, o que
se pergunta é o seguinte: na era das redes sociais e da vigilância absoluta, o que teria
acontecido? Vazariam informações? Agora vamos ter a oportunidade de experimentar isso
em tempo real.
Para a construção desse ranking, serão utilizadas duas informações: o Pagerank23
e o
Trustrank24
. O Pagerank por ser o principal algoritimo de organização da informação que o
Google utilizou durante muitos anos, e o grande responsável pelo seu crescimento. Mas o
Pagerank é pouco dinâmico, então ele será complementado pelo Trustrank, que é o ranking
de confiabilidade de uma página web. No gráfico que segue verificamos o comparativo entre
o Pagerank e o Trustrank da equipe do Brasil, onde se pode perceber o caráter dinâmico do
Trustrank. Juntos refletem um bom termômetro sobre o cenário de informações digitais de
uma determinada organização.
Aqui um exemplo de ambos os coeficientes, caso da Inglaterra (thefa.com) os quais,
conjugados, criam um indicador de confiabilidade digital:
23
“PageRank is an algorithm used by Google Search to rank websites in their search engine results”
http://en.wikipedia.org/wiki/PageRank
24
“TrustRank is a link analysis technique described in a paper by Stanford University and Yahoo! researchers
for semi-automatically separating useful webpages from spam”. http://en.wikipedia.org/wiki/TrustRank
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Somando o Pagerank e o Trustrank de todas as equipes, o ranking fica o seguinte:
Confiabilidade	
  Digital	
  
Posição	
  	
   Equipe	
  
1	
   	
  Inglaterra	
  
2	
   	
  EUA	
  
3	
   	
  Alemanha	
  
4	
   	
  Japão	
  
5	
   	
  França	
  
6	
   	
  Espanha	
  
7	
   	
  Austrália	
  
8	
   	
  Holanda	
  
9	
   	
  Itália	
  
10	
   	
  Argentina	
  
11	
   	
  	
  	
  Suíca	
  
12	
   	
  Brasil	
  
13	
   	
  Portugal	
  
14	
   	
  Rússia	
  
15	
   	
  Ucrânia	
  
16	
   	
  Coréia	
  do	
  Sul	
  
17	
   	
  Bélgica	
  
18	
   	
  Uruguai	
  
19	
   	
  Chile	
  
20	
   	
  Mexico	
  
Então, mesclar a informação “oficial exata”, a literalidade racional do stablishment, o
rigorismo informacional, com o informal, o beta, o descompromissado (mas inteligente) é o
1º passo para reduzir a margem de aleatoriedade em um evento como esse.
3) CENÁRIOS
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Colocadas as fontes de informação, vamos então aos cenários.
Primeiro cenário: Fácil e simples, basta aplicar, diretamente, o ranqueamento histórico
sobre o emparceiramento da Copa de 2014, considerando sempre que será vencedora a
equipe que tiver o melhor histórico absoluto. O resultado são as semifinais ideais entre
Brasil X Alemanha, e entre Itália X Argentina. O resultado final aqui é Brasil campeão,
vencendo a Itália. Claro, sabemos que não será assim tão simples, e esse primeiro cenário
tem uma finalidade: estabelecer um patamar lógico para servir de referência aos próximos
passos. De qualquer forma, é bom para o Brasil contar com a “lógica” a seu favor. Logo ela,
que gosta tanto de desaparecer dos gramados de vez em quando.
Segundo cenário: considerando esses seis rankings apresentados, foi feito um rating de
rankings, contextualizando-o com o emparceiramento da Copa de 2014, e o resultado é o
seguinte: Semi1: Brasil X Alemanha; Semi2: Espanha X Argentina. A Alemanha sairia
vencedora na final, contra a Espanha.
Perceba que esse ranking conjugado já conta com certos fatores de aleatoriedade, embora
sejam estáticos, pois a gameficação, o crowdsourcing e a organização das informações
digitais já estão exercendo aqui a sua influência. Mesmo assim o resultado é bastante
tradicional, e coincide os 4 primeiros lugares com a bolsa de apostas de Londres, embora
em ordem diversa.
A Alemanha como campeã nesse segudo cenário revela a sua principal característica, a
regularidade, pois ela se posiciona muito bem em todos os 6 rankings, embora não seja líder
em nenhum deles. Das apostas à matemática, passando pelos games e o pagerank, a
Alemanha está sempre entre os 3 primeiros (com exceção do ranking matemático do
Chance de gol/Uol, no qual aparece em 5º lugar). Porém, sabemos que a regularidade é um
fator que sofre impactos contundentes nos mundiais. De qualquer maneira, fica um
importante alerta sobre a consistência do selecionado alemão. Do outro lado, esse mesmo
ítem (regularidade e consistência) também revela a principal fragilidade do Brasil, que lidera
3 dos rankings, mas acabaria sucumbindo diante da Alemanha nesse segundo cenário, em
função do fraco desempenho no ranking digital e no ranking técnico da Fifa. Regularidade X
intensidade, a força de um é a fraqueza de outro.
Terceiro Cenário: Confrontos Digitais
Partindo dos dois últimos rankings (Gameficação/Crowdsourcing, Pagerank/Trustranking)
vamos construir uma simulação agora mais dinâmica, baseada na seguinte metodologia:
gerar um coeficiente com a soma dos rankings 5 e 6, adicionando o interesse histórico pelos
times através de buscas realizadas desde 2004 (Trends/Insights - valendo como critério de
pontuação os últimos números do período). Funciona assim: Brasil e Holanda entram em
campo para as oitavas. Brasil em ligeira vantagem pelos pontos já acumulados. Amplia o
placar com o histórico das buscas, e avança para as quartas de final. Então os números vão
ficando mais dinâmicos, e essa análise de cenário fica mais interessante na medida em que
os jogos vão se desenrolando, pois cada confronto tem números diferentes, dependendo
dos oponentes. O fato de fazer valer a série histórica faz com que o pico máximo alcançado
por um dos contendores seja o critério maximo (valendo 100), a partir do qual os demais
números serão gerados, o que influencia diretamente no último resultado da série,
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exatamente aquele que servirá como fonte dos números que serão adicionados aos
coeficientes anteriores. Os caminhos do Brasil seriam os seguintes (fase eliminatória): Nas
oitavas, contra a Holanda, o Brasil avançaria.
Nas quartas, contra a Itália, nova vitória brasileira.
Semi1, contra a Alemanha, “a porca torce o rabo”, e a equipe germânica avança,
beneficiada pela melhor pontuação nos ítens derivados dos rankings “5” e “6”.
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Seguindo com os demais jogos, temos nas Quartas2 o único jogo entre dois times de ponta
que tem Pagerank “7”, Inglaterra X Espanha.
Somando o coeficiente obtido anteriormente (Pagerank+Trustrank+Gamebased), agora com
o interesse histórico (Trends), o resultado é um empate. Cenário, então, para um desempate
(“prorrogação”). O primeiro critério de desempate é a média histórica dentro do Trends
(average). Os times estão empatados nisso, então é necessário um novo desempate
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(“pênaltis”). O segundo critério é o do Pagerank, isoladamente. Ambos tem a mesma
pontuação, o que conduz o confronto a um terceiro desempate, o que equivaleria a “pênaltis
com cobrancas alternadas”. O terceiro critério é o resultado final do período no Trends,
isoladamente. Nesse caso a Inglaterra venceria, avancando para a Semi2, contra a
Argentina, onde ocorreria nova vitória dos ingleses
Na Final se enfrentariam ingleses e alemães.
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Nos critérios prévios (Pagerank+Trustrank+Gamebased), a Alemanha entraria em
vantagem. No critério do confronto, porém, a Inglaterra iguala o jogo, seria um “empate no
tempo normal”. Prorrogação. O desempate é feito pela media histórica no Trends
(“average”). Novo empate. O critério seguinte é o número do Pagerank, isoladamente. A
Alemanha tem “6”. A Inglaterra tem “7”, venceria e seria a campeã do Mundo. Pela terceira
vez na história uma final de Copa seria decidida nos pênaltis. E, por coincidência, o
Pagerank, famoso algoritimo do Google, que diariamente seleciona milhões e milhões de
resultados de buscas na internet - provavelmente o algoritimo computacional mais acionado
na história da cultura digital - acaba sendo o fator de decisão nesse interessante desempate,
e a estrela de uma hipotética final digital de uma Copa do Mundo.
Inglaterra (www.thefa.com) Alemanha (www.dfb.de)
E com isso a Inglaterra seria campeã nesse cenário. Uma campeã pouco provável em
outros critérios. Aqui podemos ter uma das indagações mais interessantes desse estudo: se
a organização da cultura digital pode ter algum tipo de influência sobre o desempenho
esportivo, e, nesse caso, a Inglaterra, que obteve o melhor desempenho de todos os times
no critério de pontuação tripla (Pagerank+Trustrank+Gamebased), e um dos únicos 3 times
a ter Pagerank no valor de “7”, pode ser a grande surpresa da Copa de 2014. Essa pergunta
terá a sua resposta ao final da competição. Um bom desempenho da Inglaterra pode
significar que sim, uma melhor organização da cultura digital pode denotar mais intensidade
organizacional, melhor planejamento, maior engajamento, e se traduzir em resultados dentro
de campo, ou, pelo contrário, a Copa pode mostrar que isso é irrelevante em termos de
desempenho esportivo. Claro que essa suposição somente é possivel em se tratando de um
país que tem tradição de futebol, tem um campeonato organizado, clubes com destaque e
bons jogadores. Números não chutam a gol, e estatísticas não fazem a bola entrar. Métricas
não ensinam a jogar, driblar, chutar e cabecear. Mas ajudam muito a quem já sabe fazer
isso. Por isso essa posição do English Team é perigosa, e requer atenção especial. A título
de observação desses atributos digitais, convém também ficar de olho no desempenho das
zebras EUA e Japão, ambos com ótima pontuação nesse critério, para ver se desponta
alguma correlação entre os desempenhos, cada qual no seu nível de expectativa.
Quarto cenário: Acionamento randômico dos rankings.
Tomando como base as informações derivadas dos 6 rankings demonstrados, foi criada
uma matriz de probabilidades, com acionamento por um algoritimo randômico, que pode
selecionar algumas possibilidade com os seguintes atributos (por ordem de relevância): a) o
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ranking histórico da Fifa; b) os prognósticos da bolsa de Londres; c) o ranking técnico da
Fifa; d) o ranking da gameficação em crowdsourcing (Gamebased); e) o ranking matemático
do “Chance de Gol/UOL”; f) o ranking de informação digital; g) empates; h) espaço para
“zebras” (rankings da Fifa aplicados de modo invertido).
Para que esse tipo de análise de cenário tenha consistência, é necessária uma repetição
massiva, para extração de tendências e correlações. Por questões de tempo e custos
computacionais, não será possível fazer uma rodagem massiva. Mas, a título de exercício, o
modelo foi rodado algumas vezes. Esse número reduzido de extrações não tem valor
estatístico ainda, mas já nos mostra alguns detalhes interessantes. Funciona da seguinte
maneira: todas essas informações são inseridas dentro de um ambiente de simulação, no
qual acontece um acionamento randômico que vai indicar que tipo de critérios incidirá sobre
cada um dos jogos da tabela da Copa.
No primeiro acionamento, com um cenário isolado, já surgiram dados muito interessantes,
relatamos aqui algumas curiosidades: forte possibilidade de empates nos dois primeiros
jogos do Brasil, jogando-o para o segundo lugar na chave e antecipando o confronto com a
Espanha. Apesar do “susto”, as etapas seguintes mostram o time brasileiro passando pela
Espanha e pela Inglaterra, indo encontrar a Argentina na Semi2. Os números mostram
partidas emocionantes, com viradas e prorrogações. Na fase de classificação, chaves
equilibradas, com os principais favoritos confirmando suas classificações, com exceção da
Itália, sucumbindo no grupo da morte já na primeira fase. A Alemanha, no seu estilo,
passaria também com dois empates e uma vitória, mesmos números do Brasil, mas em uma
chave na qual isso ainda lhe daria o primeiro lugar frente a Portugal. A Alemanha avançaria
para a Semi1, depois de derrotar Bélgica e França. A Argentina, que necessitaria da
prorrogação para superar a Rússia, enfrentaria o Brasil na Semi2. Completa o quadro a
Holanda, que passaria por México e Colômbia. Na Semi1, o algoritimo randômico faz
prevalecer os critérios do ranking técnico da Fifa, dando vantagem à Alemanha. Na Semi2,
prevalecem os critérios históricos das Copas, e o Brasil avançaria, vencendo a Alemanha na
final, após um jogo duríssimo e com prorrogação, a qual teria como critério de desempate os
prognósticos da bolsa de Londres, que acabam favorecendo o Brasil (3/1, 1º lugar, contra
11/2, 2º lugar). Então a série começa bem para o Brasil. Mas essa primeira simulação
somente tem valor em nível de curiosidade, pois esse tipo de projeção só adquire
consistência depois de muitas séries históricas. De qualquer modo, é bom começar com um
susto e uma posterior dose de sorte, em especial no momento em que o critério de
preponderância apresentado pelo acionamento randômico seria o ranking técnico da Fifa, no
qual o Brasil é vulnerável (10º lugar). A sorte seria que exatamente nesse jogo (Quartas) o
adversário seria a Inglaterra (13º lugar no mesmo critério). Veja que interessante, passando
em 1º lugar nesse cenário o Brasil enfrentaria a Holanda e Uruguai, em sequência, países
diante dos quais o Brasil tem menos consistência no Ranking da Fifa, e, caso esse fosse o
critério, o selecionado brasileiro sucumbiria. Isso somente para demonstrar duas coisas
interessantes: 1-O modelo desenvolvido apresenta uma imponderabilidade estruturada; e 2-
Quando o aleatório aparece, no futebol, os cálculos desmoronam. Aqui temos uma situação
interessante: saber quando o imponderável é realmente imponderável, e quando ele pode
ser previsto, evitado ou contornado.
Cada vez que esse modelo é rodado, ele apresenta pequenas diferenças, não sendo
exatamente igual em nenhum dos acionamentos, então “cada caso é um caso”. Assim como
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os jogos reais, alguns deles, sabemos, se fossem repetidos provavelmente teriam
alterações de resultados. Depois de algumas séries de acionamentos, surgem algumas
tendências: apesar do susto inicial, a probabilidade de o Brasil passar em 1º lugar (grupos) é
consistente; A possibilidade de classificação do México é muito sólida; São reiteradas as
simulações nas quais a Espanha passa em 1º no seu grupo, assim como Colômbia, França,
Argentina e Alemanha. Essa tendência também se apresenta em relação à Rússia, algo um
pouco surpreendente (diante do ranking da Fifa e dos prognósticos da bolsa de Londres). O
grupo que apresenta maior vulnerabilidade ao randomicismo é o chamado “grupo da morte”,
mas que acaba revelando uma tendência que pode ser interessante para o Brasil, qual seja,
de o Uruguai acabar caindo diante de Inglaterra e Itália, um resultado um pouco
surpreendente, considerando que o Uruguai está na frente da Inglaterra nos rankigs da Fifa
e da bolsa de Londres e também no ranking matemático, mas nos cruzamentos de números,
ao longo de uma série histórica, esse resultado vai se repetindo. Nas quartas de final,
Alemanha X França é o confronto que mais vezes incide, mesmo com a alternância
randômica de critérios estruturados, sendo muito forte a tendência em favor da Alemanha
nesse caso; Outros confrontos aparecem com frequência e constância, como Brasil X
Inglaterra, Argentina X Rússia e Espanha X Itália, sendo que Brasil X Inglaterra é um dos
poucos que aparece em ambas as chaves (o que pode revelar algum tipo de “efeito
magnético” para esse confronto). Nas semifinais, as presenças mais constantes são de
Alemanha e Argentina, seguidos por Brasil e Espanha, porém em finais o Brasil tem alta
incidência de vitórias, a maior entre todos os competidores. As séries históricas também
apresentam uma tendência de que se o Brasil for eliminado isso aconteceria nas etapas
anteriores (oitavas ou quartas), sendo dificilmente derrotado em nível de semifinais ou finais.
Tudo isso, claro, são análises históricas de séries de números, e indicam somente
tendências.
Os deuses do futebol gostam de triturar números e prognósticos. Por exemplo, um dia
inspirado do CR7 pode reverter facilmente essa tendência de passar a Rússia contra
Portugal nas oitavas. Da mesma forma, um dia inspirado de Messi reverte essa tendência
de dificuldade para a Argentina na Semi2, em especial contra a Espanha. E tudo que os
brilhantes atacantes Uruguaios estão esperando é o apito inaugural do primeiro jogo para
iniciar a destruição dessa tendência estatística contextual de morrer na primeira fase. De
outro lado, a gameficação em massa acabou de apresentar a França como o ataque mais
forte de todas as equipes (em 18/01/2014), um fator que pode mudar essa tendência de
derrota nas quartas diante da Alemanha.
Resumo dos cenários:
• Primeiro cenário (histórico): Semi1, Brasil X Alemanha, Semi2, Itália X Argentina, o
Brasil seria campeão diante da Itália;
• Segundo cenário (rankings conjugados): Semi1, Brasil X Alemanha, Semi2, Espanha
X Argentina, com Alemanha vencendo a Espanha na final;
• Terceiro cenário (informações digitais e gameficação): Semi1, Brasil X Alemanha,
Semi2, Inglaterra X Argentina, com Inglaterra vencendo Alemanha na final (com
direito a prorrogação e pênaltis).
• Quarto cenário (series históricas): Alemanha e Argentina são os mais frequentes nas
semis, seguidos de Espanha e Brasil, e o Brasil é o time que vence mais finais.
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4. CAMINHOS DO BRASIL
Pensados e analisados esses cenários, vamos a um outro ponto: Qual seria o caminho mais
provável do Brasil durante a Copa?
Antes disso, uma ponderação sobre a Copa de 2014. Todos os campeões estarão
presentes, e será a Copa com o maior número de campeões. Conclusão transitória: será a
Copa com melhor nível qualitativo de todos os tempos, por ter todos os campeões em
campo. As ausências famosas ficam por conta de 3 vice-campeões: Suécia,
Tchecoslováquia e Hungria, sendo que os dois últimos foram 2 vezes vice. Bom para o
Brasil pois a Hungria é um dos poucos times que eliminou o Brasil em duas oportunidades, e
nunca perdeu para o Brasil em Copas. Além de duas vezes vice, ainda registra 3
campeonatos olímpicos. A Suécia, por sua vez, é a equipe que mais vezes enfrentou o
Brasil em Copas (7 vezes no total).
Poucas vezes um favorito foi tão favorito em uma competição internacional de alto nível
como o Brasil está sendo para a Copa de 2014. Em esporte de rendimento de alto nível,
talvez os casos do Basquete Fiba, no Pan e no Mundial de Indianapolis, onde os EUA (em
tese o melhor time) jogavam em casa e perderam em ambas as competições. Então o peso
do favoritismo pode ser mais negativo do que positivo. Sobre o fator casa, vale lembrar
alguns dados. Nas últimas 10 Copas, em 3 delas o time da casa ganhou (Alemanha,
Argentina e França). Em compensação, em 3 delas o time da casa favorito perdeu (times de
ponta como Espanha, Itália e Alemanha). Em quatro ocasiões o time da casa não estava na
lista dos favoritos (México, EUA, Coréia/Japão, África do Sul), e perdeu a Copa. O caso
curioso no qual o Copa da Itália foi vencida pela Alemanha, e a Copa da Alemanha foi
vencida pela Itália, uma espécie de “troca de mandos”. Então o fator casa não tem todo esse
peso, e no caso do Brasil tende a atrapalhar mais do que ajudar, principalmente nessa era
de redes sociais. Não podemos esquecer que existe um grande número de protestos,
greves, passeatas e manifestações que estão sendo agendados para o período da Copa,
muitos deles tendo a própria Copa como foco de descontentamento, e, dependendo do
andamento, isso pode ser um fator extra de stress e tensão, como aconteceu na Copa das
Confederações, o que pode acabar abalando o moral da equipe e dos jogadores. Se houver
um fato trágico, sem dúvida vai haver ofuscamento do foco desportivo.
Partindo da lógica histórica, o caminho do Brasil pode muito bem ser o seguinte (fases
eliminatórias, considerando ficar em 1o
lugar na fase classificatória): Holanda,
Uruguai/Inglaterra, Alemanha, para pegar na final o vencedor entre Espanha, Argentina e
Itália. Os caminhos anteriores do Brasil em Copas que venceu (últimos 4 jogos25
):
• 58: União Soviética, Pais de Gales, França, Suécia
• 62: Espanha, Inglaterra, Chile, Tchecoslováquia
• 70: Romênia, Peru, Uruguai, Itália
• 94: Holanda, EUA, Suécia, Itália
• 2002: Bélgica, Inglaterra, Turquia, Alemanha
Uma conclusão bastante efetiva: 2014 deve ser o caminho mais duro de todos os tempos,
para quem quer que seja o time campeão, em especial no caso do Brasil.
25
Somente nos caminhos de 94 e 2002 o quarto jogo já era eliminatório.
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Possibilidades de eliminação brasileira
Como exercício de aplicação de dados, que tal tentar esboçar uma resposta para a seguinte
pergunta: se o Brasil cair, diante de quem será?
Iniciamos por alguns fatores históricos, que tem sua relevância. Por exemplo, jamais um
time europeu venceu uma Copa em território americano. Fora da Europa, somente a
Espanha venceu na África. Assim, em tese, os melhores adversários brasileiros seriam os
times europeus. Desde 1970, o Brasil, quando não venceu, foi eliminado pela Holanda (2
vezes), França (3 vezes), Argentina (2 vezes) e Itália (1 vez). Sobre os monocampeões,
Espanha detém o melhor histórico no momento, e a França foi semifinalista em 50% das
Copas desde 1982. Sobre os times africanos, estarão relativamente confortáveis no Brasil, e
tendem a ter apoio popular, o que equivale a dizer que é a Copa com maior probabilidade de
um time africano subir ao pódio, ou chegar a uma final e vencer, fora do continente africano.
Ainda um outro aspecto, quantas vezes uma “zebra” ganhou a Copa? Resposta: zebra
absoluta, nunca. Em finais, zebras históricas aconteceram em 50, 54 e 58, embora em todas
elas eram equipes com plenas condições de atingir os resultados.
Ainda sobre dados históricos, vale lembrar que o Brasil perdeu apenas 15 vezes em Copas,
num total de 97 jogos. Empatou outras 15 vezes, e venceu 67. Um aproveitamento alto, o
melhor de todos os competidores. Poucos times tiveram o privilégio de derrotar o
selecionado Brasileiro. Aqueles que conseguiram foram os seguintes: Sérvia/Iugoslávia
(1930), Espanha (1934), Itália (1938 e 1982), Uruguai (1950), Hungria (1954 e 1966),
Portugal (1966), Holanda (1974 e 2010), Polônia (1974), Argentina (1990), França (1998 e
2006) e Noruega (1998). A esses resultados se somam mais dois: 1986, quando o resultado
foi um empate, mas a França eliminou o Brasil nos pênaltis, e 1978, quando a Argentina
empatou com o Brasil em 0X0, mas obteve classificação para a final pelo saldo de gols.
Diante disso, vamos dar uma olhada nos maiores candidatos a vencer e/ou eliminar o
Brasil na Copa, caso isso aconteça.
Argentina. Dentro de uma perspectiva de lógica histórica, a principal possibilidade é de que
a Argentina enfrente o Brasil somente na final. Vale lembrar a Copa de 1990, quando a
Argentina foi mal na primeira fase, e, quebrando a lógica inicial, enfrentou o Brasil nas
oitavas, avançando. A Argentina tem bom futebol, um campeonato competitivo, clubes
fortes. Os Argentinos são apaixonados por futebol, tanto ou mais do que os brasileiros. Suas
equipes sempre demonstram muita força emocional. Vai contar com apoio de uma boa
torcida, considerando a proximidade geográfica e a tradição de Argentinos virem ao Brasil26
,
e considerando muitos e muitos Argentinos que moram no Brasil (nível torcida), e também
muitos Argentinos que jogam ou jogaram no futebol brasileiro, e conhecem com
profundidade e detalhes os jogadores, os técnicos, os clubes e a Seleção do Brasil, suas
forças e fraquezas. Depois do Brasil, quem mais vai estar “em casa” é o time argentino. O
desempenho nas eliminatórias foi bastante consistente. Contra si tem o histórico das últimas
Copas, e a derrota na última Copa América. Tem uma ótima geração de jogadores com
sucesso no cenário internacional, incluindo o melhor jogador do mundo no momento
26	
  Existem 504 novos vôos já autorizados para o período da Copa (alem dos vôos normais), totalizando um
acréscimo de 89.856 novos assentos nas rotas Buenos Aires-Rio de Janeiro, conforme dados da Anac.	
  
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  27	
  	
  	
  
(Messi), e que costuma ter bons desempenhos em jogos contra o Brasil. Reúne as
condições para ser o adversário mais difícil e perigoso. Para isso, precisa confirmar seu
caminho, e, principalmente, superar a tendência probabilística de dificuldades em passar
pela Semi2.
Uruguai. No caso do Uruguai, o desmembramento original do território brasileiro traz um
componente adicional. No conjunto geral de condições e atributos, o Uruguai pode ser um
adversário ainda mais perigoso do que a Argentina. Seu histórico recente em competições
de ponta (Copa do Mundo e Copa América) foi muito bom. Seus jogadores de destaque
vivem bons momentos, possuem boa qualidade, habilidade, capacidade de improvisação,
bons conhecimentos. Vários deles tem contato estreito com o futebol brasileiro, e conhecem
muito bem suas forças e fraquezas. Existem pessoas da comunidade uruguaia agora, nesse
momento, pensando no que a sua equipe pode fazer para derrotar o Brasil caso venha a
existir o confronto. Contra si teve o decepcionante desempenho nas eliminatórias.
Considerando a lógica histórica, a maior probabilidade é de que Brasil e Uruguai se
enfrentem nas quartas de final. Para que isso aconteça, precisa confirmar seu caminho, e
passar pelo “grupo da morte”, superando as tendências probabilísticas que lhe são
desfavoráveis. Porém, se estiver ali, pode se beneficiar pela tendência probabilística que
apresenta a eliminação do Brasil antes das semifinais, o que pode significar um perigoso
encontro de tendências estatísticas, probabiísticas e bayesianas. Se esse jogo acontecer,
nas quartas, entram em campo os times, mas as teorias de análise de cenários entram
junto. De outro lado, se passar no grupo em 1o
lugar, encontraria o Brasil somente na final. É
o segundo adversário mais perigoso.
Nota: Uruguai e Argentina tem uma vantagem emocional. Todas as equipes vão tentar
evitar o Brasil. Uruguai e Argentina, ao contrario, querem jogar contra o Brasil. Sabem
despertar vulnarabilidades emocionais em equipes brasileiras. E tem a seu favor uma
vantagem estratégica: quando o Brasil joga com esses selecionados, emerge a “síndrome
do irmão mais velho”, qual seja, se ganhar é a obrigação, o caminho natural, e se ganhar de
muito ainda surge um sentimento de “prevalecimento”. Então, se ambos perderem, será o
natural, com o Brasil jogando em casa, o que baixa o nível de stress e responsabilidade
dessas duas equipes. Porém, se vencerem serão heróis. Isso motiva muito qualquer equipe,
e coloca em posição de conforto emocional. Por essa razão esses serão os dois principais
adversários, os mais temidos, e com maior possibilidade. Jogam contra o Brasil tudo o que
não conseguem jogar em outros jogos. Os conflitos de vizinhança, questões comerciais,
étnicas, culturais e históricas dão um saboroso tempero para essas rivalidades.
Espanha. Pelo histórico dos últimos anos, pelo seu desempenho nas últimas Eurocopas, na
ultima Copa, pelo nível do seu campeonato nacional, pela qualidade das duas equipes base
da seleção (Barcelona e Real), pelo ranking da Fifa, por ter vencido um Mundial fora do seu
continente, por ter jogadores acostumados a conviver com a vitória, pelo seu desempenho
nas eliminatórias, representa uma grande ameaça. Tem contra si um histórico desfavorável
contra o Brasil em Copas, e a desestabilizadora derrota na final da copa das confederacoes.
Dentro de uma perspectiva lógica, o confronto com o Brasil tende a ser na final, sendo um
dos poucos times com capacidade real de eliminar a Argentina, fato que se afirma nas
análises de séries históricas. Nas séries estatísticas e nos cenários analisados, porém, se
apresenta como um adversário com potencial inferior ao da Alemanha para uma possível
eliminação do Brasil. Por incrível que possa parecer, se apresenta com mais probabilidades
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de vencer a Copa do que de eliminar o Brasil, o que pode acontecer (vencer sem enfrentar o
Brasil). É o quarto adversário mais forte para o time brasileiro.
França. Vive um momento de relativa instabilidade, exatamente daqueles em que pode
emergir um grande desempenho em uma Copa. Desde 1982, a França foi semifinalista em
50% das Copas. A França eliminou o Brasil em 1986, 1998 e 2006. É o Pais que mais
eliminou o Brasil em Copas, em toda a história. Também venceu o Brasil em uma final
olímpica (84). Está vindo em silêncio, sem badalação, o que é muito perigoso. Seu ataque
acaba de receber a melhor avaliação no ranking de habilidade e força do game Fifa14 (em
18/01/2014). Costuma tratar bem os números, e sabe utilizar as vantagens estatísticas
contra o Brasil (texto em anexo, “Brasil e França: Segredos e mistérios do futebol”). Por
exemplo, em 2006 sabia que seu principal atacante – Henry – tinha vantagem em
velocidade final sobre os dois laterais do Brasil, e explorou isso para vencer o jogo. Em
1998, sabia da tendência a que Zidane, por não ser cabeceador, seria marcado pelo “6o
homem” da defesa aérea brasileira – Leonardo – e soube utilizar os números a seu favor.
Zidane, que quase nunca cabeceava, fez dois gols de cabeça na final da copa, fato que fala
por si. Considerando o lógica histórica, precisa superar a Alemanha (contra quem tem um
histórico negativo de eliminações), nas quartas, para enfrentar o Brasil na semifinal. Parece
ter com a Alemanha exatamente as dificuldades que o Brasil tem contra ela própria. França,
Alamanha e Brasil, em Copas, são como “pedra, papel e tesoura”. Porém, se a França
superar a Alemanha nas quartas, todas as sirenes soarão no quartel general do selecionado
brasileiro. É a sexta ameaça mais perigosa.
México. O atual campeão olímpico, por essa simples razão desponta como um time muito
perigoso. Vale lembrar a sequência de 84-86, quando a França venceu o Brasil na final da
Olimpíada e repetiu o feito na Copa do Mundo. Por outro lado, o México jamais jogou contra
outros times, por exemplo contra a Argentina, tudo aquilo que costuma jogar contra o Brasil,
o que parece denotar uma motivação extra. Das ameaças, é o único que pode enfrentar o
Brasil já na primeira fase, em um clima menos tenso, portanto pode arriscar mais nesse
confronto. Se obtiver sucesso, pode alterar o caminho natural do Brasil, ou mesmo eliminar,
dependendo dos demais resultados. Por exemplo, na situação de empate no primeiro jogo
(Croácia), uma derrota para o México praticamente significaria eliminação para o Brasil. O
México também pode voltar a enfrentar o Brasil mais adiante, desde que ambos se
classifiquem, o que vai lhe dar uma vantagem em relação aos demais adversários. Tende a
contar com as torcidas de Argentina e Uruguai quando jogar contra o Brasil. O que pode lhe
transformar em “4o
time da casa”. Tem contra si o fraco desempenho em Copas, incluindo
as duas que sediou. Em função do desempenho olímpico e dos últimos resultados contra o
Brasil, ocupa o oitavo posto na lista de ameaças.
Itália e Alemanha dispensam credenciais e apresentações, são fortes ameaças em
qualquer situação, e favoritos em qualquer competição na qual estejam presentes. Essas
duas seleções já viveram situações nas quais times medíocres fizeram grandes Copas, e
grandes times fizeram Copas medíocres. A Alemanha venceu a Copa da Itália. Alguns anos
depois, a Itália venceu a Copa da Alemanha. Porém, pelo histórico em Copas fora da
Europa, possuem um fator de redução de potencial. Apesar disso, a Alemanha apresenta
forte risco nas análises de cenários, vai até as semifinais em praticamente todas as
combinações, reúne forças oriundas de fatores diferentes e contrastantes, e apresenta uma
forte consistência. É a terceira força mais ameaçadora ao desempenho do Brasil, em um
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confronto que tende a acontecer na Semi1. O caso da Itália é diferente, pois está em baixa
nos principais rankings, e no critério matemático quase fica fora do grupo de análise. Nas
análises probabilísticas encontra muita dificuldade para chegar às semifinais. Mas, como
sabemos, tem uma incrível capacidade de crescer dentro da competição e esfacelar
prognósticos. Tenderia a enfrentar o Brasil na Final. É o sétimo potencial de ameaça.
Sobre a Holanda, que já eliminou o Brasil em duas oportunidades, possui 3 títulos de vice-
campeã, endureceu muito o jogo contra a Argentina em 1978, chegou a duas finais fora do
seu continente, e outros feitos. Seu time é bom, joga um bom futebol, competitivo e bonito,
ataca com potência e defende com eficiência. É o time europeu mais atípico e variável. Tem
tradição e força emocional para enfrentar e eliminar o Brasil, o que pode acontecer já nas
oitavas. Nesse caso, e considerando as variações probabilísticas, e a incômoda tendência
de que, caso aconteça uma eliminação do Brasil, ela seria mais provável antes das
semifinais, isso faz da Holanda o número 5 em fator de risco .
Dificilmente um time fora desse círculo pode eliminar o Brasil, porém vale lembrar a
eliminação da Argentina pela Romênia, e a eliminação da Alemanha pela Bulgária, e da
Itália pela Coréia, coisas que já aconteceram em Copas. Vale lembrar também que esse rol
não é o de candidatos ao título, mas sim o de maior risco de eliminação do Brasil.
Dependendo dos cruzamentos, Colômbia e Inglaterra também podem entrar nesse clube,
embora com menores chances. A Inglaterra é um caso interessante, pois vem tendo um
desempenho frágil nos principais rankings, mas em certos conjuntos de fatores apresenta
uma consistência que pode ser surpreendente. Porém, essa consistência parece estar mais
voltada a ganhar a Copa do que a eliminar o Brasil, e isso pode acontecer em termos de
probabilidades (vencer sem cruzar com o Brasil). Por outro lado, existem casos opostos, de
equipes que parecem reunir condições de complicar a vida do selecionado brasileiro, mas
estão demonstrando fragilidade diante de outros adversários, como, por exemplo, França e
Uruguai. A Inglaterra ocupa o posto de número 9, e a Colômbia (em função do ranking da
Fifa e da bolsa de Londres) fica com o 10º lugar, na lista de candidatos a eliminar o Brasil.
Dito isso, e considerando não somente o potencial isolado de cada equipe, mas também a
probabilidade do momento no qual o encontro pode acontecer27
o ranking fica assim:
Risco	
  para	
  o	
  Brasil	
  
1	
   	
  Argentina	
  
2	
   	
  Uruguai	
  
3	
   	
  Alemanha	
  
4	
   	
  Espanha	
  
5	
   	
  Holanda	
  
6	
   	
  França	
  
7	
   	
  Itália	
  
8	
   	
  México	
  
9	
   	
  Inglaterra	
  
10	
   	
  Colômbia	
  
27
Teoricamente, quem será enfrentado antes representa perigo mais iminente. A França, por exemplo, tem um
potencial de grande risco, baseado no histórico, mas o confronto pode não acontecer.
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Você pode estar se perguntando “onde estão os times africanos”, e pode ser dito que, em
termos de análise de condições objetivas as tendências estão desfavoráveis para Nigéria,
Camarões e Costa do Marfim, bem como Egito e Ghana. Mas as vezes tudo que os deuses
do futebol querem é exatamente triturar esse modelos lógicos, e para isso seria necessário
aparecer um time arrebatador como aquela Nigéria campeã Olímpica em 2000, que
esmigalhou Brasil e Argentina em sequência, ou o também campeão olímpico Camarões, ou
algo semelhante àquele Brasil de 1958, que poucos acreditavam ter qualquer possibilidade
de sucesso em território europeu. Por enquanto nenhum dos cenários aponta para essa
possibilidade. Seriam, claro, uma “zebra”.
Representar uma “zebra” em uma análise de cenário é uma tarefa de alta complexidade, por
um lado, ou, pelo outro, de extrema simplicidade. Temos uma fauna profícua circulando pela
história das Copas, sendo possível fazer grupos de classificações desses simpáticos
animais listrados, que acabaram se tornando o símbolo da aleatoriedade no futebol. Existem
basicamente 3 grupos: as “zebras domesticadas”; as “zebras selvagens”, e as “falsas
zebras”. O primeiro grupo é composto por aqueles casos nos quais “era possível, mas
pouco provável” (Bulgária X Alemanha, Romênia X Argentina, ambas em 1994, Alemanha X
Hungria em 54), onde, apesar de tudo, o time zebrado jogou um bom futebol e obteve
reconhecimento da sua vitória. O segundo grupo são aquele jogos que somente os loucos
acertariam, nos quais um time tem mais tradição, constrói melhores indicadores durante o
jogo, mas é derrotado (Espanha X Suíça, Brasil X Japão [Olimpíadas], Itália X Coréia do Sul,
Alemanha Ocidental X Alemanha Oriental). E o terceiro grupo são aqueles casos nos quais
a “zebra” não é o time de mais tradição, mas vem fazendo uma melhor competição e faz um
jogo superior, caso clássico de Croácia X Alemanha em 1998. Fica aqui registrada uma
homenagem respeitosa a elas, as “zebras”.
E para que não se diga que não foram pensadas nas zebras (embora todo o resto seja
“zebra” nesse caso), temos uma “zebra domesticada”, que seria a Bélgica, um quinto lugar
unânime entre as principais casas de apostas em Londres, e que se conseguir algo como
passar por Alemanha e França, pode eliminar o Brasil na Semi1, ou se eliminar Argentina e
Espanha/Itália poderia enfrentar o Brasil na final. E se vencer, daí sim haveria uma zebra
galopante e sorridente para abalar o stablishment do futebol mundial. As zebras estão ai
para isso, o que, no fundo, não deixa de ser um cruzamento de ideais socráticos com
algumas premissas freudianas, e um importante alerta contra critérios decisórios baseados
em estreita racionalidade.
5) OBSERVAÇÕES E CONCLUSÕES
Após esse breve exercício, necessário enfatizar as seguintes ressalvas:
• Análise de cenários não é previsão;
• O objetivo desse trabalho não é fazer previsões, mas sim avaliar cenários, extrair
informações e verificar onde, quando e como elas podem ser utilizadas em outros
ambientes;
• Especificamente testar os cases de como vão se comportar a gameficação em regime
de crowdsourcing e as leituras de cenários digitais, hipótese na qual as coisas se
invertem, ou seja, a Copa é mais um laboratório de estudos do que um objetivo de
análises;
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• O futebol é pródigo na concretização de imponderabilidades, popularmente conhecidas
como “zebras”, o que, no jargão científico, significa a destruição da racionalidade
convencionalmente estabelecida;
• Uma única pessoa, muito inspirada ou muita desastrada, pode colocar todas as
previsões no chão;
• Existe a possibilidade de “arranjos”, ou mesmo de erros técnicos nas arbitragens, e
quem disser que isso é impossível não vive nesse planeta;
• É muito mais fácil acertar antecipadamente o resultado de uma eleição do que prever o
resultado de uma Copa do Mundo, pois um fator técnico ocasional (positivo ou negativo)
pode contrariar todas as opiniões e prognósticos;
• O futebol vive dias de equilíbrio, lembrando que o Japão, por exemplo, já venceu o Brasil
em uma competição oficial, fato de pouca possibilidade e que fica como exemplo;
• Se o Brasil vier a sofrer uma eliminação na Copa de 2014, muito provavelmente o motivo
não vai ser técnico ou tático, vai ser a ausência de tratamento adequado de dados e
informações, pois esta será a Copa das Informações.
Necessário ainda destacar as cautelas identificadas por Silver: “Como podemos aplicar
julgamentos aos dados sem sucumbir às nossas tendenciosidades? Em que casos a
concorrência… melhora as previsões e em que casos pode piorá-las? Como conciliar a
necessidade de usar o passado como guia para reconhecer que o futuro pode ser
diferente?”
Sobre os cenários 1 a 4:
• A Argentina chega com facilidade na Semi2 em todas as simulações, porém em todas
elas encontra muitas dificuldades para avançar, em praticamente todos os critérios;
• A Alemanha elimina o Brasil na Semi1 em dois cenários, o que desperta a necessidade
de muita atenção, embora seja conhecida a dificuldade das seleções europeias quando
jogam longe de casa;
• O posicionamento da Inglaterra no sexto ranking (líder em confiabilidade digital) e no
terceiro cenário (venceria a Copa) despertam especial atenção para um time que está
sendo pouco considerado nas previsões tradicionais, incluindo os próprios prognósticos
da bolsa de apostas de Londres;
• O sexto ranking (confiabilidade digital) vai despertar especial atenção sobre eventual
relevância da cultura digital no impacto dos resultados esportivos, e convém uma
especial atenção ao desempenho da Inglaterra (e também EUA e Japão, na medida de
suas expectativas). Caso sejam surpreendentemente positivos, podem denotar uma
relação de causa e efeito (melhor organização digital gera melhor desempenho);
• Qualquer que seja o time campeão, deve enfrentar a caminho mais difícil de todos os
tempos, e essa conclusão parece ser irrefutável, em especial no caso do Brasil;
• Havendo uma eliminação brasileira, a tendência é de que ocorra antes da semifinal;
O caso aqui não é de aplicar modelos para “acertar” os resultados da Copa do Mundo, mas,
pelo contrário, utilizar a Copa do Mundo como um laboratório para testar e avaliar técnicas
de extração de informação, geração de inferências e, se possível, identificação de
conclusões e construção tecnológica de inteligência, podendo aplicar tais conhecimentos em
outros teatros de operações (Eleitoral, Militar, Econômico, Segurança, Aprendizado,
Processos de Cura, Desenvolvimento Tecnologico). A Copa será o maior laboratorio vivo de
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análise de dados da história, seja pelo jogo em si, seja pelos demais acontecimentos a ele
associados.
Especial atenção para o impacto da gameficação em regime de crowdsourcing e para a
organização do conhecimento digital (Pagerank, Trustrank, Midias Sociais, Trends/Insights)
e seus eventuais impactos na competição, e vice-versa.
Referências adicionais:
• http://www.ffu.org.ua
• http://www.fff.fr/
• http://www.dfb.de
• http://www.figc.it/
• http://www.thefa.com/
• http://www.belgianfootball.be/
• http://www.rfef.es/
• http://www.jfa.or.jp/
• http://www.rfs.ru/main/
• http://www.ussoccer.com/
• http://www.knvb.nl/
• http://www.fcf.com.co/
• http://www.kfa.or.kr/
• http://www.anfp.cl/
• http://www.football.ch/de/SFV.aspx
• http://www.epo.gr/Home.aspx?a_id=256
• http://www.footballaustralia.com.au/
• http://hns-cff.hr/
Quadro resumo:
Risco	
  para	
  o	
  Brasil	
   Análise	
  de	
  Cenários	
  
	
  
Ranking	
  Digital	
  
	
  Argentina	
  	
   	
  Inglaterra	
  	
  
	
  Uruguai	
   	
  EUA	
  	
  
	
  Alemanha	
   	
  Alemanha	
  
	
  Espanha	
   	
  Japão	
  
	
  Holanda	
  
1) Histórico:
Semi1: X
Semi2: X
Brasil vence a Itália na
final
3) Confrontos digitais:
Semi1: X
Semi2: X
Inglaterra vence a
Alemanha na final
	
  França	
  
	
  França	
   	
  Espanha	
  
	
  Itália	
   	
  Austrália	
  
	
  México	
   	
  Holanda	
  
	
  Inglaterra	
   	
  Itália	
  
	
  Colômbia	
  
2) Rankings:
Semi1: X
Semi2: X
Alemanha vence a
Espanha na final
4) Séries randômicas:
Maiores semifinalistas
Brasil vence mais finais
	
  Argentina	
  
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Anexo I – Texto publicado durante a Copa de 2006, sobre a eliminação do Brasil
http://www.i3g.org.br/blog/2006/07/tecnologiaefutebol.html
Informação,	
  Tecnologia	
  e	
  Soberania:	
  A	
  Trilogia	
  do	
  Poder	
  
Brasil	
  x	
  França:	
  segredos	
  e	
  mistérios	
  do	
  futebol.	
  
Por	
  Hugo	
  César	
  Hoesch,	
  Post	
  Doc	
  
	
  
	
  
	
  
O	
   processo	
   de	
   racionalização	
   que	
   caracteriza	
   o	
   Estado	
   contemporâneo	
   está	
   marcado,	
  
indelevelmente,	
  pelo	
  domínio	
  tecnológico	
  da	
  informação,	
  consolidando	
  uma	
  inquietante	
  trilogia	
  
do	
   poder,	
   composta	
   por	
   informação,	
   tecnologia	
   e	
   soberania.	
   Não	
   se	
   consegue	
   mais	
   gerir	
  
informação	
   sem	
   tecnologia.	
   Conseqüentemente,	
   sem	
   domínio	
   tecnológico	
   da	
   informação,	
  
nenhum	
   país	
   tem	
   plena	
   soberania.	
   A	
   informação	
   é	
   o	
   insumo	
   mais	
   importante	
   da	
   organização	
  
social	
   e	
   estatal	
   contemporânea.	
   Seu	
   domínio	
   tecnológico	
   está,	
   por	
   sua	
   vez,	
   constantemente	
  
associado	
   aos	
   segredos	
   e	
   mistérios	
   das	
   atividades	
   de	
   “inteligência”,	
   componente	
   básico	
   da	
  
chamada	
  Razão	
  de	
  Estado.	
  
	
  
Um	
  excelente,	
  e	
  recente,	
  exemplo	
  de	
  uso	
  estratégico	
  da	
  informação	
  –	
  U2EI	
  –	
  em	
  uma	
  área	
  fora	
  
dos	
   limites	
   estatais	
   aparentes,	
   aconteceu	
   na	
   Copa	
   do	
   Mundo,	
   no	
   jogo	
   Alemanha	
   X	
   Argentina.	
  
Foram	
  entregues	
  informações	
  ao	
  goleiro	
  da	
  Alemanha,	
  poucos	
  momentos	
  antes	
  da	
  disputa	
  de	
  
pênaltis,	
  que	
  continham	
  um	
  mapeamento	
  probabilístico	
  -­‐	
  com	
  base	
  em	
  regras	
  de	
  associação	
  e	
  
classificação	
   -­‐	
   sobre	
   os	
   batedores	
   argentinos.	
   O	
   goleiro	
   defendeu	
   duas	
   cobranças,	
   e	
   seu	
   time	
  
venceu	
   a	
   partida.	
   Para	
   gerar	
   as	
   análises,	
   eles	
   obtiveram	
   dados	
   através	
   de	
   um	
   levantamento	
  
referente	
   aos	
   dois	
   últimos	
   anos	
   de	
   todos	
   os	
   jogadores	
   da	
   Argentina,	
   o	
   qual	
   revelou	
  
características	
   e	
   tendências	
   de	
   cada	
   um	
   dos	
   batedores,	
   em	
   itens	
   como	
   a	
   escolha	
   do	
   lado,	
  
intensidade	
   do	
   chute	
   e	
   altura	
   média	
   da	
   bola.	
   Repare,	
   nas	
   imagens	
   das	
   cobranças,	
   que	
   o	
  
deslocamento	
  do	
  goleiro	
  se	
  dá	
  claramente	
  em	
  função	
  desses	
  três	
  aspectos.	
  
	
  
No	
   âmbito	
   da	
   Sociedade	
   da	
   Informação,	
   um	
   exemplo	
   dessa	
   magnitude	
   evidencia	
   que	
   o	
  
tratamento	
   estratégico	
   do	
   conhecimento	
   não	
   é	
   realizado	
   através	
   de	
   “mistérios”,	
   mas	
   sim	
   de	
  
muito	
  trabalho,	
  técnica,	
  metodologia,	
  organização	
  e	
  tecnologia.	
  Existe	
  outro	
  exemplo	
  também	
  na	
  
Copa	
  do	
  Mundo.	
  A	
  França	
  fez	
  algo	
  similar	
  contra	
  o	
  Brasil.	
  Eles	
  levantaram	
  uma	
  série	
  de	
  dados,	
  
desde	
  o	
  número	
  médio	
  de	
  passes	
  por	
  jogo,	
  tempo	
  médio	
  no	
  qual	
  cada	
  jogador	
  fica	
  com	
  a	
  bola,	
  
velocidade	
   média	
   da	
   bola	
   em	
   conjuntos	
   de	
   passes,	
   e	
   vários	
   outros	
   tipos	
   de	
   informações	
  
similares.	
  Todos	
  esses	
  dados	
  estão	
  absolutamente	
  visíveis	
  a	
  todos,	
  basta	
  organizá-­‐los	
  e	
  analisá-­‐
los.	
  Uma	
  situação	
  pontual	
  é	
  o	
  auferimento	
  da	
  velocidade	
  de	
  pique	
  de	
  vários	
  jogadores	
  de	
  ambos	
  
os	
  times,	
  associada	
  com	
  o	
  tempo	
  médio	
  de	
  velocidade	
  máxima	
  mantida	
  nas	
  corridas	
  (com	
  a	
  bola	
  
e	
  sem	
  ela).	
  Nossos	
  adversários	
  sabiam,	
  por	
  exemplo,	
  que	
  o	
  atacante	
  Francês	
  Henry	
  superaria	
  o	
  
defensor	
  brasileiro	
  Cafu	
  em	
  mais	
  de	
  3km/h	
  nos	
  piques.	
  
	
  
Algumas	
  declarações	
  dos	
  jogadores,	
  após	
  o	
  jogo,	
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  francesa:	
  	
  
	
  
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-­‐O	
  jogador	
  Henry	
  (França)	
  respondeu	
  a	
  uma	
  pergunta	
  de	
  jornalistas	
  franceses,	
  que	
  diziam	
  "que	
  
sorte	
   vencer	
   o	
   Brasil	
   novamente",	
   com	
   a	
   seguinte	
   assertiva:	
   "Sorte?	
   Vocês	
   estão	
   brincando.	
   Foi	
  
tudo	
  planejado.	
  E	
  deu	
  certo”;	
  
	
  
-­‐Enquanto	
   isso,	
   Robinho	
   (Brasil)	
   declarava	
   que	
   "não	
   conseguimos	
   envolver	
   o	
   adversário,	
   como	
  
sempre	
  fazemos,	
  não	
  sei	
  dizer	
  o	
  que	
  aconteceu";	
  
	
  
-­‐Vieira	
   (França)	
   completa,	
   dizendo	
   que	
   "planejamos	
   muitas	
   dificuldades	
   para	
   o	
   jogo	
   brasileiro	
  
hoje,	
  e	
  tivemos	
  uma	
  tática	
  que	
  funcionou";	
  
	
  
-­‐Cafu	
   (Brasil)	
   fez	
   assertiva	
   na	
   mesma	
   linha,	
   quando	
   declarou	
   que	
   "eles	
   bloquearam	
   nossas	
  
jogadas	
  pelas	
  laterais,	
  e	
  não	
  tivemos	
  alternativas".	
  
	
  
Na	
   verdade,	
   os	
   comentários	
   feitos	
   pelo	
   jogador	
   Henry	
   (autor	
   do	
   gol),	
   um	
   dia	
   antes	
   do	
   jogo,	
  
apontavam	
   para	
   a	
   existência	
   de	
   alguma	
   “arma	
   oculta”	
   por	
   parte	
   dos	
   franceses.	
   Quando	
   ele	
  
afirmou	
  que	
  os	
  brasileiros	
  jogavam	
  um	
  futebol	
  melhor	
  porque	
  "estudavam	
  menos"	
  [SIC],	
  de	
  uma	
  
certa	
  forma	
  indicava	
  o	
  caminho	
  que	
  seria	
  seguido.	
  É	
  natural	
  que	
  as	
  pessoas	
  tragam	
  as	
  disputas	
  
para	
  o	
  ambiente	
  no	
  qual	
  tenham	
  mais	
  familiaridade.	
  Na	
  verdade,	
  não	
  só	
  as	
  pessoas,	
  essa	
  é	
  uma	
  
lei	
  vigente	
  na	
  natureza,	
  comumente	
  aplicada	
  por	
  animais	
  em	
  “caçadas”	
  e	
  “duelos	
  territoriais”.	
  A	
  
França	
  estabeleceu	
  um	
  objetivo	
  para	
  aquele	
  confronto,	
  qual	
  seja,	
  disputá-­‐lo	
  dentro	
  de	
  condições	
  
que	
  lhe	
  eram	
  mais	
  favoráveis.	
  Conseguiu,	
  e	
  venceu.	
  	
  
	
  
Ocorre	
  que	
  isso	
  já	
  havia	
  acontecido	
  antes,	
  na	
  final	
  da	
  Copa	
  de	
  98,	
  também	
  cercada	
  de	
  mistérios	
  e	
  
segredos.	
  Não	
  me	
  refiro	
  ao	
  incidente	
  com	
  Ronaldo	
  e	
  às	
  teorias	
  da	
  conspiração	
  (nem	
  descarto	
  a	
  
importância	
  de	
  tudo	
  isso),	
  mas	
  vou	
  focar	
  em	
  outro	
  tipo	
  de	
  mistério:	
  o	
  comportamento	
  tático	
  e	
  as	
  
estratégias	
   do	
   time	
   francês	
   naquele	
   dia,	
   e	
   sua	
   associação	
   com	
   ferramentas	
   tecnológicas.	
   A	
  
França,	
   como	
   se	
   sabe,	
   tem	
   uma	
   longa	
   tradição	
   de	
   atividades	
   de	
   inteligência,	
   anteriores	
   à	
  
descoberta	
   do	
   Brasil.	
   Da	
   mesma	
   forma,	
   a	
   França	
   também	
   tem	
   uma	
   forte	
   tradição	
   no	
  
desenvolvimento	
  tecnológico.	
  De	
  outro	
  lado,	
  a	
  França	
  também	
  é	
  um	
  país	
  prodigioso	
  em	
  termos	
  
de	
  segredos	
  e	
  mistérios,	
  desde	
  a	
  dinastia	
  Merovíngia	
  até	
  a	
  telemetria	
  dos	
  motores	
  Renault	
  na	
  F1	
  
e	
   a	
   construção	
   do	
   avião	
   A380.	
   Será	
   que	
   eles	
   levam	
   isso	
   para	
   os	
   gramados?	
   O	
   jogo	
   de	
   2006	
  
mostra	
   que	
   sim.	
   É	
   sabido	
   que	
   os	
   times	
   de	
   futebol	
   e	
   as	
   seleções	
   utilizam	
   tecnologias	
   para	
  
aquisição	
   e	
   tratamento	
   de	
   dados.	
   Ocorre	
   que	
   muitas	
   vezes	
   os	
   dados	
   estão	
   ali,	
   mas	
   não	
   são	
  
visíveis	
  e	
  ninguém	
  consegue	
  identificar	
  as	
  suas	
  conexões.	
  	
  
	
  
Vários	
  grupos	
  científicos,	
  nas	
  mais	
  prestigiosas	
  universidades	
  e	
  centros	
  de	
  pesquisa	
  do	
  mundo	
  
todo	
  trabalham	
  nisso,	
  com	
  descobertas	
  muito	
  intensas	
  nos	
  últimos	
  anos.	
  Quer	
  um	
  exemplo?	
  Os	
  
caçadores	
   de	
   tornados	
   caçam,	
   na	
   verdade,	
   os	
   dados	
   sobre	
   os	
   tornados,	
   para	
   entender	
   seu	
  
comportamento	
  e	
  melhorar	
  as	
  previsões.	
  Outro	
  caso	
  clássico	
  foi	
  uma	
  descoberta	
  das	
  grandes	
  
lojas	
  de	
  departamentos	
  dos	
  EUA,	
  alguns	
  anos	
  atrás.	
  Elas	
  detectaram	
  que	
  associando	
  fraldas	
  e	
  
cervejas	
  em	
  certos	
  horários,	
  ambas	
  venderiam	
  mais.	
  Na	
  mosca.	
  Apesar	
  de	
  parecer	
  algo	
  óbvio,	
  
ninguém	
   tinha	
   sistematizado	
   essas	
   informações,	
   e,	
   a	
   partir	
   do	
   momento	
   no	
   qual	
   algoritmos	
  
analisaram	
   as	
   compras	
   realizadas,	
   comparando-­‐as	
   com	
   os	
   horários	
   e	
   o	
   tipo	
   de	
   produtos,	
   isso	
  
ficou	
  claro,	
  através	
  de	
  técnicas	
  de	
  agrupamento	
  de	
  dados	
  e	
  relacionamento	
  de	
  informações.	
  
	
  
A	
  França,	
  na	
  final	
  da	
  Copa	
  de	
  98,	
  identificou	
  pontos	
  de	
  vulnerabilidade	
  no	
  time	
  brasileiro	
  através	
  
de	
   técnicas	
   de	
   agrupamento	
   e	
   relacionamento	
   de	
   dados.	
   E	
   descobriu	
   segredos	
   que	
   estavam	
  
escondidos	
  nos	
  números.	
  Existem	
  dois	
  exemplos	
  claros	
  disso:	
  a	
  primeira	
  situação	
  é	
  um	
  elevado	
  
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percentual	
  dos	
  gols	
  brasileiros	
  nos	
  quais	
  havia	
  alguma	
  participação	
  dos	
  laterais.	
  Isso	
  não	
  quer	
  
dizer	
  exatamente	
  que	
  eles	
  criavam	
  as	
  jogadas,	
  mas	
  que,	
  em	
  algum	
  momento,	
  tocavam	
  na	
  bola	
  de	
  
modo	
   decisivo.	
   Não	
   só	
   nos	
   gols,	
   mas	
   também	
   nos	
   momentos	
   em	
   que	
   o	
   Brasil	
   estabelecia	
   o	
  
domínio	
   das	
   ações	
   no	
   meio-­‐de-­‐campo.	
   No	
   futebol	
   de	
   hoje,	
   assim	
   como	
   no	
   jogo	
   de	
   xadrex,	
  
dominar	
  o	
  espaço	
  central	
  do	
  teatro	
  de	
  operações	
  representa	
  uma	
  grande	
  vantagem.	
  
	
  
Todos	
   que	
   puxarem	
   pela	
   memória	
   vão	
   lembrar	
   que,	
   desde	
   o	
   inicio	
   daquele	
   jogo,	
   havia	
   algo	
  
estranho	
   na	
   saída	
   de	
   bola	
   do	
   time	
   brasileiro,	
   e	
   que	
   o	
   time	
   Francês	
   realizou	
   uma	
   inovadora	
  
marcação	
  nos	
  laterais	
  do	
  Brasil.	
  Assista	
  novamente	
  ao	
  jogo,	
  e	
  confira.	
  Ocorre	
  que	
  isso	
  não	
  era	
  
uma	
  "coincidência",	
  ou	
  um	
  "incidente",	
  mas	
  uma	
  estratégia	
  pensada	
  pelos	
  franceses,	
  forçando	
  o	
  
Brasil	
  a	
  mudar	
  o	
  padrão	
  de	
  seu	
  jogo.	
  Outra	
  situação:	
  quantos	
  gols	
  de	
  cabeça	
  Zidane	
  fez	
  antes	
  
daquela	
  Copa?	
  Quantos	
  fez	
  depois?	
  Quase	
  nada	
  em	
  ambos	
  os	
  casos.	
  Mas,	
  naquele	
  dia,	
  fez	
  dois	
  no	
  
mesmo	
   jogo.	
   Um	
   mapeamento	
   da	
   equipe	
   francesa	
   apontou	
   uma	
   forte	
   tendência	
   de	
   que	
   os	
  
marcadores	
   principais	
   do	
   Brasil	
   -­‐	
   com	
   mais	
   altura	
   e	
   vocação	
   para	
   jogadas	
   aéreas	
   -­‐	
   ficariam	
  
concentrados	
  nos	
  cabeceadores	
  mais	
  tradicionais	
  do	
  time	
  francês,	
  e	
  que	
  Zidane	
  -­‐	
  de	
  certa	
  forma	
  
uma	
  surpresa	
  na	
  área	
  e	
  tido	
  como	
  “mau	
  cabeceador”	
  -­‐	
  tenderia	
  a	
  ser	
  marcado	
  por	
  Leonardo.	
  
Faça	
  as	
  contas	
  da	
  diferença	
  de	
  altura	
  entre	
  eles	
  e	
  relembre	
  dos	
  dois	
  primeiros	
  gols	
  da	
  França	
  
naquele	
  dia.	
  E	
  relembre	
  também	
  dos	
  comentários	
  após	
  o	
  jogo,	
  quando	
  todos	
  diziam	
  que	
  "o	
  cara	
  
não	
  fazia	
  gols	
  de	
  cabeça,	
  e	
  foi	
  fazer	
  logo	
  hoje...".	
  	
  
	
  
Como	
  bem	
  disse	
  Ricardinho	
  (jogador	
  brasileiro),	
  antes	
  do	
  jogo	
  de	
  2006,	
  "não	
  podemos	
  mudar	
  o	
  
resultado	
   daquele	
   jogo",	
   referindo-­‐se	
   a	
   98.	
   Mas	
   podemos	
   aprender	
   com	
   o	
   passado.	
   Diante	
   de	
  
tudo	
  isso,	
  ficava	
  evidente	
  que	
  os	
  estudos	
  estratégicos,	
  a	
  mineração	
  de	
  dados,	
  o	
  reconhecimento	
  
de	
  padrões,	
  as	
  técnicas	
  de	
  agrupamento	
  e	
  associação	
  de	
  informações,	
  entre	
  outras,	
  iriam	
  entrar	
  
em	
  campo	
  novamente	
  pelo	
  lado	
  francês.	
  No	
  jogo	
  de	
  2006,	
  a	
  França	
  teve	
  futebol	
  suficiente	
  para	
  
conseguir	
  fazer	
  com	
  que	
  suas	
  habilidades	
  tecnológicas	
  gerassem	
  um	
  diferencial	
  decisivo,	
  e	
  o	
  que	
  
tivemos	
  foi	
  um	
  laboratório	
  de	
  estratégia	
  competitiva	
  ao	
  vivo	
  naquele	
  dia.	
  Esse	
  tipo	
  de	
  questão	
  
tem	
  sido	
  objeto	
  de	
  discussões	
  em	
  importantes	
  eventos	
  científicos	
  internacionais.	
  Em	
  Padova,	
  na	
  
Itália,	
  em	
  2003,	
  quando	
  estava	
  chegando	
  para	
  um	
  debate	
  científico	
  sobre	
  o	
  uso	
  da	
  inteligência	
  
artificial	
   no	
   futebol	
   de	
   robôs,	
   estava	
   com	
   uma	
   bola	
   de	
   futebol	
   nas	
   mãos,	
   e	
   fui	
   perguntado:	
  
"Professor,	
   o	
   senhor	
   é	
   cientista	
   ou	
   técnico	
   de	
   futebol?".	
   Respondi	
   (em	
   tom	
   de	
   uma	
   cômica	
  
ameaça)	
  que	
  no	
  Brasil	
  todos	
  são	
  técnicos	
  de	
  futebol.	
  Depois	
  das	
  discussões	
  científicas,	
  fizemos	
  
um	
   jogo	
   de	
   futebol,	
   e,	
   com	
   apenas	
   dois	
   brasileiros	
   no	
   time,	
   "papamos"	
   um	
   combinado	
   de	
  
europeus.	
  Depois	
  eles	
  comentavam:	
  "não	
  valeu,	
  eles	
  tinham	
  brasileiros	
  no	
  time".	
  Sorte	
  nossa.	
  
Mas,	
  em	
  termos	
  de	
  desenvolvimento	
  tecnológico	
  e	
  gestão	
  estratégica	
  do	
  conhecimento,	
  não	
  há	
  
que	
  se	
  falar	
  em	
  “sorte”	
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  mas	
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  trabalho	
  honesto	
  com	
  resultado	
  certo.	
  	
  
	
  
Mesmo	
  sabendo	
  que	
  Federação	
  Francesa	
  utiliza	
  sistemas	
  de	
  T.I.	
  (tecnologia	
  da	
  informação)	
  para	
  
coleta	
  a	
  análise	
  de	
  dados,	
  e	
  que	
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  Alemanha	
  faz	
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  é	
  sabido	
  que	
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  tecnologia	
  faz	
  
“milagres”,	
  por	
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  só.	
  Se	
  assim	
  fosse,	
  países	
  avançados	
  tecnologicamente,	
  como	
  EUA	
  e	
  Japão,	
  já	
  
teriam	
  vencido	
  várias	
  Copas.	
  Mas,	
  por	
  outro	
  lado,	
  sabemos	
  que	
  o	
  uso	
  adequado	
  das	
  habilidades	
  
tecnológicas	
  pode	
  potencializar	
  resultados,	
  melhorar	
  comportamentos	
  competitivos,	
  organizar	
  
ações	
  e	
  definir	
  estratégias,	
  as	
  quais,	
  se	
  implementadas	
  com	
  eficiência,	
  geram	
  vitórias.	
  Ele	
  pode,	
  
também,	
  aumentar	
  a	
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  Estado	
  Contemporâneo,	
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  seus	
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Sobre	
  o	
  autor:	
  Hugo	
  Cesar	
  Hoeschl	
  é	
  mestre	
  em	
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  Doutor	
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congressos	
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robôs	
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  Carneggie	
  Mellon,	
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  "Soccer	
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Futebolística).	
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Estudo sobre a Copa do Mundo no Brasil - Instituto i3G

  • 1. Hugo César Hoeschl, Post Doc 1 Resumo: O estudo aborda a análise de cenários para a Copa do Mundo de 2014, a partir dos rankings existentes, e faz um cruzamento com informações dos ambientes digitais, em especial ferramentas de busca e avaliações de confiabilidade, bem como informações de gameficação em crowdsourcing e mídias sociais, para analisar os possíveis desempenhos e os riscos de eliminação do Brasil na Copa, com o objetivo de utilizar o evento esportivo como laboratório de testes e métricas de avaliação de informações digitais e sua reusabilidade em outros teatros de operações. Risco  para  o  Brasil   Análise  de  Cenários     Ranking  Digital    1-­‐Argentina      1-­‐Inglaterra      2-­‐Uruguai    2-­‐EUA      3-­‐Alemanha    3-­‐Alemanha    4-­‐Espanha    4-­‐Japão    5-­‐Holanda   1) Histórico: Semi1: X Semi2: X Brasil vence a Itália na final 3) Confrontos digitais: Semi1: X Semi2: X Inglaterra vence a Alemanha na final  5-­‐França    6-­‐França    6-­‐Espanha    7-­‐Itália    7-­‐Austrália    8-­‐México    8-­‐Holanda    9-­‐Inglaterra    9-­‐Itália    10-­‐Colômbia   2) Rankings: Semi1: X Semi2: X Alemanha vence a Espanha na final 4) Séries randômicas: Maiores semifinalistas Brasil vence mais finais  10-­‐Argentina   1) PANORAMA INICIAL Na era da “Big Data2 ” e dos “cientistas de análise de dados3 ”, em tempos de Copa do Mundo, e considerando que 90% dos dados do mundo foram criados nos dois últimos anos, surge a inevitável indagação: A atividade de análise de cenários pode gerar informações de uso estratégico? 1 Doutor em Inteligência Aplicada, Pós-Doutor em Governo Eletrônico. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados – Abep. Autor de mais de 200 artigos em eventos científicos internacionais.  www.informatik.uni-­‐trier.de/~ley/pers/hd/h/Hoeschl:Hugo_Cesar.html 2 “Big data is the term for a collection of data sets so large and complex that it becomes difficult to process using on-hand database management tools or traditional data processing applications”. http://en.wikipedia.org/wiki/Big_data 3 Barton, Dominic. “Uma era de transformação”, Estado de São Paulo, 09/01/2014 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,uma-era-de--transformacao--,1116468,0.htm
  • 2. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  2       O cientista de análise de dados é aquele profissional cuja competência é criar pontes entre T.I., dados, análises e a tomada de decisão, como afirmou Dominic Barton. São os membros de uma classe nascente de tradutores de dados e informações. E existem alguns expoentes dessa nova geração de pensadores que afirmam que a resposta para essa indagação inicial é “sim”. Bases de dados, buscas e redes sociais são importantes fontes de informações. Essa importância é crescente. A sociedade, em suas relações cruas, utiliza esse conjunto de mídias, anarquicamente, como fator de decisão, conforme descrito em literaturas como “O Poder das Redes Sociais” (Hunt), o “Efeito Facebook” (Kirkpatric), “Viral Loop” (Penenberg), “Click” (Tancer), “The Search” (Battelle) e “The Signal and the Noise” (Silver). Em especial Bill Tancer e Nate Silver são cientistas de análise de dados com denso reconhecimento, e recentemente espantaram o mundo com suas capacidades preditivas. O primeiro é aquele que acerta os resultados dos reality shows nos EUA. O segundo é aquele que fazia previsões para jogos de beisebol, por hobby, e acabou acertando o resultado das eleições americanas, em todos os estados, acertando inclusive o número de todos os delegados. Fazem isso com base em métodos organizados. Ambos afirmam que esses métodos de avaliação podem ser utilizados em ambientes variáveis, como mercado financeiro, campeonatos de poker, aquecimento global, questões militares e políticas, furacões ou terremotos, e várias outras aplicações. Surge uma nova pergunta: Isso pode ser utilizado no futebol? Bill Tancer4 começou a perceber que as buscas realizadas na internet dizem muito sobre os acontecimentos da sociedade, e muitas vezes isso pode ter mais relevância e precisão do que as tradicionais pesquisas de opinião. Afirma que “o comportamento na internet pode revelar o motivo porque fazemos as coisas que fazemos” e autodenomina a sua atividade de “inteligência competitiva on-line”. Sustenta que “as perguntas que fazemos aos mecanismos de buscas e o que elas não dizem sobre nós”, podem indicar dados muito relevantes, e que é alto o “potencial desses dados para prever tendências e até mesmo antecipar acontecimentos”. Através desse gráfico mostrou a influência direta da frequência de buscas na internet por “receitas de peru recheado” – linha azul - atingem o pico no dia de Ação de Graças (“Thanksgiving”, maior feriado americano, em novembro), sendo que as buscas por “regimes para perder peso” – linha vermelha – têm um crescimento acentuado no dia seguinte. Nate Silver, por sua vez, afirma que seu livro5 trata de “informação, tecnologia e progresso científico” e “sobre coisas que nos tornam mais inteligentes do que qualquer computador”, e 4 Tancer, Bill. Click: “O que milhões de pessoas estão fazendo on-line e por que isso é importante”. 5 Silver, Nate. “O sinal e o ruído: por que tantas previsões falham e outras não”.
  • 3. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  3       diz que “o início da revolução da tecnologia da informação não ocorreu com a invenção do microchip, ocorreu, sim, com a invenção do tipo móvel para impressão”. Com isso o mago das previsões metodológicas deixa claro, já no iníco da sua obra, que a organização do conhecimento é a etapa mais importante no processo preditivo. Também esclarece que a prática preditiva é mais comum em nossas vidas do que imaginamos: “A previsão é indispensável às nossas vidas. Cada vez que escolhemos uma rota para o trabalho, que decidimos se vamos sair de novo com aquela pessoa que conhecemos ou que reservamos dinheiro para épocas de vacas magras estamos fazendo uma previsão sobre o futuro e sobre como nossos planos afetarão as chances de um resultado favorável”. Afirma que “esportes e jogos, por seguirem regras bem definidas, são ótimos laboratórios nos quais testamos nossa capacidade de previsão. Ajudam-nos a entender melhor a aleatoriedade e a incerteza e proporcionam insights sobre como transformar informações em conhecimento”. Para isso, sua abordagem preferida é a bayesiana, na qual “os resultados dependem em larga medida de um julgamento inicial de quem faz a previsão, seja ele baseado em hipóteses já cientificamente comprovadas ou puro feeling”6 Analisando o cenário da Copa do Mundo Agora vamos falar de Copa do Mundo de futebol. Provavelmente a final da Copa será a maior evento televisivo e com maior audiência mundial no ano de 2014. Então, isso não é brincadeira. Não está falando sério quem acredita que a Copa do Mundo não seja um assunto sério. Ela será um grande laboratório vivo de análise de dados em tempo real, seja pelo esporte em si, seja pelos demais acontecimentos a ele associados e pelo número de nações envolvidas. As principais perguntas são: Como as informações digitais podem influenciar nas análises de cenários para a Copa do Mundo? Como a atividade de exame de cenários pode gerar informações de uso estratégico para o futebol? No contexto da Copa, quais são as grandes virtudes dos adversários mais perigosos do Brasil? Na final da Copa, quem estará lá e quem vencerá? Se o Brasil for eliminado, quem pode fazer isso? Qual a influência do teatro de operações digital sobre um evento esportivo em tempos de Graph Search, Social Authority, Trends/Insights, PageRank e Social Media? Qualquer tipo de previsão é algo muito difícil de ser realizado, e no futebol, em especial, essa tarefa é ainda mais espinhosa, pois os deuses da bola gostam de brincar com a racionalidade lógica da civilização contemporânea, e, não raro, pregam peças em todos os analistas. Então serão utilizadas algumas metodologias que passaram por validações em processos anteriores, como, por exemplo, no teste da votação internacional com a urna digital via celular7 , e no sistema inteligente para o Conselho de Segurança da ONU8 , ou que 6 “Polindo a bola de cristal”, Luciano Sobral, http://www.amalgama.blog.br/06/2013/o-sinal-e-o-ruido-nate- silver/ 7 “Brasileiros realizam 1a eleição por celulares com urna digital”. Portal Terra. http://tecnologia.terra.com.br/brasileiros-realizam-1-eleicao-por-celulares-com-urna- digital,d359887dc5aea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html 8 “Sistema Brasileiro de Inteligência Artificial será apresentado na França”. http://pdf.aminer.org/000/266/304/new_procedures_for_environment_licensing_with_artificial_intelligence_cip pla.pdf, p. 97.
  • 4. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  4       foram validadas perante ambientes científicos internacionais9 . É o caso do mGov2, plataforma de gestão de redes sociais10 , da qual esse trabalho é uma derivação direta. Serão utlizadas também referências desenvolvidas em trabalhos anteriores, como o Soccer Intelligence11 (palestra proferida na Carneggie Mellon University em Pittsburgh, 200312 ), e a 9 “Brasileiros superam NASA e IBM em evento científico internacional”. http://www.scribd.com/doc/17618325/Midia-Digital, pagina 142. 10 “Entre os melhores: Projeto usa redes sociais para discutir gestão pública”. Artigo na revista Wirelles Mundi que descreve algumas das estratégias e metodologias da plataforma mGov2, após processo de validação em concorrência pública perante a OEA-OUI. http://www.wirelessmundi.inf.br/noticias-geral/456-aplicacao-permite-consultas-publicas-e-votacoes-pelo- celular 11 “What is the Soccer Intelligence – SI ? The concept here called SI represents a knowledge structuring process, involving its construction and discovery, its utilization and transmission, aiming at creating alternatives to clearly visualize all the steps of the process and to extract precise conclusions, supported by information technology. The SI objective is to increase the performance of new teams. The usage of specific knowledge in the soccer area, besides other ones, has been the main factor to explain the great performance of Brazilian soccer team in international tournaments. The World Cup history, for instance is mentioned highlighting the 2002 World Cup and the millennium final”. http://www.i3g.org.br/editora/livros/ijurisselectedpapersbook.pdf p. 111. 12 “A idéia central do trabalho brasileiro consiste no fato de que um time de autômatos jamais terá condições de enfrentar um time de humanos, em condições de igualdade, se não tiver profundos conhecimentos sobre a tradição, o ambiente e a história do futebol, e propõe a RC2D como solução para esta questão, através da análise do conhecimento empírico contido em documentos (estruturados e não-estruturados), bases de dados, em notícias de jornais e revistas e também na memória viva de grandes especialistas. Os robôs precisarão saber um pouco mais sobre conceitos como "cama de gato", "drible da vaca", "chuveirinho", "caneta", "chapéu",
  • 5. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  5       leitura tática para futebol de robôs realizada na Robocup de 200313 em Pádova, bem como o estudo sobre a eliminação brasileira na Copa de 200614 . Então é necessário consignar aqui uma ressalva, esse estudo, feito por prazer, não tem a pretensão de fazer qualquer previsão em nível de prognóstico esportivo, mas sim de analisar os cenários e extrair deles dados e conclusões que possam ter alguma utilidade. Assim como se faz em ascenções a vulcões, primeiro vem uma análise do cenário informacional, depois é necessário tratar com rigor os números e indicadores, e procurar surpresas em todos os lugares, o tempo todo15 . E iniciamos exatamente fazendo o encaixe conceitual com o modelo de Silver, para quem o conhecimento prévio e o feeling tem importante papel nas previsões e análise de cenários, o que coloca o Brasil, “uma nação de ténicos de futebol”, em vantagem sobre os demais nesse assunto. Não por outra razão as linhas gráficas de histórico de buscas para “Brazil 2014” e “2014 "peixinho", "carrinho", "folha seca", "efeito", "tabelinha", "sarrafo", "catimba" e outros importantes conceitos empíricos do futebol, muitos dos quais responsáveis pelo sucesso do Brasil nesse esporte. O trabalho, batizado de Soccer Intelligence (ou Inteligência Futebolística) foi apresentado pela equipe brasileira no I Robocup American Open Workshop, encontro científico realizado junto com as competições, no início do mês de maio, na universidade Carnegie Mellon, e teve uma receptividade bastante positiva”. http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/21757-21758-1-PB.htm 13 “Na atividade de leitura tática, foram obtidas importantes informações sobre o comportamento dos times, a exemplo do que acontece no futebol real, e também sobre o comportamento dos robôs”. http://www.scribd.com/doc/17618325/Midia-Digital, p. 33. 14 “Brasil e França: Segredos e mistérios do futebol”, em anexo. http://www.i3g.org.br/blog/2006/07/tecnologiaefutebol.html 15 A subida de vulcões é uma atividade radical de alto risco, e um bom treinamento de gestão estratégica de indicadores. Se Você tiver alguma curiosidade, temos alguns vídeos no YouTube sobre isso: http://www.youtube.com/watch?v=EONrwpCioWU
  • 6. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  6       FIFA World Cup” sejam praticamente coincidentes. Seguindo essa lógica, pelos resultados anteriores, pela quantidade de pessoas no Brasil que conquistaram títulos, pela desenvoltura do país em todas as modalidades do futebol, por ser a sede, por ter estado em todas as Copas, por ser o maior campeão de todos os tempos, e por ter conquistado de modo convincente a Copa das Confederações, o Brasil é favorito, e propício a ser um bom objeto de análise de cenários. O país tem a maior rede de coleta de informações sobre futebol, com jogadores e técnicos espalhados pelo mundo. Como sempre, as vantagens podem virar desvantagens, e essa rede também pode ser o caminho para que outras equipes possam obter informações. A responsabilidade de jogar em casa pode pesar. Existem muitas manifestações e greves programadas para o período da Copa. Será a primeira Copa fortemente influenciada pelas redes sociais. Embora Facebook e Twitter já estivessem estabelecidos em 2010, não eram tão capilarizados como são hoje. Além disso, outras ferramentas, como o emergente WhatsApp e os ambientes TOR vão propiciar um forte fluxo informacional. A questão é: Até que ponto isso pode ter algum tipo de influência nos acontecimentos dentro de campo. Pode ser “nenhuma” ou “muita”. Também é fato que nenhum tipo de influência externa adiciona ou subtrai qualidade técnica a um jogador, mas sem dúvida influencia no emocional, o que pode fazer alguma diferença. Insumos para análise de cenários Para realizar essas análises, e formular hipóteses para as questões levantadas, serão utilizadas as seguintes fontes de informação: • Ranking histórico (FIFA); • Prognósticos da bolsa de apostas (Londres); • Ranking matemático (Chance de Gol/UOL); • Ranking técnico (FIFA); • Gameficação em crowdsourcing (Gamebased); • Indicadores de confiabilidade digital (PageRank, TrustRank). O trabalho se propõe aos seguintes objetivos: -Analisar cenários derivados desses ranqueamentos; -Modelar um cenário influenciado por informações digitais; -Modelar um ambiente de variáveis capaz de gerar cenários passíveis de análise. Para isso se buscará cruzar essas fontes com estatísticas, buscas na web e menções em redes sociais. Em termos de futebol, existem estatísticas passivas (por exemplo, resultados anteriores), e estatístias ativas (pico de velocidade de jogadores, altura média e isolada), que estariam mais para um “atributo”, embora comportem tratamento como série histórica. Vamos ver adiante que a França demonstrou exímia aptidão para usar isso a seu favor em 1998 e 2006, derrotando o Brasil em ambas as oportunidades. Estatísticas passivas tem valor emocional. Estatísticas ativas tem potencial de geração de resultados. Que tipo de fator “imponderável” pode acontecer? Provavelmente haverá um “time surpresa”, podendo chegar às semifinais, como Coréia do Sul e Turquia em 2002, Croácia
  • 7. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  7       em 1998, ou a própria Holanda em 1974. De outro lado, alguém pode surpreender com um bom futebol, como a Dinamarca em 1986, a Noruega em 1998, a Romênia em 1994, ou Camarões em 1982. No âmbito das estatísticas, altura e velocidade, por exemplo, podem ser fatores decisivos, quando conjugados com um bom futebol, isto é, quando há equilíbrio de forças e um dos times enxerga em algum ponto uma vantagem derivada desses ou de outros atributos. Ou seja, se os times tiverem equilíbrio, a altura e a velocidade podem gerar uma vantagem extra. Esses são os mais evidentes, existem outros. A cobrança de pênaltis também pode ser um fator de coleta e uso de informações, com grande probabilidade. Porém, é um erro utilizar esse tipo de critério como fundamento para a construção de um time, ou acreditar que isoladamente pode gerar um time vitorioso, e a história demonstra isso. Romário e Maradona sequer teriam iniciado suas carreiras no futebol se a altura fosse um critério eliminatório, e, do outro lado, Peter Crouch (jogador inglês muito alto) seria o maior artilheiro do mundo. Aliás, essa é uma das grandes magias do futebol, permitir que a capacidade, a habilidade e a inteligência superem a pura força. Mesmo assim, todos vamos concordar, em uma situação concreta, colocar Romário ou Maradona como marcador de Crouch em bolas aéreas é quase um suicídio. E essa vai ser a Copa na qual atributos como velocidade e altura terão a maior relevância de todos os tempos. Então precisamos saber a velocidade dos jogadores. Velocidade média. Distância percorrida em cada jogo. Velocidade máxima. E outros números. Mas como fazer isso? Captação e gestão de informações Se Você está pensando naquela prancheta na qual alguém fica anotando “tracinhos”, ou em um cara “inteligente” com um laptop, sentado no banco de reservas anotando dados em uma planilha, desculpe, mas Você está no século passado. A melhor forma de tratar essas informações é uma analogia do que existe hoje nas corridas de Fórmula1. Geralmente as transmissões televisivas mostram, durante as corridas, uma sala cheia de monitores, na qual as pessoas estão observando diferentes atributos do que acontece no carro, dados vitais sobre o piloto (batimentos, respiração), tempos de voltas e trechos da pista, comportamento de outras equipes, e inclusive monitorando comunicações em mídias sociais e informações na internet, ali mesmo, em tempo real. Essa é a famosa “central de comando estratégico”, ou “situation room”, ou “centro de comando e controle”, ou “centro de gestão integrada”, ou “centro de operações”, ou “centro integrado de gestão estratégica”, ou, como chama a Nasa, “sala de controle de vôo”. O Superbowl, por exemplo, maior evento esportivo dos EUA, já usa desde 2012 um Social Media Command Center, no qual os objetivos vão desde a gestão das vagas de estacionamento até o monitoramento das marcas envolvidas no evento. O que estamos sugerindo aqui é um centro de operações com as seguintes funcionalidades: 25 pessoas, cada uma delas de olho nos jogadores em campo e nos três árbitros, com uma câmera (ou mais de uma) focada em cada um deles. Um evento como a Copa do Mundo justifica esse tipo de investimento. Essas pessoas, munidas de um back office com softwares de inteligência, vão acompanhar, registrar e analisar, segundo a segundo, cada uma das interações, movimentos e reações dos atores envolvidos no jogo. Não vai me dizer que você ainda acredita que o time treina, entra em campo e vai “seguir as orientações do professor”, e que isso vai dar certo?
  • 8. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  8       Imagens sobre Social Media Command Center 16 16 “Why Brands are Building NASA-style Mission Control Rooms For Social Media” http://www.linkedin.com/today/post/article/20121027004951-2967511-why-brands-are-building-nasa-style- mission-control-rooms-for-social-media, “Super Bowl XLVI Gets a Social Media Command Center”, http://mashable.com/2012/01/21/super-bowl-xlvi-social-media/
  • 9. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  9       Agora, o mundo mudou, as coisas evoluíram, e esta Copa provavelmente será decidida pelas informações, jogo a jogo. Esta será a “Copa das Informações”. Não são mais aquelas informações do tipo “fulano jogou lá e sabe quem são os jogadores perigosos”, ou “mandamos um olheiro assistir aos jogos”, isso são coisas da antiguidade, que ainda tem a sua importância, mas é necessário subir um degrau na escala evolutiva, é necessário ter a informação real time sobre cada movimento do jogo. Esqueça a possibilidade de uma pessoa sozinha (um técnico na beira do gramado) fazer a leitura do jogo com perfeição. Nenhum ser humano sozinho consegue enxergar tudo o que está acontecendo ali dentro, naquele universo, nem mesmo os jogadores. Então, é necessário que uma estrutura esteja especialmente preparada para realizar essa nobre tarefa17 . Nesse caso o técnico vai ter as melhores e mais rápidas informações, para decidir com precisão. Você deve lembrar de várias situações nas quais fatos relevantes do jogo foram revelados por imagens após o jogo. Daí aparece alguém na TV para dizer “se tivéssemos visto aquilo, [o jogo] teria sido diferente”. Desde o jogador que aceita água dos adversários, passando por erros de arbitragem, detalhes pessoais, cacuetes (“quando cerra os dentes vai chutar”, “quando mostra a língua vai saltar”), coisas que todo mundo que conhece de futebol e de comportamento humano sabe que acontecem, e muitas vezes revelam e antecipam ações em campo. Quanto valem essas informações? Saber o que o adversário vai tentar fazer, saber quem está fadigado, saber como está a velocidade de pique (quem está decaindo, quem está normal, quem está melhorando, em que parte do jogo), saber como está a impulsão, e coisas desse tipo. Saber o que seus amigos e familiares estão tuitando (“ele parece cansado”, “a dor de cabeça parece que não passou”). De um detalhe desses nasce o gol, principalmente nesse futebol de hoje, competitivo ao extremo. Com tudo que está sendo investido, em termos de estádios, aeroportos, estradas, prédios, salários, transações e etc, não é crível que faltem recursos para uma coisa tão simples e óbvia como essa. Não existe espaço para amadorismos em um evento desse porte. E, se o Brasil não fizer isso, não tenha dúvidas, alguém fará. Se o Brasil perder a Copa, saiba desde já, essa será a causa: o tratamento (ou falta dele) dos dados e informações. Então, choque de informação, já. Ainda dá tempo, com folgas. Esse, portanto, é o primeiro passo, coletar novas informações. Na sequência, é proveitoso analisar os dados já disponíveis. 2) OS RANKINGS Então convém dar uma olhada nos rankings mais relevantes do futebol. O primeiro e mais 17 Um exemplo disso pode ser visto no vídeo “Web Situation Room 2.0”: http://www.youtube.com/watch?v=6yJcywNfHN0
  • 10. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  10       importante de todos: O Ranking Histórico da Fifa18 . Afinal de contas, todo o esforço de vencer uma Copa gira em torno desse objetivo: ser a melhor equipe de todos os tempos. É o ranking de realizações concretas, o mais importante de ser liderado. Brasil e Alemanha atingirão a marca de 100 jogos em Copas do Mundo nesse ranqueamento, a Alemanha já na sua partida de abertura, contra Portugal, e o Brasil no último jogo da primeira fase, contra Camarões, em Brasília. Atualmente o líder é o Brasil. Podemos perder este posto em 2014? É possível, mas pouco provável. Segundo Ranking: Bolsa de Apostas de Londres. Será utilizada a estimativa feita pela Ladbrokers19 , a mais antiga e reconhecida casa de apostas de Londres, em atividade desde 1902, e que possui 1.600 pontos de apostas 18 http://pt.fifa.com/worldfootball/statisticsandrecords/tournaments/worldcup/alltimerankings.html 19 http://sportsbeta.ladbrokes.com/worldcup
  • 11. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  11       espalhados pela Inglaterra, uma rede de coleta de informações muito capilarizada, dentro do país que inventou o futebol. De acordo com o jornalista Marcelo Duarte (EspnBr), é a maior casa de apostas do mundo. Vários especialistas apontam a Copa do Mundo como o ápice das apostas esportivas. Estima-se algo em torno de 3 bilhões de dólares em apostas envolvendo a Copa. Outros centros de apostas também tem suas estimativas, como a Willian Hill e a OddsChecker. Ambas convergem para Brasil, Argentina, Alemanha, Espanha e Bélgica, nessa ordem, com diferenças a partir do 6º lugar, alguns apontando a França, outros a Colômbia, nessa posição. Terceiro Ranking: Chance de Gol/Uol20 . Esse ranqueamento será utilizado por utilizar critérios matemáticos, baseado em resultados concretos, com fatores objetivos. Provavelmente o melhor ranking de critérios matemáticos disponível, incluindo também alguns fatores de imponderabilidade. Algumas informações são surpreendentes. A Colômbia e Chile em improváveis 3º e 6º lugares respectivamente, com a primeira inclusive superando a Espanha, e com o Peru, que 20 http://chancedegol.uol.com.br/rksel.htm
  • 12. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  12       sequer vai à Copa, aparecendo na frente da Itália (em um modesto 20º lugar). Assim é a matemática, e esse ranqueamento é de vital importância para o estudo aqui proposto, pelo seu forte componente de racionalidade e clareza. Quarto Ranking: Levantamento técnico da FIFA (Ranking FIFA21 ). 21 http://www.fifa.com/worldranking/index.html
  • 13. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  13       Esse é o conhecido Ranking da Fifa, muito discutido e criticado no mundo do futebol, desde que surgiu. Dispensa apresentações. Quinto Ranking: Gameficação em regime de crowdsourcing22 . Aqui surge um assunto tão polêmico quanto útil: as informações do mundo dos games podem trazer dados úteis no mundo real? Vamos saber um pouco mais sobre isso após a 22 http://www.sofifa.com/en/14w/t/n
  • 14. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  14       Copa do Mundo. Segue o ranking do dia 18/01/2014, lembrando que é bastante dinâmico, com alterações todas as semanas. Este ranking sera chamado de gamebased. Para ajudar a entender a relevância de uma base de dados on-line, em movimento e constantemente atualizada, convém olhar o seguinte texto:
  • 15. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  15       “A  cada  90  minutos,  tempo  que  dura  uma  partida  de  futebol  no  mundo  real,  jogadores   do  game  "Fifa  14"  em  todo  o  mundo  marcam  991  mil  gols,  dão  3,66  milhões  de  chutes   ao   gol   e   o   goleiro   defende   1,9   milhão   de   bolas   segundo   dados   sobre   a   franquia   divulgados   pela   produtora   Electronic   Arts.   A   empresa   afirma   que   neste   tempo   são   disputadas   459   mil   partidas   e   que   há   338   mil   vitórias.   Os   clubes   mais   populares   de   "Fifa  14"  são  Real  Madrid,  com  717  mil  fãs,  seguido  pelo  Barcelona,  com  643  mil  fãs.  A   lista  ainda  tem  Manchester  United  na  terceira  posição  com  631  mil  fãs;  Arsenal,  com   598  mil  fãs;  e  Bayern  de  Munique,  com  381  mil  fãs.   Entre   os   sete   jogadores   que   mais   marcam   gols   no   game   há   um   brasileiro.   Desde   o   lançamento   de   "Fifa   14"   em   setembro   Neymar,   atacante   do   Barcelona   marcou   17,5   milhões  de  gols.  Na  lista,  Cristiano  Ronaldo,  do  Real  Madrid  é  o  artilheiro  do  game  com   35,2  milhões.  Karim  Benzema,  atacante  do  time  merengue,  está  na  segunda  posição   com  26,7  milhões  de  gols;  Mario  Mandžukić,  atacante  do  Bayern  de  Munique  está  em   terceiro  com  20,2  milhões  de  gols;  o  argentino  Lionel  Messi,  do  Barça,  está  na  quarta   colocação,  na  frente  de  Neymar,  com  19,4  milhões  de  gols  marcados.  A  lista  termina   com  Robert  Lewandowski,  do  Borussia  Dortmund,  com  17,2  milhões  de  gols  e  Gareth   Bale,  do  Real  Madrid  com  17,1  milhões  de  gols.  Real  Madrid  contra  Bayern  de  Munique   é  a  partida  mais  disputada  no  game,  realizada  mais  de  9,6  milhões  de  vezes.  O  time   alemão  tem  40%  das  vitórias  neste  embate  contra  39%  do  time  espanhol.  O  clássico   Real  contra  Barça  foi  disputado  mais  de  8,9  milhões  de  vezes  e  tem  49%  das  vitórias   para  o  Real  e  33%  para  o  Barcelona.   A   Electronic   Arts   ainda   revelou   os   dez   jogadores   mais   vendidos   no   modo   Ultimate   Team  de  "Fifa  14".  São  eles  (do  primeiro  ao  décimo  lugar):  Christian  Benteke.  Felipe   Santana,  Ignazio  Abate,  Luiz  Gustavo,  Angelo  Ogbonna,  Laurent  Koscielny,  Eljero  Elia,   Kevin  De  Bruyne;  Kieran  Gibbs  e  Pepe  Lima”.   http://m.g1.globo.com/   O que vamos saber agora é se todo esse vultuoso universo informacional dos games, um ambiente vivo de computação distribuída e teste constante de modelos matemáticos, com depuração de estatísticas e uma gigante engenharia do conhecimento e de captura e representação de dados, se tudo isso pode refletir uma certa dose de realidade em termos de um teatro de operações como é a Copa do Mundo. Sexto Ranking: Organização da informação digital. Todos os outros rankings foram coletados diretamente, prontos e acabados. Esse foi construído especialmente para o estudo em curso. O curioso desse ranqueamento é que ele não tem qualquer relação com os critérios técnicos do futebol ou com suas estatísticas. Traduz o seguinte: o quanto a entidade organizadora do futebol dentro do respectivo pais é eficiente em termos de organizar a informação digital, manter a transparência dos dados e se comunicar com seu público interessado. Se isso for um critério capaz de influenciar o resultado dentro de campo, então esse ranking vai ter relevância, e o seu melhor termômetro será o desempenho da Inglaterra, pois é o único levantamento no qual ela aparece liderando. Utilizaremos esse ranking por três razões: 1-Testar a incidência da organização da informação digital; 2-Ele tem um conteúdo um pouco “zebral”, então vai trazer um importante elemento de imponderabilidade justificada para os cenários a serem
  • 16. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  16       avaliados, em especial os cenários “3” e “4”, como se verá adiante; 3-Também será testado um outro aspecto: o quanto o universo das redes sociais pode influenciar nos acontecimentos esportivos. Sempre lembrando, se são 3 bilhões de dólares, somente em apostas, significa que existem enormes interesses envolvidos em tudo isso. As suspeitas de manipulações e arranjos rondam a Copa do Mundo. Registra-se aqui 3 casos: a) a estranha derrota da Alemanha em 74; b) a elástica vitória da Argentina sobre o Peru em 78 e a derrota da Brasil para a França em 1998. Independente da verdade sobre esses fatos, o que se pergunta é o seguinte: na era das redes sociais e da vigilância absoluta, o que teria acontecido? Vazariam informações? Agora vamos ter a oportunidade de experimentar isso em tempo real. Para a construção desse ranking, serão utilizadas duas informações: o Pagerank23 e o Trustrank24 . O Pagerank por ser o principal algoritimo de organização da informação que o Google utilizou durante muitos anos, e o grande responsável pelo seu crescimento. Mas o Pagerank é pouco dinâmico, então ele será complementado pelo Trustrank, que é o ranking de confiabilidade de uma página web. No gráfico que segue verificamos o comparativo entre o Pagerank e o Trustrank da equipe do Brasil, onde se pode perceber o caráter dinâmico do Trustrank. Juntos refletem um bom termômetro sobre o cenário de informações digitais de uma determinada organização. Aqui um exemplo de ambos os coeficientes, caso da Inglaterra (thefa.com) os quais, conjugados, criam um indicador de confiabilidade digital: 23 “PageRank is an algorithm used by Google Search to rank websites in their search engine results” http://en.wikipedia.org/wiki/PageRank 24 “TrustRank is a link analysis technique described in a paper by Stanford University and Yahoo! researchers for semi-automatically separating useful webpages from spam”. http://en.wikipedia.org/wiki/TrustRank
  • 17. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  17       Somando o Pagerank e o Trustrank de todas as equipes, o ranking fica o seguinte: Confiabilidade  Digital   Posição     Equipe   1    Inglaterra   2    EUA   3    Alemanha   4    Japão   5    França   6    Espanha   7    Austrália   8    Holanda   9    Itália   10    Argentina   11        Suíca   12    Brasil   13    Portugal   14    Rússia   15    Ucrânia   16    Coréia  do  Sul   17    Bélgica   18    Uruguai   19    Chile   20    Mexico   Então, mesclar a informação “oficial exata”, a literalidade racional do stablishment, o rigorismo informacional, com o informal, o beta, o descompromissado (mas inteligente) é o 1º passo para reduzir a margem de aleatoriedade em um evento como esse. 3) CENÁRIOS
  • 18. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  18       Colocadas as fontes de informação, vamos então aos cenários. Primeiro cenário: Fácil e simples, basta aplicar, diretamente, o ranqueamento histórico sobre o emparceiramento da Copa de 2014, considerando sempre que será vencedora a equipe que tiver o melhor histórico absoluto. O resultado são as semifinais ideais entre Brasil X Alemanha, e entre Itália X Argentina. O resultado final aqui é Brasil campeão, vencendo a Itália. Claro, sabemos que não será assim tão simples, e esse primeiro cenário tem uma finalidade: estabelecer um patamar lógico para servir de referência aos próximos passos. De qualquer forma, é bom para o Brasil contar com a “lógica” a seu favor. Logo ela, que gosta tanto de desaparecer dos gramados de vez em quando. Segundo cenário: considerando esses seis rankings apresentados, foi feito um rating de rankings, contextualizando-o com o emparceiramento da Copa de 2014, e o resultado é o seguinte: Semi1: Brasil X Alemanha; Semi2: Espanha X Argentina. A Alemanha sairia vencedora na final, contra a Espanha. Perceba que esse ranking conjugado já conta com certos fatores de aleatoriedade, embora sejam estáticos, pois a gameficação, o crowdsourcing e a organização das informações digitais já estão exercendo aqui a sua influência. Mesmo assim o resultado é bastante tradicional, e coincide os 4 primeiros lugares com a bolsa de apostas de Londres, embora em ordem diversa. A Alemanha como campeã nesse segudo cenário revela a sua principal característica, a regularidade, pois ela se posiciona muito bem em todos os 6 rankings, embora não seja líder em nenhum deles. Das apostas à matemática, passando pelos games e o pagerank, a Alemanha está sempre entre os 3 primeiros (com exceção do ranking matemático do Chance de gol/Uol, no qual aparece em 5º lugar). Porém, sabemos que a regularidade é um fator que sofre impactos contundentes nos mundiais. De qualquer maneira, fica um importante alerta sobre a consistência do selecionado alemão. Do outro lado, esse mesmo ítem (regularidade e consistência) também revela a principal fragilidade do Brasil, que lidera 3 dos rankings, mas acabaria sucumbindo diante da Alemanha nesse segundo cenário, em função do fraco desempenho no ranking digital e no ranking técnico da Fifa. Regularidade X intensidade, a força de um é a fraqueza de outro. Terceiro Cenário: Confrontos Digitais Partindo dos dois últimos rankings (Gameficação/Crowdsourcing, Pagerank/Trustranking) vamos construir uma simulação agora mais dinâmica, baseada na seguinte metodologia: gerar um coeficiente com a soma dos rankings 5 e 6, adicionando o interesse histórico pelos times através de buscas realizadas desde 2004 (Trends/Insights - valendo como critério de pontuação os últimos números do período). Funciona assim: Brasil e Holanda entram em campo para as oitavas. Brasil em ligeira vantagem pelos pontos já acumulados. Amplia o placar com o histórico das buscas, e avança para as quartas de final. Então os números vão ficando mais dinâmicos, e essa análise de cenário fica mais interessante na medida em que os jogos vão se desenrolando, pois cada confronto tem números diferentes, dependendo dos oponentes. O fato de fazer valer a série histórica faz com que o pico máximo alcançado por um dos contendores seja o critério maximo (valendo 100), a partir do qual os demais números serão gerados, o que influencia diretamente no último resultado da série,
  • 19. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  19       exatamente aquele que servirá como fonte dos números que serão adicionados aos coeficientes anteriores. Os caminhos do Brasil seriam os seguintes (fase eliminatória): Nas oitavas, contra a Holanda, o Brasil avançaria. Nas quartas, contra a Itália, nova vitória brasileira. Semi1, contra a Alemanha, “a porca torce o rabo”, e a equipe germânica avança, beneficiada pela melhor pontuação nos ítens derivados dos rankings “5” e “6”.
  • 20. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  20       Seguindo com os demais jogos, temos nas Quartas2 o único jogo entre dois times de ponta que tem Pagerank “7”, Inglaterra X Espanha. Somando o coeficiente obtido anteriormente (Pagerank+Trustrank+Gamebased), agora com o interesse histórico (Trends), o resultado é um empate. Cenário, então, para um desempate (“prorrogação”). O primeiro critério de desempate é a média histórica dentro do Trends (average). Os times estão empatados nisso, então é necessário um novo desempate
  • 21. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  21       (“pênaltis”). O segundo critério é o do Pagerank, isoladamente. Ambos tem a mesma pontuação, o que conduz o confronto a um terceiro desempate, o que equivaleria a “pênaltis com cobrancas alternadas”. O terceiro critério é o resultado final do período no Trends, isoladamente. Nesse caso a Inglaterra venceria, avancando para a Semi2, contra a Argentina, onde ocorreria nova vitória dos ingleses Na Final se enfrentariam ingleses e alemães.
  • 22. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  22       Nos critérios prévios (Pagerank+Trustrank+Gamebased), a Alemanha entraria em vantagem. No critério do confronto, porém, a Inglaterra iguala o jogo, seria um “empate no tempo normal”. Prorrogação. O desempate é feito pela media histórica no Trends (“average”). Novo empate. O critério seguinte é o número do Pagerank, isoladamente. A Alemanha tem “6”. A Inglaterra tem “7”, venceria e seria a campeã do Mundo. Pela terceira vez na história uma final de Copa seria decidida nos pênaltis. E, por coincidência, o Pagerank, famoso algoritimo do Google, que diariamente seleciona milhões e milhões de resultados de buscas na internet - provavelmente o algoritimo computacional mais acionado na história da cultura digital - acaba sendo o fator de decisão nesse interessante desempate, e a estrela de uma hipotética final digital de uma Copa do Mundo. Inglaterra (www.thefa.com) Alemanha (www.dfb.de) E com isso a Inglaterra seria campeã nesse cenário. Uma campeã pouco provável em outros critérios. Aqui podemos ter uma das indagações mais interessantes desse estudo: se a organização da cultura digital pode ter algum tipo de influência sobre o desempenho esportivo, e, nesse caso, a Inglaterra, que obteve o melhor desempenho de todos os times no critério de pontuação tripla (Pagerank+Trustrank+Gamebased), e um dos únicos 3 times a ter Pagerank no valor de “7”, pode ser a grande surpresa da Copa de 2014. Essa pergunta terá a sua resposta ao final da competição. Um bom desempenho da Inglaterra pode significar que sim, uma melhor organização da cultura digital pode denotar mais intensidade organizacional, melhor planejamento, maior engajamento, e se traduzir em resultados dentro de campo, ou, pelo contrário, a Copa pode mostrar que isso é irrelevante em termos de desempenho esportivo. Claro que essa suposição somente é possivel em se tratando de um país que tem tradição de futebol, tem um campeonato organizado, clubes com destaque e bons jogadores. Números não chutam a gol, e estatísticas não fazem a bola entrar. Métricas não ensinam a jogar, driblar, chutar e cabecear. Mas ajudam muito a quem já sabe fazer isso. Por isso essa posição do English Team é perigosa, e requer atenção especial. A título de observação desses atributos digitais, convém também ficar de olho no desempenho das zebras EUA e Japão, ambos com ótima pontuação nesse critério, para ver se desponta alguma correlação entre os desempenhos, cada qual no seu nível de expectativa. Quarto cenário: Acionamento randômico dos rankings. Tomando como base as informações derivadas dos 6 rankings demonstrados, foi criada uma matriz de probabilidades, com acionamento por um algoritimo randômico, que pode selecionar algumas possibilidade com os seguintes atributos (por ordem de relevância): a) o
  • 23. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  23       ranking histórico da Fifa; b) os prognósticos da bolsa de Londres; c) o ranking técnico da Fifa; d) o ranking da gameficação em crowdsourcing (Gamebased); e) o ranking matemático do “Chance de Gol/UOL”; f) o ranking de informação digital; g) empates; h) espaço para “zebras” (rankings da Fifa aplicados de modo invertido). Para que esse tipo de análise de cenário tenha consistência, é necessária uma repetição massiva, para extração de tendências e correlações. Por questões de tempo e custos computacionais, não será possível fazer uma rodagem massiva. Mas, a título de exercício, o modelo foi rodado algumas vezes. Esse número reduzido de extrações não tem valor estatístico ainda, mas já nos mostra alguns detalhes interessantes. Funciona da seguinte maneira: todas essas informações são inseridas dentro de um ambiente de simulação, no qual acontece um acionamento randômico que vai indicar que tipo de critérios incidirá sobre cada um dos jogos da tabela da Copa. No primeiro acionamento, com um cenário isolado, já surgiram dados muito interessantes, relatamos aqui algumas curiosidades: forte possibilidade de empates nos dois primeiros jogos do Brasil, jogando-o para o segundo lugar na chave e antecipando o confronto com a Espanha. Apesar do “susto”, as etapas seguintes mostram o time brasileiro passando pela Espanha e pela Inglaterra, indo encontrar a Argentina na Semi2. Os números mostram partidas emocionantes, com viradas e prorrogações. Na fase de classificação, chaves equilibradas, com os principais favoritos confirmando suas classificações, com exceção da Itália, sucumbindo no grupo da morte já na primeira fase. A Alemanha, no seu estilo, passaria também com dois empates e uma vitória, mesmos números do Brasil, mas em uma chave na qual isso ainda lhe daria o primeiro lugar frente a Portugal. A Alemanha avançaria para a Semi1, depois de derrotar Bélgica e França. A Argentina, que necessitaria da prorrogação para superar a Rússia, enfrentaria o Brasil na Semi2. Completa o quadro a Holanda, que passaria por México e Colômbia. Na Semi1, o algoritimo randômico faz prevalecer os critérios do ranking técnico da Fifa, dando vantagem à Alemanha. Na Semi2, prevalecem os critérios históricos das Copas, e o Brasil avançaria, vencendo a Alemanha na final, após um jogo duríssimo e com prorrogação, a qual teria como critério de desempate os prognósticos da bolsa de Londres, que acabam favorecendo o Brasil (3/1, 1º lugar, contra 11/2, 2º lugar). Então a série começa bem para o Brasil. Mas essa primeira simulação somente tem valor em nível de curiosidade, pois esse tipo de projeção só adquire consistência depois de muitas séries históricas. De qualquer modo, é bom começar com um susto e uma posterior dose de sorte, em especial no momento em que o critério de preponderância apresentado pelo acionamento randômico seria o ranking técnico da Fifa, no qual o Brasil é vulnerável (10º lugar). A sorte seria que exatamente nesse jogo (Quartas) o adversário seria a Inglaterra (13º lugar no mesmo critério). Veja que interessante, passando em 1º lugar nesse cenário o Brasil enfrentaria a Holanda e Uruguai, em sequência, países diante dos quais o Brasil tem menos consistência no Ranking da Fifa, e, caso esse fosse o critério, o selecionado brasileiro sucumbiria. Isso somente para demonstrar duas coisas interessantes: 1-O modelo desenvolvido apresenta uma imponderabilidade estruturada; e 2- Quando o aleatório aparece, no futebol, os cálculos desmoronam. Aqui temos uma situação interessante: saber quando o imponderável é realmente imponderável, e quando ele pode ser previsto, evitado ou contornado. Cada vez que esse modelo é rodado, ele apresenta pequenas diferenças, não sendo exatamente igual em nenhum dos acionamentos, então “cada caso é um caso”. Assim como
  • 24. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  24       os jogos reais, alguns deles, sabemos, se fossem repetidos provavelmente teriam alterações de resultados. Depois de algumas séries de acionamentos, surgem algumas tendências: apesar do susto inicial, a probabilidade de o Brasil passar em 1º lugar (grupos) é consistente; A possibilidade de classificação do México é muito sólida; São reiteradas as simulações nas quais a Espanha passa em 1º no seu grupo, assim como Colômbia, França, Argentina e Alemanha. Essa tendência também se apresenta em relação à Rússia, algo um pouco surpreendente (diante do ranking da Fifa e dos prognósticos da bolsa de Londres). O grupo que apresenta maior vulnerabilidade ao randomicismo é o chamado “grupo da morte”, mas que acaba revelando uma tendência que pode ser interessante para o Brasil, qual seja, de o Uruguai acabar caindo diante de Inglaterra e Itália, um resultado um pouco surpreendente, considerando que o Uruguai está na frente da Inglaterra nos rankigs da Fifa e da bolsa de Londres e também no ranking matemático, mas nos cruzamentos de números, ao longo de uma série histórica, esse resultado vai se repetindo. Nas quartas de final, Alemanha X França é o confronto que mais vezes incide, mesmo com a alternância randômica de critérios estruturados, sendo muito forte a tendência em favor da Alemanha nesse caso; Outros confrontos aparecem com frequência e constância, como Brasil X Inglaterra, Argentina X Rússia e Espanha X Itália, sendo que Brasil X Inglaterra é um dos poucos que aparece em ambas as chaves (o que pode revelar algum tipo de “efeito magnético” para esse confronto). Nas semifinais, as presenças mais constantes são de Alemanha e Argentina, seguidos por Brasil e Espanha, porém em finais o Brasil tem alta incidência de vitórias, a maior entre todos os competidores. As séries históricas também apresentam uma tendência de que se o Brasil for eliminado isso aconteceria nas etapas anteriores (oitavas ou quartas), sendo dificilmente derrotado em nível de semifinais ou finais. Tudo isso, claro, são análises históricas de séries de números, e indicam somente tendências. Os deuses do futebol gostam de triturar números e prognósticos. Por exemplo, um dia inspirado do CR7 pode reverter facilmente essa tendência de passar a Rússia contra Portugal nas oitavas. Da mesma forma, um dia inspirado de Messi reverte essa tendência de dificuldade para a Argentina na Semi2, em especial contra a Espanha. E tudo que os brilhantes atacantes Uruguaios estão esperando é o apito inaugural do primeiro jogo para iniciar a destruição dessa tendência estatística contextual de morrer na primeira fase. De outro lado, a gameficação em massa acabou de apresentar a França como o ataque mais forte de todas as equipes (em 18/01/2014), um fator que pode mudar essa tendência de derrota nas quartas diante da Alemanha. Resumo dos cenários: • Primeiro cenário (histórico): Semi1, Brasil X Alemanha, Semi2, Itália X Argentina, o Brasil seria campeão diante da Itália; • Segundo cenário (rankings conjugados): Semi1, Brasil X Alemanha, Semi2, Espanha X Argentina, com Alemanha vencendo a Espanha na final; • Terceiro cenário (informações digitais e gameficação): Semi1, Brasil X Alemanha, Semi2, Inglaterra X Argentina, com Inglaterra vencendo Alemanha na final (com direito a prorrogação e pênaltis). • Quarto cenário (series históricas): Alemanha e Argentina são os mais frequentes nas semis, seguidos de Espanha e Brasil, e o Brasil é o time que vence mais finais.
  • 25. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  25       4. CAMINHOS DO BRASIL Pensados e analisados esses cenários, vamos a um outro ponto: Qual seria o caminho mais provável do Brasil durante a Copa? Antes disso, uma ponderação sobre a Copa de 2014. Todos os campeões estarão presentes, e será a Copa com o maior número de campeões. Conclusão transitória: será a Copa com melhor nível qualitativo de todos os tempos, por ter todos os campeões em campo. As ausências famosas ficam por conta de 3 vice-campeões: Suécia, Tchecoslováquia e Hungria, sendo que os dois últimos foram 2 vezes vice. Bom para o Brasil pois a Hungria é um dos poucos times que eliminou o Brasil em duas oportunidades, e nunca perdeu para o Brasil em Copas. Além de duas vezes vice, ainda registra 3 campeonatos olímpicos. A Suécia, por sua vez, é a equipe que mais vezes enfrentou o Brasil em Copas (7 vezes no total). Poucas vezes um favorito foi tão favorito em uma competição internacional de alto nível como o Brasil está sendo para a Copa de 2014. Em esporte de rendimento de alto nível, talvez os casos do Basquete Fiba, no Pan e no Mundial de Indianapolis, onde os EUA (em tese o melhor time) jogavam em casa e perderam em ambas as competições. Então o peso do favoritismo pode ser mais negativo do que positivo. Sobre o fator casa, vale lembrar alguns dados. Nas últimas 10 Copas, em 3 delas o time da casa ganhou (Alemanha, Argentina e França). Em compensação, em 3 delas o time da casa favorito perdeu (times de ponta como Espanha, Itália e Alemanha). Em quatro ocasiões o time da casa não estava na lista dos favoritos (México, EUA, Coréia/Japão, África do Sul), e perdeu a Copa. O caso curioso no qual o Copa da Itália foi vencida pela Alemanha, e a Copa da Alemanha foi vencida pela Itália, uma espécie de “troca de mandos”. Então o fator casa não tem todo esse peso, e no caso do Brasil tende a atrapalhar mais do que ajudar, principalmente nessa era de redes sociais. Não podemos esquecer que existe um grande número de protestos, greves, passeatas e manifestações que estão sendo agendados para o período da Copa, muitos deles tendo a própria Copa como foco de descontentamento, e, dependendo do andamento, isso pode ser um fator extra de stress e tensão, como aconteceu na Copa das Confederações, o que pode acabar abalando o moral da equipe e dos jogadores. Se houver um fato trágico, sem dúvida vai haver ofuscamento do foco desportivo. Partindo da lógica histórica, o caminho do Brasil pode muito bem ser o seguinte (fases eliminatórias, considerando ficar em 1o lugar na fase classificatória): Holanda, Uruguai/Inglaterra, Alemanha, para pegar na final o vencedor entre Espanha, Argentina e Itália. Os caminhos anteriores do Brasil em Copas que venceu (últimos 4 jogos25 ): • 58: União Soviética, Pais de Gales, França, Suécia • 62: Espanha, Inglaterra, Chile, Tchecoslováquia • 70: Romênia, Peru, Uruguai, Itália • 94: Holanda, EUA, Suécia, Itália • 2002: Bélgica, Inglaterra, Turquia, Alemanha Uma conclusão bastante efetiva: 2014 deve ser o caminho mais duro de todos os tempos, para quem quer que seja o time campeão, em especial no caso do Brasil. 25 Somente nos caminhos de 94 e 2002 o quarto jogo já era eliminatório.
  • 26. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  26       Possibilidades de eliminação brasileira Como exercício de aplicação de dados, que tal tentar esboçar uma resposta para a seguinte pergunta: se o Brasil cair, diante de quem será? Iniciamos por alguns fatores históricos, que tem sua relevância. Por exemplo, jamais um time europeu venceu uma Copa em território americano. Fora da Europa, somente a Espanha venceu na África. Assim, em tese, os melhores adversários brasileiros seriam os times europeus. Desde 1970, o Brasil, quando não venceu, foi eliminado pela Holanda (2 vezes), França (3 vezes), Argentina (2 vezes) e Itália (1 vez). Sobre os monocampeões, Espanha detém o melhor histórico no momento, e a França foi semifinalista em 50% das Copas desde 1982. Sobre os times africanos, estarão relativamente confortáveis no Brasil, e tendem a ter apoio popular, o que equivale a dizer que é a Copa com maior probabilidade de um time africano subir ao pódio, ou chegar a uma final e vencer, fora do continente africano. Ainda um outro aspecto, quantas vezes uma “zebra” ganhou a Copa? Resposta: zebra absoluta, nunca. Em finais, zebras históricas aconteceram em 50, 54 e 58, embora em todas elas eram equipes com plenas condições de atingir os resultados. Ainda sobre dados históricos, vale lembrar que o Brasil perdeu apenas 15 vezes em Copas, num total de 97 jogos. Empatou outras 15 vezes, e venceu 67. Um aproveitamento alto, o melhor de todos os competidores. Poucos times tiveram o privilégio de derrotar o selecionado Brasileiro. Aqueles que conseguiram foram os seguintes: Sérvia/Iugoslávia (1930), Espanha (1934), Itália (1938 e 1982), Uruguai (1950), Hungria (1954 e 1966), Portugal (1966), Holanda (1974 e 2010), Polônia (1974), Argentina (1990), França (1998 e 2006) e Noruega (1998). A esses resultados se somam mais dois: 1986, quando o resultado foi um empate, mas a França eliminou o Brasil nos pênaltis, e 1978, quando a Argentina empatou com o Brasil em 0X0, mas obteve classificação para a final pelo saldo de gols. Diante disso, vamos dar uma olhada nos maiores candidatos a vencer e/ou eliminar o Brasil na Copa, caso isso aconteça. Argentina. Dentro de uma perspectiva de lógica histórica, a principal possibilidade é de que a Argentina enfrente o Brasil somente na final. Vale lembrar a Copa de 1990, quando a Argentina foi mal na primeira fase, e, quebrando a lógica inicial, enfrentou o Brasil nas oitavas, avançando. A Argentina tem bom futebol, um campeonato competitivo, clubes fortes. Os Argentinos são apaixonados por futebol, tanto ou mais do que os brasileiros. Suas equipes sempre demonstram muita força emocional. Vai contar com apoio de uma boa torcida, considerando a proximidade geográfica e a tradição de Argentinos virem ao Brasil26 , e considerando muitos e muitos Argentinos que moram no Brasil (nível torcida), e também muitos Argentinos que jogam ou jogaram no futebol brasileiro, e conhecem com profundidade e detalhes os jogadores, os técnicos, os clubes e a Seleção do Brasil, suas forças e fraquezas. Depois do Brasil, quem mais vai estar “em casa” é o time argentino. O desempenho nas eliminatórias foi bastante consistente. Contra si tem o histórico das últimas Copas, e a derrota na última Copa América. Tem uma ótima geração de jogadores com sucesso no cenário internacional, incluindo o melhor jogador do mundo no momento 26  Existem 504 novos vôos já autorizados para o período da Copa (alem dos vôos normais), totalizando um acréscimo de 89.856 novos assentos nas rotas Buenos Aires-Rio de Janeiro, conforme dados da Anac.  
  • 27. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  27       (Messi), e que costuma ter bons desempenhos em jogos contra o Brasil. Reúne as condições para ser o adversário mais difícil e perigoso. Para isso, precisa confirmar seu caminho, e, principalmente, superar a tendência probabilística de dificuldades em passar pela Semi2. Uruguai. No caso do Uruguai, o desmembramento original do território brasileiro traz um componente adicional. No conjunto geral de condições e atributos, o Uruguai pode ser um adversário ainda mais perigoso do que a Argentina. Seu histórico recente em competições de ponta (Copa do Mundo e Copa América) foi muito bom. Seus jogadores de destaque vivem bons momentos, possuem boa qualidade, habilidade, capacidade de improvisação, bons conhecimentos. Vários deles tem contato estreito com o futebol brasileiro, e conhecem muito bem suas forças e fraquezas. Existem pessoas da comunidade uruguaia agora, nesse momento, pensando no que a sua equipe pode fazer para derrotar o Brasil caso venha a existir o confronto. Contra si teve o decepcionante desempenho nas eliminatórias. Considerando a lógica histórica, a maior probabilidade é de que Brasil e Uruguai se enfrentem nas quartas de final. Para que isso aconteça, precisa confirmar seu caminho, e passar pelo “grupo da morte”, superando as tendências probabilísticas que lhe são desfavoráveis. Porém, se estiver ali, pode se beneficiar pela tendência probabilística que apresenta a eliminação do Brasil antes das semifinais, o que pode significar um perigoso encontro de tendências estatísticas, probabiísticas e bayesianas. Se esse jogo acontecer, nas quartas, entram em campo os times, mas as teorias de análise de cenários entram junto. De outro lado, se passar no grupo em 1o lugar, encontraria o Brasil somente na final. É o segundo adversário mais perigoso. Nota: Uruguai e Argentina tem uma vantagem emocional. Todas as equipes vão tentar evitar o Brasil. Uruguai e Argentina, ao contrario, querem jogar contra o Brasil. Sabem despertar vulnarabilidades emocionais em equipes brasileiras. E tem a seu favor uma vantagem estratégica: quando o Brasil joga com esses selecionados, emerge a “síndrome do irmão mais velho”, qual seja, se ganhar é a obrigação, o caminho natural, e se ganhar de muito ainda surge um sentimento de “prevalecimento”. Então, se ambos perderem, será o natural, com o Brasil jogando em casa, o que baixa o nível de stress e responsabilidade dessas duas equipes. Porém, se vencerem serão heróis. Isso motiva muito qualquer equipe, e coloca em posição de conforto emocional. Por essa razão esses serão os dois principais adversários, os mais temidos, e com maior possibilidade. Jogam contra o Brasil tudo o que não conseguem jogar em outros jogos. Os conflitos de vizinhança, questões comerciais, étnicas, culturais e históricas dão um saboroso tempero para essas rivalidades. Espanha. Pelo histórico dos últimos anos, pelo seu desempenho nas últimas Eurocopas, na ultima Copa, pelo nível do seu campeonato nacional, pela qualidade das duas equipes base da seleção (Barcelona e Real), pelo ranking da Fifa, por ter vencido um Mundial fora do seu continente, por ter jogadores acostumados a conviver com a vitória, pelo seu desempenho nas eliminatórias, representa uma grande ameaça. Tem contra si um histórico desfavorável contra o Brasil em Copas, e a desestabilizadora derrota na final da copa das confederacoes. Dentro de uma perspectiva lógica, o confronto com o Brasil tende a ser na final, sendo um dos poucos times com capacidade real de eliminar a Argentina, fato que se afirma nas análises de séries históricas. Nas séries estatísticas e nos cenários analisados, porém, se apresenta como um adversário com potencial inferior ao da Alemanha para uma possível eliminação do Brasil. Por incrível que possa parecer, se apresenta com mais probabilidades
  • 28. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  28       de vencer a Copa do que de eliminar o Brasil, o que pode acontecer (vencer sem enfrentar o Brasil). É o quarto adversário mais forte para o time brasileiro. França. Vive um momento de relativa instabilidade, exatamente daqueles em que pode emergir um grande desempenho em uma Copa. Desde 1982, a França foi semifinalista em 50% das Copas. A França eliminou o Brasil em 1986, 1998 e 2006. É o Pais que mais eliminou o Brasil em Copas, em toda a história. Também venceu o Brasil em uma final olímpica (84). Está vindo em silêncio, sem badalação, o que é muito perigoso. Seu ataque acaba de receber a melhor avaliação no ranking de habilidade e força do game Fifa14 (em 18/01/2014). Costuma tratar bem os números, e sabe utilizar as vantagens estatísticas contra o Brasil (texto em anexo, “Brasil e França: Segredos e mistérios do futebol”). Por exemplo, em 2006 sabia que seu principal atacante – Henry – tinha vantagem em velocidade final sobre os dois laterais do Brasil, e explorou isso para vencer o jogo. Em 1998, sabia da tendência a que Zidane, por não ser cabeceador, seria marcado pelo “6o homem” da defesa aérea brasileira – Leonardo – e soube utilizar os números a seu favor. Zidane, que quase nunca cabeceava, fez dois gols de cabeça na final da copa, fato que fala por si. Considerando o lógica histórica, precisa superar a Alemanha (contra quem tem um histórico negativo de eliminações), nas quartas, para enfrentar o Brasil na semifinal. Parece ter com a Alemanha exatamente as dificuldades que o Brasil tem contra ela própria. França, Alamanha e Brasil, em Copas, são como “pedra, papel e tesoura”. Porém, se a França superar a Alemanha nas quartas, todas as sirenes soarão no quartel general do selecionado brasileiro. É a sexta ameaça mais perigosa. México. O atual campeão olímpico, por essa simples razão desponta como um time muito perigoso. Vale lembrar a sequência de 84-86, quando a França venceu o Brasil na final da Olimpíada e repetiu o feito na Copa do Mundo. Por outro lado, o México jamais jogou contra outros times, por exemplo contra a Argentina, tudo aquilo que costuma jogar contra o Brasil, o que parece denotar uma motivação extra. Das ameaças, é o único que pode enfrentar o Brasil já na primeira fase, em um clima menos tenso, portanto pode arriscar mais nesse confronto. Se obtiver sucesso, pode alterar o caminho natural do Brasil, ou mesmo eliminar, dependendo dos demais resultados. Por exemplo, na situação de empate no primeiro jogo (Croácia), uma derrota para o México praticamente significaria eliminação para o Brasil. O México também pode voltar a enfrentar o Brasil mais adiante, desde que ambos se classifiquem, o que vai lhe dar uma vantagem em relação aos demais adversários. Tende a contar com as torcidas de Argentina e Uruguai quando jogar contra o Brasil. O que pode lhe transformar em “4o time da casa”. Tem contra si o fraco desempenho em Copas, incluindo as duas que sediou. Em função do desempenho olímpico e dos últimos resultados contra o Brasil, ocupa o oitavo posto na lista de ameaças. Itália e Alemanha dispensam credenciais e apresentações, são fortes ameaças em qualquer situação, e favoritos em qualquer competição na qual estejam presentes. Essas duas seleções já viveram situações nas quais times medíocres fizeram grandes Copas, e grandes times fizeram Copas medíocres. A Alemanha venceu a Copa da Itália. Alguns anos depois, a Itália venceu a Copa da Alemanha. Porém, pelo histórico em Copas fora da Europa, possuem um fator de redução de potencial. Apesar disso, a Alemanha apresenta forte risco nas análises de cenários, vai até as semifinais em praticamente todas as combinações, reúne forças oriundas de fatores diferentes e contrastantes, e apresenta uma forte consistência. É a terceira força mais ameaçadora ao desempenho do Brasil, em um
  • 29. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  29       confronto que tende a acontecer na Semi1. O caso da Itália é diferente, pois está em baixa nos principais rankings, e no critério matemático quase fica fora do grupo de análise. Nas análises probabilísticas encontra muita dificuldade para chegar às semifinais. Mas, como sabemos, tem uma incrível capacidade de crescer dentro da competição e esfacelar prognósticos. Tenderia a enfrentar o Brasil na Final. É o sétimo potencial de ameaça. Sobre a Holanda, que já eliminou o Brasil em duas oportunidades, possui 3 títulos de vice- campeã, endureceu muito o jogo contra a Argentina em 1978, chegou a duas finais fora do seu continente, e outros feitos. Seu time é bom, joga um bom futebol, competitivo e bonito, ataca com potência e defende com eficiência. É o time europeu mais atípico e variável. Tem tradição e força emocional para enfrentar e eliminar o Brasil, o que pode acontecer já nas oitavas. Nesse caso, e considerando as variações probabilísticas, e a incômoda tendência de que, caso aconteça uma eliminação do Brasil, ela seria mais provável antes das semifinais, isso faz da Holanda o número 5 em fator de risco . Dificilmente um time fora desse círculo pode eliminar o Brasil, porém vale lembrar a eliminação da Argentina pela Romênia, e a eliminação da Alemanha pela Bulgária, e da Itália pela Coréia, coisas que já aconteceram em Copas. Vale lembrar também que esse rol não é o de candidatos ao título, mas sim o de maior risco de eliminação do Brasil. Dependendo dos cruzamentos, Colômbia e Inglaterra também podem entrar nesse clube, embora com menores chances. A Inglaterra é um caso interessante, pois vem tendo um desempenho frágil nos principais rankings, mas em certos conjuntos de fatores apresenta uma consistência que pode ser surpreendente. Porém, essa consistência parece estar mais voltada a ganhar a Copa do que a eliminar o Brasil, e isso pode acontecer em termos de probabilidades (vencer sem cruzar com o Brasil). Por outro lado, existem casos opostos, de equipes que parecem reunir condições de complicar a vida do selecionado brasileiro, mas estão demonstrando fragilidade diante de outros adversários, como, por exemplo, França e Uruguai. A Inglaterra ocupa o posto de número 9, e a Colômbia (em função do ranking da Fifa e da bolsa de Londres) fica com o 10º lugar, na lista de candidatos a eliminar o Brasil. Dito isso, e considerando não somente o potencial isolado de cada equipe, mas também a probabilidade do momento no qual o encontro pode acontecer27 o ranking fica assim: Risco  para  o  Brasil   1    Argentina   2    Uruguai   3    Alemanha   4    Espanha   5    Holanda   6    França   7    Itália   8    México   9    Inglaterra   10    Colômbia   27 Teoricamente, quem será enfrentado antes representa perigo mais iminente. A França, por exemplo, tem um potencial de grande risco, baseado no histórico, mas o confronto pode não acontecer.
  • 30. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  30       Você pode estar se perguntando “onde estão os times africanos”, e pode ser dito que, em termos de análise de condições objetivas as tendências estão desfavoráveis para Nigéria, Camarões e Costa do Marfim, bem como Egito e Ghana. Mas as vezes tudo que os deuses do futebol querem é exatamente triturar esse modelos lógicos, e para isso seria necessário aparecer um time arrebatador como aquela Nigéria campeã Olímpica em 2000, que esmigalhou Brasil e Argentina em sequência, ou o também campeão olímpico Camarões, ou algo semelhante àquele Brasil de 1958, que poucos acreditavam ter qualquer possibilidade de sucesso em território europeu. Por enquanto nenhum dos cenários aponta para essa possibilidade. Seriam, claro, uma “zebra”. Representar uma “zebra” em uma análise de cenário é uma tarefa de alta complexidade, por um lado, ou, pelo outro, de extrema simplicidade. Temos uma fauna profícua circulando pela história das Copas, sendo possível fazer grupos de classificações desses simpáticos animais listrados, que acabaram se tornando o símbolo da aleatoriedade no futebol. Existem basicamente 3 grupos: as “zebras domesticadas”; as “zebras selvagens”, e as “falsas zebras”. O primeiro grupo é composto por aqueles casos nos quais “era possível, mas pouco provável” (Bulgária X Alemanha, Romênia X Argentina, ambas em 1994, Alemanha X Hungria em 54), onde, apesar de tudo, o time zebrado jogou um bom futebol e obteve reconhecimento da sua vitória. O segundo grupo são aquele jogos que somente os loucos acertariam, nos quais um time tem mais tradição, constrói melhores indicadores durante o jogo, mas é derrotado (Espanha X Suíça, Brasil X Japão [Olimpíadas], Itália X Coréia do Sul, Alemanha Ocidental X Alemanha Oriental). E o terceiro grupo são aqueles casos nos quais a “zebra” não é o time de mais tradição, mas vem fazendo uma melhor competição e faz um jogo superior, caso clássico de Croácia X Alemanha em 1998. Fica aqui registrada uma homenagem respeitosa a elas, as “zebras”. E para que não se diga que não foram pensadas nas zebras (embora todo o resto seja “zebra” nesse caso), temos uma “zebra domesticada”, que seria a Bélgica, um quinto lugar unânime entre as principais casas de apostas em Londres, e que se conseguir algo como passar por Alemanha e França, pode eliminar o Brasil na Semi1, ou se eliminar Argentina e Espanha/Itália poderia enfrentar o Brasil na final. E se vencer, daí sim haveria uma zebra galopante e sorridente para abalar o stablishment do futebol mundial. As zebras estão ai para isso, o que, no fundo, não deixa de ser um cruzamento de ideais socráticos com algumas premissas freudianas, e um importante alerta contra critérios decisórios baseados em estreita racionalidade. 5) OBSERVAÇÕES E CONCLUSÕES Após esse breve exercício, necessário enfatizar as seguintes ressalvas: • Análise de cenários não é previsão; • O objetivo desse trabalho não é fazer previsões, mas sim avaliar cenários, extrair informações e verificar onde, quando e como elas podem ser utilizadas em outros ambientes; • Especificamente testar os cases de como vão se comportar a gameficação em regime de crowdsourcing e as leituras de cenários digitais, hipótese na qual as coisas se invertem, ou seja, a Copa é mais um laboratório de estudos do que um objetivo de análises;
  • 31. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  31       • O futebol é pródigo na concretização de imponderabilidades, popularmente conhecidas como “zebras”, o que, no jargão científico, significa a destruição da racionalidade convencionalmente estabelecida; • Uma única pessoa, muito inspirada ou muita desastrada, pode colocar todas as previsões no chão; • Existe a possibilidade de “arranjos”, ou mesmo de erros técnicos nas arbitragens, e quem disser que isso é impossível não vive nesse planeta; • É muito mais fácil acertar antecipadamente o resultado de uma eleição do que prever o resultado de uma Copa do Mundo, pois um fator técnico ocasional (positivo ou negativo) pode contrariar todas as opiniões e prognósticos; • O futebol vive dias de equilíbrio, lembrando que o Japão, por exemplo, já venceu o Brasil em uma competição oficial, fato de pouca possibilidade e que fica como exemplo; • Se o Brasil vier a sofrer uma eliminação na Copa de 2014, muito provavelmente o motivo não vai ser técnico ou tático, vai ser a ausência de tratamento adequado de dados e informações, pois esta será a Copa das Informações. Necessário ainda destacar as cautelas identificadas por Silver: “Como podemos aplicar julgamentos aos dados sem sucumbir às nossas tendenciosidades? Em que casos a concorrência… melhora as previsões e em que casos pode piorá-las? Como conciliar a necessidade de usar o passado como guia para reconhecer que o futuro pode ser diferente?” Sobre os cenários 1 a 4: • A Argentina chega com facilidade na Semi2 em todas as simulações, porém em todas elas encontra muitas dificuldades para avançar, em praticamente todos os critérios; • A Alemanha elimina o Brasil na Semi1 em dois cenários, o que desperta a necessidade de muita atenção, embora seja conhecida a dificuldade das seleções europeias quando jogam longe de casa; • O posicionamento da Inglaterra no sexto ranking (líder em confiabilidade digital) e no terceiro cenário (venceria a Copa) despertam especial atenção para um time que está sendo pouco considerado nas previsões tradicionais, incluindo os próprios prognósticos da bolsa de apostas de Londres; • O sexto ranking (confiabilidade digital) vai despertar especial atenção sobre eventual relevância da cultura digital no impacto dos resultados esportivos, e convém uma especial atenção ao desempenho da Inglaterra (e também EUA e Japão, na medida de suas expectativas). Caso sejam surpreendentemente positivos, podem denotar uma relação de causa e efeito (melhor organização digital gera melhor desempenho); • Qualquer que seja o time campeão, deve enfrentar a caminho mais difícil de todos os tempos, e essa conclusão parece ser irrefutável, em especial no caso do Brasil; • Havendo uma eliminação brasileira, a tendência é de que ocorra antes da semifinal; O caso aqui não é de aplicar modelos para “acertar” os resultados da Copa do Mundo, mas, pelo contrário, utilizar a Copa do Mundo como um laboratório para testar e avaliar técnicas de extração de informação, geração de inferências e, se possível, identificação de conclusões e construção tecnológica de inteligência, podendo aplicar tais conhecimentos em outros teatros de operações (Eleitoral, Militar, Econômico, Segurança, Aprendizado, Processos de Cura, Desenvolvimento Tecnologico). A Copa será o maior laboratorio vivo de
  • 32. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  32       análise de dados da história, seja pelo jogo em si, seja pelos demais acontecimentos a ele associados. Especial atenção para o impacto da gameficação em regime de crowdsourcing e para a organização do conhecimento digital (Pagerank, Trustrank, Midias Sociais, Trends/Insights) e seus eventuais impactos na competição, e vice-versa. Referências adicionais: • http://www.ffu.org.ua • http://www.fff.fr/ • http://www.dfb.de • http://www.figc.it/ • http://www.thefa.com/ • http://www.belgianfootball.be/ • http://www.rfef.es/ • http://www.jfa.or.jp/ • http://www.rfs.ru/main/ • http://www.ussoccer.com/ • http://www.knvb.nl/ • http://www.fcf.com.co/ • http://www.kfa.or.kr/ • http://www.anfp.cl/ • http://www.football.ch/de/SFV.aspx • http://www.epo.gr/Home.aspx?a_id=256 • http://www.footballaustralia.com.au/ • http://hns-cff.hr/ Quadro resumo: Risco  para  o  Brasil   Análise  de  Cenários     Ranking  Digital    Argentina      Inglaterra      Uruguai    EUA      Alemanha    Alemanha    Espanha    Japão    Holanda   1) Histórico: Semi1: X Semi2: X Brasil vence a Itália na final 3) Confrontos digitais: Semi1: X Semi2: X Inglaterra vence a Alemanha na final  França    França    Espanha    Itália    Austrália    México    Holanda    Inglaterra    Itália    Colômbia   2) Rankings: Semi1: X Semi2: X Alemanha vence a Espanha na final 4) Séries randômicas: Maiores semifinalistas Brasil vence mais finais  Argentina  
  • 33. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  33       Anexo I – Texto publicado durante a Copa de 2006, sobre a eliminação do Brasil http://www.i3g.org.br/blog/2006/07/tecnologiaefutebol.html Informação,  Tecnologia  e  Soberania:  A  Trilogia  do  Poder   Brasil  x  França:  segredos  e  mistérios  do  futebol.   Por  Hugo  César  Hoesch,  Post  Doc         O   processo   de   racionalização   que   caracteriza   o   Estado   contemporâneo   está   marcado,   indelevelmente,  pelo  domínio  tecnológico  da  informação,  consolidando  uma  inquietante  trilogia   do   poder,   composta   por   informação,   tecnologia   e   soberania.   Não   se   consegue   mais   gerir   informação   sem   tecnologia.   Conseqüentemente,   sem   domínio   tecnológico   da   informação,   nenhum   país   tem   plena   soberania.   A   informação   é   o   insumo   mais   importante   da   organização   social   e   estatal   contemporânea.   Seu   domínio   tecnológico   está,   por   sua   vez,   constantemente   associado   aos   segredos   e   mistérios   das   atividades   de   “inteligência”,   componente   básico   da   chamada  Razão  de  Estado.     Um  excelente,  e  recente,  exemplo  de  uso  estratégico  da  informação  –  U2EI  –  em  uma  área  fora   dos   limites   estatais   aparentes,   aconteceu   na   Copa   do   Mundo,   no   jogo   Alemanha   X   Argentina.   Foram  entregues  informações  ao  goleiro  da  Alemanha,  poucos  momentos  antes  da  disputa  de   pênaltis,  que  continham  um  mapeamento  probabilístico  -­‐  com  base  em  regras  de  associação  e   classificação   -­‐   sobre   os   batedores   argentinos.   O   goleiro   defendeu   duas   cobranças,   e   seu   time   venceu   a   partida.   Para   gerar   as   análises,   eles   obtiveram   dados   através   de   um   levantamento   referente   aos   dois   últimos   anos   de   todos   os   jogadores   da   Argentina,   o   qual   revelou   características   e   tendências   de   cada   um   dos   batedores,   em   itens   como   a   escolha   do   lado,   intensidade   do   chute   e   altura   média   da   bola.   Repare,   nas   imagens   das   cobranças,   que   o   deslocamento  do  goleiro  se  dá  claramente  em  função  desses  três  aspectos.     No   âmbito   da   Sociedade   da   Informação,   um   exemplo   dessa   magnitude   evidencia   que   o   tratamento   estratégico   do   conhecimento   não   é   realizado   através   de   “mistérios”,   mas   sim   de   muito  trabalho,  técnica,  metodologia,  organização  e  tecnologia.  Existe  outro  exemplo  também  na   Copa  do  Mundo.  A  França  fez  algo  similar  contra  o  Brasil.  Eles  levantaram  uma  série  de  dados,   desde  o  número  médio  de  passes  por  jogo,  tempo  médio  no  qual  cada  jogador  fica  com  a  bola,   velocidade   média   da   bola   em   conjuntos   de   passes,   e   vários   outros   tipos   de   informações   similares.  Todos  esses  dados  estão  absolutamente  visíveis  a  todos,  basta  organizá-­‐los  e  analisá-­‐ los.  Uma  situação  pontual  é  o  auferimento  da  velocidade  de  pique  de  vários  jogadores  de  ambos   os  times,  associada  com  o  tempo  médio  de  velocidade  máxima  mantida  nas  corridas  (com  a  bola   e  sem  ela).  Nossos  adversários  sabiam,  por  exemplo,  que  o  atacante  Francês  Henry  superaria  o   defensor  brasileiro  Cafu  em  mais  de  3km/h  nos  piques.     Algumas  declarações  dos  jogadores,  após  o  jogo,  confirmam  a  estratégia  francesa:      
  • 34. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  34       -­‐O  jogador  Henry  (França)  respondeu  a  uma  pergunta  de  jornalistas  franceses,  que  diziam  "que   sorte   vencer   o   Brasil   novamente",   com   a   seguinte   assertiva:   "Sorte?   Vocês   estão   brincando.   Foi   tudo  planejado.  E  deu  certo”;     -­‐Enquanto   isso,   Robinho   (Brasil)   declarava   que   "não   conseguimos   envolver   o   adversário,   como   sempre  fazemos,  não  sei  dizer  o  que  aconteceu";     -­‐Vieira   (França)   completa,   dizendo   que   "planejamos   muitas   dificuldades   para   o   jogo   brasileiro   hoje,  e  tivemos  uma  tática  que  funcionou";     -­‐Cafu   (Brasil)   fez   assertiva   na   mesma   linha,   quando   declarou   que   "eles   bloquearam   nossas   jogadas  pelas  laterais,  e  não  tivemos  alternativas".     Na   verdade,   os   comentários   feitos   pelo   jogador   Henry   (autor   do   gol),   um   dia   antes   do   jogo,   apontavam   para   a   existência   de   alguma   “arma   oculta”   por   parte   dos   franceses.   Quando   ele   afirmou  que  os  brasileiros  jogavam  um  futebol  melhor  porque  "estudavam  menos"  [SIC],  de  uma   certa  forma  indicava  o  caminho  que  seria  seguido.  É  natural  que  as  pessoas  tragam  as  disputas   para  o  ambiente  no  qual  tenham  mais  familiaridade.  Na  verdade,  não  só  as  pessoas,  essa  é  uma   lei  vigente  na  natureza,  comumente  aplicada  por  animais  em  “caçadas”  e  “duelos  territoriais”.  A   França  estabeleceu  um  objetivo  para  aquele  confronto,  qual  seja,  disputá-­‐lo  dentro  de  condições   que  lhe  eram  mais  favoráveis.  Conseguiu,  e  venceu.       Ocorre  que  isso  já  havia  acontecido  antes,  na  final  da  Copa  de  98,  também  cercada  de  mistérios  e   segredos.  Não  me  refiro  ao  incidente  com  Ronaldo  e  às  teorias  da  conspiração  (nem  descarto  a   importância  de  tudo  isso),  mas  vou  focar  em  outro  tipo  de  mistério:  o  comportamento  tático  e  as   estratégias   do   time   francês   naquele   dia,   e   sua   associação   com   ferramentas   tecnológicas.   A   França,   como   se   sabe,   tem   uma   longa   tradição   de   atividades   de   inteligência,   anteriores   à   descoberta   do   Brasil.   Da   mesma   forma,   a   França   também   tem   uma   forte   tradição   no   desenvolvimento  tecnológico.  De  outro  lado,  a  França  também  é  um  país  prodigioso  em  termos   de  segredos  e  mistérios,  desde  a  dinastia  Merovíngia  até  a  telemetria  dos  motores  Renault  na  F1   e   a   construção   do   avião   A380.   Será   que   eles   levam   isso   para   os   gramados?   O   jogo   de   2006   mostra   que   sim.   É   sabido   que   os   times   de   futebol   e   as   seleções   utilizam   tecnologias   para   aquisição   e   tratamento   de   dados.   Ocorre   que   muitas   vezes   os   dados   estão   ali,   mas   não   são   visíveis  e  ninguém  consegue  identificar  as  suas  conexões.       Vários  grupos  científicos,  nas  mais  prestigiosas  universidades  e  centros  de  pesquisa  do  mundo   todo  trabalham  nisso,  com  descobertas  muito  intensas  nos  últimos  anos.  Quer  um  exemplo?  Os   caçadores   de   tornados   caçam,   na   verdade,   os   dados   sobre   os   tornados,   para   entender   seu   comportamento  e  melhorar  as  previsões.  Outro  caso  clássico  foi  uma  descoberta  das  grandes   lojas  de  departamentos  dos  EUA,  alguns  anos  atrás.  Elas  detectaram  que  associando  fraldas  e   cervejas  em  certos  horários,  ambas  venderiam  mais.  Na  mosca.  Apesar  de  parecer  algo  óbvio,   ninguém   tinha   sistematizado   essas   informações,   e,   a   partir   do   momento   no   qual   algoritmos   analisaram   as   compras   realizadas,   comparando-­‐as   com   os   horários   e   o   tipo   de   produtos,   isso   ficou  claro,  através  de  técnicas  de  agrupamento  de  dados  e  relacionamento  de  informações.     A  França,  na  final  da  Copa  de  98,  identificou  pontos  de  vulnerabilidade  no  time  brasileiro  através   de   técnicas   de   agrupamento   e   relacionamento   de   dados.   E   descobriu   segredos   que   estavam   escondidos  nos  números.  Existem  dois  exemplos  claros  disso:  a  primeira  situação  é  um  elevado  
  • 35. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  35       percentual  dos  gols  brasileiros  nos  quais  havia  alguma  participação  dos  laterais.  Isso  não  quer   dizer  exatamente  que  eles  criavam  as  jogadas,  mas  que,  em  algum  momento,  tocavam  na  bola  de   modo   decisivo.   Não   só   nos   gols,   mas   também   nos   momentos   em   que   o   Brasil   estabelecia   o   domínio   das   ações   no   meio-­‐de-­‐campo.   No   futebol   de   hoje,   assim   como   no   jogo   de   xadrex,   dominar  o  espaço  central  do  teatro  de  operações  representa  uma  grande  vantagem.     Todos   que   puxarem   pela   memória   vão   lembrar   que,   desde   o   inicio   daquele   jogo,   havia   algo   estranho   na   saída   de   bola   do   time   brasileiro,   e   que   o   time   Francês   realizou   uma   inovadora   marcação  nos  laterais  do  Brasil.  Assista  novamente  ao  jogo,  e  confira.  Ocorre  que  isso  não  era   uma  "coincidência",  ou  um  "incidente",  mas  uma  estratégia  pensada  pelos  franceses,  forçando  o   Brasil  a  mudar  o  padrão  de  seu  jogo.  Outra  situação:  quantos  gols  de  cabeça  Zidane  fez  antes   daquela  Copa?  Quantos  fez  depois?  Quase  nada  em  ambos  os  casos.  Mas,  naquele  dia,  fez  dois  no   mesmo   jogo.   Um   mapeamento   da   equipe   francesa   apontou   uma   forte   tendência   de   que   os   marcadores   principais   do   Brasil   -­‐   com   mais   altura   e   vocação   para   jogadas   aéreas   -­‐   ficariam   concentrados  nos  cabeceadores  mais  tradicionais  do  time  francês,  e  que  Zidane  -­‐  de  certa  forma   uma  surpresa  na  área  e  tido  como  “mau  cabeceador”  -­‐  tenderia  a  ser  marcado  por  Leonardo.   Faça  as  contas  da  diferença  de  altura  entre  eles  e  relembre  dos  dois  primeiros  gols  da  França   naquele  dia.  E  relembre  também  dos  comentários  após  o  jogo,  quando  todos  diziam  que  "o  cara   não  fazia  gols  de  cabeça,  e  foi  fazer  logo  hoje...".       Como  bem  disse  Ricardinho  (jogador  brasileiro),  antes  do  jogo  de  2006,  "não  podemos  mudar  o   resultado   daquele   jogo",   referindo-­‐se   a   98.   Mas   podemos   aprender   com   o   passado.   Diante   de   tudo  isso,  ficava  evidente  que  os  estudos  estratégicos,  a  mineração  de  dados,  o  reconhecimento   de  padrões,  as  técnicas  de  agrupamento  e  associação  de  informações,  entre  outras,  iriam  entrar   em  campo  novamente  pelo  lado  francês.  No  jogo  de  2006,  a  França  teve  futebol  suficiente  para   conseguir  fazer  com  que  suas  habilidades  tecnológicas  gerassem  um  diferencial  decisivo,  e  o  que   tivemos  foi  um  laboratório  de  estratégia  competitiva  ao  vivo  naquele  dia.  Esse  tipo  de  questão   tem  sido  objeto  de  discussões  em  importantes  eventos  científicos  internacionais.  Em  Padova,  na   Itália,  em  2003,  quando  estava  chegando  para  um  debate  científico  sobre  o  uso  da  inteligência   artificial   no   futebol   de   robôs,   estava   com   uma   bola   de   futebol   nas   mãos,   e   fui   perguntado:   "Professor,   o   senhor   é   cientista   ou   técnico   de   futebol?".   Respondi   (em   tom   de   uma   cômica   ameaça)  que  no  Brasil  todos  são  técnicos  de  futebol.  Depois  das  discussões  científicas,  fizemos   um   jogo   de   futebol,   e,   com   apenas   dois   brasileiros   no   time,   "papamos"   um   combinado   de   europeus.  Depois  eles  comentavam:  "não  valeu,  eles  tinham  brasileiros  no  time".  Sorte  nossa.   Mas,  em  termos  de  desenvolvimento  tecnológico  e  gestão  estratégica  do  conhecimento,  não  há   que  se  falar  em  “sorte”  ou  “mágica”,  mas  sim  em  trabalho  honesto  com  resultado  certo.       Mesmo  sabendo  que  Federação  Francesa  utiliza  sistemas  de  T.I.  (tecnologia  da  informação)  para   coleta  a  análise  de  dados,  e  que  a  Alemanha  faz  o  mesmo,  é  sabido  que  nenhuma  tecnologia  faz   “milagres”,  por  si  só.  Se  assim  fosse,  países  avançados  tecnologicamente,  como  EUA  e  Japão,  já   teriam  vencido  várias  Copas.  Mas,  por  outro  lado,  sabemos  que  o  uso  adequado  das  habilidades   tecnológicas  pode  potencializar  resultados,  melhorar  comportamentos  competitivos,  organizar   ações  e  definir  estratégias,  as  quais,  se  implementadas  com  eficiência,  geram  vitórias.  Ele  pode,   também,  aumentar  a  eficiência  do  Estado  Contemporâneo,  e  de  seus  Poderes.     Sobre  o  autor:  Hugo  Cesar  Hoeschl  é  mestre  em  Filosofia,  Doutor  em  Inteligência  e  Pós-­Doutor  em   Governo  Eletrônico  pela  UFSC.  Publicou  15  livros  e  apresentou  mais  de  150  trabalhos  científicos  em   congressos   internacionais,   tendo   sido   palestrante   no   encontro   pan-­americano   sobre   futebol   de  
  • 36. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  36       robôs  na  universidade  Carneggie  Mellon,  nos  EUA,  falando  sobre  "Soccer  Intelligence"  (Inteligência   Futebolística).  Já  exerceu  as  funções  de  Promotor  de  Justiça,  Procurador  da  Fazenda  Nacional  e   Secretário   de   Geração   de   Oportunidades   de   Florianópolis.   Veja   as   Fotos   da   Robocup   2003,   em   Padova,  na  Itália:    
  • 37. Copyright by Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc - Direitos autorais reservados Página  37