1. Ser pessoa é ser com o outro; não é ser ao lado do outro, eventualmente
contra o outro, eventualmente vendo no outro a sua presa. O outro é a minha
vocação enquanto pessoa. Preciso do outro na exacta medida em que o outro
precisa de mim”
O que Ortega y Gasset disse da circunstância pode dizer-se do outro. Disse ele:
yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo. Direi eu,
nele apoiado: eu sou eu e o outro; e se não salvo o outro não me salvo a mim.
Acrescentarei: na circunstância. Porque na circunstância estamos imersos eu e
o outro, eu e os outros. Todos juntos é que fazemos a humanidade.1
Bravo Nico
Reflexão
Esta não é talvez a reflexão esperada, porém a motivação para escrever este
texto nasceu de uma certa idiossincrasia, na aposta que caminhamos para
novas etapas da condição humana, e ainda pela circunstância comum a todos
os colegas bibliotecários, durante as nossas sessões de formação, porque como
diz Ortega y Gasset eu sou eu e a minha circunstância...
Na verdade, esta era pode denominar-se como a era do hardware e do
software, a mesma “tem gerado a introdução de uma nova palavra no léxico
empresarial: mindware que visa, precisamente, optimizar as capacidades de
pensamento e de acção dos indivíduos nas organizações, tornando-as cada vez
mais em «organizações que aprendem» (Learning organizacion)2. Porém, o
Ministério da Educação (à semelhança de muitas empresas), e de muitos
superiores hierárquicos, parecem esquecer a inteligência dos professores e a
optimização destes recursos humanos, maximizando o potencial dos Recursos
Humanos de que dispõem. Este esquecimento está profundamente arreigado
entre nós como consequência dos condicionalismos históricos, e do peso da
tradição. Tal como todos sabemos, em muitas empresas e grupos, a única
maneira de liderar que se perpetua é a de tomar decisões individualmente, sem
se auscultarem as necessidades dos demais e sem se apostar na motivação
intrínseca dos seus membros. Entendendo que as organizações precisam de
“compreender as necessidades humanas, que orientam e dinamizam o
comportamento humano em direcção a certos objectivos pessoais, utilizando a
motivação como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida dentro das
organizações”3. Se entendermos a motivação como “ o equivalente do desejo
de adoptar elevados níveis de esforço com vista a alcançar objectivos
organizacionais, tendo no esforço a medida da intensidade e na necessidade o
estado interno que determina o grau de atracção de um resultado, aliando-o ao
1
Nico, Bravo; Aprendizagens do interior; Reflexões e Fragmentos, p. 23
2
Câmara, Guerra e Rodrigues, 1997; Humanator, Lisboa, p. 191
3
Cfr., Chiavenato I., Recursos Humanos, São Paulo, Editora Atlas, p. 366
2. objectivo ou meta, que serve de referência ao comportamento”4, a relação
recompensa-objectivo induzem a altos graus de motivação porque satisfazem
as necessidades dominantes do indivíduo de auto-realização, … sendo
consistentes com os seus objectivos pessoais.
Uma liderança que aposta na motivação intrínseca é aquela que aposta na
liberdade e criatividade dos seus membros ou seja que tem uma orientação
para as pessoas, enfatizando o seu bem-estar e a satisfação das suas
necessidades pessoais e profissionais, aliando-as aos níveis de
sucesso/resultados do grupo. Assim e esperando que os aspectos da “tradição”
não sejam vistos como uma “traição” (expressão do Prof. Patrício) aos velhos
métodos e costumes que nos têm sustentado, mas sejam tidos como uma
experiência, da qual partimos para a reconstrução de práticas mais
democráticas, cada vez mais humanas e assertivas, com orientação e com
margens de actuação e decisão em que os professores são livres para escolher
a orientação da sua profissionalidade, para dedicar parte do horário de
formação dedicando-a a partilhar a sua experiência profissional, propomos que,
sem colocar em causa a liderança formal, cada um dos professores seja ao
mesmo tempo formador e formando, numa área em que demonstre uma boa
performance .
Tendo como premissa, que alguns dos professores bibliotecários
necessitam de praticar: a criação de blogs, de face-books, a introdução
de material escrito e visual nos mesmos e ainda em plataformas moodle
- propomos sessões de trabalho em que os que revelem altas
performances nesta área, se constituam em formadores e veiculem os
seus conhecimentos para aperfeiçoamento ou aprofundamento dos
conhecimentos, de forma prática.
Sendo o livro um instrumento de trabalho precioso aos professores
bibliotecários propomos que os professores que demonstrem vontade
dêem a conhecer aos restantes livros, que de alguma forma o professor
considere excepcional, para futuramente ser trabalhado com os alunos
no contexto da biblioteca.
- Sessões de trabalho de leitura expressiva de cada um dos livros,
orientadas também em colaboração pela pelos colegas Paulo e Isabel
que demonstraram muito mérito nesta área.
- Sessões de trabalho para planificação de actividades acerca do livro
apresentado.
Criação de uma maleta pedagógica com materiais produzidos durante as
sessões e com adereços relativos às histórias.
Formação em “contador de histórias”. Mais tarde talvez, caso seja
possível, formação ministrada por um contador de histórias profissional.
4
Ibid, p. 239
3. Formação para dinamização de um clube de escrita criativa, propostas
de livros, sugestão de actividades de escrita criativa para levar os alunos
à produção de frases, pensamentos e textos em prosa poética, aliando-
os à sua impressão de forma estética.
Formação para dinamização de um clube de leitura, propostas de livros,
propostas para dinamização de rodas de leitura, sugestão de actividades
e jogos de leitura, propostas de trabalho após a leitura do livro.
Por fim, mas não por último o meu muito obrigada à nossa Coordenadora, a
professora Madalena, com quem tanto aprendi ao longo deste ano lectivo.
Rosário Cavaco Ferreira