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Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org>                                   © Ciências & Cognição
         Submetido em 12/02/2007 | Revisado em 18/03/2007 | Aceito em 20/03/2007 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2007




                                                                                                         Artigo Científico




A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental: ações que
                    favorecem a sua aprendizagem
   The science classroom in the first years of primary school: actions in favor of the learning in
                                          science teaching
                                                                            ,a
                           Dulcimeire Ap Volante Zanon                           e Denise de Freitasb
  a
  Departamento de Didática, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP),
  Campus Araraquara, São Paulo, Brasil; bDepartamento de Metodologia de Ensino, Centro de
 Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, São
                                        Paulo, Brasil

       Resumo

       Este artigo tem como objetivo discutir a importância das atividades investigativas e das interações
       discursivas em sala de aula no ensino de Ciências. Essas atividades podem ser entendidas como
       situações em que o aluno aprende ao envolver-se progressivamente com as manifestações dos
       fenômenos naturais, fazendo conjecturas, experimentando, errando, interagindo com colegas, com os
       professores, expondo seus pontos de vista, suas suposições, e confrontando-os com outros e com os
       resultados experimentais para testar sua pertinência e validade. Esses processos de ensino-
       aprendizagem têm no início da escolarização uma importância ainda maior, pois auxiliam os alunos a
       atingir níveis mais elevados de cognição, o que facilita a aprendizagem de conceitos científicos. Ao se
       utilizar o instrumento analítico desenvolvido por Mortimer e Scott, foi possível revelar as dinâmicas
       interativas e os fluxos de discurso em salas de aula das séries iniciais do Ensino Fundamental,
       ajudando a compreender aspectos importantes da prática docente e do processo de aprendizagem
       científica dos alunos. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 10: 93-103.

       Palavras-chave: Ensino e aprendizagem de Ciências; atividades investigativas;
       interações discursivas.

       Abstract


   – D.A.V. Zanon possui Graduação em Licenciatura em Química (UFSCar), Mestrado e Doutorado em Educação,
na área de Metodologia de Ensino (UFSCar). Concluiu o programa de Pós-Doutorado na área de Ensino, Avaliação e
Formação de Professores da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Prestou
assessoria pedagógica na formação de professores à Educativa - Cooperativa Educacional de São Carlos. Atua como
professora do Departamento de Didática da Faculdade de Ciências e Letras (UNESP - Campus de Araraquara) nas
disciplinas de Prática de Ensino de Química I e II e Metodologia de Ensino. E-mail para correspondência:
cdzanon@uol.com.br. D. Freitas possui Graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado - Faculdade
de Filosofia Ciências e Letras Barão de Mauá, Ribeirão Preto), Especialização em Ensino de Ciências (UNICAMP),
Mestrado em Educação (UFSCar) e Doutorado em Educação (Universidade de São Paulo). Realizou seu pós-
doutoramento pela Universidade de Lisboa Portugal. Atualmente é Professora Adjunta (UFSCar) e Assessora do Setor
de Biologia do Centro de Divulgacão Científico e Cultural USP - São Carlos. Atua como docente e pesquisadora, no
mestrado e doutorado, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSCar) (auxílio parcial do CNPq). E-
mail para correspondência: dfreitas@power.ufscar.br



                                                                                                                                        93
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       The purpose of this article is to discuss the importance of the investigative activities and of the
       discursive interactions in a classroom during the Science teaching. These activities can be understood
       as situations in which the student learns, getting progressively with the observation of natural
       phenomena, conjecturing, experimenting, making errors, interacting with classmates, with specialized
       people, stating his points of view and hypotheses and confronting them with others and with the
       experimental results in order to test their effectiveness and their pertinence. Their relevance is even
       greater at the beginning of the schooling process, since such activities help students to reach higher
       levels of cognitions, and, by doing so, they make it easier for them to learn scientific concepts. The
       analytical instrument developed by Mortimer and Scott allowed us to reveal the alternative dynamics
       and the speech flow in a third grade classroom of a elementary school, helping to understand
       important aspects of the teaching practice and the scientific learning process of the students. ©
       Ciências & Cognição 2007; Vol. 10: 93-103.

       Keywords: Science teaching; Science learning; investigative activities; verbal
       interaction.

Introdução                                                    natureza da Ciência ou ao desenvolvimento
                                                              de atitudes.
        Tendo em vista as dificuldades                                Acreditamos que a atividade experi-
encontradas pelos alunos para aprenderem os                   mental deve ser desenvolvida, sob orientação
conceitos científicos no ensino de Ciências,                  do professor, a partir de questões investiga-
vários pesquisadores, como Borges (2004),                     tivas que tenham consonância com aspectos
Insausti e Merino (2000), Sére (2002), Silva e                da vida dos alunos e que se constituam em
Zanon (2000), têm discutido e apontado em                     problemas reais e desafiadores.
seus estudos alternativas metodológicas para a                        Essas atividades, oportunizadas pelo
melhoria da qualidade deste ensino.                           professor e realizadas pelos alunos, têm como
        Na literatura e nos Congressos sobre                  objetivo ir além da observação direta das
Didática das Ciências aparecem, com                           evidências e da manipulação dos materiais de
freqüência, críticas ao trabalho de experimen-                laboratórios: devem oferecer condições para
tação, sobretudo ao que é desenvolvido no                     que os alunos possam levantar e testar suas
ensino médio e universitário (Praia e                         idéias e/ou suposições sobre os fenômenos
colaboradores, 2002; Reigosa e Jiménez,                       científicos a que são expostos.
2000). Apesar das lógicas diferenciais desses                         Nessa direção, a atuação do professor
estudos, todos apresentam em comum a idéia                    como orientador, mediador e assessor das
de que as atividades experimentais, quando se                 atividades inclui: lançar ou fazer emergir do
destinam a ilustrar ou a comprovar teorias,                   grupo uma questão-problema; motivar e
são limitadas e não favorecem a construção de                 observar continuamente as reações dos
conhecimento pelo aluno.                                      alunos, dando orientações quando necessário;
        Segundo Psillos e Niedderer (2002), a                 salientar aspectos que não tenham sido
maior parte do tempo dedicado às aulas                        observados pelo grupo e que sejam impor-
laboratoriais é utilizada para manipulação de                 tantes para o encaminhamento do problema;
aparatos e realização de medições, aspectos                   produzir, juntamente com os alunos, um texto
que contribuem muito pouco para o inter-                      coletivo que seja fruto de negociação da
relacionamento da teoria com a experiência.                   comunidade de sala de aula sobre os conceitos
Essa orientação, na qual o comportamento                      estudados.
mecânico do aluno é requerido nas primeiras                           Entendida dessa forma, a atividade
etapas do processo e o envolvimento cogni-                    experimental visa aplicar uma teoria na
tivo só advém na parte final da atividade,                    resolução de problemas e dar significado à
retrata a ênfase dada pelos professores aos                   aprendizagem da Ciência, constituindo-se
objetivos relacionados apenas à aquisição de                  como uma verdadeira atividade teórico-
conhecimento mecânico em detrimento de                        experimental (González Eduardo, 1992).
objetivos que levem à compreensão da


                                                                                                                 94
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        Neste artigo discutimos o potencial                  convidados a participar de cursos oferecidos
tanto das atividades dessa natureza quanto dos               pelo Centro de Divulgação Científica e
“diálogos sobre as atividades” realizadas entre              Cultural (CDCC) USP/São Carlos no âmbito
os alunos e professores em sala de aula no                   do projeto de ensino chamado “ABC na
ensino de Ciências. Foram observados                         Educação Científica – Mão na Massa”.
comportamentos de alunos e professoras em                            Historicamente, o desenvolvimento
salas de aula de 1ª, 3ª e 4ª séries do ensino                desse projeto foi iniciado com o pesquisador
fundamental durante o desenvolvimento de                     Leon Lederman – prêmio Nobel de Física –
atividades experimentais sobre a flutua-                     em Chicago, na década de 90, chamado
bilidade dos objetos na água. Por meio do                    Hands-on. Foi ampliado a outros países,
referencial de análise de Mortimer e Scott                   como o que ocorreu na França em 1995 com a
(2003), são analisadas as dinâmicas                          colaboração de George Charpak – também
interativas e os fluxos de discurso que ajudam               laureado com ao Prêmio Nobel de Física – e
na compreensão dos aspectos importantes da                   com o apoio da Academia Francesa de
prática docente e do processo de aprendi-                    Ciências. Os módulos Insights do programa
zagem dos alunos. Finalmente, tecemos                        norte-americano foram traduzidos para o
algumas considerações a respeito da impor-                   francês com adaptação de infra-estrutura de
tância dessa ferramenta analítica no estudo de               materiais e formação de professores. Na
atividades de natureza teórico-experimental.                 França, com o nome La Main à la Pâte, o
                                                             programa governamental envolve crianças de
Importância de atividades investigativas                     5 a 12 anos de idade. No Brasil, denominado
para a aprendizagem de conceitos cientí-                     ABC na Educação Científica – Mão na
ficos: o projeto “ABC na Educação                            Massa, o projeto foi iniciado em maio de
Científica – Mão na Massa”                                   2001, a partir de um acordo entre as
                                                             academias de ciências da França e do Brasil
        Ao nos referirmos às atividades                      envolvendo escolas municipais e estaduais do
investigativas, parece iminente a idéia de                   Rio de Janeiro e do estado de São Paulo (a
experimentação. Na verdade, a experimen-                     grande São Paulo e São Carlos, interior). As
tação no ensino de Ciências não resume todo                  adesões dos professores foram espontâneas e
o processo investigativo no qual os alunos                   voluntárias.
estão envolvidos na formação e desenvol-                             Esse projeto tem como objetivo
vimento de conceitos científicos. Há que se                  favorecer e estimular a articulação entre a
considerar também que o processo de                          realização da experimentação e o desenvolvi-
aprendizagem dos conhecimentos científicos                   mento da expressão oral e escrita na constru-
é bastante complexo e envolve múltiplas                      ção do conceito científico. Nas atividades
dimensões, exigindo que o trabalho investi-                  experimentais investigativas, o professor
gativo dos alunos assuma, então, variadas                    suscita o interesse dos alunos a partir de uma
formas que possibilitem o desencadeamento                    situação problematizadora em que a tentativa
de distintas ações cognitivas, tais como:                    de resposta dessa questão leva à elaboração de
manipulação de materiais, questionamento,                    suas hipóteses (concepções prévias). A
direito ao tateamento e ao erro, observação,                 realização do experimento, a análise dos
expressão e comunicação, verificação das                     resultados obtidos e a pesquisa documental
hipóteses levantadas. Podemos dizer que esse                 confirmam ou não as hipóteses. Além disso,
também é um trabalho de análise e de síntese,                estimula-se a interação entre os colegas e com
sem esquecer a imaginação e o encantamento                   o professor de modo que eles discutam tenta-
inerentes às atividades investigativas.                      tivas de explicar um determinado conceito ou
        A partir dessa concepção de                          fenômeno científico.
investigação, professores de 1ª a 4ª série do                        Nessa perspectiva, pretende-se que o
ensino fundamental da rede estadual e                        aluno articule a expressão oral e a escrita com
municipal do interior de São Paulo foram                     base nas atividades investigativas e faça uso


                                                                                                         95
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desta última na compreensão de conceitos                     diferentes abordagens, ou seja, contextua-
científicos. Ao se trabalhar na perspectiva de               lização e verificação das concepções iniciais
um conhecimento que se constrói, a neces-                    dos alunos; influências da forma e da massa
sidade da pesquisa e do registro faz com que a               dos objetos; água e/ou quantidade de água e
utilização da escrita e da leitura seja uma                  densidade do líquido. Além dessas, foi
constante, qualquer que seja a área do                       estudado o funcionamento de um submarino,
conhecimento que se está trabalhando.                        usando-se, durante o experimento, um sistema
Escrever e ler passam a ter significado, pois                que o simulava (representado por seringas,
são instrumentos essenciais de comunicação e                 mangueira e rolha).
registro das concepções, da questão de
pesquisa, do observado, do manipulado, do                    Uma ferramenta para analisar as intera-
constatado, do texto coletivo negociado.                     ções e a produção de significados em sala
        Sob a ótica do desenvolvimento da                    de aula
linguagem, o método do projeto ABC na
Educação Científica – Mão na Massa                                   Num dos artigos elaborados por
considera que a Ciência apresenta uma                        Mortimer e Scott (2003), esses autores
linguagem própria e uma forma particular de                  apontam a necessidade de tornar visíveis as
ver o mundo, construída e validada social-                   práticas discursivas existentes em sala de aula
mente. O aluno é estimulado o tempo todo a                   e apresentam uma ferramenta para analisar as
falar sobre determinado fenômeno, procuran-                  interações e a produção de significados sobre
do explicá-lo para os colegas, e o professor,                os conhecimentos de Ciências. Os autores
discutindo e considerando diferentes pontos                  definem interações discursivas “como consti-
de vista. Com isso, a criança tem a                          tuintes dos processos de construção de
oportunidade de familiarizar-se com o uso de                 significados”. Para eles, a ênfase no discurso
uma linguagem que carrega consigo                            e na interação tem sido pouco discutida entre
características da cultura científica (Driver e              professores e investigadores da área; no
colaboradores, 1999), ao mesmo tempo em                      entanto, elas dão suporte para a compreensão
que a ortografia da língua materna é discutida               sobre os processos pelos quais os alunos
e exercitada. Outros países também                           constroem significados em sala de aula,
implementaram, em sala de aula, essa pro-                    “sobre como estas interações são produzidas e
posta metodológica no ensino de Ciências                     sobre como os diferentes tipos de discursos
dentre eles Marrocos (1998), Senegal (1999),                 podem auxiliar a aprendizagem” (Mortimer e
Egito (2000), Colômbia (2000), Vietnã                        Scott, 2003: 3). Segundo os autores, o ingres-
(2000), Afeganistão (2002) e China (2002).                   so dessa abordagem na educação científica –
No Brasil, foi escolhido, em nível nacional, o               interações discursivas – é como a entrada em
tema água como tópico a ser estudado,                        uma nova cultura, diferente da cultura do
juntamente com o eixo temático flutua-                       sentido comum, em que o professor possui
bilidade dos objetos, com tradução da versão                 um papel fundamental como representante da
francesa e adaptações para a realidade local.                cultura científica.
        Uma das escolas convidadas permitiu-                         Mortimer (2004: 69) reitera a neces-
nos acompanhar o desenvolvimento do                          sidade de um novo olhar no ensino e nas aulas
trabalho de professores responsáveis por                     das Ciências Naturais ao afirmar que:
turmas de 1ª, 3ª e 4ª séries (40 horas/aula de
observação em cada uma das delas) e                              “(...) a complexidade da sala de aula e a
observar as interações durante todo o                            singularidade das ações práticas dos
processo investigativo.                                          professores demandam ferramentas
        Considerando a estrutura metodoló-                       analíticas que tornem visíveis aspectos
gica do projeto descrita anteriormente, o                        importantes dessas ações, de modo a
estudo da flutuabilidade dos objetos foi                         possibilitar a reflexão sobre um reper-
desenvolvido em sete momentos, vistos sob


                                                                                                          96
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  tório de ações bem-sucedidas do ponto                      ver o uso de gêneros do discurso nas salas de
  de vista da aprendizagem dos alunos”.                      aula de Ciências, ou seja, é um potencial
                                                             teórico para analisar como diferentes
        Para esse autor, a atividade discursiva              abordagens do processo comunicativo se
é central para várias ações que os professores               articulam ou não às intenções do professor em
desempenham em sala de aula. Nos últimos                     diferentes fases da sua ação didática.
anos, a psicologia sócio-histórica ou sócio-                 Inspirada em Bakhtin, essa contribuição
cultural tem influenciado a pesquisa em                      também tem permitido ampliar a compre-
educação e resultado no desenvolvimento                      ensão da linguagem para além das interações
gradual do interesse sobre os processos de                   interpessoais, ao mostrar que o discurso é
“significação do conhecimento científico”,                   influenciado pela posição social do falante e
gerando um programa de pesquisa que                          pelo lugar institucional onde é produzido.
procura responder como os significados são                   Mortimer e Machado (1997) enfatizam a
criados e desenvolvidos por meio do uso da                   importância da forma com que o professor
linguagem oral e outros meios de                             intervém nas discussões com seus alunos,
comunicação.                                                 independente do objetivo a ser almejado, pois
        Apesar dessa nova ênfase no discurso                 tanto pode encorajá-los a participar da
e na interação, ainda se conhece pouco sobre                 discussão como pode reprimi-los. Para os
como os professores dão suporte ao processo                  autores, é necessário que as discussões sejam
pelo qual os alunos constroem significados                   conduzidas sem a perda do rumo estabelecido.
em salas de aula de Ciências, sobre como                     Não basta deixar que os alunos falem
essas interações são produzidas e sobre como                 livremente, é preciso encontrar um equilíbrio
os diferentes tipos de discurso podem auxiliar               entre a livre apresentação de idéias e a
a aprendizagem dos estudantes.                               atenção às questões já discutidas. Nesse
        Nesse sentido, a ferramenta analítica                processo, a presença do professor é funda-
desenvolvida por Mortimer e Scott (2003)                     mental, solicitando esclarecimentos quando
busca dar visibilidade a esses processos,                    necessário, relacionando falas de diferentes
podendo revelar as singularidades dessas                     alunos e resgatando conceitos esquecidos.
ações e permitindo a reflexão consciente                             A estrutura analítica da ferramenta é
sobre o processo pelo qual os professores                    baseada em cinco aspectos inter-relacionados
podem agir para guiar as interações que                      que focalizam, principalmente, o papel do
resultam na construção de significados                       professor, agrupados em três categorias de
desejáveis do ponto de vista científico.                     análise, como indica o quadro 1 a seguir.
        Segundo Wertsch (apud Mortimer e
Smolka, 2003), essa ferramenta busca descrê-

                                        Aspectos da análise
                                 1. Intenções do professor
      Focos de ensino
                                 2. Conteúdo
        Abordagem                3. Abordagem comunicativa
                                 4. Padrões de interação
           Ações
                                 5. Intervenções do professor
Quadro 1 - Estrutura analítica: uma ferramenta para analisar as interações e a produção de
significados em salas de aula de Ciências (Mortimer e Scott, 2003).

        A seguir, cada um desses aspectos é                  partir de uma seqüência de ensino em sala de
descrito de modo a explicitar as categorias de               aula, percebe-se a ocorrência de ricas e
análise propostas pelos autores.                             substantivas interações entre professor e
        O primeiro aspecto da estrutura                      alunos, transparecendo as diferentes intenções
analítica se refere às intenções do ensino. A                que orientam as intervenções do professor.


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        Segundo Mortimer e Scott (2003), o                    gicas que resultam em diferentes padrões de
ensino de Ciências produz um tipo de                          interação.
“performance pública” no plano social da sala                         Os autores identificam dois extremos
de aula. Essa performance é dirigida pelo                     quanto à natureza das intervenções, que são
professor que elaborou o seu plano de aula e                  definidos por meio da caracterização do
tem a iniciativa em “apresentar” as várias                    discurso entre o professor e os alunos ou entre
atividades que o constituem. O trabalho de                    os próprios alunos. Na abordagem comunica-
desenvolver a “história científica” é central                 tiva dialógica, o professor dá a vez e a voz ao
nessa performance. Há, no entanto, outras                     aluno e ocorre interanimação de idéias. Já na
intenções que precisam ser consideradas                       abordagem comunicativa de autoridade, o
durante uma seqüência de ensino: criar um                     professor considera aquilo que o aluno diz
problema; explorar a visão dos alunos;                        apenas do ponto de vista do discurso
introduzir e desenvolver a história científica;               científico escolar, não há múltiplas vozes e
guiar os estudantes no trabalho com as idéias                 interanimação de idéias.
científicas e dar suporte ao processo de                              Na prática, qualquer interação
internalização; guiar os estudantes na                        provavelmente contém aspectos de ambas as
aplicação das idéias científicas e na expansão                dimensões, dialógica e de autoridade, que
de seu uso, transferindo progressivamente                     podem ser combinadas para gerar quatro
para eles o controle e a responsabilidade desse               classes de abordagem comunicativa:
uso; manter a narrativa: sustentar o desenvol-
vimento da ‘história científica’.                             • Interativa/dialógica: professor e estudantes
        O conteúdo do discurso de sala de aula                  exploram idéias, formulam perguntas
é o segundo aspecto. Nas aulas de Ciências                      autênticas,    oferecem,    consideram      e
ocorrem múltiplas interações entre o professor                  trabalham diferentes pontos de vista;
e os alunos e essas se referem a uma ampla                    • Não-interativa/dialógica:     o     professor
variedade de conteúdos, que inclui: a história                  reconsidera, na sua fala, vários pontos de
científica a ser ensinada (possivelmente                        vista, destacando similaridades e diferenças;
envolvendo aspectos conceituais, tecnológi-                   • Interativa/de autoridade: o professor
cos e ambientais); aspectos procedimentais do                   geralmente conduz os estudantes por meio
fazer Ciências (por exemplo, como montar                        de uma seqüência de perguntas e respostas,
um sistema simples de destilação da água);                      com o objetivo de chegar a um ponto de
questões de gerenciamento e organização da                      vista específico;
sala de aula (por exemplo, dando instruções                   • Não-interativa/ de autoridade: o professor
para tarefas a serem realizadas ou chamando a                   apresenta um ponto de vista específico.
atenção e solicitando silêncio da turma em
determinado momento da aula). Mesmo                                   Um quarto aspecto da análise –
reconhecendo a importância de todos esses                     padrões de interação – refere-se aos
aspectos na definição dos conteúdos das                       momentos específicos da fala do professor e
interações em sala de aula, a estrutura                       do aluno e que comumente são representados
analítica proposta foca a atenção nos conteú-                 pela tríade I-R-A (Iniciação, Resposta,
dos relacionados ao desenvolvimento da                        Avaliação). Podem ocorrer também seqüên-
história científica que está sendo ensinada, ou               cias estendidas fechadas do tipo I-R1-R2-F-R-
seja, dos conteúdos conceituais do assunto a                  F-R...A, em que a iniciação do professor pode
ser abordado.                                                 gerar diferentes respostas, que podem ter
        O conceito de abordagem comunica-                     feedbacks intermediários do professor e são
tiva é central na estrutura analítica e se refere             finalmente encerradas como uma avaliação.
ao terceiro aspecto. Diz respeito a como o                    As cadeias de interação estendidas abertas
professor trabalha as intenções e o conteúdo                  têm o mesmo formato do padrão anterior, mas
do ensino por meio de intervenções pedagó-                    sem a avaliação final do professor.



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        O último aspecto da ferramenta remete                seja com os colegas. Assim como asseveram
aos modos como o professor intervém para                     Mortimer e Smolka (2003), tomamos o
desenvolver a história científica e torná-la                 cuidado metodológico de situar o contexto no
disponível para todos os alunos na sala de                   qual as palavras foram ditas, ou seja, o
aula. Essa análise se baseia no esquema                      contexto da atividade que realizaram alunos e
proposto por Scott (1998), no qual seis formas               professores.
de intervenção pedagógica foram identifica-                         Na análise dos episódios foram consi-
das. Relacionadas com o foco e as ações do                   derados os seguintes aspectos:
professor, são elas assim caracterizadas: dar
forma, selecionar, marcar e compartilhar                     1) a intenção da professora;
significados – chaves, checar o entendimento                 2) o conteúdo;
dos alunos e rever o progresso da história                   3) o padrão de interação;
científica.                                                  4) a forma de intervenção;
        Os autores acreditam que essa ferra-                 5) o tipo de abordagem comunicativa.
menta pode ter impacto nas práticas pedagó-
gicas dos professores se preencher dois                               Por fim, designamos por “uma síntese
critérios básicos:                                           interpretativa” as constatações evidenciadas e
                                                             sistematizadas pela pesquisadora em cada
• ela precisa capturar efetivamente os                       foco de ensino.
  aspectos-chave do que acontece nas salas de                        Os resultados dos experimentos
  aula;                                                      realizados foram explicados pelos alunos por
• ela precisa ser desenvolvida num nível de                  meio de modelos já existentes. No caso do
  detalhe apropriado, de modo a facilitar o                  estudo da flutuabilidade dos objetos, consi-
  trabalho de análise e planejamento de                      derar as concepções dos alunos foi essencial,
  ensino.                                                    sendo para as professoras um sinal verde para
                                                             orientar a tomada de decisão no encami-
Análise das interações discursivas durante                   nhamento da discussão do conceito científico.
  as atividades investigativas                                       Das análises das práticas pedagógicas
                                                             das três professoras, notamos que as mesmas
        As discussões efetuadas em salas de                  procuraram discutir as idéias dos alunos: “de
aulas de 1ª, 3ª e 4ª séries foram analisadas à               que tudo o que é pesado afunda e leve flutua”.
luz da “ferramenta” teórico-metodológica                     Enfatizaram mais o levantamento das idéias
desenvolvida por Mortimer e Scott (2003). As                 dos alunos, assumindo um discurso dialógico,
relações dialógicas estabelecidas em sala de                 não avançando para uma interação que
aula foram observadas e registradas pela                     levasse a um discurso de autoridade, o que
pesquisadora durante o desenvolvimento do                    seria um primeiro passo no desenvolvimento
conteúdo de flutuabilidade dos corpos em sala                da história científica.
de aula.                                                             Concordamos com Mortimer e Scott
        No desenvolvimento desse conteúdo,                   (2003) que deveria existir uma linha divisória
as atividades de ensino tiveram como objetivo                entre as discussões das idéias iniciais e dos
identificar as grandezas que interferem na                   resultados experimentais com as intervenções
flutuação dos corpos nos líquidos. Para isso,                que possam rever e sintetizar o progresso
os alunos verificaram a massa e a forma dos                  alcançado. Uma das intervenções do professor
objetos e realizaram experimentos, tal como a                é manter a narrativa, isto é, prover comen-
construção de um submarino para analisarem                   tários sobre o desenrolar da história científica
o efeito da ação da água.                                    – central nesse processo –, de modo a ajudar
        Foram selecionados alguns episódios                  os alunos a seguir seu desenvolvimento e a
de ensino em que os conteúdos científicos                    entender suas relações com o currículo de
estiveram mais presentes nas interações                      Ciências como um todo. Assim, faz parte do
discursivas, seja dos alunos com a professora,               trabalho do professor intervir, introduzir


                                                                                                          99
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novos termos e novas idéias para fazer a                     colaboração do professor na produção do
história científica avançar.                                 conhecimento redimensionam novos papéis
        Segundo Mortimer (2004: 79):                         no ensino-aprendizagem de Ciências. O
                                                             quadro 2, a seguir, apresenta as diferenciações
  “(...) parece fundamental considerar a                     metodológicas percebidas pelas professoras
  importância da professora intervir para                    entre o ensino habitual e o ensino com
  levar uma etapa da atividade ao fecha-                     atividades investigativas.
  mento, pontuando o estágio do                                      Com base no ponto de vista dos
  desenvolvimento da história científica                     discursos, um aspecto central emergiu das
  com afirmações relacionadas ao corren-                     aulas das três professoras: a forma pela qual o
  te estágio de entendimento.”                               conteúdo do discurso sofre uma “transforma-
                                                             ção progressiva” desde as idéias cotidianas
       Torna-se necessário, então, resgatar a                dos alunos de que as coisas pesadas afundam
característica mais peculiar do papel do                     e as coisas leves não afundam até a
professor:                                                   compreensão de que não são apenas os
                                                             objetos que exercem uma ação, mas a água
  “a interação sistemática e planificada                     também.
  dos autores do processo educativo,                                 Associados ao método do trabalho
  alunos e professor, em torno da realiza-                   investigativo, os discursos assumiram a
  ção das tarefas de aprendizagem.” (Coll,                   configuração discutir/realizar experimento/
  1985: 63)                                                  concluir, ou seja, um ritmo de discurso
                                                             bastante similar ao dos autores (Mortimer e
      A participação cognitivamente ativa                    Scott, 2003): discutir/ trabalhar/rever.
dos alunos durante todo o processo e a

    Ensino habitualmente realizado em
                                                              Ensino com atividades investigativas
        sala de aula pelas professoras
Desenvolvimento          do       conteúdo   Consideração de tudo o que o aluno comenta, indaga
programático segundo o livro didático.       ou questiona nas aulas.
O conteúdo é dirigido pela professora.       Articulação da oralidade e da escrita dos alunos.
O livro didático conclui pelo aluno.         Prioriza-se o interesse do aluno nas questões
                                             desencadeadoras.
 Experimentação: comprovação de um Experimentação: constatação do resultado por meio
 conceito dado “pronto” para o aluno.        da vivência completa e concreta.
 Levantamento de hipóteses: feito apenas Levantamento de hipóteses: anotação de tudo.
 por meio de conversa.
                                             Os alunos e o professor são responsáveis pelo
                                             fechamento do assunto.
                                             Trabalho na maior parte do tempo em grupo.
                                             Durante o processo acontecem imprevistos, sendo
                                             necessário ampliar e aprofundar etapas e com isso
                                             replanejar outros passos.
                                             Entusiasmo do aluno a cada atividade apresentada.
Quadro 2 - Diferenciação metodológica entre o ensino habitualmente realizado pelas professoras
em sala de aula e o ensino com atividades investigativas.

Considerações Finais                                         Fundamental tem características próprias.
                                                             Seria inadequado, por exemplo, exigir desses
      O trabalho investigativo com os                        alunos percorrer todo o ciclo investigativo,
alunos das primeiras séries do Ensino                        formulando claramente hipóteses sem meio de


                                                                                                       100
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testá-las. No estudo aqui apresentado, os                            Decorre então a importância de que o
alunos tiveram dificuldade ou não estavam                    aluno conheça a existência de diversos mode-
acostumados a criar por si mesmos as                         los alternativos na interpretação e compre-
propostas de experimentos. Os alunos da                      ensão da natureza, sendo apresentado aos
primeira série, por exemplo, se limitaram a                  modelos da Ciência, contrastando-os com os
identificar fatores como peso e formato para a               seus e com outros historicamente exis-tentes.
flutuabilidade dos objetos, ao passo que os de               Isso o ajudará não só na compreensão mais
terceira e quarta série reconheceram também                  clara do que é estudado como ainda colabora-
a influência da força da água.                               rá para um melhor entendimento das formas
         Para superar o senso comum e as                     de construção da Ciência.
concepções alternativas dos alunos, é                                Concomitantemente com a preocupa-
necessário um corpo de conhecimentos mais                    ção da construção do conhecimento científico
robusto por parte dos professores e o                        está a potencialidade das argumen-tações em
desenvolvimento de diferentes formas de lidar                sala de aula. A multiplicidade de vozes é
com os problemas que surgem, algo que eles                   coerente com a idéia de que os alunos exibem
também irão construindo. Conseqüentemente,                   perfis conceituais, e não enten-dimentos
cabe ao aluno (aquele que investiga) e ao                    únicos, unívocos, de certos conceitos.
professor (aquele que orienta a investigação)                        Mas, como o professor pode enca-
lidarem com as situações de desequilíbrio e                  minhar o processo pelo qual os alunos cons-
com as capacidades cognitivas, buscando a                    troem significados nas aulas de Ciências
construção de conhecimentos coerentes com                    durante as atividades propostas, tendo em
as evidências (empíricas ou não) que vão                     vista que ocorrem inúmeras interações discur-
surgindo nas atividades investigativas.                      sivas a partir dos discursos e das visões de
         Muitas vezes, as práticas convencio-                mundo?
nalmente adotadas pelos professores (até                             Podemos pensar na implementação de
mesmo de forma inconsciente) incluem                         uma relação dialógica em sala de aula,
opções metodológicas engessadas e excluem                    expressa em oportunidades, pelas quais as
o ambiente propício à realização de                          múltiplas formas de pensar, encontradas em
questionamentos, observações e experimen-                    sala de aula – as do professor, dos colegas,
tos, o que faz com que surjam dificuldades de                dos livros, etc. –, entrem em contato umas
diferentes origens ao ser efetivada a                        com as outras para que possam dar sentido ao
implementação sistemática de atividades                      que aprendem.
investigativas no ensino.                                            Ajudar o aluno a melhorar a sua
         As pesquisas de Pozo e Gómez Crespo                 argumentação possibilita desenvolver o
(1998) propõem um enfoque para o ensino de                   espírito de análise na escolha mais confiante
Ciências por explicação e contrastação de                    entre as diferentes alternativas, com base nas
modelos e integração hierárquica entre o                     várias fontes de informações e nos vários
conhecimento científico e o que os alunos                    modelos explicativos para o processo envol-
trazem para a escola. Nessa direção, o                       vido. Dessa forma, é possível modificar e
processo de construção da Ciência como o de                  enriquecer os significados do que se diz e
elaboração de modelos – a modelagem – aos                    pensa sobre os conceitos estudados.
quais certos fenômenos naturais ou simulados                         Outra possibilidade diz respeito ao
são submetidos, num diálogo contínuo em                      estabelecimento de uma relação entre
busca de ajuste teórico ao que nós conhece-                  Ciências e cotidiano para que o aluno possa
mos da realidade. Porém, não aceita um                       entender o porquê de várias coisas ao seu
isomorfismo entre a construção do conhe-                     redor. Conseqüentemente, tal integração irá
cimento científico e o dos alunos, por reco-                 apontar para o caráter provisório e incerto das
nhecer que cada um é construído em cenários                  teorias científicas.
diferenciados, por comunidades que atendem
a critérios diferentes.


                                                                                                       101
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                                                Conscientização


                  Delimitado e
                                                                               Motivação
                  significativo               PROBLEMA



                                                                                                    Conscientização
                                                                                                     da natureza
                                                                                                      provisória
       Manusear
       material
                                                                                                ELABORAÇÃO DE
 EXPERIMENTAÇÃO                                                                                   HIPÓTESES
                                            Aspectos de Análise:
                                              focos de ensino,                                      Prever implicações

                                            abordagem e ações
Observar           Constatar
                                                                                                Analisar recursos e/ou
                                                                                                  material disponível
                                                                                                (proposição de prática
                                                                                                    experimental)

      Pensar,
     discutir e
     registrar
                                                                                                Generalizar a
                                                                                                 conclusão,
                                                                                               quando possível
                 Prever
               implicações               CONCLUSÃO: Texto
                                          coletivo negociado                     Gerar novos
                                                                                  problemas

                Traçar uma explicação                            Modificar crenças e
             significativa considerando as                       atitudes (pessoais ou
               hipóteses (confirmação ou                        sociais), assim como as
           refutação) e para construir novos                      concepções sobre a
                     conhecimentos                                      Ciência

      Etapas não lineares das atividades investigativas: problematização, elaboração de hipóteses,
      experimentação e conclusão.


      Análise dos focos de ensino, abordagem e ações em cada uma das etapas das atividades investigativas.


   Esquema 1- Integração das atividades investigativas no ensino de Ciências e a estrutura analítica
   para analisar as interações e a produção de significados.


                                                                                                               102
Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/>   © Ciências & Cognição



        Por fim, podemos dizer que o estudo                  uma ferramenta sócio-cultural para analisar e
da análise discursiva – na concepção de                      planejar o ensino. Investigações no Ensino de
Mortimer e Scott – durante a realização de                   Ciências, 7, 3. Retirado em 06/05/2002, no
atividades investigativas remete a um                        World Wide Web: http://www.if.ufrgs.br/
“casamento profícuo” por serem instrumentos                  public/ensino/revista.htm.
e recursos que favorecem visualizar a                        Mortimer, E.F. e Smolka, A.L. (2003). Anais
produção de significados no ensino de                        do II Encontro Internacional Linguagem
Ciências. Elaboramos (Zanon, 2005) o                         Cultura e Cognição: reflexões para o ensino.
esquema 1 a seguir, que apresenta de forma                   Campinas: Faculdade de Educação da
mais clara a união desses aspectos que podem                 Unicamp. CD-ROM.
orientar o trabalho do professor.                            Pozo, J.I. e Gómez Crespo, M.A. (1998).
                                                             Aprender y enseñar ciencias. Madrid: Morata.
Referências bibliográficas                                   Praia, J.; Cachapuz, A. e Gil-Pérez, D. (2002).
                                                             A hipótese e a experiência científica em
Borges, A.T. (2004). Novos rumos para o                      educação em ciências: contributos para uma
laboratório escolar de ciências. Cad. Bras.                  reorientação      epistemológica.      Ciência
Ensino Física, 21, 9-30.                                     Educação, 8, 253-262.
Coll, C. (1985). Acción, Interacción y cons-                 Psillos, D. e Niedderer, H. (2002). Issues and
trucción del Conocimiento en Situaciones                     questions regarding the effectiveness of
Educativas. Ann. Psicol.,33, 61-70.                          labwork. Em: Psillos, D. e Niedderer, H.
Delizoicov, D.; Angotti, J.A. e Pernambuco,                  Teaching and learning in the science
M.M. (2002). Ensino de Ciências: funda-                      laboratory. Dordrecht: Kluwer Academic
mentos e métodos. São Paulo: Cortez                          Publishers, 21-30.
(Coleção Docência em Formação).                              Reigosa, C.E. e Jiménez, M.P. (2000). La
Driver, R; Asoko, H.; Leach, J.; Mortimer, E.                cultura científica en la resolución de
e Scott, P. (1999). Construindo conhecimento                 problemas en el laboratorio. Enseñanza de las
científico na sala de aula. Rev. Química Nova                Ciencias, 18, 275-284. Retirado em
Escola, 31-40.                                               09/02/2007,     no     World     Wide     Web:
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http://www.blues.uab.es/rev-ens-ciencias.                    45-80.
Insausti, M.J. e Merino, M. (2000). Una                      Sére, M. (2002). La enseñanza en el
propuesta para el aprendizaje de contenidos                  laboratorio. Que podemos aprender en
procedimentales en el laboratorio de Física y                términos de conocimiento práctico y de
Química. Invest. Ens. Ciênc., 5, 2. Retirado                 actitudes hacia la ciencia. Enseñanza de las
em 09/02/2007, no World Wide Web: http://                    Ciencias, 20, 357-368. Retirado em
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o ensino na formação inicial de professores de               experimentação no ensino de ciências. Em:
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Encontro sobre Teoria e Pesquisa em Ensino                   Ciências com Atividades Investigativas:
de Ciências, Belo Horizonte.                                 enfoque no projeto ABC na Educação
Mortimer, E. F. e Scott, P. (2003). Atividades               Científica – Mão na Massa. São Carlos:
discursivas nas salas de aulas de ciências:                  UFSCar/ DEME (Tese de Doutorado).


                                                                                                       103

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  • 1. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 12/02/2007 | Revisado em 18/03/2007 | Aceito em 20/03/2007 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de março de 2007 Artigo Científico A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental: ações que favorecem a sua aprendizagem The science classroom in the first years of primary school: actions in favor of the learning in science teaching ,a Dulcimeire Ap Volante Zanon e Denise de Freitasb a Departamento de Didática, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Campus Araraquara, São Paulo, Brasil; bDepartamento de Metodologia de Ensino, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, São Paulo, Brasil Resumo Este artigo tem como objetivo discutir a importância das atividades investigativas e das interações discursivas em sala de aula no ensino de Ciências. Essas atividades podem ser entendidas como situações em que o aluno aprende ao envolver-se progressivamente com as manifestações dos fenômenos naturais, fazendo conjecturas, experimentando, errando, interagindo com colegas, com os professores, expondo seus pontos de vista, suas suposições, e confrontando-os com outros e com os resultados experimentais para testar sua pertinência e validade. Esses processos de ensino- aprendizagem têm no início da escolarização uma importância ainda maior, pois auxiliam os alunos a atingir níveis mais elevados de cognição, o que facilita a aprendizagem de conceitos científicos. Ao se utilizar o instrumento analítico desenvolvido por Mortimer e Scott, foi possível revelar as dinâmicas interativas e os fluxos de discurso em salas de aula das séries iniciais do Ensino Fundamental, ajudando a compreender aspectos importantes da prática docente e do processo de aprendizagem científica dos alunos. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 10: 93-103. Palavras-chave: Ensino e aprendizagem de Ciências; atividades investigativas; interações discursivas. Abstract – D.A.V. Zanon possui Graduação em Licenciatura em Química (UFSCar), Mestrado e Doutorado em Educação, na área de Metodologia de Ensino (UFSCar). Concluiu o programa de Pós-Doutorado na área de Ensino, Avaliação e Formação de Professores da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Prestou assessoria pedagógica na formação de professores à Educativa - Cooperativa Educacional de São Carlos. Atua como professora do Departamento de Didática da Faculdade de Ciências e Letras (UNESP - Campus de Araraquara) nas disciplinas de Prática de Ensino de Química I e II e Metodologia de Ensino. E-mail para correspondência: cdzanon@uol.com.br. D. Freitas possui Graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Barão de Mauá, Ribeirão Preto), Especialização em Ensino de Ciências (UNICAMP), Mestrado em Educação (UFSCar) e Doutorado em Educação (Universidade de São Paulo). Realizou seu pós- doutoramento pela Universidade de Lisboa Portugal. Atualmente é Professora Adjunta (UFSCar) e Assessora do Setor de Biologia do Centro de Divulgacão Científico e Cultural USP - São Carlos. Atua como docente e pesquisadora, no mestrado e doutorado, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSCar) (auxílio parcial do CNPq). E- mail para correspondência: dfreitas@power.ufscar.br 93
  • 2. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição The purpose of this article is to discuss the importance of the investigative activities and of the discursive interactions in a classroom during the Science teaching. These activities can be understood as situations in which the student learns, getting progressively with the observation of natural phenomena, conjecturing, experimenting, making errors, interacting with classmates, with specialized people, stating his points of view and hypotheses and confronting them with others and with the experimental results in order to test their effectiveness and their pertinence. Their relevance is even greater at the beginning of the schooling process, since such activities help students to reach higher levels of cognitions, and, by doing so, they make it easier for them to learn scientific concepts. The analytical instrument developed by Mortimer and Scott allowed us to reveal the alternative dynamics and the speech flow in a third grade classroom of a elementary school, helping to understand important aspects of the teaching practice and the scientific learning process of the students. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 10: 93-103. Keywords: Science teaching; Science learning; investigative activities; verbal interaction. Introdução natureza da Ciência ou ao desenvolvimento de atitudes. Tendo em vista as dificuldades Acreditamos que a atividade experi- encontradas pelos alunos para aprenderem os mental deve ser desenvolvida, sob orientação conceitos científicos no ensino de Ciências, do professor, a partir de questões investiga- vários pesquisadores, como Borges (2004), tivas que tenham consonância com aspectos Insausti e Merino (2000), Sére (2002), Silva e da vida dos alunos e que se constituam em Zanon (2000), têm discutido e apontado em problemas reais e desafiadores. seus estudos alternativas metodológicas para a Essas atividades, oportunizadas pelo melhoria da qualidade deste ensino. professor e realizadas pelos alunos, têm como Na literatura e nos Congressos sobre objetivo ir além da observação direta das Didática das Ciências aparecem, com evidências e da manipulação dos materiais de freqüência, críticas ao trabalho de experimen- laboratórios: devem oferecer condições para tação, sobretudo ao que é desenvolvido no que os alunos possam levantar e testar suas ensino médio e universitário (Praia e idéias e/ou suposições sobre os fenômenos colaboradores, 2002; Reigosa e Jiménez, científicos a que são expostos. 2000). Apesar das lógicas diferenciais desses Nessa direção, a atuação do professor estudos, todos apresentam em comum a idéia como orientador, mediador e assessor das de que as atividades experimentais, quando se atividades inclui: lançar ou fazer emergir do destinam a ilustrar ou a comprovar teorias, grupo uma questão-problema; motivar e são limitadas e não favorecem a construção de observar continuamente as reações dos conhecimento pelo aluno. alunos, dando orientações quando necessário; Segundo Psillos e Niedderer (2002), a salientar aspectos que não tenham sido maior parte do tempo dedicado às aulas observados pelo grupo e que sejam impor- laboratoriais é utilizada para manipulação de tantes para o encaminhamento do problema; aparatos e realização de medições, aspectos produzir, juntamente com os alunos, um texto que contribuem muito pouco para o inter- coletivo que seja fruto de negociação da relacionamento da teoria com a experiência. comunidade de sala de aula sobre os conceitos Essa orientação, na qual o comportamento estudados. mecânico do aluno é requerido nas primeiras Entendida dessa forma, a atividade etapas do processo e o envolvimento cogni- experimental visa aplicar uma teoria na tivo só advém na parte final da atividade, resolução de problemas e dar significado à retrata a ênfase dada pelos professores aos aprendizagem da Ciência, constituindo-se objetivos relacionados apenas à aquisição de como uma verdadeira atividade teórico- conhecimento mecânico em detrimento de experimental (González Eduardo, 1992). objetivos que levem à compreensão da 94
  • 3. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição Neste artigo discutimos o potencial convidados a participar de cursos oferecidos tanto das atividades dessa natureza quanto dos pelo Centro de Divulgação Científica e “diálogos sobre as atividades” realizadas entre Cultural (CDCC) USP/São Carlos no âmbito os alunos e professores em sala de aula no do projeto de ensino chamado “ABC na ensino de Ciências. Foram observados Educação Científica – Mão na Massa”. comportamentos de alunos e professoras em Historicamente, o desenvolvimento salas de aula de 1ª, 3ª e 4ª séries do ensino desse projeto foi iniciado com o pesquisador fundamental durante o desenvolvimento de Leon Lederman – prêmio Nobel de Física – atividades experimentais sobre a flutua- em Chicago, na década de 90, chamado bilidade dos objetos na água. Por meio do Hands-on. Foi ampliado a outros países, referencial de análise de Mortimer e Scott como o que ocorreu na França em 1995 com a (2003), são analisadas as dinâmicas colaboração de George Charpak – também interativas e os fluxos de discurso que ajudam laureado com ao Prêmio Nobel de Física – e na compreensão dos aspectos importantes da com o apoio da Academia Francesa de prática docente e do processo de aprendi- Ciências. Os módulos Insights do programa zagem dos alunos. Finalmente, tecemos norte-americano foram traduzidos para o algumas considerações a respeito da impor- francês com adaptação de infra-estrutura de tância dessa ferramenta analítica no estudo de materiais e formação de professores. Na atividades de natureza teórico-experimental. França, com o nome La Main à la Pâte, o programa governamental envolve crianças de Importância de atividades investigativas 5 a 12 anos de idade. No Brasil, denominado para a aprendizagem de conceitos cientí- ABC na Educação Científica – Mão na ficos: o projeto “ABC na Educação Massa, o projeto foi iniciado em maio de Científica – Mão na Massa” 2001, a partir de um acordo entre as academias de ciências da França e do Brasil Ao nos referirmos às atividades envolvendo escolas municipais e estaduais do investigativas, parece iminente a idéia de Rio de Janeiro e do estado de São Paulo (a experimentação. Na verdade, a experimen- grande São Paulo e São Carlos, interior). As tação no ensino de Ciências não resume todo adesões dos professores foram espontâneas e o processo investigativo no qual os alunos voluntárias. estão envolvidos na formação e desenvol- Esse projeto tem como objetivo vimento de conceitos científicos. Há que se favorecer e estimular a articulação entre a considerar também que o processo de realização da experimentação e o desenvolvi- aprendizagem dos conhecimentos científicos mento da expressão oral e escrita na constru- é bastante complexo e envolve múltiplas ção do conceito científico. Nas atividades dimensões, exigindo que o trabalho investi- experimentais investigativas, o professor gativo dos alunos assuma, então, variadas suscita o interesse dos alunos a partir de uma formas que possibilitem o desencadeamento situação problematizadora em que a tentativa de distintas ações cognitivas, tais como: de resposta dessa questão leva à elaboração de manipulação de materiais, questionamento, suas hipóteses (concepções prévias). A direito ao tateamento e ao erro, observação, realização do experimento, a análise dos expressão e comunicação, verificação das resultados obtidos e a pesquisa documental hipóteses levantadas. Podemos dizer que esse confirmam ou não as hipóteses. Além disso, também é um trabalho de análise e de síntese, estimula-se a interação entre os colegas e com sem esquecer a imaginação e o encantamento o professor de modo que eles discutam tenta- inerentes às atividades investigativas. tivas de explicar um determinado conceito ou A partir dessa concepção de fenômeno científico. investigação, professores de 1ª a 4ª série do Nessa perspectiva, pretende-se que o ensino fundamental da rede estadual e aluno articule a expressão oral e a escrita com municipal do interior de São Paulo foram base nas atividades investigativas e faça uso 95
  • 4. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição desta última na compreensão de conceitos diferentes abordagens, ou seja, contextua- científicos. Ao se trabalhar na perspectiva de lização e verificação das concepções iniciais um conhecimento que se constrói, a neces- dos alunos; influências da forma e da massa sidade da pesquisa e do registro faz com que a dos objetos; água e/ou quantidade de água e utilização da escrita e da leitura seja uma densidade do líquido. Além dessas, foi constante, qualquer que seja a área do estudado o funcionamento de um submarino, conhecimento que se está trabalhando. usando-se, durante o experimento, um sistema Escrever e ler passam a ter significado, pois que o simulava (representado por seringas, são instrumentos essenciais de comunicação e mangueira e rolha). registro das concepções, da questão de pesquisa, do observado, do manipulado, do Uma ferramenta para analisar as intera- constatado, do texto coletivo negociado. ções e a produção de significados em sala Sob a ótica do desenvolvimento da de aula linguagem, o método do projeto ABC na Educação Científica – Mão na Massa Num dos artigos elaborados por considera que a Ciência apresenta uma Mortimer e Scott (2003), esses autores linguagem própria e uma forma particular de apontam a necessidade de tornar visíveis as ver o mundo, construída e validada social- práticas discursivas existentes em sala de aula mente. O aluno é estimulado o tempo todo a e apresentam uma ferramenta para analisar as falar sobre determinado fenômeno, procuran- interações e a produção de significados sobre do explicá-lo para os colegas, e o professor, os conhecimentos de Ciências. Os autores discutindo e considerando diferentes pontos definem interações discursivas “como consti- de vista. Com isso, a criança tem a tuintes dos processos de construção de oportunidade de familiarizar-se com o uso de significados”. Para eles, a ênfase no discurso uma linguagem que carrega consigo e na interação tem sido pouco discutida entre características da cultura científica (Driver e professores e investigadores da área; no colaboradores, 1999), ao mesmo tempo em entanto, elas dão suporte para a compreensão que a ortografia da língua materna é discutida sobre os processos pelos quais os alunos e exercitada. Outros países também constroem significados em sala de aula, implementaram, em sala de aula, essa pro- “sobre como estas interações são produzidas e posta metodológica no ensino de Ciências sobre como os diferentes tipos de discursos dentre eles Marrocos (1998), Senegal (1999), podem auxiliar a aprendizagem” (Mortimer e Egito (2000), Colômbia (2000), Vietnã Scott, 2003: 3). Segundo os autores, o ingres- (2000), Afeganistão (2002) e China (2002). so dessa abordagem na educação científica – No Brasil, foi escolhido, em nível nacional, o interações discursivas – é como a entrada em tema água como tópico a ser estudado, uma nova cultura, diferente da cultura do juntamente com o eixo temático flutua- sentido comum, em que o professor possui bilidade dos objetos, com tradução da versão um papel fundamental como representante da francesa e adaptações para a realidade local. cultura científica. Uma das escolas convidadas permitiu- Mortimer (2004: 69) reitera a neces- nos acompanhar o desenvolvimento do sidade de um novo olhar no ensino e nas aulas trabalho de professores responsáveis por das Ciências Naturais ao afirmar que: turmas de 1ª, 3ª e 4ª séries (40 horas/aula de observação em cada uma das delas) e “(...) a complexidade da sala de aula e a observar as interações durante todo o singularidade das ações práticas dos processo investigativo. professores demandam ferramentas Considerando a estrutura metodoló- analíticas que tornem visíveis aspectos gica do projeto descrita anteriormente, o importantes dessas ações, de modo a estudo da flutuabilidade dos objetos foi possibilitar a reflexão sobre um reper- desenvolvido em sete momentos, vistos sob 96
  • 5. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição tório de ações bem-sucedidas do ponto ver o uso de gêneros do discurso nas salas de de vista da aprendizagem dos alunos”. aula de Ciências, ou seja, é um potencial teórico para analisar como diferentes Para esse autor, a atividade discursiva abordagens do processo comunicativo se é central para várias ações que os professores articulam ou não às intenções do professor em desempenham em sala de aula. Nos últimos diferentes fases da sua ação didática. anos, a psicologia sócio-histórica ou sócio- Inspirada em Bakhtin, essa contribuição cultural tem influenciado a pesquisa em também tem permitido ampliar a compre- educação e resultado no desenvolvimento ensão da linguagem para além das interações gradual do interesse sobre os processos de interpessoais, ao mostrar que o discurso é “significação do conhecimento científico”, influenciado pela posição social do falante e gerando um programa de pesquisa que pelo lugar institucional onde é produzido. procura responder como os significados são Mortimer e Machado (1997) enfatizam a criados e desenvolvidos por meio do uso da importância da forma com que o professor linguagem oral e outros meios de intervém nas discussões com seus alunos, comunicação. independente do objetivo a ser almejado, pois Apesar dessa nova ênfase no discurso tanto pode encorajá-los a participar da e na interação, ainda se conhece pouco sobre discussão como pode reprimi-los. Para os como os professores dão suporte ao processo autores, é necessário que as discussões sejam pelo qual os alunos constroem significados conduzidas sem a perda do rumo estabelecido. em salas de aula de Ciências, sobre como Não basta deixar que os alunos falem essas interações são produzidas e sobre como livremente, é preciso encontrar um equilíbrio os diferentes tipos de discurso podem auxiliar entre a livre apresentação de idéias e a a aprendizagem dos estudantes. atenção às questões já discutidas. Nesse Nesse sentido, a ferramenta analítica processo, a presença do professor é funda- desenvolvida por Mortimer e Scott (2003) mental, solicitando esclarecimentos quando busca dar visibilidade a esses processos, necessário, relacionando falas de diferentes podendo revelar as singularidades dessas alunos e resgatando conceitos esquecidos. ações e permitindo a reflexão consciente A estrutura analítica da ferramenta é sobre o processo pelo qual os professores baseada em cinco aspectos inter-relacionados podem agir para guiar as interações que que focalizam, principalmente, o papel do resultam na construção de significados professor, agrupados em três categorias de desejáveis do ponto de vista científico. análise, como indica o quadro 1 a seguir. Segundo Wertsch (apud Mortimer e Smolka, 2003), essa ferramenta busca descrê- Aspectos da análise 1. Intenções do professor Focos de ensino 2. Conteúdo Abordagem 3. Abordagem comunicativa 4. Padrões de interação Ações 5. Intervenções do professor Quadro 1 - Estrutura analítica: uma ferramenta para analisar as interações e a produção de significados em salas de aula de Ciências (Mortimer e Scott, 2003). A seguir, cada um desses aspectos é partir de uma seqüência de ensino em sala de descrito de modo a explicitar as categorias de aula, percebe-se a ocorrência de ricas e análise propostas pelos autores. substantivas interações entre professor e O primeiro aspecto da estrutura alunos, transparecendo as diferentes intenções analítica se refere às intenções do ensino. A que orientam as intervenções do professor. 97
  • 6. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição Segundo Mortimer e Scott (2003), o gicas que resultam em diferentes padrões de ensino de Ciências produz um tipo de interação. “performance pública” no plano social da sala Os autores identificam dois extremos de aula. Essa performance é dirigida pelo quanto à natureza das intervenções, que são professor que elaborou o seu plano de aula e definidos por meio da caracterização do tem a iniciativa em “apresentar” as várias discurso entre o professor e os alunos ou entre atividades que o constituem. O trabalho de os próprios alunos. Na abordagem comunica- desenvolver a “história científica” é central tiva dialógica, o professor dá a vez e a voz ao nessa performance. Há, no entanto, outras aluno e ocorre interanimação de idéias. Já na intenções que precisam ser consideradas abordagem comunicativa de autoridade, o durante uma seqüência de ensino: criar um professor considera aquilo que o aluno diz problema; explorar a visão dos alunos; apenas do ponto de vista do discurso introduzir e desenvolver a história científica; científico escolar, não há múltiplas vozes e guiar os estudantes no trabalho com as idéias interanimação de idéias. científicas e dar suporte ao processo de Na prática, qualquer interação internalização; guiar os estudantes na provavelmente contém aspectos de ambas as aplicação das idéias científicas e na expansão dimensões, dialógica e de autoridade, que de seu uso, transferindo progressivamente podem ser combinadas para gerar quatro para eles o controle e a responsabilidade desse classes de abordagem comunicativa: uso; manter a narrativa: sustentar o desenvol- vimento da ‘história científica’. • Interativa/dialógica: professor e estudantes O conteúdo do discurso de sala de aula exploram idéias, formulam perguntas é o segundo aspecto. Nas aulas de Ciências autênticas, oferecem, consideram e ocorrem múltiplas interações entre o professor trabalham diferentes pontos de vista; e os alunos e essas se referem a uma ampla • Não-interativa/dialógica: o professor variedade de conteúdos, que inclui: a história reconsidera, na sua fala, vários pontos de científica a ser ensinada (possivelmente vista, destacando similaridades e diferenças; envolvendo aspectos conceituais, tecnológi- • Interativa/de autoridade: o professor cos e ambientais); aspectos procedimentais do geralmente conduz os estudantes por meio fazer Ciências (por exemplo, como montar de uma seqüência de perguntas e respostas, um sistema simples de destilação da água); com o objetivo de chegar a um ponto de questões de gerenciamento e organização da vista específico; sala de aula (por exemplo, dando instruções • Não-interativa/ de autoridade: o professor para tarefas a serem realizadas ou chamando a apresenta um ponto de vista específico. atenção e solicitando silêncio da turma em determinado momento da aula). Mesmo Um quarto aspecto da análise – reconhecendo a importância de todos esses padrões de interação – refere-se aos aspectos na definição dos conteúdos das momentos específicos da fala do professor e interações em sala de aula, a estrutura do aluno e que comumente são representados analítica proposta foca a atenção nos conteú- pela tríade I-R-A (Iniciação, Resposta, dos relacionados ao desenvolvimento da Avaliação). Podem ocorrer também seqüên- história científica que está sendo ensinada, ou cias estendidas fechadas do tipo I-R1-R2-F-R- seja, dos conteúdos conceituais do assunto a F-R...A, em que a iniciação do professor pode ser abordado. gerar diferentes respostas, que podem ter O conceito de abordagem comunica- feedbacks intermediários do professor e são tiva é central na estrutura analítica e se refere finalmente encerradas como uma avaliação. ao terceiro aspecto. Diz respeito a como o As cadeias de interação estendidas abertas professor trabalha as intenções e o conteúdo têm o mesmo formato do padrão anterior, mas do ensino por meio de intervenções pedagó- sem a avaliação final do professor. 98
  • 7. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição O último aspecto da ferramenta remete seja com os colegas. Assim como asseveram aos modos como o professor intervém para Mortimer e Smolka (2003), tomamos o desenvolver a história científica e torná-la cuidado metodológico de situar o contexto no disponível para todos os alunos na sala de qual as palavras foram ditas, ou seja, o aula. Essa análise se baseia no esquema contexto da atividade que realizaram alunos e proposto por Scott (1998), no qual seis formas professores. de intervenção pedagógica foram identifica- Na análise dos episódios foram consi- das. Relacionadas com o foco e as ações do derados os seguintes aspectos: professor, são elas assim caracterizadas: dar forma, selecionar, marcar e compartilhar 1) a intenção da professora; significados – chaves, checar o entendimento 2) o conteúdo; dos alunos e rever o progresso da história 3) o padrão de interação; científica. 4) a forma de intervenção; Os autores acreditam que essa ferra- 5) o tipo de abordagem comunicativa. menta pode ter impacto nas práticas pedagó- gicas dos professores se preencher dois Por fim, designamos por “uma síntese critérios básicos: interpretativa” as constatações evidenciadas e sistematizadas pela pesquisadora em cada • ela precisa capturar efetivamente os foco de ensino. aspectos-chave do que acontece nas salas de Os resultados dos experimentos aula; realizados foram explicados pelos alunos por • ela precisa ser desenvolvida num nível de meio de modelos já existentes. No caso do detalhe apropriado, de modo a facilitar o estudo da flutuabilidade dos objetos, consi- trabalho de análise e planejamento de derar as concepções dos alunos foi essencial, ensino. sendo para as professoras um sinal verde para orientar a tomada de decisão no encami- Análise das interações discursivas durante nhamento da discussão do conceito científico. as atividades investigativas Das análises das práticas pedagógicas das três professoras, notamos que as mesmas As discussões efetuadas em salas de procuraram discutir as idéias dos alunos: “de aulas de 1ª, 3ª e 4ª séries foram analisadas à que tudo o que é pesado afunda e leve flutua”. luz da “ferramenta” teórico-metodológica Enfatizaram mais o levantamento das idéias desenvolvida por Mortimer e Scott (2003). As dos alunos, assumindo um discurso dialógico, relações dialógicas estabelecidas em sala de não avançando para uma interação que aula foram observadas e registradas pela levasse a um discurso de autoridade, o que pesquisadora durante o desenvolvimento do seria um primeiro passo no desenvolvimento conteúdo de flutuabilidade dos corpos em sala da história científica. de aula. Concordamos com Mortimer e Scott No desenvolvimento desse conteúdo, (2003) que deveria existir uma linha divisória as atividades de ensino tiveram como objetivo entre as discussões das idéias iniciais e dos identificar as grandezas que interferem na resultados experimentais com as intervenções flutuação dos corpos nos líquidos. Para isso, que possam rever e sintetizar o progresso os alunos verificaram a massa e a forma dos alcançado. Uma das intervenções do professor objetos e realizaram experimentos, tal como a é manter a narrativa, isto é, prover comen- construção de um submarino para analisarem tários sobre o desenrolar da história científica o efeito da ação da água. – central nesse processo –, de modo a ajudar Foram selecionados alguns episódios os alunos a seguir seu desenvolvimento e a de ensino em que os conteúdos científicos entender suas relações com o currículo de estiveram mais presentes nas interações Ciências como um todo. Assim, faz parte do discursivas, seja dos alunos com a professora, trabalho do professor intervir, introduzir 99
  • 8. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição novos termos e novas idéias para fazer a colaboração do professor na produção do história científica avançar. conhecimento redimensionam novos papéis Segundo Mortimer (2004: 79): no ensino-aprendizagem de Ciências. O quadro 2, a seguir, apresenta as diferenciações “(...) parece fundamental considerar a metodológicas percebidas pelas professoras importância da professora intervir para entre o ensino habitual e o ensino com levar uma etapa da atividade ao fecha- atividades investigativas. mento, pontuando o estágio do Com base no ponto de vista dos desenvolvimento da história científica discursos, um aspecto central emergiu das com afirmações relacionadas ao corren- aulas das três professoras: a forma pela qual o te estágio de entendimento.” conteúdo do discurso sofre uma “transforma- ção progressiva” desde as idéias cotidianas Torna-se necessário, então, resgatar a dos alunos de que as coisas pesadas afundam característica mais peculiar do papel do e as coisas leves não afundam até a professor: compreensão de que não são apenas os objetos que exercem uma ação, mas a água “a interação sistemática e planificada também. dos autores do processo educativo, Associados ao método do trabalho alunos e professor, em torno da realiza- investigativo, os discursos assumiram a ção das tarefas de aprendizagem.” (Coll, configuração discutir/realizar experimento/ 1985: 63) concluir, ou seja, um ritmo de discurso bastante similar ao dos autores (Mortimer e A participação cognitivamente ativa Scott, 2003): discutir/ trabalhar/rever. dos alunos durante todo o processo e a Ensino habitualmente realizado em Ensino com atividades investigativas sala de aula pelas professoras Desenvolvimento do conteúdo Consideração de tudo o que o aluno comenta, indaga programático segundo o livro didático. ou questiona nas aulas. O conteúdo é dirigido pela professora. Articulação da oralidade e da escrita dos alunos. O livro didático conclui pelo aluno. Prioriza-se o interesse do aluno nas questões desencadeadoras. Experimentação: comprovação de um Experimentação: constatação do resultado por meio conceito dado “pronto” para o aluno. da vivência completa e concreta. Levantamento de hipóteses: feito apenas Levantamento de hipóteses: anotação de tudo. por meio de conversa. Os alunos e o professor são responsáveis pelo fechamento do assunto. Trabalho na maior parte do tempo em grupo. Durante o processo acontecem imprevistos, sendo necessário ampliar e aprofundar etapas e com isso replanejar outros passos. Entusiasmo do aluno a cada atividade apresentada. Quadro 2 - Diferenciação metodológica entre o ensino habitualmente realizado pelas professoras em sala de aula e o ensino com atividades investigativas. Considerações Finais Fundamental tem características próprias. Seria inadequado, por exemplo, exigir desses O trabalho investigativo com os alunos percorrer todo o ciclo investigativo, alunos das primeiras séries do Ensino formulando claramente hipóteses sem meio de 100
  • 9. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição testá-las. No estudo aqui apresentado, os Decorre então a importância de que o alunos tiveram dificuldade ou não estavam aluno conheça a existência de diversos mode- acostumados a criar por si mesmos as los alternativos na interpretação e compre- propostas de experimentos. Os alunos da ensão da natureza, sendo apresentado aos primeira série, por exemplo, se limitaram a modelos da Ciência, contrastando-os com os identificar fatores como peso e formato para a seus e com outros historicamente exis-tentes. flutuabilidade dos objetos, ao passo que os de Isso o ajudará não só na compreensão mais terceira e quarta série reconheceram também clara do que é estudado como ainda colabora- a influência da força da água. rá para um melhor entendimento das formas Para superar o senso comum e as de construção da Ciência. concepções alternativas dos alunos, é Concomitantemente com a preocupa- necessário um corpo de conhecimentos mais ção da construção do conhecimento científico robusto por parte dos professores e o está a potencialidade das argumen-tações em desenvolvimento de diferentes formas de lidar sala de aula. A multiplicidade de vozes é com os problemas que surgem, algo que eles coerente com a idéia de que os alunos exibem também irão construindo. Conseqüentemente, perfis conceituais, e não enten-dimentos cabe ao aluno (aquele que investiga) e ao únicos, unívocos, de certos conceitos. professor (aquele que orienta a investigação) Mas, como o professor pode enca- lidarem com as situações de desequilíbrio e minhar o processo pelo qual os alunos cons- com as capacidades cognitivas, buscando a troem significados nas aulas de Ciências construção de conhecimentos coerentes com durante as atividades propostas, tendo em as evidências (empíricas ou não) que vão vista que ocorrem inúmeras interações discur- surgindo nas atividades investigativas. sivas a partir dos discursos e das visões de Muitas vezes, as práticas convencio- mundo? nalmente adotadas pelos professores (até Podemos pensar na implementação de mesmo de forma inconsciente) incluem uma relação dialógica em sala de aula, opções metodológicas engessadas e excluem expressa em oportunidades, pelas quais as o ambiente propício à realização de múltiplas formas de pensar, encontradas em questionamentos, observações e experimen- sala de aula – as do professor, dos colegas, tos, o que faz com que surjam dificuldades de dos livros, etc. –, entrem em contato umas diferentes origens ao ser efetivada a com as outras para que possam dar sentido ao implementação sistemática de atividades que aprendem. investigativas no ensino. Ajudar o aluno a melhorar a sua As pesquisas de Pozo e Gómez Crespo argumentação possibilita desenvolver o (1998) propõem um enfoque para o ensino de espírito de análise na escolha mais confiante Ciências por explicação e contrastação de entre as diferentes alternativas, com base nas modelos e integração hierárquica entre o várias fontes de informações e nos vários conhecimento científico e o que os alunos modelos explicativos para o processo envol- trazem para a escola. Nessa direção, o vido. Dessa forma, é possível modificar e processo de construção da Ciência como o de enriquecer os significados do que se diz e elaboração de modelos – a modelagem – aos pensa sobre os conceitos estudados. quais certos fenômenos naturais ou simulados Outra possibilidade diz respeito ao são submetidos, num diálogo contínuo em estabelecimento de uma relação entre busca de ajuste teórico ao que nós conhece- Ciências e cotidiano para que o aluno possa mos da realidade. Porém, não aceita um entender o porquê de várias coisas ao seu isomorfismo entre a construção do conhe- redor. Conseqüentemente, tal integração irá cimento científico e o dos alunos, por reco- apontar para o caráter provisório e incerto das nhecer que cada um é construído em cenários teorias científicas. diferenciados, por comunidades que atendem a critérios diferentes. 101
  • 10. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição Conscientização Delimitado e Motivação significativo PROBLEMA Conscientização da natureza provisória Manusear material ELABORAÇÃO DE EXPERIMENTAÇÃO HIPÓTESES Aspectos de Análise: focos de ensino, Prever implicações abordagem e ações Observar Constatar Analisar recursos e/ou material disponível (proposição de prática experimental) Pensar, discutir e registrar Generalizar a conclusão, quando possível Prever implicações CONCLUSÃO: Texto coletivo negociado Gerar novos problemas Traçar uma explicação Modificar crenças e significativa considerando as atitudes (pessoais ou hipóteses (confirmação ou sociais), assim como as refutação) e para construir novos concepções sobre a conhecimentos Ciência Etapas não lineares das atividades investigativas: problematização, elaboração de hipóteses, experimentação e conclusão. Análise dos focos de ensino, abordagem e ações em cada uma das etapas das atividades investigativas. Esquema 1- Integração das atividades investigativas no ensino de Ciências e a estrutura analítica para analisar as interações e a produção de significados. 102
  • 11. Ciências & Cognição 2007; Vol 10: 93-103 <http://www.cienciasecognicao.org/> © Ciências & Cognição Por fim, podemos dizer que o estudo uma ferramenta sócio-cultural para analisar e da análise discursiva – na concepção de planejar o ensino. Investigações no Ensino de Mortimer e Scott – durante a realização de Ciências, 7, 3. Retirado em 06/05/2002, no atividades investigativas remete a um World Wide Web: http://www.if.ufrgs.br/ “casamento profícuo” por serem instrumentos public/ensino/revista.htm. e recursos que favorecem visualizar a Mortimer, E.F. e Smolka, A.L. (2003). Anais produção de significados no ensino de do II Encontro Internacional Linguagem Ciências. Elaboramos (Zanon, 2005) o Cultura e Cognição: reflexões para o ensino. esquema 1 a seguir, que apresenta de forma Campinas: Faculdade de Educação da mais clara a união desses aspectos que podem Unicamp. CD-ROM. orientar o trabalho do professor. Pozo, J.I. e Gómez Crespo, M.A. (1998). Aprender y enseñar ciencias. Madrid: Morata. Referências bibliográficas Praia, J.; Cachapuz, A. e Gil-Pérez, D. (2002). A hipótese e a experiência científica em Borges, A.T. (2004). Novos rumos para o educação em ciências: contributos para uma laboratório escolar de ciências. Cad. Bras. reorientação epistemológica. Ciência Ensino Física, 21, 9-30. Educação, 8, 253-262. Coll, C. (1985). Acción, Interacción y cons- Psillos, D. e Niedderer, H. (2002). Issues and trucción del Conocimiento en Situaciones questions regarding the effectiveness of Educativas. Ann. Psicol.,33, 61-70. labwork. Em: Psillos, D. e Niedderer, H. Delizoicov, D.; Angotti, J.A. e Pernambuco, Teaching and learning in the science M.M. (2002). Ensino de Ciências: funda- laboratory. Dordrecht: Kluwer Academic mentos e métodos. São Paulo: Cortez Publishers, 21-30. (Coleção Docência em Formação). Reigosa, C.E. e Jiménez, M.P. (2000). La Driver, R; Asoko, H.; Leach, J.; Mortimer, E. cultura científica en la resolución de e Scott, P. (1999). Construindo conhecimento problemas en el laboratorio. Enseñanza de las científico na sala de aula. Rev. Química Nova Ciencias, 18, 275-284. Retirado em Escola, 31-40. 09/02/2007, no World Wide Web: González, E.M. (1992) ¿Qué hay que renovar http://www.blues.uab.es/rev-ens-ciencias. en los trabajos prácticos? Em: Enseñanza de Scott, P. H. (1998). Teacher talk and meaning las Ciencias (10): 206-11, Retirado em making in science classrooms: A Vygotskian 05/10/2000, no World Wide Web: analysis and review. Stud. Sci. Education, 32, http://www.blues.uab.es/rev-ens-ciencias. 45-80. Insausti, M.J. e Merino, M. (2000). Una Sére, M. (2002). La enseñanza en el propuesta para el aprendizaje de contenidos laboratorio. Que podemos aprender en procedimentales en el laboratorio de Física y términos de conocimiento práctico y de Química. Invest. Ens. Ciênc., 5, 2. Retirado actitudes hacia la ciencia. Enseñanza de las em 09/02/2007, no World Wide Web: http:// Ciencias, 20, 357-368. Retirado em www.if.ufrgs.br/public/ensino/revista.htm. 09/02/2007, no World Wide Web: Mortimer, E.F. (2004). Utilizando uma fer- http://www.blues.uab.es/rev-ens-ciencias. ramenta sociocultural para analisar e planejar Silva, L. H. A. e Zanon, L. B. (2000). A o ensino na formação inicial de professores de experimentação no ensino de ciências. Em: química. Em: Anais do XII ENDIPE, Curitiba. Schnetzler, R.P. e Aragão, R.M.R. Ensino de Mortimer, E.F. e Machado, A. H. (1997). Ciências: fundamentos e abordagens. Múltiplos Olhares sobre um Episódio de Piracicaba: CAPES/UNIMEP, p.120-153. Ensino: "Por que o gelo flutua na água?" Zanon, D. Ap.V. (2005). Ensinar e Aprender Encontro sobre Teoria e Pesquisa em Ensino Ciências com Atividades Investigativas: de Ciências, Belo Horizonte. enfoque no projeto ABC na Educação Mortimer, E. F. e Scott, P. (2003). Atividades Científica – Mão na Massa. São Carlos: discursivas nas salas de aulas de ciências: UFSCar/ DEME (Tese de Doutorado). 103