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Intervenção de enfermagem em Hanseníase:
instrumentos e políticas públicas
Keila Ferreira Hirle
Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem.
Hogla Cardozo Murai
Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora.
RESUMO
Revisão bibliográfica com o objetivo de caracterizar as intervenções de enfermagem na
assistênciaaoportadordehanseníaseesuainterfacecomasPolíticasPúblicasatuais,realizada
nas bases de dados nacionais. Os artigos foram agrupados segundo afinidade com os objetivos
propostos e dispostos nas categorias Consulta de enfermagem, Cotidiano do hanseniano,
Perfilclínico-epidemiológicoePolíticaspúblicas.Asintervençõesdeenfermagemnaassistência
ao portador de hanseníase são apresentadas sob a ótica dos instrumentos utilizados, em
particular da consulta de enfermagem, identificando as demandas de assistência ligadas ao
perfil clínico e epidemiológico e ao cotidiano do paciente hanseniano. Em relação às Políticas
públicas, os artigos evidenciam a importância da capacitação das equipes de saúde para
intervir no Programa de Controle da Hanseníase.
Unitermos: Hanseníase; Autocuidado; Assistência de enfermagem.
Hirle KF, Murai HC. Intervenção de enfermagem em Hanseníase: instrumentos e políticas públicasRev
Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.
Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.34
INTRODUÇÃO
Ahanseníaseéumaantigadoença,infecciosa,contagiosa,
que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae ou
bacilo de Hansen. Sua transmissão se dá pelas vias aéreas
superiores, o trato respiratório(1)
. O M.lepraetem afinidade
por células cutâneas e células dos nervos periféricos, dando
aestadoençaumgrandepotencialparacausarincapacidades
físicas, que podem evoluir para deformidades(2)
.
A doença é marcada por forte estigma social. Ao longo da
história o isolamento do doente foi a principal medida para
enfrentar a hanseníase, mas esta medida não foi capaz de
controlar a doença e contribuiu para aumentar o medo e o
estigma associados à hanseníase. Em 1962 foi abolido o
isolamento compulsório como proposta para o controle da
doença(3)
, mas ainda hoje esta patologia é associada à lepra,
sendo assim vivida por muitos com sofrimento, mesmo
depois de curados(4)
. Entre os motivos que causam a
discriminação estão o curso histórico de ter permanecido
por muito tempo incurável1
, falta de informação sobre a
hanseníase e as incapacidades e deformidades físicas
resultantes do comprometimento dos nervos periféricos(5)
.
O seu alto potencial incapacitante pode trazer mudanças
no trabalho e vida social do hanseniano e acarretar perdas
econômicasetraumaspsicológicos(6)
.Asseqüelasdecorrentes
do acometimento dos nervos periféricos podem ser
desconfigurantes, mutilantes e incapacitantes e levar ao
abandono familiar e exclusão social(7)
.
Oprocessoterapêuticointegraldeumcasodehanseníase
inclui o tratamento quimioterápico específico - a
Poliquimioterapia, identificação e tratamento das intercor-
rências, tratamento das complicações da doença, prevenção
e tratamento das incapacidades físicas2
. A partir de 1989 a
Poliquimioterapia(PQT)foiintroduzidanoBrasil,reduzindo
as fontes de infecção e consequentemente prevenindo a
doença(8)
, se constituindo em importante estratégia na
eliminação da hanseníase(3)
. A PQT é constituída pelos
seguintesmedicamentos:rifampicina,dapsonaeclofazimina,
associados de acordo com a classificação paucibacilar/
multibacilar adulto ou paucibacilar/multibacilar infantil(9)
.
Mesmo após a poliquimioterapia, que traz resultados
eficazes, o cotidiano do portador de hanseníase e suas
seqüelas continua marcado pelo preconceito(7)
.
No enfrentamento da doença o hanseniano se depara
com medos, incertezas e dificuldades, devendo os
profissionais e particularmente os enfermeiros envolvidos
35Rev Enferm UNISA 2009; 10(1):34-8 .
no Programa de Eliminação da Hanseníase (PEH), se
questionarem como estão cuidando desses pacientes. Há
interesseporpartedosprofissionaisemtratar,curareatingir
a meta de eliminação, mas a comunicação entre doentes e
profissionais ainda não se da de forma clara(4)
, prejudicando
assim a compreensão do doente sobre a sua verdadeira
condição, tratamento e evolução do mesmo.
A consulta de enfermagem é capaz de identificar além
das demandas específicas, outras demandas pertencentes
aodiaadiadoserdoente,incluindoasqueestãorelacionadas
ao estigma e ao potencial incapacitante da hanseníase,
tomando as necessidades do doente como centro de suas
intervençõesepráticas.Busca-senaconsultadeenfermagem,
a criação de vínculo e confiança com o cliente, para oferecer
uma atenção de qualidade, humanizada e efetiva,
priorizando-se a cura e prevenção de incapacidades(10)
.
Édeextremaimportânciaqueospacientesfiquemcientes
sobre os vários aspectos da hanseníase, para que
compreendam as manifestações clínicas que vivenciam, a
importância do compromisso com o tratamento
medicamentoso, do controle dos comunicantes e para que
se sintam impulsionados a praticarem o autocuidado,
prevenindo incapacidades e mantendo sua saúde(10)
. A
assistênciadeenfermagemtempapelimportante,poisbusca
uma participação consciente e constante do paciente nos
programas de controle(11)
.
O cotidiano do hanseniano é cheio de incertezas e
restrições que dificultam sua interação com o mundo em
quevive.Éfundamentalentenderaslimitaçõesedificuldades
decadacliente,levandoemcontaasnecessidadesindividuais
de cada um deles(4,11)
para se prestar a devida assistência
preconizada pelo Ministério da Saúde.
Partindo dessas reflexões, este trabalho objetiva
caracterizar as intervenções de enfermagem na assistência
ao portador de hanseníase e sua interface com as Políticas
Públicasatuais.
METODOLOGIA
Estudoderevisãobibliográficarealizadoembasededados
nacionais a partir dos unitermos hanseníase, autocuidado e
enfermagem.
Foram identificados 278 artigos em idioma português
dos quais foram selecionados 23 por afinidade com os
objetivos propostos. A eles foram acrescidos um capítulo de
livro sobre a teoria do autocuidado de OREM, o Caderno de
Atenção Básica e o Guia de Controle de Hanseníase, ambos
publicados pelo Ministério da Saúde.
Os artigos selecionados foram publicados no período
entre 1995 e 2009 e após a leitura e fichamento, foram
agrupados de acordo com a discussão predominante,
gerandoascategoriasdeanáliseapresentadasnosresultados
ediscussão.
RESULTADOSEDISCUSSÃO
Os artigos selecionados foram divididos em quatro
categorias: Consulta de enfermagem, Cotidiano do
hanseniano,Perfilclínico-epidemiológicoePolíticaspúblicas.
Os aspectos relacionados ao autocuidado foram incluídos
nacategoriaPerfilclínico-epidemiológicopelafrancainterface
entre os dois temas.
Sobre a “Consulta de enfermagem”, no trabalho de
Duarte, Ayres e Simonetti(10)
, foram avaliados os
instrumentos da consulta de enfermagem - Caso Novo e
Consulta de Seguimento -, utilizados junto aos pacientes
atendidos no Programa de Hanseníase de uma Unidade de
Atenção Primária à Saúde. Concluiu-se que esses
instrumentos foram capazes de identificar as diversas
necessidades do paciente, demonstrando assim que os
instrumentosutilizadospelaenfermagem,juntamentecom
a equipe multiprofissional, contribuem na prevenção de
agravos, incapacidades físicas e educação em saúde dos
clientes e familiares, sendo a consulta de enfermagem
identificada pelos autores como estratégia de cuidado.
Freitas et al(12)
, buscaram analisar a percepção de
enfermeiros e portadores de hanseníase sobre a consulta de
enfermagem; depois de coletados os dados percebeu-se que
apesardasdificuldadesencontradas,osenfermeirosbuscam
prestar uma assistência eficiente, buscando a confiança do
cliente com objetivo de prestar uma atenção mais
humanizada, e quanto à percepção da clientela, a exceção de
poucos, a maioria mostrou-se satisfeita com o atendimento
prestado pelos enfermeiros. Diante dos resultados os
autores concluíram que a consulta de enfermagem é uma
estratégia para estabelecimento de vínculo, com o objetivo
deumaassistênciadequalidade,buscandoacuraeprevenção
deincapacidadesnahanseníase.
Em estudo realizado por docentes da Universidade do
Estado de São Paulo em 2008(3)
, enfermeiros que vivenciam
o dia a dia da consulta de enfermagem ao portador de
hanseníase propõem os instrumentos utilizados por eles.
Após considerar as etapas do processo proposto, o plano de
cuidados é desenvolvido com o cliente, focalizando-o como
responsável pelo autocuidado. Os autores concluem que, a
experiência na utilização desses instrumentos de consulta
de enfermagem tem mostrado que estes facilitam a ação do
enfermeiro na abordagem integral do cliente, mas enfatiza-
seaimportânciadoenfermeiroqualificar-separaaassistência
aohanseniano.
A assistência de enfermagem ao portador de hanseníase
com uma abordagem transcultural, é objeto de um estudo
de caso13
que apresenta a aplicação do processo de
enfermagem com uso da taxonomia NANDA. Tal trabalho
enfatiza os padrões normativos e valores religiosos do
paciente sem relacioná-los às demandas de cuidado para o
potencial incapacitante da doença. Embora os autores
concluam que paciente e família foram envolvidos no
processo de cuidar, o planejamento da assistência se
restringiu ao tratamento medicamentoso.
No estudo apresentado por docentes e acadêmicos do
Centro Universitário de Anápolis, Goiás(7)
, a influência
cultural também é abordada, porém sob outro olhar. No
relato, são identificados hábitos de autocuidado que não
favorecemarecuperaçãodospacientesesituações-problema
relacionadasàescolhadoprodutonotratamentodasferidas,
Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.36
da hidratação da pele entre outras, sobre as quais fazem
prescrição na tentativa de modificar hábitos e crenças
anteriores.
A sistematização da assistência de enfermagem é
demonstrada detalhadamente no artigo de Vieira et al(11)
,
onde é apresentado um estudo de caso no qual todas as
fases são discutidas. Os autores afirmam que é possível
sistematizar e planejar um atendimento eficaz e contínuo
aos portadores de hanseníase, com a identificação dos
diagnósticosdeenfermagem,elaboraçãodemetas,objetivos,
prescrições de enfermagem e avaliação da assistência,
aumentando a qualidade do atendimento de enfermagem
aohanseniano.Oartigopropõeumafichadecoletadedados
que pode servir como instrumento para aplicação em outras
situações.
Ainda no âmbito da sistematização, Nardi, Pascoal e
Zanetta(14)
tratam da importância da avaliação regular e
adequada na prevenção de incapacidades em pacientes com
hanseníase em tratamento. Depois de comparar dados dos
prontuários de pacientes tratados em duas cidades, os
autores defendem a idéia de que a avaliação mais freqüente
de incapacidades do que o recomendado atualmente, pode
evitar seqüelas futuras no portador de hanseníase.
Sobrinho et al(15)
, descrevem uma avaliação das
incapacidades físicas de pacientes com hanseníase e
capacitaçãodaequipedesaúdesimultaneamente. Verificou-
sequepartedosprofissionaisavaliadosdesconheciaatécnica
de avaliação e classificação de incapacidades, fato
comprovado na grande porcentagem da população
identificada com algum grau de incapacidade. O artigo
defende a importância de educação permanente junto aos
profissionais, para que estes estejam aptos a atender o
portador de hanseníase com uma visão holística.
Na categoria “Cotidiano do hanseniano”, Sá e Paz(4)
realizaram um estudo que objetivou compreender o
cotidiano dos portadores de hanseníase. O resultado obtido
demonstrou que o hanseniano se apresenta perplexo diante
dodiagnósticodadoençaequeestetemreceiodetransmiti-
laaoutros,principalmenteàspessoasmaispróximas.Diante
detamanhamudançatentaesconderdosoutrossuasituação
dedoente,alteraoseudiaadiadevidoàsmudançasimpostas
pela doença e vê o tratamento como único meio de ser
curado.Osautoresconcluemque,alémdoacompanhamento
etratamentomedicamentoso,oenfermeirodeveidentificar
as necessidades de cada cliente, seus medos e anseios,
auxiliando-o a conviver melhor com a situação em que se
encontra.
A terceira categoria identificada foi “Perfil clínico-
epidemiológico”. Pesquisa realizada por docentes e
acadêmicos da Universidade Federal do Mato Grosso do
Sul16
, analisou os dados dos prontuários de sujeitos com
hanseníase registrados no Hospital João Julião: grau de
incapacidade física, classificação operacional, abandono e
regularidade do tratamento dentre outros. Constatou-se
alta taxa de poliquimioterapia (100%) e baixo percentual de
abandono. A maioria apresentou classificação operacional
multibacilar, e dos pacientes submetidos à avaliação
sensitivo-motora, menos da metade da população
apresentou algum grau de incapacidade. Os autores
recomendam que o programa de prevenção de
incapacidades,jáfirmadonestehospital,tenhacondiçõesde
assessorar outros programas de controle da hanseníase.
Em trabalho realizado em área hiperendêmica em
hanseníase, localizada no estado do Maranhão(6)
, depois da
coleta e análise dos dados, constatou-se elevado percentual
de pacientes com incapacidades físicas devido à doença e
baixas condições socioeconômicas e ambientais,
demonstrando assim que esses fatores somados podem
interferir na qualidade de vida dos pacientes.
Ainda foi avaliado o perfil clínico-epidemiológico dos
pacientes com hanseníase no trabalho realizado no Centro
de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona
Libânia,noCeará(17)
.Apesquisaapontouelevadopercentual
de pacientes acometidos na faixa etária de zero a 14 anos,
uma quantidade mínima de pacientes apresentou forma
indeterminada e a maioria apresentou forma dimorfa. A
maioria dos pacientes não apresentou nenhum grau de
incapacidade no diagnóstico, mas uma parcela significativa
possuía alguma incapacidade. A partir dos resultados, os
autores refletem sobre a necessidade de sustentar as
atividades de controle e pesquisa da doença em países ou
áreas que já se tenha alcançado a meta de eliminação.
Galan et al(18)
verificou o grau de incapacidade física, os
cuidadosindicadosparaospacientesrealizaremeporfimse
os indivíduos inscritos no Programa de Hanseníase
realizavamapráticadeautocuidado.Entreospacientescom
grau I de incapacidades percebeu-se que, 50% deles
praticavam adequadamente o autocuidado prescrito. Dos
pacientes que possuíam grau II de incapacidades, 60%
praticavam parcialmente o autocuidado e os demais
demonstraram dificuldade em realizar as práticas de
autocuidadodevidoalesõesjáexistentesemmembros. Tais
resultados possibilitaram a conclusão de que a assistência
de enfermagem deve intervir no déficit de auto cuidado
corrigindo assim esse desvio.
Na teoria do déficit de autocuidado Dorothea Orem
distinguiu a enfermagem de outros serviços aplicados ao ser
humano por ter como foco de intervenção as pessoas com
incapacidades,enfatizandoasaçõesvoltadasàidentificação
e qualificação das necessidades de cuidado e do ensino do
autocuidado. O termo autocuidado foi definido como a
capacidade das pessoas para cuidarem de si na direção da
manutenção da vida e do próprio bem-estar(19)
.
Ao tratar desse mesmo tema, Bub et al(20)
chamam
atenção para o fato de que, as ações de autocuidado são
voluntárias, intecionais, incluem tomada de decisão e são
influenciadas por variáveis como idade, sexo, orientação
sócio-cultural, fatores familiares e ambientais,
disponibilidadederecursosefatoresligadosaoatendimento
nos serviços de saúde.
SantoseSarat(21)
,emrevisãobibliográficasobreaaplicação
da Teoria do autocuidado de Orem, reafirmaram a
universalidade da mesma, ressaltando a importância da
família na promoção do autocuidado e da interação
enfermeiro-paciente-família para o alcance dos objetivos.
Em pesquisa realizada por docente da UNESP(22)
, fica
37Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.
evidente que a forma de cuidar que educa é aquela onde a
pessoa tem autonomia no cuidado com a sua saúde, a partir
do momento em que o indivíduo conscientiza-se e
responsabiliza-se por si mesmo. Esse é o direito e o dever de
cada pessoa para com seu próprio corpo. A responsabilidade
é da pessoa para com a sua própria saúde, e não do
profissional. Fica claro para o paciente sobre a sua
responsabilidade consigo mesmo, a partir do momento que
se permite que este participe do seu tratamento e promoção
da sua saúde.
Procurou-se problematizar a questão do autocuidado
também no artigo de Borges e Japur(23)
. Com o melhor
acesso aos serviços de saúde e aos profissionais de saúde, os
insucessos nas ações de cuidado não serão mais somente
culpa dos trabalhadores da saúde, mas também culpa do
paciente, quando ao ter acesso aos serviços disponíveis não
se tornar responsável pelo seu autocuidado dentro do
tratamento seguido. Mas deve-se considerar o dia a dia e
realidadedocidadão,quetornamaspráticasdeautocuidado
mais complicadas do que uma simples adesão a um
tratamento indicado.
Melles e Zago(24)
asseguram que, a educação do paciente
realizada pelo enfermeiro é uma ação de proteção, que tem
como base a informação dada ao cliente, e onde há o
desenvolvimentodehabilidadespsicomotoras.Dessaforma,
poderá se obter comportamentos modificados e novas
atitudes de saúde.
A última categoria enquadrou artigos que abordam
diferentes aspectos das “Políticas públicas”. Docentes da
Universidade Federal de São Carlos(5)
analisaram o
desempenho do setor de hanseníase, a incidência de casos
no município e a qualidade do atendimento, em um período
de tempo em um município de Minas Gerais. No decorrer
dos anos ficou claro um aumento do número de casos
detectados e casos paucibacilares. Atualmente 100% dos
pacientes que iniciam tratamento são avaliados para
prevenção de incapacidades. O percentual de casos com
incapacidades mais severas caiu e os casos de grau zero
tiveram um aumento importante. Diante disto, foi possível
afirmar que as políticas públicas voltadas para a hanseníase
e implantadas no respectivo Estado, por meio da educação
permanente dos profissionais, contribuíram na redução da
exclusão social dos portadores de hanseníase, através do
melhor acesso ao tratamento e qualidade de atendimento.
Ainda sobre capacitação, Moreno, Enders e Simpson(1)
,
falam da importância desta para os profissionais de saúde e
danecessidadedeserempermanentesostreinamentos.Eles
demonstram em pesquisa a avaliação de médicos e
enfermeiros sobre o treinamento de clínica em hanseníase,
desenvolvido pelo Programa de Controle de Hanseníase
estadual, onde a maioria dos profissionais avaliou
positivamente os treinamentos e apenas uma pequena
parcela dos profissionais relatou insegurança quanto ao
diagnóstico da doença.
NumestudorealizadoemmunicípiosdeSãoPaulo,sobre
a organização dos serviços de saúde na eliminação da
hanseníase, os autores25
mencionam que há falta de
conhecimento sobre ações desenvolvidas por profissionais
do próprio grupo na grande maioria dos serviços, e que as
ações de educação em saúde para com os clientes não são
sistematizadas e nem citadas pelos profissionais como
prioridade. Na maior parte dos serviços os dados revelam
diagnóstico tardio da hanseníase e sistema de informações
com déficits e lacunas. Ao final do estudo, os autores
ressaltam a necessidade de implementação da busca ativa e
da organização de um fluxo de referência das ações de
prevenção de incapacidades, para realização das ações
preconizadas pelo Programa de Controle da Hanseníase.
Pedrazzani(8)
afirma que as ações primordiais de
enfermagemnoProgramadeControledaHanseníase(PCH)
são ações assistenciais, educativas, de vigilância
epidemiológica e administrativa. O autor conclui que, os
órgãos coordenadores do PCH e as instituições formadoras
de profissionais da área da saúde devem rever e atualizar os
conhecimentos sobre a hanseníase, adequando às ações de
enfermagem junto aos serviços que atendem esta doença.
De alguma forma sua recomendação foi aceita pela
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn, conforme
explica Lopes(26)
no editorial da revista temática publicada
em 2008 sobre hanseníase, reunindo experiências
assistenciais exitosas, artigos de atualização e relatórios de
pesquisas, permitindo a aproximação entre academia e
serviços.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
A bibliografia consultada permitiu caracterizar as
intervenções de enfermagem na assistência ao portador de
hanseníase sob a ótica dos instrumentos utilizados, em
particular da consulta de enfermagem, identificando as
demandas de assistência ligadas ao perfil clínico e
epidemiológico e ao cotidiano do paciente hanseniano. Em
relação às Políticas públicas, foi evidenciada a importância
da capacitação das equipes de saúde para intervir no
Programa de Controle da Hanseníase. Neste sentido, são
mostradas experiências de sucesso no controle da doença
com impacto sobre as taxas de detecção de casos novos e na
transformação de seu perfil.
Em seu conjunto, pode-se afirmar que, a qualificação das
equipes de enfermagem para a assistência sistematizada do
portador de hanseníase, passa pela compreensão da doença
como potencialmente incapacitante e o reconhecimento
desta característica como eixo central da assistência e do
estabelecimento de políticas públicas apropriadas. Buscar
ativamente casos, propiciando diagnóstico e tratamento
precoce, permite a atuação da enfermagem na prevenção
das incapacidades físicas. Prevenir as incapacidades físicas
emhanseníasesignificaintervirsobreoestigmaqueenvolve
a doença, dando ao paciente a possibilidade de romper o
ciclo de perplexidade e medo de seu próprio mal.
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  • 1. Intervenção de enfermagem em Hanseníase: instrumentos e políticas públicas Keila Ferreira Hirle Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Hogla Cardozo Murai Docente do Curso de Graduação em Enfermagem. Orientadora. RESUMO Revisão bibliográfica com o objetivo de caracterizar as intervenções de enfermagem na assistênciaaoportadordehanseníaseesuainterfacecomasPolíticasPúblicasatuais,realizada nas bases de dados nacionais. Os artigos foram agrupados segundo afinidade com os objetivos propostos e dispostos nas categorias Consulta de enfermagem, Cotidiano do hanseniano, Perfilclínico-epidemiológicoePolíticaspúblicas.Asintervençõesdeenfermagemnaassistência ao portador de hanseníase são apresentadas sob a ótica dos instrumentos utilizados, em particular da consulta de enfermagem, identificando as demandas de assistência ligadas ao perfil clínico e epidemiológico e ao cotidiano do paciente hanseniano. Em relação às Políticas públicas, os artigos evidenciam a importância da capacitação das equipes de saúde para intervir no Programa de Controle da Hanseníase. Unitermos: Hanseníase; Autocuidado; Assistência de enfermagem. Hirle KF, Murai HC. Intervenção de enfermagem em Hanseníase: instrumentos e políticas públicasRev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8. Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.34 INTRODUÇÃO Ahanseníaseéumaantigadoença,infecciosa,contagiosa, que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. Sua transmissão se dá pelas vias aéreas superiores, o trato respiratório(1) . O M.lepraetem afinidade por células cutâneas e células dos nervos periféricos, dando aestadoençaumgrandepotencialparacausarincapacidades físicas, que podem evoluir para deformidades(2) . A doença é marcada por forte estigma social. Ao longo da história o isolamento do doente foi a principal medida para enfrentar a hanseníase, mas esta medida não foi capaz de controlar a doença e contribuiu para aumentar o medo e o estigma associados à hanseníase. Em 1962 foi abolido o isolamento compulsório como proposta para o controle da doença(3) , mas ainda hoje esta patologia é associada à lepra, sendo assim vivida por muitos com sofrimento, mesmo depois de curados(4) . Entre os motivos que causam a discriminação estão o curso histórico de ter permanecido por muito tempo incurável1 , falta de informação sobre a hanseníase e as incapacidades e deformidades físicas resultantes do comprometimento dos nervos periféricos(5) . O seu alto potencial incapacitante pode trazer mudanças no trabalho e vida social do hanseniano e acarretar perdas econômicasetraumaspsicológicos(6) .Asseqüelasdecorrentes do acometimento dos nervos periféricos podem ser desconfigurantes, mutilantes e incapacitantes e levar ao abandono familiar e exclusão social(7) . Oprocessoterapêuticointegraldeumcasodehanseníase inclui o tratamento quimioterápico específico - a Poliquimioterapia, identificação e tratamento das intercor- rências, tratamento das complicações da doença, prevenção e tratamento das incapacidades físicas2 . A partir de 1989 a Poliquimioterapia(PQT)foiintroduzidanoBrasil,reduzindo as fontes de infecção e consequentemente prevenindo a doença(8) , se constituindo em importante estratégia na eliminação da hanseníase(3) . A PQT é constituída pelos seguintesmedicamentos:rifampicina,dapsonaeclofazimina, associados de acordo com a classificação paucibacilar/ multibacilar adulto ou paucibacilar/multibacilar infantil(9) . Mesmo após a poliquimioterapia, que traz resultados eficazes, o cotidiano do portador de hanseníase e suas seqüelas continua marcado pelo preconceito(7) . No enfrentamento da doença o hanseniano se depara com medos, incertezas e dificuldades, devendo os profissionais e particularmente os enfermeiros envolvidos
  • 2. 35Rev Enferm UNISA 2009; 10(1):34-8 . no Programa de Eliminação da Hanseníase (PEH), se questionarem como estão cuidando desses pacientes. Há interesseporpartedosprofissionaisemtratar,curareatingir a meta de eliminação, mas a comunicação entre doentes e profissionais ainda não se da de forma clara(4) , prejudicando assim a compreensão do doente sobre a sua verdadeira condição, tratamento e evolução do mesmo. A consulta de enfermagem é capaz de identificar além das demandas específicas, outras demandas pertencentes aodiaadiadoserdoente,incluindoasqueestãorelacionadas ao estigma e ao potencial incapacitante da hanseníase, tomando as necessidades do doente como centro de suas intervençõesepráticas.Busca-senaconsultadeenfermagem, a criação de vínculo e confiança com o cliente, para oferecer uma atenção de qualidade, humanizada e efetiva, priorizando-se a cura e prevenção de incapacidades(10) . Édeextremaimportânciaqueospacientesfiquemcientes sobre os vários aspectos da hanseníase, para que compreendam as manifestações clínicas que vivenciam, a importância do compromisso com o tratamento medicamentoso, do controle dos comunicantes e para que se sintam impulsionados a praticarem o autocuidado, prevenindo incapacidades e mantendo sua saúde(10) . A assistênciadeenfermagemtempapelimportante,poisbusca uma participação consciente e constante do paciente nos programas de controle(11) . O cotidiano do hanseniano é cheio de incertezas e restrições que dificultam sua interação com o mundo em quevive.Éfundamentalentenderaslimitaçõesedificuldades decadacliente,levandoemcontaasnecessidadesindividuais de cada um deles(4,11) para se prestar a devida assistência preconizada pelo Ministério da Saúde. Partindo dessas reflexões, este trabalho objetiva caracterizar as intervenções de enfermagem na assistência ao portador de hanseníase e sua interface com as Políticas Públicasatuais. METODOLOGIA Estudoderevisãobibliográficarealizadoembasededados nacionais a partir dos unitermos hanseníase, autocuidado e enfermagem. Foram identificados 278 artigos em idioma português dos quais foram selecionados 23 por afinidade com os objetivos propostos. A eles foram acrescidos um capítulo de livro sobre a teoria do autocuidado de OREM, o Caderno de Atenção Básica e o Guia de Controle de Hanseníase, ambos publicados pelo Ministério da Saúde. Os artigos selecionados foram publicados no período entre 1995 e 2009 e após a leitura e fichamento, foram agrupados de acordo com a discussão predominante, gerandoascategoriasdeanáliseapresentadasnosresultados ediscussão. RESULTADOSEDISCUSSÃO Os artigos selecionados foram divididos em quatro categorias: Consulta de enfermagem, Cotidiano do hanseniano,Perfilclínico-epidemiológicoePolíticaspúblicas. Os aspectos relacionados ao autocuidado foram incluídos nacategoriaPerfilclínico-epidemiológicopelafrancainterface entre os dois temas. Sobre a “Consulta de enfermagem”, no trabalho de Duarte, Ayres e Simonetti(10) , foram avaliados os instrumentos da consulta de enfermagem - Caso Novo e Consulta de Seguimento -, utilizados junto aos pacientes atendidos no Programa de Hanseníase de uma Unidade de Atenção Primária à Saúde. Concluiu-se que esses instrumentos foram capazes de identificar as diversas necessidades do paciente, demonstrando assim que os instrumentosutilizadospelaenfermagem,juntamentecom a equipe multiprofissional, contribuem na prevenção de agravos, incapacidades físicas e educação em saúde dos clientes e familiares, sendo a consulta de enfermagem identificada pelos autores como estratégia de cuidado. Freitas et al(12) , buscaram analisar a percepção de enfermeiros e portadores de hanseníase sobre a consulta de enfermagem; depois de coletados os dados percebeu-se que apesardasdificuldadesencontradas,osenfermeirosbuscam prestar uma assistência eficiente, buscando a confiança do cliente com objetivo de prestar uma atenção mais humanizada, e quanto à percepção da clientela, a exceção de poucos, a maioria mostrou-se satisfeita com o atendimento prestado pelos enfermeiros. Diante dos resultados os autores concluíram que a consulta de enfermagem é uma estratégia para estabelecimento de vínculo, com o objetivo deumaassistênciadequalidade,buscandoacuraeprevenção deincapacidadesnahanseníase. Em estudo realizado por docentes da Universidade do Estado de São Paulo em 2008(3) , enfermeiros que vivenciam o dia a dia da consulta de enfermagem ao portador de hanseníase propõem os instrumentos utilizados por eles. Após considerar as etapas do processo proposto, o plano de cuidados é desenvolvido com o cliente, focalizando-o como responsável pelo autocuidado. Os autores concluem que, a experiência na utilização desses instrumentos de consulta de enfermagem tem mostrado que estes facilitam a ação do enfermeiro na abordagem integral do cliente, mas enfatiza- seaimportânciadoenfermeiroqualificar-separaaassistência aohanseniano. A assistência de enfermagem ao portador de hanseníase com uma abordagem transcultural, é objeto de um estudo de caso13 que apresenta a aplicação do processo de enfermagem com uso da taxonomia NANDA. Tal trabalho enfatiza os padrões normativos e valores religiosos do paciente sem relacioná-los às demandas de cuidado para o potencial incapacitante da doença. Embora os autores concluam que paciente e família foram envolvidos no processo de cuidar, o planejamento da assistência se restringiu ao tratamento medicamentoso. No estudo apresentado por docentes e acadêmicos do Centro Universitário de Anápolis, Goiás(7) , a influência cultural também é abordada, porém sob outro olhar. No relato, são identificados hábitos de autocuidado que não favorecemarecuperaçãodospacientesesituações-problema relacionadasàescolhadoprodutonotratamentodasferidas,
  • 3. Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8.36 da hidratação da pele entre outras, sobre as quais fazem prescrição na tentativa de modificar hábitos e crenças anteriores. A sistematização da assistência de enfermagem é demonstrada detalhadamente no artigo de Vieira et al(11) , onde é apresentado um estudo de caso no qual todas as fases são discutidas. Os autores afirmam que é possível sistematizar e planejar um atendimento eficaz e contínuo aos portadores de hanseníase, com a identificação dos diagnósticosdeenfermagem,elaboraçãodemetas,objetivos, prescrições de enfermagem e avaliação da assistência, aumentando a qualidade do atendimento de enfermagem aohanseniano.Oartigopropõeumafichadecoletadedados que pode servir como instrumento para aplicação em outras situações. Ainda no âmbito da sistematização, Nardi, Pascoal e Zanetta(14) tratam da importância da avaliação regular e adequada na prevenção de incapacidades em pacientes com hanseníase em tratamento. Depois de comparar dados dos prontuários de pacientes tratados em duas cidades, os autores defendem a idéia de que a avaliação mais freqüente de incapacidades do que o recomendado atualmente, pode evitar seqüelas futuras no portador de hanseníase. Sobrinho et al(15) , descrevem uma avaliação das incapacidades físicas de pacientes com hanseníase e capacitaçãodaequipedesaúdesimultaneamente. Verificou- sequepartedosprofissionaisavaliadosdesconheciaatécnica de avaliação e classificação de incapacidades, fato comprovado na grande porcentagem da população identificada com algum grau de incapacidade. O artigo defende a importância de educação permanente junto aos profissionais, para que estes estejam aptos a atender o portador de hanseníase com uma visão holística. Na categoria “Cotidiano do hanseniano”, Sá e Paz(4) realizaram um estudo que objetivou compreender o cotidiano dos portadores de hanseníase. O resultado obtido demonstrou que o hanseniano se apresenta perplexo diante dodiagnósticodadoençaequeestetemreceiodetransmiti- laaoutros,principalmenteàspessoasmaispróximas.Diante detamanhamudançatentaesconderdosoutrossuasituação dedoente,alteraoseudiaadiadevidoàsmudançasimpostas pela doença e vê o tratamento como único meio de ser curado.Osautoresconcluemque,alémdoacompanhamento etratamentomedicamentoso,oenfermeirodeveidentificar as necessidades de cada cliente, seus medos e anseios, auxiliando-o a conviver melhor com a situação em que se encontra. A terceira categoria identificada foi “Perfil clínico- epidemiológico”. Pesquisa realizada por docentes e acadêmicos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul16 , analisou os dados dos prontuários de sujeitos com hanseníase registrados no Hospital João Julião: grau de incapacidade física, classificação operacional, abandono e regularidade do tratamento dentre outros. Constatou-se alta taxa de poliquimioterapia (100%) e baixo percentual de abandono. A maioria apresentou classificação operacional multibacilar, e dos pacientes submetidos à avaliação sensitivo-motora, menos da metade da população apresentou algum grau de incapacidade. Os autores recomendam que o programa de prevenção de incapacidades,jáfirmadonestehospital,tenhacondiçõesde assessorar outros programas de controle da hanseníase. Em trabalho realizado em área hiperendêmica em hanseníase, localizada no estado do Maranhão(6) , depois da coleta e análise dos dados, constatou-se elevado percentual de pacientes com incapacidades físicas devido à doença e baixas condições socioeconômicas e ambientais, demonstrando assim que esses fatores somados podem interferir na qualidade de vida dos pacientes. Ainda foi avaliado o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com hanseníase no trabalho realizado no Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia,noCeará(17) .Apesquisaapontouelevadopercentual de pacientes acometidos na faixa etária de zero a 14 anos, uma quantidade mínima de pacientes apresentou forma indeterminada e a maioria apresentou forma dimorfa. A maioria dos pacientes não apresentou nenhum grau de incapacidade no diagnóstico, mas uma parcela significativa possuía alguma incapacidade. A partir dos resultados, os autores refletem sobre a necessidade de sustentar as atividades de controle e pesquisa da doença em países ou áreas que já se tenha alcançado a meta de eliminação. Galan et al(18) verificou o grau de incapacidade física, os cuidadosindicadosparaospacientesrealizaremeporfimse os indivíduos inscritos no Programa de Hanseníase realizavamapráticadeautocuidado.Entreospacientescom grau I de incapacidades percebeu-se que, 50% deles praticavam adequadamente o autocuidado prescrito. Dos pacientes que possuíam grau II de incapacidades, 60% praticavam parcialmente o autocuidado e os demais demonstraram dificuldade em realizar as práticas de autocuidadodevidoalesõesjáexistentesemmembros. Tais resultados possibilitaram a conclusão de que a assistência de enfermagem deve intervir no déficit de auto cuidado corrigindo assim esse desvio. Na teoria do déficit de autocuidado Dorothea Orem distinguiu a enfermagem de outros serviços aplicados ao ser humano por ter como foco de intervenção as pessoas com incapacidades,enfatizandoasaçõesvoltadasàidentificação e qualificação das necessidades de cuidado e do ensino do autocuidado. O termo autocuidado foi definido como a capacidade das pessoas para cuidarem de si na direção da manutenção da vida e do próprio bem-estar(19) . Ao tratar desse mesmo tema, Bub et al(20) chamam atenção para o fato de que, as ações de autocuidado são voluntárias, intecionais, incluem tomada de decisão e são influenciadas por variáveis como idade, sexo, orientação sócio-cultural, fatores familiares e ambientais, disponibilidadederecursosefatoresligadosaoatendimento nos serviços de saúde. SantoseSarat(21) ,emrevisãobibliográficasobreaaplicação da Teoria do autocuidado de Orem, reafirmaram a universalidade da mesma, ressaltando a importância da família na promoção do autocuidado e da interação enfermeiro-paciente-família para o alcance dos objetivos. Em pesquisa realizada por docente da UNESP(22) , fica
  • 4. 37Rev Enferm UNISA 2009; 10(1): 34-8. evidente que a forma de cuidar que educa é aquela onde a pessoa tem autonomia no cuidado com a sua saúde, a partir do momento em que o indivíduo conscientiza-se e responsabiliza-se por si mesmo. Esse é o direito e o dever de cada pessoa para com seu próprio corpo. A responsabilidade é da pessoa para com a sua própria saúde, e não do profissional. Fica claro para o paciente sobre a sua responsabilidade consigo mesmo, a partir do momento que se permite que este participe do seu tratamento e promoção da sua saúde. Procurou-se problematizar a questão do autocuidado também no artigo de Borges e Japur(23) . Com o melhor acesso aos serviços de saúde e aos profissionais de saúde, os insucessos nas ações de cuidado não serão mais somente culpa dos trabalhadores da saúde, mas também culpa do paciente, quando ao ter acesso aos serviços disponíveis não se tornar responsável pelo seu autocuidado dentro do tratamento seguido. Mas deve-se considerar o dia a dia e realidadedocidadão,quetornamaspráticasdeautocuidado mais complicadas do que uma simples adesão a um tratamento indicado. Melles e Zago(24) asseguram que, a educação do paciente realizada pelo enfermeiro é uma ação de proteção, que tem como base a informação dada ao cliente, e onde há o desenvolvimentodehabilidadespsicomotoras.Dessaforma, poderá se obter comportamentos modificados e novas atitudes de saúde. A última categoria enquadrou artigos que abordam diferentes aspectos das “Políticas públicas”. Docentes da Universidade Federal de São Carlos(5) analisaram o desempenho do setor de hanseníase, a incidência de casos no município e a qualidade do atendimento, em um período de tempo em um município de Minas Gerais. No decorrer dos anos ficou claro um aumento do número de casos detectados e casos paucibacilares. Atualmente 100% dos pacientes que iniciam tratamento são avaliados para prevenção de incapacidades. O percentual de casos com incapacidades mais severas caiu e os casos de grau zero tiveram um aumento importante. Diante disto, foi possível afirmar que as políticas públicas voltadas para a hanseníase e implantadas no respectivo Estado, por meio da educação permanente dos profissionais, contribuíram na redução da exclusão social dos portadores de hanseníase, através do melhor acesso ao tratamento e qualidade de atendimento. Ainda sobre capacitação, Moreno, Enders e Simpson(1) , falam da importância desta para os profissionais de saúde e danecessidadedeserempermanentesostreinamentos.Eles demonstram em pesquisa a avaliação de médicos e enfermeiros sobre o treinamento de clínica em hanseníase, desenvolvido pelo Programa de Controle de Hanseníase estadual, onde a maioria dos profissionais avaliou positivamente os treinamentos e apenas uma pequena parcela dos profissionais relatou insegurança quanto ao diagnóstico da doença. NumestudorealizadoemmunicípiosdeSãoPaulo,sobre a organização dos serviços de saúde na eliminação da hanseníase, os autores25 mencionam que há falta de conhecimento sobre ações desenvolvidas por profissionais do próprio grupo na grande maioria dos serviços, e que as ações de educação em saúde para com os clientes não são sistematizadas e nem citadas pelos profissionais como prioridade. Na maior parte dos serviços os dados revelam diagnóstico tardio da hanseníase e sistema de informações com déficits e lacunas. Ao final do estudo, os autores ressaltam a necessidade de implementação da busca ativa e da organização de um fluxo de referência das ações de prevenção de incapacidades, para realização das ações preconizadas pelo Programa de Controle da Hanseníase. Pedrazzani(8) afirma que as ações primordiais de enfermagemnoProgramadeControledaHanseníase(PCH) são ações assistenciais, educativas, de vigilância epidemiológica e administrativa. O autor conclui que, os órgãos coordenadores do PCH e as instituições formadoras de profissionais da área da saúde devem rever e atualizar os conhecimentos sobre a hanseníase, adequando às ações de enfermagem junto aos serviços que atendem esta doença. De alguma forma sua recomendação foi aceita pela Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn, conforme explica Lopes(26) no editorial da revista temática publicada em 2008 sobre hanseníase, reunindo experiências assistenciais exitosas, artigos de atualização e relatórios de pesquisas, permitindo a aproximação entre academia e serviços. CONSIDERAÇÕESFINAIS A bibliografia consultada permitiu caracterizar as intervenções de enfermagem na assistência ao portador de hanseníase sob a ótica dos instrumentos utilizados, em particular da consulta de enfermagem, identificando as demandas de assistência ligadas ao perfil clínico e epidemiológico e ao cotidiano do paciente hanseniano. Em relação às Políticas públicas, foi evidenciada a importância da capacitação das equipes de saúde para intervir no Programa de Controle da Hanseníase. Neste sentido, são mostradas experiências de sucesso no controle da doença com impacto sobre as taxas de detecção de casos novos e na transformação de seu perfil. Em seu conjunto, pode-se afirmar que, a qualificação das equipes de enfermagem para a assistência sistematizada do portador de hanseníase, passa pela compreensão da doença como potencialmente incapacitante e o reconhecimento desta característica como eixo central da assistência e do estabelecimento de políticas públicas apropriadas. Buscar ativamente casos, propiciando diagnóstico e tratamento precoce, permite a atuação da enfermagem na prevenção das incapacidades físicas. Prevenir as incapacidades físicas emhanseníasesignificaintervirsobreoestigmaqueenvolve a doença, dando ao paciente a possibilidade de romper o ciclo de perplexidade e medo de seu próprio mal. REFERÊNCIAS 1. Moreno CMC, Enders BC, Simpson CA. Avaliação das capacitações de hanseníase: opinião de médicos e
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