- O documento discute as visões dos sofistas e Platão sobre a retórica e sua relação com a filosofia e democracia ateniense.
- Os sofistas viam a retórica como uma técnica de persuasão, enquanto Platão acreditava que ela deveria ser usada para buscar a verdade através do diálogo e da dialética.
- Platão criticou os sofistas por usarem a retórica para manipular em vez de buscar o conhecimento, e defendeu que a filosofia deveria orientar o dis
2. III
Racionalidade
Argumentativa
e
Filosofia
3.
Argumentação
e
Filosofia
3. 3.1
Filosofia,
retórica
e
democracia
3.2
Persuasão
e
manipulação
3.3
Argumentação,
verdade
e
ser
Sumário
• Democracia
e
retórica
• Os
sofistas
e
Platão:
• dois
usos
da
retórica
• Retórica
e
filosofia
• Sofistas
e
Platão:
Duas
conceções
de
verdade
5. Democracia
e
retórica
A
retórica
nasceu
na
Grécia,
desenvolveu-‐se
e
atingiu
o
apogeu
no
século
V
a.C.,
com
a
democracia
ateniense.
Significa
a
arte
de
bem
falar
e
de
bem
argumentar.
6. Democracia
e
retórica
Na
cidade-‐estado
de
Atenas
dos
séculos
V
e
IV
a.C.,
a
capacidade
de
argumentação
era
um
fator
decisivo
na
conquista
do
poder.
Para
se
dedicarem
às
coisas
públicas,
os
cidadãos
precisavam
dessa
capacidade
para
fazer
aprovar
as
suas
ideias
nas
discussões
políticas.
Neste
contexto,
apareceram
os
sofistas,
que
encontraram
em
Atenas
o
ambiente
favorável
para
discutir
e
pôr
em
causa
a
tradição,
o
conhecimento
e
a
própria
religião
de
então.
7. Os
sofistas
Os
sofistas
realizavam
conferências
para
as
classes
dirigentes
com
ambições
sociais
e
demonstravam
as
suas
capacidades
oratórias.
O
êxito
dos
sofistas
ocorreu
sobretudo
junto
dos
jovens,
nomeadamente
os
mais
cultos
PROTÁGORAS
e
ricos,
com
ambições
políticas. (480-‐410
a.C.)
8. Reação
aos
sofistas
Foi
na
crítica
aos
sofistas
que
Sócrates,
mestre
de
Platão,
desenvolveu
o
seu
ensino,
refutando
as
posições
desses
professores
de
retórica.
Nos
diálogos
de
Platão
confrontam-‐se
as
ideias
pragmáticas
dos
sofistas
com
os
ideais
de
Sócrates,
que
defendia
a
filosofia
como
uma
prática
de
vida,
e
não
apenas
uma
arte
de
discursar.
PLATÃO
(428/27–347
a.C.)
9. Usos
da
linguagem
Segundo
Platão,
podem
fazer-‐se
dois
usos
da
linguagem:
o
retórico o
filosófico
Ligado
ao
exercício
do
poder
Orienta
o
logos
para
a
procura
político
–
toma
o
logos
como
do
bem
e
para
a
realização
sinónimo
de
palavra
/
discurso do
ser
humano
10. Ponto
de
vista
de
Platão
A
retórica
sofista
faz
da
retórica
uma
técnica
de
persuasão,
visando
a
eficácia
do
discurso
nos
domínios
jurídico
A
filosofia
e
político usa
o
discurso
para
alcançar,
etapa
a
etapa,
o
conhecimento,
visando
a
verdade
e
o
aperfeiçoamento
ético
e
ontológico
dos
seres
humanos
11. A
dialéctica
em
Platão
Para
Platão,
a
dialética
é
o
método
«que
procede
por
meio
da
destruição
das
hipóteses,
a
caminho
do
autêntico
princípio,
a
fim
de
tornar
seguros
os
seus
resultados,
e
que
realmente
arrasta
aos
poucos
os
olhos
da
alma
da
espécie
de
lodo
bárbaro
em
que
está
atolada
e
eleva-‐os
às
alturas.»
Platão,
República,
VII, 533-‐cd
A
filosofia
apresenta-‐se
como
uma
busca
da
sabedoria,
uma
ligação
entre
a
investigação
teórica
e
a
prática
de
vida.
13. Na
democracia
ateniense
todos
os
homens
livres
podiam
participar
no
governo
da
cidade.
Os
sofistas,
oradores
e
professores
de
retórica,
preparavam
as
elites
para
o
desempenho
de
cargos
públicos.
Nos
séculos
V
e
IV
a.C.,
em
Atenas,
havia
ambiente
favorável
para
criticar
a
tradição,
o
conhecimento
e
a
religião.
Sócrates
e
Platão
combateram
os
sofistas,
acusando-‐os
de
usar
a
retórica
para
iludir
e
manipular.
14. Segundo
Platão,
os
sofistas
centram
o
discurso
nos
seus
efeitos,
na
sua
eficácia
persuasiva.
A
filosofia
procura
a
verdade,
usando
a
linguagem
como
instrumento
de
descoberta
do
conhecimento
e
da
realidade.
15. Há
dois
usos
da
retórica:
o
uso
manipulador
o
uso
filosófico
o
orador
opta
por
apelar
privilegia
a
discussão
às
emoções
do
auditório,
racional,
pressupondo
levando-‐o
a
aderir
o
interesse
mútuo
de
forma
acrítica (de
orador
e
auditório)
em
aproximar-‐se
da
verdade
17. Sofistas
e
Platão
Duas
conceções
de
verdade
O
que
é
a
verdade?
Existe
«a
verdade»
ou
apenas
diferentes
pontos
de
vista?
Se
existe
«a
verdade»,
podemos
conhecê-‐la?
Há
diferentes
abordagens
e
concepções
de
«verdade».
Por
exemplo,
a
concepção
sofista
e
a
concepção
platónica.
Para
os
sofistas Para
Platão
a
verdade
é
um
ponto
de
vista:
a
verdade
é
a
«visão»
da
realidade
não
há
uma
verdade
única captada
pela
razão
qualquer
tese
(opinião)
é,
essa
«visão»
está
ao
alcance
em
princípio,
defensável
da
inteligência
humana
a
«verdade»
é
a
tese
(ou
o
ponto
de
essa
«visão»
é
a
meta
que
os
filósofos
se
vista)
defendida
pelo
melhor
orador
propõem
alcançar
18. Verdade
e
realidade
Mas
o
que
é
a
realidade?
Há
também
diferentes
abordagens
acerca
da
realidade.
19. A
realidade
segundo
Platão
Para
Platão
há
vários
níveis
de
realidade
vários
níveis
de
conhecimento
–
uma
sombra
é
menos
real
–
uma
suposição
é
menos
do
que
um
objecto
físico
«verdadeira»
do
que
uma
crença;
e
este
é
menos
real
do
que
do
mesmo
modo,
uma
crença
uma
Forma
Pura
é
menos
«verdadeira»
do
que
um
conhecimento
científico
20. A
realidade
segundo
Platão
1
manual,
p.
13
in
Platão,
República,
VI,
507b-‐509d
21. Platão
recusa
a
aparência
De
acordo
com
Platão,
a
investigação
começa
pela
recusa
do
mundo
aparente
pelo
desenvolvimento
de
capacidades
–
construído
a
partir
intelectuais
que
nos
permitam
«ver»
das
informações
dos
sentidos um
mundo
invisível
aos
sentidos,
um
mundo
inteligível
só
«visível»
à
razão
No
fim
desse
processo
alcançaremos
a
verdade,
que
é
o
conhecimento
racional
do
mundo
inteligível.
22. Filosofia
e
verdade
O
senso
comum
é
um
conhecimento
mais
baseado
na
perceção
do
que
na
razão.
Por
isso,
para
Platão,
a
argumentação
1 2
Platão
criticou
os
sofistas,
deve
estar
ao
serviço
pois
nem
todas
as
opiniões
de
um
ideal
mais
elevado
são
defensáveis
esse
ideal
está
fundamentado
num
conhecimento
3 verdadeiro
da
realidade
e
do
que
dá
sentido
à
existência
humana
23. Filosofia
e
verdade
Há
uma
verdade?
É
possível
conhecê-‐la?
Por
trás
da
«realidade»
visível
e
acessível
aos
sentidos,
há
a
realidade
imutável
de
que
falava
Platão?
Estas
perguntas
continuam
a
interessar
todos
os
seres
humanos.
Seja
qual
for
a
resposta,
ela
ganha
forma
na
linguagem
e
só
podemos
partilhá-‐la,
torná-‐la
acessível
e
discuti-‐la
através
do
discurso.
Em
qualquer
caso,
linguagem,
verdade
e
ser
(realidade)
são
termos
indissociáveis.
24. Platão
e
os
sofistas
defendiam
diferentes
concepções
da
verdade,
da
natureza
do
conhecimento
e
da
realidade.
Platão
distinguia
realidade
sensível
(ilusão
e
aparência)
e
realidade
inteligível,
a
que
correspondiam
níveis
diferentes
de
conhecimento
(a
opinião
e
o
conhecimento,
respectivamente).
PLATÃO
Platão
concebia
o
discurso
como
via
(428/27–347
a.C.)
de
acesso
ao
conhecimento
verdadeiro,
o
único
que
podia
dar
sentido
à
existência
humana.
26. A
natureza
da
realidade,
do
conhecimento
e
da
verdade
e
o
estatuto
da
linguagem
continuam
a
interessar
os
filósofos.
A
opinião
de
cada
indivíduo
só
pode
tomar
forma
na
linguagem
e
só
pode
ser
partilhada
e
discutida
através
da
argumentação;
linguagem,
verdade
e
ser
são
termos
indissociáveis.
É
certo
que
a
retórica
pode
ser
manipuladora,
mas
também
é
um
instrumento
indispensável
para
nos
defendermos
dessa
manipulação
e
de
nos
posicionarmos
de
forma
crítica
face
à
argumentação
que
nos
é
dirigida.
Exercício 3
30. Diga
quais
são
as
afirmações
verdadeiras
e
quais
são
as
falsas.
Afirmações V
/
F
Os
sofistas
recusavam
a
crítica
aos
valores
e
à
religião. ?
F
Sócrates
era
um
erudito,
orador
e
professor
de
retórica
e
preparava
as
elites
para
o
exercício
do
poder
político. ?
F
Platão
defende
que
há
dois
usos
da
linguagem:
o
uso
retórico
e
o
uso
filosófico. ?
V
Para
os
sofistas,
a
dialéctica
é
o
meio
da
destruição
das
hipóteses,
que
arrasta
os
olhos
da
alma
para
as
alturas. ?
F
Exercício 2
31. Complete
os
espaços
em
branco.
A retórica visava preparar os jovens para a disputa política e jurídica.
A filosofia procurava a verdade e o aperfeiçoamento dos seres humanos.
A retórica procurava captar a atenção mais do que transmitir um saber.
A filosofia tinha objectivos de investigação.
32. Diga quais são as afirmações verdadeiras e quais são as falsas.
Afirmações V
/
F
Para
Platão,
a
verdade
é
um
ponto
de
vista:
não
há
uma
verdade
única. ?
F
Para
os
sofistas,
a
verdade
é
a
«visão»
da
realidade
captada
pela
razão. ?
F
Para
Platão,
a
«verdade»
é
a
tese
(ou
o
ponto
de
vista)
defendida
pelo
melhor
orador. ?
F
Para
Platão,
a
verdade
é
a
«visão»
da
realidade
captada
pela
razão. ?
V
Para
os
sofistas,
a
«visão»
da
«verdade»
não
está
ao
alcance
da
inteligência
humana. ?
V
33. Sofistas
Eram
eruditos
que
se
apresentavam
como
oradores
e
professores
de
retórica,
propondo-‐
-‐se
preparar
as
elites
para
o
exercício
do
poder
político.
34. Realidade
Realidade
(do
latim,
realitas)
ou
plano
ontológico
(do
grego,
ontos)
são
termos
que
designam
«tudo
o
que
é»,
a
que
os
filósofos
chamam
Ser,
independentemente
de
sabermos
ou
não
da
sua
existência
e
do
conhecimento
que
dele
possamos
ter.
35. Formas
Puras
Tradução
do
termo
grego
eidos
(também
traduzido
por
Ideias)
com
que
Platão
designava
as
formas,
ou
estruturas
da
realidade,
que
servem
de
modelo
aos
objectos
(eidola)
do
mundo
sensível.
Platão
chamava
noésis
à
faculdade
capaz
da
«visão»
das
formas
do
kósmos
noêtos,
o
«mundo
inteligível».
36. Dialéctica
O
sentido
original
da
palavra
era
«arte
de
discutir».
Para
Platão,
a
dialéctica
é
o
processo
progressivo
de
investigação
usado
pelos
filósofos
para
se
libertarem
da
ignorância
(simbolizada
pela
escuridão
da
caverna)
e
alcançarem
a
verdade.
37. Verdade
No
contexto
da
filosofia
de
Platão,
a
Verdade
é
o
conhecimento
do
mundo
inteligível
(imutável
e
original,
dá
sentido
a
toda
a
realidade
sensível)
que
os
filósofos
procuram
alcançar.
Para
os
sofistas,
a
verdade
é
um
ponto
de
vista
sobre
o
mundo
que
é
legitimado
pela
discussão
e
pela
capacidade
persuasiva
do
discurso.
38. Percepção
Uma
das
etapas
do
processo
cognitivo:
construção
de
uma
representação
mental
(o
objecto
percebido,
ou
percepcionado)
a
partir
da
descodificação,
classificação
e
organização
dos
dados
dos
sentidos.
40. Protágoras
O
mais
conhecido
dos
sofistas.
Punha
em
dúvida
que
o
ser
humano
pudesse
atingir
conhecimentos
universais.
41. Realidade
Realidade
(do
latim,
realitas)
ou
plano
ontológico
(do
grego,
ontos)
são
termos
que
designam
«tudo
o
que
é»,
a
que
os
filósofos
chamam
Ser,
independentemente
de
sabermos
ou
não
da
sua
existência
e
do
conhecimento
que
dele
possamos
ter.
42. Retórica
Nome
que
a
antiguidade
clássica
grega
e
romana
atribuía
à
arte
(a
um
conjunto
de
teoria
e
prática)
de
persuadir
através
da
palavra
(discurso).
Designa
a
arte
de
falar
com
eloquência
com
o
objectivo
de
conseguir
o
assentimento
(acordo)
e
o
convencimento
(adesão)
do
auditório.
Há
retórica
sempre
que
se
procura
convencer
outrem,
sempre
que
há
intenção
persuasiva.
No
século
XX,
a
retórica
clássica
deu
lugar
ao
que
alguns
autores
chamam
a
«nova
retórica»
e
outros
«argumentação».