Este documento discute a importância da manutenção da posse de bola no futebol. Apresenta um exercício de treino focado em melhorar a habilidade das equipes em manter a posse da bola sob pressão defensiva em um espaço limitado. Também discute princípios e características do jogo coletivo que facilitam ou dificultam a manutenção da posse da bola.
A mpb, um meio, não um fim joão carlos costa (fcp & fcdef-up) 2004
1. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 1
III Jornadas Técnicas de Futebol
+ Futsal
10 de Maio de 2004 – UTAD, Vila Real
A manutenção da posse da bola: um meio, não um fim.
João Carlos Costa
FCDEF-UP
F.C.Porto, Futebol SAD
1. INTRODUÇÃO
A organização do processo de treino é uma preocupação antiga, mas nunca desactualizada,
porque as práticas são permanentemente modificadas, renovadas e actualizadas. Neste
particular já Queiroz (1986: 13), tinha alertado para a preponderância dos exercícios: “A
estrutura e a organização dos exercícios para o treino de futebol é um tema que, desde há
muito, nos tem merecido particular atenção…”
O processo ofensivo constitui uma das fases mais atractivas e determinantes do êxito do jogo
de Futebol, consubstanciando-se na, e pela, posse da bola, tendo em vista a obtenção do golo.
Deste modo, a importância da posse da bola não se esgota em si mesma, visto que é um
degrau onde é dado o primeiro passo indispensável ao processo ofensivo (Castelo, 2003).
O objectivo principal do jogo e das equipas é marcar golos, criar possibilidades de marcar, usar
o espaço e o tempo em relação com os companheiros e oponentes, e ter a posse de bola o
maior tempo possível.
A inclusão da manutenção da posse da bola (MPB) nos princípios basilares da organização do
nosso jogo não se esgota na aquisição dum alargado conjunto de requisitos táctico-técnicos,
que permitam garantir essa condição por elevado tempo, mas remete-nos sobretudo para o
entendimento da dinâmica de coordenação colectiva que permita identificar os momentos de
assunção de maior ou menor risco na tentativa de criação de situações de finalização. Ela
assume-se deste modo como um dos mais relevantes momentos tácticos, onde a decisão
correcta dos caminhos a seguir exige um profundo conhecimento dos princípios gerais e
específicos do jogo, assim como das linhas concretas de organização do jogo da equipa.
2. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 2
A MPB permite e exige, simultaneamente, uma selecção equilibrada entre o jogo directo e o
jogo indirecto, sem perder de vista o objectivo do jogo (marcar golo), as equipas não devem
jogar indiscriminadamente para a baliza, ou para a frente. Importa perceber que, em
determinados momentos, pode ser importante jogar para trás ou lateralizar, no sentido de fazer
oscilar os jogadores da equipa contrária e assim abrir espaços para jogar.
Daqui decorre a importância da resolução táctica de qualquer momento de jogo, em particular
das situações de MPB, permanentemente relativizadas ao binómio risco/segurança, onde
compete ao jogador percepcionar e avaliar as vantagens e desvantagens da sua opção para os
objectivos tácticos da equipa (Castelo, 1994).
A MPB é aqui entendida e inserida como um princípio do nosso jogo, da nossa organização, do
nosso modelo de jogo. Mas não um estado independente e desligado da intenção e finalidade
do jogo. Entendemo-la, portanto, como uma posse assente no passe, na recepção, que
procura progredir, conquistar espaços e encontrar a situação mais favorável à finalização.
Uma equipa que consegue dar profundidade e amplitude ao seu jogo, uma equipa que ocupa
todos os metros quadrados que o campo tem de uma forma muito racional, uma equipa que faz
a circulação da bola em alta velocidade é uma equipa que consegue praticar um futebol bonito
e espectacular (Mourinho, 2004).
A equipa deve entender, procurar e assegurar a MPB, pois desta forma será possível:
a) controlar e direccionar o ritmo do jogo;
b) privar o adversário da posse da bola, criando crise de raciocínio táctico;
c) suscitar um dispêndio energético excessivo por parte do adversário que a procura recuperar,
e à equipa em posse de bola, uma gestão adequada dos momentos anteriores de desgaste na
procura da recuperação da posse da bola;
d) encontrar o momento oportuno para a procura da finalização aproveitando os desequilíbrios
na estrutura adversária;
e) impor o ritmo de jogo mais conveniente, procurando o golo com objectividade e variedade na
progressão (diferentes velocidades de jogo);
A ocupação do terreno baseia-se num jogo de posições, de linhas e triângulos para uma
perfeita cobertura do terreno de jogo nas diferentes fases. A equipa quando tem a posse de
bola deve ter os seus jogadores sempre em posição para a receber (Mourinho, 2003).
3. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 3
2. ENQUADRAMENTO DA MANUTENÇÃO DA POSSE DA BOLA NA
ORGANIZAÇÃO DO JOGO COLECTIVO
Numa análise estrutural do jogo de futebol, podemos estabelecer três etapas fundamentais do
processo ofensivo: a construção das acções ofensivas, a criação de situações de finalização e
a finalização (Queiroz, 1983).
A MPB enquadra-se na construção do processo ofensivo, mas atendendo às fases
subsequentes.
Na organização colectiva a MPB reveste-se, no contexto em que aqui a abordamos, dum papel
determinante, porque assumimos claramente que pretendemos uma equipa que jogue
permanentemente em circulação de bola, que procure pacientemente a progressão e a criação
de situações de finalização.
É ainda relevante que ao nível sectorial a equipa domine os comportamentos que permitam
manter a posse da bola nos diferentes sectores e nas várias zonas do campo sem hipotecar a
organização colectiva. Para isso é determinante posicionar-se em função da situação, em
função dos colegas e dos adversários, colocando-se preferencialmente em diagonais, fazendo
o “campo grande” (amplitude e profundidade), permitindo que a bola circule com segurança.
Assim, tendo a equipa a bola, torna-se então possível avançar com um plano de jogo de
ataque (Mourinho, 2003).
A avaliação do nível de jogo colectivo de uma equipa exige dos seus responsáveis técnicos a
definição dum conjunto de condições que a verificarem-se influenciam a qualidade da
prestação.
Características do jogo colectivo que dificultam a MPB:
i. excessivos movimentos de afastamento ao portador da bola, na tentativa de a receber em
zonas de maior profundidade, descurando os movimentos de apoio ao portador da bola;
ii. não utilização dos apoios ao portador da bola, os jogadores que recebem passes em
posicionamento de costas para a baliza contrária procuram controlar e ultrapassar o adversário
directo, sem utilizar o apoio de jogadores posicionalmente mais atrasados mas voltados para a
baliza adversária que lhes permite ler o jogo, e se adequado, devolver o passe;
iii. o jogo sem bola não existe, os companheiros do portador da bola não se movimentam, não
criam nem ocupam espaços vazios, não proporcionam linhas de passe quer de apoio quer de
ruptura, quem tem a bola joga sozinho;
4. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 4
iv. a precipitação em fazer tudo depressa, dificulta a identificação da melhor decisão e do
melhor caminho, precipitando os erros ou optando frequentemente pelo jogo directo, com um
decréscimo da qualidade do jogo ofensivo;
Características do jogo colectivo que permitem uma melhoria da MPB:
i. fazer circular a bola mas também os jogadores, num jogo posicional que permita ocupar
racional e permanentemente o espaço de jogo;
ii. ocupar espaços livres, evitar a sobreposição de linhas de passe no sentido de multiplicar as
possibilidades de passar e consequentemente conservar a bola;
iii. procurar segurança máxima nas escolhas realizadas, evitando perder a bola
desnecessariamente;
iv. criar o maior número de linhas de passe possíveis, desmarcações de apoio e de ruptura,
todos os jogadores devem ser potenciais recebedores;
v. garantir o apoio permanente ao portador da bola, preferencialmente em diagonais;
vi. provocar uma elevada, mas variada, velocidade de transmissão da bola através dum
número reduzido de contactos jogador/bola que permita uma exploração do espaço de jogo
livre;
vii. ocupar o campo em largura e profundidade, fazendo o “campo grande”;
viii. circular a bola por todo o campo, mantendo-a pouco tempo em cada corredor, evitando
assim a organização defensiva adversária nessa zona;
Como temos constatado “No Futebol, a ocupação racional dos espaços é fundamental, assim
como a profundidade e largura do jogo.” (Mourinho, 2004).
Entre os princípios específicos do jogo ofensivo, aqueles que mais influenciam a capacidade de
manter e fazer circular a bola são:
o Cobertura ofensiva (apoio ao companheiro portador da bola);
o Mobilidade (variação de posições, ocupação de espaços livres, criação de linhas de
passe, desequilíbrio e ruptura da estrutura defensiva adversária);
o Espaço (racionalização das acções no sentido de permitir maior amplitude ofensiva, em
largura e profundidade);
5. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 5
A sequência que nos propomos apresentar, permite segundo o nosso entendimento do jogo e
da sua organização, aumentar o equilíbrio da relação risco/segurança e melhorar a qualidade
do jogo ofensivo.
3. O ENSINO/TREINO DA MANUTENÇÃO DA POSSE DA BOLA
A sequência de exercícios que elaboramos procura apresentar uma lógica progressiva de
aquisição dos principais requisitos/noções que possibilitem uma melhoria da MPB.
Deste modo importa situar as características dos exercícios de MPB, citando Castelo (2003:
536) “Estes exercícios são caracterizados pela possibilidade de se criarem condições que
objectivem resoluções tácticas pelo lado da segurança, isto é, haver um esforço colectivo, que
impedido de atacar a baliza adversária ou não havendo condições favoráveis para o fazer, é
preferível manter a posse da bola do que correr o risco de «entrega-la» ao adversário de forma
extemporânea e irreflectida.”
Assim na construção das situações procuramos respeitar e seguir os cinco pressupostos
fundamentais para a conceptualização dos meios de ensino/treino do jogo propostos por
Castelo (2003): (1) referenciá-los a partir das situações reais de jogo, (2) relacioná-los com
parâmetros lógicos da sua construção, (3) identificar os objectivos a atingir, (4) evidenciar uma
preocupação de unidade desses meios e, (5) formulá-los constantemente numa perspectiva
competitiva.
Neste contexto procuramos que os meios de ensino/treino do jogo: (1) potenciem os
mecanismos de processamento de informação e tomada de decisão, (2) utilizem o efeito de
transfere positivo entre execuções e, (3) motivem correctamente o jogador para a prática do
exercício de treino (Adap. de Castelo, 2003).
Condicionantes estruturais dos exercícios de MPB
Na construção ou adequação dos exercícios de circulação e manutenção da posse da bola
podemos e devemos intervir no sentido de conduzir a exercitação ao encontro das variáveis
que desejamos melhorar, sobre as seguintes condicionantes:
Espaço – podemos aumentar ou diminuir o espaço de jogo em função do que pretendemos
provocar e estimular, e ainda de acordo com a maior ou menor capacidade em manter a
posse da bola. Partindo do mesmo número de jogadores, quanto maior o espaço maior
facilidade em se circular e manter a posse da bola;
6. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 6
Número de contactos com a bola – podemos permitir livre ou limitado individualmente, em
todo o espaço ou em determinadas zonas. Quanto menor, maior a necessidade em circular
a bola, mas mais exigente e pressionada se torna a decisão;
Interdição de comportamentos – em função do privilégio de uma equipa, ou de determinado
momento do jogo, podemos interditar comportamentos táctico-técnicos (ex. desarme, reduz
as recuperações de bola, facilita a MPB da equipa em situação de ataque) que possibilitem
assim maior sucesso e concretização dos objectivos;
Relação de oposição – tendencialmente a relação de oposição será favorável ao ataque,
para facilitar a conservação e circulação da bola, nomeadamente quando a equipa
apresenta maiores dificuldades (utilização de Joker ofensivo ou impedir a participação
defensiva de alguns jogadores);
Tempo mínimo de posse e circulação da bola – impedir a procura de situações de
finalização antes de um tempo mínimo de manutenção da posse da bola (ex. número
mínimo de passes, 30 segundos de posse de bola para poder criar situações de
finalização);
O primeiro grupo de exercícios de ensino/treino da MPB que propomos, caracterizam-se
maioritariamente por situações de carácter generalizado através dos quais se procura melhorar
a segurança e a circulação da bola, em contextos com menor especificidade, desintegrados da
organização estrutural. Para tal, utilizam-se, sobretudo, exercícios globais em espaços
reduzidos.
EXERCÍCIO Nº 1
1. Estrutura: Meios 3x1;
2. Elementos: Grupos de 4 jogadores;
3. Organização: Em espaço delimitado e
curto, três jogadores tentam manter a
posse da bola o máximo tempo possível
com a oposição dum defensor que procura
interceptar a bola.
4. Espaço: 5m x 5m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Os
jogadores em posse de bola devem ocupar
sempre os vértices do quadrado mais
Figura Nº1
7. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 7
próximos do portador da bola criando-lhe permanentemente duas linhas de passe. Quando o
defensor conseguir recuperar a posse da bola ou provocar um passe para fora do espaço, o
jogador responsável pelo erro cometido, ou aquele que não criou a linha de passe necessária,
ocupa o lugar do defensor. O número de contactos de cada jogador com a bola deve ser
limitado, de acordo com as capacidades dos executantes.
6. Variantes: (a) Além da limitação de contactos com a bola; (b) podemos indicar o dois
contactos por jogador como obrigatórios; (c) impedir os passes para o vértice contrário; (d)
penalizar o defensor que permita mais do que um determinado número de passes (ex. 10) ou
que permita um passe entre as pernas; (e) manter o mesmo defensor por um período de tempo
e contabilizar o número de recuperações realizadas.
Outras variantes dos mesmos objectivos passam pelo aumento progressivo número de
defensores e de atacantes, respeitando algum equilíbrio de forças e de espaço de jogo (4x1,
6x2, 8x3, etc).
7. Objectivo Geral: Passar e manter a posse da bola; criar linhas de passe; enquadrar-se com
a zona de recepção e com a zona de destino do passe.
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Passar bem, ocupar um espaço livre e criar linha de
passe de apoio ao portador da bola.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 4 a 5 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Evitar a ocupação prolongada das
zonas laterais do quadrado; ii. Contrariar o estaticismo.
EXERCÍCIO Nº 2
1. Estrutura: 6 x 2+4;
2. Elementos: 12 jogadores;
3. Organização: Duas equipas de seis elementos
ocupam cada uma a sua metade do espaço de jogo.
4. Espaço: Aproximadamente 30 m x 15 m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Alternadamente dois
jogadores de cada equipa saem a pressionar e a
procurar recuperar a bola no espaço de jogo
adversário. Quando o conseguir joga a bola para o seu
espaço de MPB e juntam-se aos restantes quatro
elementos que lá se mantiveram. De seguida outros Figura Nº2
8. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 8
dois elementos, agora da outra equipa, saem a pressionar com os mesmos objectivos e
organização do grupo anterior.
6. Variantes: (a) limitar o número de contactos com a bola por jogador; (b) aumentar o número
de defensores, três defensores de cada vez;
7. Objectivo Geral: Manter e circular da posse da bola nas zonas de menor concentração
defensiva;
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Manter e circular a posse da bola; recuperar a bola
e utilizar a superioridade numérica do seu espaço de manutenção da posse da bola.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 2 a 3 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Cria linha de passe; ii. Não joga
parado; iii. Conduz o jogo para as zonas privilegiadas.
EXERCÍCIO Nº 3
1. Estrutura: 2 x 2+4;
2. Elementos: 8 jogadores;
3. Organização: Duas equipas de dois
elementos jogam 2x2 com o apoio de quatro
jogadores colocados no exterior do espaço
de jogo.
4. Espaço: Aproximadamente 15 m x 15 m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Cada
equipa procura manter a posse da bola
utilizando como apoio os quatro elementos
exteriores. Os apoios são utilizados por ambas equipas indiscriminadamente mas apenas
poderão jogar a dois toques e não deverão passar sucessivamente a bola entre eles. Podemos
valorizar o tempo que cada dupla mantenha posse da bola, o número de passes que realizam
sem a perder, ou o número de vezes que atingem determinado mínimo (ex. 10 passes).
6. Variantes: (a) aumentar o número de elementos para 3x3 ou 4x4; (b) permitir que cada vez
que se jogue com os apoios o jogador que o fez permute de posição com o apoio que utilizou,
neste caso os apoios devem estar divididos também por cada uma das equipas; (c) valorizar
mais os passes aos jogadores de dentro do espaço, permitindo mas não contabilizando os
passes entre dois apoios.
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola;
Figura Nº3
9. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 9
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Manutenção e circulação da posse da bola;
utilização do apoio para circular o jogo; criação de linhas de passe perto e afastado do apoio
portador da bola.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 2 a 3 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Cria linha de passe; ii. Não joga
parado; iii. Dá solução de jogo ao apoio exterior;
EXERCÍCIO Nº 4
1. Estrutura: Jogo 6x6+2 joker ofensivos com
várias balizas;
2. Elementos: 14 jogadores;
3. Organização: Duas equipas de seis
elementos tentam fazer o maior número de
golos com o apoio de dois elementos que
incorporam sempre a equipa em processo
ofensivo;
4. Espaço: Aproximadamente 40 m x 40 m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Cada
equipa procura marcar o maior número de golos nas diferentes balizas. O golo só é válido
quando a equipa mantém a posse da bola, depois de a fazer passar por dentro da baliza.
Apesar de inicialmente podermos permitir a finalização por ambos os lados da baliza, devemos
posteriormente definir apenas um sentido de concretização. É importante incluir mais uma
baliza do que o número de defensores, no sentido de evitar que cada um se posicione como
“guarda-redes” de cada uma.
6. Variantes: (a) aumentar o número de elementos; (b) estabelecer quais as balizas em que
cada equipa pode finalizar; (c) não permitir dois golos consecutivos na mesma baliza.
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola; variar o jogo em função da organização
defensiva adversária.
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Ver as zonas com menor concentração defensiva,
esperar pela linha de passe na zona de finalização;
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 8 a 10 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Vê a baliza livre; ii. Variar ataque;
Baliza Figura Nº4
10. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 10
EXERCÍCIO Nº 5
1. Estrutura: Jogo 6x6+1 Joker ofensivo com
3+3 balizas;
2. Elementos: 13 jogadores;
3. Organização: Duas equipas de seis
elementos tentam fazer o maior número de
golos com o apoio de um elemento que
incorpora sempre a equipa em processo
ofensivo;
4. Espaço: Aproximadamente 40 m x 40 m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Cada
equipa procura marcar o máximo de golos possível nas 3 balizas (1,5m) colocadas no limite do
campo adversário.
6. Variantes: (a) impossibilitar o Joker de finalizar; (b) estabelecer as balizas em que o golo é
mais valorizado;
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola; variar o jogo em função da organização
defensiva adversária;
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Identificação das zonas com menor concentração
defensiva, circulação da bola em elevada velocidade de transmissão.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 8 a 10 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Vê a baliza e o espaço de penetração
livre; ii. Circula para o lado contrário;
Este segundo grupo de propostas integra, com elevada especificidade, a organização estrutural
colectiva. Para isso, recorremos a exercícios em espaços mais próximos dos do jogo
regulamentar.
Baliza
Figura Nº5
11. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 11
EXERCÍCIO Nº 6
1. Estrutura: GR+3+3 x 3+3+GR;
2. Elementos: 12 jogadores e 2 GR;
3. Organização: Os doze jogadores distribuem-
se por duas equipas de seis, sub-divididos em
grupos de três colocados em duas linhas de três
elementos.
4. Espaço: 40m x 40m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Os três
jogadores da linha mais adiantada só podem
jogar no ½ campo ofensivo, estão impedidos de
recuar e de ajudar defensivamente no ½ campo defensivo. Os jogadores da linha de trás
podem atacar e defender em todo o espaço. Devem alterar-se as posições e funções dos
jogadores no sentido de experimentarem as diferentes exigências do exercício. O GR tem
obrigatoriamente que repor a bola em jogo no seu ½ campo.
6. Variantes: (a) Mais elementos em processo defensivo (3+1, 3+2); (b) apoios laterais para a
transição defesa-ataque.
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola em superioridade numérica; esperar,
identificar e aproveitar dos desequilíbrios defensivos.
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Ser paciente, mobilidade dos jogadores com maior
profundidade, apoio ao portador da bola.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 4 a 5 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Não arrisca; ii. Utiliza linha de passe de
jogador livre; iii. Circula e cria espaço entre os defensores.
Figura Nº6
12. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 12
EXERCÍCIO Nº 7
1. Forma: 10x10 em estrutura;
2. Elementos: 20 jogadores;
3. Organização: Duas equipas de dez
jogadores distribuídos pelo campo de acordo
com a organização estrutural adoptada (ex.
4x3x3);
4. Espaço: 50m x 35m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Cada
equipa procura manter a posse da bola no
espaço estabelecido sem abandonar a
organização estrutural. Um dos defesas centrais pode criar linha de passe atrasada para além
da linha final sem oposição do adversário.
6. Variantes: (a) Criar superioridade numérica da equipa em posse de bola jogando 8x8+2joker
ofensivos; (b) Permitir a pressão ao defesa central que cria linha de passe atrasada; (c)
Possibilitar corredores laterais interditos aos defensores; (d) Tentar que um dos jogadores mais
avançados receba a bola para além da linha final, inicialmente colocando-se permanentemente
no exterior e posteriormente saindo do espaço interior em desmarcação de ruptura para a
receber à frente respeitando a lei do fora de jogo; (e) Permitir um apoio lateral.
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola em organização estrutural; identificar e
utilizar as linhas de passe de apoio e as desmarcações de ruptura.
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Ser paciente, não sobrepor sectores, sempre linha
de passe perto e longe da bola.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 4 a 5 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Não arrisca; ii. Utiliza apoio atrasado;
iii. Circula e cria espaço entre os sectores para permitir a circulação da bola; iv. Vê as linhas de
passe perto e afastadas; v. Não abandona posição.
5
Sentido de Ataque
Figura Nº7
13. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 13
EXERCÍCIO Nº 8
1. Estrutura: Jogo 6x6x6;
2. Elementos: 18 jogadores e
2 GR;
3. Organização: Em espaço
alargado jogam três equipas
de seis mais dois GR.
4. Espaço: Espaço
compreendido entre as duas
áreas, aproximadamente 70 m
x 70 m de largura. Estão
criados três corredores de jogo
longitudinal: um central de dimensões mais alargadas onde todos podem jogar e dois mais
reduzidos onde apenas a equipa em posse de bola pode jogar. Longitudinalmente existe uma
zona central de transição onde os defensores não podem entrar.
5. Descrição/Desenvolvimento: A primeira equipa ataca uma segunda a que já se encontra
defensivamente organizada, enquanto a terceira equipa aguarda organizada defensivamente
na outra baliza. Quando a equipa que defende recuperar a posse da bola ataca a equipa que
se encontra no outro ½ campo. Numa primeira fase, não é permitido à equipa que perde a
posse da bola no ataque opor-se à equipa que a recuperou para não dificultar a primeira fase
de construção do jogo. Posteriormente poderá faze-lo e a equipa que recupera a bola sentirá
necessidade de utilização dos corredores laterais e dos jogadores que aí se encontram. Em
processo defensivo, rotativamente dois dos seis elementos da equipa não participam
colocando-se sobre os corredores laterais de jogo. Isto permitirá uma relação de oposição
positiva para o ataque e duas referências de jogo lateral no momento de conquista da posse da
bola.
6. Variantes: (a) Progressivamente vamos introduzindo todos os elementos no processo
defensivo; (b) limitar o número de contacto com a bola na zona neutra de transição; (c)
impossibilitar a procura de situações de finalização antes de um número mínimo de passes ou
antes de percorrer todos os corredores do campo.
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola; criar linhas de passe em toda a
amplitude; esperar pela desorganização defensiva.
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Ser paciente, retirar a bola da zona de pressão dos
defensores no momento imediato à sua recuperação, mobilidade dos jogadores com maior
profundidade, apoio ao portador da bola e jogo em amplitude.
Figura Nº8
14. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 14
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 8 a 10 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Não arrisca; ii. Utiliza linha de passe
dos jogadores livres; iii. Utiliza zonas exclusivas do ataque; iv. Cria espaço entre os
defensores.
EXERCÍCIO Nº 9
1. Estrutura: Jogo 7+1 x 7+1;
2. Elementos: 16 jogadores;
3. Organização: Duas equipas
de sete elementos organizados
com a estrutura de jogo que
desejamos trabalhar e um
elemento (preferencialmente o
avançado centro) colocado
numa zona limitada na
extremidade do espaço de
jogo.
4. Espaço: Aproximadamente 40 m x 40 m.
5. Descrição/Desenvolvimento: Cada equipa, organizada com dois laterais três médios e dois
extremos, procura entregar a bola ao jogador (avançado centro) que se encontra na zona de
recepção. Pontua cada vez que o conseguirem fazer. O jogo recomeça com bola na equipa
que sofreu o ponto. Semelhanças com o jogo infantil “Bola ao Capitão”.
6. Variantes: (a) impossibilitar o jogo longo, apenas permitir o passe ao avançado a partir de
metade do espaço de jogo; (b) favorecer a oposição à equipa em posse de bola com a
introdução de um Joker; (c) criar a possibilidade de o avançado tentar finalizar na baliza
correspondente ao lado em que desenrola o jogo; (d) possibilitar oposição por parte dum
defensor ao avançado colocada na zona de recepção; (e) colocar dois avançados na zona de
recepção;
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola; analisar a movimentação e/ou
desmarcação do avançado e servi-lo;
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Manutenção e circulação da posse da bola,
procurando aproveitar os espaços entre os defensores adversário para servir o avançado.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 8 a 10 min.
Figura Nº9
15. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 15
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Vê o movimento do avançado; ii.
Circula para fazer entrar a bola no espaço com maior profundidade. iii. Observa o espaço de
penetração livre;
EXERCÍCIO Nº 10
1. Estrutura: GR+8 x 8+GR + 2 Joker
2. Elementos: 18 jogadores e 2 GR.
3. Organização: Os dezoito jogadores
distribuem-se por duas equipas de seis
jogadores de acordo com a organização
estrutural adoptada, neste caso (sistema 4x3x3)
colocam-se quatro defensores, um médio centro
e três avançados. Os Jokers fazem de médios
esquerdo e direito em ambas as equipas
criando uma relação de oposição favorável à
equipa em processo ofensivo.
4. Espaço: Meio campo 50m x 70m, com três corredores de jogo longitudinal.
5. Descrição/Desenvolvimento: As equipas procuram marcar golo tendo obrigatoriamente
que percorrer todos os corredores do campo.
6. Variantes: (a) Elementos fixos nos corredores laterais como apoio ofensivo para a sua
equipa; (b) realização mínima de três passes em cada corredor antes de finalizar; (c) impedir
os jogadores em processo defensivo de jogarem nos corredores laterais; (d) possibilitar a
acção apenas aos defensores que já se encontrem no corredor lateral no momento em que a
bola entra nesse espaço (defender nessa zona);
7. Objectivo Geral: Manter e circular a posse da bola em superioridade numérica e em
organização estrutural;
8. Objectivo Comportamental Colectivo: Ser paciente; mobilidade dos jogadores com maior
profundidade, apoio ao portador da bola, utilização de todo o espaço de jogo de forma racional,
sobretudo em amplitude.
9. Tempo de Exercitação: Períodos de 8 a 10 min.
10. Orientações Chave na Condução do Exercício: i. Não arrisca; ii. Faz o campo grande
utiliza, toda a largura e a máxima profundidade; iii. Cria linhas de passe ao portador da bola;
3
6
9
9
9
8
7
8
k
l
k
d
j
a
e
k
h
j
k
l
j
s
d
m
l
Figura Nº10
16. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 16
4. CONCLUSÃO
Se pretendemos que os comportamentos que solicitamos correspondam à especificidade do
jogo, na construção dos exercícios de MPB é fundamental:
i. Criar um sentido de ataque que permita, individual e colectivamente, a orientação dos
comportamentos de jogo ofensivo e defensivo, pois só desta forma entendemos possível
adquirir as noções de alternância de criação e ocupação do espaço de jogo;
ii. Manter a baliza como referência basilar de todo o jogo. Este é, e será sempre, o objectivo
principal e para a qual tudo conflui. Contudo, e como nem sempre uma linha recta é o caminho
mais fácil para se chegar de um ponto a outro, corremos o risco de durante o percurso, perder
o rumo;
iii. Impedir a inversão da importância da MPB ao sobrepor-se esta ao objectivo do jogo – O
Golo;
iv. Adequar as condicionantes estruturais dos exercícios à avaliação permanente das
aquisições e evolução da capacidade de jogo. A aprendizagem não é um processo fechado e
contínuo, exigindo dos meios de ensino (os exercícios), uma adaptação e reorganização que
respeitem quer as evoluções, quer os retrocessos do processo de aprendizagem;
v. Perceber-se que a MPB só faz sentido num jogo de passe, num jogo de posse, num jogo de
posições;
vi. Identificar o momento oportuno para assumir maior risco e procurar a criação de situações
de finalização, privilegiando a leitura e identificação dos caminhos em detrimento da execução
das acções;
vii. Não dar a bola de “borla”, sem que se tenha feito o possível para a manter em nossa posse,
já que dá muito trabalho a recuperar;
viii. Abandonar a atitude fechada que ainda se manifesta em muitos técnicos, ultrapassando a
relutância à modificação das propostas habituais. Até porque, é função do treinador adaptar
continuamente o treino aos problemas que individual e colectivamente a equipa apresenta, pois
só assim poderemos garantir uma adequação constante às reais necessidades do jogo.
ix. Procurar profundidade da manutenção e circulação da posse da bola. Não nos satisfaçamos
com um elevado tempo de manutenção da posse da bola, pelo que importa relativizar esse
mesmo tempo às zonas em que acontece e à oposição que o adversário realiza.
Por último, é conveniente realçar que nunca foi nossa intenção elaborar um conjunto de
normas ou de receitas. Mas sim promover o intercâmbio de informação, discussão e reflexão
17. III Jornadas Técnicas de Futebol + Futsal
João Carlos Costa 17
que possam contribuir a uma constante e reflectida aprendizagem, a partir duma interacção
positiva de diferentes pontos de vista.
5. BIBLIOGRAFIA
1. ÁGUILA SOTO, C. & CASIMIRO ANDÚJAR, A. (2000): Consideraciones metodológicas para la enseñanza de
los deportes colectivos en edad escolar. Educación Física y Deportes. Revista Digital, 20.
(http://www.efdeportes.com/).
2. CASTELO, J. (1994): O modelo técnico-táctico do jogo de futebol. Edições FMH. Lisboa.
3. CASTELO, J. (2003): Futebol - Guia pratico de exercícios de treino. Visão e Contextos. Lisboa.
4. FRADUA URIONDO, L. & SANTOS, J. A.F. (1995): Construcción de situaciones de enseñanza para la mejora
de los fundamentos técnico-tácticos individuales en el Fútbol. Apunts: Educació Física i Esportes, 40: 27-33.
5. GARGANTA, J. (1997): Modelação táctica do jogo de futebol. Estudo da organização da fase ofensiva em
equipas de alto rendimento. Tese de Doutoramento. FCDEF-UP.
6. GARGANTA, J. (2001): A análise da performance nos jogos desportivos. Revisão acerca da análise do jogo.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol.1 (1): 57-64.
7. MOMBAERTS, E. (1998): Fútbol. Entrenamiento y rendimiento colectivo. Hispano Europea. Barcelona.
8. MOURINHO, J. (2003): “A Bíblia Azul e Branca” por Eugénio Queirós e Nuno Viera no Jornal A Bola de 4 de
Fevereiro.
9. MOURINHO, J. (2004): Entrevista ao Jornal de Noticias de 20 de Janeiro.
10. PÁLFAI, J. (1984): Métodos e sessões de treino no futebol. F.P. Futebol. Lisboa.
11. QUEIROZ, C. (1983): Para uma teoria do ensino/treino do Futebol. Ludens, Vol 8 Nº1.
12. QUEIROZ, C. (1986): Estrutura e organização de exercícios de treino em futebol. F.P. Futebol. Lisboa.
13. SILVEIRA RAMOS, F. (2002): Futebol – Da “Rua” à competição. Centro de Estudos e Formação Desportiva,
IND. Lisboa.
João Carlos Costa
FCDEF-UP, Gab. Futebol
F.C.Porto, Futebol SAD
J.C.Costa@netcabo.pt