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O Amor sempre vence

                                          I
Amélia e Vitor conversam com empolgação no armazém de Janaína sobre os
primeiros passos que irão dar com a linha “Rurbano”. Vitor diz animado:
- Então, meu amor, agora que nós já temos algumas peças prontas, feitas com
o nosso capital, a gente poderia começar a revender e conseguir um montante,
além de experimentar a reação do público-alvo.
- Sim! E é importante agora também nós buscarmos os distribuidores e os
fornecedores de matéria-prima pra incrementar a confecção.
- Eu pensei em já dar andamento nisso tudo, ainda essa semana. Eu vou até
os principais centros urbanos e a gente dá o pontapé inicial. O que acha?
- Fechado! – Amélia sorri e toca discretamente a mão de Vitor que estava
sobre a mesa. Ele retribui e não tão discretamente entrelaça seus dedos nos
dela.
- Vitor, não faz isso aqui – Amélia sorri sem graça e retira a mão.
- Tudo bem, então vamos continuar lá no meu quarto... A gente tem agora a
desculpa de estar discutindo sobre negócios.
- Sei...- Amélia sorri junto com Vitor.
- Tô falando sério, é tudo profissional. – Vitor beija a mão de Amélia e a levanta
da cadeira. – Vamos?
Amélia e Vitor se despedem de Bruno, pois Fred e Janaína viajaram em lua-de-
mel e deixaram o armazém aos cuidados dele e de Nancy. Logo, eles seguem
até a estalagem. Chegando lá, os dois encontram Manuela e Solano.
- Olá, dona Amélia, oi, Vitor – Solano cumprimenta os dois e beija a mão de
Amélia com respeito.
- Oi, Solano, como vai? Filha...
- Oi, mãe. Oi, Vitor. E aí? Que tantas sacolas são essas, dona Amélia?
- Pois é, são algumas peças que compramos pras bijuterias. São lindas, depois
te mostro.
- Hum, e o Vitor ajudou a senhora?
- Claro! O Vitor tem um ótimo gosto pra isso. Fiquei surpreendida, sabia? –
Amélia sorri para Vitor, que reage com um olhar convencido:
- Pois é, convivendo tanto com uma mulher dessas, a gente aprende a ter bom
gosto.
- Ah, meu Deus, que graça! – Manu brinca com os dois e todos começam a rir.

Nesse momento, Terê chama Amélia, pedindo para ver algumas das peças,
pois estava interessada em comprar:
- Claro, Terê! Que maravilha, já começamos bem aqui em Girassol – Amélia
olha para Vitor e sorri animada.
- Vai lá, meu amor!
- Mas então tu estás mesmo firme com a dona Amélia! – Solano sorri para Vitor
- É, amigo, essa mulher me pegou de jeito!
Solano ri e Beatriz aparece, chamando o filho para conversar.
- Claro, mãe, vou indo. Gente, preciso ir, depois eu te ligo, Manu. – Solano
beija Manuela e dá um tapa nos ombros de Vitor, se despedindo.
Vitor se vira para Manuela, preocupado, e a puxa para um canto da estalagem:
- Manu, vem cá. Preciso falar com você.
- Claro... o que foi, Vitor?
- É que tô preocupado com a sua mãe. Eu vou precisar viajar por esses dias,
atrás de fornecedores, e vou demorar.
- Hum...
- E como o Fred está em lua-de-mel com a Janaína, eu pensei em não deixar a
Amélia sozinha nenhum segundo. Você poderia...
- Claro, Vitor. Você não precisa nem pedir. Minha mãe anda tão apavorada
com o meu pai, e eu entendo isso. Não vou desgrudar os olhos dela nenhum
segundo.
- Nossa, fico bem mais aliviado, Manu. Eu sei que você entende... essa
situação toda que a gente tá passando. Nem sei como agradecer.
- Vitor, eu amo minha mãe acima de tudo. Eu quero a felicidade dela... De
vocês dois!
Vitor abraça Manu com carinho e agradece novamente. Amélia vê os dois e
sorri:
- E aí? Vocês estão bem?
- Sim mãe. Eu e o Vitor estávamos tendo uma conversinha de pai pra filha!
- Ah é? Já está nesse ponto? – Amélia diz sorridente.
Todos começam a rir e Solano aparece:
- Manu! Tu ainda está aqui? Que bom, podemos voltar juntos.
- Vou aceitar, meu amor, estou sem carro.
Manu e Solano se despedem de Vitor e Amélia, que vão para o quarto de Vitor:

- Entra. Preciso te falar uma coisa séria, Amélia.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? Você e a Manu estavam tão estranhos
aquela hora...
Vitor segura um dos braços de Amélia, suavemente:
- Amélia, me escuta. Eu pensei em viajar essa semana ainda. Como o Fred
está em lua-de-mel, eu pedi pra Manuela ficar o tempo todo com você na
fazenda. Por favor, toma cuidado com o Max...
Amélia toca o rosto de Vitor com carinho:
- Eu sei, querido. Mas fica tranquilo, viaja com calma e não pensa no pior... Vai
ficar tudo bem comigo.
Vitor se aproxima de Amélia ficando muito próximo de seu rosto, e diz baixinho:
- Eu não suportaria que acontecesse alguma coisa com você. Promete que vai
tomar cuidado?
Nesse instante, com os corpos muito próximos, Amélia não diz nada e só o
beija. Vitor retribui, a abraçando mais forte, até que os dois retomam o fôlego e
ele diz:
- Eu vou marcar a viagem já pra hoje à noite, pra andar mais rápido com tudo
isso... Vou morrer de saudade. – Vitor a pega novamente pela cintura e beija o
pescoço de Amélia, que tenta resistir, sorrindo:
- Vitor! Preciso ir. O Max...
- Ah não, Amélia. – Vitor se separa dela com um ar impaciente e se vira de
costas.
- Ei... Me escuta, olha pra mim, Vitor.
- Amélia...
- Olha, eu vou conversar com o Max, mas eu preciso de um tempo, de mais
uns dias. Eu prometo que vou resolver tudo isso assim que as coisas se
acalmarem. – Amélia tenta convencer Vitor, passa suas mãos pelos ombros
dele, e o vira para si, segurando seu rosto com carinho, o fazendo olhar em
seus olhos:
- Eu queria tanto você só pra mim, Amélia. Eu fico louco só em pensar que não
vou te ver esses dias. – Vitor pega as mãos de Amélia que estavam em seu
rosto e as beija, fechando os olhos. Ela sorri levemente:
- Sei que é difícil, mas só te peço paciência, por favor.
- Por mim, essa pressão toda que você anda sofrendo já teria acabado há
muito tempo. Mas eu vou respeitar sua decisão.
Amélia o olha com um sorriso contido no rosto, agradecendo Vitor com o olhar.
- Você é maravilhoso, sabia?
- Ah é? Você acha isso?
Vitor a pega pela cintura novamente, sorrindo para ela de forma maliciosa,
encarando seus lábios, pedindo mais um beijo:
- Vem aqui, então...
- Vitor...- Ele não a deixa terminar a frase, pegando em seus cabelos com
desejo e dando-lhe um beijo que soava como despedida.
Eufóricos, eles tentam conter o beijo e Amélia diz ao se separar dele, ainda
sem respiração:
- Eu vou indo. – Ela dá um selinho nele, que tenta puxá-la mais uma vez para
seus braços, mas ela o contém:
- Vitor... Me deixa ir. Eu te ligo antes de você viajar.
- Tudo bem – Vitor responde com um olhar insatisfeito – Te amo, te amo, te
amo.
Amélia sorri e acaricia o rosto de Vitor dizendo baixinho: - Eu também. – Ela
beija a ponta do dedo e rela nos lábios de Vitor, saindo do quarto com cuidado
enquanto ele a acompanha com os olhos.

Enquanto isso, Max está no seu escritório e manda Lurdinha chamar Cirso com
urgência. Ele liga para alguém mas não consegue completar a ligação:
- Mas que porcaria! Pra que tens celular se não atende?
- Seu Max, o Cirso já chegou. Pode mandar entrar?
- Anda logo, mande ele entrar aqui.
- Sim senhor.
- Bom tarde, seu Max, aconteceu alguma coisa?
- Cirso, preciso que tu chames aquela chinoca índia Karuê. Preciso falar com
ela.
- Sim, senhor, seu Max, vou procurar a Estela.
- Anda rápido! Diga que é caso de vida ou morte.
- Sim, senhor, tô indo.


                                         II
Cirso encontra Estela, que reluta em ir falar com Max, mas acaba aceitando.
Chegando na fazenda, Estela aguarda na sala com Lurdinha:
- Oi, Estela, quer algum suquinho, um cafezinho?
- Não, Lurdinha, brigada, vou só esperar o Max,
- Tá bom. Ele disse que só vai terminar de falar no telefone e já te chama tá?
- Obrigada.
Lurdinha sai e Estela fica esperando no sofá, quando escuta gritos de Max
vindos do escritório. Ela não resiste e vai até a porta para escutar melhor:
- Isso mesmo, quero o serviço completo como expliquei antes. É só o tempo de
fazer Amélia dormir e eu faço o sinal, entendeste? Hein? Mas eu já disse, tu
vais levar ela pra Goiânia naquele hotel abandonado perto da rodoviária. Claro
que não vai ser direto, não te pedi pra arrumar um esconderijo em Juruanã? O
aviãozinho que vai levar vocês a Goiânia não pode sair durante a noite, imbecil!
Compreendeste tudo agora?

Estela consegue escutar todo o plano de Max e fica apavorada, sem reação.
Quando Max desliga o telefone, ela sai correndo para o sofá:
- Mas aí está a indiazinha do Araguaia!
- O que você quer, Max? Diga logo.
- Pois então, venha até o escritório comigo.
Max pede para Estela que o ajude acabar mais uma vez com o casamento de
Solano e Manuela, que já está próximo. Estela, depois de ouvir o plano de Max
contra Amélia, fica ainda mais enojada e não aceita o pedido do fazendeiro,
decidindo que irá resolver o problema com Solano por si própria.
- Eu já disse que não, Max, nunca vou me juntar a você. Você me dá nojo!
- Mas o que é isso, chinoca atrevida? Tu não tens o direito de falar assim
comigo. E se tu não aceitas o trato, problema teu. Vais perder aquele gaúcho
caborteiro de uma vez por todas.
- Prefiro isso do que me juntar a você. E eu tenho certeza que consigo o que
quero, e sozinha. Adeus, Max.
- Volta aqui, guria!
Estela deixa Max falando sozinho e vai embora, pensando em tudo o que
ouviu.

Já é quase noite, Amélia chega em casa e não encontra ninguém, somente
Lurdinha:
- Lurdinha, onde estão todos?
- Ah, Dona Amélia... Todo mundo sumiu dessa casa hoje, sem me avisar. A
Manu tá na rua desde cedinho e o Seu Max chegou e saiu mas disse que
voltava logo.
- Hum. Estranho o Max sair assim...logo depois da lida. – Amélia fica pensativa
e preocupada - Lurdinha, eu não vou jantar, acho melhor você servir o Max
quando ele chegar.
- Ah, mas o Seu Max antes de ir disse que eu podia sair com a Aspásia pra
cidade que ele não ia jantar também não... É que sabe, Dona Amélia, a gente
quer ver o show do Leonardo que vai ter hoje. A senhora não vai, não?
- Não, Lurdinha, não estou com cabeça pra show nenhum, mesmo se
quisesse... Bom, se você ainda estiver aí quando a Manu chegar, peça pra ela
subir até o meu quarto, por favor.
- Tá bom, dona Amélia... quer que eu leve um chazinho pra senhora?
- Não, Lurdinha, obrigada.
Amélia sobe as escadas e vai para o seu quarto. Ela toma um banho e se veste
já para dormir, quando de repente a porta se abre...
- Max?
- Amélia. Tu não sabes o que aconteceu.
- O que foi?
- Uma coisa horrível, uma tragédia.
Nesse momento o telefone de Amélia toca e ela fica apreensiva ao pensar que
poderia ser Vitor.
- Tu não vais atender?
- Vou, eu vou...- Amélia nervosa pega o celular na mesa e logo vê que é
Manuela.
- Alô, filha?
Do outro lado da linha Manuela fala desesperada:
- Mãe, aconteceu um acidente...
- O que, filha? Pelo amor de Deus, você tá bem?
- Comigo tá tudo bem, mãe, não se preocupa. Eu estava com o Solano na
estância e recebemos a notícia de que a dona Beatriz, a mãe do Solano, sofreu
um acidente na estrada.
- Meu Deus, Manu, mas ela tá bem?
- Não sabemos ainda. O dr. Ricardo está examinando ela, eu vou ficar aqui
com o Solano, tudo bem? Mas se a senhora sentir que o clima aí em casa está
pesado com o seu Max, eu volto.
- Não filha, fica aí com o Solano, e diga que desejei melhoras à Beatriz. Tá tudo
bem por aqui. – Amélia olha para Max, apreensiva.
- Sério mesmo?
- Sim, filha. Fica sossegada. Qualquer coisa me liga.
- A senhora também, hein? Qualquer coisa mesmo me avisa.
- Tchau, filha, um beijo, se cuida.

Max a olha assustado e diz:
- O que foi, Amélia? O que Manuela disse pra ti?
- Uma tragédia... Beatriz sofreu um acidente, e ela está no posto médico com o
Solano.
- Mas era exatamente isso que ia lhe dizer. Estava eu na cidade com o
delegado e ouvi um burburinho sobre esse acidente. Pobrezinha de Beatriz,
não é? – Max diz, cinicamente.
Amélia o olha desconfiada mas não diz nada, apenas se vira de costas para
ele, arrumando a cama:
- Max, se você me der licença, vou dormir...
Nesse instante, Max a aborda por trás sem que ela perceba. Ele a agarra pela
cintura e com um lenço tapa sua boca e o nariz. Amélia se assusta mas não
tem tempo para se defender, desmaiando de imediato.
Max a deita na cama desacordada e sorri, se afastando. Nesse mesmo instante
ele telefona para alguém:
- Pronto. Minha parte está feita, agora é contigo. O moleque já saiu de
Girassol? Ótimo, ótimo. Assim que tu tiveres certeza que ele foi embora daqui,
venha já pra cá fazer a segunda parte do combinado.
Max desliga e tranca a porta do quarto enquanto olha a esposa desmaiada na
cama.

Alguns minutos se passam e Max avista um carro pela janela do quarto de
Amélia. Ele averigua se os empregados não estão mais trabalhando e logo
depois faz sinal para a pessoa que estava dentro do carro entre na casa.
Três homens aparecem no quarto e carregam Amélia até o carro. Max se
tranca no escritório e não acompanha os homens. Ele se certifica de que
acabou com todas as provas que poderiam incriminá-lo naquela noite.
III
Enquanto isso, na mata, Estela resolve ir atrás de Vitor. Ela chega na
estalagem mas Terê a avisa que o rapaz já havia viajado.
Estela percebe que Max planejou muito bem o sequestro de Amélia, esperando
todos estarem longe de Girassol. Ela pensa então que seria uma ótima
oportunidade para mostrar a Max que ele não tinha todo esse poder sobre ela e
nenhum outro do Araguaia, e sai pela estrada, disposta a encontrar Vitor pelo
caminho.

Estela anda horas à cavalo na escuridão, quase saindo da região e já
desistindo de encontrar Vitor, quando de repente avista dois carros...Um mais
afastado, com a luz do farol apagada, e outro logo a frente. Ela percebe que o
carro de Vitor está sendo seguido, espera alguns minutos e vê que o carro
preto desvia, já satisfeito por Vitor estar saindo de Araguaia.
A índia corre até o carro do rapaz, tendo cuidado para que o capanga de Max
não a veja:

- Vitor, Vitor! Pára esse carro. – Estela grita o mais alto que pode, entrando
quase na frente do carro.
- Meu Deus, o que é isso? Estela? – Ele freia o carro assustado, quase
parando em cima do cavalo, com dificuldade.
Estela desce do cavalo e vai até ele, sem fôlego:
- Vitor, você precisa me escutar, rápido.
- Calma, o que aconteceu? - Vitor tenta acalmá-la.
- É que eu ouvi uma coisa assustadora, e só você pode resolver isso.
- O que foi Estela?
- O Max. Ele mandou sequestrar a Amélia e...
- Como???? – Vitor a interrompe e muda sua expressão na hora, como se o
mundo tivesse acabado ali.
- Você tem que impedir o Max, a essa hora o capanga dele já deve estar a
caminho, a gente tem que impedir.
- Você tem certeza disso Estela? Me fala, pra onde aquele desgraçado vai
levar a Amélia? – Vitor diz desesperado, segurando o braço de Estela, que se
desprende dele.
- Eu sei o lugar, calma. Vão levá-la pra Goiânia, eu vou com você. Eles já
devem estar a caminho. Mas a gente tem que agir com cautela. Seguir eles,
sem sermos vistos.
- Não, eu tenho que ir pra fazenda.
- Não, Vitor. Ele pode matar você, e até mesmo a Amélia. Vamos com calma,
segue esse meu plano, vai dar certo.
- Vamos rápido, vamos!
Estela abandona o cavalo, que ensinado, volta sozinho pra mata. Ela entra no
carro de Vitor e os dois retornam rápido e se escondem na estrada, na espera
dos capangas, já que o caminho até Juruanã é um só.

Uma hora e meia se passa, e Estela avista o mesmo carro que viu seguindo
Vitor:
- São eles, vamos lá.
Vitor se sente apavorado, mas junta toda sua coragem e o amor por Amélia, e
segue com toda sua raiva o carro dos capangas.

Durante o caminho, Vitor fica intrigado e pergunta a Estela:
- Por que você procurou justo a mim para salvar a Amélia?
- Porque eu sei de vocês dois, Vitor. Sem querer, um dia na mata, eu vi vocês
dois juntos na cachoeira...
Vitor fica sem graça:
- Hum...
- Não fica preocupado, eu não disse pra ninguém. Mas confesso que adorei
saber disso. Aquele velho nojento merece uma lição.
- Mas eu não estou com ela...
- Eu sei, Vitor, não falo que você esteja se vingando. Eu vi aquele dia que
vocês dois estão muito apaixonados. E eu sei o que é perder um amor. –
Estela fica triste, pensando na rejeição de Solano.
- Obrigado, Estela, eu nunca imaginei que...
- Que eu pudesse ajudar alguém?
Vitor fica calado.
- Tudo bem, Vitor. Ninguém acredita em mim, mas eu vou provar agora que
além de querer o fim do Max, eu quero muito também a felicidade das pessoas.
Vitor sorri e toca o ombro de Estela, agradecendo a nova amiga.


Já é de manhã e Lurdinha serve o café para Max, que pergunta:
- Onde está a Amélia, não vai descer para o café?
- Ih, a dona Amélia saiu cedinho, seu Max, pegou o carro parece, porque eu
olhei lá fora e ele não tá lá no lugar dele não.
- Hum. Mas tão cedo assim? Amélia anda estranha.
- Ah, Seu Max, acho que a dona Amélia tá sofrendo dos nervos sabe...E ela
nem toma chazinho mais, isso piora.
- Fecha essa boca, chinoca! Sai daqui.
Lurdinha sai reclamando e Max olha para os lados indo direto para o escritório:
- Alô! E aí? Tu levaste ela até aquele lugar? Deu tudo certinho? Me diz.
O fazendeiro sorri e comemora sua vitória.

Nesse momento, Vitor e Estela estacionam o carro logo atrás dos capangas
que levam Amélia até um lugar afastado em Juruanã, em uma fazenda
abandonada.
Vitor se desespera ao ver um dos homens carregando o corpo desacordado de
Amélia e reage, querendo chegar mais perto:
- Eu preciso ir até lá...
- Não, Vitor. Vem aqui. – Estela o segura pelo braço, impedindo que ele faça
uma loucura. – Você não pode se arriscar assim, arriscar a vida da Amélia.
Calma!
Ele se contém, entendendo que o melhor era seguir o raciocínio de Estela.


                                   IV
Na fazenda, Manuela chega e pergunta pela mãe para Max:
- Onde está minha mãe?
- Não sei, filha. A Lurdinha disse que ela saiu de carro logo cedo. Eu até queria
acompanhá-la. Como tu sabes, faço isso todos os dias, mas ela conseguiu sair
sem que eu a visse...
- Estranho. E o celular dela também não atende.
- Ah, mas então, eu fui no quarto de tua mãe e o celular estava lá, na mesa.
- Mas onde será que a dona Amélia se meteu?
- Não sei, deve ter ido até a cidade, não é?
- Vou procurar. – Manuela lança um olhar desconfiado para o pai, e sai.
Max passa as mãos pela cabeça, respirando aliviado e sorridente.

Manuela vai até Girassol e não encontra a mãe em lugar algum. Ela começa a
ficar preocupada, vai até a estalagem à procura de Vitor, mas Terê avisa que
ele já não estava mais lá:
- Calma, Manu, não deve ter acontecido nada, a Amélia deve ter ido andar por
aí.
- Não sei, Terê. Estou com um pressentimento ruim.
Terê faz uma cara de preocupação e lembra da visão que teve ao tocar Vitor:
um lugar abandonado e Amélia chorando.
Mas decide não contar ainda para Manuela, já que não tem certeza de quando
isso irá acontecer. Manu decide então esperar mais um tempo para tomar
alguma providência.

Vitor e Estela esperam alguma movimentação na casa abandonada onde os
capangas levaram Amélia.
- Vitor, eu vou espiar mais de perto. Você fica aqui.
- Não, eu quero ir até lá, eu preciso ver a Amélia.
- Por favor, fica aqui. Eu sei o que estou fazendo. Eu volto logo...
- Espera, Estela... - Vitor não consegue impedi-la e fica esperando, olhando
para os lados.

Enquanto isso na casa, um dos homens separa um pão e uma caneca com
café e leite. Amélia começa a acordar e abre os olhos com dificuldade:
- Meu Deus, que dor de cabeça... – Quando vê uma mulher grande ao seu
lado, ela se assusta. – Quem é você?
- Fica quietinha aí, dona. Tu não vai querer saber quem eu sou, não.
- Mas... o que é isso? – Amélia confusa coloca as mãos na cabeça, sentindo
uma dor imensa, tenta se levantar mas é impedida pela mulher.
- Não, não. Fica calma aí, deitadinha. Nem tenta sair daqui.
- O que vocês querem de mim?
- Tu vai ficar sabendo na hora. Olha só, tu vai fazer tudo direitinho o que a
gente mandar, falou? Fica ligada que essa parada aqui não é brincadeira.
- Eu não entendo... é dinheiro o que vocês querem?
A mulher começa a gargalhar:
- Olha, se tu quiser me dar dinheiro, não vou achar ruim, não. Mas não é tão
simples assim. Agora fica quieta, e come esse pão aí logo.
Amélia fica quieta e rejeita a comida.
- Come aí, madame. A comida é simples mas é limpinha. Ninguém aqui quer
ver você doente, não. Aliás, o patrão disse que é pra deixar a senhora uma
belezinha, quem sabe tu consegue ficar até mais cheinha.
- Patrão? Quem é o patrão de vocês? Foi o Max, não foi? Me fala! Foi o Max...
- Amélia se descontrola e tenta levantar, mas a mulher a segura com força.
- Fica quieta, eu já disse! Senta aí... - Ela empurra Amélia com brutalidade, que
fraca, cai no colchão.
Os três homens se levantam e começam a olhar Amélia de cima abaixo. Ela
fica assustada e se encolhe no canto da parede, abraçando os joelhos e
chorando desesperada.
- Calma moça, a gente não morde, não, só se você quiser. – O homem começa
a rir.
- Fica quieto, cara, não começa a fazer graça com a madame que vai sobrar
pra todo mundo. Tu sabe o que acontece se o patrão descobre...
- Tá bom, não fiz nada. Só brinquei com a belezinha.
Amélia já tem certeza que foi sequestrada a mando de Max e entra em
desespero.

Estela consegue se aproximar das janelas e finalmente encontra Amélia
sentada no canto da parede com a cabeça baixa, junto dela uma mulher e mais
três homens mais afastados... De repente alguém toca Estela nos ombros:
- Ai, Vitor, que susto!
- Cadê ela, cadê?
- Calma, não faz barulho. Ela está ali...
Vitor a olha com um olhar desesperado, quase chorando, e fica sem fôlego e
cheio de raiva:
- Eu preciso... eu preciso tirar ela dali Estela. Eu vou entrar!
- Não! Você não vai conseguir. Não entende que a gente tem que agir com
frieza numa hora dessas, assim como eles? Vamos pensar, Vitor, por favor.
- Mas eu não aguento... eu não posso deixar a Amélia sozinha com eles...
- Vitor, eu entendo você, sei do seu amor por ela, mas é justamente isso que
não pode prevalecer agora.
Os dois falam baixinho e de repente percebem uma movimentação. Um dos
homens sai do local e eles correm para trás dos arbustos. O homem sai com o
carro. Eles o observam se afastar e voltam para a janela. Nesse momento, a
mulher tenta fazer Amélia comer a força, que joga o prato de comida longe. A
mulher fica furiosa e empurra Amélia na parede com força, a machucando.
Vitor não se contém ao ver a cena e ameaça entrar:
- Eu não vou ficar parado!
Estela o segura com força e entra na sua frente:
- Pára, Vitor! Calma! A gente vai conseguir acabar com isso, mas você não
pode se desesperar. A Amélia é forte, ela vai ficar bem.
Ele faz um olhar inconformado para Estela, com os olhos vermelhos de raiva e
tristeza, se sente impotente com aquela situação e não consegue aceitar:
- Estela, ela não pode ficar ali, não pode! A gente tem que entrar, agora.
- Vamos esperar mais um deles sair. Fica mais fácil pra gente... Eu cuido da
mulher e você do outro cara.
- Mas e se um deles não sair? A gente vai ficar aqui parado, esperando?
- Calma, uma hora um deles vai sair, tenho certeza.

Enquanto isso, é quase noite e Manuela se desespera. Vai até a delegacia com
Terê e registra o sumiço de Amélia com a sargento Mourão, já que o delegado
não está por lá.
- Calma, Manuela, eu vou encontrar o delegado e vamos resolver isso.
Nessa hora, Max chega agoniado:
- Meu Deus, minha filha, onde está tua mãe? Tenho certeza que foi um
sequestro. Levaram o carro dela, vão pedir dinheiro.
- Pai, espera, se acalma. A gente vai encontrar a mãe.
- Tomara, minha filha, tomara. Estou tão preocupado.
Terê olha para ele desconfiada e Max desvia o olhar.


                                       V
Em Juruanã, o delegado e Safira passam a noite juntos em um hotel. Ele já
sabia do sequestro planejado por Max o tempo todo e já havia combinado de
estar longe de Girassol nesse dia dizendo que tinha ido até Goiânia, ficando
assim, alheio a qualquer tipo de suspeita.

De volta à delegacia, sargento Mourão retorna da casa do delegado:
- Fui até lá e ele não voltou até agora de Goiânia. Ele foi a trabalho até lá, mas
eu pensava que já estava em casa... Vou ligar para ele.
Max faz uma cara de preocupação, mas já imaginava que isso iria acontecer.
Glorinha conversa alguns minutos com o delegado e desliga:
- Contei pro delegado tudo o que aconteceu, e ele disse que teve alguns
problemas em Goiânia mas vai tentar voltar o mais rápido possível e contatar
amigos para fazerem uma busca.
Solano aparece e se disponibiliza para ajudar nas buscas locais, e Manuela vai
com ele.
Eles decidem não avisar Fred ainda, para não preocupá-lo.

Enquanto isso, Estela e Vitor esperam o homem sair do local e espiam Amélia
na casa. Ela não consegue conter o cansaço e dorme no colchão.

Mais adiante, Estela encontra um lugar escondido que dá de frente para a sala
que Amélia e os capangas estão, ela e Vitor vão até o local para tentar escutar
a conversa lá dentro:
- Agora a gente vai ameaçar a dona pra conseguir enfiar ela no avião pra
Goiânia, como o doutor pediu. Ah que canseira, viu, se não fosse o dinheiro
desse velho, tinha recusado.
- Cala a boca, mulher. E faz tudo o que a gente planejou com o doutor Max.
Vitor escuta e sente o sangue subir. Ele tenta falar algo, mas pára quando
percebe que podem escutá-los.
Estela o segura e faz um sinal para ficar quieto. Vitor passa as mãos no rosto
desesperado, tentando ficar calmo.

Um outro homem finalmente sai da casa, Vitor e Estela se escondem embaixo
de uma mesa e o homem passa por eles sem perceber nada.
- É agora, Estela, vamos lá.
- Sim, mas espera. Vamos combinar direito. Eu entro lá primeiro e assusto a
mulher, você entra logo em seguida, e tenta já pegar a Amélia.
- Certo. Vamos!
Estela, com um arco e uma flecha nas mãos, entra de uma só vez no local em
direção a mulher, apontando a flecha para ela. O homem logo se levanta
tentando impedir a índia, mas Vitor chega logo em seguida e lhe dá uma
rasteira nas pernas, o derrubando de imediato.
Estela se distrai e a mulher tenta tirar a flecha de suas mãos. As duas brigam e
Estela consegue enfiar a ponta da flecha em seu peito:
- Acho que tamanho não é documento, não é, querida? – Estela sorri satisfeita,
deixando a mulher caída no chão.
Enquanto isso Vitor ainda briga com o homem, os dois trocam socos e Estela
vai até Amélia, que acorda assustada:
- Meu Deus, Estela? Vitor...
Amélia vê Vitor brigando com o capanga e tenta levantar mas Estela a impede:
- Calma, Amélia, o Vitor vai dar um jeito nele. Fica aqui comigo.
Vitor consegue enfim derrubar o bandido no chão, mas de repente o outro
homem retorna à casa e dá um golpe nas costas de Vitor, que cai no chão.
Amélia coloca as mãos na boca, se desespera e grita:
- Não!!!!!!!! Vitor!
Ele levanta com dificuldade, olha para o homem e dá um soco em seu rosto.
Estela levanta e pede para Amélia permanecer ali. Pega sua flecha do peito da
mulher, que ainda estava desacordada e aponta com foco para o bandido,
acertando em cheio seu ombro.
Ele cai no chão e Vitor lhe chuta, depois corre para Amélia.
- Meu amor! Você tá bem? Me fala... – Ele beija Amélia várias vezes, eufórico,
e a abraça com força.
- Eu tô bem. Calma. – Amélia passa as mãos no rosto de Vitor, olhando seus
machucados.
- Vamos embora, gente, rápido – Estela grita e os chama para fora.
Vitor pega Amélia no colo e a leva até o carro. Nisso, o homem que havia saído
primeiro da casa volta com sacolas na mão e percebe a movimentação, mas já
é tarde demais. Todos conseguem escapar.

Max aguarda cinicamente notícias de Amélia na delegacia, enquanto os outros
iniciam a busca. Ele, fingindo aflição diante da sargento Mourão, fica de um
lado para o outro.
- Onde está minha mulher, onde está?
- Calma, seu Max, tudo vai se resolver. – Glorinha tenta acalmá-lo.
- Tomara que sim, tomara. – Ele diz quase chorando.
Nisso, seu celular toca como planejado. Max imagina que é um dos capangas
ligando fingindo ser um seqüestro relâmpago, com exigência de dinheiro em
troca de Amélia.
- Alô. Sim, o quê? Como?
Ele sai da delegacia e Glorinha junto com Terê estranham, o encarando. Max
fala o mais baixo possível, irritado:
- Como assim, seu incompetente? Quem fez isso, onde é que Amélia está? O
quê? Uma índia e um homem alto de cabelos enrolados?
Max logo pensa em Estela e Vitor e entra em pânico.
- Trate de achar eles e prender todos, entendeu? TODOS!
Max volta para a delegacia e diz para Glorinha que era Lurdinha o chamando
na fazenda. Ele diz que vai voltar mas que era para ligar caso soubessem de
algo. Glorinha desconfiada, diz:
- Claro, pode ir tranquilo que eu aviso.
Quando Glorinha e Terê ficam sozinhas, a vidente diz:
- Sargento Mourão, eu tive uma visão quando toquei no Vitor. Não quis dizer
para não assustar a Manuela, mas eu vi um lugar abandonado e a Amélia
chorando.
Glorinha a olha com seriedade e resolve fazer algo:
- Terê, você me dá licença? Preciso fazer alguma coisa.
- Claro, toma cuidado.
- Deixa comigo!


                                        VI
Chegando na fazenda, Max liga para o delegado:
- Tu vais me encontrar aí em Juruanã, eu e tu vamos atrás desse povo.
- Não, Max, como assim? Não vou me envolver nisso.
- Mas é claro que tu vais se envolver, tu já estás envolvido. Nem pense em ir
contra mim.
O delegado desliga o celular irritado e Safira o questiona:
- O que o Max queria?
- Nada, nada. Que inferno.
- Me conta, meu amor. Deixa eu te ajudar.
O delegado, muito apaixonado por Safira e cansado de ser explorado e de ter
sempre que abaixar a cabeça para as loucuras de Max, conta tudo à Safira,
que fica perplexa e horrorizada:
- Você vai agora fazer alguma coisa pra salvar a dona Amélia, entendeu? Eu
sei que você não é como o Max, e você vai me provar isso, não vai?
O delegado pensa e diz:
- Você tá certa, Safira. Cansei dessa vida, cansei do Max. Eu tô tão...
apaixonado por você, você mudou tanto a minha vida.
- Se isso for verdade, eu quero que você ajude a Amélia e termine logo com a
sua esposa.
- Vou fazer isso, te prometo.
Os dois se beijam e o delegado decide agir como planejado: vai esperar Max
no local combinado. Porém, não vai seguir o script do fazendeiro até o final.

Max arruma algumas coisas e pega seu carro. Glorinha o havia seguido até a
fazenda e continua atrás dele assim que ele sai de carro.

Estela dirige o carro enquanto Vitor e Amélia ficam abraçados no banco de
trás. Ela, cansada, dorme no peito dele, que a olha com ternura e a conforta no
sono:
- Eu te amo tanto, tanto... – ele fala baixinho com Amélia dormindo e a beija
levemente nos lábios.
Estela sorri e fica emocionada com o amor dos dois:
- Acho tão lindo vocês dois. Formam um casal lindo.
Vitor sorri:
- Eu amo essa mulher, mais do que tudo.
- Eu sei. O que você fez foi heróico, foi coisa de homem apaixonado.
- É, mas se não fosse você, Estela... Muito obrigado.
- Imagina, você sabe que me dá prazer em acabar com aquele velho nojento. E
apesar das minhas diferenças com a Manuela, eu não quero o mal dela, muito
menos da Amélia.
- Eu sei, obrigado de novo, de verdade.
Vitor e Estela decidem parar e passar o resto da noite em um hotel. Vitor
acorda Amélia:
- Amor, acorda. – Ele a toca suavemente.
- Onde estamos? – Amélia acorda e se desprende dos braços de Vitor, que a
beija com carinho e diz:
- Em um hotel de Juruanã. Vamos passar a noite aqui, é melhor e mais seguro.
- Tudo bem – Amélia dá mais um beijo em Vitor e eles saem do carro indo até o
hotel.
Nesse mesmo hotel, por coincidência estão Safira e o delegado.

O delegado está no hall de entrada do hotel fazendo uma ligação para amigos
próximos, tentando rastrear o paradeiro de Amélia quando de repente ele vê os
três entrando e sai correndo até eles:

- Meu Deus, são vocês!
Os três se assustam, pensando que o delegado está como cúmplice de Max.
- O que você quer, deixa a gente paz. – Vitor diz, nervoso.
- Calma, rapaz. Eu sei de tudo, eu quero ajudar vocês.
- É mentira, você e o Max estão juntos. Você é tão culpado quanto ele.
- Eu sei, eu realmente fiquei sabendo desse plano todo pelo Max, mas eu estou
arrependido. Acreditem em mim, me deem um crédito.
- Como a gente pode acreditar no senhor depois disso? – Amélia fala com a
voz rouca e cansada.
- Dona Amélia, uma pessoa pode confirmar isso.
Nisso, Safira entra e confirma toda a história e conta do romance entre os dois.
Amélia fica espantada, mas como conhece Safira desde criança, acredita na
garota e consequentemente no delegado.
- Mas, Amélia, e se for mentira, e se ele mentiu pra você também, Safira? –
Vitor não se conforma.
- Eu também não aposto muito nisso. – Estela também fica desconfiada.
- Gente, é verdade, acreditem. O Geraldo só quer ajudar vocês – insiste Safira.
- O Max sempre fez pouco caso do meu trabalho, sempre me humilhou. E eu tô
cansado disso. Eu, mais do que ninguém, quero esse homem na cadeia. – o
delegado diz nervoso, com raiva nos olhos.
Vitor resolve dar um voto de confiança a ele:
- Tudo bem, mas o que você pretende fazer?
- Eu vou escoltar vocês. O Max está vindo pra cá. Eu faço meu trabalho,
apenas isso. Tenho como provar a culpa dele, tenho credibilidade.
- Certo.
Todos aceitam o plano de Geraldo e vão fazer a reserva de um quarto, para
descansarem enquanto Max não chega, mas é tarde demais:
- Ora, ora, quem eu encontro aqui!
- Max! – Amélia se apavora e Vitor a abraça com força.
- Tu conseguistes sair de lá, não é, dona Amélia... Quase que eu acabo com
tua vida, mas aqueles incompetentes...
- Cala a boca, Max, aqui você não canta mais de galo – interfere Geraldo.
- Ah, mas olha só pra isto. O delegado de meia-tigela querendo o quê? O que
tu queres? Virou a casaca, é? Ficou bonzinho?
- Cansei de você, Max Martinez. Você conseguiu tudo o que queria do meu pai,
mas comigo vai ser diferente. – O delegado fala olhando com raiva para o
fazendeiro.
- Ah é? Diferente como? – Max se aproxima de Amélia quando Vitor se
desprende dela e sem que percebam ele a pega pelo braço com força e aponta
uma arma para ela.


                                      VII
Todos do hotel ficam em alerta, a recepcionista chama a polícia - que fica longe
do local.
De repente, Glorinha chega atrasada, pois seu carro havia estragado no meio
da estrada. Ela vê a cena de Max em poder de Amélia e fica sem ação, com
medo que ele atire. Ela vai devagar até o delegado.

Max, enfurecido, diz:
- Se tu pensas que vai fazer algo... se tu fizeres algo eu coloco uma bala na
cabecinha dela – Ele diz olhando para a sargento.
Vitor se apavora e diz:
- Max, você não...
- Cala a boca, seu moleque. Tu nem penses em chegar perto que a mulher é
minha entendeu, minha! – Amélia tenta se desprender dos braços de Max,
chorando, e ele a prende ainda mais. – Fica quietinha.
- Seu canalha, desgraçado. – Vitor se descontrola e Estela o segura.
- Ah, até a índia tá aqui. Isso parece uma festa. Todos vão querer ver a
madame de Girassol morrer?
Geraldo se aproxima um pouco e tenta acalmar Max:
- Calma, Max, deixa a Amélia em paz, vamos resolver isso entre nós.
Nesse instante, Geraldo dá um chute na mão de Max, fazendo com que ele
derrube a arma no chão. Amélia se solta e Vitor corre até ela:
- Meu amor, você está bem? – Ele beija seu rosto várias vezes, preocupado.
Max consegue recuperar sua arma no chão e a mira para o delegado:
- Tu pensas o quê, seu delegadinho de bosta? Que tu vais conseguir ser o
herói? Tenta fazer alguma coisa que eu atiro em você e em todo mundo aqui.
Todos percebem o quanto Max está descontrolado, e logo a sargento tenta se
aproximar para evitar alguma tragédia, mas o fazendeiro percebe e sem saída
atira em Geraldo. Este, ao mesmo tempo dispara dois tiros contra Max e os
dois caem no chão. Safira corre até o delegado e o pega nos braços, chorando.

A polícia chega no local junto com uma ambulância e os enfermeiros examinam
Max e Geraldo, constatando que os tiros os atingiram em órgãos vitais e a
respiração já era inexistente:
- Sinto muito, mas eles não resistiram. Os tiros foram certeiros.
Safira se desespera e Glorinha tenta consolá-la. Amélia está incrédula e
assustada enquanto Vitor a abraça chocado:
- Meu Deus, Vitor, que tragédia. Como eu vou contar isso pros meus filhos?
- Calma, meu amor, eu vou te ajudar em tudo. Vai ficar tudo bem.
Amélia abraça Vitor e chora.
Todos seguem para o hospital de Juruanã e chegando lá, Estela e Glorinha
convencem Safira a voltar com elas para Girassol, pois Dora já tinha sido
avisada de tudo e estava indo para lá.

Amélia é examinada por conta dos ferimentos que sofreu no cativeiro,
precisando apenas de alguns curativos e calmante. Logo após ser liberada, ela
e Vitor esperam a liberação do corpo de Max na sala principal.
Depois de um tempo, a recepcionista chama Amélia e Vitor a ajuda a
preencher os dados necessários:
- Pronto, agora é só a gente esperar. E agora eu acho melhor avisar a Manuela
que estamos bem.
- Eu não vou conseguir fazer isso, Vitor. Nem sequer ouvir a voz dos meus
filhos eu consigo agora...
- Eu sei, eu ligo pra ela, pode deixar. Fica tranquila, tá? – Vitor a beija nos
lábios e ela o abraça em seguida:
- Obrigada, meu amor. Não sei o que seria de mim agora sem você do meu
lado.
Ele não diz nada e retribui o abraço junto com um beijo carinhoso em sua testa:
- Vou até lá, me espera aqui.
Vitor avisa Manu que Amélia está com ele no hospital de Juruanã:
- Calma, Manu, tá tudo bem com a sua mãe. Aconteceu uma outra coisa que
não dá pra contar por telefone.
- O que, Vitor? Não me deixa assim. Cadê a minha mãe? Quero falar com ela.
- Manu, não dá pra explicar agora... A Amélia está bem, confia em mim.
Estamos voltando.
- Tudo bem, quando vocês chegarem me liguem, estou na Estância com o
Solano.
- Pode deixar.

Amélia vê Vitor desligando o celular e indo até ela, e logo se levanta:
- E então?
- Ela ficou um pouco aflita mas avisei que estamos bem.
- Ai, meu Deus. Como eu vou fazer, como vou contar pra ela?
- Fica calma, vem aqui. – Vitor a puxa contra seu peito – Nós vamos contar
juntos.

Nesse instante Dora chega no hospital, já sabendo de tudo o que havia
acontecido, até mesmo sobre o caso de Geraldo com Safira. Ela dá os
pêsames à Amélia e assim que terminam tudo para a liberação dos corpos eles
seguem para Girassol.


                                       VIII
Amélia e Vitor chegam em Girassol e vão direto para a fazenda. Ao entrarem
no casarão, ela olha em volta e solta um profundo suspiro:
- Essa casa traz tanta lembrança ruim... Minha vontade é de não colocar os pés
aqui nunca mais.
Vitor a abraça. Ela se aninha nos braços dele, que beija os cabelos dela e diz:
- Fica comigo na estalagem por enquanto. E vamos construir uma casa na
cidade.
Amélia sorri:
- Uma casa só pra nós?
- Sim... o nosso cantinho – ele diz com doçura, enquanto a abraça com mais
força.
- Pode ser uma casa simples. O que importa é estarmos juntos.
- Simples? Nada disso. Eu prometi pro Fred sempre tratar você como uma
rainha. E uma rainha não merece menos do que um palácio.
- Mas você sabe muito bem que não é o tamanho ou o luxo que fazem de uma
casa um palácio...
- É verdade... – ele olha nos olhos dela – Mas quero que nossa casa seja como
nos seus sonhos.
- Ah... então é simples. Basta que você esteja dentro dela.
Vitor sorri, e beija os lábios dela com suavidade. Amélia o abraça e solta outro
suspiro:
- Preciso encontrar a Manu agora, dar a notícia a ela. E providenciar o velório
do Max. O corpo chega daqui a pouco.
Antes que Vitor consiga responder, o celular de Amélia toca.
- É a Manu! – Amélia atende – Oi, filha, onde você está?
- Mãe! A senhora tá bem? Eu estou na estância, ajudando o Solano a cuidar
da mãe dele.
- Já cheguei na fazenda. E como está a Beatriz?
- Bem, não teve nenhuma lesão grave, foi mais o susto mesmo, o Ricardo
conseguiu cuidar bem dela.
- Que bom – responde Amélia, apreensiva.
- Mas, mãe, a senhora está bem mesmo?
- Eu estou bem filha, mas o seu pai... – Amélia não consegue continuar.
- Que tem ele? – pergunta Manu, preocupada.
- É melhor você vir para a fazenda, que eu conto tudo.
- Tá bom, já tô indo.

Logo Manu chega e pergunta:
- Então, mãe, o que aconteceu com o pai? Ele fez alguma coisa contra você,
não fez? Por isso a senhora sumiu.
Amélia olha para Vitor, pedindo ajuda com o olhar. Ele responde:
- Manu, o Max está morto.
Manu se deixa sentar no sofá, atônita:
- Como foi isso?
Vitor conta tudo que aconteceu. Manu fica em silêncio por alguns instantes,
como que digerindo toda a história. Finalmente, desabafa:
- Eu não queria sentir o que estou sentindo agora. Meu pai fez tanto mal a mim,
e a vocês, que não sinto vontade de chorar, não consigo lamentar a morte
dele... Acho que eu já tinha perdido meu pai no dia em que descobri aquela
sujeira toda do exame de DNA. Depois daquilo, estava cada dia mais difícil
reconhecer o homem que eu amava tanto...
- Filha... – Amélia a abraça.
Vitor abraça as duas.
Depois, Manu questiona:
- E o Fred, já sabe?
- Ainda não. Não quis estragar a lua-de-mel dele – explica Amélia.
- É, eles disseram que iam voltar hoje, não tem necessidade de avisar antes.
Vou para a cidade esperar pelo Fred, assim que ele chegar dou a notícia, tá
bem? – avisa Manu.
- Pode ir tranquila que eu vou ficar aqui com a Amélia – afirma Vitor.
- Eu não tinha nenhuma dúvida disso – devolve Manu.

Vitor pede para Terê espalhar a notícia e logo toda a cidade está sabendo da
morte de Max. E todos têm a mesma reação: ir até o velório para se certificar
que ele está morto mesmo.
O velório acontece na sala da fazenda. Amélia está num canto da sala,
abraçada a Vitor, que seguido acaricia os cabelos dela. Manu e Solano, Fred e
Janaína estão junto a eles.
No outro canto da sala, Cotinha cochicha com Aspásia:
- Longe de mim ser fofoqueira, mas você viu que a viúva não desgruda do
bonitão do Vitor?
- Larga de ser maldosa, Cotinha... ele tá só consolando ela...
- Ah, tá... Por acaso você tá vendo ela triste? Larga você de ser ingênua,
Aspásia! Tá na cara que aqueles dois têm algum trelelê.
- Você acha que a dona Amélia tava botando chifre no seu Max, com o Vitor? –
pergunta Aspásia, com os olhos arregalados.
- Se ela botou, foi bem merecido. Aquele homem era o cão do avesso. E ela
não é boba... o Vitor é um pedação de mau caminho.
- Ô, se é...
Cotinha e Aspásia riem, tapando a boca com a mão.

Padre Emílio chega para encomendar o corpo.
- Não posso dizer que foi uma grande perda, seria muita hipocrisia. Esse
homem fez mal a muita gente, inclusive aos próprios filhos, espalhou muita dor
por esse Araguaia. Mesmo assim, que Deus o receba e consiga curar a alma
doente desse seu filho. Sim, só uma alma doente seria capaz de tanta
crueldade... – ele engole em seco, e continua – Meus filhos, Cristo nos ensinou
a cultivar a virtude do perdão. Mas eu não posso cobrar de ninguém que
perdoe o Max Martinez, porque acho que nem eu mesmo sou capaz disso.
Apenas peço que tentem tirar de seus corações o peso da raiva, e procurem
viver em paz, como ele nunca permitiu.
O padre faz o rito de encomendação e depois se aproxima de Amélia, Manu e
Fred.
- Me perdoem se minhas palavras foram um tanto pesadas...
- O senhor até foi benevolente – responde Amélia com um tom de amargura na
voz.
Os filhos concordam com a cabeça.

Depois do enterro, Amélia e Vitor, Manu e Solano, Fred e Janaína se reúnem
na sala. Fred pergunta:
- E agora mãe? O que você pretende fazer com a fazenda?
- Não sei, não quero nem pensar nisso. Essa fazenda é de vocês, façam o que
quiserem. Meu plano é mudar para cidade e me dedicar ao negócio das
bijuterias.
- Tá certa, mãe – concorda Manu – E Fred, que você acha de a gente agregar
as terras da fazenda à cidade de Girassol?
- Era isso que eu tava pensando, maninha – ele sorri.
- Então, gaúcho, vamos aumentar nossa cidade – Manu diz a Solano, que sorri.
- Mãe, você falou em mudar pra cidade... pra onde? – questiona Fred.
- No começo fico na estalagem mesmo, mas o Vitor e eu estamos planejando
construir uma casa.
- Pode deixar que eu faço o projeto. Sua casa vai ser a mais bonita de Girassol
– avisa o filho.
- Fred, eu não quero mais ser alguém superior à maioria. Quero ser uma
cidadã de Girassol como todos os outros, ter uma vida normal.
- Tudo bem... não vou exagerar. Mas minha mãe merece sempre o melhor.
- Concordo – ajuda Vitor.
Amélia sorri, olhando para Fred e depois para Vitor.
- Vou fazer minhas malas. Quero sair dessa casa o quanto antes – ela avisa,
levantando-se e indo em direção à escada.


                                        IX
Mais tarde, Amélia e Vitor chegam na estalagem carregando as malas dela.
- Oi, Terê... Tem um quarto pra mim? – ela pede.
Vitor olha para Amélia surpreso:
- Como assim? Você não vai ficar comigo?
- Vitor... eu acabei de enterrar meu marido. As pessoas vão comentar...
Imagina, vão dizer que nem deixei o defunto esfriar e já fui para a cama de
outro homem.
- Mas o defunto em questão é o Max... ninguém vai te criticar, tenho certeza.
Vão achar é até bem merecido pra ele – retruca Vitor, rindo.
- Bobo... – ela ri também.
Terê sugere:
- Tenho um quarto vago bem ao lado do quarto do Vitor. Você arruma suas
coisas lá, Amélia, e teoricamente você está hospedada nele. Que acham?
- Perfeito, Terê! – responde Vitor, dando um beijo no rosto da vidente.

Amélia e Vitor entram no quarto. Ela observa a mobília e a decoração:
- É... simpático – ela comenta sorrindo.
- Vem, vamos experimentar a cama – ele diz, puxando-a pela mão.
Vitor se joga no colchão, puxando Amélia junto. Eles ficam por alguns instantes
deitados lado a lado, de barriga pra cima.
- Bem confortável, não acha? – ele pergunta.
- Acho – ela responde, novamente sorrindo, e virando a cabeça na direção
dele.
Vitor também olha para Amélia. Chega mais perto, e junta seus lábios aos dela.
Trocam um beijo demorado, sem pressa. Descolam os lábios por um instante e
logo juntam de novo, desta vez com mais intensidade. Enquanto os beijos vão
ficando cada vez mais intensos, as mãos de um percorrem o corpo do outro.
Eles se entregam ao desejo, até que, exaustos, dormem abraçados.

Já é madrugada quando Amélia acorda. Ela se vira e fica contemplando Vitor,
que dorme profundamente. Amélia pensa no quão maravilhoso é tê-lo ali, ao
seu lado, e fica com os olhos marejados. Com cuidado, ela acaricia os cabelos
dele, depois passa delicadamente os dedos pelo rosto do rapaz. Quando toca
nos lábios, ele se mexe, e ela tira a mão. Vitor abre os olhos e vê Amélia
olhando para ele.
- Meu amor... você está acordada?
- Estava vendo você dormir... tão lindo...
- Dessa vez não vou precisar sair correndo de manhã, né? – ele ri, ainda com a
voz meio enrolada de sono.
- Nem pensar... – ela se aninha nos braços dele – Se eu pudesse ficaria assim
pra sempre...
- Eu também. Ah, é tão bom pensar que agora vamos poder dormir juntinhos
toda noite... vou querer acordar toda manhã com um beijo, viu? – ele brinca.
- Só um? – Amélia retruca, sorrindo.
- Tem razão. Um é pouco – Vitor responde, trazendo o rosto dela para mais
perto do seu. Ele olha para os lábios de Amélia e a beija apaixonadamente.
Depois de trocarem alguns beijos, ela se aninha nos braços dele novamente.
Enquanto acaricia os cabelos dela, Vitor comenta:
- Meu amor, eu tava pensando... com tudo que aconteceu, não pude viajar para
tratar das nossas bijuterias como a gente tinha combinado. E tenho que fazer
isso logo, não podemos perder mais tempo. Mas agora que ficou tudo resolvido
para nós, você podia vir comigo. Não quero mais ficar longe de você.
- Viajar juntos, nós dois?
- Isso.
- Aceito – ela sorri, com o olhar iluminado.
Vitor a beija com paixão, e eles se deixam ficar ali, trocando beijos e carinhos,
até adormecerem novamente.

Eles só acordam quase ao meio-dia, com o telefone de Amélia tocando. É Fred
os convidando para almoçar com ele e Jana.
Depois do almoço, Fred estende um papel sobre a mesa.
- Olhem, passei a manhã toda desenhando. Ainda não tá pronto, mas já dá pra
ter uma ideia do que estou pensando pra casa de vocês. Na verdade, pensei
num sobrado. Na parte de baixo, será a sede da Rurbano. A casa mesmo fica
mesmo no segundo andar.
- Filho, você pensou em tudo... – comenta Amélia, emocionada.
- O projeto tá maravilhoso. Você já tem ideia do local onde a gente pode
construir? – pergunta Vitor.
- Sim, tem uma área perto da minha operadora, no caminho para a cidade, mas
ainda perto do rio. Já fiz o projeto pensando nesse lugar, porque tenho certeza
que as bijuterias da dona Amélia vão fazer o maior sucesso, e ali tem espaço
para expandir a sede.
Amélia e Vitor se olham, sorrindo.
- Cara, quero começar essa obra o quanto antes – avisa Vitor – E já vou te
pedir um favor: daqui a alguns dias a Amélia e eu vamos viajar para buscar
distribuidores, revendedores, essas coisas... você fica de olho na obra
enquanto isso?
- Claro, acho que quando vocês voltarem a casa já vai estar pronta. Preciso
mostrar um detalhe, olhem aqui... o quarto de vocês vai ter vista para o rio
Araguaia.
- Adorei essa ideia – comenta Vitor, abraçando Amélia por trás para dizer no
ouvido dela – Vamos tomar banho de rio todo dia...
- Não faz assim, Vitor... – ela responde, encabulada – O Fred...
- O Fred sabe que a gente se ama e que eu só quero cobrir você de carinho... –
retruca Vitor, sem soltar a amada.
Amélia põe as mãos no rosto, mais sem graça ainda.
Fred começa a rir, e a mãe, olha pra ele surpresa:
- Fred, você tá rindo de mim?
- Desculpa, mãe, é que você fica tão bonitinha assim, encabulada... tá até
vermelha! Relaxa, dona Amélia... tô vendo que esse cara aí só que te fazer
cada dia mais feliz.
Amélia sorri, olhando para o filho com admiração:
- Você é tão compreensivo...
- Eu sou um homem apaixonado... sou tão apaixonado pela minha morena
quanto o Vitor é por você, tenho certeza. Por isso consigo entender e não ficar
com ciúme dessa mãe linda que eu tenho.
- Obrigada, filho – ela acarinha o rosto de Fred.
Depois Amélia dá um selinho em Vitor e se deixa ficar nos braços dele sem
preocupação, enquanto voltam a olhar o projeto da casa.


                                          X
No dia seguinte Vitor e Fred já confirmam o terreno para construir a casa e
encomendam o material. Assim que os alicerces começam a ser feitos, Vitor e
Amélia saem em viagem. Começam por Goiânia, depois vão a Belo Horizonte,
São Paulo e terminam no Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, depois de
fazerem os contatos profissionais, Vitor deixa Amélia descansando no hotel e
sai, não demorando muito para voltar.
- Querido, onde você estava? – ela pergunta com doçura.
- Preparando uma surpresa. Amanhã você vai saber.
- Só amanhã?
- Calma, meu amor... aguenta só mais umas horinhas. Vou tomar um banho e
me arrumar pra gente jantar. Depois vamos dormir cedo, porque amanhã
temos que sair assim que o sol nascer.
- Você quer me matar de curiosidade?
- Não... – Vitor ri, mas depois fica olhando para ela com um olhar sereno – A
única coisa que eu quero é fazer de você a mulher mais feliz do mundo.
- Você já faz – ela responde, se aproximando e passando os braços em torno
do pescoço dele, para terminarem em mais um beijo.

Vitor acorda Amélia bem cedo, e eles deixam o hotel. Vão até uma pista de
pouso, onde ele anuncia:
- Essa é a primeira parte da surpresa. Aluguei um avião pra gente fazer um
passeio.
- Não é perigoso? – pergunta Amélia, insegura – Você já sofreu um acidente...
- Não foi um acidente, você sabe... E acho que sou um bom piloto, porque foi a
única vez que eu caí – ele ri – Vamos lá, você não confia em mim?
- Claro que eu confio – ela garante, estendendo a mão para ele, que a conduz
para dentro do avião.
Vitor sobrevoa o Rio de Janeiro. Amélia olha a tudo encantada. Ele segue até
Paraty, e sobrevoa essa cidade também.
- Nossa, como é lindo aqui... – comenta Amélia com olhos marejados.
- Agora vamos ver de perto. Vou pousar, tá? – ele avisa, e desce o avião.
Eles passeiam de mãos dadas pelas ruas de pedra de Paraty, onde ainda são
preservadas as casas antigas. Amélia não pára de sorrir.
- Estou me sentindo na história da Moreninha... – ela comenta.
- É um livro, né? Acho que eu li um trecho na escola.
- Teve uma novela também, gravada aqui... Mas você nem era nascido ainda.
Meu Deus... você não era nem projeto de gente e eu já estava assistindo
novela, sonhando em ser a Moreninha!
- Será então que eu nasci só pra realizar seus sonhos? – Vitor ri.
- Convencido... – Amélia também ri – Mas bem que pode ser verdade, porque
você é um verdadeiro presente na minha vida.
Ele acaricia o rosto dela, e lhe beija delicadamente os lábios antes de
responder:
- Eu é que sou um homem de sorte... por ter uma mulher tão especial ao meu
lado.

À tarde, Vitor leva Amélia até o cais para a segunda parte da surpresa:
- Vamos passear de veleiro, e passar a noite no mar.
- Sério? Você não existe... – ela responde, emocionada.
Eles contemplam a beleza da orla de Paraty, abraçados, na parte de cima do
veleiro. Quando a noite cai, descem para a cabine. Vitor sai por um momento e
volta com uma garrafa de champagne e duas taças. Entrega as taças para
Amélia e abre a champagne. Depois pega uma das taças e olha nos olhos de
Amélia:
- Meu amor... escolhi esse momento, no meio do mar, nesse lugar maravilhoso,
para lhe fazer um pedido.
Ela não diz nada, apenas fica esperando, olhando para ele. Vitor continua,
pegando a mão dela:
- Amélia... você quer casar comigo?
As lágrimas brotam nos olhos dela antes que consiga responder:
- Quero... quero muito – ela afirma, aproximando os lábios dos dele.
Eles trocam um beijo apaixonado. Depois, brindam e tomam um gole de
champagne, sem tirar os olhos um do outro. Vitor pega a taça de Amélia e
coloca numa mesinha junto com a dele. E então enlaça a amada pela cintura,
olhando nos olhos dela:
- Eu te amo – ele diz.
- Eu te amo também – ela responde.
Não falam mais nada, só se entregam aos beijos, ao amor e ao desejo.

Amélia e Vitor chegam a Girassol e são recebidos por Jana e Fred. Amélia
abraça o filho, que avisa:
- A Manu já está chegando aí.
Ela olha atentamente para Fred e diz:
- Meu filho, você está diferente, com o sorriso mais iluminado do que nunca...
Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. Eu e a Jana temos uma notícia maravilhosa pra você - ele abraça
a esposa e põe a mão na barriga dela - E essa novidade está aqui. Você vai
ser avó, dona Amélia!
- Que alegria! - diz Amélia, sorrindo e abraçando o filho de novo.
Depois ela abraça a nora, enquanto Vitor dá um tapinha nas costas de Fred:
- Parabéns, cara. Nem consigo imaginar o que você está sentindo, deve ser
uma emoção indescritível...
- É, não tem como explicar. É muita felicidade!
Amélia, que ouviu as palavras de Vitor, olha para ele com um ar preocupado,
imaginando o que deve estar passando na cabeça dele. Mas não diz nada.
Vitor se aproxima e a enlaça com o braço, enquanto anuncia:
- Pois nós também temos uma notícia - ele olha para ela - Quer contar ou conto
eu?
- Pode falar - Amélia responde sorrindo.
- É o seguinte: eu pedi essa mulher maravilhosa em casamento e ela aceitou.
Antes mesmo da gente chegar aqui eu liguei para o padre Emílio e marquei a
data. Vai ser daqui a um mês, quero a cidade toda dentro daquela igreja.
- Como assim a cidade toda, Vitor? Você não me disse isso - Amélia reage,
surpresa.
- Nem é tanta gente assim, né? - ele ri.
- Desculpa interromper, mas posso cumprimentar os noivos? - diz Fred, se
aproximando e abraçando a mãe - Dona Amélia, espero que você seja muito
feliz.
- Obrigada, filho... - Amélia fica emocionada.
- E eu vou entrar com a senhora na igreja, faço questão.
- Obrigada... - repete Amélia, sorrindo e acarinhando o rosto do filho.
Depois Fred se dirige a Vitor:
- Eu já lhe falei isso uma vez, mas vou repetir: cuida bem dela.
- Não precisa nem pedir, Fred.
- Que bom - Fred sorri, mas logo muda para uma expressão enigmática - Achei
que você ia me pedir a mão da dona Amélia.
- Até pensei nisso... mas você permitindo ou não, eu caso com ela do mesmo
jeito - retruca Vitor, rindo.
Fred também ri.
Jana segura as mãos da sogra, dizendo:
- Fico muito feliz por você.
Amélia sorri e abraça a nora.
Depois, Jana continua:
- Eu sei que você é uma mulher chique, acostumada a vestir só coisa fina...
mas eu gostaria de poder fazer seu vestido de noiva. Queria lhe dar esse
presente.
- Jana... eu vou adorar - garante Amélia.
- Sério?
- Claro... Você é uma costureira tão talentosa, tenho certeza que meu vestido
vai ficar lindo. Amanhã mesmo vou trazer umas revistas para nós escolhermos
o modelo, depois podemos ir juntas a Juruanã comprar o tecido.
- Vai ser uma honra costurar pra você.
- Que é isso...
Fred interrompe:
- Vocês vão ficar nesse papo de mulherzinha e nos deixar de lado?
- É isso aí, Fred, apoiado - ajuda Vitor.
As duas riem, e Jana comenta:
- Esses nossos meninos são tão carentes, né, Amélia?
- Pois é... - Amélia fala mais baixo - Mas bem que a gente gosta, não é
mesmo?


                                         XI
Fred leva Amélia e Vitor para verem a casa deles, que já está pronta e
praticamente mobiliada.
- Eu trouxe alguns móveis lá da fazenda, a Jana me ajudou a comprar algumas
coisas. Só o básico, para vocês já poderem ficar aqui. Ah, a Mané Magrela
ajudou também nos detalhes finais – explica Fred.
- Nossa, filho... como vou agradecer a vocês? – comenta Amélia, emocionada.
- Não precisa... é um presente dos seus filhos, que lhe amam muito – ele
abraça a mãe com carinho – Agora vou deixar vocês curtirem a casa.
- Valeu, cara. Nem imaginava que ia chegar e encontrar a casa já assim – diz
Vitor, dando um tapinha nas costas de Fred.
- De nada – ele sorri, e vai embora.
Amélia e Vitor entram no quarto. Ele vai direto para a janela, e comenta:
- Olha lá o rio... nos esperando.
Mas Amélia, séria, senta sobre a cama e pede:
- Senta aqui um pouquinho, Vitor?
- Claro... que foi? - ele responde, preocupado, enquanto senta perto dela.
Ela suspira antes de falar.
- Eu percebi o quanto você ficou mexido com a notícia da gravidez da Janaína.
Dava pra ver no seu olhar o desejo de viver a emoção de ser pai.
- Amélia... não se preocupa com isso... - ele diz com ternura.
- Querido... eu não sou mais uma mocinha, não sei se vou conseguir te dar um
filho.
Vitor interrompe:
- Nunca lhe cobrei isso.
- Eu sei. Mas você sonha em ser pai, não sonha?
- Sim, sempre sonhei em ter filhos, formar uma família... Não posso mentir.
Mas... - ele pega as mãos dela e a olha nos olhos - o nosso amor é tão grande
que jamais me sentirei vazio, mesmo sem filhos.
- Vitor... eu te amo - ela responde com os olhos marejados - Acho que são
poucas as chances, mas eu desejo muito que nós sejamos abençoados com
um bebê.
Ele olha demoradamente para Amélia, depois abre um sorriso um tanto
malicioso:
- Então precisamos tentar bastante...
Ela sorri, e Vitor a toma nos braços, beijando-a intensamente. E com cuidado
vai deitando Amélia sobre a cama, e encaixando seu corpo sobre o dela.

Alguns dias depois, Amélia vai fazer a primeira prova do vestido. Enquanto
Jana faz as marcações com alfinetes, Amélia pergunta:
- E como vai meu netinho, ou netinha?
- Bem... está sendo uma gravidez tão tranquila, mais do que foi a do Bruno.
Não sinto nem enjôo, nada!
- Que bom. Eu enjoava bastante. Quando estava esperando o Fred nem tanto,
mas a Manu... nossa, enjoava com tudo.
Jana se afasta um pouco para Amélia se olhar no espelho e pergunta:
- Então, tá bom assim?
Amélia dá uma voltinha, tentando analisar todos os lados do vestido:
- Está ótimo!
Jana dá um suspiro, misto de alívio e satisfação. E avisa:
- Deixa eu lhe ajudar a tirar, para você não se espetar com os alfinetes.
Enquanto Jana a ajuda a tirar o vestido, Amélia sente um enjôo.
- É bem forte esse seu perfume... - ela comenta quase sem pensar.
- É o que eu sempre uso - estranha Jana, olhando para a sogra. Ela percebe
que Amélia está com expressão de náusea.
Amélia termina de se vestir e senta, baixando a cabeça.
- Amélia, que você está sentindo?
- Estou um pouco enjoada, só isso. Já vai passar - ela responde, respirando
fundo - Já está passando.
- Você tem sentido enjôos?
- Faz uns três dias... - ela confessa, meio encabulada.
Jana sorri:
- Será... que você tá grávida?
- Imagina, eu grávida nessa idade? É pouco provável...
- Mas a probabilidade existe, não existe?
- Sim - Amélia põe a mão sobre a barriga - Deus queira que eu consiga dar
essa alegria para o Vitor.
- Você vai, tenho certeza.
Amélia sorri para a nora, e a abraça. Mas logo se afasta levando a mão à boca,
tentando conter a náusea que volta, e rindo ao mesmo tempo.

Passam-se mais alguns dias. Amélia e Vitor vão até a estalagem falar com
Terê.
- Que bom ver vocês! – diz a vidente, assim que eles entram.
- Viemos fazer um convite – avisa Amélia – Queremos que você seja nossa
madrinha de casamento.
- Minha madrinha, tá? – retruca Vitor, abraçando Terê com carinho – Amélia,
você tem a Manu, o Fred... eu não tenho ninguém. E você, Terê, é quase como
uma mãe pra mim.
- Ah, assim eu fico emocionada... – responde a vidente – Claro que eu aceito,
meu filho.
- Que bom! O Neca está por aí? Quero convidar ele e a Glorinha também –
comunica Vitor.
- Deve estar lá em cima, no quarto. Sobe lá.
- Vai, que eu espero aqui – diz Amélia.
Vitor sobe as escadas, e Terê abre os abraços:
- Dá cá um abraço, minha amiga...
Ao abraçar Amélia, ela sente o que está acontecendo.
 - Amélia... você está... – Terê não termina a frase, apenas olha para o ventre
da amiga.
Amélia põe as mãos na barriga, e diz baixinho:
- Acho que sim... Ainda não fiz o exame, to com medo de ser um alarme falso...
na minha idade é difícil acontecer. Não conta pra ninguém antes de eu ter
certeza?
- Pois eu já tenho certeza – a vidente responde, sorrindo – Vai logo fazer esse
exame, Amélia... O Vitor vai ficar tão feliz quando souber...
- Vai mesmo – Amélia também sorri, imaginando a reação de Vitor. Depois
pega nas mãos de Terê e pergunta – O que você viu? Vai dar tudo certo, correr
tudo bem? Uma gravidez nessa idade tem muitos riscos...
- Fica tranquila, minha amiga. Esse bebê está sendo gerado com tanto amor
que nada de mal pode acontecer. Fica tranquila – garante a vidente.

Amélia procura o médico e faz um exame de sangue. Logo recebe a
confirmação: está mesmo grávida. Mas leva alguns dias para conseguir dar a
notícia a Vitor, porque o medo de não conseguir segurar a gravidez ainda
ronda a cabeça dela.
Na noite antes do casamento, Amélia e Vitor estão deitados na cama, ela com
a cabeça sobre o peito dele, ele acarinhando os cabelos dela.
- Você está nervoso pra amanhã? - Amélia pergunta.
- Com um pouquinho de frio na barriga... mas tô muito feliz - ele sorri.
- Eu também. Pra essa felicidade ser completa só falta um filho, né?
- Amélia, eu já disse...
Ela interrompe:
- Não falta mais.
- O quê? - ele pergunta, surpreso, olhando para ela.
Amélia senta na cama, pega a mão de Vitor e coloca sobre a barriga dela.
- Amélia... - ele murmura, os olhos ficando marejados.
Ela balança a cabeça afirmativamente:
- É... vou poder te dar o melhor presente que você já recebeu... Tá aqui dentro.
Vitor abraça Amélia com força e lhe dá vários beijos nos lábios, enquanto
lágrimas começam a correr por seu rosto. E finalmente enche a barriga dela de
beijos.


                                         XII
Vitor vê Amélia entrar na igreja, sendo conduzida por Fred, e sente os olhos
encherem d’água. Quando Fred lhe entrega Amélia, as lágrimas já estão
escorrendo pelo rosto de Vitor. Ela também está visivelmente emocionada, mas
tenta se conter, e passa os dedos delicadamente no rosto dele, enxugando as
lágrimas do noivo. Vitor sorri, e eles se ajoelham diante do padre, que abençoa
a união.
Depois da cerimônia todos vão para a casa de shows, onde foi preparada a
festa. Quando Amélia e Vitor chegam no meio do salão, uma chuva de pétalas
de rosas cai sobre eles.
- Vitor... que lindo! – exclama Amélia, com os olhos marejados.
- Essa ideia não foi minha... mais uma surpresa do seu filho. Mas confesso que
eu já sabia, ele perguntou o que eu achava, se você ia gostar...
- Como eu não gostaria?
- Ah, é? – ele se dirige a Fred – Tem como soltar mais um pouco?
Fred confirma com a cabeça, logo as pétalas voltar a cair. Então Vitor toma
Amélia nos braços e a beija apaixonadamente, até a chuva de rosas terminar.
Logo depois, enquanto estão todos aproveitando a festa, Vitor chama Manu e
Fred para um canto.
- Acho que vocês têm que ser os primeiros a saber. A família vai aumentar –
Vitor diz, enquanto põe a mão sobre a barriga de Amélia.
Manu troca um olhar cúmplice com a mãe, e Fred pergunta, surpreso:
- Como? Você tá esperando um bebê, mãe?
- Isso mesmo – ela confirma
- Que bacana... parabéns – ele deseja, dando um beijo na mãe.
Só então Manu abraça a mãe com carinho. E Vitor se dá conta de que ela não
ficou surpresa.
- Peraí, Manu... você já sabia?
- A Manu me acompanhou no exame de sangue – esclarece Amélia.
- É, eu soube já faz uns dias – a filha confirma.
- E por que você não me contou antes, Amélia? – reclama Vitor.
- Eu estava com medo, queria ter absoluta certeza antes de te contar. Ainda tô
com medo, porque a gravidez tá no comecinho...
- Meu amor... eu tô com você pro que der e vier, não se preocupa. Mas não
vamos pensar no pior. Vamos curtir essa alegria... – ele diz com ternura, e
depois começa a rir - Gente, eu vou ser pai!

Os meses passam, e Fred e Jana descobrem que esperam uma menina.
Algumas semanas depois, é Amélia quem vai a Juruanã fazer a
ultrassonografia. Quando ela e Vitor chegam em Girassol, vão direto ao
armazém de Jana, onde ela e Fred aguardam notícias.
- Também estou esperando uma menina! – conta Amélia, assim que vê a nora.
- Que bom! Nossas menininhas vão crescer juntas, serão muito amigas... -
comenta Jana.
Amélia sorri, e Fred comenta com Vitor:
- E nós vamos ter problemas no futuro, meu amigo... Melhor a gente ir
preparando munição desde agora, para espantar os gaviões.
Vitor dá uma risada antes de responder:
- Pra quê sofrer por antecipação, cara? Nem quero pensar nisso tão cedo... -
ele acarinha a barriga de Amélia - Agora só quero curtir essa barriga, depois
embalar minha filha, trocar fralda... só não vou amamentar porque não dá, né?
Amélia olha para ele com ar de encantamento. Depois de alguns instantes,
pede:
- Querido, me alcança as sacolas? – enquanto Vitor a atende, ela se dirige a
Jana – Comprei umas roupinhas lindas para nossas meninas, um vestidinho
mais lindo que o outro.
- Vamos olhar lá em casa, é melhor – sugere Jana, começando a subir a
escada.
Fred vai atrás:
- Cuidado com essa escada, sobe devagar.
Amélia também vai subindo, com Vitor ao lado:
- Calma, meu amor, devagar.
Quando entram na sala, Vitor diz a Amélia:
- É melhor você sentar, já fez muito esforço subindo essa escada.
- Você também, morena, descansa um pouco – recomenda Fred.
Amélia e Jana sentam no sofá e trocam um olhar cúmplice, caindo na risada
em seguida.
- Vitor, impressão minha ou elas estão rindo da nossa cara? – questiona Fred.
- É, também tô achando isso. A gente fica preocupado e elas acham graça? –
concorda o outro.
Amélia pára de rir e explica com doçura:
- Não precisa tanta preocupação... Não estamos doentes, só grávidas. E já
passamos por tudo isso antes, sabemos os cuidados que devemos tomar, não
é, Jana?
- Isso mesmo.
- É, só que vocês não são mais mocinhas, precisam de mais cuidados agora –
retruca Fred, num impulso.
Vitor olha para ele com cara de quem pensa “você não precisava ter falado
isso”.
Fred se dá conta do que disse e fica sem graça:
- Tá, foi mal... me desculpem... sou um bobo mesmo. Somos dois, né, Vitor? –
ele termina rindo.
- É, sou um bobo, sim – Vitor responde, se aproximando de Amélia – Um bobo
de amor – ele acrescenta, e beija a barriga dela com carinho.

Mais tarde, Manu visita a mãe e fica sabendo que vai ganhar uma irmãzinha.
- Adorei a notícia! Vocês já escolheram o nome?
- Ainda não... sabe que nem tive muito tempo pra pensar nisso? – comenta
Amélia.
- Eu já dei algumas ideias, mas a Amélia não gostou de nenhuma – retruca
Vitor.
Manu fica pensativa, depois pergunta:
- Posso dar uma sugestão?
- Claro! – Amélia e Vitor dizem ao mesmo tempo.
- Que vocês acham de Maria Vitória? Maria, que é o primeiro nome da dona
Amélia, e Vitória, feminino de Vitor.
- Perfeito! – exclama Vitor – Não é perfeito, amor?
- É, sim – Amélia sorri – Maria Vitória... gostei – ela põe a mão na barriga – E
acho que ela também gostou, tá se mexendo aqui.
Vitor coloca a mão na barriga de Amélia, sentindo a filha se mexer. Depois
aproxima os lábios da barriga da esposa e diz:
- Maria Vitória... o papai tá aqui, te esperando. Amo você, viu?


                                      XIII
Completa-se o tempo de Janaína, e ela entra em trabalho de parto. Fred leva a
esposa para o hospital de Juruanã, e Amélia fica em Girassol, aflita.
- Calma, meu amor, daqui a pouco o Fred liga.
- Eu sei, mas queria estar lá com meu filho.
- Entendo, amor, mas o médico disse pra você ficar de repouso, senão nossa
menina nasce antes da hora.
Amélia suspira:
- Ainda bem que falta pouco. Essa barriga está pesada, viu?
- Você está tão linda...
- Assim, com esse barrigão? Só você mesmo...
Vitor fica alternando carinhos na barriga de Amélia com beijos nos lábios dela.

No dia seguinte, Amélia insiste para ir até o hospital conhecer a neta.
- Tá bom, a gente vai – concorda Vitor – Mas devagar, você não pode fazer
nenhum esforço.
Amélia fica muito emocionada ao ver a netinha:
- Como é linda...
De repente, ela põe a mão na parte mais baixa da barriga e solta um gemido:
- Ai...
- Que foi, amor? – pergunta Vitor, preocupado.
- Senti uma dor aqui... Ai... de novo... Acho que nossa menina não quer mais
esperar...
- Meu Deus – exclama Vitor, saindo depressa ao corredor – Um médico, por
favor, um médico!
Uma enfermeira atende e pede para aguardar. Logo volta com uma cadeira de
rodas, e Amélia é levada para a sala de parto. Vitor vai o tempo todo
segurando a mão dela.
O obstetra examina Amélia e avisa:
- Não tem mais como segurar. A cabecinha da criança já está aparecendo. Ela
está de quantas semanas?
- Trinta e quatro – responde Vitor, quase gaguejando de tão nervoso.
- Fica tranquilo, papai. Sua filha se apressou um pouquinho mas vai ficar bem –
garante o médico, se posicionando para segurar a criança – Vamos lá, Amélia,
um pouco mais de força!
Logo o choro de Maria Vitória ecoa pela sala de parto. E as lágrimas escorrem
pelo rosto de Vitor, que murmura:
- Nossa filha nasceu, meu amor, nossa filha nasceu...
Depois dos primeiros cuidados, a menina é colocada nos braços de Amélia por
alguns instantes:
- Filha... – é só o que ela consegue murmurar, com a voz embargada.
Vitor toca no rosto da menina, pega na mãozinha dela, sem parar de chorar,
sem conseguir falar de tão emocionado. Fica quase como num transe, do qual
só desperta quando uma enfermeira volta para pegar a criança:
- Desculpa, mas preciso levá-la para alguns exames. Mas apesar de prematura
ela parece bem forte, não se preocupem.
Vitor e Amélia olham a enfermeira se afastar com a menina. Só então Vitor
beija suavemente os lábios de Amélia e diz:
- Ela é linda, né?
- Muito...
- E você, está bem?
- Cansada... mas tão feliz...
- Meu amor... – ele acaricia os cabelos dela com uma mão, enquanto enxuga
as próprias lágrimas com a outra.

Devido ao parto prematuro, Maria Vitória passa a primeira noite de sua vida em
observação no berçário. Mas Amélia e Vitor já haviam sido avisados que a
menina nascera com bom peso e boas condições de saúde, nem iria precisar
da incubadora.
À tarde, mal completando 24 horas de vida, a menina já é liberada para ficar no
quarto com a mãe.
Amélia e Vitor estão contemplando o sono da filha quando Fred e Jana entram
no quarto.
- Olha quem veio se despedir da vovó... Já recebemos alta, estamos indo pra
casa – avisa Jana, que carrega a filha nos braços.
Amélia sorri e pede:
- Posso pegar ela um pouquinho?
- Claro! – responde Jana, entregando a nenê nos braços de Amélia, que
aproxima a netinha de Maria Vitória e olha para as duas juntas. E então abre
um sorriso maior ainda.
- É tanta felicidade que eu nem sei o que dizer... – comenta Amélia.

Em poucos dias Amélia e Vitor estão de volta a Girassol com Maria Vitória, e
marcam logo o batizado da menina. Manu e Fred são os padrinhos. Antes dos
ritos, padre Emílio diz:
- É com muita alegria que vou batizar essa criança. Ela é o fruto, é o símbolo
de um amor que desafiou convenções e preconceitos, que precisou superar
muitos obstáculos, mas nunca perdeu a força. Um amor verdadeiro... um amor
que transformou profundamente essas duas vidas, fazendo que encontrassem
a direção da felicidade. É por terem acreditado nesse amor que Amélia e Vitor
estão aqui hoje, trazendo nos braços a maior benção que poderiam receber, e
plenamente felizes. Meus filhos, mirem-se neste exemplo, acreditem no amor.
Os olhos de Amélia e Vitor vão ficando marejados conforme o padre fala. Manu
e Fred também se emocionam.
- Eu te batizo, Maria Vitória Vilar, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
– concluiu padre Emílio, derramando água na cabeça na menina.
O batizado de Maria Vitória é comemorado com um almoço na casa de Amélia
e Vitor. Depois que todos vão embora, Amélia coloca a menina no berço, e fica
contemplando o sono da filha. Vitor se aproxima, abraça a esposa, e fica
olhando para a filha também. Ficam assim por alguns instantes, até que ele
solta um suspiro e comenta:
- É tanta felicidade que até dá medo...
- Medo de quê?
- De isso tudo acabar, de perder você... de perder vocês duas.
- Vitor... não pensa nisso – ela olha nos olhos dele - Nosso amor é mais forte
que tudo, lembra?
- É verdade... Nada pode nos tirar um do outro.
- Isso mesmo. Te amo tanto que acho que vou continuar te amando mesmo
quando não estiver mais nesse corpo.
- Com certeza. Nós somos almas gêmeas, metades que se completam...
Amélia sorri, emocionada, e apenas murmura, com os olhos fixos nos olhos
dele:
- Meu amor...
- Meu amor... – retribui Vitor.
Eles aproximam os lábios e trocam um beijo delicado mas muito apaixonado.
Depois olham para a filha novamente, e murmuram juntos:
- Nosso amor...
E continuam abraçados, contemplando Maria Vitória, que dorme o sono
tranquilo de quem é muito amada.
                                         FIM

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O amor sempre vence

  • 1. O Amor sempre vence I Amélia e Vitor conversam com empolgação no armazém de Janaína sobre os primeiros passos que irão dar com a linha “Rurbano”. Vitor diz animado: - Então, meu amor, agora que nós já temos algumas peças prontas, feitas com o nosso capital, a gente poderia começar a revender e conseguir um montante, além de experimentar a reação do público-alvo. - Sim! E é importante agora também nós buscarmos os distribuidores e os fornecedores de matéria-prima pra incrementar a confecção. - Eu pensei em já dar andamento nisso tudo, ainda essa semana. Eu vou até os principais centros urbanos e a gente dá o pontapé inicial. O que acha? - Fechado! – Amélia sorri e toca discretamente a mão de Vitor que estava sobre a mesa. Ele retribui e não tão discretamente entrelaça seus dedos nos dela. - Vitor, não faz isso aqui – Amélia sorri sem graça e retira a mão. - Tudo bem, então vamos continuar lá no meu quarto... A gente tem agora a desculpa de estar discutindo sobre negócios. - Sei...- Amélia sorri junto com Vitor. - Tô falando sério, é tudo profissional. – Vitor beija a mão de Amélia e a levanta da cadeira. – Vamos? Amélia e Vitor se despedem de Bruno, pois Fred e Janaína viajaram em lua-de- mel e deixaram o armazém aos cuidados dele e de Nancy. Logo, eles seguem até a estalagem. Chegando lá, os dois encontram Manuela e Solano. - Olá, dona Amélia, oi, Vitor – Solano cumprimenta os dois e beija a mão de Amélia com respeito. - Oi, Solano, como vai? Filha... - Oi, mãe. Oi, Vitor. E aí? Que tantas sacolas são essas, dona Amélia? - Pois é, são algumas peças que compramos pras bijuterias. São lindas, depois te mostro. - Hum, e o Vitor ajudou a senhora? - Claro! O Vitor tem um ótimo gosto pra isso. Fiquei surpreendida, sabia? – Amélia sorri para Vitor, que reage com um olhar convencido: - Pois é, convivendo tanto com uma mulher dessas, a gente aprende a ter bom gosto. - Ah, meu Deus, que graça! – Manu brinca com os dois e todos começam a rir. Nesse momento, Terê chama Amélia, pedindo para ver algumas das peças, pois estava interessada em comprar: - Claro, Terê! Que maravilha, já começamos bem aqui em Girassol – Amélia olha para Vitor e sorri animada. - Vai lá, meu amor! - Mas então tu estás mesmo firme com a dona Amélia! – Solano sorri para Vitor - É, amigo, essa mulher me pegou de jeito! Solano ri e Beatriz aparece, chamando o filho para conversar. - Claro, mãe, vou indo. Gente, preciso ir, depois eu te ligo, Manu. – Solano beija Manuela e dá um tapa nos ombros de Vitor, se despedindo. Vitor se vira para Manuela, preocupado, e a puxa para um canto da estalagem: - Manu, vem cá. Preciso falar com você. - Claro... o que foi, Vitor?
  • 2. - É que tô preocupado com a sua mãe. Eu vou precisar viajar por esses dias, atrás de fornecedores, e vou demorar. - Hum... - E como o Fred está em lua-de-mel com a Janaína, eu pensei em não deixar a Amélia sozinha nenhum segundo. Você poderia... - Claro, Vitor. Você não precisa nem pedir. Minha mãe anda tão apavorada com o meu pai, e eu entendo isso. Não vou desgrudar os olhos dela nenhum segundo. - Nossa, fico bem mais aliviado, Manu. Eu sei que você entende... essa situação toda que a gente tá passando. Nem sei como agradecer. - Vitor, eu amo minha mãe acima de tudo. Eu quero a felicidade dela... De vocês dois! Vitor abraça Manu com carinho e agradece novamente. Amélia vê os dois e sorri: - E aí? Vocês estão bem? - Sim mãe. Eu e o Vitor estávamos tendo uma conversinha de pai pra filha! - Ah é? Já está nesse ponto? – Amélia diz sorridente. Todos começam a rir e Solano aparece: - Manu! Tu ainda está aqui? Que bom, podemos voltar juntos. - Vou aceitar, meu amor, estou sem carro. Manu e Solano se despedem de Vitor e Amélia, que vão para o quarto de Vitor: - Entra. Preciso te falar uma coisa séria, Amélia. - O que foi? Aconteceu alguma coisa? Você e a Manu estavam tão estranhos aquela hora... Vitor segura um dos braços de Amélia, suavemente: - Amélia, me escuta. Eu pensei em viajar essa semana ainda. Como o Fred está em lua-de-mel, eu pedi pra Manuela ficar o tempo todo com você na fazenda. Por favor, toma cuidado com o Max... Amélia toca o rosto de Vitor com carinho: - Eu sei, querido. Mas fica tranquilo, viaja com calma e não pensa no pior... Vai ficar tudo bem comigo. Vitor se aproxima de Amélia ficando muito próximo de seu rosto, e diz baixinho: - Eu não suportaria que acontecesse alguma coisa com você. Promete que vai tomar cuidado? Nesse instante, com os corpos muito próximos, Amélia não diz nada e só o beija. Vitor retribui, a abraçando mais forte, até que os dois retomam o fôlego e ele diz: - Eu vou marcar a viagem já pra hoje à noite, pra andar mais rápido com tudo isso... Vou morrer de saudade. – Vitor a pega novamente pela cintura e beija o pescoço de Amélia, que tenta resistir, sorrindo: - Vitor! Preciso ir. O Max... - Ah não, Amélia. – Vitor se separa dela com um ar impaciente e se vira de costas. - Ei... Me escuta, olha pra mim, Vitor. - Amélia... - Olha, eu vou conversar com o Max, mas eu preciso de um tempo, de mais uns dias. Eu prometo que vou resolver tudo isso assim que as coisas se acalmarem. – Amélia tenta convencer Vitor, passa suas mãos pelos ombros
  • 3. dele, e o vira para si, segurando seu rosto com carinho, o fazendo olhar em seus olhos: - Eu queria tanto você só pra mim, Amélia. Eu fico louco só em pensar que não vou te ver esses dias. – Vitor pega as mãos de Amélia que estavam em seu rosto e as beija, fechando os olhos. Ela sorri levemente: - Sei que é difícil, mas só te peço paciência, por favor. - Por mim, essa pressão toda que você anda sofrendo já teria acabado há muito tempo. Mas eu vou respeitar sua decisão. Amélia o olha com um sorriso contido no rosto, agradecendo Vitor com o olhar. - Você é maravilhoso, sabia? - Ah é? Você acha isso? Vitor a pega pela cintura novamente, sorrindo para ela de forma maliciosa, encarando seus lábios, pedindo mais um beijo: - Vem aqui, então... - Vitor...- Ele não a deixa terminar a frase, pegando em seus cabelos com desejo e dando-lhe um beijo que soava como despedida. Eufóricos, eles tentam conter o beijo e Amélia diz ao se separar dele, ainda sem respiração: - Eu vou indo. – Ela dá um selinho nele, que tenta puxá-la mais uma vez para seus braços, mas ela o contém: - Vitor... Me deixa ir. Eu te ligo antes de você viajar. - Tudo bem – Vitor responde com um olhar insatisfeito – Te amo, te amo, te amo. Amélia sorri e acaricia o rosto de Vitor dizendo baixinho: - Eu também. – Ela beija a ponta do dedo e rela nos lábios de Vitor, saindo do quarto com cuidado enquanto ele a acompanha com os olhos. Enquanto isso, Max está no seu escritório e manda Lurdinha chamar Cirso com urgência. Ele liga para alguém mas não consegue completar a ligação: - Mas que porcaria! Pra que tens celular se não atende? - Seu Max, o Cirso já chegou. Pode mandar entrar? - Anda logo, mande ele entrar aqui. - Sim senhor. - Bom tarde, seu Max, aconteceu alguma coisa? - Cirso, preciso que tu chames aquela chinoca índia Karuê. Preciso falar com ela. - Sim, senhor, seu Max, vou procurar a Estela. - Anda rápido! Diga que é caso de vida ou morte. - Sim, senhor, tô indo. II Cirso encontra Estela, que reluta em ir falar com Max, mas acaba aceitando. Chegando na fazenda, Estela aguarda na sala com Lurdinha: - Oi, Estela, quer algum suquinho, um cafezinho? - Não, Lurdinha, brigada, vou só esperar o Max, - Tá bom. Ele disse que só vai terminar de falar no telefone e já te chama tá? - Obrigada. Lurdinha sai e Estela fica esperando no sofá, quando escuta gritos de Max vindos do escritório. Ela não resiste e vai até a porta para escutar melhor:
  • 4. - Isso mesmo, quero o serviço completo como expliquei antes. É só o tempo de fazer Amélia dormir e eu faço o sinal, entendeste? Hein? Mas eu já disse, tu vais levar ela pra Goiânia naquele hotel abandonado perto da rodoviária. Claro que não vai ser direto, não te pedi pra arrumar um esconderijo em Juruanã? O aviãozinho que vai levar vocês a Goiânia não pode sair durante a noite, imbecil! Compreendeste tudo agora? Estela consegue escutar todo o plano de Max e fica apavorada, sem reação. Quando Max desliga o telefone, ela sai correndo para o sofá: - Mas aí está a indiazinha do Araguaia! - O que você quer, Max? Diga logo. - Pois então, venha até o escritório comigo. Max pede para Estela que o ajude acabar mais uma vez com o casamento de Solano e Manuela, que já está próximo. Estela, depois de ouvir o plano de Max contra Amélia, fica ainda mais enojada e não aceita o pedido do fazendeiro, decidindo que irá resolver o problema com Solano por si própria. - Eu já disse que não, Max, nunca vou me juntar a você. Você me dá nojo! - Mas o que é isso, chinoca atrevida? Tu não tens o direito de falar assim comigo. E se tu não aceitas o trato, problema teu. Vais perder aquele gaúcho caborteiro de uma vez por todas. - Prefiro isso do que me juntar a você. E eu tenho certeza que consigo o que quero, e sozinha. Adeus, Max. - Volta aqui, guria! Estela deixa Max falando sozinho e vai embora, pensando em tudo o que ouviu. Já é quase noite, Amélia chega em casa e não encontra ninguém, somente Lurdinha: - Lurdinha, onde estão todos? - Ah, Dona Amélia... Todo mundo sumiu dessa casa hoje, sem me avisar. A Manu tá na rua desde cedinho e o Seu Max chegou e saiu mas disse que voltava logo. - Hum. Estranho o Max sair assim...logo depois da lida. – Amélia fica pensativa e preocupada - Lurdinha, eu não vou jantar, acho melhor você servir o Max quando ele chegar. - Ah, mas o Seu Max antes de ir disse que eu podia sair com a Aspásia pra cidade que ele não ia jantar também não... É que sabe, Dona Amélia, a gente quer ver o show do Leonardo que vai ter hoje. A senhora não vai, não? - Não, Lurdinha, não estou com cabeça pra show nenhum, mesmo se quisesse... Bom, se você ainda estiver aí quando a Manu chegar, peça pra ela subir até o meu quarto, por favor. - Tá bom, dona Amélia... quer que eu leve um chazinho pra senhora? - Não, Lurdinha, obrigada. Amélia sobe as escadas e vai para o seu quarto. Ela toma um banho e se veste já para dormir, quando de repente a porta se abre... - Max? - Amélia. Tu não sabes o que aconteceu. - O que foi? - Uma coisa horrível, uma tragédia.
  • 5. Nesse momento o telefone de Amélia toca e ela fica apreensiva ao pensar que poderia ser Vitor. - Tu não vais atender? - Vou, eu vou...- Amélia nervosa pega o celular na mesa e logo vê que é Manuela. - Alô, filha? Do outro lado da linha Manuela fala desesperada: - Mãe, aconteceu um acidente... - O que, filha? Pelo amor de Deus, você tá bem? - Comigo tá tudo bem, mãe, não se preocupa. Eu estava com o Solano na estância e recebemos a notícia de que a dona Beatriz, a mãe do Solano, sofreu um acidente na estrada. - Meu Deus, Manu, mas ela tá bem? - Não sabemos ainda. O dr. Ricardo está examinando ela, eu vou ficar aqui com o Solano, tudo bem? Mas se a senhora sentir que o clima aí em casa está pesado com o seu Max, eu volto. - Não filha, fica aí com o Solano, e diga que desejei melhoras à Beatriz. Tá tudo bem por aqui. – Amélia olha para Max, apreensiva. - Sério mesmo? - Sim, filha. Fica sossegada. Qualquer coisa me liga. - A senhora também, hein? Qualquer coisa mesmo me avisa. - Tchau, filha, um beijo, se cuida. Max a olha assustado e diz: - O que foi, Amélia? O que Manuela disse pra ti? - Uma tragédia... Beatriz sofreu um acidente, e ela está no posto médico com o Solano. - Mas era exatamente isso que ia lhe dizer. Estava eu na cidade com o delegado e ouvi um burburinho sobre esse acidente. Pobrezinha de Beatriz, não é? – Max diz, cinicamente. Amélia o olha desconfiada mas não diz nada, apenas se vira de costas para ele, arrumando a cama: - Max, se você me der licença, vou dormir... Nesse instante, Max a aborda por trás sem que ela perceba. Ele a agarra pela cintura e com um lenço tapa sua boca e o nariz. Amélia se assusta mas não tem tempo para se defender, desmaiando de imediato. Max a deita na cama desacordada e sorri, se afastando. Nesse mesmo instante ele telefona para alguém: - Pronto. Minha parte está feita, agora é contigo. O moleque já saiu de Girassol? Ótimo, ótimo. Assim que tu tiveres certeza que ele foi embora daqui, venha já pra cá fazer a segunda parte do combinado. Max desliga e tranca a porta do quarto enquanto olha a esposa desmaiada na cama. Alguns minutos se passam e Max avista um carro pela janela do quarto de Amélia. Ele averigua se os empregados não estão mais trabalhando e logo depois faz sinal para a pessoa que estava dentro do carro entre na casa. Três homens aparecem no quarto e carregam Amélia até o carro. Max se tranca no escritório e não acompanha os homens. Ele se certifica de que acabou com todas as provas que poderiam incriminá-lo naquela noite.
  • 6. III Enquanto isso, na mata, Estela resolve ir atrás de Vitor. Ela chega na estalagem mas Terê a avisa que o rapaz já havia viajado. Estela percebe que Max planejou muito bem o sequestro de Amélia, esperando todos estarem longe de Girassol. Ela pensa então que seria uma ótima oportunidade para mostrar a Max que ele não tinha todo esse poder sobre ela e nenhum outro do Araguaia, e sai pela estrada, disposta a encontrar Vitor pelo caminho. Estela anda horas à cavalo na escuridão, quase saindo da região e já desistindo de encontrar Vitor, quando de repente avista dois carros...Um mais afastado, com a luz do farol apagada, e outro logo a frente. Ela percebe que o carro de Vitor está sendo seguido, espera alguns minutos e vê que o carro preto desvia, já satisfeito por Vitor estar saindo de Araguaia. A índia corre até o carro do rapaz, tendo cuidado para que o capanga de Max não a veja: - Vitor, Vitor! Pára esse carro. – Estela grita o mais alto que pode, entrando quase na frente do carro. - Meu Deus, o que é isso? Estela? – Ele freia o carro assustado, quase parando em cima do cavalo, com dificuldade. Estela desce do cavalo e vai até ele, sem fôlego: - Vitor, você precisa me escutar, rápido. - Calma, o que aconteceu? - Vitor tenta acalmá-la. - É que eu ouvi uma coisa assustadora, e só você pode resolver isso. - O que foi Estela? - O Max. Ele mandou sequestrar a Amélia e... - Como???? – Vitor a interrompe e muda sua expressão na hora, como se o mundo tivesse acabado ali. - Você tem que impedir o Max, a essa hora o capanga dele já deve estar a caminho, a gente tem que impedir. - Você tem certeza disso Estela? Me fala, pra onde aquele desgraçado vai levar a Amélia? – Vitor diz desesperado, segurando o braço de Estela, que se desprende dele. - Eu sei o lugar, calma. Vão levá-la pra Goiânia, eu vou com você. Eles já devem estar a caminho. Mas a gente tem que agir com cautela. Seguir eles, sem sermos vistos. - Não, eu tenho que ir pra fazenda. - Não, Vitor. Ele pode matar você, e até mesmo a Amélia. Vamos com calma, segue esse meu plano, vai dar certo. - Vamos rápido, vamos! Estela abandona o cavalo, que ensinado, volta sozinho pra mata. Ela entra no carro de Vitor e os dois retornam rápido e se escondem na estrada, na espera dos capangas, já que o caminho até Juruanã é um só. Uma hora e meia se passa, e Estela avista o mesmo carro que viu seguindo Vitor: - São eles, vamos lá.
  • 7. Vitor se sente apavorado, mas junta toda sua coragem e o amor por Amélia, e segue com toda sua raiva o carro dos capangas. Durante o caminho, Vitor fica intrigado e pergunta a Estela: - Por que você procurou justo a mim para salvar a Amélia? - Porque eu sei de vocês dois, Vitor. Sem querer, um dia na mata, eu vi vocês dois juntos na cachoeira... Vitor fica sem graça: - Hum... - Não fica preocupado, eu não disse pra ninguém. Mas confesso que adorei saber disso. Aquele velho nojento merece uma lição. - Mas eu não estou com ela... - Eu sei, Vitor, não falo que você esteja se vingando. Eu vi aquele dia que vocês dois estão muito apaixonados. E eu sei o que é perder um amor. – Estela fica triste, pensando na rejeição de Solano. - Obrigado, Estela, eu nunca imaginei que... - Que eu pudesse ajudar alguém? Vitor fica calado. - Tudo bem, Vitor. Ninguém acredita em mim, mas eu vou provar agora que além de querer o fim do Max, eu quero muito também a felicidade das pessoas. Vitor sorri e toca o ombro de Estela, agradecendo a nova amiga. Já é de manhã e Lurdinha serve o café para Max, que pergunta: - Onde está a Amélia, não vai descer para o café? - Ih, a dona Amélia saiu cedinho, seu Max, pegou o carro parece, porque eu olhei lá fora e ele não tá lá no lugar dele não. - Hum. Mas tão cedo assim? Amélia anda estranha. - Ah, Seu Max, acho que a dona Amélia tá sofrendo dos nervos sabe...E ela nem toma chazinho mais, isso piora. - Fecha essa boca, chinoca! Sai daqui. Lurdinha sai reclamando e Max olha para os lados indo direto para o escritório: - Alô! E aí? Tu levaste ela até aquele lugar? Deu tudo certinho? Me diz. O fazendeiro sorri e comemora sua vitória. Nesse momento, Vitor e Estela estacionam o carro logo atrás dos capangas que levam Amélia até um lugar afastado em Juruanã, em uma fazenda abandonada. Vitor se desespera ao ver um dos homens carregando o corpo desacordado de Amélia e reage, querendo chegar mais perto: - Eu preciso ir até lá... - Não, Vitor. Vem aqui. – Estela o segura pelo braço, impedindo que ele faça uma loucura. – Você não pode se arriscar assim, arriscar a vida da Amélia. Calma! Ele se contém, entendendo que o melhor era seguir o raciocínio de Estela. IV Na fazenda, Manuela chega e pergunta pela mãe para Max: - Onde está minha mãe?
  • 8. - Não sei, filha. A Lurdinha disse que ela saiu de carro logo cedo. Eu até queria acompanhá-la. Como tu sabes, faço isso todos os dias, mas ela conseguiu sair sem que eu a visse... - Estranho. E o celular dela também não atende. - Ah, mas então, eu fui no quarto de tua mãe e o celular estava lá, na mesa. - Mas onde será que a dona Amélia se meteu? - Não sei, deve ter ido até a cidade, não é? - Vou procurar. – Manuela lança um olhar desconfiado para o pai, e sai. Max passa as mãos pela cabeça, respirando aliviado e sorridente. Manuela vai até Girassol e não encontra a mãe em lugar algum. Ela começa a ficar preocupada, vai até a estalagem à procura de Vitor, mas Terê avisa que ele já não estava mais lá: - Calma, Manu, não deve ter acontecido nada, a Amélia deve ter ido andar por aí. - Não sei, Terê. Estou com um pressentimento ruim. Terê faz uma cara de preocupação e lembra da visão que teve ao tocar Vitor: um lugar abandonado e Amélia chorando. Mas decide não contar ainda para Manuela, já que não tem certeza de quando isso irá acontecer. Manu decide então esperar mais um tempo para tomar alguma providência. Vitor e Estela esperam alguma movimentação na casa abandonada onde os capangas levaram Amélia. - Vitor, eu vou espiar mais de perto. Você fica aqui. - Não, eu quero ir até lá, eu preciso ver a Amélia. - Por favor, fica aqui. Eu sei o que estou fazendo. Eu volto logo... - Espera, Estela... - Vitor não consegue impedi-la e fica esperando, olhando para os lados. Enquanto isso na casa, um dos homens separa um pão e uma caneca com café e leite. Amélia começa a acordar e abre os olhos com dificuldade: - Meu Deus, que dor de cabeça... – Quando vê uma mulher grande ao seu lado, ela se assusta. – Quem é você? - Fica quietinha aí, dona. Tu não vai querer saber quem eu sou, não. - Mas... o que é isso? – Amélia confusa coloca as mãos na cabeça, sentindo uma dor imensa, tenta se levantar mas é impedida pela mulher. - Não, não. Fica calma aí, deitadinha. Nem tenta sair daqui. - O que vocês querem de mim? - Tu vai ficar sabendo na hora. Olha só, tu vai fazer tudo direitinho o que a gente mandar, falou? Fica ligada que essa parada aqui não é brincadeira. - Eu não entendo... é dinheiro o que vocês querem? A mulher começa a gargalhar: - Olha, se tu quiser me dar dinheiro, não vou achar ruim, não. Mas não é tão simples assim. Agora fica quieta, e come esse pão aí logo. Amélia fica quieta e rejeita a comida. - Come aí, madame. A comida é simples mas é limpinha. Ninguém aqui quer ver você doente, não. Aliás, o patrão disse que é pra deixar a senhora uma belezinha, quem sabe tu consegue ficar até mais cheinha.
  • 9. - Patrão? Quem é o patrão de vocês? Foi o Max, não foi? Me fala! Foi o Max... - Amélia se descontrola e tenta levantar, mas a mulher a segura com força. - Fica quieta, eu já disse! Senta aí... - Ela empurra Amélia com brutalidade, que fraca, cai no colchão. Os três homens se levantam e começam a olhar Amélia de cima abaixo. Ela fica assustada e se encolhe no canto da parede, abraçando os joelhos e chorando desesperada. - Calma moça, a gente não morde, não, só se você quiser. – O homem começa a rir. - Fica quieto, cara, não começa a fazer graça com a madame que vai sobrar pra todo mundo. Tu sabe o que acontece se o patrão descobre... - Tá bom, não fiz nada. Só brinquei com a belezinha. Amélia já tem certeza que foi sequestrada a mando de Max e entra em desespero. Estela consegue se aproximar das janelas e finalmente encontra Amélia sentada no canto da parede com a cabeça baixa, junto dela uma mulher e mais três homens mais afastados... De repente alguém toca Estela nos ombros: - Ai, Vitor, que susto! - Cadê ela, cadê? - Calma, não faz barulho. Ela está ali... Vitor a olha com um olhar desesperado, quase chorando, e fica sem fôlego e cheio de raiva: - Eu preciso... eu preciso tirar ela dali Estela. Eu vou entrar! - Não! Você não vai conseguir. Não entende que a gente tem que agir com frieza numa hora dessas, assim como eles? Vamos pensar, Vitor, por favor. - Mas eu não aguento... eu não posso deixar a Amélia sozinha com eles... - Vitor, eu entendo você, sei do seu amor por ela, mas é justamente isso que não pode prevalecer agora. Os dois falam baixinho e de repente percebem uma movimentação. Um dos homens sai do local e eles correm para trás dos arbustos. O homem sai com o carro. Eles o observam se afastar e voltam para a janela. Nesse momento, a mulher tenta fazer Amélia comer a força, que joga o prato de comida longe. A mulher fica furiosa e empurra Amélia na parede com força, a machucando. Vitor não se contém ao ver a cena e ameaça entrar: - Eu não vou ficar parado! Estela o segura com força e entra na sua frente: - Pára, Vitor! Calma! A gente vai conseguir acabar com isso, mas você não pode se desesperar. A Amélia é forte, ela vai ficar bem. Ele faz um olhar inconformado para Estela, com os olhos vermelhos de raiva e tristeza, se sente impotente com aquela situação e não consegue aceitar: - Estela, ela não pode ficar ali, não pode! A gente tem que entrar, agora. - Vamos esperar mais um deles sair. Fica mais fácil pra gente... Eu cuido da mulher e você do outro cara. - Mas e se um deles não sair? A gente vai ficar aqui parado, esperando? - Calma, uma hora um deles vai sair, tenho certeza. Enquanto isso, é quase noite e Manuela se desespera. Vai até a delegacia com Terê e registra o sumiço de Amélia com a sargento Mourão, já que o delegado não está por lá.
  • 10. - Calma, Manuela, eu vou encontrar o delegado e vamos resolver isso. Nessa hora, Max chega agoniado: - Meu Deus, minha filha, onde está tua mãe? Tenho certeza que foi um sequestro. Levaram o carro dela, vão pedir dinheiro. - Pai, espera, se acalma. A gente vai encontrar a mãe. - Tomara, minha filha, tomara. Estou tão preocupado. Terê olha para ele desconfiada e Max desvia o olhar. V Em Juruanã, o delegado e Safira passam a noite juntos em um hotel. Ele já sabia do sequestro planejado por Max o tempo todo e já havia combinado de estar longe de Girassol nesse dia dizendo que tinha ido até Goiânia, ficando assim, alheio a qualquer tipo de suspeita. De volta à delegacia, sargento Mourão retorna da casa do delegado: - Fui até lá e ele não voltou até agora de Goiânia. Ele foi a trabalho até lá, mas eu pensava que já estava em casa... Vou ligar para ele. Max faz uma cara de preocupação, mas já imaginava que isso iria acontecer. Glorinha conversa alguns minutos com o delegado e desliga: - Contei pro delegado tudo o que aconteceu, e ele disse que teve alguns problemas em Goiânia mas vai tentar voltar o mais rápido possível e contatar amigos para fazerem uma busca. Solano aparece e se disponibiliza para ajudar nas buscas locais, e Manuela vai com ele. Eles decidem não avisar Fred ainda, para não preocupá-lo. Enquanto isso, Estela e Vitor esperam o homem sair do local e espiam Amélia na casa. Ela não consegue conter o cansaço e dorme no colchão. Mais adiante, Estela encontra um lugar escondido que dá de frente para a sala que Amélia e os capangas estão, ela e Vitor vão até o local para tentar escutar a conversa lá dentro: - Agora a gente vai ameaçar a dona pra conseguir enfiar ela no avião pra Goiânia, como o doutor pediu. Ah que canseira, viu, se não fosse o dinheiro desse velho, tinha recusado. - Cala a boca, mulher. E faz tudo o que a gente planejou com o doutor Max. Vitor escuta e sente o sangue subir. Ele tenta falar algo, mas pára quando percebe que podem escutá-los. Estela o segura e faz um sinal para ficar quieto. Vitor passa as mãos no rosto desesperado, tentando ficar calmo. Um outro homem finalmente sai da casa, Vitor e Estela se escondem embaixo de uma mesa e o homem passa por eles sem perceber nada. - É agora, Estela, vamos lá. - Sim, mas espera. Vamos combinar direito. Eu entro lá primeiro e assusto a mulher, você entra logo em seguida, e tenta já pegar a Amélia. - Certo. Vamos!
  • 11. Estela, com um arco e uma flecha nas mãos, entra de uma só vez no local em direção a mulher, apontando a flecha para ela. O homem logo se levanta tentando impedir a índia, mas Vitor chega logo em seguida e lhe dá uma rasteira nas pernas, o derrubando de imediato. Estela se distrai e a mulher tenta tirar a flecha de suas mãos. As duas brigam e Estela consegue enfiar a ponta da flecha em seu peito: - Acho que tamanho não é documento, não é, querida? – Estela sorri satisfeita, deixando a mulher caída no chão. Enquanto isso Vitor ainda briga com o homem, os dois trocam socos e Estela vai até Amélia, que acorda assustada: - Meu Deus, Estela? Vitor... Amélia vê Vitor brigando com o capanga e tenta levantar mas Estela a impede: - Calma, Amélia, o Vitor vai dar um jeito nele. Fica aqui comigo. Vitor consegue enfim derrubar o bandido no chão, mas de repente o outro homem retorna à casa e dá um golpe nas costas de Vitor, que cai no chão. Amélia coloca as mãos na boca, se desespera e grita: - Não!!!!!!!! Vitor! Ele levanta com dificuldade, olha para o homem e dá um soco em seu rosto. Estela levanta e pede para Amélia permanecer ali. Pega sua flecha do peito da mulher, que ainda estava desacordada e aponta com foco para o bandido, acertando em cheio seu ombro. Ele cai no chão e Vitor lhe chuta, depois corre para Amélia. - Meu amor! Você tá bem? Me fala... – Ele beija Amélia várias vezes, eufórico, e a abraça com força. - Eu tô bem. Calma. – Amélia passa as mãos no rosto de Vitor, olhando seus machucados. - Vamos embora, gente, rápido – Estela grita e os chama para fora. Vitor pega Amélia no colo e a leva até o carro. Nisso, o homem que havia saído primeiro da casa volta com sacolas na mão e percebe a movimentação, mas já é tarde demais. Todos conseguem escapar. Max aguarda cinicamente notícias de Amélia na delegacia, enquanto os outros iniciam a busca. Ele, fingindo aflição diante da sargento Mourão, fica de um lado para o outro. - Onde está minha mulher, onde está? - Calma, seu Max, tudo vai se resolver. – Glorinha tenta acalmá-lo. - Tomara que sim, tomara. – Ele diz quase chorando. Nisso, seu celular toca como planejado. Max imagina que é um dos capangas ligando fingindo ser um seqüestro relâmpago, com exigência de dinheiro em troca de Amélia. - Alô. Sim, o quê? Como? Ele sai da delegacia e Glorinha junto com Terê estranham, o encarando. Max fala o mais baixo possível, irritado: - Como assim, seu incompetente? Quem fez isso, onde é que Amélia está? O quê? Uma índia e um homem alto de cabelos enrolados? Max logo pensa em Estela e Vitor e entra em pânico. - Trate de achar eles e prender todos, entendeu? TODOS! Max volta para a delegacia e diz para Glorinha que era Lurdinha o chamando na fazenda. Ele diz que vai voltar mas que era para ligar caso soubessem de algo. Glorinha desconfiada, diz:
  • 12. - Claro, pode ir tranquilo que eu aviso. Quando Glorinha e Terê ficam sozinhas, a vidente diz: - Sargento Mourão, eu tive uma visão quando toquei no Vitor. Não quis dizer para não assustar a Manuela, mas eu vi um lugar abandonado e a Amélia chorando. Glorinha a olha com seriedade e resolve fazer algo: - Terê, você me dá licença? Preciso fazer alguma coisa. - Claro, toma cuidado. - Deixa comigo! VI Chegando na fazenda, Max liga para o delegado: - Tu vais me encontrar aí em Juruanã, eu e tu vamos atrás desse povo. - Não, Max, como assim? Não vou me envolver nisso. - Mas é claro que tu vais se envolver, tu já estás envolvido. Nem pense em ir contra mim. O delegado desliga o celular irritado e Safira o questiona: - O que o Max queria? - Nada, nada. Que inferno. - Me conta, meu amor. Deixa eu te ajudar. O delegado, muito apaixonado por Safira e cansado de ser explorado e de ter sempre que abaixar a cabeça para as loucuras de Max, conta tudo à Safira, que fica perplexa e horrorizada: - Você vai agora fazer alguma coisa pra salvar a dona Amélia, entendeu? Eu sei que você não é como o Max, e você vai me provar isso, não vai? O delegado pensa e diz: - Você tá certa, Safira. Cansei dessa vida, cansei do Max. Eu tô tão... apaixonado por você, você mudou tanto a minha vida. - Se isso for verdade, eu quero que você ajude a Amélia e termine logo com a sua esposa. - Vou fazer isso, te prometo. Os dois se beijam e o delegado decide agir como planejado: vai esperar Max no local combinado. Porém, não vai seguir o script do fazendeiro até o final. Max arruma algumas coisas e pega seu carro. Glorinha o havia seguido até a fazenda e continua atrás dele assim que ele sai de carro. Estela dirige o carro enquanto Vitor e Amélia ficam abraçados no banco de trás. Ela, cansada, dorme no peito dele, que a olha com ternura e a conforta no sono: - Eu te amo tanto, tanto... – ele fala baixinho com Amélia dormindo e a beija levemente nos lábios. Estela sorri e fica emocionada com o amor dos dois: - Acho tão lindo vocês dois. Formam um casal lindo. Vitor sorri: - Eu amo essa mulher, mais do que tudo. - Eu sei. O que você fez foi heróico, foi coisa de homem apaixonado. - É, mas se não fosse você, Estela... Muito obrigado.
  • 13. - Imagina, você sabe que me dá prazer em acabar com aquele velho nojento. E apesar das minhas diferenças com a Manuela, eu não quero o mal dela, muito menos da Amélia. - Eu sei, obrigado de novo, de verdade. Vitor e Estela decidem parar e passar o resto da noite em um hotel. Vitor acorda Amélia: - Amor, acorda. – Ele a toca suavemente. - Onde estamos? – Amélia acorda e se desprende dos braços de Vitor, que a beija com carinho e diz: - Em um hotel de Juruanã. Vamos passar a noite aqui, é melhor e mais seguro. - Tudo bem – Amélia dá mais um beijo em Vitor e eles saem do carro indo até o hotel. Nesse mesmo hotel, por coincidência estão Safira e o delegado. O delegado está no hall de entrada do hotel fazendo uma ligação para amigos próximos, tentando rastrear o paradeiro de Amélia quando de repente ele vê os três entrando e sai correndo até eles: - Meu Deus, são vocês! Os três se assustam, pensando que o delegado está como cúmplice de Max. - O que você quer, deixa a gente paz. – Vitor diz, nervoso. - Calma, rapaz. Eu sei de tudo, eu quero ajudar vocês. - É mentira, você e o Max estão juntos. Você é tão culpado quanto ele. - Eu sei, eu realmente fiquei sabendo desse plano todo pelo Max, mas eu estou arrependido. Acreditem em mim, me deem um crédito. - Como a gente pode acreditar no senhor depois disso? – Amélia fala com a voz rouca e cansada. - Dona Amélia, uma pessoa pode confirmar isso. Nisso, Safira entra e confirma toda a história e conta do romance entre os dois. Amélia fica espantada, mas como conhece Safira desde criança, acredita na garota e consequentemente no delegado. - Mas, Amélia, e se for mentira, e se ele mentiu pra você também, Safira? – Vitor não se conforma. - Eu também não aposto muito nisso. – Estela também fica desconfiada. - Gente, é verdade, acreditem. O Geraldo só quer ajudar vocês – insiste Safira. - O Max sempre fez pouco caso do meu trabalho, sempre me humilhou. E eu tô cansado disso. Eu, mais do que ninguém, quero esse homem na cadeia. – o delegado diz nervoso, com raiva nos olhos. Vitor resolve dar um voto de confiança a ele: - Tudo bem, mas o que você pretende fazer? - Eu vou escoltar vocês. O Max está vindo pra cá. Eu faço meu trabalho, apenas isso. Tenho como provar a culpa dele, tenho credibilidade. - Certo. Todos aceitam o plano de Geraldo e vão fazer a reserva de um quarto, para descansarem enquanto Max não chega, mas é tarde demais: - Ora, ora, quem eu encontro aqui! - Max! – Amélia se apavora e Vitor a abraça com força. - Tu conseguistes sair de lá, não é, dona Amélia... Quase que eu acabo com tua vida, mas aqueles incompetentes... - Cala a boca, Max, aqui você não canta mais de galo – interfere Geraldo.
  • 14. - Ah, mas olha só pra isto. O delegado de meia-tigela querendo o quê? O que tu queres? Virou a casaca, é? Ficou bonzinho? - Cansei de você, Max Martinez. Você conseguiu tudo o que queria do meu pai, mas comigo vai ser diferente. – O delegado fala olhando com raiva para o fazendeiro. - Ah é? Diferente como? – Max se aproxima de Amélia quando Vitor se desprende dela e sem que percebam ele a pega pelo braço com força e aponta uma arma para ela. VII Todos do hotel ficam em alerta, a recepcionista chama a polícia - que fica longe do local. De repente, Glorinha chega atrasada, pois seu carro havia estragado no meio da estrada. Ela vê a cena de Max em poder de Amélia e fica sem ação, com medo que ele atire. Ela vai devagar até o delegado. Max, enfurecido, diz: - Se tu pensas que vai fazer algo... se tu fizeres algo eu coloco uma bala na cabecinha dela – Ele diz olhando para a sargento. Vitor se apavora e diz: - Max, você não... - Cala a boca, seu moleque. Tu nem penses em chegar perto que a mulher é minha entendeu, minha! – Amélia tenta se desprender dos braços de Max, chorando, e ele a prende ainda mais. – Fica quietinha. - Seu canalha, desgraçado. – Vitor se descontrola e Estela o segura. - Ah, até a índia tá aqui. Isso parece uma festa. Todos vão querer ver a madame de Girassol morrer? Geraldo se aproxima um pouco e tenta acalmar Max: - Calma, Max, deixa a Amélia em paz, vamos resolver isso entre nós. Nesse instante, Geraldo dá um chute na mão de Max, fazendo com que ele derrube a arma no chão. Amélia se solta e Vitor corre até ela: - Meu amor, você está bem? – Ele beija seu rosto várias vezes, preocupado. Max consegue recuperar sua arma no chão e a mira para o delegado: - Tu pensas o quê, seu delegadinho de bosta? Que tu vais conseguir ser o herói? Tenta fazer alguma coisa que eu atiro em você e em todo mundo aqui. Todos percebem o quanto Max está descontrolado, e logo a sargento tenta se aproximar para evitar alguma tragédia, mas o fazendeiro percebe e sem saída atira em Geraldo. Este, ao mesmo tempo dispara dois tiros contra Max e os dois caem no chão. Safira corre até o delegado e o pega nos braços, chorando. A polícia chega no local junto com uma ambulância e os enfermeiros examinam Max e Geraldo, constatando que os tiros os atingiram em órgãos vitais e a respiração já era inexistente: - Sinto muito, mas eles não resistiram. Os tiros foram certeiros. Safira se desespera e Glorinha tenta consolá-la. Amélia está incrédula e assustada enquanto Vitor a abraça chocado: - Meu Deus, Vitor, que tragédia. Como eu vou contar isso pros meus filhos? - Calma, meu amor, eu vou te ajudar em tudo. Vai ficar tudo bem. Amélia abraça Vitor e chora.
  • 15. Todos seguem para o hospital de Juruanã e chegando lá, Estela e Glorinha convencem Safira a voltar com elas para Girassol, pois Dora já tinha sido avisada de tudo e estava indo para lá. Amélia é examinada por conta dos ferimentos que sofreu no cativeiro, precisando apenas de alguns curativos e calmante. Logo após ser liberada, ela e Vitor esperam a liberação do corpo de Max na sala principal. Depois de um tempo, a recepcionista chama Amélia e Vitor a ajuda a preencher os dados necessários: - Pronto, agora é só a gente esperar. E agora eu acho melhor avisar a Manuela que estamos bem. - Eu não vou conseguir fazer isso, Vitor. Nem sequer ouvir a voz dos meus filhos eu consigo agora... - Eu sei, eu ligo pra ela, pode deixar. Fica tranquila, tá? – Vitor a beija nos lábios e ela o abraça em seguida: - Obrigada, meu amor. Não sei o que seria de mim agora sem você do meu lado. Ele não diz nada e retribui o abraço junto com um beijo carinhoso em sua testa: - Vou até lá, me espera aqui. Vitor avisa Manu que Amélia está com ele no hospital de Juruanã: - Calma, Manu, tá tudo bem com a sua mãe. Aconteceu uma outra coisa que não dá pra contar por telefone. - O que, Vitor? Não me deixa assim. Cadê a minha mãe? Quero falar com ela. - Manu, não dá pra explicar agora... A Amélia está bem, confia em mim. Estamos voltando. - Tudo bem, quando vocês chegarem me liguem, estou na Estância com o Solano. - Pode deixar. Amélia vê Vitor desligando o celular e indo até ela, e logo se levanta: - E então? - Ela ficou um pouco aflita mas avisei que estamos bem. - Ai, meu Deus. Como eu vou fazer, como vou contar pra ela? - Fica calma, vem aqui. – Vitor a puxa contra seu peito – Nós vamos contar juntos. Nesse instante Dora chega no hospital, já sabendo de tudo o que havia acontecido, até mesmo sobre o caso de Geraldo com Safira. Ela dá os pêsames à Amélia e assim que terminam tudo para a liberação dos corpos eles seguem para Girassol. VIII Amélia e Vitor chegam em Girassol e vão direto para a fazenda. Ao entrarem no casarão, ela olha em volta e solta um profundo suspiro: - Essa casa traz tanta lembrança ruim... Minha vontade é de não colocar os pés aqui nunca mais. Vitor a abraça. Ela se aninha nos braços dele, que beija os cabelos dela e diz:
  • 16. - Fica comigo na estalagem por enquanto. E vamos construir uma casa na cidade. Amélia sorri: - Uma casa só pra nós? - Sim... o nosso cantinho – ele diz com doçura, enquanto a abraça com mais força. - Pode ser uma casa simples. O que importa é estarmos juntos. - Simples? Nada disso. Eu prometi pro Fred sempre tratar você como uma rainha. E uma rainha não merece menos do que um palácio. - Mas você sabe muito bem que não é o tamanho ou o luxo que fazem de uma casa um palácio... - É verdade... – ele olha nos olhos dela – Mas quero que nossa casa seja como nos seus sonhos. - Ah... então é simples. Basta que você esteja dentro dela. Vitor sorri, e beija os lábios dela com suavidade. Amélia o abraça e solta outro suspiro: - Preciso encontrar a Manu agora, dar a notícia a ela. E providenciar o velório do Max. O corpo chega daqui a pouco. Antes que Vitor consiga responder, o celular de Amélia toca. - É a Manu! – Amélia atende – Oi, filha, onde você está? - Mãe! A senhora tá bem? Eu estou na estância, ajudando o Solano a cuidar da mãe dele. - Já cheguei na fazenda. E como está a Beatriz? - Bem, não teve nenhuma lesão grave, foi mais o susto mesmo, o Ricardo conseguiu cuidar bem dela. - Que bom – responde Amélia, apreensiva. - Mas, mãe, a senhora está bem mesmo? - Eu estou bem filha, mas o seu pai... – Amélia não consegue continuar. - Que tem ele? – pergunta Manu, preocupada. - É melhor você vir para a fazenda, que eu conto tudo. - Tá bom, já tô indo. Logo Manu chega e pergunta: - Então, mãe, o que aconteceu com o pai? Ele fez alguma coisa contra você, não fez? Por isso a senhora sumiu. Amélia olha para Vitor, pedindo ajuda com o olhar. Ele responde: - Manu, o Max está morto. Manu se deixa sentar no sofá, atônita: - Como foi isso? Vitor conta tudo que aconteceu. Manu fica em silêncio por alguns instantes, como que digerindo toda a história. Finalmente, desabafa: - Eu não queria sentir o que estou sentindo agora. Meu pai fez tanto mal a mim, e a vocês, que não sinto vontade de chorar, não consigo lamentar a morte dele... Acho que eu já tinha perdido meu pai no dia em que descobri aquela sujeira toda do exame de DNA. Depois daquilo, estava cada dia mais difícil reconhecer o homem que eu amava tanto... - Filha... – Amélia a abraça. Vitor abraça as duas. Depois, Manu questiona: - E o Fred, já sabe?
  • 17. - Ainda não. Não quis estragar a lua-de-mel dele – explica Amélia. - É, eles disseram que iam voltar hoje, não tem necessidade de avisar antes. Vou para a cidade esperar pelo Fred, assim que ele chegar dou a notícia, tá bem? – avisa Manu. - Pode ir tranquila que eu vou ficar aqui com a Amélia – afirma Vitor. - Eu não tinha nenhuma dúvida disso – devolve Manu. Vitor pede para Terê espalhar a notícia e logo toda a cidade está sabendo da morte de Max. E todos têm a mesma reação: ir até o velório para se certificar que ele está morto mesmo. O velório acontece na sala da fazenda. Amélia está num canto da sala, abraçada a Vitor, que seguido acaricia os cabelos dela. Manu e Solano, Fred e Janaína estão junto a eles. No outro canto da sala, Cotinha cochicha com Aspásia: - Longe de mim ser fofoqueira, mas você viu que a viúva não desgruda do bonitão do Vitor? - Larga de ser maldosa, Cotinha... ele tá só consolando ela... - Ah, tá... Por acaso você tá vendo ela triste? Larga você de ser ingênua, Aspásia! Tá na cara que aqueles dois têm algum trelelê. - Você acha que a dona Amélia tava botando chifre no seu Max, com o Vitor? – pergunta Aspásia, com os olhos arregalados. - Se ela botou, foi bem merecido. Aquele homem era o cão do avesso. E ela não é boba... o Vitor é um pedação de mau caminho. - Ô, se é... Cotinha e Aspásia riem, tapando a boca com a mão. Padre Emílio chega para encomendar o corpo. - Não posso dizer que foi uma grande perda, seria muita hipocrisia. Esse homem fez mal a muita gente, inclusive aos próprios filhos, espalhou muita dor por esse Araguaia. Mesmo assim, que Deus o receba e consiga curar a alma doente desse seu filho. Sim, só uma alma doente seria capaz de tanta crueldade... – ele engole em seco, e continua – Meus filhos, Cristo nos ensinou a cultivar a virtude do perdão. Mas eu não posso cobrar de ninguém que perdoe o Max Martinez, porque acho que nem eu mesmo sou capaz disso. Apenas peço que tentem tirar de seus corações o peso da raiva, e procurem viver em paz, como ele nunca permitiu. O padre faz o rito de encomendação e depois se aproxima de Amélia, Manu e Fred. - Me perdoem se minhas palavras foram um tanto pesadas... - O senhor até foi benevolente – responde Amélia com um tom de amargura na voz. Os filhos concordam com a cabeça. Depois do enterro, Amélia e Vitor, Manu e Solano, Fred e Janaína se reúnem na sala. Fred pergunta: - E agora mãe? O que você pretende fazer com a fazenda? - Não sei, não quero nem pensar nisso. Essa fazenda é de vocês, façam o que quiserem. Meu plano é mudar para cidade e me dedicar ao negócio das bijuterias.
  • 18. - Tá certa, mãe – concorda Manu – E Fred, que você acha de a gente agregar as terras da fazenda à cidade de Girassol? - Era isso que eu tava pensando, maninha – ele sorri. - Então, gaúcho, vamos aumentar nossa cidade – Manu diz a Solano, que sorri. - Mãe, você falou em mudar pra cidade... pra onde? – questiona Fred. - No começo fico na estalagem mesmo, mas o Vitor e eu estamos planejando construir uma casa. - Pode deixar que eu faço o projeto. Sua casa vai ser a mais bonita de Girassol – avisa o filho. - Fred, eu não quero mais ser alguém superior à maioria. Quero ser uma cidadã de Girassol como todos os outros, ter uma vida normal. - Tudo bem... não vou exagerar. Mas minha mãe merece sempre o melhor. - Concordo – ajuda Vitor. Amélia sorri, olhando para Fred e depois para Vitor. - Vou fazer minhas malas. Quero sair dessa casa o quanto antes – ela avisa, levantando-se e indo em direção à escada. IX Mais tarde, Amélia e Vitor chegam na estalagem carregando as malas dela. - Oi, Terê... Tem um quarto pra mim? – ela pede. Vitor olha para Amélia surpreso: - Como assim? Você não vai ficar comigo? - Vitor... eu acabei de enterrar meu marido. As pessoas vão comentar... Imagina, vão dizer que nem deixei o defunto esfriar e já fui para a cama de outro homem. - Mas o defunto em questão é o Max... ninguém vai te criticar, tenho certeza. Vão achar é até bem merecido pra ele – retruca Vitor, rindo. - Bobo... – ela ri também. Terê sugere: - Tenho um quarto vago bem ao lado do quarto do Vitor. Você arruma suas coisas lá, Amélia, e teoricamente você está hospedada nele. Que acham? - Perfeito, Terê! – responde Vitor, dando um beijo no rosto da vidente. Amélia e Vitor entram no quarto. Ela observa a mobília e a decoração: - É... simpático – ela comenta sorrindo. - Vem, vamos experimentar a cama – ele diz, puxando-a pela mão. Vitor se joga no colchão, puxando Amélia junto. Eles ficam por alguns instantes deitados lado a lado, de barriga pra cima. - Bem confortável, não acha? – ele pergunta. - Acho – ela responde, novamente sorrindo, e virando a cabeça na direção dele. Vitor também olha para Amélia. Chega mais perto, e junta seus lábios aos dela. Trocam um beijo demorado, sem pressa. Descolam os lábios por um instante e logo juntam de novo, desta vez com mais intensidade. Enquanto os beijos vão ficando cada vez mais intensos, as mãos de um percorrem o corpo do outro. Eles se entregam ao desejo, até que, exaustos, dormem abraçados. Já é madrugada quando Amélia acorda. Ela se vira e fica contemplando Vitor, que dorme profundamente. Amélia pensa no quão maravilhoso é tê-lo ali, ao
  • 19. seu lado, e fica com os olhos marejados. Com cuidado, ela acaricia os cabelos dele, depois passa delicadamente os dedos pelo rosto do rapaz. Quando toca nos lábios, ele se mexe, e ela tira a mão. Vitor abre os olhos e vê Amélia olhando para ele. - Meu amor... você está acordada? - Estava vendo você dormir... tão lindo... - Dessa vez não vou precisar sair correndo de manhã, né? – ele ri, ainda com a voz meio enrolada de sono. - Nem pensar... – ela se aninha nos braços dele – Se eu pudesse ficaria assim pra sempre... - Eu também. Ah, é tão bom pensar que agora vamos poder dormir juntinhos toda noite... vou querer acordar toda manhã com um beijo, viu? – ele brinca. - Só um? – Amélia retruca, sorrindo. - Tem razão. Um é pouco – Vitor responde, trazendo o rosto dela para mais perto do seu. Ele olha para os lábios de Amélia e a beija apaixonadamente. Depois de trocarem alguns beijos, ela se aninha nos braços dele novamente. Enquanto acaricia os cabelos dela, Vitor comenta: - Meu amor, eu tava pensando... com tudo que aconteceu, não pude viajar para tratar das nossas bijuterias como a gente tinha combinado. E tenho que fazer isso logo, não podemos perder mais tempo. Mas agora que ficou tudo resolvido para nós, você podia vir comigo. Não quero mais ficar longe de você. - Viajar juntos, nós dois? - Isso. - Aceito – ela sorri, com o olhar iluminado. Vitor a beija com paixão, e eles se deixam ficar ali, trocando beijos e carinhos, até adormecerem novamente. Eles só acordam quase ao meio-dia, com o telefone de Amélia tocando. É Fred os convidando para almoçar com ele e Jana. Depois do almoço, Fred estende um papel sobre a mesa. - Olhem, passei a manhã toda desenhando. Ainda não tá pronto, mas já dá pra ter uma ideia do que estou pensando pra casa de vocês. Na verdade, pensei num sobrado. Na parte de baixo, será a sede da Rurbano. A casa mesmo fica mesmo no segundo andar. - Filho, você pensou em tudo... – comenta Amélia, emocionada. - O projeto tá maravilhoso. Você já tem ideia do local onde a gente pode construir? – pergunta Vitor. - Sim, tem uma área perto da minha operadora, no caminho para a cidade, mas ainda perto do rio. Já fiz o projeto pensando nesse lugar, porque tenho certeza que as bijuterias da dona Amélia vão fazer o maior sucesso, e ali tem espaço para expandir a sede. Amélia e Vitor se olham, sorrindo. - Cara, quero começar essa obra o quanto antes – avisa Vitor – E já vou te pedir um favor: daqui a alguns dias a Amélia e eu vamos viajar para buscar distribuidores, revendedores, essas coisas... você fica de olho na obra enquanto isso? - Claro, acho que quando vocês voltarem a casa já vai estar pronta. Preciso mostrar um detalhe, olhem aqui... o quarto de vocês vai ter vista para o rio Araguaia.
  • 20. - Adorei essa ideia – comenta Vitor, abraçando Amélia por trás para dizer no ouvido dela – Vamos tomar banho de rio todo dia... - Não faz assim, Vitor... – ela responde, encabulada – O Fred... - O Fred sabe que a gente se ama e que eu só quero cobrir você de carinho... – retruca Vitor, sem soltar a amada. Amélia põe as mãos no rosto, mais sem graça ainda. Fred começa a rir, e a mãe, olha pra ele surpresa: - Fred, você tá rindo de mim? - Desculpa, mãe, é que você fica tão bonitinha assim, encabulada... tá até vermelha! Relaxa, dona Amélia... tô vendo que esse cara aí só que te fazer cada dia mais feliz. Amélia sorri, olhando para o filho com admiração: - Você é tão compreensivo... - Eu sou um homem apaixonado... sou tão apaixonado pela minha morena quanto o Vitor é por você, tenho certeza. Por isso consigo entender e não ficar com ciúme dessa mãe linda que eu tenho. - Obrigada, filho – ela acarinha o rosto de Fred. Depois Amélia dá um selinho em Vitor e se deixa ficar nos braços dele sem preocupação, enquanto voltam a olhar o projeto da casa. X No dia seguinte Vitor e Fred já confirmam o terreno para construir a casa e encomendam o material. Assim que os alicerces começam a ser feitos, Vitor e Amélia saem em viagem. Começam por Goiânia, depois vão a Belo Horizonte, São Paulo e terminam no Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, depois de fazerem os contatos profissionais, Vitor deixa Amélia descansando no hotel e sai, não demorando muito para voltar. - Querido, onde você estava? – ela pergunta com doçura. - Preparando uma surpresa. Amanhã você vai saber. - Só amanhã? - Calma, meu amor... aguenta só mais umas horinhas. Vou tomar um banho e me arrumar pra gente jantar. Depois vamos dormir cedo, porque amanhã temos que sair assim que o sol nascer. - Você quer me matar de curiosidade? - Não... – Vitor ri, mas depois fica olhando para ela com um olhar sereno – A única coisa que eu quero é fazer de você a mulher mais feliz do mundo. - Você já faz – ela responde, se aproximando e passando os braços em torno do pescoço dele, para terminarem em mais um beijo. Vitor acorda Amélia bem cedo, e eles deixam o hotel. Vão até uma pista de pouso, onde ele anuncia: - Essa é a primeira parte da surpresa. Aluguei um avião pra gente fazer um passeio. - Não é perigoso? – pergunta Amélia, insegura – Você já sofreu um acidente... - Não foi um acidente, você sabe... E acho que sou um bom piloto, porque foi a única vez que eu caí – ele ri – Vamos lá, você não confia em mim? - Claro que eu confio – ela garante, estendendo a mão para ele, que a conduz para dentro do avião.
  • 21. Vitor sobrevoa o Rio de Janeiro. Amélia olha a tudo encantada. Ele segue até Paraty, e sobrevoa essa cidade também. - Nossa, como é lindo aqui... – comenta Amélia com olhos marejados. - Agora vamos ver de perto. Vou pousar, tá? – ele avisa, e desce o avião. Eles passeiam de mãos dadas pelas ruas de pedra de Paraty, onde ainda são preservadas as casas antigas. Amélia não pára de sorrir. - Estou me sentindo na história da Moreninha... – ela comenta. - É um livro, né? Acho que eu li um trecho na escola. - Teve uma novela também, gravada aqui... Mas você nem era nascido ainda. Meu Deus... você não era nem projeto de gente e eu já estava assistindo novela, sonhando em ser a Moreninha! - Será então que eu nasci só pra realizar seus sonhos? – Vitor ri. - Convencido... – Amélia também ri – Mas bem que pode ser verdade, porque você é um verdadeiro presente na minha vida. Ele acaricia o rosto dela, e lhe beija delicadamente os lábios antes de responder: - Eu é que sou um homem de sorte... por ter uma mulher tão especial ao meu lado. À tarde, Vitor leva Amélia até o cais para a segunda parte da surpresa: - Vamos passear de veleiro, e passar a noite no mar. - Sério? Você não existe... – ela responde, emocionada. Eles contemplam a beleza da orla de Paraty, abraçados, na parte de cima do veleiro. Quando a noite cai, descem para a cabine. Vitor sai por um momento e volta com uma garrafa de champagne e duas taças. Entrega as taças para Amélia e abre a champagne. Depois pega uma das taças e olha nos olhos de Amélia: - Meu amor... escolhi esse momento, no meio do mar, nesse lugar maravilhoso, para lhe fazer um pedido. Ela não diz nada, apenas fica esperando, olhando para ele. Vitor continua, pegando a mão dela: - Amélia... você quer casar comigo? As lágrimas brotam nos olhos dela antes que consiga responder: - Quero... quero muito – ela afirma, aproximando os lábios dos dele. Eles trocam um beijo apaixonado. Depois, brindam e tomam um gole de champagne, sem tirar os olhos um do outro. Vitor pega a taça de Amélia e coloca numa mesinha junto com a dele. E então enlaça a amada pela cintura, olhando nos olhos dela: - Eu te amo – ele diz. - Eu te amo também – ela responde. Não falam mais nada, só se entregam aos beijos, ao amor e ao desejo. Amélia e Vitor chegam a Girassol e são recebidos por Jana e Fred. Amélia abraça o filho, que avisa: - A Manu já está chegando aí. Ela olha atentamente para Fred e diz: - Meu filho, você está diferente, com o sorriso mais iluminado do que nunca... Aconteceu alguma coisa?
  • 22. - Aconteceu. Eu e a Jana temos uma notícia maravilhosa pra você - ele abraça a esposa e põe a mão na barriga dela - E essa novidade está aqui. Você vai ser avó, dona Amélia! - Que alegria! - diz Amélia, sorrindo e abraçando o filho de novo. Depois ela abraça a nora, enquanto Vitor dá um tapinha nas costas de Fred: - Parabéns, cara. Nem consigo imaginar o que você está sentindo, deve ser uma emoção indescritível... - É, não tem como explicar. É muita felicidade! Amélia, que ouviu as palavras de Vitor, olha para ele com um ar preocupado, imaginando o que deve estar passando na cabeça dele. Mas não diz nada. Vitor se aproxima e a enlaça com o braço, enquanto anuncia: - Pois nós também temos uma notícia - ele olha para ela - Quer contar ou conto eu? - Pode falar - Amélia responde sorrindo. - É o seguinte: eu pedi essa mulher maravilhosa em casamento e ela aceitou. Antes mesmo da gente chegar aqui eu liguei para o padre Emílio e marquei a data. Vai ser daqui a um mês, quero a cidade toda dentro daquela igreja. - Como assim a cidade toda, Vitor? Você não me disse isso - Amélia reage, surpresa. - Nem é tanta gente assim, né? - ele ri. - Desculpa interromper, mas posso cumprimentar os noivos? - diz Fred, se aproximando e abraçando a mãe - Dona Amélia, espero que você seja muito feliz. - Obrigada, filho... - Amélia fica emocionada. - E eu vou entrar com a senhora na igreja, faço questão. - Obrigada... - repete Amélia, sorrindo e acarinhando o rosto do filho. Depois Fred se dirige a Vitor: - Eu já lhe falei isso uma vez, mas vou repetir: cuida bem dela. - Não precisa nem pedir, Fred. - Que bom - Fred sorri, mas logo muda para uma expressão enigmática - Achei que você ia me pedir a mão da dona Amélia. - Até pensei nisso... mas você permitindo ou não, eu caso com ela do mesmo jeito - retruca Vitor, rindo. Fred também ri. Jana segura as mãos da sogra, dizendo: - Fico muito feliz por você. Amélia sorri e abraça a nora. Depois, Jana continua: - Eu sei que você é uma mulher chique, acostumada a vestir só coisa fina... mas eu gostaria de poder fazer seu vestido de noiva. Queria lhe dar esse presente. - Jana... eu vou adorar - garante Amélia. - Sério? - Claro... Você é uma costureira tão talentosa, tenho certeza que meu vestido vai ficar lindo. Amanhã mesmo vou trazer umas revistas para nós escolhermos o modelo, depois podemos ir juntas a Juruanã comprar o tecido. - Vai ser uma honra costurar pra você. - Que é isso... Fred interrompe: - Vocês vão ficar nesse papo de mulherzinha e nos deixar de lado?
  • 23. - É isso aí, Fred, apoiado - ajuda Vitor. As duas riem, e Jana comenta: - Esses nossos meninos são tão carentes, né, Amélia? - Pois é... - Amélia fala mais baixo - Mas bem que a gente gosta, não é mesmo? XI Fred leva Amélia e Vitor para verem a casa deles, que já está pronta e praticamente mobiliada. - Eu trouxe alguns móveis lá da fazenda, a Jana me ajudou a comprar algumas coisas. Só o básico, para vocês já poderem ficar aqui. Ah, a Mané Magrela ajudou também nos detalhes finais – explica Fred. - Nossa, filho... como vou agradecer a vocês? – comenta Amélia, emocionada. - Não precisa... é um presente dos seus filhos, que lhe amam muito – ele abraça a mãe com carinho – Agora vou deixar vocês curtirem a casa. - Valeu, cara. Nem imaginava que ia chegar e encontrar a casa já assim – diz Vitor, dando um tapinha nas costas de Fred. - De nada – ele sorri, e vai embora. Amélia e Vitor entram no quarto. Ele vai direto para a janela, e comenta: - Olha lá o rio... nos esperando. Mas Amélia, séria, senta sobre a cama e pede: - Senta aqui um pouquinho, Vitor? - Claro... que foi? - ele responde, preocupado, enquanto senta perto dela. Ela suspira antes de falar. - Eu percebi o quanto você ficou mexido com a notícia da gravidez da Janaína. Dava pra ver no seu olhar o desejo de viver a emoção de ser pai. - Amélia... não se preocupa com isso... - ele diz com ternura. - Querido... eu não sou mais uma mocinha, não sei se vou conseguir te dar um filho. Vitor interrompe: - Nunca lhe cobrei isso. - Eu sei. Mas você sonha em ser pai, não sonha? - Sim, sempre sonhei em ter filhos, formar uma família... Não posso mentir. Mas... - ele pega as mãos dela e a olha nos olhos - o nosso amor é tão grande que jamais me sentirei vazio, mesmo sem filhos. - Vitor... eu te amo - ela responde com os olhos marejados - Acho que são poucas as chances, mas eu desejo muito que nós sejamos abençoados com um bebê. Ele olha demoradamente para Amélia, depois abre um sorriso um tanto malicioso: - Então precisamos tentar bastante... Ela sorri, e Vitor a toma nos braços, beijando-a intensamente. E com cuidado vai deitando Amélia sobre a cama, e encaixando seu corpo sobre o dela. Alguns dias depois, Amélia vai fazer a primeira prova do vestido. Enquanto Jana faz as marcações com alfinetes, Amélia pergunta: - E como vai meu netinho, ou netinha? - Bem... está sendo uma gravidez tão tranquila, mais do que foi a do Bruno. Não sinto nem enjôo, nada!
  • 24. - Que bom. Eu enjoava bastante. Quando estava esperando o Fred nem tanto, mas a Manu... nossa, enjoava com tudo. Jana se afasta um pouco para Amélia se olhar no espelho e pergunta: - Então, tá bom assim? Amélia dá uma voltinha, tentando analisar todos os lados do vestido: - Está ótimo! Jana dá um suspiro, misto de alívio e satisfação. E avisa: - Deixa eu lhe ajudar a tirar, para você não se espetar com os alfinetes. Enquanto Jana a ajuda a tirar o vestido, Amélia sente um enjôo. - É bem forte esse seu perfume... - ela comenta quase sem pensar. - É o que eu sempre uso - estranha Jana, olhando para a sogra. Ela percebe que Amélia está com expressão de náusea. Amélia termina de se vestir e senta, baixando a cabeça. - Amélia, que você está sentindo? - Estou um pouco enjoada, só isso. Já vai passar - ela responde, respirando fundo - Já está passando. - Você tem sentido enjôos? - Faz uns três dias... - ela confessa, meio encabulada. Jana sorri: - Será... que você tá grávida? - Imagina, eu grávida nessa idade? É pouco provável... - Mas a probabilidade existe, não existe? - Sim - Amélia põe a mão sobre a barriga - Deus queira que eu consiga dar essa alegria para o Vitor. - Você vai, tenho certeza. Amélia sorri para a nora, e a abraça. Mas logo se afasta levando a mão à boca, tentando conter a náusea que volta, e rindo ao mesmo tempo. Passam-se mais alguns dias. Amélia e Vitor vão até a estalagem falar com Terê. - Que bom ver vocês! – diz a vidente, assim que eles entram. - Viemos fazer um convite – avisa Amélia – Queremos que você seja nossa madrinha de casamento. - Minha madrinha, tá? – retruca Vitor, abraçando Terê com carinho – Amélia, você tem a Manu, o Fred... eu não tenho ninguém. E você, Terê, é quase como uma mãe pra mim. - Ah, assim eu fico emocionada... – responde a vidente – Claro que eu aceito, meu filho. - Que bom! O Neca está por aí? Quero convidar ele e a Glorinha também – comunica Vitor. - Deve estar lá em cima, no quarto. Sobe lá. - Vai, que eu espero aqui – diz Amélia. Vitor sobe as escadas, e Terê abre os abraços: - Dá cá um abraço, minha amiga... Ao abraçar Amélia, ela sente o que está acontecendo. - Amélia... você está... – Terê não termina a frase, apenas olha para o ventre da amiga. Amélia põe as mãos na barriga, e diz baixinho:
  • 25. - Acho que sim... Ainda não fiz o exame, to com medo de ser um alarme falso... na minha idade é difícil acontecer. Não conta pra ninguém antes de eu ter certeza? - Pois eu já tenho certeza – a vidente responde, sorrindo – Vai logo fazer esse exame, Amélia... O Vitor vai ficar tão feliz quando souber... - Vai mesmo – Amélia também sorri, imaginando a reação de Vitor. Depois pega nas mãos de Terê e pergunta – O que você viu? Vai dar tudo certo, correr tudo bem? Uma gravidez nessa idade tem muitos riscos... - Fica tranquila, minha amiga. Esse bebê está sendo gerado com tanto amor que nada de mal pode acontecer. Fica tranquila – garante a vidente. Amélia procura o médico e faz um exame de sangue. Logo recebe a confirmação: está mesmo grávida. Mas leva alguns dias para conseguir dar a notícia a Vitor, porque o medo de não conseguir segurar a gravidez ainda ronda a cabeça dela. Na noite antes do casamento, Amélia e Vitor estão deitados na cama, ela com a cabeça sobre o peito dele, ele acarinhando os cabelos dela. - Você está nervoso pra amanhã? - Amélia pergunta. - Com um pouquinho de frio na barriga... mas tô muito feliz - ele sorri. - Eu também. Pra essa felicidade ser completa só falta um filho, né? - Amélia, eu já disse... Ela interrompe: - Não falta mais. - O quê? - ele pergunta, surpreso, olhando para ela. Amélia senta na cama, pega a mão de Vitor e coloca sobre a barriga dela. - Amélia... - ele murmura, os olhos ficando marejados. Ela balança a cabeça afirmativamente: - É... vou poder te dar o melhor presente que você já recebeu... Tá aqui dentro. Vitor abraça Amélia com força e lhe dá vários beijos nos lábios, enquanto lágrimas começam a correr por seu rosto. E finalmente enche a barriga dela de beijos. XII Vitor vê Amélia entrar na igreja, sendo conduzida por Fred, e sente os olhos encherem d’água. Quando Fred lhe entrega Amélia, as lágrimas já estão escorrendo pelo rosto de Vitor. Ela também está visivelmente emocionada, mas tenta se conter, e passa os dedos delicadamente no rosto dele, enxugando as lágrimas do noivo. Vitor sorri, e eles se ajoelham diante do padre, que abençoa a união. Depois da cerimônia todos vão para a casa de shows, onde foi preparada a festa. Quando Amélia e Vitor chegam no meio do salão, uma chuva de pétalas de rosas cai sobre eles. - Vitor... que lindo! – exclama Amélia, com os olhos marejados. - Essa ideia não foi minha... mais uma surpresa do seu filho. Mas confesso que eu já sabia, ele perguntou o que eu achava, se você ia gostar... - Como eu não gostaria? - Ah, é? – ele se dirige a Fred – Tem como soltar mais um pouco? Fred confirma com a cabeça, logo as pétalas voltar a cair. Então Vitor toma Amélia nos braços e a beija apaixonadamente, até a chuva de rosas terminar.
  • 26. Logo depois, enquanto estão todos aproveitando a festa, Vitor chama Manu e Fred para um canto. - Acho que vocês têm que ser os primeiros a saber. A família vai aumentar – Vitor diz, enquanto põe a mão sobre a barriga de Amélia. Manu troca um olhar cúmplice com a mãe, e Fred pergunta, surpreso: - Como? Você tá esperando um bebê, mãe? - Isso mesmo – ela confirma - Que bacana... parabéns – ele deseja, dando um beijo na mãe. Só então Manu abraça a mãe com carinho. E Vitor se dá conta de que ela não ficou surpresa. - Peraí, Manu... você já sabia? - A Manu me acompanhou no exame de sangue – esclarece Amélia. - É, eu soube já faz uns dias – a filha confirma. - E por que você não me contou antes, Amélia? – reclama Vitor. - Eu estava com medo, queria ter absoluta certeza antes de te contar. Ainda tô com medo, porque a gravidez tá no comecinho... - Meu amor... eu tô com você pro que der e vier, não se preocupa. Mas não vamos pensar no pior. Vamos curtir essa alegria... – ele diz com ternura, e depois começa a rir - Gente, eu vou ser pai! Os meses passam, e Fred e Jana descobrem que esperam uma menina. Algumas semanas depois, é Amélia quem vai a Juruanã fazer a ultrassonografia. Quando ela e Vitor chegam em Girassol, vão direto ao armazém de Jana, onde ela e Fred aguardam notícias. - Também estou esperando uma menina! – conta Amélia, assim que vê a nora. - Que bom! Nossas menininhas vão crescer juntas, serão muito amigas... - comenta Jana. Amélia sorri, e Fred comenta com Vitor: - E nós vamos ter problemas no futuro, meu amigo... Melhor a gente ir preparando munição desde agora, para espantar os gaviões. Vitor dá uma risada antes de responder: - Pra quê sofrer por antecipação, cara? Nem quero pensar nisso tão cedo... - ele acarinha a barriga de Amélia - Agora só quero curtir essa barriga, depois embalar minha filha, trocar fralda... só não vou amamentar porque não dá, né? Amélia olha para ele com ar de encantamento. Depois de alguns instantes, pede: - Querido, me alcança as sacolas? – enquanto Vitor a atende, ela se dirige a Jana – Comprei umas roupinhas lindas para nossas meninas, um vestidinho mais lindo que o outro. - Vamos olhar lá em casa, é melhor – sugere Jana, começando a subir a escada. Fred vai atrás: - Cuidado com essa escada, sobe devagar. Amélia também vai subindo, com Vitor ao lado: - Calma, meu amor, devagar. Quando entram na sala, Vitor diz a Amélia: - É melhor você sentar, já fez muito esforço subindo essa escada. - Você também, morena, descansa um pouco – recomenda Fred.
  • 27. Amélia e Jana sentam no sofá e trocam um olhar cúmplice, caindo na risada em seguida. - Vitor, impressão minha ou elas estão rindo da nossa cara? – questiona Fred. - É, também tô achando isso. A gente fica preocupado e elas acham graça? – concorda o outro. Amélia pára de rir e explica com doçura: - Não precisa tanta preocupação... Não estamos doentes, só grávidas. E já passamos por tudo isso antes, sabemos os cuidados que devemos tomar, não é, Jana? - Isso mesmo. - É, só que vocês não são mais mocinhas, precisam de mais cuidados agora – retruca Fred, num impulso. Vitor olha para ele com cara de quem pensa “você não precisava ter falado isso”. Fred se dá conta do que disse e fica sem graça: - Tá, foi mal... me desculpem... sou um bobo mesmo. Somos dois, né, Vitor? – ele termina rindo. - É, sou um bobo, sim – Vitor responde, se aproximando de Amélia – Um bobo de amor – ele acrescenta, e beija a barriga dela com carinho. Mais tarde, Manu visita a mãe e fica sabendo que vai ganhar uma irmãzinha. - Adorei a notícia! Vocês já escolheram o nome? - Ainda não... sabe que nem tive muito tempo pra pensar nisso? – comenta Amélia. - Eu já dei algumas ideias, mas a Amélia não gostou de nenhuma – retruca Vitor. Manu fica pensativa, depois pergunta: - Posso dar uma sugestão? - Claro! – Amélia e Vitor dizem ao mesmo tempo. - Que vocês acham de Maria Vitória? Maria, que é o primeiro nome da dona Amélia, e Vitória, feminino de Vitor. - Perfeito! – exclama Vitor – Não é perfeito, amor? - É, sim – Amélia sorri – Maria Vitória... gostei – ela põe a mão na barriga – E acho que ela também gostou, tá se mexendo aqui. Vitor coloca a mão na barriga de Amélia, sentindo a filha se mexer. Depois aproxima os lábios da barriga da esposa e diz: - Maria Vitória... o papai tá aqui, te esperando. Amo você, viu? XIII Completa-se o tempo de Janaína, e ela entra em trabalho de parto. Fred leva a esposa para o hospital de Juruanã, e Amélia fica em Girassol, aflita. - Calma, meu amor, daqui a pouco o Fred liga. - Eu sei, mas queria estar lá com meu filho. - Entendo, amor, mas o médico disse pra você ficar de repouso, senão nossa menina nasce antes da hora. Amélia suspira: - Ainda bem que falta pouco. Essa barriga está pesada, viu? - Você está tão linda... - Assim, com esse barrigão? Só você mesmo...
  • 28. Vitor fica alternando carinhos na barriga de Amélia com beijos nos lábios dela. No dia seguinte, Amélia insiste para ir até o hospital conhecer a neta. - Tá bom, a gente vai – concorda Vitor – Mas devagar, você não pode fazer nenhum esforço. Amélia fica muito emocionada ao ver a netinha: - Como é linda... De repente, ela põe a mão na parte mais baixa da barriga e solta um gemido: - Ai... - Que foi, amor? – pergunta Vitor, preocupado. - Senti uma dor aqui... Ai... de novo... Acho que nossa menina não quer mais esperar... - Meu Deus – exclama Vitor, saindo depressa ao corredor – Um médico, por favor, um médico! Uma enfermeira atende e pede para aguardar. Logo volta com uma cadeira de rodas, e Amélia é levada para a sala de parto. Vitor vai o tempo todo segurando a mão dela. O obstetra examina Amélia e avisa: - Não tem mais como segurar. A cabecinha da criança já está aparecendo. Ela está de quantas semanas? - Trinta e quatro – responde Vitor, quase gaguejando de tão nervoso. - Fica tranquilo, papai. Sua filha se apressou um pouquinho mas vai ficar bem – garante o médico, se posicionando para segurar a criança – Vamos lá, Amélia, um pouco mais de força! Logo o choro de Maria Vitória ecoa pela sala de parto. E as lágrimas escorrem pelo rosto de Vitor, que murmura: - Nossa filha nasceu, meu amor, nossa filha nasceu... Depois dos primeiros cuidados, a menina é colocada nos braços de Amélia por alguns instantes: - Filha... – é só o que ela consegue murmurar, com a voz embargada. Vitor toca no rosto da menina, pega na mãozinha dela, sem parar de chorar, sem conseguir falar de tão emocionado. Fica quase como num transe, do qual só desperta quando uma enfermeira volta para pegar a criança: - Desculpa, mas preciso levá-la para alguns exames. Mas apesar de prematura ela parece bem forte, não se preocupem. Vitor e Amélia olham a enfermeira se afastar com a menina. Só então Vitor beija suavemente os lábios de Amélia e diz: - Ela é linda, né? - Muito... - E você, está bem? - Cansada... mas tão feliz... - Meu amor... – ele acaricia os cabelos dela com uma mão, enquanto enxuga as próprias lágrimas com a outra. Devido ao parto prematuro, Maria Vitória passa a primeira noite de sua vida em observação no berçário. Mas Amélia e Vitor já haviam sido avisados que a menina nascera com bom peso e boas condições de saúde, nem iria precisar da incubadora. À tarde, mal completando 24 horas de vida, a menina já é liberada para ficar no quarto com a mãe.
  • 29. Amélia e Vitor estão contemplando o sono da filha quando Fred e Jana entram no quarto. - Olha quem veio se despedir da vovó... Já recebemos alta, estamos indo pra casa – avisa Jana, que carrega a filha nos braços. Amélia sorri e pede: - Posso pegar ela um pouquinho? - Claro! – responde Jana, entregando a nenê nos braços de Amélia, que aproxima a netinha de Maria Vitória e olha para as duas juntas. E então abre um sorriso maior ainda. - É tanta felicidade que eu nem sei o que dizer... – comenta Amélia. Em poucos dias Amélia e Vitor estão de volta a Girassol com Maria Vitória, e marcam logo o batizado da menina. Manu e Fred são os padrinhos. Antes dos ritos, padre Emílio diz: - É com muita alegria que vou batizar essa criança. Ela é o fruto, é o símbolo de um amor que desafiou convenções e preconceitos, que precisou superar muitos obstáculos, mas nunca perdeu a força. Um amor verdadeiro... um amor que transformou profundamente essas duas vidas, fazendo que encontrassem a direção da felicidade. É por terem acreditado nesse amor que Amélia e Vitor estão aqui hoje, trazendo nos braços a maior benção que poderiam receber, e plenamente felizes. Meus filhos, mirem-se neste exemplo, acreditem no amor. Os olhos de Amélia e Vitor vão ficando marejados conforme o padre fala. Manu e Fred também se emocionam. - Eu te batizo, Maria Vitória Vilar, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo – concluiu padre Emílio, derramando água na cabeça na menina. O batizado de Maria Vitória é comemorado com um almoço na casa de Amélia e Vitor. Depois que todos vão embora, Amélia coloca a menina no berço, e fica contemplando o sono da filha. Vitor se aproxima, abraça a esposa, e fica olhando para a filha também. Ficam assim por alguns instantes, até que ele solta um suspiro e comenta: - É tanta felicidade que até dá medo... - Medo de quê? - De isso tudo acabar, de perder você... de perder vocês duas. - Vitor... não pensa nisso – ela olha nos olhos dele - Nosso amor é mais forte que tudo, lembra? - É verdade... Nada pode nos tirar um do outro. - Isso mesmo. Te amo tanto que acho que vou continuar te amando mesmo quando não estiver mais nesse corpo. - Com certeza. Nós somos almas gêmeas, metades que se completam... Amélia sorri, emocionada, e apenas murmura, com os olhos fixos nos olhos dele: - Meu amor... - Meu amor... – retribui Vitor. Eles aproximam os lábios e trocam um beijo delicado mas muito apaixonado. Depois olham para a filha novamente, e murmuram juntos: - Nosso amor... E continuam abraçados, contemplando Maria Vitória, que dorme o sono tranquilo de quem é muito amada. FIM