1. O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas
décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance
brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da
análise crítica da realidade.
O quadro social, econômico e político que se
verificava no Brasil e no mundo no início da
década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa
de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao
socialismo – exigia dos artistas uma nova postura
diante da realidade, nova posição ideológica.
2.
Na prosa, foi evidente o interesse por temas
nacionais, uma linguagem mais brasileira, com
um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo
Realismo – Naturalismo do século XIX.
O
romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino,
onde problemas como a seca, a migração, os problemas do
trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados.
Além do regionalismo, destacaram-se também outras
temáticas, surgiu o romance urbano e psicológico, o romance
poético-metafísico e a narrativa surrealista.
3. A poesia da 2ª fase modernista percorreu um
caminho de amadurecimento. No aspecto formal, o
verso livre foi o melhor recurso para exprimir
sensibilidade do novo tempo, se caracteriza como
uma poesia de questionamento: da existência
humana, do sentimento de “estar-no-mundo”,
inquietação social, religiosa, filosófica e amorosa.
4. Soneto de FidelidadeDe tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
5. A rua dos cata ventos
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,Foram levando qualquer coisa
minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Mario Quintana. (Alegrete RS, 1906 - Porto Alegre RS,
1994)
6. O Pastor PianistaSoltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
Murilo Mendes
7. Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,que se refugiou mais abaixo dos
subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
Não cantaremos o ódio porque esse não existe,
Existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
O medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
O medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
Cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,c
Anta remos o medo da morte e o medo de depois da morte,
Depois morreremos de medo
E sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Carlos Drummond de Andrade
8. Depois do sol...
Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .
Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!
Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .
Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora
Pelos silêncios a sonhar...
Cecília Meireles
9. A prosa de 1930 é chamada de Neo-realisto pela
retomada de alguns aspectos do Realismo-
Naturalismo, contudo, com características
particulares preservadas.A literatura estava voltada
para a realidade brasileira como forma de manifestar
as então recentes crises sociais e inquietações da
implantação do Estado Novo do governo Vargas e da
Primeira Guerra Mundial.Os romancistas
observavam com olhos críticos a realidade brasileira,
as relações entre o homem e a sociedade. Pelo fato de
os romancistas deste período adotarem como
componente o lado emocional das personagens, esta
fase se diferenciou do Naturalismo, onde este item
foi descartado.A produção literária dessa fase pode
ser dividida em três tipos de prosa:
10. • Regionalista: tendência originada no Romantismo e
adotada pelos naturalistas e pré-modernistas, na qual
o tema é o regionalismo do nordeste, a miséria, a seca
e o descaso dos políticos com esse estado. Essa
propensão tem início com o romance A bagaceira, de
José Américo de Almeida, em 1928. Os principais
autores regionalistas são: José Lins do Rego, Jorge
Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos.
11. • Urbana: tendência na qual a temática é a vida
das grandes cidades, o homem da cidade e os
problemas sociais, o homem e a sociedade, o
homem e o meio em que vive. O principal
autor é Érico Veríssimo, no início de sua
carreira.
12. • Intimista: tendência influenciada pela teoria
psicanalítica de Freud e de outras correntes da
psicologia. Tem como tema o mundo interior. É
também chamada de prosa “de sondagem
psicológica”. Os principais autores são: Lúcio
Cardoso, Clarice Lispector, Cornélio Pena,
Otávio de Faria e Dionélio Machado.