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              OBSCURIDADES PROFÉTICAS


A tarefa de interpretar as estrofes proféticas de Nostradamus fica
ainda mais difícil por causa do uso deliberado que o vidente fez de
expressões complicadas e obscuras, de neologismos (palavras
inventadas) derivados do grego e do latim e de anagramas às
vezes completos (como, por exemplo, na substituição de Paris por
"Rapis"), mas mais freqüentemente apenas parciais.
O francês original da quadra que previa a fuga de Luís XVI e sua
consorte contém dois anagramas parciais típicos. Um deles é
"Heme", um anagrama parcial de reine (rainha), com a
transmutação da letra "i" em "h", a letra anterior do alfabeto; o outro
é "noir" (negro), uma distorção usada algumas vezes nas Centúrias
para se referir à palavra francesa rei - roi.
http://groups.google.com.br/group/digitalsource
A profecia confirmada de Nostradamus, referente à tentativa de
fuga de Luís XVI e Maria Antonieta da França (ver páginas 73-5)
não foi de modo algum a única previsão nas Centúrias e outros
escritos do vidente relacionados com a Revolução Francesa de
1789 e os acontecimentos que sucederam a ela no período de
1790 até 1815. De fato, se há um tema dominante nas Centúrias,
esse tema é a Revolução. Das menos de mil quadras que formam
a versão final dessa estranha obra, pelo menos quarenta parecem
relacionar-se com a história francesa durante o período da Primeira
República e o Império Napoleônico que a sucedeu.
Verdade que essas quarenta quadras são só um pouco mais do
que 4% do total, mas os anos referidos nesses 4% somam apenas
cerca de um quarto de século, ao passo que as Centúrias lidam
com previsão de eventos que ocorreriam entre a época do vidente
e uma data subseqüente ao ano 3000 d.C. - uma proporção
espantosamente alta.




Nem todas as quarenta "estrofes revolucionárias" são tão
específicas quanto a Centúria IX, Quadra 20 (ver página 73), ou
outras profecias tratadas adiante. Algumas delas são de natureza
bem geral - isto é, embora pareçam, sob todos os aspectos,
aplicáveis à Revolução, é possível que se relacionem, ao contrário
(ou também, pois Nostradamus tinha a artimanha de escrever
profecias relativas a mais de um acontecimento), a acontecimentos
da história francesa que ainda não ocorreram. Exemplo típico disso
é a Centúria VI, Quadra 23:




       Defesas [do reino] minadas pelo espírito do Reino,
             O povo será agitado contra seu Rei,
         A paz recém-feita, Leis Sagradas degeneram,
      Nunca esteve Rapis [Paris] em tão grande tribulação.

A estrofe se ajusta aos primeiros anos da Revolução melhor de
que a qualquer outra época, mas poderia ser uma profecia dupla
ou mesmo tripla, que não se aplicasse somente ao tempo da
Revolução mas também a acontecimentos passados durante a
minoridade de Luís XIV e a coisas destinadas a ocorrer em nosso
futuro.
Outra predição dupla pode ser encontrada na Centúria I, Quadra
53, que parece ser prenunciadora de eventos muito similares que
ocorreram devido à Revolução Francesa e à Revolução Russa. Em
tradução livre, essa profecia dupla diz:

           Veremos um grande povo atormentado,
                E a Lei Sagrada em total ruína,
          A cristandade sob outras leis [não-cristãs]
     Quando uma nova fonte de ouro e prata [i.e., dinheiro] é
                         encontrada.
A quadra parece se referir tanto à supressão do catolicismo na
França, no início da década de 1790 (ver quadro na página
seguinte), como à ainda mais selvagem supressão da ortodoxia
russa, que se seguiu à Revolução Bolchevique de 1917. A última
linha também é importante, no sentido de que tanto os
revolucionários franceses quanto os russos encontraram "uma
nova fonte de dinheiro" imprimindo grande quantidade de papel
moeda, que rapidamente se depreciou e acabou se tornando
praticamente sem valor.

Teria sido o duplo significado dessa quadra - a referência a
acontecimentos semelhantes em duas revoluções diferentes -
intencional? Ou isso mostra que os comentaristas de Nostradamus
torcem o significado dos versos para adaptá-los a acontecimentos
específicos?

A resposta à primeira questão parece ser "sim"; e a resposta à
segunda, um "não" igualmente decidido, pois Nostradamus tornou
claro, nas duas linhas que vêm imediatamente após essa quadra,
que estivera fazendo referência a duas revoluções:

      Duas revoluções serão causados pelo funesto ceifeiro,
       Fazendo uma mudança de reinados e de séculos [...]

Com a expressão "funesto ceifeiro", o vidente quis dizer planeta
Saturno - o "Grande Maléfico" da astrologia do século 16 -, cujos
símbolos são a ampulheta e a gadanha (foice de cabo comprido).
Nessas duas linhas ele alegou que, em última análise, influências
saturnianas causariam as duas revoluções, a francesa e a russa.
CERA E MEL
Nostradamus fez ainda outra previsão com relação à perseguição
do clero católico da França durante o começo da década de 1790,
na Centúria I, Quadra 44:

 Em pouco tempo, sacrifícios [não-cristãos] serão ressuscitados,
           Os que se opuserem serão martirizados.
       Não haverá mais monges, abades nem noviços,
             O mel custará mais do que a cera.

Tradicionalmente, o preço da cera de abelha ultrapassava o do
mel; portanto, com a última linha, Nostradamus estava dando a
entender que o preço da cera cairia durante um período de
perseguição religiosa, porque não haveria mais tanta demanda
para a fabricação de velas votivas e de altar. A linha anterior se
refere à supressão das ordens monásticas e outras ordens
religiosas, em conseqüência da adoção da Constituição de 1790 e
de outras inovações legislativas.
Os que se opuseram a essas mudanças de fato foram
martirizados, como profetizado.
A menção à reinstituição de sacrifícios pagãos, na abertura da
quadra, é uma referência aos ritos pseudo-religiosos que foram
temporariamente introduzidos na França pelos revolucionários
mais extremistas. As mais notáveis dessas cerimônias foram a
homenagem à "deusa da Razão" (10 de novembro de 1793) e o
absurdo "Festival do Ser Supremo", que foi orquestrado por
Robespierre.
Embora muitas quadras das Centúrias possam ter parecido
obscuras para os primeiros intérpretes, elas foram depois
esclarecidas pela passagem dos acontecimentos históricos.
Exemplo de tal caso é a Centúria IX, Quadra 34:

         O consorte solitário no casamento será mitrado
            No retorno, prosseguirá a luta na thuille,
           Por quinhentos, um dignificado será traído,
        Narbone e Saulce, teremos óleo para as lâminas.

Enquanto Narbone pode significar "a cidade de Narbonne", para os
primeiros nostradamianos "thuille" parecia ser ou um dos
neologismos do vidente ou uma grafia incomum da palavra "telhas"
- ou, opcionalmente, "fornos de telhas". Em um caso ou outro,
nenhum comentarista das quadras poderia extrair sentido dessa
profecia durante cerca de 250 anos após sua publicação.
Um estudioso de Nostradamus do século 17 fez uma valente
tentativa de interpretação. Tomando "thuille" como a versão
ligeiramente distorcida da palavra francesa que significa "telhas",
ele assim traduziu a estrofe:

              O marido separado usará uma mitra,
       Retornando da batalha, ele passará sobre as telhas,
           Por quinhentos, um dignificado será traído,
            Narbone e Saulce terão óleo aos quintais.

1. N. da T.: Em todo este capítulo, se tratará das palavras
francesas tuile (telhas) e tuilerie (telheira ou fábrica de telhas). O
nome "Palácio das Tulherias", corretamente traduzido, seria
"Palácio das Telheiras".

2. N. da T.: Quintal: antiga medida de peso, equivalente a quatro
arrobas ou cerca de 60 kg.
Eis a interpretação dele para essa quadra: ''A estrofe significa que
um certo homem casado será separado de sua mulher e obterá
certa posição eclesiástica [...] voltando de algum lugar ou
empreendimento, ele será aguardado e combatido, e obrigado a
fugir por sobre o telhado de uma casa [...] um homem de grande
apreço será traído por quinhentos de seus homens [...] quando
ocorrerem essas coisas, Narbon e Saulce [...] ceifarão [i.e.,
colherão] e farão grande quantidade de óleo".
Engenhoso, sem dúvida, mas bem pouco provável. Por singular
que a Igreja possa ter sido sob alguns aspectos no século 17, era
muito improvável que um homem, depois de se separar de sua
esposa, obtivesse alto posto no clero e então fosse "aguardado e
combatido" e escapasse de seus agressores saltando por cima de
telhados.
Entretanto, as obscuridades aparentemente sem significado dessa
quadra ganharam sentido em 1791 e 1792. Em junho do primeiro
ano, o rei da França, Luís XVI, e sua consorte, Maria Antonieta,
fizeram sua tentativa de fugir da França revolucionária (ver páginas
73-5). A coisa foi malfeita desde o início, pois todo o grupo real,
inclusive o rei e a rainha, viajava junto em uma gigantesca e
pesada carruagem que no caminho quase obrigatoriamente
chamava atenção para seus ocupantes.
Na cidadezinha de St. Menehoulde, um homem chamado Drouet
percebeu que um dos homens da carruagem tinha um rosto que
lembrava a aparência do rei tal como retratado em um "assinado"
(papel-moeda garantido por terras tomadas da Igreja) de 50 libras.
Em Varennes o grupo foi interceptado e preso, principalmente por
obra das atividades de um homem chamado Saulce, um
comerciante de velas, comestíveis e óleo - cujo nome e ocupação
aponta para o Saulces mencionado na última linha da quadra, em
associação com óleo.
O restante da quadra também se aplica muito bem à fuga de Luís
XVI e aos acontecimentos que vieram logo depois. A primeira linha
diz "o consorte solitário no casamento será mitrado" e após seu
retorno de Varennes para Paris o rei era tanto "mitrado" quanto um
"consorte solitário no casamento" - isso porque ele estava
politicamente cada vez mais isolado de seus próprios conselheiros
e de Maria Antonieta, que era ela mesma um fantoche de seu
reacionário conselheiro sueco, o conde Hans Axel von Fersen, um
homem cuja influência política foi desastrosa. E ele foi mitrado de
forma literal em 20 de junho de 1792, quando uma multidão invadiu
o Palácio das Tulherias e obrigou o monarca a colocar a bonnet
rouge, a boina vermelha da Liberdade, que tinha o molde da mitra
frígia usada na antiguidade.
E o que dizer do significado das linhas seguintes da quadra, "No
retorno, prosseguirá a luta na thuille" e "Por quinhentos, um
dignificado será traído"?
Como será descrito nas páginas 85-8, o cenário da luta que se deu
em 10 de agosto de 1792 e resultou na deposição do rei logo
depois foi o Palácio das Tulherias. Esse palácio, que não estava
sendo construído nem, ao que se saiba, sequer planejado na
época da publicação das Centúrias, foi erigido em um local que
tinha sido anteriormente ocupado por pelo menos um forno de
queima de telhas - a "thuille" citada na quadra.
E assim a luta de fato prosseguiu no forno de telhas em seguida ao
retorno de Luís XVI a Paris, após sua fuga malograda. Naquele
que fora, dois séculos antes, um lugar onde montinhos de cerâmica
tinham sido queimados para se transformar em telhas que cobriram
os telhados de Paris, uma nova ideologia moldada pelos teóricos
jacobinos foi queimada no calor da batalha para se tornar a
República Francesa.
E os "quinhentos" que, segundo a profecia, trairiam "um
dignificado"?
O dignificado era o rei; os "quinhentos" que o traíram eram
provavelmente os "federais" marselheses que participaram da luta
nas Tulherias, pois, de acordo com o historiador do século 19 Louis
Thiers (1797-1877), "ils étaient cinq cents" - eles eram quinhentos.
Nostradamus prefaciou a primeira edição das Centúrias com uma
Epístola a Henrique II em palavras apocalípticas. É tal o tom da
linguagem em que a maior parte dela está escrita que os céticos
afirmam que ela não passa de um catálogo de desastres, vago e
até sem sentido, do qual seções inteiras podem ser distorcidas por
intérpretes engenhosos de forma que possam ser aplicadas a
qualquer evento desagradável que tenha ocorrido nos últimos
quatrocentos anos.
Entretanto, há profecias significativas e absolutamente específicas
na Epístola que definitivamente foram confirmadas pelo curso da
história. Uma, em especial, é de enorme interesse porque
especifica o ano - 1792 - de um grande acontecimento. A
respectiva passagem diz o seguinte:

Então haverá o começo [de uma era] que conterá em si mesmo
[padrões de comportamento e pensamento, a maneira como as
pessoas olham para o mundo] que durará muito tempo, e em seu
primeiro ano haverá grande perseguição da Igreja Cristã, mais
feroz do que aquela da África [quase certamente uma referência
histórica à selvagem perseguição vândala contra a Igreja que
ocorreu no norte da África no século 5], e isso irromperá durante o
ano Um Mil, Setecentos e Noventa e Dois.




Não se pode negar que estava correta a profecia de Nostradamus
de que os acontecimentos de 1792 inaugurariam urna nova era. Se
algum ano pode ser visto corno o marco do início da era em que
hoje vivemos, esse é o ano de 1792 - muito mais do que outros
candidatos a essa duvidosa honra, como 1776, quando as colônias
britânicas da América do Norte declararam sua independência da
terra-mãe, ou 1789, quando Luís XVI convocou o Estado Geral. O
acontecimento que, acima de tudo o mais, marca 1792 dentre
todos os anos aconteceu em 10 de agosto, quando a assim
chamada multidão atacou as Tulherias, que se tornara a casa da
família real francesa depois que ela fora retirada de Versalhes. Na
realidade, o ataque foi um movimento cuidadosamente organizado,
brilhantemente planejado por um comitê insurreicionista que estava
principalmente sob controle dos jacobinos, a extrema esquerda do
movimento revolucionário, que trabalhou em íntima colaboração
com grupos extremistas de Brest e Marselha.
As conseqüências imediatas do ataque compreenderam: a morte,
em batalha corpo a corpo, de quatrocentos insurrectos e oitocentos
soldados das forças reais; o rei foi primeiro suspenso do trono,
depois deposto e finalmente executado; os horríveis massacres de
setembro, em que muitas centenas de presos, clérigos, homens e
mulheres da aristocracia, monarquistas plebeus - até prostitutas e
pequenos criminosos - foram chacinados pelos aliados "sans-
culottes" dos jacobinos da classe média; e a comuna de Paris se
tornou, em tudo menos no nome, o governo central da França.
As conseqüências da bem-sucedida insurreição que se deu
naquela tarde quente de agosto de 1792 afetaram, e ainda estão
afetando, a vida de cada um de nós. Qualquer tentativa de
rememorar todas elas estaria totalmente fora do âmbito de um livro
como este. Basta dizer que aqueles acontecimentos que se deram
em Paris em 1792 - dos quais Nostradamus parece ter tido
vislumbres mediúnicos cerca de 250 anos antes - levaram
diretamente à emergência de ideologias que em grande parte
dominaram a política mundial por mais de dois séculos:
secularismo, nacionalismo, democracia revolucionária e socialismo.
Há ainda um outro ponto a mencionar no que se refere à previsão
de que 1792 marcaria o início de uma nova era.
Naquele ano os revolucionários jacobinos da França introduziram
um novo calendário. Os nomes tradicionais dos doze meses do
ano foram abandonados, por serem derivados da mitologia e da
história clássicas, e por isso vistos pelos revolucionários mais
radicais como relíquias desatualizadas do passado; o número do
ano mudou para que o calendário não mais pudesse ser visto
como algo baseado na cronologia cristã.
À meia-noite, entre 21 e 22 de setembro de 1792, o “Ano I da
República” começou. Ele cobria 365 dias completos, sendo
composto de doze meses de trinta dias, mais cinco dias adicionais.
Os novos meses receberam nomes que foram considerados
"racionais"; assim, por exemplo, o mês que se julgava ser
normalmente o mais quente - aquele que começava na data que
muitas pessoas ainda chamavam de 22 de julho - foi chamado
"Termidor" (calor).
Assim, em setembro de 1792, o prognóstico feito por Nostradamus
foi cumprido com todas as letras. Ou não teria sido? Afinal, o
vidente predisse que a nova era duraria "muito tempo", e não se
vêem as pessoas reclamando de "um Termidor muito frio" ou de
"um Prairal úmido". Entretanto, qualquer um que leia a literatura
teórica do marxismo contemporâneo encontrará continuamente
referências àquele calendário no uso de frases tão banalizadas
quanto "uma reação termidoriana”. Pelo menos em um sentido, o
calendário revolucionário, assim como a nova era social
inaugurada em 1792, ainda está conosco.
A agitação européia que se iniciou com a erupção da Revolução
Francesa não foi uma fase passageira, pois a Primeira República,
que sucedeu o reinado de Luís XVI, existiu em estado de perpétua
mudança. Robespierre e seus aliados substituíram os republicanos
mais moderados, apenas para serem suplantados pelo corrupto
Diretório, que por sua vez foi sucedido pelo Consulado e pelo
Império de Napoleão Bonaparte.
A ascensão e queda de Napoleão foram profetizadas por
Nostradamus; na verdade, há tantas quadras que parecem referir-
se a Napoleão, o obscuro oficial de artilharia corso que se tornou
um grande imperador, que é só possível dar uma interpretação
detalhada de algumas poucas. Talvez a mais conhecida seja a
Centúria VIII, Quadra 57:
             De simples soldado ele atingirá o Império,
                 Trocará o manto curto pelo longo,
            Valente em armas, muito pior contra a Igreja,
   Ele aborrece os padres como a água encharca uma esponja.
A expressão "manto curto" foi uma das duplas alusões do vidente,
pois com isso ele queria dizer tanto o casaco que o futuro
imperador usava quando era um mero cadete militar como o manto
que usava nas ocasiões formais quando assumiu o gabinete de
Primeiro Cônsul. O "manto longo" pelo qual ele trocou o anterior foi
o manto da Coroação que ele usou quando coroado imperador
pelo Papa Pio VII em 1804. O significado da terceira linha é
evidente, e a maneira pela qual Napoleão "aborreceu os padres",
como prognosticado na quarta linha, será descrita na página 99,
em referência a outras duas quadras.
Não apenas Nostradamus tinha conhecimento de que "um simples
soldado" iria "atingir o Império", mas ele pode até mesmo ter tido
uma boa idéia do nome desse soldado - ou pelo menos é isso que
se defende em uma engenhosa interpretação da Centúria VIII,
Quadra I, que diz:
PAU (3), NAY, LORON serão mais de fogo que de sangue.
Para nadar em louvor, o grande homem nadará até a confluência.
               Ele negará entrada aos tagarelas.
        Pampon e o Durance os manterão confinados.

3. N. da T.: Pronuncia-se "pó", em francês.
Os três nomes com os quais se inicia a primeira linha são todos de
cidades pequenas e historicamente insignificantes do oeste da
França. Entretanto, Nostradamus quis escrever esses nomes em
maiúsculas, o que quase sempre é indicação de que as palavras
em maiúsculas foram usadas pelo vidente em um sentido
secundário - geralmente envolvendo um anagrama ou alguma
outra variedade de jogo de palavras.
Um anagrama encontrado nesses nomes por um intérprete
geralmente confiável das Centúrias é NAPAULON ROY, isto é,
"Rei Napoleão". Na época em que Napoleão viveu, era usual
escreverem seu tão incomum nome com "au" em lugar de "o". De
qualquer forma, Nostradamus poderia estar apontando para o
modo como o imperador mudou a grafia de seu sobrenome, do
corso "Buonaparte" para a forma mais francesa "Bonaparte".
Que talvez tenha sido esse o caso é o que sugere o fato de que na
Centúria I, Quadra 76, uma daquelas estranhas quadras duais em
que Nostradamus parece estar fazendo uma profecia aplicável a
dois homens diferentes, ele escarneceu dos sobrenomes
"bárbaros" de Napoleão e de Adolf Hitler.
Nostradamus pode ou não ter sabido do sobrenome de Napoleão,
mas parece certo que, como será descrito nas duas páginas a
seguir, ele sabia do destino final do imperador.
A ÁGUIA, MILÃO E PÁVIA
A nascente reputação militar de Napoleão ficou completamente
estabelecida pelo turbilhão vitorioso que foi sua campanha na Itália
em 1796-1797. Dois dos notáveis episódios da campanha, os
primeiros e, sob alguns aspectos, os maiores entre os triunfos
militares de Napoleão, foram mencionados por Nostradamus na
Centúria III, Quadra 37:
Antes do ataque um discurso [ou prece] é proferido,
    Milão, enganada pela emboscada, é capturada pela Águia,
         As vetustas paredes são rasgadas pela artilharia,
     Em fogo e sangue apenas poucos recebem clemência.

A "Águia” da linha dois, que captura Milão, é Napoleão, chamado
de Águia em diversas quadras; mas essa estrofe faz referência a
qual de suas duas tomadas de Milão (1796 e 1800)?
Certamente à primeira, pois o discurso a que a quadra se refere foi
aquele de grande importância, feito pelo futuro imperador a suas
tropas no início da campanha italiana de 1796-1797: "Soldados,
vocês estão famintos e quase nus [...] Eu os conduzirei às mais
férteis planícies do mundo [...] Lá vocês encontrarão honra, glória e
riquezas [...] vocês estão precisando de coragem”?
Com a ocupação de Milão e de outras cidades próximas, os
soldados do exército francês encontraram as riquezas que seu
general lhes prometera. E, ai!, suas extorsões se deram em tal
escala, que os cidadãos de Milão, Pávia e Binasco romperam em
uma revolta aberta, na qual se aliaram aos camponeses da zona
rural próxima. A insurreição foi sufocada com a máxima
brutalidade, principalmente em Pávia, e, como profetizado na
última linha da quadra, pouca clemência foi oferecida pelos
homens de Napoleão aos capturados em armas contra eles.
Na época em que foi coroado Imperador da França (ver páginas
89-91), Napoleão dominava toda a Europa continental a oeste da
fronteira com a Rússia. Desde a época do Imperador Carlos V,
nenhum homem exercera tamanho poder no mundo ocidental.
A Grã-Bretanha era o único inimigo perigoso e poderoso que ainda
o ameaçava, pois sua esquadra ainda dominava os mares e sua
riqueza comercial era empregada para subsidiar qualquer Estado
europeu que tivesse bastante ousadia para oferecer resistência
aos exércitos aparentemente indestrutíveis de Napoleão. O
imperador sentiu que a Grã-Bretanha era o único grande obstáculo
restante, que precisava ser removido do seu caminho; ele tinha
que destruir sua supremacia naval e, se possível, invadir seu
território.
Napoleão tentou fazer as duas coisas e falhou - como
Nostradamus tinha previsto corretamente, na Centúria I, Quadra
77, e na Centúria VIII, Quadra 53. A primeira diz:
Entre dois mares se ergue um promontório,
Um homem que morrerá mais tarde pela rédea [ou mordida] de um
                            cavalo,
      Netuno desfralda uma vela negra para o seu homem,
  A esquadra perto de Calpre [Gibraltar?] e Rocheval [Pedra do
                            Cabo].

Embora essa estrofe fosse obviamente escrita para prever algum
tipo de batalha naval em que uma das esquadras rivais- teria uma
"vela negra" desfraldada para si (i.e., seria definitivamente
derrotada), ela parece, a uma primeira leitura, tão obscuramente
expressa como quase qualquer quadra das Centúrias.
Entretanto, sua segunda linha, "um homem que morrerá mais tarde
pela rédea de um cavalo", dá uma indicação que permite que o
acontecimento seja identificado com alguma certeza como sendo a
Batalha de Trafalgar - a batalha naval decisiva, na qual a esquadra
inglesa derrotou as esquadras combinadas da França e da
Espanha e finalmente frustrou a ambição de Napoleão de ser tão
superior no mar quanto era em terra. Muito embora poucos
comandantes navais de alguma importância histórica possam ter
sido mortos pela rédea de um cavalo, Villeneuve, o marechal que
comandou a esquadra francesa em Trafalgar, realmente parece ter
morrido dessa curiosa maneira. Feito prisioneiro na batalha, ele foi
libertado e voltou à França no ano seguinte, para ser estrangulado
em circunstâncias misteriosas em uma hospedaria em Rennes. De
acordo com relatos da época, o assassino tinha usado uma rédea
de cavalo como arma.
O resto da quadra é fácil de entender, pois o "promontório entre
dois mares" que fica entre o Atlântico e o Mediterrâneo é Gibraltar.
O fracasso de Napoleão em invadir a Inglaterra bem como a
maneira pela qual ele usou seu exército de invasão ainda não
testado, após retirá-lo de suas linhas que estavam perto de
Boulogne cerca de dois meses antes que sua marinha fosse
esmagada em Trafalgar, foram previstos por Nostradamus na
Centúria VIII, Quadra 53, que diz:

 Dentro de Bolongne [Boulogne] ele desejará apagar seus erros,
              Não pode fazê-lo no Templo do Sol,
          Ele se apressará para fazer grandes coisas,
               Na hierarquia nunca foi igualado.

Os "erros" que Napoleão queria apagar não foram falhas morais;
foram os sucessivos erros de julgamento sobre a importância da
supremacia naval e força econômica da Grã-Bretanha, que tinham
em grande parte anulado os sucessos militares do imperador
desde a campanha do Egito de 1798. Mas o que foi o "Templo do
Sol" em que Nostradamus dizia que Napoleão seria,
metaforicamente falando, incapaz de apagar seus erros?
A expressão significou simplesmente Grã-Bretanha, pois
empregando as palavras "Templo do Sol", o vidente estava
fazendo duas das alusões clássicas que tanto apreciava. Em
primeiro lugar, se referia aos escritos de um geógrafo grego de
antes do cristianismo que descreveu um lugar que era quase
certamente Stonehenge como um templo do deus-sol ApoIo; em
segundo, estava aludindo a uma crença tradicional de que a
Abadia de Westminster, onde os monarcas ingleses foram
coroados desde os tempos dos normandos, fora construída no
local de um templo do sol romano-britânico.
Depois que Napoleão abandonou suas barcaças de invasão na
costa do Canal da Mancha, no verão de 1804, marchou com seu
exército para o leste, ocupando Viena e esmagando os exércitos
austríacos e russos combinados, em Austerlitz. Em outras
palavras, ele se apressou a sair de Boulogne para fazer "grandes
coisas" - justamente como Nostradamus tinha vaticinado. Mas a
Grã-Bretanha continuava a formar contra ele coalizões das quais
ela era a pagadora.
Depois que sua invasão da Rússia terminou em desastre e ele foi
derrotado na batalha de Leipzig, Napoleão foi forçado a abdicar do
posto de imperador, em 1814. Foi exilado para o mini-Estado de
Elba, sobre o qual lhe foi dada soberania. Inevitavelmente, a
minúscula ilha foi pequena demais para ele; escapou e voltou para
a França, onde foi proclamado imperador. Entretanto, após um
reinado de apenas cem dias, ele foi derrotado por ingleses e
prussianos em Waterloo e exilado
para a ventosa Ilha de Santa Helena, no Atlântico, onde morreu em
1821.
Esses últimos acontecimentos parecem ter sido matéria referida
em mais do que uma visão de Nostradamus, pois estão descritos,
sob os véus costumeiros da alegoria e do símbolo, em diversas
quadras. Por exemplo, tanto a Centúria lI, Quadra 66, quanto a
Centúria X, Quadra 25, descrevem em esboço simbolizado, mas
facilmente interpretado, alguns acontecimentos da breve
restauração do império napoleônico, e a Centúria I, Quadras 23 e
38, são profecias sobre a Batalha de Waterloo. As duas foram
escritas na terminologia simbólica quase heráldica que o vidente
tanto apreciava, mas são ambas significativas, e a primeira deu
uma clara predição de que o leopardo heráldico da Inglaterra iria
triunfar sobre as águias do Grande Exército de Napoleão.




Nas Centúrias existem numerosas referências ao papado e a
alguns papas em particular. É de supor que, como se deve esperar
de um homem de sua época - quando o papa era um governante
temporal, além de espiritual, e em geral considerado o homem
mais importante do mundo, pelos cristãos ocidentais -,
Nostradamus tenha procurado muitas visões relativas ao papado e
a pessoas destinadas a ocupar o "Trono de Pedro".
Algumas das "quadras papais" se referem a eventos que não
ocorreram até hoje, e deve-se presumir ou que Nostradamus as
profetizou em falso ou, mais provavelmente, que elas acontecerão
em algum momento do futuro - provavelmente num futuro muito
próximo (ver páginas 151-3). Outras são tão específicas e se
ajustam tão bem aos fatos da história, que se pode considerar
razoavelmente certo que são exemplos notáveis de acertos
proféticos - por exemplo, o prognóstico das circunstâncias em que
um papa exilado, uma figura rara entre as criaturas eclesiásticas
pós-medievais, encontraria o seu fim (ver quadro na página 99).
Outra profecia nostradamiana muito específica, relativa ao papado,
é encontrada na Centúria V, Quadra 29, que diz:

                 A liberdade não será recobrada,
Ele será ocupado por um [homem] negro, orgulhoso, cruel e mau,
              Quando for aberto o assunto do Papa
     Por Hister, a República de Veneza será envergonhada.

Tomando a última linha da estrofe em seu sentido literal, parece
que essa profecia deve se referir ao século 18 ou a antes dele, pois
a República Veneziana patrícia deixou de existir como Estado
independente em conseqüência das conquistas feitas pelos
exércitos da França revolucionária. Entretanto, faz muito tempo
que há consenso entre os intérpretes de Nostradamus de que
nessa quadra o vidente estava usando a expressão "República de
Veneza" de maneira semi-alegórica, significando algo parecido
com "liberdades populares na península italiana e liberdade de
ação do papa".
Se essa interpretação for aceita - e os argumentos a seu favor são
vários e inteligentes -, essa estrofe parece referir-se ao período
1939-45, e o "Hister" profetizado não é senão Adolf Hitler. Sob
essa interpretação, a liberdade não recobrada da primeira linha
teve duplo significado para Nostradamus. Por um lado, era a
liberdade política do povo italiano, que fora perdida em
conseqüência da tomada do poder por Mussolini - o homem mau e
(vestido de) negro da segunda linha. Por outro lado, era a liberdade
temporal dos papas, perdida em 1870, quando Roma foi
incorporada à força ao Reino da Itália; ela não foi de fato recobrada
por causa da concordata entre Mussolini e o Vaticano, e o fardo
que foi infligido ao papado como resultado de sua perda de poder
temporal se tornou ainda mais oneroso pela interferência de Hitler
nos negócios tanto da Itália como do Vaticano.
Tudo muito bem-colocado, mas pode ser uma interpretação
engenhosa demais de uma profecia, na opinião deste escritor -
uma dessas ocasiões em que a especulação legítima ultrapassa as
fronteiras do bom senso. É preciso admitir, entretanto, que diversas
quadras das Centúrias mencionam "Hister", e o que é dito dele
geralmente parece compatível com acontecimentos da vida de
Adolf Hitler.

               OS PADRES PERTURBADOS
Como foi dito na página 89, na quarta linha da Centúria VIII,
Quadra 57, Nostradamus profetizou que Napoleão Bonaparte
"aborreceria os padres como a água encharca uma esponja”.
A profecia do vidente foi exata, pois de uma forma ou de outra
Napoleão aborreceu um número muito grande de clérigos católicos
antes e depois de se tornar imperador. Além de párocos humildes,
também bispos (e pelo menos um ex-bispo, o aristocrático
Talleyrand), cardeais e dois papas, Pio VI e Pio VII.
Uma das conseqüências dos sucessos franceses que se seguiram
após os triunfos de Napoleão na Itália (ver página 92) foi que o
papa Pio VI foi levado para a França como prisioneiro dos
franceses e veio a morrer em Valença, vomitando e cuspindo
sangue, no fim do verão de 1799. Nostradamus pode ter vaticinado
de forma bem vaga essa morte em solo estrangeiro na última linha
da Centúria I, Quadra 37, que menciona "Papa e [...] sepulcro,
ambos em terras estrangeiras". Uma previsão muito mais
específica foi feita na Centúria II, Quadra 97:

          Pontífice romano, cuidado ao aproximar-se
                     Da cidade de dois rios.
             Cuspireis vosso sangue naquele lugar,
       Vós e os vossos, quando as rosas desabrocharem.

O sucessor do papa que morreu cuspindo sangue quando as rosas
do verão e da Revolução estavam em pleno desabrochar foi Pio
VII, que fez uma concordata com a França em 1814, mas que no
entanto foi mantido cativo por Napoleão por quase quatro anos.
Nostradamus fez alusão a esse cativeiro tanto na terceira linha da
Centúria I, Quadra 4 - "Nessa época o barco do papado se
perderá" - como nas duas primeiras linhas da Centúria V, Quadra
15, que dizem o seguinte:

          Ao viajar [literalmente, "navegar" ou "velejar"]
              O Grande Pontífice será capturado,
          Os esforços do clero preocupado falharão [...]
Nostradamus é, talvez, o mais conhecido profeta do futuro -
certamente o mais conhecido do mundo ocidental -, mas nem
sempre ele esteve certo em todos os detalhes de suas previsões.
Assim, por exemplo, sua profecia do assassinato dos irmãos
Guise, na Centúria III, Quadra 51 (ver página 32), estava certa em
todos os particulares, exceto nos da última linha.
Nessa linha, que diz ''Angers, Troyes e Langres lhes farão um
desserviço", ele estava claramente prevendo que as cidades
mencionadas seriam hostis à causa a que os irmãos Guise
estavam ligados - a supremacia da fé católica na França. Na
realidade, nenhum dos governantes desses lugares mostrou
qualquer simpatia notável pela causa protestante nas guerras
religiosas francesas - um deles permaneceu mais ou menos neutro
e os outros dois apoiaram a Liga Católica.
Existem diversas previsões assim, grandemente mas não
inteiramente corretas, relativas aos acontecimentos do século 19.
Elas podem ser exemplos de erros de Nostradamus - mas este
escritor suspeita que, pelo menos em algumas delas, os erros
surgiram de interpretações errôneas, mais do que de nuvens
mediúnicas que obscurecessem as visões que Nostradamus teve
do futuro.
Um exemplo destacado de profecia provavelmente mal-
interpretada é dado pela Centúria X, Quadra 8. As duas primeiras
linhas dela foram aplicadas ao batismo do filho de Napoleão III, em
1856, e a terceira linha, à esposa de Napoleão III, a imperatriz
Eugênia; admitiu-se que a quarta linha da estrofe não tinha sido
cumprida em absoluto, ou era de significado tão obscuro que
ninguém poderia julgar como teria sido cumprida. A quadra diz:
Com o primeiro dedo e o polegar ele aspergirá a testa,
       O Conde de Senegália a seu próprio filho [afilhado],
          Vênus através de vários em curta seqüência,
         Em uma semana três são mortalmente feridos.

Não há nenhuma dificuldade de se chegar à interpretação
napoleônica das duas primeiras linhas - claramente, estava sendo
descrito um batismo em que um "Conde de Senegália” seria o
principal padrinho da criança. Como o padrinho do filho de
Napoleão III foi Pio Nono (o Papa Pio IX), que era filho do conde
Mastoi Feretti de Senigallia, a quadra se ajusta muito bem.
Entretanto, parece não haver nenhuma boa razão para assumir
que a quadra está associada de alguma forma a Napoleão III ou a
sua família. O Papa Pio IX foi padrinho de muitas e muitas
crianças, tanto antes como depois de ser alçado ao "Trono de
Pedro", e o significado profético da estrofe pode ter sido relevante
para a vida de pessoas que a história esqueceu.
A má interpretação (se de fato se trata disso) dessa quadra surgiu
como resultado da grande ânsia dos estudantes franceses pelas
profecias de Nostradamus, no século 19, e de interpretarem
quadras obscuras para que se ajustassem a acontecimentos que
eles conheciam ou que esperavam que acontecessem em sua
época por exemplo, uma Restauração Bourbon após a queda do
Segundo Império e a proclamação da Terceira República (1870).
Nem todas as aplicações das previsões de Nostradamus para o
século 19 aos incidentes da vida de Napoleão III têm sido
baseadas em um raciocínio tão dúbio quanto o referente à Centúria
X, Quadra 8. A Centúria IV, Quadra 100, e a Centúria V, Quadra
32, parecem, ambas, previsões da Guerra Franco-Prussiana, que
resultou na abdicação de Napoleão III, no fim de seu império, na
proclamação da Terceira República e em uma amarga e destrutiva
guerra entre seu exército e as forças da Comuna de Paris.
A Quadra 100 da Centúria IV é especialmente aplicável a esses
acontecimentos. Ela diz:

             Cairá fogo do céu sobre o edifício real
          Quando o fogo de Marte estiver enfraquecido:
  Por sete meses uma grande guerra, a população morrendo de
                          calamidade,
              Rouen e Evreux não faltarão ao Rei.

Durante o cerco de Paris de 1870, quando a guerra franco-
prussiana que durou sete meses estava chegando ao seu término
("o fogo de Marte [...] enfraquecido"), aquele "edifício real" das
Tulherias (ver páginas 82-4) foi destruído por pesado fogo de
artilharia, de grande elevação. Durante o cerco, a calamidade da
fome e doenças decorrentes da fome mataram ainda mais
parisienses do que as atividades militares dos prussianos. E após a
proclamação, Rouen, Evreux e outras cidades da Normandia não
"faltaram ao rei", pois eram centros do legitimismo, a causa
daqueles que queriam que o Segundo Império desse lugar a uma
restauração não republicana, mas da Casa de Bourbon.
No caso dessa interpretação em particular, feita no século 19, não
parece ter havido nenhuma deformação habilidosa do significado
da quadra. Entretanto, deve-se ter em mente que em cada século,
não apenas no século passado, houve uma tendência
compreensível e quase inevitável, entre os comentaristas das
Centúrias de Nostradamus, para talhar as quadras, quase
inconscientemente, para que se ajustassem a eventos recentes.
Os que interpretam Nostradamus hoje não podem escapar
inteiramente de seguir esse mesmo padrão, por muito que possam
tentar não fazê-lo.
Ao ler algumas das páginas a seguir, portanto (principalmente as
páginas 125-132), o leitor deve estar sempre consciente da
possibilidade de que este autor tenha caído algumas vezes na
mesma armadilha em que caiu o comentarista do século 19 que
aplicou a Centúria X, Quadra 8, ao batismo do filho de Napoleão III.




Certa noite, no inverno de 1939-1940, durante o período de
inatividade militar precedente à blitzkrieg alemã que resultou na
queda da França,
Magda Goebbels, esposa do brilhante mas totalmente amoral
ministro da Propaganda e Iluminação de Hitler, estava lendo na
cama. Subitamente ela chamou seu marido, muito agitada: "Você
sabia que há mais de quatrocentos anos foi profetizado que em
1939 a Alemanha entraria em guerra contra a França e a Inglaterra
por causa da Polônia”?
É provável que Goebbels já soubesse algo dessa predição, pois
parece que quatro diferentes membros do Partido Nazista já lhe
tinham mandado exemplares do livro que provocara essa agitação
em sua esposa. Entretanto, ele procurou a passagem do livro para
o qual ela chamara sua atenção e foi imediatamente tocado por
seu valor potencial como propaganda, pois a profecia realmente
previa a data e a causa da guerra que havia sido deflagrada cerca
de três meses antes. Talvez, pensou ele, o autor desse livro
soubesse de outras profecias que poderiam servir para convencer
os inimigos do Reich da inevitabilidade de uma vitória alemã.
O livro era intitulado Mysterien von Sonne and Seele ("Mistérios do
Sol e do espírito"). Ele tinha sido escrito por um certo Doktor H. H.
Kritzinger e fora publicado em 1922, dezessete anos antes da
eclosão da guerra. A profecia que tanto excitou Magda Goebbels e
os quatro outros nazistas que tinham chamado a atenção de seu
marido se baseava em uma interpretação particular, e
extremamente engenhosa, da Centúria III, Quadra 57. Essa
interpretação não fora feita pelo Doktor Kritzinger na verdade, a
data de alguns elementos desse trecho de exegese profética
remontava a no mínimo 1715, quando a atenção de um intérprete
inglês de Nostradamus que escrevera sob o pseudônimo "D. D."
voltou-se para a Quadra 57 da Centúria III:

           Sete vezes se verá a nação britânica mudar,
         Tingida de sangue por duzentos e noventa anos:
         De forma alguma livre por meio do apoio alemão,
            Áries teme por seu "pólo" (4) bastarniano.

D. D. emitiu a opinião de que a expressão "tingida de sangue por
duzentos e noventa anos" seria uma referência ao período que
começara com o derramamento de sangue real pela execução do
rei Carlos I em 1649. Isso deu-lhe 1939 como sendo o ano de
algum evento notável na história da Grã-Bretanha. A primeira linha
da quadra foi interpretada por D. D. como sete mudanças
dinásticas ou quase dinásticas (por exemplo, a Restauração da
monarquia Stuart em 1660).

4. N. da T.: No original inglês, pole, que significa tanto "pólo" como
"polonês".
Entre 1715 e 1921, outros estudiosos de Nostradamus ampliaram
as teorias de D. D. O último deles, um certo Herr Loog, combinou
todas essas interpretações em uma e acrescentou sua própria
explicação da última linha da quadra, "Áries teme por seu 'pólo'
bastarniano". Ele a tomou como "A França duvida de (ou teme por)
seu aliado subordinado, a terra dos Bastarne (Polônia)" .
Por que Herr Loog julgaria que Áries significava França? Estava
fazendo apenas uma adivinhação louca? Não, não estava, pois já
desde o século 17 Théophile de Garencieres tinha escrito, com
relação a essa quadra em particular, que Áries significava França
porque "o signo de Áries governa de fato a França".
Loog seguiu comentaristas anteriores ao interpretar 1939 como o
ano a ser "tingido de sangue" e, com base nisso, previu para esse
ano uma guerra que envolveria a Polônia, a França, a Alemanha e
a Grã-Bretanha - a previsão que fora inserida pelo Doktor Kritzinger
em seu livro.
O cumprimento dessa previsão de Nostradamus teria sido apenas
um acerto casual, como os céticos alegam? A essa questão, um
observador imparcial só pode responder que, se foi apenas um
acerto casual a previsão da invasão da Polônia por Hitler e da
deflagração da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939,
deve-se admitir que o vidente tinha uma extraordinária capacidade
para esses acertos. Como os leitores deste livro hão de convir, há
numerosos exemplos desse mesmo tipo de previsão confirmada
que podem ser encontrados nas Centúrias e em outros escritos de
Nostradamus.
Como foi apontado na página 77, Nostradamus às vezes escrevia
estrofes proféticas de dupla natureza, isto é, previsões que, sem
serem excepcionalmente vagas, parecem de fato se adequar a
mais de uma pessoa ou acontecimento. A explicação de um cético
para a adequação dessas quadras é que o vidente nunca fez uma
profecia genuinamente cumprida, que os intérpretes simplesmente
torceram o significado dos componentes das Centúrias para os
adequarem a suas próprias idéias preconcebidas e que a
existência de quadras com mais de um suposto significado apenas
ilustra o fato de que dois ou mais comentaristas de Nostradamus
chegaram a interpretações diferentes.
É um argumento inteligente e, de certa forma, persuasivo, mas
baseado na premissa de que nenhuma das previsões de
Nostradamus tenha sido genuinamente cumprida. Para este
escritor e também para muitos outros, essa posição parece
bastante insustentável em vista dos diversos prognósticos que
foram explícita ou implicitamente datados pelo vidente (ver
exemplos nas páginas 59 e 85). Uma explicação mais provável
para as quadras de duplo significado é que, nas visões,
Nostradamus discernia dois indivíduos diferentes, cujas vidas
estavam separadas no tempo e que podiam muito bem ser
bastante diferentes em caráter mas tinham certas coisas em
comum que lhe permitiam escrever uma estrofe profética referente
a ambos.
Um bom exemplo de uma previsão assim, dupla e expressa de
forma hábil, está na Centúria I, Quadra 76, que parece se aplicar
tanto a Napoleão Bonaparte (ver página 92) como a Hitler -
igualmente "de nome bárbaro", para qualquer alemão da década
de 1920 não nascido nas proximidades da fronteira eslava. O
significado dessa quadra é óbvio. Ela diz:

        Este homem será chamado por um nome bárbaro
                Que as três irmãs terão recebido,
       Ele falará a um grande povo em palavras e ações,
   Terá fama e renome além de qualquer outro homem [de seu
                              tempo]
Parece provável, no entanto, que algumas quadras aplicadas a
mais de uma pessoa foram mal interpretadas por intérpretes
excessivamente crédulos. Uma delas é a Centúria II, Quadra 70,
aplicada a Napoleão por alguns, mas muito provavelmente
profética do caráter e da morte de Heinrich Himmler, líder da SS de
Hitler, que morreu enquanto falava - tal como o "monstro humano"
da estrofe em questão, que diz:

              O dardo vindo do céu fará sua viagem,
Morte durante a fala, uma grande execução;
       A pedra na árvore, uma nação orgulhosa humilhada,
       Fala de um monstro humano, purgação e expiação.

Outra quadra que foi aplicada a Napoleão mas parece muito mais
adequada ao contexto do nazismo é a Centúria III, Quadra 35, que
diz:

     Nas mais longínquas profundezas da Europa Ocidental,
           Uma criança nascerá de uma gente pobre,
           Que por seus discursos seduzirá multidões,
     Sua reputação crescerá ainda mais no domínio oriental.

Essa parece ser outra referência a Hitler, pois seus pais eram bem
mais pobres que os de Napoleão. Hitler nasceu na fronteira oriental
da Europa Ocidental, sua ascensão ao poder aconteceu em
conseqüência da "sedução de muitos" por sua oratória e sua
ofensiva com vistas a obter "Lebensraum" (5) foi dirigida
principalmente ao "domínio oriental" da União Soviética.
Das numerosas quadras que foram aplicadas aos nazistas nos
últimos sessenta anos, mais ou menos, algumas parecem dúbias
ao extremo - mas é difícil duvidar de muitas delas. Por exemplo, a
Centúria X, Quadra 90, prevê acertadamente o desastroso efeito
que teve para a Hungria o fato de o governante daquele país,
almirante Horthy, ter aceito a "ajuda” oferecida por Hitler:

          Um capitão da Grande Alemanha [i.e., Hitler]
                    Oferecerá ajuda fingida,
            Um Rei dos Reis para apoiar a Hungria,
      Sua guerra causará grande derramamento de sangue.
De forma semelhante, a Centúria V, Quadra 29, obviamente se
aplica a Hitler, a Mussolini e ao papado (ver página 99); a Centúria
V, Quadra 51, às atividades desses dois ditadores à época da
Guerra Civil Espanhola, e a Centúria VI, Quadra 51, ao malogrado
atentado contra a vida de Hitler em novembro de 1939.

5. N. da T.: Na acepção original da língua alemã, "espaço vital".
Termo empregado no inglês com o significado de "território
adicional que uma nação considera necessário para garantir seu
bem-estar econômico", segundo o American Heritage Dictionary.

As conquistas feitas por Hitler na primavera seguinte também
parecem ter sido percebidas por Nostradamus, que escreveu, na
Centúria V, Quadra 94:

 Ele [presumivelmente Hitler] transformará em Grande Alemanha
         Brabant, Flandres, Ghent, Bruges e Boulogne [...]
O SINAL DA SUÁSTICA
A suástica ou hakenkreuz (literalmente, "cruz recurvada") está
agora para sempre associada, na mente de todos nós, aos
nazistas e aos terríveis crimes que eles cometeram na Segunda
Guerra Mundial. Originalmente, no entanto, o símbolo tinha um
significado puramente espiritual, tanto no Oriente como no
Ocidente; e, de fato, até hoje o símbolo da suástica pode ser
encontrado em muitos templos hinduístas.




Antes do início da Primeira Guerra Mundial, a suástica era
considerada, na Alemanha, um símbolo do deus Thor (ou Thunor),
e foi por isso que os Freikorps - grupos armados que defenderam a
Alemanha depois da guerra - a adotaram. No início dos anos 1920,
Hitler inverteu a posição dos braços da suástica e fez dela a
insígnia de seu movimento.
Nostradamus parece ter previsto a futura notoriedade tanto da
suástica como do líder nazista na Centúria VI, Quadra 49:

       O grande Sacerdote do Partido de Marte [i.e., Hitler]
                   Que subjugará o Danúbio,
              A cruz atormentada pelo gancho [...]




Descrevendo o líder nazista como "ave de rapina voando para a
esquerda”, na Centúria I, Quadra 34, Nostradamus escreveu
profeticamente sobre as percepções européias a respeito de; Adolf
Hitler no período 1933-1939:
O pássaro de rapina voando para a esquerda
    Faz preparações [bélicas] antes de combater os franceses:
    Alguns o considerarão bom, alguns mau, alguns ambíguo,
        O partido mais fraco o verá como um bom augúrio.




A descrição de Hitler "voando para a esquerda”, na primeira linha,
foi um típico exemplo de jogo de palavras de Nostradamus. Sua
referência primária foi ao fato de que a palavra "sinistro" deriva da
palavra latina que significa "esquerda”; sua referência secundária
foi que Hitler, como este explicou em seu livro Mein Kampf,
deliberadamente moldou seus métodos de propaganda com base
nos usados pelos marxistas, e muitos membros de suas tropas de
assalto, as SA, foram recrutados nas fileiras de ex-comunistas.




A segunda linha da quadra exige pouca clarificação - a preparação
de guerra de Hitler contra a França foi tal que, no verão de 1940,
centenas de milhares de refugiados entupiriam as estradas
francesas (ver quadro na página 116) -, mas a terceira linha
precisa de alguma explicação.
Para nós, com todas as vantagens do ângulo de visão de agora,
parece óbvio que Hitler era um fomentador de guerra
megalomaníaco com desejo de dominar o mundo e de destruir
qualquer pessoa ou povo que atravessasse o seu caminho ou que
fosse considerado por ele racialmente indesejável. Nos anos 1930,
no entanto, nada disso estava tão evidente. Para a direita, o
comunismo soviético era a maior ameaça para a estabilidade e a
paz da Europa, e em geral se pensava que os nazistas tinham
"salvado a Alemanha do bolchevismo". E grande parte tanto da
esquerda liberal como da direita acreditava que, apesar de toda a
sua oratória inflamada, Hitler não queria de fato a guerra, mas
estava preparado para usá-lo como ameaça, para reparar as
injustiças que a Alemanha tinha sofrido sob os termos do Tratado
de Versalhes de 1919.
Assim, as atitudes em relação ao Führer eram, como profetizara
Nostradamus, muito misturadas. Alguns, como o líder liberal inglês
Lloyd George, por algum tempo o olharam com admiração; outros
distinguiram sua natureza má em estágio precoce de sua carreira;
outros não tinham certeza. O "partido mais fraco", citado na última
linha da quadra, que o vidente previu que veria a chegada de Hitler
ao poder como um "bom augúrio", foi, surpreendentemente, o KPD,
o Partido Comunista Alemão, cujos líderes stalinistas defenderam
que uma fase de regime nazista precederia a revolução proletária
alemã.
Há várias quadras nas Centúrias que se referem a alguém ou a
alguma coisa chamada "Hister", sendo que quase todas carregam
o duplo significado profético em que Nostradamus, por assim dizer,
se especializou; ou seja, todas se referem tanto ao Rio Ister, um
nome antigo do Danúbio, como a Adolf Hitler. Uma delas é a
Centúria II, Quadra 24. Ela parece se referir tanto ao
aprisionamento do líder húngaro, almirante Horthy, por "Hister" na
sua acepção de Hitler, como à derrota final da Wehrmacht (6) na
Hungria e sua retirada em pânico, cruzando o "Hister" em sua
acepção de Danúbio. Diz ela:
Feras loucas de fome nadarão através dos rios,
      A maior parte do campo de batalha será contra Hister.
      Em uma gaiola de ferro o líder será arrastado [por ele?]
       Quando o filho da Alemanha não segue lei alguma.

Nostradamus profetizou as derrotas de Hitler na Europa Ocidental,
assim como as do Danúbio, e a Centúria II, Quadra 16, é
claramente pertinente à "nova tirania” dos fascistas italianos e seus
patrocinadores alemães, à invasão da Sicília pelos Aliados, em
1943, e ao intenso bombardeamento aéreo e naval ("grande ruído
e fogo nos céus") que a precedeu. A quadra diz:

       Em Nápoles, Palermo, Siracusa e em toda a Sicília,
     Novos tiranos [governam], grande ruído e fogo nos céus,
      Uma força vinda de Londres, Ghent, Bruxelas e Suse,
        Uma grande matança, seguida de triunfo e festas.

A linha final foi um presságio da vitória dos Aliados, mas em outro
lugar, na Centúria 1, Quadra 31, o vidente tornou claro que ele
sabia que essa vitória seria em certa medida uma vitória oca para
os Aliados, com o fascismo espanhol ainda no poder, novas
ameaças da União Soviética e uma percepção de que os "três
grandes, a Águia (os EUA), o Galo (França) [...] o Leão (Grã-
Bretanha)" tinham gozado no máximo "uma vitória incerta”.
6. N. da T.: Em alemão: "Forças Armadas". Portanto, a força de
guerra alemã.


               O BANQUETE DA CARNIÇA
A fuga dos infelizes refugiados franceses que, bombardeados por
Stukas e varridos pelo fogo de aviões de caça, seguiam pelas
estradas rumo ao sul enquanto a Wehrmacht avançava sobre Paris
no início do verão de 1940, foi profetizada por Nostradamus na
Centúria III, Quadra 7, que diz:

  Os refugiados [literalmente, fugitivos], fogo vindo do céu sobre
                           suas armas,
              A próxima batalha será a dos urubus,
   Eles [os refugiados] apelam à terra e aos céus por socorro
         Quando os guerreiros se aproximam dos muros.

O "fogo do céu" era o que vinha dos aviões da Luftwaffe e foi tão
eficaz que matou homens, mulheres e crianças, e - como o vidente
tinha vaticinado - urubus brigaram entre si na partilha da carne
humana com a qual puderam se banquetear.
Por um período de mais de quatrocentos anos, estudiosos de
profecia e outras artes de predição se têm detido sobre as estrofes
tortuosas e muitas vezes obscuras que compõem as Centúrias de
Nostradamus. Alguns deles, como James Laver, queriam apenas
descobrir exemplos de profecia confirmada; outros querem também
interpretar as quadras com o objetivo de descobrir o que o futuro
guarda tanto para eles quanto para seus descendentes. Outros,
ainda, estudam as Centúrias com um objetivo bem diferente em
vista: desejam, por razões que podemos somente supor,
desacreditar as profecias em geral e as de Nostradamus em
particular.
Grande parte desses céticos profissionais rejeitou todos os
exemplos de profecia confirmada - mesmo as profecias em que o
vidente deu datas específicas -, tomando-os ou como coincidências
ou como produto do "ângulo de visão ilusório", ou seja, uma hábil
distorção do conteúdo e da importância de determinadas quadras
para que se ajustem a um evento do passado. Não há nenhuma
dúvida de que isso foi feito algumas vezes, tanto por
nostradamianos entusiasmados demais quanto por pessoas
interessadas em apenas pregar uma peça.
Desse modo, por exemplo, um comentarista americano (que se
pode esperar que foi um brincalhão, e não um homem desejoso de
contribuir com algum comentário sério sobre as Centúrias) deu-se
ao grande trabalho de reinterpretar uma quadra geralmente
considerada como uma predição bastante clara da invenção, no
século 18, do vôo em balão, pelos irmãos Montgolfier. Segundo
ele, a quadra em questão tinha sido mal interpretada e era, na
realidade, a revelação do resultado de um torneio de golfe do U.S.
Open que aconteceu nos anos 1920.
Por mais engraçada que uma interpretação assim ridícula possa
ser, geralmente não é fácil, de modo algum, distorcer as quadras
das Centúrias para um propósito particular. Com relação a isso, é
interessante notar uma circunstância ligada ao avanço do exército
alemão sobre a França no início do verão de 1940.
O setor de "propaganda negra” tanto das Forças Armadas como do
Ministério da Propaganda estava ansioso para encontrar uma
quadra de Nostradamus cujo sentido pudesse ser pervertido, de
maneira a utilizá-la para estimular os refugiados civis franceses a
seguirem pelas estradas que levam ao sudoeste da França, para
que desse modo pudessem tê-las bloqueadas. A idéia era lançar,
pela Luftwaffe, folhetos com uma quadra adequadamente
interpretada sobre áreas em que se sabia da existência de
concentrações de refugiados.
Entretanto, embora os especialistas da "propaganda negra”
requisitassem a assistência de vários especialistas em
Nostradamus - um dos quais, pelo menos, era um nazista convicto
-, eles absolutamente não conseguiram encontrar uma quadra que
servisse a seus propósitos. Havia, é claro, a quadra descrita no
quadro da página 116, mas como ela sugeria que os que
tomassem as estradas podiam muito bem acabar sendo comidos
por aves de rapina, não atendia de jeito nenhum às intenções
alemãs. Em vez disso, os nazistas foram forçados a lançar folhetos
com imitações grosseiras atribuídas a Nostradamus, mas que não
lembravam quadras genuínas de forma alguma, nem em estilo nem
em conteúdo.
É provável que Nostradamus não ficasse especialmente surpreso
se soubesse que quase quatrocentos anos após a sua morte
estrofes atribuídas a ele estivessem destinadas a cair do ar,
lançadas de máquinas voadoras - embora vivesse em uma época
em que o meio mais rápido de transporte era um cavalo, ele parece
ter tido visões de combate aéreo. Uma visão assim está
provavelmente descrita na Centúria I, Quadra 64:

             À noite eles pensarão ter visto o Sol,
        Quando virem o meio-homem parecido com porco,
            Ruído, gritos, batalhas vistas nos céus:
            Feras grosseiras falando serão ouvidas.

Isso lembra uma descrição de uma batalha aérea como as que
devem ter ocorrido em qualquer época entre o começo da Primeira
Guerra Mundial e a Guerra do Golfo, em 1991. Aceitando-se essa
interpretação, o Sol à noite seria o brilho da explosão de bombas
ou mísseis antiaéreos, o "meio-homem parecido com um porco"
seria um piloto ou um navegador usando capacete de vôo e
máscara de oxigênio, o que em aparência lembra vagamente um
focinho suíno. E as "feras grosseiras falando" que são ouvidas
seriam os "meio-homens", i.e., os aviadores comunicando-se por
rádio com a base e um com o outro.
A TECNOLOGIA MODERNA
Muitas da quadras que pareciam não passar de uma série de
frases incompreensíveis para quem as lia nas"décadas de 1690,
1790 e 1890 parecem ter um significado bastante claro para
aqueles dentre nós que tentam interpretá-Ias agora. Muitas das
estrofes de Nostradamus que em, digamos, 1890 pareciam ser
material incompreensivelmente simbólico e vagamente místico
fazem sentido agora como registro de uma visão interpretada por
um homem que viveu no século 16 - um homem que estava
tentando descrever uma tecnologia da qual ele não conhecia nada.
A Centúria I, Quadra 64 (na página 119), dá excelente exemplo de
uma dessas tentativas de Nostradamus descrever a tecnologia de
um tempo futuro.




Se aceitarmos que, como foi explicado nas páginas 119-20,
Nostradamus teve visões de combate aéreo moderno e achou a
tarefa de descrevê-lo tão difícil que se viu forçado a usar
expressões como "homens parecidos com porcos", podemos
imaginar que, se ele teve vislumbres de clarividência de
tecnologias ainda mais recentes, teria considerado ainda maior o
esforço de expressar em palavras a natureza do que tinha visto.
E existem algumas quadras nas Centúrias em que parece provável
que o profeta tenha tentado descrever explosões atômicas e vôos
espaciais.
Por exemplo, a Centúria lI, Quadra 6, faz pensar que ela seja uma
previsão dos acontecimentos que causaram a rendição dos
japoneses em agosto de 1945 - o lançamento de bombas atômicas
sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A quadra diz:

               Perto do porto e em duas cidades
       Haverá dois flagelos nunca testemunhados antes.
Fome e praga, os lançados abaixo pela arma [literalmente, "ferro"]
            Clamarão ao Deus Imortal por socorro.

Claro que é possível que nessa estrofe o vidente estivesse
prognosticando desastres gêmeos ainda por ocorrer, mas é preciso
admitir que eles se ajustam muito bem aos acontecimentos de
agosto de 1945. Ambas as cidades são contíguas a portos; seus
habitantes foram submetidos a "flagelos nunca testemunhados
antes" - ou seja, ao deliberado lançamento de energia atômica para
matar seres humanos; e muitos dos que sobreviveram aos efeitos
imediatos das bombas sofreram espécies nunca antes
presenciadas de praga e fome, sendo a praga a doença da
radiação e a fome uma conseqüência de um de seus sintomas -
vômito continuo de tal gravidade que o corpo da vitima é incapaz
de absorver qualquer nutrição.
Nostradamus parece também ter tomado consciência das
possibilidades de viagem no espaço e ter feito o melhor que pôde
para descrevê-la. Nas duas primeiras linhas da Centúria VI,
Quadra 34, ele provavelmente se referiu aos usos militares de
veículos espaciais, quando escreveu sobre "a máquina do fogo
voador", e as duas últimas linhas da Centúria VI, Quadra 5, só
encontram sentido no contexto de uma estação espacial habitada:

      Samarobin a cem léguas do hemisfério [i.e., da Terra]
           Eles viverão sem lei, isentos de política.

A palavra "política” foi usada provavelmente, aí, no sentido
principal que tinha no século 16 - grosso modo, moderação,
equilíbrio, cálculo ajuizado - e Nostradamus, então, estava
profetizando que um grupo de pessoas viveria sem lei e sem
moderação cem léguas acima da superfície da terra, em alguma
estrutura que ele chamou de "Samarobin".
Parece provável que Nostradamus tenha discernido a natureza de
algumas epidemias modernas, assim como previu a tecnologia do
século 20, pois as três primeiras linhas da Centúria IX, Quadra 55,
podem racionalmente ser interpretadas como uma dupla previsão
da epidemia de gripe que assolou a Europa em 1917 -1918 (e
resultou em mais mortes até do que a própria Guerra Mundial) e da
atual epidemia de aids. Essas linhas dizem:

           A terrível guerra que é preparada no oeste,
                No ano seguinte a pestilência virá,
      Tão horrível que nem jovens nem velhos [sobreviverão]

Ambas as epidemias foram causadas por vírus mutantes; a
erupção da gripe seguiu-se às matanças no fronte ocidental na
Primeira Guerra Mundial e a epidemia da aids, embora seu vírus
causador possa ter existido desde há séculos, não havia adquirido
seu ritmo terrível até a época em que o Iraque invadiu o Irã pelo
oeste, começando uma guerra que foi descrita como a maior
produtora de baixas do que qualquer coisa desde os grandes
avanços de infantaria da Primeira Guerra Mundial.
VÍRUS DE UM COMPUTADOR?
Como foi explicado nas páginas 81-4, com relação a uma quadra
em que há um "marido mitrado", improváveis interpretações
antigas, embora tenham parecido engenhosas na ocasião, têm de
ser abandonadas quando confrontadas com a luz esclarecedora de
eventos históricos.
Outra interpretação assim antiga é a das duas primeiras linhas da
Centúria I, Quadra 22, que diz:
Uma coisa que existe sem qualquer sensação
         Fará sua própria morte ocorrer por um artifício [...]

Desde 1672, quando Théophile de Garencières comentou esses
versos, alguns nostradamianos tentaram aplicá-los a um
acontecimento que se passou em 1613 - a remoção cirúrgica de
um embrião petrificado do útero de uma mulher chamada Colomba
Chantry.
Para alguns, essa interpretação sempre pareceu improvável. Além
de ser um acontecimento um tanto insignificante para ser assunto
de uma profecia, era difícil entender como se podia considerar que
o feto tivesse feito "sua própria morte ocorrer por um artifício". Uma
sugestão alternativa e atualizada é que a coisa (ou coisas) que
paradoxalmente existe, que é capaz de causar sua própria
destruição e que, no entanto, não tem nenhuma sensação, é um
computador moderno. Um "sábio sem sentidos" desse tipo pode
destruir a si mesmo, como resultado de "artifício" ao ser carregado
com um programa que carrega um vírus oculto que instrui a
máquina para erradicar progressivamente a própria memória.
Fantástico? Talvez, mas não mais do que algumas previsões
exatas que são feitas em outros pontos das Centúrias.
Há vinte anos, muitos sovietologistas - supostamente especialistas
nos assuntos econômicos, sociais e políticos da União Soviética e
do bloco de países socialistas que ela liderava:- previam,
desalentada ou alegremente (conforme a orientação política deles),
o declínio das economias de mercado do capitalismo ocidental e o
"inevitável" triunfo do bloco socialista. Mesmo há cinco anos (7),
quando a estrutura da burocracia soviética já estava caindo aos
pedaços, havia não somente aqueles que falavam o tempo todo
sobre "entrar em acordo com a realidade soviética", como alguns
ainda se agarravam à idéia de que, de algum modo misterioso, a
tirania soviética era moralmente superior ao capitalismo moderno.
Nostradamus mostrou saber mais do que todos os auto-intitulados
especialistas. Mais de quatro séculos antes que estes nascessem,
Nostradamus estava profetizando não somente o triunfo dos
bolchevistas russos de 1917, em conseqüência do qual se deu a
perseguição da Igreja Ortodoxa, mas também a queda final do
Muro de Berlim e do império que o tinha construído.
Ele previu o primeiro desses eventos na Centúria VIII, Quadra 80,
que diz:

            O sangue dos inocentes, de viúva e virgem.
         Tantos males cometidos pelo Grande Vermelho,
          Ícones sagrados colocados sobre velas acesas,
     Aterrorizados com pavor, todos terão medo de se mover.

7. N. da T.: O autor escrevia no ano de 1993.

Foi uma excelente descrição não apenas do que de fato aconteceu
durante a era de Lênin e Stálin mas também do estado psicológico
de medrosa imobilidade que ela induziu entre os cristãos russos.
A queda final do comunismo na Rússia e em outras repúblicas
soviéticas foi vaticinada na Centúria III, Quadra 95:

          Ver-se-á a lei mourisca [modo de vida] falhar,
             Seguida de outra que é mais atraente:
            O Boristhenes serd o primeiro a dar lugar
   A outro [modo de vida] mais agradável em conseqüência de
                       presentes e línguas.

A estrofe como um todo fazia pouco sentido até bem
recentemente, embora há
alguns anos pelo menos um comentarista dessa quadra tenha
sugerido que ela profetizara a queda da Rússia como estado
marxista. Sua interpretação se baseou em uma peça de trocadilho
nostradamiano que pode ser identificado na primeira linha - um
engenhoso uso da expressão "lei mourisca" para significar algo
que não é imediatamente evidente a partir de seu significado literal.
Karl Marx, o teórico cujos escritos inspiraram Lênin, Trótski,
Bukharin e os outros líderes da Revolução Russa, tinha um apelido
que só era usado por sua família e amigos íntimos como Friedrich
Engels. Esse apelido era "o mouro" e com o uso da expressão "a
lei mourisca” Nostradamus quis dizer "uma sociedade baseada nos
ensinamentos de Karl Marx".




"O Boristhenes será o primeiro a dar lugar a outro [modo de vida]
mais agradável em conseqüência de presentes e línguas", disse
Nostradarnus na terceira e na quarta linhas. Boristhenes foi o nome
clássico do Dnieper, o grande rio da Rússia, ao passo que a
expressão "presentes e línguas" se refere às influências ocidentais,
sendo aqueles os bens de consumo contrabandeados e estas as
vozes de sereia do capitalismo ouvidas na Rádio Europa Livre e
em outras estações de rádio do Ocidente. A quadra pode ser
parafraseada assim:

            Ver-se-á o modo de vida marxista falhar
         E ser sucedido por um que é mais agradável.
 A Rússia será a primeira [i.e., é, antes da China] a abandonar o
                           comunismo
      Em conseqüência de influências externas sobre ela.




Embora, na última análise, todas essas influências externas
emanem do mundo ocidental, algumas delas entraram na Rússia
em conseqüência dos acontecimentos presenciados pelos
soldados do Exército Vermelho na época da queda do Muro de
Berlim - mais um acontecimento quase de todo inesperado, que
tinha sido visto por Nostradamus, pois ele parece prevê-Ia na
Centúria V, Quadra 81, que diz:

              O pássaro real sobre a cidade do Sol
       Dará seu augúrio [profecia] noturno por sete meses,
         Trovões e relâmpagos, o muro do Leste cairá,
        Em sete dias o inimigo diretamente nos portões.

O "pássaro real" é a águia, um símbolo da velha monarquia da
Prússia, cuja capital era Berlim, que se pensa ter sido chamada
"cidade do Sol" pelo vidente por duas razões. A mais provável é a
de que, segundo pelo menos um astrólogo do século 16,
Brandenburgo, o Estado que se transformou na Prússia, era
"regido" por Leão, o signo do Sol.
Os acontecimentos que imediatamente precipitaram a queda da
Alemanha Oriental e do muro que ela tinha construído com o
objetivo de manter seus cidadãos no país foram precedidos de
aproximadamente sete meses de inquietação civil em constante
crescimento; tudo considerado, a quadra se encaixa muito bem
com o que realmente aconteceu e pode justamente ser
considerada mais uma das predições bem-sucedidas de
Nostradamus.
É correto dizer, porém, que no passado a estrofe em questão foi
aplicada a pelo menos dois outros acontecimentos: as derrotas
sofridas pela França em 1870 e em 1940. Contra isso, tem-se de
admitir que em 1972, quase vinte anos antes da derrubada do
Muro, a comentarista de Nostradamus Erika Cheetham publicou
sua opinião em que diz que era provável que a quadra se referisse
a esse possível e muito desejado acontecimento.
Como já foi apontado, Nostradamus algumas vezes escreveu
estrofes que, até bem recentemente, eram aparentemente uma
miscelânea de disparates embaralhados, mas que hoje fazem
sentido em termos da tecnologia dos equipamentos modernos de
guerra.
Uma profecia "disparatada" desse tipo está na Centúria I, Quadra
29, que agora se pensa que provavelmente se refira ou a alguma
futura guerra nuclear que logo virá ou, mais provável e
desejavelmente, à Guerra do Golfo contra o Iraque e à ocupação
do Kuweit por aquele país. Essa quadra diz:

          Quando o peixe [que viaja] na terra e na água
           For lançado na costa por uma grande onda,
             Sua estranha forma feroz e horripilante,
      Vindos do mar seus inimigos logo chegam aos muros.

Na última linha, "os muros" parece significar, na terminologia de
nossa era, "defesas estacionárias" - muros, fortificados eram a
única forma importante de defesa estacionária no século 16 - e
"seus inimigos" claramente se refere a forças armadas que tentam
romper essas defesas.
Mais uma vez, temos aqui uma quadra que haveria de parecer
extremamente obscura para alguém que a lesse, digamos, na
década de 1840 ou mesmo na de 1940. Com seu peixe ameaçador
de muros que viaja por terra e mar, ela só poderia ser interpretada
forçando-se o seu simbolismo de forma dificilmente convincente
para qualquer um que não fosse dos mais entusiasmados devotos
de Nostradamus. Na década de 1990, entretanto, parece provável
que, como o "meio-homem parecido com porco", ela se refira aos
sistemas bélicos da avançada tecnologia militar. Poderia ser uma
referência a um míssil atômico lançado de um submarino contra
um inimigo, um acontecimento que ainda não houve. Entretanto,
para este escritor, ela soa muito mais como uma descrição da
Guerra do Golfo, de 1991, tal como vista em clarividência por um
médium ou praticante de divinação cerimonial da Renascença (ver
páginas 257 e 64).
Se for assim, a viagem de peixe em terra e mar seria um dos
mísseis Cruise lançados de navio, que arrasou a estrutura de
comando da máquina militar iraquiana e o sistema de suprimento
que a mantinha em operação. A "grande onda” que o lançou sobre
a terra seria o ronco contínuo do motor de foguete do míssil, um
som tão diferente de qualquer ruído conhecido por um homem do
século 16 que provavelmente o faria pensar no som de grandes
ondas se quebrando na costa durante uma tempestade.
Finalmente, o "inimigo vindo do mar" capaz de arrasar "os muros"
-linhas de defesa construídas pelos soldados iraquianos - em
conseqüência do estrago descarregado pelo "peixe" (mísseis
Cruise da marinha) seriam as tropas americanas, britânicas e
outras tropas aliadas que cruzaram os oceanos do mundo para
libertar o Kuweit.

Como já foi observado antes, Nostradamus era um homem do seu
tempo que precisava interpretar as visões desconcertantes que
tinha em termos daquilo que conhecia. Pode-se comparar essa
situação com a dos colonos europeus na Tasmânia, no início do
século 19, que encontraram formas de vida selvagem muito
diferentes das que conheciam e interpretaram o que viram com
base na fauna que já conheciam. Assim, por exemplo,
consideraram que o maior e mais feroz carnívoro da Tasmânia que
encontraram era um tigre, embora o "tigre da Tasmânia” não fosse
sequer da família dos felinos. Da mesma forma, o vidente
Nostradamus interpretou todo objeto aerodinâmico (do tipo de um
míssil) que identificou através da clarividência em termos da única
criatura aerodinâmica que conhecia, isto é, um peixe.
Um "peixe" semelhante (nesse caso um submarino), é referido na
Centúria lI, Quadra 5:

  Quando ferro [i.e., armas] e letras estão contidos em um peixe,
              Virá dele um homem que fará guerra:
          Sua esquadra terá viajado cruzando o mar,
               Para aparecer perto da costa latina.

Talvez essa seja a descrição do líder de uma equipe de
sabotadores fazendo um desembarque subreptício por trás das
linhas inimigas durante a Guerra do Golfo ou algum outro conflito
recente - ou talvez Nostradamus estivesse fazendo a previsão de
uma guerra destinada a irromper em 1996.
CONJUNÇÃO EM PEIXES




Há uma interpretação alternativa e alarmante da primeira linha da
Centúria I, Quadra 29 ("Quando ferro [i.e., armas] e letras
estiverem contidas em um peixe"), que decorre do simbolismo
astrológico tradicional que Nostradamus teria conhecido muito
bem. Nessa leitura, "peixe" indica o signo zodiacal de Peixes,
"ferro" significa o Planeta Marte, regente astrológico desse metal,
da guerra e suas armas, e "letras" significa Mercúrio, o planeta
mais interno do Sistema Solar e regente de todos os meios de
comunicação. A linha toda, assim, significaria algo como "Quando
Marte e Mercúrio estiverem em conjunção com Peixes", e a quadra
como um todo poderia ser tomada como uma predição de que na
época desse acontecimento haveria guerra no Mediterrâneo -
"perto da costa latina” - envolvendo uma esquadra que teria viajado
desde longe.
A conjunção de Mercúrio e Marte em Peixes ocorreria, segundo
Nostradamus, na primavera de 1996. Seria essa data marcada
pelo início de algum grande conflito que envolveria a Marinha dos
Estados Unidos?




Em Todas as épocas houve uma compreensível tendência, entre
aqueles que comentaram as Centúrias de Nostradamus, de buscar
referências a acontecimentos que se deram em sua própria época.
Assim, os nostradamianos franceses das duas últimas décadas do
século 19 procuraram quadras aplicáveis à guerra franco--
prussiana; os estudiosos ingleses das Centúrias nos final dos anos
1930 acreditavam que haviam detectado na Centúria X, Quadra 40,
um prognóstico da abdicação de Eduardo VIII; e alguns
pesquisadores contemporâneos de conhecimento profético oculto
encontraram - é o que afirmam - uma quantidade
assombrosamente grande de quadras relacionadas com os irmãos
assassinados, o presidente John F. Kennedy e Robert Kennedy.
Este escritor acha provável que muitas dessas atribuições aos
Kennedy estejam enganadas. Elas são tão vagas que é impossível
dizer verdadeiramente, de qualquer uma delas, "isso só pode ser
relativo aos Kennedy", da forma que se pode dizer da Centúria IX,
Quadra 20 (ver páginas 73-6), "isto só pode se referir à fuga de
Luís XIV”, ou das duas últimas linhas da Centúria VI, Quadra 5 (ver
páginas 122-3), "isto só pode estar descrevendo uma estação
espacial habitada”.
Não se pode ter certeza, por exemplo, de que a Centúria II, Quadra
57, realmente se aplique, como alguns defendem, à crise dos
mísseis cubanos e à morte do presidente Kennedy. Ela certamente
não se encaixa muito bem na tradução:

            Antes do conflito o grande homem cairá,
    O lamentado grande homem [cairá] por morte repentina,
   Nascido imperfeito, ele percorrerá a maior parte do caminho,
         Perto do rio de sangue o chão está manchado.

O presidente Kennedy, embora sofresse, durante todo o seu
mandato, de um incapacitante problema de coluna e das seqüelas
de uma infecção gonorréica crônica, dificilmente seria uma pessoa
de quem se poderia dizer que nasceu imperfeito, a não ser talvez
num sentido moral. O restante da quadra parece ser ainda menos
relevante, pois embora a segunda linha claramente indique uma
morte inesperada e provavelmente violenta, o assassinato do
presidente ocorreu depois, e não antes, dos conflitos diplomáticos
ligados à crise dos mísseis cubanos.
Ainda vagas, mas um pouco mais justificadamente aplicáveis a
John F. Kennedy e a Robert Kennedy, no sentido de que ambos os
irmãos foram assassinados, são as três primeiras linhas da
Centúria X, Quadra 26, que diz:

               O sucessor vingará seu belo irmão,
          E ocupará o reino sob a sombra da vingança,
    Ele, morto, o obstáculo do morto culpado, seu sangue [..,]

Os problemas para aceitar, como muitos aceitaram, que essa foi
uma profecia, ainda que bem genérica, sobre os Kennedy são: a)
que Robert Kennedy nunca vingou seu irmão nem o sucedeu como
presidente, fosse imediata ou subseqüentemente; b) que a última
linha da quadra - "Por um longo período a Grã-Bretanha estará em
acordo com a França” - parece ter profetizado que, qualquer que
fosse a natureza do(s) acontecimento(s) da profecia envolvendo os
dois irmãos, ele(s) estaria(m) destinado(s) a ser de alguma forma
importante(s) no contexto das relações franco-britânicas. Isso
dificilmente poderia ser dito da morte dos Kennedy.
Outra quadra que também foi aplicada à família Kennedy é a
Centúria IX, Quadra 36, cujas últimas duas linhas dizem:

    Cativos eternos, uma época em que há relâmpagos acima,
          Quando três irmãos serão feridos mortalmente.

Este escritor é cético a respeito da suposta importância profética
dessa quadra. Se ele estiver errado, o prognóstico para o terceiro
irmão, presumivelmente Edward Kennedy, é mau e o último
assassinato vaticinado na linha final acontecerá em algum tempo
de Páscoa - pois, de acordo com a segunda linha da quadra, "Não
longe da Páscoa haverá confusão, um golpe da faca”.
NÚMEROS DE MORTALIDADE
Uma razão para duvidar da existência de qualquer quadra de
Nostradamus que possa ser tida como uma profecia definitiva do
assassinato do presidente John F. Kennedy é que nenhum
intérprete das Centúrias identificou tal quadra antes do
acontecimento. Isso é especialmente surpreendente porque alguns
ocultistas especializados em numerologia - o estudo dos atributos
supostamente místicos dos números - tinham, logo após a eleição
de Kennedy para presidente, em 1960, previsto que ele certamente
morreria no cargo e provavelmente como vítima de um assassino.
A idéia de que quem quer que fosse eleito presidente em 1960
estaria destinado a morrer no cargo tinha estado, por assim dizer,
"no ar" desde a morte do presidente Roosevelt na primavera de
1944. Isso porque, como os interessados em numerologia tinham
percebido na época da morte de Roosevelt, desde 1840 todo
presidente americano que tinha sido eleito em ano terminado por
zero tinha morrido no cargo, e três deles - os presidentes Lincoln,
Garfield e McKinley, eleitos respectivamente nos anos de 1860,
1880 e 1900 - tinham sido assassinados.
A chamada "maldição presidencial dos zeros" provavelmente não
passou de uma série incomum de coincidências. Se realmente
existiu, ou foi limitada a uma duração de 120 anos (um período
significativo em si mesmo, de acordo com alguns numerologistas),
ou foi, em certo sentido, suspensa por Ronald Reagan, eleito para
a presidência pela primeira vez em 1980 e sobrevivente de
tentativas de assassinato e de doenças que apresentam risco de
morte.
A tendência que a maioria de nós tem de querer ouvir que nosso
próprio país (ou continente) e seus líderes são centrais para a
história do mundo é, provavelmente, a maior culpada pelas
interpretações erradas e pelas atribuições proféticas dúbias do tipo
descrito nas páginas 133-6 em relação aos irmãos Kennedy. Se,
por exemplo, alguém acreditar que (a) os presidentes Lincoln e
Kennedy foram figuras de especial importância para o mundo e
que (b) Nostradamus foi capaz de discernir agudamente as linhas
mestras da história desde sua própria época até o futuro distante, é
difícil aceitar a possibilidade de que esses homens não tenham
sido mencionados em algum lugar nas Centúrias.
Mas eis que, no que tange aos acontecimentos que estavam perto
dele no tempo, Nostradamus parece ter tido a atitude inteiramente
eurocêntrica que podia bem se esperar dele, como francês do
século 16. Tirando algumas vagas referências às "Hespérides" e à
sua riqueza, não há na verdade nenhuma profecia de Nostradamus
que possa ser racionalmente aplicada aos acontecimentos da
história
americana até hoje.
À medida que o vidente olhava mais longe no futuro, no entanto,
seu campo de visão parece ter-se alargado, e, como descobrirão
os leitores deste livro, há grande quantidade de quadras
relacionadas a eventos que ainda pertencem ao futuro e que
provavelmente se relacionam, no todo ou em parte, com os
Estados Unidos. No que se refere ao século 20, há algumas
profecias nas Centúrias que podem ser interpretadas como
relativas aos EUA e algumas que parecem se ajustar aos
acontecimentos com certa exatidão.
Como sempre, as mais interessantes entre essas últimas são as
que não somente se encaixam em acontecimentos que de fato
aconteceram mas que foram interpretadas como profecia desses
acontecimentos antes que ocorressem - o que invalida as
suspeitas de engenhosidade interpretativa baseada em visão
posterior. Constituem bons exemplos as quadras que, na época em
que a Guerra Fria estava no auge, foram interpretadas como
profecias de uma futura amizade de curta duração entre os EUA e
a União Soviética.
Tal amizade - de curta duração apenas por causa da desintegração
da URSS, atual Rússia, em suas partes constitutivas - veio à luz
nos anos dos governos Reagan / Bush (8) /Gorbachev, e sem ela o
mundo teria se tornado um lugar muito diferente. Uma das quadras
interpretadas como profecia disso muito antes que acontecesse é a
Centúria II, Quadra 89:
8. N. da T.: O autor se refere aqui o governo do presidente
americano George Bush (1989-1993), pai de George W. Bush
(presidente dos Estados Unidos eleito em 2000).

Um dia os dois grandes líderes [líderes das superpotências] serão
                            amigos,
               Seu grande poder se verá crescer :
     A Terra Nova [América] estará no auge de seu poder,
         Ao homem do sangue será relatado o número.

Com as menções a dois grandes líderes e à "Terra Nova” (no
século 16 um termo bastante comum para a América), essa quadra
foi tida como indicativa da futura amizade entre americanos e
soviéticos já nos anos 1960. Os comentaristas, entretanto, ficavam
perplexos com o significado da última linha. Os Estados Unidos se
tornariam, perguntavam-se eles, um virtual aliado de um país
governado por uma pessoa cujo caráter era de tal natureza que o
vidente se referia a ele como "um homem e sangue”?
Com a presidência de Gorbachev, no entanto, o significado da
última linha pareceu ficar claro: Nostradamus se referiu à marca
distintiva mais óbvia do líder soviético, o grande nevo (área
descolorida da pele causada por vasos sangüíneos hipertrofiados)
com a aparência de sangue seco em sua testa.
Isso parece muito claro e apropriado, mas alguns nostradamianos
contemporâneos adotam um ponto de vista inteiramente sombrio,
identificando o "homem do sangue" com o Anticristo, um
governante cruel cuja hora deve estar próxima (ver páginas 166-9).
A brevidade da duração da amizade entre soviéticos e americanos
foi prevista por Nostradamus nas duas primeiras linhas da Centúria
V, Quadra 78 ("os dois não permanecerão aliados por muito tempo,
[a União Soviética] dando lugar a sátrapas bárbaros").

            BALÕES, BATALHA, BESTEIRA
Uma das tentativas mais estranhas de dar uma inclinação
americana a uma profecia de Nostradamus envolveu a Centúria V,
Quadra 57, que, em tradução parcial - por razões que ficarão
evidentes, algumas palavras foram deixadas em sua forma original
-, diz o seguinte:

        Seguirão a partir do Mont Gaulfier e do Aventine
   Os que através de um todo darão informação ao exército [..,]

De modo geral, é aceito entre os intérpretes das Centúrias que
essas linhas se referem à primeira utilização de balões de ar
quente para fins de observação militar. Isso aconteceu na Batalha
de Fleurus (1794), e naquela época os balões desse tipo eram
conhecidos como Montgolfiers, nome herdado dos irmãos
Montgolfier, que os inventaram em 1783.
Entretanto, na década de 1930, um americano determinado, que
parece ter estado convicto de que praticamente qualquer profecia
de Nostradamus podia ser distorcida para dar alguma importância
aos EUA, decidiu que a expressão Mont Gaulfier se referia ao jogo
de golfe e que a estrofe toda profetizava o resultado de um certo
torneio do U. S. Open. Se alguém se permite uma só interpretação
desse tipo, esse alguém é um comediante; duas ou mais, e a
comédia vira excentricidade!
Nas páginas precedentes, tivemos detalhes de alguns dos acertos
proféticos espantosos contidos nas Centúrias de Nostradamus. Por
exemplo, vimos que ele profetizou os anos exatos do Grande
Incêndio de Londres e do começo da Segunda Guerra Mundial;
vimos como mostrou um conhecimento detalhado de eventos que
ocorreram na Revolução Francesa, que se iniciou mais de dois
séculos após sua morte; e vimos como ele descreveu os mísseis
guiados usados na moderna tecnologia de guerra.
No próximo capítulo (páginas 145-192), serão examinadas as
profecias de Nostradamus que ainda não foram cumpridas - as
profecias que se referem ao futuro próximo de nosso planeta e
provavelmente afetarão a vida de todos e de cada um de nós. O
estudo dessas predições é muito estimulante, pois os que se
dedicam a isso estão, num certo sentido, se esforçando para
rivalizar com Nostradamus na arte de rasgar o próprio tecido do
tempo. Entretanto, a animação precisa ser temperada por uma
percepção de que existem dois fatores importantes que devem
estar sempre presentes na mente dos nostradamianos que
desejam saber o que o futuro guarda para eles e para o mundo.
O primeiro é este: o significado exato das previsões de
Nostradamus com relação ao nosso futuro coletivo decorre das
interpretações das Centúrias feitas separadamente por estudiosos,
a partir da linguagem complicada e obscura muitas vezes
empregada por Nostradamus - e alguns desses julgamentos do
exato significado dado pelo vidente podem estar parcial ou
inteiramente incorretos. O segundo fator importante é que algumas
profecias supostamente atribuídas a Nostradamus são, provável ou
certamente, falsificações. Algumas delas foram criadas pela
máquina de propaganda nazista durante a Segunda Guerra
Mundial, outras possivelmente surgiram em conseqüência de auto-
engano ou de um desejo de brincar com os crédulos.
Nesse sentido, é relevante a história de um evento curioso que se
supõe tenha acontecido no início dos anos 1970. De acordo com
essa história, Nostradamus reapareceu como "um ser humano
vivo, respirando", em um camarim de um estúdio de televisão nos
Estados Unidos. Ele proferiu várias novas profecias em francês
mas que eram "compreensíveis como se fossem em inglês" e fez
uma exposição de algo chamado "Tarô Druida”.
A única testemunha desse notável acontecimento foi um famoso
médium americano que usa o nome "Criswell", que contou sua
experiência no livro Criswell''s Forbidden Predictions Based on
Nostradamus and the Tarot (9). Criswell, um homem que parece
desprezar primeiros nomes, estava sentado em seu camarim
retirando a maquiagem, quando houve uma batida seca na porta,
seguida da entrada de um homem que usava trajes do século 16.
Com admirável brevidade, o visitante inesperado imediatamente se
apresentou dizendo "Eu sou Nostradamus".
Subitamente, Criswell se viu transportado para uma enorme gruta
mobiliada apenas com uma mesa de carvalho e duas cadeiras.
Nostradamus sentou-se em uma delas e indicou a outra a Criswell,
e a partir daí Criswell - certamente um homem mais capaz de lidar
com situações singulares do que este escritor – ouviu calmamente
seu visitante do século 16, enquanto este fazia um grande número
de profecias totalmente novas. Criswell ficou tão impressionado
com essas profecias que se lembrou delas a ponto de ser capaz de
citá-las textualmente em seu livro.

9. N. da T.: Tradução literal: "As predições proibidas de Criswell
com base em Nostradamus e no Tarô".

Quase todas as profecias eram bastante surpreendentes. E todas
elas mostraram na ocasião estar total e completamente erradas!

       TRAÇAS GIGANTES E DERRUBADA DE
                  PIRÂMIDES
Embora este escritor não tenha nenhuma confiança nas previsões
relativas aos anos imediatamente anteriores ao ano 2000 que
foram dadas por Nostradamus a Criswell, parece que vale a pena
resumir algumas delas como aviso aos incautos.

1. Haverá uma fase temporária de total tolerância sexual, na qual
uma orgia mundial continuará até que "mesmo animais sejam
usados".
2. As bactérias crescerão até atingir o tamanho de traças e
passarão então a morder pessoas e animais para além de qualquer
socorro. O Texas e o México serão os lugares mais duramente
atingidos e "suplicarão ajuda de forma a dar pena”. Felizmente, a
ameaça bacteriológica será anulada quando o ar se tornar "maciço
de eletricidade".




3. Um imenso revival do ocultismo fará com que homens, mulheres
e crianças comecem a lançar encantamentos "sobre todo mundo e
todas as coisas". Cinco mil desses lançadores de feitiço se
reunirão nas Cataratas do Niágara e, juntos, inverterão o fluxo do
rio. Outro grupo desses vai "tombar as pirâmides", enquanto um
milhão de médiuns irão se reunir em Prairie, na Dakota do Sul
(EUA), para uma gigantesca sessão espírita. Nesta, os espíritos de
pessoas como Adolf Hitler, Mussolini e Stálin se manifestarão.
4. Todos os aparelhos de televisão e telefone, máquinas de
escrever, canetas e lápis serão confiscados pelos governantes do
mundo, que promulgarão uma lei proibindo que três ou mais
pessoas se reúnam.

Isso tudo realmente soa muito mal!
NECROMANCIA E A MARCA DA BESTA
 A ESTRANHA LINGUAGEM ENIGMÁTICA EMPREGADA POR
NOSTRADAMUS EM MUITAS DE SUAS QUADRAS ERA DE TAL
  NATUREZA QUE PODEMOS ESTAR CERTOS DE QUE ELE
TINHA CONHECIMENTO DE UMA ANTIGA CULTURA MÍSTICA.
 PARA A MAIORIA DE NÓS, QUE VIVE EM UMA ERA CÉTICA,
       UMA LINGUAGEM ENIGMÁTICA CUJA CHAVE,
PROVAVELMENTE, SEREMOS INCAPAZES DE ENCONTRAR.

Interpretar as predições de Nostradamus em relação a eventos que
já aconteceram não é fácil, exceto talvez no caso das profecias
para as quais o vidente, explícita ou implicitamente, especificou
datas, como 1666 ou 1792 (ver páginas 59 e 85). No entanto, essa
tarefa é a própria simplicidade, em comparação com as
dificuldades de interpretação dos exatos significados de quadras
proféticas que ainda não se cumpriram - aquelas, por exemplo, que
parecem referir-se a vastos levantes sociais e políticos por todo o
mundo, a guerras com o emprego de armas novas e aterrorizantes,
capazes de destruição em massa, à emergência de um culto
sinistro liderado por alguém que Nostradamus identificou com o
Anticristo há muito profetizado (ver páginas 166-9) e a viagens
interestelares.
A maior parte das quadras está na categoria de profecias não
cumpridas, ou seja, seu conteúdo parece se referir ao futuro ou,
além disso, emprega uma terminologia que só será compreensível
à luz de acontecimentos futuros. Outra possibilidade é que
algumas se refiram a assuntos secretos relativos a artes místicas
das quais a maior parte de nós sabe muito pouco ou mesmo nada.
Justificadamente, as últimas quadras, algumas vezes chamadas de
"quadras ocultas", estão atraindo a atenção de alguns
pesquisadores nostradamianos da atualidade.
Não obstante, a interpretação de Nostradamus deve levar em
conta que algumas da "quadras ocultas" podem na verdade não se
referir, apesar da linguagem mística utilizada, a mágica ritual,
alquimia e outras disciplinas esotéricas. É possível que o vidente
tenha utilizado nelas um simbolismo oculto para descrever
acontecimentos e conceitos que não podia expressar na linguagem
de seu próprio tempo, porque as palavras necessárias ainda não
tinham sido inventadas.
Mesmo as quadras referentes à virada do século 20 para o século
21 e a depois, que são mais facilmente compreensíveis do que as
cifradas em linguagem de ocultismo, muitas vezes são obscuras ou
passíveis de mais de uma interpretação. Conseqüentemente,
algumas das interpretações de predições de Nostradamus,
analisadas nas páginas a seguir, estarão erradas; outras têm
grande probabilidade de estar corretas.




Há mais de quatrocentos anos existem aqueles que tentam
encontrar alguma chave que revele o (hipotético) modelo estrutural
secreto que acreditam existir subjacente às Centúrias.
Os que buscam encontrar essa chave são levados pela crença de
que nenhum vidente cujas predições se mostraram tão
espantosamente exatas como algumas das profecias de
Nostradamus poderia ter registrado suas visões das coisas do
futuro de uma forma totalmente não planejada; deve ter havido,
pensam eles, uma lógica interna escondida atrás da ordem
aparentemente aleatória em que as quadras foram escritas. Se foi
assim, Nostradamus deve ter assumido que haveria aqueles
capazes de ler as Centúrias de um modo que desse a elas total
sentido (tanto em relação à cronologia quanto ao conteúdo),
aqueles que, como ele, por devotarem anos de estudo às artes
místicas de adivinhação, discerniriam a natureza dessa lógica
estrutural secreta.




Como foi dito nas páginas 145-6, as Centúrias contêm diversas
estrofes cujo conteúdo e terminologia são tais que elas foram
rotuladas de "quadras ocultas", isto é, parecem relacionadas às
artes mágicas. Evidentemente, no sentido original da palavra
"oculto" - ou seja, "secreto" - existe um grande número de quadras
nas Centúrias cujo significado é oculto no sentido de que elas
certamente são profecias, mas seu significado exato
provavelmente não se tornará evidente antes que sejam cumpridas
ou que a chave profética tão buscada seja descoberta. Se, de fato,
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Profecias da Revolução Francesa

  • 2. SSRJ - VISIT & DOWNLOAD - VISITE & BAIXE GRÁTIS: http://ssrj-musica-livros.blogspot.com/ VISITE SSRJ DOWNLOAD DE EBOOKS http://ssrjdownloads.blogspot.com/ OBSCURIDADES PROFÉTICAS A tarefa de interpretar as estrofes proféticas de Nostradamus fica ainda mais difícil por causa do uso deliberado que o vidente fez de expressões complicadas e obscuras, de neologismos (palavras inventadas) derivados do grego e do latim e de anagramas às vezes completos (como, por exemplo, na substituição de Paris por "Rapis"), mas mais freqüentemente apenas parciais. O francês original da quadra que previa a fuga de Luís XVI e sua consorte contém dois anagramas parciais típicos. Um deles é "Heme", um anagrama parcial de reine (rainha), com a transmutação da letra "i" em "h", a letra anterior do alfabeto; o outro é "noir" (negro), uma distorção usada algumas vezes nas Centúrias para se referir à palavra francesa rei - roi.
  • 4. A profecia confirmada de Nostradamus, referente à tentativa de fuga de Luís XVI e Maria Antonieta da França (ver páginas 73-5) não foi de modo algum a única previsão nas Centúrias e outros escritos do vidente relacionados com a Revolução Francesa de 1789 e os acontecimentos que sucederam a ela no período de 1790 até 1815. De fato, se há um tema dominante nas Centúrias, esse tema é a Revolução. Das menos de mil quadras que formam a versão final dessa estranha obra, pelo menos quarenta parecem relacionar-se com a história francesa durante o período da Primeira República e o Império Napoleônico que a sucedeu.
  • 5. Verdade que essas quarenta quadras são só um pouco mais do que 4% do total, mas os anos referidos nesses 4% somam apenas cerca de um quarto de século, ao passo que as Centúrias lidam com previsão de eventos que ocorreriam entre a época do vidente e uma data subseqüente ao ano 3000 d.C. - uma proporção espantosamente alta. Nem todas as quarenta "estrofes revolucionárias" são tão específicas quanto a Centúria IX, Quadra 20 (ver página 73), ou outras profecias tratadas adiante. Algumas delas são de natureza bem geral - isto é, embora pareçam, sob todos os aspectos, aplicáveis à Revolução, é possível que se relacionem, ao contrário
  • 6. (ou também, pois Nostradamus tinha a artimanha de escrever profecias relativas a mais de um acontecimento), a acontecimentos da história francesa que ainda não ocorreram. Exemplo típico disso é a Centúria VI, Quadra 23: Defesas [do reino] minadas pelo espírito do Reino, O povo será agitado contra seu Rei, A paz recém-feita, Leis Sagradas degeneram, Nunca esteve Rapis [Paris] em tão grande tribulação. A estrofe se ajusta aos primeiros anos da Revolução melhor de que a qualquer outra época, mas poderia ser uma profecia dupla ou mesmo tripla, que não se aplicasse somente ao tempo da Revolução mas também a acontecimentos passados durante a minoridade de Luís XIV e a coisas destinadas a ocorrer em nosso futuro. Outra predição dupla pode ser encontrada na Centúria I, Quadra 53, que parece ser prenunciadora de eventos muito similares que ocorreram devido à Revolução Francesa e à Revolução Russa. Em tradução livre, essa profecia dupla diz: Veremos um grande povo atormentado, E a Lei Sagrada em total ruína, A cristandade sob outras leis [não-cristãs] Quando uma nova fonte de ouro e prata [i.e., dinheiro] é encontrada.
  • 7. A quadra parece se referir tanto à supressão do catolicismo na França, no início da década de 1790 (ver quadro na página seguinte), como à ainda mais selvagem supressão da ortodoxia russa, que se seguiu à Revolução Bolchevique de 1917. A última linha também é importante, no sentido de que tanto os revolucionários franceses quanto os russos encontraram "uma nova fonte de dinheiro" imprimindo grande quantidade de papel moeda, que rapidamente se depreciou e acabou se tornando praticamente sem valor. Teria sido o duplo significado dessa quadra - a referência a acontecimentos semelhantes em duas revoluções diferentes - intencional? Ou isso mostra que os comentaristas de Nostradamus torcem o significado dos versos para adaptá-los a acontecimentos específicos? A resposta à primeira questão parece ser "sim"; e a resposta à segunda, um "não" igualmente decidido, pois Nostradamus tornou claro, nas duas linhas que vêm imediatamente após essa quadra, que estivera fazendo referência a duas revoluções: Duas revoluções serão causados pelo funesto ceifeiro, Fazendo uma mudança de reinados e de séculos [...] Com a expressão "funesto ceifeiro", o vidente quis dizer planeta Saturno - o "Grande Maléfico" da astrologia do século 16 -, cujos símbolos são a ampulheta e a gadanha (foice de cabo comprido). Nessas duas linhas ele alegou que, em última análise, influências saturnianas causariam as duas revoluções, a francesa e a russa.
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  • 10. CERA E MEL Nostradamus fez ainda outra previsão com relação à perseguição do clero católico da França durante o começo da década de 1790, na Centúria I, Quadra 44: Em pouco tempo, sacrifícios [não-cristãos] serão ressuscitados, Os que se opuserem serão martirizados. Não haverá mais monges, abades nem noviços, O mel custará mais do que a cera. Tradicionalmente, o preço da cera de abelha ultrapassava o do mel; portanto, com a última linha, Nostradamus estava dando a entender que o preço da cera cairia durante um período de perseguição religiosa, porque não haveria mais tanta demanda para a fabricação de velas votivas e de altar. A linha anterior se refere à supressão das ordens monásticas e outras ordens religiosas, em conseqüência da adoção da Constituição de 1790 e de outras inovações legislativas. Os que se opuseram a essas mudanças de fato foram martirizados, como profetizado.
  • 11. A menção à reinstituição de sacrifícios pagãos, na abertura da quadra, é uma referência aos ritos pseudo-religiosos que foram temporariamente introduzidos na França pelos revolucionários mais extremistas. As mais notáveis dessas cerimônias foram a homenagem à "deusa da Razão" (10 de novembro de 1793) e o absurdo "Festival do Ser Supremo", que foi orquestrado por Robespierre.
  • 12. Embora muitas quadras das Centúrias possam ter parecido obscuras para os primeiros intérpretes, elas foram depois esclarecidas pela passagem dos acontecimentos históricos. Exemplo de tal caso é a Centúria IX, Quadra 34: O consorte solitário no casamento será mitrado No retorno, prosseguirá a luta na thuille, Por quinhentos, um dignificado será traído, Narbone e Saulce, teremos óleo para as lâminas. Enquanto Narbone pode significar "a cidade de Narbonne", para os primeiros nostradamianos "thuille" parecia ser ou um dos neologismos do vidente ou uma grafia incomum da palavra "telhas" - ou, opcionalmente, "fornos de telhas". Em um caso ou outro, nenhum comentarista das quadras poderia extrair sentido dessa profecia durante cerca de 250 anos após sua publicação. Um estudioso de Nostradamus do século 17 fez uma valente tentativa de interpretação. Tomando "thuille" como a versão
  • 13. ligeiramente distorcida da palavra francesa que significa "telhas", ele assim traduziu a estrofe: O marido separado usará uma mitra, Retornando da batalha, ele passará sobre as telhas, Por quinhentos, um dignificado será traído, Narbone e Saulce terão óleo aos quintais. 1. N. da T.: Em todo este capítulo, se tratará das palavras francesas tuile (telhas) e tuilerie (telheira ou fábrica de telhas). O nome "Palácio das Tulherias", corretamente traduzido, seria "Palácio das Telheiras". 2. N. da T.: Quintal: antiga medida de peso, equivalente a quatro arrobas ou cerca de 60 kg.
  • 14. Eis a interpretação dele para essa quadra: ''A estrofe significa que um certo homem casado será separado de sua mulher e obterá certa posição eclesiástica [...] voltando de algum lugar ou empreendimento, ele será aguardado e combatido, e obrigado a
  • 15. fugir por sobre o telhado de uma casa [...] um homem de grande apreço será traído por quinhentos de seus homens [...] quando ocorrerem essas coisas, Narbon e Saulce [...] ceifarão [i.e., colherão] e farão grande quantidade de óleo". Engenhoso, sem dúvida, mas bem pouco provável. Por singular que a Igreja possa ter sido sob alguns aspectos no século 17, era muito improvável que um homem, depois de se separar de sua esposa, obtivesse alto posto no clero e então fosse "aguardado e combatido" e escapasse de seus agressores saltando por cima de telhados. Entretanto, as obscuridades aparentemente sem significado dessa quadra ganharam sentido em 1791 e 1792. Em junho do primeiro ano, o rei da França, Luís XVI, e sua consorte, Maria Antonieta, fizeram sua tentativa de fugir da França revolucionária (ver páginas 73-5). A coisa foi malfeita desde o início, pois todo o grupo real, inclusive o rei e a rainha, viajava junto em uma gigantesca e pesada carruagem que no caminho quase obrigatoriamente chamava atenção para seus ocupantes. Na cidadezinha de St. Menehoulde, um homem chamado Drouet percebeu que um dos homens da carruagem tinha um rosto que lembrava a aparência do rei tal como retratado em um "assinado" (papel-moeda garantido por terras tomadas da Igreja) de 50 libras. Em Varennes o grupo foi interceptado e preso, principalmente por obra das atividades de um homem chamado Saulce, um comerciante de velas, comestíveis e óleo - cujo nome e ocupação aponta para o Saulces mencionado na última linha da quadra, em associação com óleo. O restante da quadra também se aplica muito bem à fuga de Luís XVI e aos acontecimentos que vieram logo depois. A primeira linha diz "o consorte solitário no casamento será mitrado" e após seu
  • 16. retorno de Varennes para Paris o rei era tanto "mitrado" quanto um "consorte solitário no casamento" - isso porque ele estava politicamente cada vez mais isolado de seus próprios conselheiros e de Maria Antonieta, que era ela mesma um fantoche de seu reacionário conselheiro sueco, o conde Hans Axel von Fersen, um homem cuja influência política foi desastrosa. E ele foi mitrado de forma literal em 20 de junho de 1792, quando uma multidão invadiu o Palácio das Tulherias e obrigou o monarca a colocar a bonnet rouge, a boina vermelha da Liberdade, que tinha o molde da mitra frígia usada na antiguidade.
  • 17. E o que dizer do significado das linhas seguintes da quadra, "No retorno, prosseguirá a luta na thuille" e "Por quinhentos, um dignificado será traído"? Como será descrito nas páginas 85-8, o cenário da luta que se deu em 10 de agosto de 1792 e resultou na deposição do rei logo depois foi o Palácio das Tulherias. Esse palácio, que não estava sendo construído nem, ao que se saiba, sequer planejado na época da publicação das Centúrias, foi erigido em um local que tinha sido anteriormente ocupado por pelo menos um forno de queima de telhas - a "thuille" citada na quadra. E assim a luta de fato prosseguiu no forno de telhas em seguida ao retorno de Luís XVI a Paris, após sua fuga malograda. Naquele que fora, dois séculos antes, um lugar onde montinhos de cerâmica tinham sido queimados para se transformar em telhas que cobriram os telhados de Paris, uma nova ideologia moldada pelos teóricos jacobinos foi queimada no calor da batalha para se tornar a República Francesa. E os "quinhentos" que, segundo a profecia, trairiam "um dignificado"? O dignificado era o rei; os "quinhentos" que o traíram eram provavelmente os "federais" marselheses que participaram da luta nas Tulherias, pois, de acordo com o historiador do século 19 Louis Thiers (1797-1877), "ils étaient cinq cents" - eles eram quinhentos.
  • 18. Nostradamus prefaciou a primeira edição das Centúrias com uma Epístola a Henrique II em palavras apocalípticas. É tal o tom da linguagem em que a maior parte dela está escrita que os céticos afirmam que ela não passa de um catálogo de desastres, vago e até sem sentido, do qual seções inteiras podem ser distorcidas por intérpretes engenhosos de forma que possam ser aplicadas a qualquer evento desagradável que tenha ocorrido nos últimos quatrocentos anos. Entretanto, há profecias significativas e absolutamente específicas na Epístola que definitivamente foram confirmadas pelo curso da história. Uma, em especial, é de enorme interesse porque especifica o ano - 1792 - de um grande acontecimento. A respectiva passagem diz o seguinte: Então haverá o começo [de uma era] que conterá em si mesmo [padrões de comportamento e pensamento, a maneira como as pessoas olham para o mundo] que durará muito tempo, e em seu primeiro ano haverá grande perseguição da Igreja Cristã, mais feroz do que aquela da África [quase certamente uma referência
  • 19. histórica à selvagem perseguição vândala contra a Igreja que ocorreu no norte da África no século 5], e isso irromperá durante o ano Um Mil, Setecentos e Noventa e Dois. Não se pode negar que estava correta a profecia de Nostradamus de que os acontecimentos de 1792 inaugurariam urna nova era. Se algum ano pode ser visto corno o marco do início da era em que hoje vivemos, esse é o ano de 1792 - muito mais do que outros candidatos a essa duvidosa honra, como 1776, quando as colônias britânicas da América do Norte declararam sua independência da
  • 20. terra-mãe, ou 1789, quando Luís XVI convocou o Estado Geral. O acontecimento que, acima de tudo o mais, marca 1792 dentre todos os anos aconteceu em 10 de agosto, quando a assim chamada multidão atacou as Tulherias, que se tornara a casa da família real francesa depois que ela fora retirada de Versalhes. Na realidade, o ataque foi um movimento cuidadosamente organizado, brilhantemente planejado por um comitê insurreicionista que estava principalmente sob controle dos jacobinos, a extrema esquerda do movimento revolucionário, que trabalhou em íntima colaboração com grupos extremistas de Brest e Marselha. As conseqüências imediatas do ataque compreenderam: a morte, em batalha corpo a corpo, de quatrocentos insurrectos e oitocentos soldados das forças reais; o rei foi primeiro suspenso do trono, depois deposto e finalmente executado; os horríveis massacres de setembro, em que muitas centenas de presos, clérigos, homens e mulheres da aristocracia, monarquistas plebeus - até prostitutas e pequenos criminosos - foram chacinados pelos aliados "sans- culottes" dos jacobinos da classe média; e a comuna de Paris se tornou, em tudo menos no nome, o governo central da França.
  • 21. As conseqüências da bem-sucedida insurreição que se deu naquela tarde quente de agosto de 1792 afetaram, e ainda estão afetando, a vida de cada um de nós. Qualquer tentativa de rememorar todas elas estaria totalmente fora do âmbito de um livro como este. Basta dizer que aqueles acontecimentos que se deram em Paris em 1792 - dos quais Nostradamus parece ter tido vislumbres mediúnicos cerca de 250 anos antes - levaram diretamente à emergência de ideologias que em grande parte
  • 22. dominaram a política mundial por mais de dois séculos: secularismo, nacionalismo, democracia revolucionária e socialismo. Há ainda um outro ponto a mencionar no que se refere à previsão de que 1792 marcaria o início de uma nova era. Naquele ano os revolucionários jacobinos da França introduziram um novo calendário. Os nomes tradicionais dos doze meses do ano foram abandonados, por serem derivados da mitologia e da história clássicas, e por isso vistos pelos revolucionários mais radicais como relíquias desatualizadas do passado; o número do ano mudou para que o calendário não mais pudesse ser visto como algo baseado na cronologia cristã. À meia-noite, entre 21 e 22 de setembro de 1792, o “Ano I da República” começou. Ele cobria 365 dias completos, sendo composto de doze meses de trinta dias, mais cinco dias adicionais. Os novos meses receberam nomes que foram considerados "racionais"; assim, por exemplo, o mês que se julgava ser normalmente o mais quente - aquele que começava na data que muitas pessoas ainda chamavam de 22 de julho - foi chamado "Termidor" (calor). Assim, em setembro de 1792, o prognóstico feito por Nostradamus foi cumprido com todas as letras. Ou não teria sido? Afinal, o vidente predisse que a nova era duraria "muito tempo", e não se vêem as pessoas reclamando de "um Termidor muito frio" ou de "um Prairal úmido". Entretanto, qualquer um que leia a literatura teórica do marxismo contemporâneo encontrará continuamente referências àquele calendário no uso de frases tão banalizadas quanto "uma reação termidoriana”. Pelo menos em um sentido, o calendário revolucionário, assim como a nova era social inaugurada em 1792, ainda está conosco.
  • 23.
  • 24. A agitação européia que se iniciou com a erupção da Revolução Francesa não foi uma fase passageira, pois a Primeira República, que sucedeu o reinado de Luís XVI, existiu em estado de perpétua mudança. Robespierre e seus aliados substituíram os republicanos mais moderados, apenas para serem suplantados pelo corrupto Diretório, que por sua vez foi sucedido pelo Consulado e pelo Império de Napoleão Bonaparte. A ascensão e queda de Napoleão foram profetizadas por Nostradamus; na verdade, há tantas quadras que parecem referir- se a Napoleão, o obscuro oficial de artilharia corso que se tornou um grande imperador, que é só possível dar uma interpretação detalhada de algumas poucas. Talvez a mais conhecida seja a Centúria VIII, Quadra 57: De simples soldado ele atingirá o Império, Trocará o manto curto pelo longo, Valente em armas, muito pior contra a Igreja, Ele aborrece os padres como a água encharca uma esponja.
  • 25. A expressão "manto curto" foi uma das duplas alusões do vidente, pois com isso ele queria dizer tanto o casaco que o futuro imperador usava quando era um mero cadete militar como o manto que usava nas ocasiões formais quando assumiu o gabinete de Primeiro Cônsul. O "manto longo" pelo qual ele trocou o anterior foi o manto da Coroação que ele usou quando coroado imperador pelo Papa Pio VII em 1804. O significado da terceira linha é evidente, e a maneira pela qual Napoleão "aborreceu os padres", como prognosticado na quarta linha, será descrita na página 99, em referência a outras duas quadras.
  • 26. Não apenas Nostradamus tinha conhecimento de que "um simples soldado" iria "atingir o Império", mas ele pode até mesmo ter tido uma boa idéia do nome desse soldado - ou pelo menos é isso que se defende em uma engenhosa interpretação da Centúria VIII, Quadra I, que diz:
  • 27. PAU (3), NAY, LORON serão mais de fogo que de sangue. Para nadar em louvor, o grande homem nadará até a confluência. Ele negará entrada aos tagarelas. Pampon e o Durance os manterão confinados. 3. N. da T.: Pronuncia-se "pó", em francês.
  • 28. Os três nomes com os quais se inicia a primeira linha são todos de cidades pequenas e historicamente insignificantes do oeste da França. Entretanto, Nostradamus quis escrever esses nomes em maiúsculas, o que quase sempre é indicação de que as palavras em maiúsculas foram usadas pelo vidente em um sentido secundário - geralmente envolvendo um anagrama ou alguma outra variedade de jogo de palavras. Um anagrama encontrado nesses nomes por um intérprete geralmente confiável das Centúrias é NAPAULON ROY, isto é, "Rei Napoleão". Na época em que Napoleão viveu, era usual escreverem seu tão incomum nome com "au" em lugar de "o". De qualquer forma, Nostradamus poderia estar apontando para o modo como o imperador mudou a grafia de seu sobrenome, do corso "Buonaparte" para a forma mais francesa "Bonaparte". Que talvez tenha sido esse o caso é o que sugere o fato de que na Centúria I, Quadra 76, uma daquelas estranhas quadras duais em que Nostradamus parece estar fazendo uma profecia aplicável a dois homens diferentes, ele escarneceu dos sobrenomes "bárbaros" de Napoleão e de Adolf Hitler. Nostradamus pode ou não ter sabido do sobrenome de Napoleão, mas parece certo que, como será descrito nas duas páginas a seguir, ele sabia do destino final do imperador.
  • 29. A ÁGUIA, MILÃO E PÁVIA A nascente reputação militar de Napoleão ficou completamente estabelecida pelo turbilhão vitorioso que foi sua campanha na Itália em 1796-1797. Dois dos notáveis episódios da campanha, os primeiros e, sob alguns aspectos, os maiores entre os triunfos militares de Napoleão, foram mencionados por Nostradamus na Centúria III, Quadra 37:
  • 30. Antes do ataque um discurso [ou prece] é proferido, Milão, enganada pela emboscada, é capturada pela Águia, As vetustas paredes são rasgadas pela artilharia, Em fogo e sangue apenas poucos recebem clemência. A "Águia” da linha dois, que captura Milão, é Napoleão, chamado de Águia em diversas quadras; mas essa estrofe faz referência a qual de suas duas tomadas de Milão (1796 e 1800)? Certamente à primeira, pois o discurso a que a quadra se refere foi aquele de grande importância, feito pelo futuro imperador a suas tropas no início da campanha italiana de 1796-1797: "Soldados, vocês estão famintos e quase nus [...] Eu os conduzirei às mais férteis planícies do mundo [...] Lá vocês encontrarão honra, glória e riquezas [...] vocês estão precisando de coragem”? Com a ocupação de Milão e de outras cidades próximas, os soldados do exército francês encontraram as riquezas que seu general lhes prometera. E, ai!, suas extorsões se deram em tal escala, que os cidadãos de Milão, Pávia e Binasco romperam em uma revolta aberta, na qual se aliaram aos camponeses da zona rural próxima. A insurreição foi sufocada com a máxima brutalidade, principalmente em Pávia, e, como profetizado na última linha da quadra, pouca clemência foi oferecida pelos homens de Napoleão aos capturados em armas contra eles.
  • 31.
  • 32. Na época em que foi coroado Imperador da França (ver páginas 89-91), Napoleão dominava toda a Europa continental a oeste da fronteira com a Rússia. Desde a época do Imperador Carlos V, nenhum homem exercera tamanho poder no mundo ocidental. A Grã-Bretanha era o único inimigo perigoso e poderoso que ainda o ameaçava, pois sua esquadra ainda dominava os mares e sua riqueza comercial era empregada para subsidiar qualquer Estado europeu que tivesse bastante ousadia para oferecer resistência aos exércitos aparentemente indestrutíveis de Napoleão. O imperador sentiu que a Grã-Bretanha era o único grande obstáculo restante, que precisava ser removido do seu caminho; ele tinha que destruir sua supremacia naval e, se possível, invadir seu território. Napoleão tentou fazer as duas coisas e falhou - como Nostradamus tinha previsto corretamente, na Centúria I, Quadra 77, e na Centúria VIII, Quadra 53. A primeira diz:
  • 33. Entre dois mares se ergue um promontório, Um homem que morrerá mais tarde pela rédea [ou mordida] de um cavalo, Netuno desfralda uma vela negra para o seu homem, A esquadra perto de Calpre [Gibraltar?] e Rocheval [Pedra do Cabo]. Embora essa estrofe fosse obviamente escrita para prever algum tipo de batalha naval em que uma das esquadras rivais- teria uma "vela negra" desfraldada para si (i.e., seria definitivamente derrotada), ela parece, a uma primeira leitura, tão obscuramente expressa como quase qualquer quadra das Centúrias. Entretanto, sua segunda linha, "um homem que morrerá mais tarde pela rédea de um cavalo", dá uma indicação que permite que o acontecimento seja identificado com alguma certeza como sendo a Batalha de Trafalgar - a batalha naval decisiva, na qual a esquadra inglesa derrotou as esquadras combinadas da França e da Espanha e finalmente frustrou a ambição de Napoleão de ser tão superior no mar quanto era em terra. Muito embora poucos comandantes navais de alguma importância histórica possam ter sido mortos pela rédea de um cavalo, Villeneuve, o marechal que comandou a esquadra francesa em Trafalgar, realmente parece ter morrido dessa curiosa maneira. Feito prisioneiro na batalha, ele foi libertado e voltou à França no ano seguinte, para ser estrangulado em circunstâncias misteriosas em uma hospedaria em Rennes. De acordo com relatos da época, o assassino tinha usado uma rédea de cavalo como arma.
  • 34. O resto da quadra é fácil de entender, pois o "promontório entre dois mares" que fica entre o Atlântico e o Mediterrâneo é Gibraltar.
  • 35. O fracasso de Napoleão em invadir a Inglaterra bem como a maneira pela qual ele usou seu exército de invasão ainda não testado, após retirá-lo de suas linhas que estavam perto de Boulogne cerca de dois meses antes que sua marinha fosse esmagada em Trafalgar, foram previstos por Nostradamus na Centúria VIII, Quadra 53, que diz: Dentro de Bolongne [Boulogne] ele desejará apagar seus erros, Não pode fazê-lo no Templo do Sol, Ele se apressará para fazer grandes coisas, Na hierarquia nunca foi igualado. Os "erros" que Napoleão queria apagar não foram falhas morais; foram os sucessivos erros de julgamento sobre a importância da supremacia naval e força econômica da Grã-Bretanha, que tinham em grande parte anulado os sucessos militares do imperador desde a campanha do Egito de 1798. Mas o que foi o "Templo do Sol" em que Nostradamus dizia que Napoleão seria, metaforicamente falando, incapaz de apagar seus erros? A expressão significou simplesmente Grã-Bretanha, pois empregando as palavras "Templo do Sol", o vidente estava fazendo duas das alusões clássicas que tanto apreciava. Em primeiro lugar, se referia aos escritos de um geógrafo grego de antes do cristianismo que descreveu um lugar que era quase certamente Stonehenge como um templo do deus-sol ApoIo; em segundo, estava aludindo a uma crença tradicional de que a Abadia de Westminster, onde os monarcas ingleses foram coroados desde os tempos dos normandos, fora construída no local de um templo do sol romano-britânico.
  • 36. Depois que Napoleão abandonou suas barcaças de invasão na costa do Canal da Mancha, no verão de 1804, marchou com seu exército para o leste, ocupando Viena e esmagando os exércitos austríacos e russos combinados, em Austerlitz. Em outras palavras, ele se apressou a sair de Boulogne para fazer "grandes coisas" - justamente como Nostradamus tinha vaticinado. Mas a Grã-Bretanha continuava a formar contra ele coalizões das quais ela era a pagadora. Depois que sua invasão da Rússia terminou em desastre e ele foi derrotado na batalha de Leipzig, Napoleão foi forçado a abdicar do posto de imperador, em 1814. Foi exilado para o mini-Estado de Elba, sobre o qual lhe foi dada soberania. Inevitavelmente, a minúscula ilha foi pequena demais para ele; escapou e voltou para a França, onde foi proclamado imperador. Entretanto, após um reinado de apenas cem dias, ele foi derrotado por ingleses e prussianos em Waterloo e exilado para a ventosa Ilha de Santa Helena, no Atlântico, onde morreu em 1821.
  • 37. Esses últimos acontecimentos parecem ter sido matéria referida em mais do que uma visão de Nostradamus, pois estão descritos, sob os véus costumeiros da alegoria e do símbolo, em diversas quadras. Por exemplo, tanto a Centúria lI, Quadra 66, quanto a Centúria X, Quadra 25, descrevem em esboço simbolizado, mas facilmente interpretado, alguns acontecimentos da breve restauração do império napoleônico, e a Centúria I, Quadras 23 e
  • 38. 38, são profecias sobre a Batalha de Waterloo. As duas foram escritas na terminologia simbólica quase heráldica que o vidente tanto apreciava, mas são ambas significativas, e a primeira deu uma clara predição de que o leopardo heráldico da Inglaterra iria triunfar sobre as águias do Grande Exército de Napoleão. Nas Centúrias existem numerosas referências ao papado e a alguns papas em particular. É de supor que, como se deve esperar de um homem de sua época - quando o papa era um governante temporal, além de espiritual, e em geral considerado o homem mais importante do mundo, pelos cristãos ocidentais -, Nostradamus tenha procurado muitas visões relativas ao papado e a pessoas destinadas a ocupar o "Trono de Pedro". Algumas das "quadras papais" se referem a eventos que não ocorreram até hoje, e deve-se presumir ou que Nostradamus as profetizou em falso ou, mais provavelmente, que elas acontecerão em algum momento do futuro - provavelmente num futuro muito próximo (ver páginas 151-3). Outras são tão específicas e se
  • 39. ajustam tão bem aos fatos da história, que se pode considerar razoavelmente certo que são exemplos notáveis de acertos proféticos - por exemplo, o prognóstico das circunstâncias em que um papa exilado, uma figura rara entre as criaturas eclesiásticas pós-medievais, encontraria o seu fim (ver quadro na página 99). Outra profecia nostradamiana muito específica, relativa ao papado, é encontrada na Centúria V, Quadra 29, que diz: A liberdade não será recobrada, Ele será ocupado por um [homem] negro, orgulhoso, cruel e mau, Quando for aberto o assunto do Papa Por Hister, a República de Veneza será envergonhada. Tomando a última linha da estrofe em seu sentido literal, parece que essa profecia deve se referir ao século 18 ou a antes dele, pois a República Veneziana patrícia deixou de existir como Estado independente em conseqüência das conquistas feitas pelos exércitos da França revolucionária. Entretanto, faz muito tempo que há consenso entre os intérpretes de Nostradamus de que nessa quadra o vidente estava usando a expressão "República de Veneza" de maneira semi-alegórica, significando algo parecido com "liberdades populares na península italiana e liberdade de ação do papa".
  • 40. Se essa interpretação for aceita - e os argumentos a seu favor são vários e inteligentes -, essa estrofe parece referir-se ao período 1939-45, e o "Hister" profetizado não é senão Adolf Hitler. Sob essa interpretação, a liberdade não recobrada da primeira linha teve duplo significado para Nostradamus. Por um lado, era a
  • 41. liberdade política do povo italiano, que fora perdida em conseqüência da tomada do poder por Mussolini - o homem mau e (vestido de) negro da segunda linha. Por outro lado, era a liberdade temporal dos papas, perdida em 1870, quando Roma foi incorporada à força ao Reino da Itália; ela não foi de fato recobrada por causa da concordata entre Mussolini e o Vaticano, e o fardo que foi infligido ao papado como resultado de sua perda de poder temporal se tornou ainda mais oneroso pela interferência de Hitler nos negócios tanto da Itália como do Vaticano. Tudo muito bem-colocado, mas pode ser uma interpretação engenhosa demais de uma profecia, na opinião deste escritor - uma dessas ocasiões em que a especulação legítima ultrapassa as fronteiras do bom senso. É preciso admitir, entretanto, que diversas quadras das Centúrias mencionam "Hister", e o que é dito dele geralmente parece compatível com acontecimentos da vida de Adolf Hitler. OS PADRES PERTURBADOS Como foi dito na página 89, na quarta linha da Centúria VIII, Quadra 57, Nostradamus profetizou que Napoleão Bonaparte "aborreceria os padres como a água encharca uma esponja”. A profecia do vidente foi exata, pois de uma forma ou de outra Napoleão aborreceu um número muito grande de clérigos católicos antes e depois de se tornar imperador. Além de párocos humildes, também bispos (e pelo menos um ex-bispo, o aristocrático Talleyrand), cardeais e dois papas, Pio VI e Pio VII. Uma das conseqüências dos sucessos franceses que se seguiram após os triunfos de Napoleão na Itália (ver página 92) foi que o papa Pio VI foi levado para a França como prisioneiro dos
  • 42. franceses e veio a morrer em Valença, vomitando e cuspindo sangue, no fim do verão de 1799. Nostradamus pode ter vaticinado de forma bem vaga essa morte em solo estrangeiro na última linha da Centúria I, Quadra 37, que menciona "Papa e [...] sepulcro, ambos em terras estrangeiras". Uma previsão muito mais específica foi feita na Centúria II, Quadra 97: Pontífice romano, cuidado ao aproximar-se Da cidade de dois rios. Cuspireis vosso sangue naquele lugar, Vós e os vossos, quando as rosas desabrocharem. O sucessor do papa que morreu cuspindo sangue quando as rosas do verão e da Revolução estavam em pleno desabrochar foi Pio VII, que fez uma concordata com a França em 1814, mas que no entanto foi mantido cativo por Napoleão por quase quatro anos. Nostradamus fez alusão a esse cativeiro tanto na terceira linha da Centúria I, Quadra 4 - "Nessa época o barco do papado se perderá" - como nas duas primeiras linhas da Centúria V, Quadra 15, que dizem o seguinte: Ao viajar [literalmente, "navegar" ou "velejar"] O Grande Pontífice será capturado, Os esforços do clero preocupado falharão [...]
  • 43.
  • 44. Nostradamus é, talvez, o mais conhecido profeta do futuro - certamente o mais conhecido do mundo ocidental -, mas nem sempre ele esteve certo em todos os detalhes de suas previsões. Assim, por exemplo, sua profecia do assassinato dos irmãos Guise, na Centúria III, Quadra 51 (ver página 32), estava certa em todos os particulares, exceto nos da última linha. Nessa linha, que diz ''Angers, Troyes e Langres lhes farão um desserviço", ele estava claramente prevendo que as cidades mencionadas seriam hostis à causa a que os irmãos Guise estavam ligados - a supremacia da fé católica na França. Na realidade, nenhum dos governantes desses lugares mostrou qualquer simpatia notável pela causa protestante nas guerras religiosas francesas - um deles permaneceu mais ou menos neutro e os outros dois apoiaram a Liga Católica. Existem diversas previsões assim, grandemente mas não inteiramente corretas, relativas aos acontecimentos do século 19. Elas podem ser exemplos de erros de Nostradamus - mas este escritor suspeita que, pelo menos em algumas delas, os erros surgiram de interpretações errôneas, mais do que de nuvens mediúnicas que obscurecessem as visões que Nostradamus teve do futuro.
  • 45. Um exemplo destacado de profecia provavelmente mal- interpretada é dado pela Centúria X, Quadra 8. As duas primeiras linhas dela foram aplicadas ao batismo do filho de Napoleão III, em 1856, e a terceira linha, à esposa de Napoleão III, a imperatriz Eugênia; admitiu-se que a quarta linha da estrofe não tinha sido cumprida em absoluto, ou era de significado tão obscuro que ninguém poderia julgar como teria sido cumprida. A quadra diz:
  • 46. Com o primeiro dedo e o polegar ele aspergirá a testa, O Conde de Senegália a seu próprio filho [afilhado], Vênus através de vários em curta seqüência, Em uma semana três são mortalmente feridos. Não há nenhuma dificuldade de se chegar à interpretação napoleônica das duas primeiras linhas - claramente, estava sendo descrito um batismo em que um "Conde de Senegália” seria o principal padrinho da criança. Como o padrinho do filho de Napoleão III foi Pio Nono (o Papa Pio IX), que era filho do conde Mastoi Feretti de Senigallia, a quadra se ajusta muito bem. Entretanto, parece não haver nenhuma boa razão para assumir que a quadra está associada de alguma forma a Napoleão III ou a sua família. O Papa Pio IX foi padrinho de muitas e muitas crianças, tanto antes como depois de ser alçado ao "Trono de Pedro", e o significado profético da estrofe pode ter sido relevante para a vida de pessoas que a história esqueceu. A má interpretação (se de fato se trata disso) dessa quadra surgiu como resultado da grande ânsia dos estudantes franceses pelas profecias de Nostradamus, no século 19, e de interpretarem quadras obscuras para que se ajustassem a acontecimentos que eles conheciam ou que esperavam que acontecessem em sua época por exemplo, uma Restauração Bourbon após a queda do Segundo Império e a proclamação da Terceira República (1870).
  • 47. Nem todas as aplicações das previsões de Nostradamus para o século 19 aos incidentes da vida de Napoleão III têm sido baseadas em um raciocínio tão dúbio quanto o referente à Centúria X, Quadra 8. A Centúria IV, Quadra 100, e a Centúria V, Quadra 32, parecem, ambas, previsões da Guerra Franco-Prussiana, que resultou na abdicação de Napoleão III, no fim de seu império, na
  • 48. proclamação da Terceira República e em uma amarga e destrutiva guerra entre seu exército e as forças da Comuna de Paris. A Quadra 100 da Centúria IV é especialmente aplicável a esses acontecimentos. Ela diz: Cairá fogo do céu sobre o edifício real Quando o fogo de Marte estiver enfraquecido: Por sete meses uma grande guerra, a população morrendo de calamidade, Rouen e Evreux não faltarão ao Rei. Durante o cerco de Paris de 1870, quando a guerra franco- prussiana que durou sete meses estava chegando ao seu término ("o fogo de Marte [...] enfraquecido"), aquele "edifício real" das Tulherias (ver páginas 82-4) foi destruído por pesado fogo de artilharia, de grande elevação. Durante o cerco, a calamidade da fome e doenças decorrentes da fome mataram ainda mais parisienses do que as atividades militares dos prussianos. E após a proclamação, Rouen, Evreux e outras cidades da Normandia não "faltaram ao rei", pois eram centros do legitimismo, a causa daqueles que queriam que o Segundo Império desse lugar a uma restauração não republicana, mas da Casa de Bourbon.
  • 49. No caso dessa interpretação em particular, feita no século 19, não parece ter havido nenhuma deformação habilidosa do significado da quadra. Entretanto, deve-se ter em mente que em cada século, não apenas no século passado, houve uma tendência compreensível e quase inevitável, entre os comentaristas das Centúrias de Nostradamus, para talhar as quadras, quase inconscientemente, para que se ajustassem a eventos recentes. Os que interpretam Nostradamus hoje não podem escapar
  • 50. inteiramente de seguir esse mesmo padrão, por muito que possam tentar não fazê-lo. Ao ler algumas das páginas a seguir, portanto (principalmente as páginas 125-132), o leitor deve estar sempre consciente da possibilidade de que este autor tenha caído algumas vezes na mesma armadilha em que caiu o comentarista do século 19 que aplicou a Centúria X, Quadra 8, ao batismo do filho de Napoleão III. Certa noite, no inverno de 1939-1940, durante o período de inatividade militar precedente à blitzkrieg alemã que resultou na queda da França, Magda Goebbels, esposa do brilhante mas totalmente amoral ministro da Propaganda e Iluminação de Hitler, estava lendo na cama. Subitamente ela chamou seu marido, muito agitada: "Você sabia que há mais de quatrocentos anos foi profetizado que em 1939 a Alemanha entraria em guerra contra a França e a Inglaterra por causa da Polônia”?
  • 51. É provável que Goebbels já soubesse algo dessa predição, pois parece que quatro diferentes membros do Partido Nazista já lhe tinham mandado exemplares do livro que provocara essa agitação em sua esposa. Entretanto, ele procurou a passagem do livro para o qual ela chamara sua atenção e foi imediatamente tocado por seu valor potencial como propaganda, pois a profecia realmente previa a data e a causa da guerra que havia sido deflagrada cerca de três meses antes. Talvez, pensou ele, o autor desse livro soubesse de outras profecias que poderiam servir para convencer os inimigos do Reich da inevitabilidade de uma vitória alemã.
  • 52. O livro era intitulado Mysterien von Sonne and Seele ("Mistérios do Sol e do espírito"). Ele tinha sido escrito por um certo Doktor H. H. Kritzinger e fora publicado em 1922, dezessete anos antes da eclosão da guerra. A profecia que tanto excitou Magda Goebbels e os quatro outros nazistas que tinham chamado a atenção de seu marido se baseava em uma interpretação particular, e
  • 53. extremamente engenhosa, da Centúria III, Quadra 57. Essa interpretação não fora feita pelo Doktor Kritzinger na verdade, a data de alguns elementos desse trecho de exegese profética remontava a no mínimo 1715, quando a atenção de um intérprete inglês de Nostradamus que escrevera sob o pseudônimo "D. D." voltou-se para a Quadra 57 da Centúria III: Sete vezes se verá a nação britânica mudar, Tingida de sangue por duzentos e noventa anos: De forma alguma livre por meio do apoio alemão, Áries teme por seu "pólo" (4) bastarniano. D. D. emitiu a opinião de que a expressão "tingida de sangue por duzentos e noventa anos" seria uma referência ao período que começara com o derramamento de sangue real pela execução do rei Carlos I em 1649. Isso deu-lhe 1939 como sendo o ano de algum evento notável na história da Grã-Bretanha. A primeira linha da quadra foi interpretada por D. D. como sete mudanças dinásticas ou quase dinásticas (por exemplo, a Restauração da monarquia Stuart em 1660). 4. N. da T.: No original inglês, pole, que significa tanto "pólo" como "polonês".
  • 54. Entre 1715 e 1921, outros estudiosos de Nostradamus ampliaram as teorias de D. D. O último deles, um certo Herr Loog, combinou todas essas interpretações em uma e acrescentou sua própria explicação da última linha da quadra, "Áries teme por seu 'pólo' bastarniano". Ele a tomou como "A França duvida de (ou teme por) seu aliado subordinado, a terra dos Bastarne (Polônia)" . Por que Herr Loog julgaria que Áries significava França? Estava fazendo apenas uma adivinhação louca? Não, não estava, pois já desde o século 17 Théophile de Garencieres tinha escrito, com relação a essa quadra em particular, que Áries significava França porque "o signo de Áries governa de fato a França". Loog seguiu comentaristas anteriores ao interpretar 1939 como o ano a ser "tingido de sangue" e, com base nisso, previu para esse
  • 55. ano uma guerra que envolveria a Polônia, a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha - a previsão que fora inserida pelo Doktor Kritzinger em seu livro. O cumprimento dessa previsão de Nostradamus teria sido apenas um acerto casual, como os céticos alegam? A essa questão, um observador imparcial só pode responder que, se foi apenas um acerto casual a previsão da invasão da Polônia por Hitler e da deflagração da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939, deve-se admitir que o vidente tinha uma extraordinária capacidade para esses acertos. Como os leitores deste livro hão de convir, há numerosos exemplos desse mesmo tipo de previsão confirmada que podem ser encontrados nas Centúrias e em outros escritos de Nostradamus.
  • 56.
  • 57. Como foi apontado na página 77, Nostradamus às vezes escrevia estrofes proféticas de dupla natureza, isto é, previsões que, sem serem excepcionalmente vagas, parecem de fato se adequar a mais de uma pessoa ou acontecimento. A explicação de um cético para a adequação dessas quadras é que o vidente nunca fez uma profecia genuinamente cumprida, que os intérpretes simplesmente torceram o significado dos componentes das Centúrias para os adequarem a suas próprias idéias preconcebidas e que a existência de quadras com mais de um suposto significado apenas ilustra o fato de que dois ou mais comentaristas de Nostradamus chegaram a interpretações diferentes. É um argumento inteligente e, de certa forma, persuasivo, mas baseado na premissa de que nenhuma das previsões de Nostradamus tenha sido genuinamente cumprida. Para este escritor e também para muitos outros, essa posição parece bastante insustentável em vista dos diversos prognósticos que foram explícita ou implicitamente datados pelo vidente (ver
  • 58. exemplos nas páginas 59 e 85). Uma explicação mais provável para as quadras de duplo significado é que, nas visões, Nostradamus discernia dois indivíduos diferentes, cujas vidas estavam separadas no tempo e que podiam muito bem ser bastante diferentes em caráter mas tinham certas coisas em comum que lhe permitiam escrever uma estrofe profética referente a ambos. Um bom exemplo de uma previsão assim, dupla e expressa de forma hábil, está na Centúria I, Quadra 76, que parece se aplicar tanto a Napoleão Bonaparte (ver página 92) como a Hitler - igualmente "de nome bárbaro", para qualquer alemão da década de 1920 não nascido nas proximidades da fronteira eslava. O significado dessa quadra é óbvio. Ela diz: Este homem será chamado por um nome bárbaro Que as três irmãs terão recebido, Ele falará a um grande povo em palavras e ações, Terá fama e renome além de qualquer outro homem [de seu tempo]
  • 59. Parece provável, no entanto, que algumas quadras aplicadas a mais de uma pessoa foram mal interpretadas por intérpretes excessivamente crédulos. Uma delas é a Centúria II, Quadra 70, aplicada a Napoleão por alguns, mas muito provavelmente profética do caráter e da morte de Heinrich Himmler, líder da SS de Hitler, que morreu enquanto falava - tal como o "monstro humano" da estrofe em questão, que diz: O dardo vindo do céu fará sua viagem,
  • 60. Morte durante a fala, uma grande execução; A pedra na árvore, uma nação orgulhosa humilhada, Fala de um monstro humano, purgação e expiação. Outra quadra que foi aplicada a Napoleão mas parece muito mais adequada ao contexto do nazismo é a Centúria III, Quadra 35, que diz: Nas mais longínquas profundezas da Europa Ocidental, Uma criança nascerá de uma gente pobre, Que por seus discursos seduzirá multidões, Sua reputação crescerá ainda mais no domínio oriental. Essa parece ser outra referência a Hitler, pois seus pais eram bem mais pobres que os de Napoleão. Hitler nasceu na fronteira oriental da Europa Ocidental, sua ascensão ao poder aconteceu em conseqüência da "sedução de muitos" por sua oratória e sua ofensiva com vistas a obter "Lebensraum" (5) foi dirigida principalmente ao "domínio oriental" da União Soviética. Das numerosas quadras que foram aplicadas aos nazistas nos últimos sessenta anos, mais ou menos, algumas parecem dúbias ao extremo - mas é difícil duvidar de muitas delas. Por exemplo, a Centúria X, Quadra 90, prevê acertadamente o desastroso efeito que teve para a Hungria o fato de o governante daquele país, almirante Horthy, ter aceito a "ajuda” oferecida por Hitler: Um capitão da Grande Alemanha [i.e., Hitler] Oferecerá ajuda fingida, Um Rei dos Reis para apoiar a Hungria, Sua guerra causará grande derramamento de sangue.
  • 61. De forma semelhante, a Centúria V, Quadra 29, obviamente se aplica a Hitler, a Mussolini e ao papado (ver página 99); a Centúria V, Quadra 51, às atividades desses dois ditadores à época da Guerra Civil Espanhola, e a Centúria VI, Quadra 51, ao malogrado atentado contra a vida de Hitler em novembro de 1939. 5. N. da T.: Na acepção original da língua alemã, "espaço vital". Termo empregado no inglês com o significado de "território adicional que uma nação considera necessário para garantir seu bem-estar econômico", segundo o American Heritage Dictionary. As conquistas feitas por Hitler na primavera seguinte também parecem ter sido percebidas por Nostradamus, que escreveu, na Centúria V, Quadra 94: Ele [presumivelmente Hitler] transformará em Grande Alemanha Brabant, Flandres, Ghent, Bruges e Boulogne [...]
  • 62.
  • 63. O SINAL DA SUÁSTICA A suástica ou hakenkreuz (literalmente, "cruz recurvada") está agora para sempre associada, na mente de todos nós, aos nazistas e aos terríveis crimes que eles cometeram na Segunda Guerra Mundial. Originalmente, no entanto, o símbolo tinha um significado puramente espiritual, tanto no Oriente como no Ocidente; e, de fato, até hoje o símbolo da suástica pode ser encontrado em muitos templos hinduístas. Antes do início da Primeira Guerra Mundial, a suástica era considerada, na Alemanha, um símbolo do deus Thor (ou Thunor), e foi por isso que os Freikorps - grupos armados que defenderam a Alemanha depois da guerra - a adotaram. No início dos anos 1920, Hitler inverteu a posição dos braços da suástica e fez dela a insígnia de seu movimento.
  • 64. Nostradamus parece ter previsto a futura notoriedade tanto da suástica como do líder nazista na Centúria VI, Quadra 49: O grande Sacerdote do Partido de Marte [i.e., Hitler] Que subjugará o Danúbio, A cruz atormentada pelo gancho [...] Descrevendo o líder nazista como "ave de rapina voando para a esquerda”, na Centúria I, Quadra 34, Nostradamus escreveu profeticamente sobre as percepções européias a respeito de; Adolf Hitler no período 1933-1939:
  • 65. O pássaro de rapina voando para a esquerda Faz preparações [bélicas] antes de combater os franceses: Alguns o considerarão bom, alguns mau, alguns ambíguo, O partido mais fraco o verá como um bom augúrio. A descrição de Hitler "voando para a esquerda”, na primeira linha, foi um típico exemplo de jogo de palavras de Nostradamus. Sua referência primária foi ao fato de que a palavra "sinistro" deriva da palavra latina que significa "esquerda”; sua referência secundária
  • 66. foi que Hitler, como este explicou em seu livro Mein Kampf, deliberadamente moldou seus métodos de propaganda com base nos usados pelos marxistas, e muitos membros de suas tropas de assalto, as SA, foram recrutados nas fileiras de ex-comunistas. A segunda linha da quadra exige pouca clarificação - a preparação de guerra de Hitler contra a França foi tal que, no verão de 1940, centenas de milhares de refugiados entupiriam as estradas francesas (ver quadro na página 116) -, mas a terceira linha precisa de alguma explicação. Para nós, com todas as vantagens do ângulo de visão de agora, parece óbvio que Hitler era um fomentador de guerra megalomaníaco com desejo de dominar o mundo e de destruir qualquer pessoa ou povo que atravessasse o seu caminho ou que
  • 67. fosse considerado por ele racialmente indesejável. Nos anos 1930, no entanto, nada disso estava tão evidente. Para a direita, o comunismo soviético era a maior ameaça para a estabilidade e a paz da Europa, e em geral se pensava que os nazistas tinham "salvado a Alemanha do bolchevismo". E grande parte tanto da esquerda liberal como da direita acreditava que, apesar de toda a sua oratória inflamada, Hitler não queria de fato a guerra, mas estava preparado para usá-lo como ameaça, para reparar as injustiças que a Alemanha tinha sofrido sob os termos do Tratado de Versalhes de 1919. Assim, as atitudes em relação ao Führer eram, como profetizara Nostradamus, muito misturadas. Alguns, como o líder liberal inglês Lloyd George, por algum tempo o olharam com admiração; outros distinguiram sua natureza má em estágio precoce de sua carreira; outros não tinham certeza. O "partido mais fraco", citado na última linha da quadra, que o vidente previu que veria a chegada de Hitler ao poder como um "bom augúrio", foi, surpreendentemente, o KPD, o Partido Comunista Alemão, cujos líderes stalinistas defenderam que uma fase de regime nazista precederia a revolução proletária alemã. Há várias quadras nas Centúrias que se referem a alguém ou a alguma coisa chamada "Hister", sendo que quase todas carregam o duplo significado profético em que Nostradamus, por assim dizer, se especializou; ou seja, todas se referem tanto ao Rio Ister, um nome antigo do Danúbio, como a Adolf Hitler. Uma delas é a Centúria II, Quadra 24. Ela parece se referir tanto ao aprisionamento do líder húngaro, almirante Horthy, por "Hister" na sua acepção de Hitler, como à derrota final da Wehrmacht (6) na Hungria e sua retirada em pânico, cruzando o "Hister" em sua acepção de Danúbio. Diz ela:
  • 68. Feras loucas de fome nadarão através dos rios, A maior parte do campo de batalha será contra Hister. Em uma gaiola de ferro o líder será arrastado [por ele?] Quando o filho da Alemanha não segue lei alguma. Nostradamus profetizou as derrotas de Hitler na Europa Ocidental, assim como as do Danúbio, e a Centúria II, Quadra 16, é claramente pertinente à "nova tirania” dos fascistas italianos e seus patrocinadores alemães, à invasão da Sicília pelos Aliados, em 1943, e ao intenso bombardeamento aéreo e naval ("grande ruído e fogo nos céus") que a precedeu. A quadra diz: Em Nápoles, Palermo, Siracusa e em toda a Sicília, Novos tiranos [governam], grande ruído e fogo nos céus, Uma força vinda de Londres, Ghent, Bruxelas e Suse, Uma grande matança, seguida de triunfo e festas. A linha final foi um presságio da vitória dos Aliados, mas em outro lugar, na Centúria 1, Quadra 31, o vidente tornou claro que ele sabia que essa vitória seria em certa medida uma vitória oca para os Aliados, com o fascismo espanhol ainda no poder, novas ameaças da União Soviética e uma percepção de que os "três grandes, a Águia (os EUA), o Galo (França) [...] o Leão (Grã- Bretanha)" tinham gozado no máximo "uma vitória incerta”.
  • 69. 6. N. da T.: Em alemão: "Forças Armadas". Portanto, a força de guerra alemã. O BANQUETE DA CARNIÇA A fuga dos infelizes refugiados franceses que, bombardeados por Stukas e varridos pelo fogo de aviões de caça, seguiam pelas estradas rumo ao sul enquanto a Wehrmacht avançava sobre Paris no início do verão de 1940, foi profetizada por Nostradamus na Centúria III, Quadra 7, que diz: Os refugiados [literalmente, fugitivos], fogo vindo do céu sobre suas armas, A próxima batalha será a dos urubus, Eles [os refugiados] apelam à terra e aos céus por socorro Quando os guerreiros se aproximam dos muros. O "fogo do céu" era o que vinha dos aviões da Luftwaffe e foi tão eficaz que matou homens, mulheres e crianças, e - como o vidente tinha vaticinado - urubus brigaram entre si na partilha da carne humana com a qual puderam se banquetear.
  • 70.
  • 71. Por um período de mais de quatrocentos anos, estudiosos de profecia e outras artes de predição se têm detido sobre as estrofes tortuosas e muitas vezes obscuras que compõem as Centúrias de Nostradamus. Alguns deles, como James Laver, queriam apenas descobrir exemplos de profecia confirmada; outros querem também interpretar as quadras com o objetivo de descobrir o que o futuro guarda tanto para eles quanto para seus descendentes. Outros, ainda, estudam as Centúrias com um objetivo bem diferente em vista: desejam, por razões que podemos somente supor, desacreditar as profecias em geral e as de Nostradamus em particular.
  • 72. Grande parte desses céticos profissionais rejeitou todos os exemplos de profecia confirmada - mesmo as profecias em que o vidente deu datas específicas -, tomando-os ou como coincidências ou como produto do "ângulo de visão ilusório", ou seja, uma hábil distorção do conteúdo e da importância de determinadas quadras para que se ajustem a um evento do passado. Não há nenhuma dúvida de que isso foi feito algumas vezes, tanto por
  • 73. nostradamianos entusiasmados demais quanto por pessoas interessadas em apenas pregar uma peça. Desse modo, por exemplo, um comentarista americano (que se pode esperar que foi um brincalhão, e não um homem desejoso de contribuir com algum comentário sério sobre as Centúrias) deu-se ao grande trabalho de reinterpretar uma quadra geralmente considerada como uma predição bastante clara da invenção, no século 18, do vôo em balão, pelos irmãos Montgolfier. Segundo ele, a quadra em questão tinha sido mal interpretada e era, na realidade, a revelação do resultado de um torneio de golfe do U.S. Open que aconteceu nos anos 1920. Por mais engraçada que uma interpretação assim ridícula possa ser, geralmente não é fácil, de modo algum, distorcer as quadras das Centúrias para um propósito particular. Com relação a isso, é interessante notar uma circunstância ligada ao avanço do exército alemão sobre a França no início do verão de 1940. O setor de "propaganda negra” tanto das Forças Armadas como do Ministério da Propaganda estava ansioso para encontrar uma quadra de Nostradamus cujo sentido pudesse ser pervertido, de maneira a utilizá-la para estimular os refugiados civis franceses a seguirem pelas estradas que levam ao sudoeste da França, para que desse modo pudessem tê-las bloqueadas. A idéia era lançar, pela Luftwaffe, folhetos com uma quadra adequadamente interpretada sobre áreas em que se sabia da existência de concentrações de refugiados. Entretanto, embora os especialistas da "propaganda negra” requisitassem a assistência de vários especialistas em Nostradamus - um dos quais, pelo menos, era um nazista convicto -, eles absolutamente não conseguiram encontrar uma quadra que servisse a seus propósitos. Havia, é claro, a quadra descrita no
  • 74. quadro da página 116, mas como ela sugeria que os que tomassem as estradas podiam muito bem acabar sendo comidos por aves de rapina, não atendia de jeito nenhum às intenções alemãs. Em vez disso, os nazistas foram forçados a lançar folhetos com imitações grosseiras atribuídas a Nostradamus, mas que não lembravam quadras genuínas de forma alguma, nem em estilo nem em conteúdo. É provável que Nostradamus não ficasse especialmente surpreso se soubesse que quase quatrocentos anos após a sua morte estrofes atribuídas a ele estivessem destinadas a cair do ar, lançadas de máquinas voadoras - embora vivesse em uma época em que o meio mais rápido de transporte era um cavalo, ele parece ter tido visões de combate aéreo. Uma visão assim está provavelmente descrita na Centúria I, Quadra 64: À noite eles pensarão ter visto o Sol, Quando virem o meio-homem parecido com porco, Ruído, gritos, batalhas vistas nos céus: Feras grosseiras falando serão ouvidas. Isso lembra uma descrição de uma batalha aérea como as que devem ter ocorrido em qualquer época entre o começo da Primeira Guerra Mundial e a Guerra do Golfo, em 1991. Aceitando-se essa interpretação, o Sol à noite seria o brilho da explosão de bombas ou mísseis antiaéreos, o "meio-homem parecido com um porco" seria um piloto ou um navegador usando capacete de vôo e máscara de oxigênio, o que em aparência lembra vagamente um focinho suíno. E as "feras grosseiras falando" que são ouvidas seriam os "meio-homens", i.e., os aviadores comunicando-se por rádio com a base e um com o outro.
  • 75. A TECNOLOGIA MODERNA Muitas da quadras que pareciam não passar de uma série de frases incompreensíveis para quem as lia nas"décadas de 1690, 1790 e 1890 parecem ter um significado bastante claro para aqueles dentre nós que tentam interpretá-Ias agora. Muitas das
  • 76. estrofes de Nostradamus que em, digamos, 1890 pareciam ser material incompreensivelmente simbólico e vagamente místico fazem sentido agora como registro de uma visão interpretada por um homem que viveu no século 16 - um homem que estava tentando descrever uma tecnologia da qual ele não conhecia nada. A Centúria I, Quadra 64 (na página 119), dá excelente exemplo de uma dessas tentativas de Nostradamus descrever a tecnologia de um tempo futuro. Se aceitarmos que, como foi explicado nas páginas 119-20, Nostradamus teve visões de combate aéreo moderno e achou a tarefa de descrevê-lo tão difícil que se viu forçado a usar expressões como "homens parecidos com porcos", podemos imaginar que, se ele teve vislumbres de clarividência de tecnologias ainda mais recentes, teria considerado ainda maior o esforço de expressar em palavras a natureza do que tinha visto.
  • 77. E existem algumas quadras nas Centúrias em que parece provável que o profeta tenha tentado descrever explosões atômicas e vôos espaciais. Por exemplo, a Centúria lI, Quadra 6, faz pensar que ela seja uma previsão dos acontecimentos que causaram a rendição dos japoneses em agosto de 1945 - o lançamento de bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A quadra diz: Perto do porto e em duas cidades Haverá dois flagelos nunca testemunhados antes. Fome e praga, os lançados abaixo pela arma [literalmente, "ferro"] Clamarão ao Deus Imortal por socorro. Claro que é possível que nessa estrofe o vidente estivesse prognosticando desastres gêmeos ainda por ocorrer, mas é preciso admitir que eles se ajustam muito bem aos acontecimentos de agosto de 1945. Ambas as cidades são contíguas a portos; seus habitantes foram submetidos a "flagelos nunca testemunhados antes" - ou seja, ao deliberado lançamento de energia atômica para matar seres humanos; e muitos dos que sobreviveram aos efeitos imediatos das bombas sofreram espécies nunca antes presenciadas de praga e fome, sendo a praga a doença da radiação e a fome uma conseqüência de um de seus sintomas - vômito continuo de tal gravidade que o corpo da vitima é incapaz de absorver qualquer nutrição.
  • 78. Nostradamus parece também ter tomado consciência das possibilidades de viagem no espaço e ter feito o melhor que pôde para descrevê-la. Nas duas primeiras linhas da Centúria VI, Quadra 34, ele provavelmente se referiu aos usos militares de veículos espaciais, quando escreveu sobre "a máquina do fogo voador", e as duas últimas linhas da Centúria VI, Quadra 5, só encontram sentido no contexto de uma estação espacial habitada: Samarobin a cem léguas do hemisfério [i.e., da Terra] Eles viverão sem lei, isentos de política. A palavra "política” foi usada provavelmente, aí, no sentido principal que tinha no século 16 - grosso modo, moderação, equilíbrio, cálculo ajuizado - e Nostradamus, então, estava profetizando que um grupo de pessoas viveria sem lei e sem
  • 79. moderação cem léguas acima da superfície da terra, em alguma estrutura que ele chamou de "Samarobin".
  • 80. Parece provável que Nostradamus tenha discernido a natureza de algumas epidemias modernas, assim como previu a tecnologia do século 20, pois as três primeiras linhas da Centúria IX, Quadra 55, podem racionalmente ser interpretadas como uma dupla previsão da epidemia de gripe que assolou a Europa em 1917 -1918 (e resultou em mais mortes até do que a própria Guerra Mundial) e da atual epidemia de aids. Essas linhas dizem: A terrível guerra que é preparada no oeste, No ano seguinte a pestilência virá, Tão horrível que nem jovens nem velhos [sobreviverão] Ambas as epidemias foram causadas por vírus mutantes; a erupção da gripe seguiu-se às matanças no fronte ocidental na Primeira Guerra Mundial e a epidemia da aids, embora seu vírus causador possa ter existido desde há séculos, não havia adquirido seu ritmo terrível até a época em que o Iraque invadiu o Irã pelo oeste, começando uma guerra que foi descrita como a maior produtora de baixas do que qualquer coisa desde os grandes avanços de infantaria da Primeira Guerra Mundial.
  • 81. VÍRUS DE UM COMPUTADOR? Como foi explicado nas páginas 81-4, com relação a uma quadra em que há um "marido mitrado", improváveis interpretações antigas, embora tenham parecido engenhosas na ocasião, têm de ser abandonadas quando confrontadas com a luz esclarecedora de eventos históricos. Outra interpretação assim antiga é a das duas primeiras linhas da Centúria I, Quadra 22, que diz:
  • 82. Uma coisa que existe sem qualquer sensação Fará sua própria morte ocorrer por um artifício [...] Desde 1672, quando Théophile de Garencières comentou esses versos, alguns nostradamianos tentaram aplicá-los a um acontecimento que se passou em 1613 - a remoção cirúrgica de um embrião petrificado do útero de uma mulher chamada Colomba Chantry. Para alguns, essa interpretação sempre pareceu improvável. Além de ser um acontecimento um tanto insignificante para ser assunto de uma profecia, era difícil entender como se podia considerar que o feto tivesse feito "sua própria morte ocorrer por um artifício". Uma sugestão alternativa e atualizada é que a coisa (ou coisas) que paradoxalmente existe, que é capaz de causar sua própria destruição e que, no entanto, não tem nenhuma sensação, é um computador moderno. Um "sábio sem sentidos" desse tipo pode destruir a si mesmo, como resultado de "artifício" ao ser carregado com um programa que carrega um vírus oculto que instrui a máquina para erradicar progressivamente a própria memória. Fantástico? Talvez, mas não mais do que algumas previsões exatas que são feitas em outros pontos das Centúrias.
  • 83. Há vinte anos, muitos sovietologistas - supostamente especialistas nos assuntos econômicos, sociais e políticos da União Soviética e do bloco de países socialistas que ela liderava:- previam, desalentada ou alegremente (conforme a orientação política deles), o declínio das economias de mercado do capitalismo ocidental e o "inevitável" triunfo do bloco socialista. Mesmo há cinco anos (7), quando a estrutura da burocracia soviética já estava caindo aos pedaços, havia não somente aqueles que falavam o tempo todo sobre "entrar em acordo com a realidade soviética", como alguns ainda se agarravam à idéia de que, de algum modo misterioso, a tirania soviética era moralmente superior ao capitalismo moderno. Nostradamus mostrou saber mais do que todos os auto-intitulados especialistas. Mais de quatro séculos antes que estes nascessem, Nostradamus estava profetizando não somente o triunfo dos bolchevistas russos de 1917, em conseqüência do qual se deu a perseguição da Igreja Ortodoxa, mas também a queda final do Muro de Berlim e do império que o tinha construído.
  • 84. Ele previu o primeiro desses eventos na Centúria VIII, Quadra 80, que diz: O sangue dos inocentes, de viúva e virgem. Tantos males cometidos pelo Grande Vermelho, Ícones sagrados colocados sobre velas acesas, Aterrorizados com pavor, todos terão medo de se mover. 7. N. da T.: O autor escrevia no ano de 1993. Foi uma excelente descrição não apenas do que de fato aconteceu durante a era de Lênin e Stálin mas também do estado psicológico de medrosa imobilidade que ela induziu entre os cristãos russos. A queda final do comunismo na Rússia e em outras repúblicas soviéticas foi vaticinada na Centúria III, Quadra 95: Ver-se-á a lei mourisca [modo de vida] falhar, Seguida de outra que é mais atraente: O Boristhenes serd o primeiro a dar lugar A outro [modo de vida] mais agradável em conseqüência de presentes e línguas. A estrofe como um todo fazia pouco sentido até bem recentemente, embora há alguns anos pelo menos um comentarista dessa quadra tenha sugerido que ela profetizara a queda da Rússia como estado marxista. Sua interpretação se baseou em uma peça de trocadilho nostradamiano que pode ser identificado na primeira linha - um engenhoso uso da expressão "lei mourisca" para significar algo
  • 85. que não é imediatamente evidente a partir de seu significado literal. Karl Marx, o teórico cujos escritos inspiraram Lênin, Trótski, Bukharin e os outros líderes da Revolução Russa, tinha um apelido que só era usado por sua família e amigos íntimos como Friedrich Engels. Esse apelido era "o mouro" e com o uso da expressão "a lei mourisca” Nostradamus quis dizer "uma sociedade baseada nos ensinamentos de Karl Marx". "O Boristhenes será o primeiro a dar lugar a outro [modo de vida] mais agradável em conseqüência de presentes e línguas", disse Nostradarnus na terceira e na quarta linhas. Boristhenes foi o nome clássico do Dnieper, o grande rio da Rússia, ao passo que a
  • 86. expressão "presentes e línguas" se refere às influências ocidentais, sendo aqueles os bens de consumo contrabandeados e estas as vozes de sereia do capitalismo ouvidas na Rádio Europa Livre e em outras estações de rádio do Ocidente. A quadra pode ser parafraseada assim: Ver-se-á o modo de vida marxista falhar E ser sucedido por um que é mais agradável. A Rússia será a primeira [i.e., é, antes da China] a abandonar o comunismo Em conseqüência de influências externas sobre ela. Embora, na última análise, todas essas influências externas emanem do mundo ocidental, algumas delas entraram na Rússia em conseqüência dos acontecimentos presenciados pelos
  • 87. soldados do Exército Vermelho na época da queda do Muro de Berlim - mais um acontecimento quase de todo inesperado, que tinha sido visto por Nostradamus, pois ele parece prevê-Ia na Centúria V, Quadra 81, que diz: O pássaro real sobre a cidade do Sol Dará seu augúrio [profecia] noturno por sete meses, Trovões e relâmpagos, o muro do Leste cairá, Em sete dias o inimigo diretamente nos portões. O "pássaro real" é a águia, um símbolo da velha monarquia da Prússia, cuja capital era Berlim, que se pensa ter sido chamada "cidade do Sol" pelo vidente por duas razões. A mais provável é a de que, segundo pelo menos um astrólogo do século 16, Brandenburgo, o Estado que se transformou na Prússia, era "regido" por Leão, o signo do Sol. Os acontecimentos que imediatamente precipitaram a queda da Alemanha Oriental e do muro que ela tinha construído com o objetivo de manter seus cidadãos no país foram precedidos de aproximadamente sete meses de inquietação civil em constante crescimento; tudo considerado, a quadra se encaixa muito bem com o que realmente aconteceu e pode justamente ser considerada mais uma das predições bem-sucedidas de Nostradamus. É correto dizer, porém, que no passado a estrofe em questão foi aplicada a pelo menos dois outros acontecimentos: as derrotas sofridas pela França em 1870 e em 1940. Contra isso, tem-se de admitir que em 1972, quase vinte anos antes da derrubada do Muro, a comentarista de Nostradamus Erika Cheetham publicou
  • 88. sua opinião em que diz que era provável que a quadra se referisse a esse possível e muito desejado acontecimento.
  • 89. Como já foi apontado, Nostradamus algumas vezes escreveu estrofes que, até bem recentemente, eram aparentemente uma miscelânea de disparates embaralhados, mas que hoje fazem sentido em termos da tecnologia dos equipamentos modernos de guerra. Uma profecia "disparatada" desse tipo está na Centúria I, Quadra 29, que agora se pensa que provavelmente se refira ou a alguma futura guerra nuclear que logo virá ou, mais provável e desejavelmente, à Guerra do Golfo contra o Iraque e à ocupação do Kuweit por aquele país. Essa quadra diz: Quando o peixe [que viaja] na terra e na água For lançado na costa por uma grande onda, Sua estranha forma feroz e horripilante, Vindos do mar seus inimigos logo chegam aos muros. Na última linha, "os muros" parece significar, na terminologia de nossa era, "defesas estacionárias" - muros, fortificados eram a
  • 90. única forma importante de defesa estacionária no século 16 - e "seus inimigos" claramente se refere a forças armadas que tentam romper essas defesas. Mais uma vez, temos aqui uma quadra que haveria de parecer extremamente obscura para alguém que a lesse, digamos, na década de 1840 ou mesmo na de 1940. Com seu peixe ameaçador de muros que viaja por terra e mar, ela só poderia ser interpretada forçando-se o seu simbolismo de forma dificilmente convincente para qualquer um que não fosse dos mais entusiasmados devotos de Nostradamus. Na década de 1990, entretanto, parece provável que, como o "meio-homem parecido com porco", ela se refira aos sistemas bélicos da avançada tecnologia militar. Poderia ser uma referência a um míssil atômico lançado de um submarino contra um inimigo, um acontecimento que ainda não houve. Entretanto, para este escritor, ela soa muito mais como uma descrição da Guerra do Golfo, de 1991, tal como vista em clarividência por um médium ou praticante de divinação cerimonial da Renascença (ver páginas 257 e 64). Se for assim, a viagem de peixe em terra e mar seria um dos mísseis Cruise lançados de navio, que arrasou a estrutura de comando da máquina militar iraquiana e o sistema de suprimento que a mantinha em operação. A "grande onda” que o lançou sobre a terra seria o ronco contínuo do motor de foguete do míssil, um som tão diferente de qualquer ruído conhecido por um homem do século 16 que provavelmente o faria pensar no som de grandes ondas se quebrando na costa durante uma tempestade. Finalmente, o "inimigo vindo do mar" capaz de arrasar "os muros" -linhas de defesa construídas pelos soldados iraquianos - em conseqüência do estrago descarregado pelo "peixe" (mísseis Cruise da marinha) seriam as tropas americanas, britânicas e
  • 91. outras tropas aliadas que cruzaram os oceanos do mundo para libertar o Kuweit. Como já foi observado antes, Nostradamus era um homem do seu tempo que precisava interpretar as visões desconcertantes que tinha em termos daquilo que conhecia. Pode-se comparar essa situação com a dos colonos europeus na Tasmânia, no início do século 19, que encontraram formas de vida selvagem muito diferentes das que conheciam e interpretaram o que viram com base na fauna que já conheciam. Assim, por exemplo, consideraram que o maior e mais feroz carnívoro da Tasmânia que encontraram era um tigre, embora o "tigre da Tasmânia” não fosse sequer da família dos felinos. Da mesma forma, o vidente Nostradamus interpretou todo objeto aerodinâmico (do tipo de um míssil) que identificou através da clarividência em termos da única criatura aerodinâmica que conhecia, isto é, um peixe. Um "peixe" semelhante (nesse caso um submarino), é referido na Centúria lI, Quadra 5: Quando ferro [i.e., armas] e letras estão contidos em um peixe, Virá dele um homem que fará guerra: Sua esquadra terá viajado cruzando o mar, Para aparecer perto da costa latina. Talvez essa seja a descrição do líder de uma equipe de sabotadores fazendo um desembarque subreptício por trás das linhas inimigas durante a Guerra do Golfo ou algum outro conflito recente - ou talvez Nostradamus estivesse fazendo a previsão de uma guerra destinada a irromper em 1996.
  • 92.
  • 93. CONJUNÇÃO EM PEIXES Há uma interpretação alternativa e alarmante da primeira linha da Centúria I, Quadra 29 ("Quando ferro [i.e., armas] e letras estiverem contidas em um peixe"), que decorre do simbolismo astrológico tradicional que Nostradamus teria conhecido muito bem. Nessa leitura, "peixe" indica o signo zodiacal de Peixes,
  • 94. "ferro" significa o Planeta Marte, regente astrológico desse metal, da guerra e suas armas, e "letras" significa Mercúrio, o planeta mais interno do Sistema Solar e regente de todos os meios de comunicação. A linha toda, assim, significaria algo como "Quando Marte e Mercúrio estiverem em conjunção com Peixes", e a quadra como um todo poderia ser tomada como uma predição de que na época desse acontecimento haveria guerra no Mediterrâneo - "perto da costa latina” - envolvendo uma esquadra que teria viajado desde longe. A conjunção de Mercúrio e Marte em Peixes ocorreria, segundo Nostradamus, na primavera de 1996. Seria essa data marcada pelo início de algum grande conflito que envolveria a Marinha dos Estados Unidos? Em Todas as épocas houve uma compreensível tendência, entre aqueles que comentaram as Centúrias de Nostradamus, de buscar referências a acontecimentos que se deram em sua própria época. Assim, os nostradamianos franceses das duas últimas décadas do
  • 95. século 19 procuraram quadras aplicáveis à guerra franco-- prussiana; os estudiosos ingleses das Centúrias nos final dos anos 1930 acreditavam que haviam detectado na Centúria X, Quadra 40, um prognóstico da abdicação de Eduardo VIII; e alguns pesquisadores contemporâneos de conhecimento profético oculto encontraram - é o que afirmam - uma quantidade assombrosamente grande de quadras relacionadas com os irmãos assassinados, o presidente John F. Kennedy e Robert Kennedy.
  • 96. Este escritor acha provável que muitas dessas atribuições aos Kennedy estejam enganadas. Elas são tão vagas que é impossível dizer verdadeiramente, de qualquer uma delas, "isso só pode ser relativo aos Kennedy", da forma que se pode dizer da Centúria IX, Quadra 20 (ver páginas 73-6), "isto só pode se referir à fuga de Luís XIV”, ou das duas últimas linhas da Centúria VI, Quadra 5 (ver páginas 122-3), "isto só pode estar descrevendo uma estação espacial habitada”. Não se pode ter certeza, por exemplo, de que a Centúria II, Quadra 57, realmente se aplique, como alguns defendem, à crise dos mísseis cubanos e à morte do presidente Kennedy. Ela certamente não se encaixa muito bem na tradução: Antes do conflito o grande homem cairá, O lamentado grande homem [cairá] por morte repentina, Nascido imperfeito, ele percorrerá a maior parte do caminho, Perto do rio de sangue o chão está manchado. O presidente Kennedy, embora sofresse, durante todo o seu mandato, de um incapacitante problema de coluna e das seqüelas de uma infecção gonorréica crônica, dificilmente seria uma pessoa de quem se poderia dizer que nasceu imperfeito, a não ser talvez num sentido moral. O restante da quadra parece ser ainda menos relevante, pois embora a segunda linha claramente indique uma morte inesperada e provavelmente violenta, o assassinato do presidente ocorreu depois, e não antes, dos conflitos diplomáticos ligados à crise dos mísseis cubanos.
  • 97. Ainda vagas, mas um pouco mais justificadamente aplicáveis a John F. Kennedy e a Robert Kennedy, no sentido de que ambos os irmãos foram assassinados, são as três primeiras linhas da Centúria X, Quadra 26, que diz: O sucessor vingará seu belo irmão, E ocupará o reino sob a sombra da vingança, Ele, morto, o obstáculo do morto culpado, seu sangue [..,] Os problemas para aceitar, como muitos aceitaram, que essa foi uma profecia, ainda que bem genérica, sobre os Kennedy são: a) que Robert Kennedy nunca vingou seu irmão nem o sucedeu como presidente, fosse imediata ou subseqüentemente; b) que a última linha da quadra - "Por um longo período a Grã-Bretanha estará em
  • 98. acordo com a França” - parece ter profetizado que, qualquer que fosse a natureza do(s) acontecimento(s) da profecia envolvendo os dois irmãos, ele(s) estaria(m) destinado(s) a ser de alguma forma importante(s) no contexto das relações franco-britânicas. Isso dificilmente poderia ser dito da morte dos Kennedy. Outra quadra que também foi aplicada à família Kennedy é a Centúria IX, Quadra 36, cujas últimas duas linhas dizem: Cativos eternos, uma época em que há relâmpagos acima, Quando três irmãos serão feridos mortalmente. Este escritor é cético a respeito da suposta importância profética dessa quadra. Se ele estiver errado, o prognóstico para o terceiro irmão, presumivelmente Edward Kennedy, é mau e o último assassinato vaticinado na linha final acontecerá em algum tempo de Páscoa - pois, de acordo com a segunda linha da quadra, "Não longe da Páscoa haverá confusão, um golpe da faca”.
  • 99. NÚMEROS DE MORTALIDADE Uma razão para duvidar da existência de qualquer quadra de Nostradamus que possa ser tida como uma profecia definitiva do assassinato do presidente John F. Kennedy é que nenhum intérprete das Centúrias identificou tal quadra antes do acontecimento. Isso é especialmente surpreendente porque alguns ocultistas especializados em numerologia - o estudo dos atributos supostamente místicos dos números - tinham, logo após a eleição de Kennedy para presidente, em 1960, previsto que ele certamente morreria no cargo e provavelmente como vítima de um assassino.
  • 100. A idéia de que quem quer que fosse eleito presidente em 1960 estaria destinado a morrer no cargo tinha estado, por assim dizer, "no ar" desde a morte do presidente Roosevelt na primavera de 1944. Isso porque, como os interessados em numerologia tinham percebido na época da morte de Roosevelt, desde 1840 todo presidente americano que tinha sido eleito em ano terminado por zero tinha morrido no cargo, e três deles - os presidentes Lincoln, Garfield e McKinley, eleitos respectivamente nos anos de 1860, 1880 e 1900 - tinham sido assassinados. A chamada "maldição presidencial dos zeros" provavelmente não passou de uma série incomum de coincidências. Se realmente existiu, ou foi limitada a uma duração de 120 anos (um período significativo em si mesmo, de acordo com alguns numerologistas), ou foi, em certo sentido, suspensa por Ronald Reagan, eleito para a presidência pela primeira vez em 1980 e sobrevivente de tentativas de assassinato e de doenças que apresentam risco de morte.
  • 101. A tendência que a maioria de nós tem de querer ouvir que nosso próprio país (ou continente) e seus líderes são centrais para a história do mundo é, provavelmente, a maior culpada pelas interpretações erradas e pelas atribuições proféticas dúbias do tipo descrito nas páginas 133-6 em relação aos irmãos Kennedy. Se, por exemplo, alguém acreditar que (a) os presidentes Lincoln e Kennedy foram figuras de especial importância para o mundo e que (b) Nostradamus foi capaz de discernir agudamente as linhas mestras da história desde sua própria época até o futuro distante, é difícil aceitar a possibilidade de que esses homens não tenham sido mencionados em algum lugar nas Centúrias.
  • 102. Mas eis que, no que tange aos acontecimentos que estavam perto dele no tempo, Nostradamus parece ter tido a atitude inteiramente eurocêntrica que podia bem se esperar dele, como francês do século 16. Tirando algumas vagas referências às "Hespérides" e à sua riqueza, não há na verdade nenhuma profecia de Nostradamus que possa ser racionalmente aplicada aos acontecimentos da história americana até hoje. À medida que o vidente olhava mais longe no futuro, no entanto, seu campo de visão parece ter-se alargado, e, como descobrirão os leitores deste livro, há grande quantidade de quadras relacionadas a eventos que ainda pertencem ao futuro e que provavelmente se relacionam, no todo ou em parte, com os Estados Unidos. No que se refere ao século 20, há algumas profecias nas Centúrias que podem ser interpretadas como relativas aos EUA e algumas que parecem se ajustar aos acontecimentos com certa exatidão.
  • 103. Como sempre, as mais interessantes entre essas últimas são as que não somente se encaixam em acontecimentos que de fato aconteceram mas que foram interpretadas como profecia desses acontecimentos antes que ocorressem - o que invalida as suspeitas de engenhosidade interpretativa baseada em visão posterior. Constituem bons exemplos as quadras que, na época em que a Guerra Fria estava no auge, foram interpretadas como profecias de uma futura amizade de curta duração entre os EUA e a União Soviética. Tal amizade - de curta duração apenas por causa da desintegração da URSS, atual Rússia, em suas partes constitutivas - veio à luz nos anos dos governos Reagan / Bush (8) /Gorbachev, e sem ela o mundo teria se tornado um lugar muito diferente. Uma das quadras interpretadas como profecia disso muito antes que acontecesse é a Centúria II, Quadra 89:
  • 104. 8. N. da T.: O autor se refere aqui o governo do presidente americano George Bush (1989-1993), pai de George W. Bush (presidente dos Estados Unidos eleito em 2000). Um dia os dois grandes líderes [líderes das superpotências] serão amigos, Seu grande poder se verá crescer : A Terra Nova [América] estará no auge de seu poder, Ao homem do sangue será relatado o número. Com as menções a dois grandes líderes e à "Terra Nova” (no século 16 um termo bastante comum para a América), essa quadra foi tida como indicativa da futura amizade entre americanos e soviéticos já nos anos 1960. Os comentaristas, entretanto, ficavam perplexos com o significado da última linha. Os Estados Unidos se tornariam, perguntavam-se eles, um virtual aliado de um país governado por uma pessoa cujo caráter era de tal natureza que o vidente se referia a ele como "um homem e sangue”? Com a presidência de Gorbachev, no entanto, o significado da última linha pareceu ficar claro: Nostradamus se referiu à marca distintiva mais óbvia do líder soviético, o grande nevo (área descolorida da pele causada por vasos sangüíneos hipertrofiados) com a aparência de sangue seco em sua testa. Isso parece muito claro e apropriado, mas alguns nostradamianos contemporâneos adotam um ponto de vista inteiramente sombrio, identificando o "homem do sangue" com o Anticristo, um governante cruel cuja hora deve estar próxima (ver páginas 166-9). A brevidade da duração da amizade entre soviéticos e americanos foi prevista por Nostradamus nas duas primeiras linhas da Centúria
  • 105. V, Quadra 78 ("os dois não permanecerão aliados por muito tempo, [a União Soviética] dando lugar a sátrapas bárbaros"). BALÕES, BATALHA, BESTEIRA Uma das tentativas mais estranhas de dar uma inclinação americana a uma profecia de Nostradamus envolveu a Centúria V, Quadra 57, que, em tradução parcial - por razões que ficarão evidentes, algumas palavras foram deixadas em sua forma original -, diz o seguinte: Seguirão a partir do Mont Gaulfier e do Aventine Os que através de um todo darão informação ao exército [..,] De modo geral, é aceito entre os intérpretes das Centúrias que essas linhas se referem à primeira utilização de balões de ar quente para fins de observação militar. Isso aconteceu na Batalha de Fleurus (1794), e naquela época os balões desse tipo eram conhecidos como Montgolfiers, nome herdado dos irmãos Montgolfier, que os inventaram em 1783. Entretanto, na década de 1930, um americano determinado, que parece ter estado convicto de que praticamente qualquer profecia de Nostradamus podia ser distorcida para dar alguma importância aos EUA, decidiu que a expressão Mont Gaulfier se referia ao jogo de golfe e que a estrofe toda profetizava o resultado de um certo torneio do U. S. Open. Se alguém se permite uma só interpretação desse tipo, esse alguém é um comediante; duas ou mais, e a comédia vira excentricidade!
  • 106.
  • 107. Nas páginas precedentes, tivemos detalhes de alguns dos acertos proféticos espantosos contidos nas Centúrias de Nostradamus. Por exemplo, vimos que ele profetizou os anos exatos do Grande Incêndio de Londres e do começo da Segunda Guerra Mundial; vimos como mostrou um conhecimento detalhado de eventos que ocorreram na Revolução Francesa, que se iniciou mais de dois séculos após sua morte; e vimos como ele descreveu os mísseis guiados usados na moderna tecnologia de guerra. No próximo capítulo (páginas 145-192), serão examinadas as profecias de Nostradamus que ainda não foram cumpridas - as profecias que se referem ao futuro próximo de nosso planeta e provavelmente afetarão a vida de todos e de cada um de nós. O estudo dessas predições é muito estimulante, pois os que se dedicam a isso estão, num certo sentido, se esforçando para rivalizar com Nostradamus na arte de rasgar o próprio tecido do tempo. Entretanto, a animação precisa ser temperada por uma percepção de que existem dois fatores importantes que devem estar sempre presentes na mente dos nostradamianos que desejam saber o que o futuro guarda para eles e para o mundo. O primeiro é este: o significado exato das previsões de Nostradamus com relação ao nosso futuro coletivo decorre das interpretações das Centúrias feitas separadamente por estudiosos, a partir da linguagem complicada e obscura muitas vezes empregada por Nostradamus - e alguns desses julgamentos do exato significado dado pelo vidente podem estar parcial ou inteiramente incorretos. O segundo fator importante é que algumas profecias supostamente atribuídas a Nostradamus são, provável ou certamente, falsificações. Algumas delas foram criadas pela máquina de propaganda nazista durante a Segunda Guerra
  • 108. Mundial, outras possivelmente surgiram em conseqüência de auto- engano ou de um desejo de brincar com os crédulos. Nesse sentido, é relevante a história de um evento curioso que se supõe tenha acontecido no início dos anos 1970. De acordo com essa história, Nostradamus reapareceu como "um ser humano vivo, respirando", em um camarim de um estúdio de televisão nos Estados Unidos. Ele proferiu várias novas profecias em francês mas que eram "compreensíveis como se fossem em inglês" e fez uma exposição de algo chamado "Tarô Druida”.
  • 109. A única testemunha desse notável acontecimento foi um famoso médium americano que usa o nome "Criswell", que contou sua experiência no livro Criswell''s Forbidden Predictions Based on Nostradamus and the Tarot (9). Criswell, um homem que parece desprezar primeiros nomes, estava sentado em seu camarim retirando a maquiagem, quando houve uma batida seca na porta, seguida da entrada de um homem que usava trajes do século 16.
  • 110. Com admirável brevidade, o visitante inesperado imediatamente se apresentou dizendo "Eu sou Nostradamus". Subitamente, Criswell se viu transportado para uma enorme gruta mobiliada apenas com uma mesa de carvalho e duas cadeiras. Nostradamus sentou-se em uma delas e indicou a outra a Criswell, e a partir daí Criswell - certamente um homem mais capaz de lidar com situações singulares do que este escritor – ouviu calmamente seu visitante do século 16, enquanto este fazia um grande número de profecias totalmente novas. Criswell ficou tão impressionado com essas profecias que se lembrou delas a ponto de ser capaz de citá-las textualmente em seu livro. 9. N. da T.: Tradução literal: "As predições proibidas de Criswell com base em Nostradamus e no Tarô". Quase todas as profecias eram bastante surpreendentes. E todas elas mostraram na ocasião estar total e completamente erradas! TRAÇAS GIGANTES E DERRUBADA DE PIRÂMIDES Embora este escritor não tenha nenhuma confiança nas previsões relativas aos anos imediatamente anteriores ao ano 2000 que foram dadas por Nostradamus a Criswell, parece que vale a pena resumir algumas delas como aviso aos incautos. 1. Haverá uma fase temporária de total tolerância sexual, na qual uma orgia mundial continuará até que "mesmo animais sejam usados".
  • 111. 2. As bactérias crescerão até atingir o tamanho de traças e passarão então a morder pessoas e animais para além de qualquer socorro. O Texas e o México serão os lugares mais duramente atingidos e "suplicarão ajuda de forma a dar pena”. Felizmente, a ameaça bacteriológica será anulada quando o ar se tornar "maciço de eletricidade". 3. Um imenso revival do ocultismo fará com que homens, mulheres e crianças comecem a lançar encantamentos "sobre todo mundo e todas as coisas". Cinco mil desses lançadores de feitiço se reunirão nas Cataratas do Niágara e, juntos, inverterão o fluxo do rio. Outro grupo desses vai "tombar as pirâmides", enquanto um milhão de médiuns irão se reunir em Prairie, na Dakota do Sul (EUA), para uma gigantesca sessão espírita. Nesta, os espíritos de pessoas como Adolf Hitler, Mussolini e Stálin se manifestarão.
  • 112. 4. Todos os aparelhos de televisão e telefone, máquinas de escrever, canetas e lápis serão confiscados pelos governantes do mundo, que promulgarão uma lei proibindo que três ou mais pessoas se reúnam. Isso tudo realmente soa muito mal!
  • 113.
  • 114. NECROMANCIA E A MARCA DA BESTA A ESTRANHA LINGUAGEM ENIGMÁTICA EMPREGADA POR NOSTRADAMUS EM MUITAS DE SUAS QUADRAS ERA DE TAL NATUREZA QUE PODEMOS ESTAR CERTOS DE QUE ELE TINHA CONHECIMENTO DE UMA ANTIGA CULTURA MÍSTICA. PARA A MAIORIA DE NÓS, QUE VIVE EM UMA ERA CÉTICA, UMA LINGUAGEM ENIGMÁTICA CUJA CHAVE, PROVAVELMENTE, SEREMOS INCAPAZES DE ENCONTRAR. Interpretar as predições de Nostradamus em relação a eventos que já aconteceram não é fácil, exceto talvez no caso das profecias para as quais o vidente, explícita ou implicitamente, especificou datas, como 1666 ou 1792 (ver páginas 59 e 85). No entanto, essa tarefa é a própria simplicidade, em comparação com as dificuldades de interpretação dos exatos significados de quadras proféticas que ainda não se cumpriram - aquelas, por exemplo, que parecem referir-se a vastos levantes sociais e políticos por todo o mundo, a guerras com o emprego de armas novas e aterrorizantes, capazes de destruição em massa, à emergência de um culto sinistro liderado por alguém que Nostradamus identificou com o Anticristo há muito profetizado (ver páginas 166-9) e a viagens interestelares. A maior parte das quadras está na categoria de profecias não cumpridas, ou seja, seu conteúdo parece se referir ao futuro ou, além disso, emprega uma terminologia que só será compreensível à luz de acontecimentos futuros. Outra possibilidade é que algumas se refiram a assuntos secretos relativos a artes místicas das quais a maior parte de nós sabe muito pouco ou mesmo nada.
  • 115. Justificadamente, as últimas quadras, algumas vezes chamadas de "quadras ocultas", estão atraindo a atenção de alguns pesquisadores nostradamianos da atualidade. Não obstante, a interpretação de Nostradamus deve levar em conta que algumas da "quadras ocultas" podem na verdade não se referir, apesar da linguagem mística utilizada, a mágica ritual, alquimia e outras disciplinas esotéricas. É possível que o vidente tenha utilizado nelas um simbolismo oculto para descrever acontecimentos e conceitos que não podia expressar na linguagem de seu próprio tempo, porque as palavras necessárias ainda não tinham sido inventadas.
  • 116. Mesmo as quadras referentes à virada do século 20 para o século 21 e a depois, que são mais facilmente compreensíveis do que as cifradas em linguagem de ocultismo, muitas vezes são obscuras ou passíveis de mais de uma interpretação. Conseqüentemente, algumas das interpretações de predições de Nostradamus, analisadas nas páginas a seguir, estarão erradas; outras têm grande probabilidade de estar corretas. Há mais de quatrocentos anos existem aqueles que tentam encontrar alguma chave que revele o (hipotético) modelo estrutural secreto que acreditam existir subjacente às Centúrias. Os que buscam encontrar essa chave são levados pela crença de que nenhum vidente cujas predições se mostraram tão espantosamente exatas como algumas das profecias de Nostradamus poderia ter registrado suas visões das coisas do futuro de uma forma totalmente não planejada; deve ter havido, pensam eles, uma lógica interna escondida atrás da ordem aparentemente aleatória em que as quadras foram escritas. Se foi assim, Nostradamus deve ter assumido que haveria aqueles
  • 117. capazes de ler as Centúrias de um modo que desse a elas total sentido (tanto em relação à cronologia quanto ao conteúdo), aqueles que, como ele, por devotarem anos de estudo às artes místicas de adivinhação, discerniriam a natureza dessa lógica estrutural secreta. Como foi dito nas páginas 145-6, as Centúrias contêm diversas estrofes cujo conteúdo e terminologia são tais que elas foram rotuladas de "quadras ocultas", isto é, parecem relacionadas às artes mágicas. Evidentemente, no sentido original da palavra "oculto" - ou seja, "secreto" - existe um grande número de quadras nas Centúrias cujo significado é oculto no sentido de que elas certamente são profecias, mas seu significado exato provavelmente não se tornará evidente antes que sejam cumpridas ou que a chave profética tão buscada seja descoberta. Se, de fato,