1. O PRIMEIRO GOLPE DA GRAVIDEZ
NO GOVERNO DO BRASIL
Nos últimos anos, a imprensa em geral tem dado
grande destaque a uma série de escândalos
particulares de diversas personalidades no Brasil e
no mundo.
Um desses descalabros prediletos pela mídia é o
chamado “golpe da gravidez”, que é praticado
basicamente por belas jovens de amplos dotes
físicos, mas de estreita moral, e que procuram
dormir com atores, artistas, desportistas, enfim,
qualquer figura endinheirada, com o fito dela
engravidar e cobrar na justiça milionárias pensões
para seus rebentos, claro, tudo devidamente
amparado cientificamente pelo moderno teste de
DNA.
2. Essas mães, mais preocupadas com
o dinheiro que vão embolsar, nunca
pensam no que pode passar pela
cabeça de seus espúrios filhos
quando crescerem, até porque nem
lhes interessam esse pormenor.
O que importa é dar uma “facada”
nas finanças do incauto, que passa
a pagar pensão não para os inocentes bebês, mas
para sustentar o luxo das impudentas mães.
Pois bem, poucos sabem que o estratagema
remonta, no caso brasileiro, a 1828; e o incauto,
nesse caso, foi o Imperador D. Pedro I, e quem
pagou a conta, adivinhem ?
FOI O POVO BRASILEIRO!
3. Pudera, nosso primeiro monarca foi um
grande conquistador de corações e
exímio fazedor de filhos, bastando dizer
que, em quinze anos de vida sexual
ativa, D. Pedro I foi pai de 28 filhos, dez
em seus dois matrimônios e dezoito fora
dele.
Até a quituteira negra do Palácio de São Cristóvão
teve a honra de uma gravidez real, como também
uma freira, na Ilha Terceira!
Entretanto, o caso mais rumoroso e caro foi, sem
dúvidas o de Da.Clemência Saisset.
4. Em 1828, a rua mais importante do Rio de
Janeiro era a do Ouvidor, local onde existiam as
casa comerciais mais refinadas da cidade, em
geral de propriedade de franceses.
D. Pedro I, quando vinha de São Cristóvão
para o Paço da Cidade, na atual Praça XV,
passava com sua carruagem por ela e, com
certeza, observava o animado comércio e,
principalmente, as modistas francesas ali
estabelecidas, com as quais não poucas vezes teve
casos amorosos.
Ultimamente, sua atenção estava voltada para a
casa n°. 98, defronte à Rua Nova do Ouvidor
(atual Travessa do Ouvidor) um fino
estabelecimento de modas e papéis pintados de
Bernardo Wallenstein & Companhia.
5. Mas sua atenção não era dirigida às
roupas ou papéis de parede ali
exibidos, nem era a figura do
solteirão Bernardo ou de seu sócio,
Pierre Joseph Félix Saisset, mas
sim à bela figura da esposa do
segundo, Da.Clemência Saisset,
née Mëes, modista e bela mulher de vinte e cinco
anos e já mãe de dois filhos, o último deles nascido
em março daquele ano.
D. Pedro I percebeu que a jovem lhe correspondia e
concebeu engenhoso plano para conquista-la.
Contratou Pierre Félix para colocar papéis de
parede em todo o Paço de São Cristóvão. Enquanto
o marido colocava os papéis nos salões imperiais,
D. Pedro colocava-lhe chifres!
6. De certa feita, Pierre Félix retornou mais
cedo para casa e veio a encontrar D.
Pedro I totalmente despido em sua cama!
A esposa o convenceu que nosso
imperador havia sofrido uma queda de
um cavalo defronte à casa, e Da.
Clemência, fazendo jus ao nome, o
recolhera e despira (tudo no maior
respeito, é claro...) para aplicar uma
massagem de socorro. O marido fingiu acreditar,
pois logo percebeu o quanto poderia lucrar
com a situação. D. Pedro inclusive o autorizou
posteriormente a colocar uma placa na fachada da
casa, indicando o negócio de papéis pintados ser
“Fornecedor da Casa Imperial”, motivo de muita
gozação entre os vizinhos.
7. Em novembro, Da. Clemência engravidou
de D. Pedro e, para o escândalo não
aumentar, no dia 30 de dezembro de 1828
o casal Saisset partia para a Europa, não
sem antes ter todo seu negócio indenizado a
peso de ouro pelo Imperador, recebendo
Da. Clemência, dentre muitos presentes e
dádivas, um saque de setenta e cinco mil
francos e um título de pensão vitalícia.
De quebra, D. Pedro ainda prometeu pagar a
educação do pimpolho com mesada régia, às custas
dos contribuintes. Em Paris, às seis horas da tarde
do dia 23 de agosto de 1829, à rua Bergère, n°. 17
bis; nasceu um menino, que passou a chamar-se
Pedro de Alcântara Brasileiro, oficialmente filho de
Pierre Saisset, antigo oficial de cavalaria francesa,
de 32 anos; e de Da. Clemência Saisset.
8. Durante a gravidez da esposa, tanto o
Sr. Pierre, bem como Da. Clemência
endereçaram muitas cartas ao
Imperador e a seus procuradores, todas
tratando de dinheiro, é claro. Os Saisset
depois se mudaram para a Avenida de
Sceaux, n°. 2, em Versailles, onde
granjearam fama na sociedade local,
tendo o casal feito larga propaganda do filho tido
com o Imperador do Brasil, fato que o próprio Sr.
Saisset alardeava como de grande mérito.
Costumava Da. Clemência exibir aos amigos e
visitantes os presentes oferecidos à ela pelo
Imperador do Brasil, em especial um papagaio
falante, bem como toda a correspondência amorosa
de ambos.
9. Entretanto, a renúncia do Imperador ao
trono do Brasil, ocorrida a 07 de abril de
1831, bem como a morte precoce de D.
Pedro, em Lisboa, a 26 de setembro de
1834 interromperam a remessa de
dinheiro ao casal, fato que não passou
sem poucos protestos.
Após alguns anos, a Imperatriz viúva, Da. Maria
Amélia, concedeu uma pequena pensão à criança,
por alguns anos.
Pedro de Alcântara Brasileiro foi educado num dos
melhores colégios de Paris, o liceu “Louis le Grand”,
e se bacharelou em letras.
Casou-se e foi pai de duas meninas, indo afinal
residir em San José de Guadalupe, São Francisco,
Califórnia. Em outubro de 1864 recebeu a notícia
do falecimento da mãe, morta aos 61 anos.
10. Só então, por meio do advogado da
família, recebeu uma pasta de
documentos e veio a saber que era filho
do ex-Imperador do Brasil.
Pedro de Alcântara enviou então uma
missiva ao seu meio-irmão brasileiro,
nada mais nada menos que o Imperador D. Pedro
II, pedindo uma ajuda de custo para a educação de
seus dois filhos, haja vista que sua mãe, a finada
Da. Clemência, havia torrado toda a fortuna da
família em luxos e superfluidades. O Imperador não
retornou a correspondência e o assunto morreu.
Alguns anos depois, em 26 de agosto de 1877,
quando D. Pedro II esteve em Londres, um dos
filhos de Pedro de Alcântara, o Capitão de Fragata
Ernest de Saisset tentou se encontrar com o
Imperador, sem sucesso. E tudo ficou assim.